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AO JUÍZO DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMBORIÚ-SC

PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

PAULO EDUARDO CATELANI, brasileiro, solteiro, publicitário, inscrito no


CPF sob o nº 343.679.018-40, portador do RG sob o nº 439951616 SSP/SC, residente e
domiciliado na Rua Santiago, n° 123, Santa Regina, Camboriú/SC, CEP: 88345-671, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu procurador,
este que a subscreve, ajuizar a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA, em


desfavor de

ATLAS SERVIÇOS EM ATIVOS DIGITAIS LTDA. (ATLAS BTC), pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 31.049.719/0001-40;

ATLAS QUANTUM SERVIÇOS DE INTERMEDIAÇÕES DE ATIVOS LTDA.


pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 30.607.948/0001-70,

ATLAS SERVICES- SERVIÇOS DE SUPORTE ADMINISTRATIVO DE


CONSULTORIA EM GESTÃO EMPRESARIAL LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ sob o nº 30.607.948/0001-70,

Ambas estabelecidas na Alameda Santos, nº 1827, conj. 72,


Cerqueira César, São Paulo/SP, CEP: 01419-100; e
ATLAS PROJ TECNOLOGIA LTDA., pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ sob o nº 26.768.698/0001-83, estabelecida na Alameda Ministro Rocha
Azevedo, nº 38, 3º andar, Cerqueira César, São Paulo/SP, CEP: 01410-000.

Pelos motivos de fato e de direito que serão apresentados:

1- DA JUSTIÇA GRATUITA (CPC, art. 98, caput)

Inicialmente, o Requerente pugna pela concessão do benefício da


Justiça Gratuita, nos termos do artigo 98 e 99 do Código do Processo Civil, por ser pessoa
pobre na acepção jurídica do termo e não dispor de meios financeiros para arcar com
as custas e emolumentos judiciais, sem que haja privação de seu sustento e de seus
familiares, haja vista não possuir casa própria, auferir uma renda média a qual faz jus ao
presente benefício, bem como, haja vista todos os gastos pessoais, prova se faz pelos
documentos em apenso.

Presumindo-se verdadeira a alegação de insuficiência de acordo


com o §3º, do artigo 99 do CPC, requer-se a concessão do benefício da Justiça Gratuita.

2- DOS FATOS

O Requerente, atento as mudanças decorrentes da chamada nova


economia e ao crescimento exponencial da economia descentralizada, em especial das
criptomoedas, passou a investir neste novo modelo de mercado, onde se destaca o
Bitcoin.

Destaca-se que o Requerente não é investidor profissional, mas


após ponderar sobre sua vida financeira, optou pela moeda virtual para que suas
economias não ficassem defasadas pela inflação, investindo em outras corretoras
inicialmente e, após ser atraído pela publicidade das Requeridas, acreditou que seria
interessante transferir os valores em Bitcoin que possuía em outras corretoras para a
plataforma da ATLAS QUANTUM.
A plataforma trabalha, segundo seus próprios anúncios,
exclusivamente com Bitcoins (BTC). Para uma rápida compreensão desta moeda, Peck1
ensina:

“Bitcoin é uma moeda digital criada em 2009 por Satoshi Nakamoto


e que permite propriedade e transferência anônimas de valores.
Consiste em um programa de código aberto para uso da moeda
onde a rede é ponto a ponto (peer-to-peer) ”

O Requerente aderiu aos seus termos de uso e tudo transcorria


como o esperado, realizando até alguns saques, como consta anexo.

Dentre as condições de adesão que garantiam a segurança de


investir na plataforma ao Requerente, sendo decisivas para a opção de contratação do
serviço, estava a liquidez prometida pela plataforma:

Um dos principais objetivos do bitcoin é a autonomia aos indivíduos.


Por isso, dar liquidez aos nossos clientes e garantir que eles possam
movimentar seus fundos com total liberdade é a nossa prioridade.
Assim, você pode solicitar a retirada quando quiser, independente
de quando realizou o depósito, afinal, o dinheiro é seu.
(Grifo nosso) 2

Para que Vossa Excelência entenda o modus operandi das


Requeridas, se faz oportuno esclarecer a questão de acordo com os termos de uso da
própria plataforma:

1.4 O quantum é o algoritmo que analisa, em tempo real, ofertas


de compra e venda de BITCOIN, em diversas bolsas especializadas
de negociações em diferentes países. Quando detecta uma
diferença lucrativa nos valores do BITCOIN, o sistema envia ordens
para comprar o ativo onde ele está mais barato e vender onde está
mais caro. O lucro dessas operações é realizado diariamente, com o
soldo sendo atualizado na conta do usuário3

Ou seja, o grupo econômico Requerido, composto pelas quatro


pessoas jurídicas acima denominadas, dedica-se à atividade de “arbitragem”, realizada

1
PINHEIRO, Patrícia Peck; #Direito digital; 6ª ed.; Saraiva; p. 312/313.
2
https://atlasquantum,com/blog-pt/tutorial-como-fazer-a-retirada-de-bitcoin
3
https://atlasquantum.com/jurídico/termos-de-uso.
por meio de sua plataforma digital. Destarte, como as atividades desenvolvidas, na
prática, misturam-se, foi tomada a cautela de qualificar as quatro pessoas jurídicas em
conjunto, sendo que o tratamento judicial unificado é medida que se impõe.

Sendo assim, requer sejam as quatro Requeridas responsabilizadas


pelo ilícito que será descrito e detalhado a seguir, qual seja a alteração unilateral e o
inadimplemento do contrato celebrado entre o Requerente e as Requeridas pois,
atualmente, os atos mencionados perpetrados pelo grupo econômico culminam em
inafastável e inaceitável apropriação indébita de ativos do Requerente.

Superado esse ponto, no dia 13 de agosto de 2019 o grupo


econômico composto pelas Requeridas, fora notificado acerca da deliberação da
Comissão de Valores Imobiliários (CVM) nº 826, no sentido de proibir a realização de
transações relacionadas ao Bitcoins, pois não mais preenchiam os requisitos necessário
para tal finalidade.

Vejamos:

[...] DELIBERAÇÃO CVM Nº 826, DE 13 DE AGOSTO DE 2019


I - alertar os participantes do mercado de valores mobiliários e o
público em geral que a Atlas Serviços em Ativos Digitais LTDA, Atlas
Proj Tecnologia EIRELI, Atlas Services – Serviços de Suporte
Administrativo e de Consultoria em Gestão Empresarial LTDA, Atlas
Project International Ltd., Atlas Project LLC e o Sr. Rodrigo Marques
dos Santos não se encontram habilitados a ofertar publicamente
títulos ou contratos de investimento coletivo cuja remuneração
estaria atrelada à compra e venda automatizada de criptoativos por
meio de algoritmo de arbitragem (https://atlasquantum.com/),
conforme definição constante do inciso IX do art. 2º da Lei nº 6.385,
de 7 de dezembro de 1976, tendo em vista tratar-se de oferta pública
sem registro (ou dispensa deste) na CVM; II - determinar a todos os
sócios, responsáveis, administradores e prepostos das pessoas
jurídicas acima referidas que se abstenham de ofertar ao público
títulos ou contratos de investimento coletivo cuja remuneração
estaria atrelada à compra e venda automatizada de criptoativos por
meio de algoritmo de arbitragem (https://atlasquantum.com/) sem
o devido registro (ou dispensa deste) perante a CVM, alertando que
a |SF| ADVOCACIA 3 não-observância da presente determinação
acarretará multa cominatória diária, no valor de R$ 100.000,00 (cem
mil reais), sem prejuízo da responsabilidade pelas infrações já
cometidas, com a imposição da penalidade cabível, nos termos do
art.11 da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976; [...]4

Sendo assim, diante das informações obtidas, o Requerente ficou


alerta, porém, optou por aguardar pois fora veiculado o seguinte comunicado oficial por
parte da empresa:

Fica clara a intenção de ludibriar os seus clientes, uma vez que


afirmam que os investidores antigos não serão afetados, sendo que ainda as Requeridas
alteraram unilateralmente o contrato com todos os investidores, mesmo aqueles que
estavam cadastrados previamente ao comunicado.

A mudança unilateral no contrato consistiu na alteração dos prazos


para saques dos Bitcoins, que passou a ser maior do que o contratado, o contrato previa
o prazo inicial de saque como sendo D+1(um dia útil), tendo sido alterado para D+4 e
posteriormente para D+7, chegando até D+30. Atualmente, não há prazo estipulado
para o cumprimento dos saques.

Cabe ressaltar o comunicado que altera unilateralmente o


contrato:

4
http://www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2019/20190813-4.html
Além da crise de confiança gerada pela alteração unilateral do
contrato, diversas notícias davam conta da crise instalada no grupo econômico, que não
estaria mais honrando com suas obrigações, inclusive, diante das notícias e do relato de
diversos consumidores que buscaram, sem obter êxito, realizar seus saques.

No dia 06/09/2019, o Deputado Federal Áureo Ribeiro solicitou uma


audiência com os representantes da Atlas para averiguar as situações que envolviam a
empresa, sendo que havia “indícios de pirâmide financeira5

Tentando trazer confiança para a empresa, o CEO da Atlas, Rodrigo


Marques, gravou um vídeo mostrando supostos saldos em Bitcoins e criptodólares
armazenados em três “exchanges” (Phoenix, Gate.io e HitBTC) – espécie de operadora
de cambio. No vídeo, a Atlas Quantum afirma ter mais de US$199 milhões em corretoras
internacionais, mas a empresa HitBTC e a Gate.io vieram a público afirmando que as
informações eram inverídicas.6

5
https://www.criptofacil.com/aureo-ribeiro-pede-audiencia-com-atlas-quantum-e-investimento-bitcoinpor-indicios-
de-piramide-financeira/
6
https://cointimes.com.br/hitbtc-e-gate-io-declaram-que-atlas-quantum-falsificou-video/
Excelência, o grupo econômico Requerido forjou os documentos
que comprovariam a existência do alegado saldo de US$199 milhões!7

7
https://www.criptofacil.com/apos-hitbtc-gate-io-tambem-afirma-que-atlas-quantum-forjou-saldo-na-ex change/
Não obstante, como forma de criar dificuldades aos saques, a
empresa Atlas instituiu o sistema “KYC” (know your costumer).

O sistema possui a função de trazer mais etapas para a opção do


saque, em uma nova violação ao pacto originalmente estabelecido entre o Requerente
e as Requeridas. Tais etapas incluíam a verificação de documentos, sendo que essa
documentação levaria tempo para ser analisada. Fica claro que o sistema implantado
visava justificar os absurdos atrasos na liberação dos saques solicitados.

Com o fundado receio de não ter mais suas economias reavidas, o


Requerente realizou o pedido de saque no dia 29/10/2019 na quantia de 0.1167735 BTC
(doc. Anexo).

Para agravar o quadro de apropriação indébita dos créditos do


Requerente, circularam diversas notícias a respeito de uma demissão em massa sem justa
causa de cerca de 100 colaboradores do grupo econômico Requerido, não vindo o
grupo a cumprir nem ao menos com suas obrigações rescisórias.8

Desta feita, por todo o exposto, de maneira cristalina e


incontroversa fica provado o inadimplemento por parte das Requeridas, sendo o Poder
Judiciário instado a se manifestar, pois além do próprio inadimplemento, a alteração
contratual unilateral das condições de saque contratadas representa evidente violação
aos direitos do consumidor, sendo carente de imediata reparação

Desta maneira, busca o Requerente a efetivação do saque no valor


total de seus investimentos, além disso, pelo fundado risco de dano irreparável, bem
como demonstradas as evidências que sugerem a ausência de liquidez do grupo
econômico Requerido, requer-se a medida liminar capaz de garantir o resultado útil da
presente demanda.

3- DA CONTRATAÇÃO

8
https://portaldobitcoin.com/sem-dinheiro-atlas-quantum-nao-paga-rescisao-a-funcionarios-demitidos/
Um dos fatos que levaram o Requerente a acreditar na seriedade
da plataforma foi a prometida liquidez, pois os saques deveriam ocorrer em um dia útil
após o pedido, como se verifica nos termos de uso (anexo), no item 4.5, os saques
deveriam ocorrer em um dia útil após o pedido, vejamos:

4.5. Os saques em BITCOIN no QUANTUM serão realizados no prazo


D+1, após a confirmação do pedido junto ao cliente por telefone,
devendo ser levado em consideração também os prazos de
transações do Blockchain, o que pode aumentar esse prazo, sem
responsabilidade da ATLAS.9

Entretanto, após receber a notificação da CVM, as Requeridas


incluíram nos termos em sua plataforma, o que se segue abaixo:

ATENÇÃO: Estamos com os prazos de saque temporariamente


aumentados por motivos alheios à nossa vontade, mas envidando
nossos melhores esforços para retomar o prazo acima o mais breve
possível. Por essa razão e a fim de atender nossos clientes da melhor
forma possível, a plataforma passará, em caráter de exceção, a
permitir o saque em Real, que funcionará da seguinte maneira:

Em evidente tentativa de trazer um ar de legalidade ao


descumprimento contratual, de maneira unilateral e sem concordância de seus clientes,
a empresa através de sua plataforma tenta se desincumbir de suas obrigações.

Todavia, no tutorial de retirada, a plataforma confirma o prazo de


24 horas:

Trabalhamos apenas com saque em bitcoin, mas o processo é bem


simples. Se é o seu primeiro saque, antes de realizar a retirada, você
precisa cadastrar um endereço para retirada e esperar 24 horas. Isso
impede saques não autorizados da sua conta.10

Após o comunicado da CVM como dito alhures, o Requerente


buscou o saque de seus investimentos e passou a vivenciar o drama de ver suas
economias simplesmente não lhe serem devolvidas, sendo assim, vendo frustrada a

9
https://atlasquantum.com/juridico/termos-de-uso
10
https>//atlasquantum.com/blog-pt/tutorial-como-fazer-a-retirada-de-bitcoin
tentativa de seus saques, o Requerente buscou a tutela jurisdicional para ver
determinada a obrigação de fazer adiante pleiteada.

4- DO DIREITO

4.1- DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Inicialmente, cabe ressaltar a existência da relação de consumo,


visto que, o Requerente é considerado consumidor e as Requeridas fornecedoras, com
fulcro nos artigos 2° e 3° do CDC, vejamos:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações
de consumo.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

Não obstante, o Código de Defesa do Consumidor define, de


maneira bem nítida, que o consumidor de produtos e serviços deve ser agasalhado pelas
suas regras e entendimentos, senão vejamos:

"Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestações de serviços.
(...)
§2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista."

Com esse postulado, o CDC consegue abarcar todos os


fornecedores de produtos ou serviços – sejam eles pessoas físicas ou jurídicas –
demonstrando-se evidente o dever de responder por quaisquer espécies de danos,
porventura causados aos seus tomadores.

Ainda que haja robustas provas em favor do Requerente, da


existência de sua contratação com as Requeridas e de seus bitcoins, conforme extrato
anexo, além da situação periclitante das Requeridas, conforme as páginas de notícia
igualmente anexas, por cautela se requer, eis que em prol do consumidor, caso haja
dúvida, que seja aplicada a inversão do ônus da prova, nos moldes do art. 6º, VIII, do
Código de Defesa do Consumidor.

Considerando ainda as práticas abusivas das Requeridas (art. 39 do


CDC), inclusive com a inclusão unilateral de cláusula que posterga indefinidamente o
saque por parte do Requerente, a aplicação dos benefícios do CDC em favor do
requerente é medida que se impõe.

Com isso, fica espontâneo o vislumbre da responsabilização da


Requerida sob a égide da Lei nº 8.078/90, visto tratar-se de um fornecedor de serviços
que, independentemente de culpa, causou danos efetivos a um consumidor.

4.2- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Percebe-se, outrossim, que a Requerente deve ser beneficiado pela


inversão do ônus da prova, pelo que disciplina o inciso VIII do artigo 6º do Código de
Defesa do Consumidor, tendo em vista que a narrativa dos fatos encontra respaldo nos
documentos anexos, que demonstram a verossimilhança do pedido, conforme
disposição legal:

"Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;"
Além disso, de acordo com o Princípio da Isonomia, todos são iguais
perante a lei, entretanto, o Direito Brasileiro estabelece certas desigualdades quando
uma das partes mas é mais fraca, vislumbrando alcançar a igualdade.

Ou seja, no caso supracitado, com base nesse princípio, a


Requerente deve receber a essa inversão, visto que, se encontra em estado de
hipossuficiência, uma vez que disputa a lide com uma empresa de grande porte, que
possui maior facilidade em produzir as provas necessárias para a cognição do
Excelentíssimo Magistrado.

4.3- DA RESPONSABILIDADE DAS REQUERIDAS

Trata-se o presente caso de situação de responsabilidade civil


objetiva, tendo em vista o fato das rés serem empresa prestadora de serviço, fato que
atrai a responsabilidade objetiva pelos danos causados aos consumidores, na forma do
art. 14 do CDC, bastando ao autor provar os danos e o nexo causal.

In casu, o Requerente é vítima da má prestação dos serviços das


Requeridas, que inadvertidamente estão descumprimento o contrato entabulado entre
as partes e retendo valores econômicos de maneira indevida.

Ademais, é fato que o Requerente tentou diversas vezes solucionar


a questão de maneira extrajudicial, tendo entrado em contato com as empresas
diversas vezes.

Assim, eventual excludente de responsabilidade só poderia ser


alegada, a fim das Requeridas se eximirem de sua responsabilidade, caso houvesse
culpa exclusiva da vítima, o que obviamente não é o caso.

Desta forma, a responsabilidade objetiva resta configurada, uma


vez que o dano jurídico e o nexo causal estão plenamente constatados.
4.4- DO FORO

Nos termos de uso já comentados, não há eleição de foro para


eventuais discussões judiciais. No segundo termo de uso que as Requeridas apresentam,
intitulado “nossos termos de uso- OTC”11, para uso da plataforma, consta:

9.3. Este Termo e a relação entre as Partes serão regidos pelas leis da
República Federativa do Brasil, principalmente o Código Civil e o
Código de Defesa do Consumidor. As partes elegem o Foro da
Comarca de São Paulo como sendo o único competente para dirimir
quaisquer litígios e/ou demandas que venham a envolver as Partes
em relação ao SERVIÇO.

Todavia, o CDC, referido no próprio item acima transcrito, prevê que


cláusulas que dificultem a defesa ou busca de direitos do consumidor devem ser
rechaçadas. Especificamente sobre a cláusula de escolha abusiva de foro de eleição o
TJSC decidiu:

“Exceção de incompetência em ação de revisão de contrato.


Decisão que rejeitou o incidente e afastou a cláusula de eleição do
foro prevista no contrato e manteve a competência para comarca
de domicílio do consumidor. Irresignação do réu. Não acolhimento.
Contrato de adesão. Prestação de serviço de natureza financeira.
Aplicação do código de defesa do consumidor. Hipossuficiência e
vulnerabilidade do agravado devidamente demonstradas. Evidente
prejuízo ao acesso à justiça e a ampla defesa. Manutenção da
demanda no foro domicílio do consumidor”12

É indiscutível no presente caso a hipossuficiência do Requerente,


sendo que foi ludibriado pelas Requeridas e investiu todas as suas economias na
plataforma, assim como a própria vulnerabilidade, definida ao consumidor por
disposição legal.13

Por outro lado, mas considerado apenas por hipótese


argumentativa, caso levante-se a discussão em decorrência da informação nos termos

11
http://atlasquantum.com/juridico/termos-de-usio-atlas-otc
12
TJSC Agravo de instrumento nº 0147579-84.2015.8.24.0000, de Itajaí, Des. José Everaldo Silva, Quarta Câmara de
Direito Comercial, j 26-07-2016.
13
Lei n. 8078/1990, art 4º, I
de uso de que uma das empresas tem sede nas Ilhas Virgens Britânicas (Atlas Project
Internacional LTD.), há de se considerar que o grupo econômico está no Brasil, assim
como seu corpo diretivo e todos os seus negócios jurídicos e relações econômicas foram
celebrados no território nacional.

Nesta esteira determinam o art. 12 da Lei de Introdução as Normas


do Direito Brasileiro:

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o


réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.

Seguindo esta linha, ainda, o art. 435 do Código Civil:

Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi


proposto.

E o art. 21 do CPC:

Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar


as ações em que: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade,
estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a
obrigação; III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado
no Brasil.

Desta forma, deve ser mantida a competência para o presente


feito nesta Comarca de residência do Requerente e onde, de fato, ainda que via
internet, foi confirmado o contrato, bem como, por se tratar de uma relação de consumo.

4.5- DO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL – DA OBRIGAÇÃO DE FAZER

Em 29/11/2019, o Requerente solicitou outro saque na quantia de


0,1167735 BTC, o que representa, atualmente, o valor de R$ 5.585,63 (cinco mil quinhentos
e oitenta e cinco reais e sessenta e três centavos), até o presente momento o SAQUE
NÃO OCORREU! Registra-se que o Grupo Requerido se exime de responsabilidade caso
o atraso seja decorrente da demora de transações do Blokchain, o que não é o caso dos
autos, até porque as transações quando solicitadas ao Blockchain ocorrem
praticamente de forma instantânea.

As justificativas do Grupo Requerido ao negar, atrasar ou cancelar


o saque do Requerente, bem como dos demais usuários que vêm sofrendo com a
inadimplência da plataforma, são absurdas e suspeitas sob os olhos do mercado, o que
leva a crer que em razão de SUPOSTA FRAUDE diante da falta de transparência com o
consumidor, os usuários vão perder seus Bitcoins e os valores investidos a qualquer
momento.

A inadimplência do grupo Requerido é injustificada e


absolutamente constrangedora, tendo em vista que o mercado de criptomoedas, em
especial o Bitcoin, é um mercado altamente volátil e as cotações podem oscilar
drasticamente de um dia para o outro.

Não existem motivos para que o Grupo Requerido se recuse a


efetivar as solicitações de saque, o que é obrigação contratual do prestador de serviço,
bastando apenas realizar a transferência dos Bitcoins para o endereço fornecidos pelo
usuário no ato da solicitação.

Ora Excelência, se a justificativa do Grupo Requerido consiste


apenas em atraso diante da alta demanda de solicitações de saques, dando
preferência para saques de menores quantidade de Bitcoins, não há razões para o
Requerente ser penalizado.

Até o presente momento já se passaram meses desde a solicitação


de saque, o Requerente aguarda aflito sem ao certo saber o que está ocorrendo.
Ademais, a recusa injustificada do Grupo Requerido em devolver os Bitcoins do
Requerente través da solicitação de saque se revela verdadeiro ato ilícito.

Segue o endereço da carteira eletrônica a ser creditado os


valores:
CORRETORA: MercadoBitcoin.
3BL513iKskWJZTZGzGt6YoTKYa25TpN9vw.

Dessa forma, como medida de direito, requer desde já, em sede de


obrigação de fazer, que o Grupo Requerido seja compelido a efetivar a solicitação de
saques de Bitcoins realizadas pelo Requerente nas datas de 29/10/2019 (0,1167735 BTC)
e 12/11/2019 (0,11844349) a serem creditadas no endereço supra, sob pena de multa
diária no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) sem prejuízo das perdas e danos em virtude
da cotação inferior ao do dia da solicitação (29/11/2019).

4.6- DAS PERDAS E DANOS

Nos termos do artigo 390 do Código Civil, nas obrigações negativas


o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se
devia abster. Considerando que o cancelamento/congelamento do saque do saldo
disponível da conta do Requerente ocorreu em 29/10/2019, considerasse esta data o
início da inadimplência do Grupo Requerido.

Nessa esteira, nos termos do art. 247 do Código Civil, incorre na


obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só
imposta, ou só por ele exequível. Assim, tendo em vista que o Grupo Requerido se recusa
a cumprir obrigação contratual, o que no presente caso só pode ser executado pelo
prestador de serviços, requer seja aplicada o art. 389, do Código Civil.

Dessa forma, requer o Requerente a título de perdas e danos o


pagamento da quantia de 0,1167735 BTC no valor de R$ 4.384,80 (quatro mil trezentos e
oitenta e quatro reais e oitenta centavos) conforme cotação do dia 29/10/2019, e o
pagamento da quantia de 0,11844349 no valor de R$ 4.359,90 (quatro mil trezentos e
cinquenta e nove reais e noventa centavos) segundo cotação do dia 12/11/2019, data
em que houve o descumprimento da obrigação, acrescido de juros de mora e correção
monetária até o efetivo pagamento.

5- DA TUTELA DE URGÊNCIA

O art. 300 do CPC estabelece:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciam a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo.

A tutela ora pretendida reclama o cumprimento de dois requisitos


para sua concessão, quais sejam: I probabilidade do direito e II perigo de dano ou risco
ao resultado útil do processo.

A probabilidade do direito está amplamente evidenciada no


presente caso, uma vez que a obrigação das Requeridas em realizar os saques está
estampada nos termos e condições de uso ofertados pelas Requeridas e aos quais foi
aderido. Além disso, considerando que os valores são de propriedade do Requerente e
as Requeridas são apenas custodiantes ou depositárias de tais ativos, também não há
dúvidas quanto ao direito em sacar referidos ativos.

Já o perigo de dano, por sua vez, está amplamente caracterizado


no fato que diversos consumidores têm solicitado seus saques sem qualquer cumprimento
por parte das Requeridas. É evidente, neste cenário, que o caminho natural para a
situação ora narrada é de que as Requeridas não tenham liquidez suficiente para
adimplir todos os pedidos de saque de seus clientes, deixando, no caso concreto, o autor
a ver navios, em efetivo prejuízo.

Resta claro então, que a demora na entrega do provimento


jurisdicional, mesmo que considerado apenas o tempo necessário para a escorreita
tramitação processual, é suficiente para submeter o Requerente a um dano irreversível
podendo perder todos os valores depositados e custodiados pelas empresas Requeridas.

Para corroborar os fundamentos da tutela de urgência pleiteada,


destaque-se que não se trata de um caso isolado o pedido do Requerente, uma vez que
há outras ações com objeto similar nas quais foi deferido o pleito autoral para a
concessão da tutela de urgência consistente em obrigar as Requeridas a efetivarem os
saques, sob pena de arresto cautelar, conforme denota-se da decisum proferida pela
Douta Juíza da Vara do Juizado Especial Cível de Butantã/SP, vejamos:

[...] Fundamento e Decido. Dispõe o artigo 300 do CPC que "a tutela
de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo". Em cognição sumária dos fatos,
verifica-se que há probabilidade do direito alegado, na medida em
que o item 4.5 dos Termos de Uso (fls.19)dispõe que "os saques na
QUANTUM serão realizados no prazo D+1, após a confirmação do
pedido junto ao cliente por telefone, devendo ser levado em
consideração também os prazos de transações do Blockchain, o que
pode aumentar esse prazo, sem responsabilidade da ATLAS."E, a par
disso, há perigo de dano, vez que o autor necessita de numerário
para fazer frente ao tratamento de câncer de sua companheira (fls.
42/44). Assim, DEFIRO a tutela de urgência para determinar às rés
que, no prazo de 5 dias úteis a partir da intimação, procedam à
liquidação do total de criptomoedas que detém em nome do autor
FABIO DE ALMEIDA OLIVEIRA, CPF 053.751.537-26 , conforme cotação
do dia, creditando-lhe o valor do resgate nos termos contratados,
sob pena de multa diária de R$ 100,00, limitada, a princípio, a 30 dias.

Na mesma esteira, julgou procedente o pedido de tutela de


urgência o Douto Juiz Guilherme Silveira Teixeira, também do TJSP, ao julgar o processo
análogo, sendo o número dos autos: 1090013-58.2019.8.26.0100, vejamos:
[...] 4. Presente a probabilidade do direito, o perigo de dano consiste
na privação do uso dos valores aplicados em alegadas despesas
com a própria subsistência, destinação que se afigura por ora
condizente com o inerente dinamismo e liquidez das operações em
questão.5. Ante o exposto, presentes os requisitos legais (art. 300,
CPC) defiro a tutela de urgência para determinar à ré que, no prazo
de 48 horas (contadas em dias úteis), proceda à liquidação total das
criptomoedas titularizadas pelos autores, conforme cotação do dia,
creditando-lhes o quanto devido nos termos contratados, sob pena
de multa diária de R$ 1.000,00, limitada sua cumulação, por ora, a 30
dias.

Logo, preenchidos todos os requisitos exigidos pelo artigo 300 do


Código de Processo Civil, bem como, demonstrados cabalmente a conduta abusiva e
ilegal por parte das Requeridas, medida que se pleiteia é o deferimento da tutela de
urgência ora pretendida, para que haja o imediato sequestro nas contas bancárias das
Requeridas, no valor correspondente a 0.36232609 (btc), perfazendo a monta, em reais,
de R$ 17.481,01 (dezessete mil quatrocentos e oitenta e um reais e um centavo)

6- DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer digne de Vossa Excelência:

a) O recebimento e processamento da presente peça postulatória


bem como de todos os documentos que acompanham;

b) Conceder ao Requerente os benefícios da justiça gratuita, com


fulcro nos arts. 98 e 99 do Código de Processo Civil;

c) A concessão da TUTELA DE URGÊNCIA ora pleiteada, em sede de


decisão liminar inaudita altera parte para, determinar o sequestro nas contas das
Requeridas no valor de 0.36232609, correspondente a monta, em reais, de R$ 17.481,01
(dezessete mil quatrocentos e oitenta e um reais e um centavo) no prazo de 01 (um) dia
útil a contar da intimação.
d) O reconhecimento da relação de consumo incidente no
presente caso, com a determinação da INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, nos termos do
artigo 6º inciso VIII do CDC, como regra de instrução e regra de julgamento;

e) A citação das Requeridas para, querendo, responder a ação no


prazo legal, sob pena de revelia e confissão;

f) A TOTAL PROCEDÊNCIA DA AÇÃO para, ao final, confirmar a tutela


de urgência pleiteada e condenar as Requeridos, solidariamente, à OBRIGAÇÃO DE
FAZER consistente em efetivar os saques pretendidos pelo Requerente e ainda não
realizados, nos termos da fundamentação desta ação, ou, subsidiariamente, caso não
seja possível o cumprimento da condenação em obrigação de fazer, seja esta
convertida em condenação em perdas e danos, no montante em reais equivalentes aos
valores em Bitcoins com a cotação da data seguinte ao pedido de saque realizado pelo
autor e não efetivado.

g) A condenação das Requeridas, solidariamente, ao pagamento


de todas as custas e despesas processuais, assim como dos honorários advocatícios de
sucumbência, no importe de 20%, nos exatos termos do artigo 85 do Código de Processo
Civil;

h) A produção de todas as provas admitidas em juízo, em especial


a prova documental, testemunhal e depoimento pessoal das Requeridas;

i) Por fim, que todas as intimações/publicações sejam realizadas em


nome do advogado TIAGO MONTRONI, OAB/SC Nº 41.946, sob pena de nulidade
processual e cerceamento de defesa.

Dá-se à causa o valor de R$ 17.481,01 (dezessete mil quatrocentos


e oitenta e um reais e um centavo)
Nestes termos.
Pede e espera deferimento.

Balneário Camboriú/SC, 15 de junho de 2020.

TIAGO MONTRONI
OAB/SC 41.946
OAB/PR 89.001

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