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COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS

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Ofício nº 126/2023/CVM/SIN

Rio de Janeiro, 03 de dezembro de 2023.

Ao senhor diretor responsável


Luiz Antônio Pereira Lamboglia
RJI Corretora de Títulos e Valores Mobiliários
E-mail: maria.lucia@cantidiano.com.br; lhermeto@vieirarezende.com.br;
mpinhel@vieirarezende.com.br; adriana.meliande@rjicv.com.br

Assunto: Consulta de participante de mercado - Processo 19957.015106/2023-31

Prezado Senhor,

1. Fazemos referência à consulta apresentada a esta Comissão em 28/11/2023, por


meio da qual apresenta histórico e situação dos fundos de investimento Vanquish
Coral FI RF LP, Vanquish Fort Alocação Dinâmica FI RF LP, Vanquish Pipa FI RF LP e
Vanquis Safira FI RF LP. Nesse sentido, relata circunstâncias sobre o relacionamento
dessa instituição, na condição de administradora fiduciária do fundo, com a
respectiva gestora de todos esses fundos, assim como a dinâmica de propositura de
ações judiciais por parte de alguns cotistas contra o fundo, para ao fim realizar
algumas consultas correlatas ao caso.
2. A propósito, inicialmente é oportuno esclarecer que descabe à CVM opinar sobre a
regularidade da propositura, por parte de certos cotistas do fundo, de ações judiciais
contra o fundo no âmbito do Poder Judiciário, dada a garantia constitucional
fundamental de inafastabilidade da apreciação, pelo Poder Judiciário, de discussões
que se relacionem a eventual ameaça ou lesão a direito, nos termos do artigo 5º,
XXXV, da CRFB/88.
3. Sem prejuízo do exposto, dada a natureza relatada das demandas judiciais em
curso, é importante dispor que, nos termos do artigo 4º da Resolução CVM nº 175, o
fundo de investimento é "uma comunhão de recursos, constituído sob a forma de
condomínio de natureza especial, destinado à aplicação em ativos financeiros, bens
e direitos". Assim, a participação de cada cotista no fundo é determinada por uma
quantidade de cotas a ele atribuída quando de seu ingresso e calculada com base
na divisão do aporte financeiro feito nesse momento pelo valor da cota nessa
mesma data.
4. Assim, é correto dizer que todos os ativos do fundo pertencem a todos os cotistas
nas proporções respectivas das participações - medidas em quantidades de cotas -
por eles detidas. A administração e a gestão desse veículo de investimento sem
personalidade (embora detentor de capacidade) jurídica, ocorre sob a alçada da
prestação de um serviço profissional regulado pela CVM, conforme feita no caso
concreto respectivamente pela RJI e pela Vanquish.
5. Por consequência, importante reconhecer que o ajuizamento de uma ação contra
um fundo de investimento, ou ainda mais pedidos de ressarcimento contra ele,
representa em última instância uma demanda contra os próprios cotistas do fundo,
na medida em que são eles, por via de impactos sofridos no valor das cotas por eles
detidas, que arcam com quaisquer despesas, inclusive de natureza ressarcitória,
devidos pelo fundo. Em particular nas situações em que os prejuízos discutidos
judicialmente possam ter sido provocados pela atuação pouco diligente ou conflitada
de prestadores de serviço, atuais ou passados, uma condenação pode voltar a
prejudicar os próprios cotistas que já haviam sido prejudicados antes, e ainda
promover indevida transferência de riqueza entre esses investidores. Em outras
palavras, ressarcindo prejuízos de alguns cotistas às custas de ainda mais prejuízos
aos demais.
6. Nesse contexto, reiteramos que a decisão, tomada pelo administrador fiduciário
de um fundo, de seu fechamento para resgates nas condições previstas em
regulação (artigo 44 da Resolução CVM nº 175), longe de representar hipótese de
prejuízo aos cotistas do fundo, tem o objetivo contrário de impedir que prejuízos
futuros projetados se materializem, na medida em que ocorrem sob situações
excepcionais de iliquidez ou incerteza de preço sobre os ativos da carteira do fundo
que podem levar, caso o fundo fosse mantido aberto, à impossibilidade prática do
pagamento dos resgates correntes e futuros (no caso de iliquidez), ou do pagamento
de valor incorretamente calculado (no caso de incertezas de preço dos ativos da
carteira), mais uma vez, promovendo indevidas transferências de riqueza entre os
cotistas nesses casos.
7. Assim, é de causar particular preocupação que eventual resgate seja imposto ao
fundo em um cenário no que esteja fechado para tanto nos termos da
regulamentação da CVM, pois pode levar o fundo a uma situação de insolvência
provocada pelo esgotamento da pouca liquidez ainda restante no fundo, de um lado;
ou à materialização dos prejuízos aos cotistas (via transferência de riqueza em
desfavor dos remanescentes) que o fechamento para resgates justamente buscou
evitar, de outro.
8. De toda forma, pela quantidade presumida de ações judiciais envolvidas no
relato, parece impraticável que a CVM atue na condição de amicus curiae em bases
individuais em cada uma delas, pela ausência dos recursos necessários à autarquia
para corresponder a essa atuação.
9. Quanto à consulta sobre o papel do gestor em casos de "fundos em situação de
estresse financeiro", confirmamos o entendimento esposado de que é
responsabilidade central desse prestador de serviços - gestor - atuar, em linha com
seus deveres fiduciários, com o uso de todas as medidas necessárias e exigidas
pelas circunstâncias para a recuperação de eventuais créditos estressados, inclusive
as ações ao alcance, judiciais ou extrajudiciais, para a cobrança de créditos
inadimplidos da carteira.
10. Em relação à hipótese aventada de tratamento sigiloso para a consulta, por não
se vislumbrar hipótese legal que possa afastar a regra geral de publicidade prevista
no artigo 37 da CRFB/88 e lei nº 9.784/99 imposta à Administração Pública,
indeferimos o pedido, cuja decisão pode ser objeto de recurso, nos termos da
Resolução CVM nº 46.
11. Por fim, quanto à indagação se a "Vanquish conserva os requisitos para
autorização ao exercício da atividade de administração de carteiras de valores
mobiliários", informamos que este processo foi encaminhado à Gerência de
Acompanhamento de Investidores Institucionais ("GAIN") desta superintendência,
para verificação da incidência, ou não, de hipótese de cancelamento do registro da
referida gestora, nos termos da Resolução CVM nº 21.

Atenciosamente,

Documento assinado eletronicamente por Daniel Walter Maeda Bernardo,


Superintendente, em 03/12/2023, às 23:09, com fundamento no art. 6º do
Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

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Referência: Processo nº 19957.015106/2023-31 Documento SEI nº 1933365

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