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CENTRO UNIVERSITÁRIO JOAQUIM NABUCO


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

JOSÉ IVO PEREIRA JÚNIOR (01246654)


LARISSA CAMILE DA SILVA SANTOS (01199682)
WINNIANE MARIA TOMÁS DE FREITAS MANGABEIRA (01244638)

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS NO DIREITO PROCESSUAL


CIVIL: AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

Recife / PE
27 abr. 2020
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................03

2 PROCEDIMENTO NAS AÇÕES DE EXIGIR CONTAS..........................................04

3 DAS CONTAS APRESENTADAS PELAS PARTES..............................................05

4 PRESTAÇÃO DE CONTAS POR DEPENDÊNCIA................................................06

5 FLUXOGRAMA DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS..................................................07

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................07

7 REFERÊNCIAS.......................................................................................................08
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1 INTRODUÇÃO

O ato de prestar contas pode ser compreendido como a ação de detalhar


débitos e créditos à parte legítima interessada, em função de determinada relação
jurídica, que gera este tipo de obrigação. Nas palavras de Fabrício (1980) apud Gaio
Júnior (2020, p. 1017):
Prestar contas significa fazer alguém, a outrem, pormenorizadamente,
parcela por parcela, a exposição dos componentes do débito e
crédito resultantes de determinada relação jurídica, concluindo
pela apuração aritmética do saldo credor ou devedor ou de sua
inexistência. Grifos nossos.

A doutrina cita artigos do Código Civil de 2002 (CC/02) e do Código de


Processo Civil de 2015 (CPC/15) para explicar que algumas pessoas receberam
designação para administrar bens ou interesses alheios e, por este motivo, tem por
obrigação prestar contas, a saber:
O tutor e o curador diante do tutelado e do curatelado (arts. 553 e
763, §2º., CPC/15), o sucesso provisório em relação aos bens do
ausente (art. 33, CC/02), o mandatário perante o mandante (art.
668,CC/02), o testamenteiro perante os herdeiros (art. 735, § 5º.,
CPC/15), o inventariante diante dos herdeiros (arts. 553 e 618, VII),
sob pena de remoção do cargo (art. 622, V, CPC/15), o curador em
relação aos bens que integram a herança jacente (arts. 553 e 739, §
1º., V), o administrador-depositário, no caso de penhora de
percentual de faturamento de empresa (art. 866, CPC/15), o leiloeiro
público (art. 884, CPC/15), o advogado em relação ao constituinte
(Estatuto da OAB, art. 34, XXI), entre outros. Grifos nossos.

Importante destacar que as contas deverão ser prestadas por essas pessoas
supramencionadas de forma extrajudicial, normalmente no âmbito administrativo,
salvo às exceções legais de prestação de contas em juízo (arts. 1.756, 1.757 e
parágrafo único, em art. 1.774) ou os casos em que o próprio tipo de negócio jurídico
enseja a obrigação, como por exemplo, o mandado.
Isto significa dizer que o interesse de agir surge à parte que tem direito a
receber as contas (demandante, autor da ação), quando esta parte não é atendida
(ou há mora) na prestação pormenorizada dessas contas. Assim, de forma sistêmica
e didática, esclarece Antonio Carlos Marcato sobre o interesse de agir:
O autor somente terá interesse instrumental de agir em juízo se e
quando houver recusa ou mora por parte daquele com direito a
receber as contas, ou do obrigado a presta-las; ou ainda, quando a
prestação amigável seja impossível, em razão da divergência
existente entre as partes, quer quanto ao objeto ou existência da
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própria obrigação de dar contas, quer quanto à existência ou ao


montante do saldo (MARCATO, 2017, p. 110). Grifos nossos.

2 PROCEDIMENTO NAS AÇÕES DE EXIGIR CONTAS

Salvo esteja estabelecido de forma diversa em contrato, o foro de


competência é o do local onde se deu a administração dos bens, em consonância
com o art. 53, inc. IV alínea “b” do CPC/15, exposto a seguir:
Art. 53. É competente o foro:
IV - do lugar do ato ou fato para a ação:
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios
alheios. Grifos dos autores.

O réu da ação de exigir contas pode, no prazo de 15 (quinze) dias após a


citação, prestar contas ou ofertar contestação. Marcato (2017) em seu livro
Procedimentos Especiais traz a seguintes hipóteses e procedimentos que podem
adotados pelo réu:

a) Não contestar a demanda do autor: em assim sendo, o réu tornar-se-


á revel e será condenado a prestar contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de
não poder impugnar aquelas que venham a ser prestadas pelo autor (art. 550, § 5º).
Prestando-as, o autor terá este mesmo prazo para manifestar-se sobre elas e,
aceitando-as, o juiz proferirá sentença homologatória do reconhecimento da
procedência do pedido (NCPC/15, arts. 550, § 2º, e 487, inc. III, alínea “a”. Caso as
rejeite (o autor), o pedido será acolhido em julgamento antecipado (arts. 550, § 4º, e
355, inc. II), prevalecendo, então, as contas apresentadas pelo autor. Nas duas
hipóteses, a correspondente sentença de mérito indicará o saldo e constituirá título
executivo judicial em favor da parte credora (arts. 552 e 515, inc. I). Marcato (2017),
tomando por base o § 5º. do art. 550 do CPC/15, ainda destaca que a decisão
judicial de procedência à prestação de contas é uma decisão interlocutória e, como
tal, o recurso cabível é o agravo de instrumento.

b) Réu apresenta as contas e não contesta: neste caso, o autor terá o


prazo de 15 (quinze) dias para manifestar-se acerca das contas apresentadas pelo
réu. Aceitando-as, o juiz prolatará sentença homologatória. Rejeitadas as contas
apresentadas, o pedido será acolhido em julgamento antecipado, em função da
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revelia do réu em não ofertar contestação (arts. 550, § 4º, e 355, inc. II), da mesma
forma prevalecendo, então, as contas apresentadas pelo autor. A sentença de
mérito indicará o saldo, valendo como título executivo judicial à parte credora.

c) Réu apresenta contestação. Em assim sendo, tem-se 02 (duas)


possibilidades:
c.1) Na primeira hipótese, o réu apresenta contestação e nega que haja
obrigação de prestar contas.
Em assim sendo, o juiz, constatando a desnecessidade de produção de
provas prolatará, de imediato, sentença, decidindo se o réu tem ou não a
obrigação de prestar contas; em caso positivo, será condenado a prestá-las no
prazo legal, sob pena de o autor apresentar as suas; inexistindo ou sendo
insuficiente a prova documental, o juiz determinará a produção de provas,
designando audiência de instrução e julgamento (NCPC, art. 357, V).

c.2) O réu contesta, mas, apresenta a prestação de contas


Aparentemente (re)ações antagônicas por parte do réu, o que geraria uma
preclusão lógica, o doutrinador Furtado Fabrício apresenta um caso muito especial,
em que é possível esse posicionamento. Isto pode acontecer, de forma específica,
quando a divergência entre as partes ocorrer no que diz respeito ao conteúdo e,
não, quanto ao direito de exigir contas.

3 DAS CONTAS APRESENTADAS PELAS PARTES

O Código de Processo Civil de 2015, em seu art. 551, caput, descreve que as
contas devem ser apresentadas na “forma adequada”. A doutrina traz explicação de
que essa menção no CPC/15 deve ser compreendida como a forma mercantil,
ponderando que há decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no sentido de que
“deve-se amenizar esse rigor se as contas são apresentadas de forma inteligível”1.
Vale destacar que as contas devem ser apresentadas com todos os
lançamentos (receitas, despesas, investimentos, dentre outros) e documentos

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Citado por Marcato (2017, p. 112). REsp nº. 1.218.899 – PR (2010/0187075-8), Quarta Turma, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, j. 04.08.2011. No mesmo sentido, na jurisprudência mais recente daquele tribunal: AgRg no
REsp 997.634/DF, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, j. 01.09.2015, Dje 09.09.2015.
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comprobatórios, sob pena de serem impugnadas totalmente ou parcialmente pelo


autor da ação.
Quando da apresentação de prestação de contas, autor ou réu devem
apresentar eventuais saldos remanescentes. Nesta linha de raciocínio, “ao prolatar a
sentença o juiz julgará as contas e decidirá a respeito de eventual saldo
remanescente; apurada a existência de saldo credor, será o devedor condenado a
pagá-lo, valendo a sentença como título executivo judicial” (MARCATO, 2017, p. 113
e arts. 515 e 552 do CPC/15).
Desta forma, após transito e julgado, qualquer uma das partes (autor ou réu)
estão suscetíveis de débitos remanescentes ao outra parte, cujo pagamento deverá
ser realizado no prazo de 15 (quinze) dias, contados da decisão judicial. Se o devido
pagamento não for efetuado no prazo legal estabelecido, aplica-se o previsto no art.
523, § 1º. do CPC/15, que afirma: “não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do
caput , o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários
de advogado de dez por cento”.

4 PRESTAÇÃO DE CONTAS POR DEPENDÊNCIA

Os administradores de bens e interesses alheios (inventariante, tutor, curador,


depositário, entre outros) prestarão suas contas em apenso aos autos do processo.
É o que a doutrina denomina de prestação de contas por dependência. Neste
sentido, Marcato explica:
O órgão jurisdicional competente para a apreciação e julgamento das
contas será aquele perante o qual tramite ou tramitou o processo e
que foi concretizada a nomeação do obrigado a prestá-las,
processando-se a ação em apenso aos autos do referido
processo (MARCATO, 2017, p. 113). Destaques nossos.

Após o trânsito e julgado, havendo saldo a pagar aos administradores, estes


deverão realizá-lo no prazo legal e, caso não ocorra, ficarão sujeitos às seguintes
sanções: destituição do cargo; sequestro dos bens sob sua guarda; glosa do prêmio
ou gratificação, a que teria direito, sem prejuízo de execução forçada (parágrafo
único do art. 553 do CPC/15).
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5 FLUXOGRAMA DA AÇÃO JUDICIAL DE EXIGIR CONTAS (conforme MARCATO,


2017, p. 114)

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Código de Processo Civil de 1973 (CPC/73), em seu art. 914, previa a


possiblidade de ajuizamento de ação de prestação de contas por aquele que tinha o
direito de exigi-las (art. 915 do CPC/73) e por àquele que era obrigado a prestá-las
(art. 916 do CPC/73), prevendo procedimentos distintos aos dois tipos de ação.
Em seu conhecido livro Procedimentos Especiais, Marcato (2017) faz uma
crítica positiva aos legisladores, quando no novo CPC/15 unificou as duas
possiblidades em um procedimento único.
Esta significativa e eficiente alteração partiu da premissa de que não se pode
confundir o direito às contas do direito ao crédito. Este último, direito ao crédito,
restará configurado ao final do processo no novo CPC/15. Em se constando crédito
em favor de qualquer uma das partes, forma-se título extrajudicial em favor do titular
do crédito, mesmo não tendo sido o beneficiário do crédito o promovente da ação
(MARCATO, 2017).
Sobre esta temática, ratifica o doutrinador Gustavo Filipe Barbosa Garcia:
A ação de consignação em pagamento apresenta natureza
dúplice, pois se a sentença reconhecer a insuficiência do depósito, o
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autor (consignante) deve ser condenado a pagar a diferença,


permitindo ao credor (consignado) o cumprimento (execução fundada
em título judicial) nos mesmos autos. (GARCIA, 2020, p. 951).
Destaques nossos.

Garcia (idem) cita tese jurídica do STJ, construída a partir de julgamento de


Recurso Especial, que enuncia: “em ação consignatória, a insuficiência do depósito
realizado pelo devedor conduz ao julgamento de improcedência do pedido, pois o
pagamento parcial da dívida não extingue o vínculo obrigacional” (STJ, 2ª. Seção,
REsp 1.108.058/DF, 2008/0277416-2, Rel. p/ ac. Min. Maria Isabel Gallotti, Dje
23.10.2018).
O presente trabalho objetivou desenvolver breves comentários sobre a ação
de exigir contas. Conforme acima exposto, trata-se de um procedimento
especial de natureza dúplice, no que diz respeito à legitimidade ad causam.

REFERÊNCIAS

BRASIL. LEI Nº. 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 (Código Civil). Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 21 abr.
2020.

______ . LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015 (Código de Processo Civil).


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 21 abr. 2020.

GAIO JÚNIOR, A. P. Instituições de Direito Processual Civil. 4ª. ed. rev. e atual.
Salvador: Editora JusPodivm, 2020. p. 1017-1020.

GARCIA, G. F. B. Manual de Direito Processual Civil. 2ª. ed. rev., ampl. e atual.
São Paulo: Editora JusPodivm, 2020. p. 953-958.

MARCATO, A. C. Procedimentos Especiais. 17ª. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Editora Atlas, 2017. p. 108-114.

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