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AO MM.

JUÍZO DE DIREITO DA VARA DO TRABALHO DE ÓBIDOS/PA

Autos: 0000165-69.2020.5.08.0108
Reclamante: JAINESSON ESTEVES SILVA

K L B COELHO EIRELI, já qualificada nos autos Reclamação Trabalhista em


epígrafe, através das advogadas que abaixo subscrevem, vêm à presença de Vossa Excelência,
inconformada, data vênia, com a r. decisão de ID nº a7aa075 que negou seguimento ao
Recurso Ordinário tempestivamente apresentado pela Agravante, interpor o presente recurso
de AGRAVO DE INSTRUMENTO, com fundamento no artigo 897, alínea “b” da CLT, a
fim de que a matéria seja novamente apreciada para fins de juízo de retratação por parte de
Vossa Excelência.
Assim não entendendo, requer, após análise preliminar de admissibilidade, seja
remetido os presentes autos ao Egrégio Tribunal de Justiça da 8ª Região, com as inclusas
razões de recurso em anexo, para os fins almejados.
A Agravante apresenta em anexo, para formação do instrumento, as seguintes
peças: com cópias da decisão agravada (ID a7aa075), da certidão da respectiva intimação (ID
9cbfa3e), das procurações outorgadas aos advogados do agravante (ID a369951) e do
agravado (ID 3e27c0a), da petição inicial (IDe3f5b8a), da contestação (ID
3544c0d ), da decisão originária (ID 507c7be), declaração de hipossuficiência (ID
9e436e5) em obediência ao 897, §5º, da CLT.
Por fim, considerando tratar-se de Recurso de Agravo de Instrumento que pugna
pela tempestividade do Recurso Ordinário, aviado pela Reclamada ora Agravante, requer
desde já a reforma da r. decisão do d. Juízo a quo, no intuito de declarar a tempestividade e
dar seguimento ao competente Recurso Ordinário ora interposto, o qual espera seja dado
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provimento, haja vista a violação literal de disposição de Lei e a total falta de fundamentação
da decisão ora agravada.

Ademais, trata-se de consubstanciar exatamente o direito constitucional ao


contraditório e à ampla defesa.

Nesses termos, pede deferimento.

Santarém-PA, 22 de março de 2021.

NAÍNA MOURA GUIMARÃES


OAB/PA 18.273

SILVIA DE AQUINO MOTA


OAB/PA 15.083

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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL DA 8ª REGIÃO
COLENDA TURMA

RAZÕES DE RECURSO

Processo: 0000165-69.2020.5.08.0108
Recorrente: K L B COELHO EIRELI
Recorrido: JAINESSON ESTEVES SILVA

I – DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO

Apenas ad cautelam, cumpre registrar que o presente Agravo é perfeitamente


tempestivo.
De acordo com o artigo 897 da CLT “Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:
a) de petição, das decisões do Juiz ou Presidente, nas execuções; b) de instrumento, dos
despachos que denegarem a interposição de recursos” (Grifos nossos).
Aplicando-se a regra do artigo 2191 cumulado com artigo 2242 e artigo, do novo
CPC, constata-se a tempestividade recursal, da seguinte forma: a intimação se deu em
12.03.2021, e a leitura ocorreu em 15.03.2021 assim, encerra-se o prazo recursal em
25.03.2021.

II – DAS CUSTAS E DO DEPÓSITO RECURSAL

Neste ato, a Recorrente deixa de juntar o comprovante de recolhimento o


depósito recursal referente ao recurso que se pretende destrancar (Recurso Ordinário),
1 Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias
úteis.

2 Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o
dia do vencimento.
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bem da comprovação do recolhimento das custas e do depósito recursal a que se refere o
presente Agravo (§7º, do artigo 899, CLT), haja vista ter formulado em sede de Recurso
Ordinário, pedido de isenção das custas e do depósito recursal, nos termos das Leis nº
1.060/50 e 7.115/83, porquanto, conforme o instrução processual e dos documentos acostados
aos autos, trata-se de Sociedade Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), com
baixo capital social, que vem passando por séria crise financeira, que lhe impossibilita arcar
com o preparo, para ver recebido o presente recurso e encaminhada a 8ª Regional deste TRT.

A ausência de capacidade financeira da Reclamada pode ser comprovada


pela quantidade de funcionários que possui, ou seja, conforme instrução processual, a
empresa conta apenas com 1 funcionário, que é o preposto da empresa Sr. Paulo Viana,
o qual afirmou em juízo que a “reclamada possui apenas o depoente como empregado”,
sem prédio próprio ou veículos, sem qualquer patrimônio ou condições financeiras para
arcar com as custas processuais de tão elevada monta. Sem olvidar a crise econômica
que vem enfrentando os pequenos empresários em razão das intensas restrições de
circulação de pessoas no município de Juruti, como foi noticiado em rede nacional.
Nesse sentido, a interpretação jurisprudencial do direito constitucional tem sido
ampliativa (inclusive na Justiça do Trabalho), no sentido de garantir a todos que comprovem
insuficiências de recursos os benefícios da Justiça Gratuita.
Entender que o benefício só se aplica aos empregados viola o princípio da
isonomia, que também tem assento constitucional, a saber, artigo 5º, caput e inciso I da
Constituição Federal. Ademais, a Lei nº 1.060/50 não faz qualquer distinção entre empregado
e empregador, conforme se extrai do regramento do artigo 4º, caput.
O referido dispositivo legal prescreve que a parte gozará dos benefícios, não
distinguindo empregado de empregador. A lei é construção cultural e a sua interpretação deve
alcançar os fins sociais a que se destina e as exigências do bem comum (art. 5º da LICC).
Entendimento contrário levaria ao absurdo de deixar sem os benefícios o pequeno
empreiteiro, o empregador arruinado, e tantos outros humildes reclamados.
A jurisprudência já tem posicionado favorável a esse respeito, in verbis:

JUSTIÇA GRATUITA. A realidade socioeconômica do País deve se levada em


consideração na análise dos fatos, pelo que o microempresário em dificuldades
financeiras não deve ser privado da defesa de seus direitos em razão de não ter
condições de efetivar o depósito recursal. (TRT 20ª Região; RO 2785/00; AC
552/01, Rel. CARLOS ALBERTO PEDREIRA CARDOSO, DJ 27.03.2001).

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É viável a formulação, no curso do processo, de pedido de assistência judiciária
gratuita na própria petição recursal, dispensando-se a exigência de petição
avulsa. (...). Embargos de declaração acolhidos para dar provimento ao agravo
regimental e determinar a abertura de prazo à parte para a realização do preparo e,
após, proceder a novo juízo de admissibilidade. (STJ, EDcl no AgRg noAREsp
803.912/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª Turma, #54889557).

GRATUIDADE DA JUSTIÇA. Pessoa jurídica. Situação econômica compatível


com o alegado estado de hipossuficiência econômica. Decisão reformada.
Benefício concedido. Recurso provido. (TJ-SP 21864554920178260000 SP
2186455-49.2017.8.26.0000, Relator: Tasso Duarte de Melo, 12ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 24/01/2018).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ORDINÁRIO OBSTADO NA


ORIGEM POR DESERÇÃO. CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA
GRATUITA À MICROEMPRESA. POSSIBILIDADE. É sabido que a
concessão da gratuidade no âmbito da Justiça do Trabalho sempre esteve
relacionada à condição de hipossuficiente do trabalhador que, impossibilitado de
arcar com as despesas do processo, acabava por ver restringido o seu direito de
acesso à justiça. Entrementes, a jurisprudência pátria vem reconhecendo a
possibilidade de concessão da benesse em espeque ao empregador, ainda que pessoa
jurídica ou microempresa, caso haja a declaração de pobreza; ou mesmo às demais
empresas, de maneira excepcional, caso seja cabalmente demonstrada a ausência de
condições financeiras para o custeio do processo. Comprovada a condição de
microempresa e presente a declaração de insuficiência econômica, restam atendidos
os requisitos previstos no art. 790, § 3º, da CLT para a concessão do benefício da
justiça gratuita aos reclamados. (Processo: AIRO - 0000598-02.2015.5.06.0271,
Redator: Ruy Salathiel de Albuquerque e Mello Ventura, Data de julgamento:
20/02/2017, Terceira Turma, Data da assinatura: 21/02/2017, #34889557).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. AJG. PESSOA


JURÍDICA. POSSIBILIDADE. A COMPROVAÇÃO DA CONDIÇÃO DE
MICROEMPRESA PARTICIPANTE DO SIMPLES NACIONAL E
DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA É SUFICIENTE PARA A
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. AGRAVO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70069506251,
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho
Braga, Julgado em 17/08/2016).

Ao disciplinar sobre o tema, grandes doutrinadores esclarecem:

Pessoa Jurídica e Assistência Judiciária Gratuita. A pessoa jurídica que não


puder fazer frente às despesas do processo sem prejuízo de seu funcionamento
também pode beneficiar-se das isenções de que trata a gratuidade da justiça.
"Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins
lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos
processuais (Súmula 481, STJ). (MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART,
Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. 3ª
ed. Revista dos Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 98).

Portanto, se um empregador demonstrar a insuficiência de recursos, deve-lhe ser


concedido os benefícios da justiça gratuita, com base no artigo 5º, inciso LXXIV da CF/88 e
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Lei nº 1.060/50, tendo em vista que o empregador obedeceu os requisitos constitucionais para
deferimento do benefício.
Isto posto, requer a Vossas Excelências, que isente a Reclamada da
obrigatoriedade das custas e do depósito recursal, face ao seu estado de hipossuficiência, e
diante de grave crise econômica que assola o país, recebendo o presente Recurso Ordinário
como medida de inteira justiça.

III - DA SÍNTESE FÁTICA

Ínclitos Julgadores, versam os autos acerca da Reclamação Trabalhista proposta


em face da Agravante pleiteando o reconhecimento de vínculo empregatício e pagamento de
verbas rescisórias em favor de JAINESSON ESTEVES SILVA, que guerreia o pagamento
de aviso prévio indenizado, 13° salário, férias vencidas acrescidas de 1/3 constitucional,
FGTS com multa 40%, seguro desemprego indenizado, diferença salarial e reflexos com juros
e correção monetária, além de multas do artigo 477 e artigo 467 da CLT.
Com efeito, a Reclamada, ora Agravante, interpôs o competente Recurso
Ordinário em 11/03/2021 às 21:20hs (ID nº 6db158e), sendo negado seguimento pelo MM.
Juízo monocrático sob o fundamento de intempestividade.
Nobres Julgadores, não poderia o d. Juízo a quo ter decidido de tal forma, haja
vista a latente tempestividade do recurso ofertado pela Agravante. Os fundamentos
insculpidos na CLT, no CPC e nos próprios Enunciados do TST garantem a tempestividade do
competente recurso.
Dignos Julgadores, a r. decisão a quo ora agravada, é manifestamente injusta,
suscitando o inconformismo e a necessidade de reforma para se alcançar o justo provimento
estatal.
Para tanto doravante serão desfechadas as pujantes razões, que não só autorizam,
mas tornam inafastável a necessidade de revisão como única forma de estabelecer o equilíbrio
social e a escorreita aplicação do ordenamento jurídico vigente.

IV - DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

A Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT dispõe:


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Art. 769. Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte
subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for
incompatível com as normas deste Título.
Art. 775. Os prazos estabelecidos neste Título serão contados em dias úteis,
com exclusão do dia do começo e inclusão do dia do vencimento.
Art. 895. Cabe recurso ordinário para a instância superior:
I – das decisões definitivas ou terminativas das Varas e Juízos, no prazo de 8
(oito) dias; e

Acerca da contagem do prazo processual, o novo Código de Processo Civil


determina:

Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados


excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento.
§ 1º Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o
primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente
forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver
indisponibilidade da comunicação eletrônica.
§ 2º Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da
disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico.
§ 3º A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da
publicação (grifos nossos).

Ora, conforme se vislumbra, para o início da contagem do prazo em processos


físicos, usa-se a informação disponível no Diário de Justiça Eletrônico, sendo realizada a
intimação, no “primeiro dia útil que seguir ao da publicação” (art. 224, §3º, NCPC).
No entanto, a Lei nº 11.419/06, responsável por disciplinar o PROCESSO
ELETRÔNICO, estabelece que, na tramitação de processo eletrônico, a intimação das
decisões proferidas ocorre por meio eletrônico, considerando pessoal a mera disponibilização
da íntegra dos autos para potencial consulta pela parte interessada.
No processo eletrônico, reputa-se realizada a intimação na data da consulta
pelo intimando de seu teor (decisão, despacho, sentença), devidamente certificada nos autos
(art. 5º, § 1º), sendo postergada ao primeiro dia útil subsequente, no caso da consulta se
efetivar em dia não útil (art. 5º, § 2º), cabendo ao intimando promover a consulta do teor da
intimação no prazo de 10 (dez) dias corridos da data de seu envio, sujeitando-se que esta se
considere como automaticamente realizada no término do prazo (art. 5º, § 3º).
Destarte, diferentemente do que compreendido pelo Juízo recorrido, o
RECURSO ORDINÁRIO interposto é manifestamente TEMPESTIVO, uma vez que a
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decisão foi publicada em 24/02/2021, a consulta pelo intimado foi realizada em
01/03/2021, excluindo-se o dia do início e incluindo o dia do vencimento tem-se que o fim
o prazo ocorreu em 11/03/2021.
Ora, o Recurso Ordinário foi interposto na data de 11/03/2021, sendo portanto,
conforme as regras do processo eletrônico, perfeitamente tempestivo, vejamos:

Por fim, mister ressaltar que o Colendo Superior Tribunal de Justiça em recentes
julgados reafirmou o entendimento no sentido de que, em caso de duplicidade de intimação,
ou seja, via sistema eletrônico (art. 5º, da Lei 11.419/2006) ou realizada via DJe (art. 4º, da
Lei 11.419/2006), prevalece a intimação eletrônica dos atos processuais, frente à inserção em
Diário da Justiça Eletrônio (DJe), destacando-se, nesse particular, que a própria orientação
contida no AVISO PJe - nº 001/2017, hoje já se encontra superada pelas disposições
constantes do PROVIMENTO - 20/2019 - CGJ, no qual se reafirma que a intimação
eletrônica prevalece sobre aquela realizada por meio do DJe, conforme asseguram os artigos
2703 e 2724, ambos do NCPC.
Em que pese o indiscutível saber jurídico do Juiz a quo, resta à Reclamada, ora
Agravante, somente as vias do presente Recurso de Agravo de Instrumento para reformar a

3  Art. 270. As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma da lei.

4 Art. 272. Quando não realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela publicação dos
atos no órgão oficial.
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decisão, no intuito de declarar a tempestividade e dar seguimento ao competente Recurso
Ordinário ora interposto, o qual espera seja dado provimento, haja vista a violação literal de
disposição de Lei e a total falta de fundamentação da decisão ora agravada.

V – DOS PEDIDOS

Pelos motivos expostos, o presente recurso deve, data vênia, ser recebido e
provido para declarar a tempestividade e dar seguimento ao competente Recurso
Ordinário interposto pela Agravante, esperando sejam ambos providos, bem como requer a
concessão dos benefícios da assistência gratuita para que fique liberada do recolhimento do
preparo e das despesas processuais de ambos os recursos, por não ter condições financeiras de
demandar sem prejuízo do equilíbrio econômico da empresa.
Requer, por fim, o deferimento da juntada das cópias que instruem o presente
Agravo, como se originais fossem, tendo em vista que estas causídicas declaram a
autenticidade das aludidas cópias, consoante prescreve o parágrafo 5º do artigo 897 da CLT.

Nesses termos, pede deferimento,

Santarém/PA, 22 de março de 2021.

NAÍNA MOURA GUIMARÃES


OAB/PA 18.273

SILVIA DE AQUINO MOTA


OAB/PA 15.083

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