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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região

Recurso Ordinário Trabalhista


1000804-10.2020.5.02.0085
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Relator: MARIA DE LOURDES ANTONIO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 01/06/2022


Valor da causa: R$ 43.551,74

Partes:
RECORRENTE: ESHO EMPRESA DE SERVICOS HOSPITALARES S.A.
ADVOGADO: FRANCISCO PASSARINI JUNIOR
ADVOGADO: Luiz antonio Gambelli
RECORRIDO: VALDECIR RODRIGUES PEREIRA
ADVOGADO: DORIVAL DA SILVA SANTOS
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO
85ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO
ATOrd 1000804-10.2020.5.02.0085
RECLAMANTE: VALDECIR RODRIGUES PEREIRA
RECLAMADO: ESHO EMPRESA DE SERVICOS HOSPITALARES S.A.

PROCESSO: 1000804-10.2020.5.02.0085

RECLAMANTE: - VALDECIR RODRIGUES PEREIRA

RECLAMADA: - ESHO EMPRESA DE SERVICOS HOSPITALARES S.A.


 

JUIZ: MAURO VOLPINI FERREIRA

Sentença prolatada em 25.03.2022

Sentença prolatada de forma líquida nos termos da


Recomendação nº 4/GCGJT, de 26 de setembro de 2018.

I - RELATÓRIO

VALDECIR RODRIGUES PEREIRA, já qualificado na inicial, ajuizou


reclamação trabalhista em face ESHO EMPRESA DE SERVICOS HOSPITALARES S.A.,
pleiteando a condenação desta no pagamento de adicional de periculosidade ou
diferenças do adicional de insalubridade, além dos reflexos e honorários de
sucumbência.

Atribuiu à causa o valor de R$ 43.551,74 (fls. 08 do PDF).

Juntou documentos sob o ID. 0d01f90 ao ID. d367c21.

Assinado eletronicamente por: MAURO VOLPINI FERREIRA - Juntado em: 28/03/2022 11:22:20 - ca66996
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Primeira proposta de conciliação rejeitada.

A reclamada apresentou defesa escrita (ID. 622bb12), arguindo


preliminarmente a incidência de prescrição e, no mérito, negou os direitos pretendidos
pelo reclamante.

Réplica sob o ID. 81f6077.

Foram produzidas provas de audiência (ID. bc97a25).

Foi determinada a realização de perícia técnica, tendo o perito


nomeado por este Juízo apresentado o laudo sob o ID. 05e69b9. Parecer do assistente
técnico do reclamante sob o ID. 5bebb71. Parecer do assistente técnico da reclamada
sob o ID. 99d0ef3. Manifestação da reclamada sob o ID. 68c5fe9. Esclarecimentos
complementares apresentados pelo perito judicial sob o ID. 114197a. 

Segunda proposta de conciliação rejeitada.

É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

1. DAS PRELIMINARES

1.1. Da prescrição quinquenal

Aduz a reclamada, a aplicação da prescrição quinquenal a


eventual condenação. Com razão, uma vez que a CLT em seu art. 11, bem como, a
Constituição Federal no seu artigo 7º, inciso XXIX, determinam a prescrição quinquenal
dos créditos trabalhistas. Deste modo, tendo o reclamante proposto esta ação em 04
/08/2020, considero fulminadas suas pretensões relativas a parcelas anteriores a 04/08
/2015, inclusive em relação às contribuições previdenciárias e de imposto de renda,
excetuando as parcelas do FGTS (não incluindo nestes, eventuais reflexos de parcelas
remuneratórias – Súmula nº 206 do C. TST), para o qual aplico o entendimento
externado pelo plenário do STF, no julgamento do ARE nº 709.212/DF – Relator Ministro
Gilmar Mendes - com o efeito modulado e Súmula nº 362 do C. TST. 
 

Assinado eletronicamente por: MAURO VOLPINI FERREIRA - Juntado em: 28/03/2022 11:22:20 - ca66996
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“Recurso extraordinário. Direito do Trabalho.


Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS). Cobrança de valores não pagos. Prazo
prescricional. Prescrição quinquenal. Art. 7º,
XXIX, da Constituição. Superação de
entendimento anterior sobre prescrição
trintenária. Inconstitucionalidade dos arts. 23,
§ 5º, da lei 8.036/90 e 55 do Regulamento do
FGTS aprovado pelo decreto 99.684/90.
Segurança jurídica. Necessidade de modulação
dos efeitos da decisão. Art. 27 da lei 9.868/99.
Declaração de inconstitucionalidade com
efeitos ex nunc. Recurso extraordinário a que
se nega provimento.” (STF, Pleno, ARE nº
709.212/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j.
13.11.2014).

Súmula nº 362 do TST:

FGTS. PRESCRIÇÃO 

I – Para os casos em que a ciência da lesão


ocorreu a partir de 13.11.2014, é quinquenal a
prescrição do direito de reclamar contra o não-
recolhimento de contribuição para o FGTS,
observado o prazo de dois anos após o
término do contrato;

II – Para os casos em que o prazo prescricional


já estava em curso em 13.11.2014, aplica-se o
prazo prescricional que se consumar primeiro:
trinta anos, contados do termo inicial, ou cinco
anos, a partir de 13.11.2014.

Para a aplicação correta da modulação, devemos diferenciar


pedidos relativos ao reconhecimento de ausência de depósitos de FGTS ou depósitos
realizados em valores inferiores anteriores a 13.11.2014, de pedidos de diferenças de
FGTS decorrentes de reflexos de parcelas porventura reconhecidas nesta sentença. Em
relação a estas, como decorrentes do pedido principal, aplicável naturalmente a
prescrição quinquenal. Já em relação àquelas, considerando que a modulação utilizou
como marco a data de 13.11.2014, inconteste que o prazo quinquenal se consumou
primeiro e, portanto, este deve ser aplicado exceto se houver alguma causa
interruptiva do prazo prescricional.

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Desta forma, como não comprovado ou arguido a interrupção


do prazo prescricional, concluo que as parcelas do FGTS requeridas na presente ação
estão submetidas ao prazo prescricional quinquenal.

2. DO MÉRITO

2.1. Dos adicionais de periculosidade e insalubridade

Aduz o autor ter sido contratado pela reclamada em 05/11/2012,


para exercer as funções de técnico em enfermagem, sendo dispensado sem justa
causa, em 30/05/2020, quando recebia a remuneração de R$ 2.709,12, composta de
salário + adicional de insalubridade. Alega que desde sua contratação passou a exercer
funções nos setores de tomografia, radiologia e PET-CT, no qual transportava os
pacientes até essas unidades e também, auxiliando os profissionais daquele setor, a
saber, os técnicos em radiologia e médicos radiologistas, cabendo a ele posicionar os
pacientes nas salas de tomógrafos, exposto aos raios ionizantes, agentes altamente
cancerígenos, contudo, jamais recebeu adicional de periculosidade. Sucessivamente,
pugna pelo pagamento da diferença entre o adicional de insalubridade pago (20%) e o
grau máximo (40%).

A reclamada, por seu turno, impugnou as alegações do autor,


afirmando que o mesmo não manuseava e não tinha contato com agentes periculosos.
Por fim, alegou que o reclamante recebia corretamente o adicional de insalubridade
em grau médio. 

Iniciando pela análise do adicional de periculosidade, verifico


que o argumento apresentado é que o autor conduzia pacientes até os setores de Raio-
X e tomografia, ajudando os mesmos a se posicionarem nas máquinas, permanecendo
no local, exposto a raios ionizantes.

Como tal fato foi negado pela reclamada, reputo que ao


reclamante incumbia o ônus probatório, por se tratar de fato constitutivo do direito
pretendido, nos termos do art. 818, I da CLT.

Passando a analisar as provas produzidas em audiência, verifico


que a testemunha trazida pelo autor afirmou que após, chegar na sala de Raio-X ou
tomografia ajudavam a acomodar o paciente na máquina e depois aguardava na sala
de comando para depois levar o paciente de volta.

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Já a testemunha trazida pela reclamada afirmou que ao chegar


ao setor de tomografia e radiologia apenas deixavam o paciente no local, bem como
que não ajudavam a posicionar o paciente nas máquinas e muito menos ficavam
aguardando vez que teriam que fazer transporte de outros pacientes, apenas
retornando para buscar de volta os pacientes.
 

Não vislumbro nenhum motivo para afastar os depoimentos das


testemunhas e, por isto, diante das informações colidentes fornecidas por estas,
entendo estar diante da chamada prova dividida. Nestes casos, devemos decidir em
conformidade com o ônus probatório, reconhecendo que aquele a quem o incumbia
não conseguiu realizar a prova necessária. Deste modo, como o ônus da prova
incumbia ao reclamante, entendo que este não se desincumbiu favoravelmente e, por
este motivo, concluo que o mesmo apenas deixava os pacientes nos setores de exames
e retornava posteriormente para buscá-los.
 

De toda sorte, foi determinada a realização de perícia técnica,


tendo o perito nomeado por este Juízo apresentado o laudo sob o ID. 05e69b9. Parecer
do assistente técnico do reclamante sob o ID. 5bebb71. Parecer do assistente técnico
da reclamada sob o ID. 99d0ef3. Manifestação da reclamada sob o ID. 68c5fe9.
Esclarecimentos complementares apresentados pelo perito judicial sob o ID. 114197a. 

Sobre a periculosidade, o experto concluiu:


 

Não se constatou a existência de atividades


ou operações habituais com radiações ionizantes ou substâncias
radioativas nas atividades desenvolvidas pelo Reclamante, de
acordo com o que prescreve o Anexo(*) - “Atividades e Operações
Perigosas com Radiações Ionizantes ou Substâncias Radioativas”,
não existindo, portanto, enquadramento.

Não houve qualquer impugnação por parte do autor, em face do


que, seja com base nas provas de audiência, seja com base no resultado pericial, outra
não poderia ser a conclusão que não a improcedência do pedido de adicional de
periculosidade.

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Seguindo na análise do pedido de diferenças do adicional de


insalubridade, verifico que o preposto da reclamada assim confessou:
 

“ … que o autor também transporta


pacientes portadores de doenças infecto contagiosas; que pode ter
ocorrido do autor fazer esse transporte diariamente; que não se
lembra se o autor ajudava o operador a posicionar o paciente na
tomografia ou radiologia; que o autor durante o exame não
permanecia na cabine de comando pois tinha obrigação de ir
transportar outros pacientes; que o autor não utilizava EPIs
durante o transporte do paciente portadores de doenças infecto
contagiosas; que sua resposta relativa a posicionar paciente se
tratava de posicionar na sala de espera vez que o autor não
ajudava a posicionar paciente na máquina e portanto não tocava
mais o paciente após deixá-lo no local; ...”

Como pode ser visto, o preposto confessa o contato habitual do


autor com pacientes portadores de doenças infectocontagiosas, afirmando que no
transporte não utilizavam EPIs, pois não tocava mais o paciente, não ajudando a
posicioná-los nas máquinas. 

De qualquer forma, a despeito da prova dividida em relação ao


posicionamento ou não de pacientes nas máquinas dos exames, temos a confissão de
que havia contato habitual com pacientes portadores de doenças infectocontagiosas.

Neste ponto deve ser esclarecido que o argumento do preposto


foi no sentido de que o autor apenas estaria sem os EPIs no período de transporte, o
que sugere um período de tolerância.

Contudo, fixa a NR 15
 

15.1 São consideradas atividades ou


operações insalubres as que se desenvolvem:

15.1.1 Acima dos limites de tolerância


previstos nos Anexos n.º 1, 2, 3, 5, 11 e 12;

15.1.2 (Revogado pela Portaria MTE n.º 3.751


/1990).

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15.1.3 Nas atividades mencionadas nos


Anexos n.º 6, 13 e 14;

15.1.4 Comprovadas através de laudo de


inspeção do local de trabalho, constantes dos Anexos n.º 7, 8, 9 e
10.

Diante de tal previsão ficou claro que o legislador fixou dois


tipos de situações insalubres, quais sejam:

- aquelas cujo enquadramento se dá pelo simples exercício da


atividade;

- aquelas que não bastam o exercício da atividade, sendo


necessário verificar se houve a superação dos limites de tolerância ou a constatação
por inspeção no local de trabalho.
 

Assim, no primeiro grupo não há que se falar em uso de EPI´s,


pois não há critérios de redução da ação do agente insalubre e, portanto, desde que o
empregado trabalhe nas atividades elencadas nos anexos 6 (Trabalho sob Condições
Hiperbáricas), 13 (Agentes Químicos, excluídos os elencados nos itens 11 e 12) e 14
(Agentes Biológicos), terá direito ao adicional. Já o segundo grupo exige a superação de
limites, razão pela qual, o uso de EPI´s deve ser analisado como forma de verificação
se a redução do contato produzida por estes afasta a incidência do respectivo
adicional. 

Deste modo, é nítido que o contato habitual com pacientes


portadores de doenças infectocontagiosas garante o recebimento do adicional em grau
máximo, independentemente da utilização de EPIs, conforme estabelecido pelo anexo
14 da NR 15.

Por fim, verifico que o perito técnico também concluiu pelo


direito à obtenção do adicional em grau máximo.

Sob tais fundamentos, acolho tal pedido, condenando a


reclamada a pagar diferença de adicional de insalubridade em grau máximo, tendo por
base o percentual de 20% (diferença entre o percentual médio recebido, qual seja de
20%, e o percentual máximo reconhecido – 40%) incidente sobre o salário mínimo
histórico, bem como, seus reflexos em horas extraordinárias, adicionais noturnos

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pagos e destas e daqueles em aviso prévio, 13º salários, férias acrescidas de 1/3, FGTS e
a multa de 40% sobre este.

Rejeito o pedido de reflexos do adicional de insalubridade em


DSR´s, pois aquele tem como base de cálculo o salário mínimo, o qual já remunera
também os DSR´s e, portanto, ao incidir o percentual sobre este, já estará
remunerando o descanso com o adicional devido.

2.2. Do direito intertemporal

Com a vigência da lei nº 13.467/17, muitas questões passaram a


surgir em relação a sua aplicação e, portanto, passo a deduzir meu entendimento
sobre o tema.

Na esfera processual, fixa o Código de Processo Civil:

Art. 14. A norma processual não retroagirá e


será aplicável imediatamente aos processos
em curso, respeitados os atos processuais
praticados e as situações jurídicas
consolidadas sob a vigência da norma
revogada.

Assim, se pautando pelo princípio tempus regit actum, o


legislador optou pelo sistema do isolamento dos atos processuais da teoria clássica da
intertemporalidade processual e, portanto, os atos devem ser analisados isoladamente
para a aplicação da lei nova. Desta forma, as inovações processuais trazidas pela lei nº
13.467/17 se aplicam sobre o momento da pratica do ato processual.

Em relação ao direito material a Constituição Federal de 1988


em seu art. 5º, inciso XXXVI estabelece:

XXXVI - a lei não prejudicará o direito


adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada; 

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As definições sobre estes institutos estão dispostas na LINDB:

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e


geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já


consumado segundo a lei vigente ao tempo
em que se efetuou. 

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os


direitos que o seu titular, ou alguém por ele,
possa exercer, como aqueles cujo começo do
exercício tenha termo pré-fixo, ou condição
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de
outrem. 

§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a


decisão judicial de que já não caiba recurso. 

Sobre o tema preceitua o Código Civil:

Art. 2.035. A validade dos negócios e demais


atos jurídicos, constituídos antes da entrada
em vigor deste Código, obedece ao disposto
nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas
os seus efeitos, produzidos após a vigência
deste Código, aos preceitos dele se
subordinam, salvo se houver sido prevista
pelas partes determinada forma de execução.

Já a CLT traz a seguinte previsão:

Art. 912 - Os dispositivos de caráter imperativo


terão aplicação imediata às relações iniciadas,
mas não consumadas, antes da vigência desta
Consolidação.

Assim, não há dúvidas na doutrina e jurisprudência de que em


relação aos eventos que já se consumaram, aplicável a lei vigente à época em que
ocorreram, bem como, que a nova regra se aplica integralmente aos fatos ocorridos a
partir de sua vigência. Da mesma forma, fica claro que se o fato se consumou sob a

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regulação da lei antiga, ainda que este esteja submetido a termo ou condição
inalterável ao arbítrio de outrem, será considerado direito adquirido e, portanto,
analisado pela lei antiga. 

As dúvidas surgem em relação aos contratos de trato sucessivo,


cerne da célebre discussão entre Roubier e Gabba, em relação aos quais, o primeiro
entendia que os efeitos dos contratos de trato sucessivo deveriam ser analisados pela
lei vigente à época em que foram firmados e o segundo afirmava que não haveria
direito adquirido sobre os efeitos ainda não consumados, mas mera expectativa de
direito. 

Neste sentido, o art. 912 da CLT apenas confirma a


imperatividade imediata da lei nova, sem tecer explicações sobre as situações de trato
sucessivo, razão pela qual, devemos nos socorrer da parte final do disposto no art.
2.035 do CC. Assim, nos contratos de trato sucessivo os efeitos futuros devem ser
analisados sob a ótica da nova lei, exceto se as partes expressamente tiverem
pactuado de forma diversa. 

Nos ensinamentos de Orlando Gomes1, devemos fazer a


distinção entre situações estatutárias ou objetivas das individuais ou subjetivas. Estas
representam a vontade das partes, por exemplo, firmadas em um contrato. Assim, o
conteúdo de um contrato firmado na vigência de uma lei antiga, ainda que os efeitos
tenham sido dispostos de forma diferente pela lei nova, deve ser analisado da forma
estatuída no contrato, mas as situações gerais não dispostas expressamente nos
contratos, como estatutárias que são, devem ser analisadas pela órbita da nova
legislação.

Desta forma, em resumo, temos:

- se o ato se consumou na vigência da lei superada, será por


esta regido;

- se o ato se consumou na vigência da lei superada, ainda que


seus efeitos, pelo fato de estarem submetidos a termo ou condição inalterável pela
vontade de terceiro, será regido pela lei antiga.

- nos contratos de trato sucessivo firmados na vigência da lei


superada, seu conteúdo deve ser considerado direito adquirido e, portanto, analisados
pela lei anterior. Já as demais situações decorrentes da aplicação das normas em geral
(disciplina legal), denominadas de estatutárias, passam a ser regidas pela lei nova.

- os atos praticados a partir da lei nova, por esta são regidos. 

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2.3. Da Justiça gratuita

Requereu o(a) autor(a) a concessão dos benefícios da Justiça


gratuita.

Entendo que a reforma trabalhista implementada pela Lei nº


13.467/17 não gerou conflito com o disposto nos incisos XXXV e LXXIX do art. 5º da
Constituição Federal, os quais dispõem:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do


Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica


integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;

Ora, o autor ingressou livremente com a presente ação


demonstrando, portanto, que não há qualquer óbice a apreciação de seus pedidos por
esta Justiça. Já em relação ao disposto no inciso LXXIV, deve ser observado que o
legislador constitucional fixou o direito a assistência jurídica integral e gratuito,
condicionando-o ao implemento de uma condição, qual seja, a comprovação de
insuficiência de recursos. Assim, o legislador da reforma trabalhista criou presunção
jurídica absoluta que aquele que recebe valor inferior a 40% (quarenta por cento) do
limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social teria tal condição
implementada e, aos demais, tal qual está dito de forma literal na constituição, exigiu
prova da insuficiência de recursos. Neste sentido, conquanto a reforma tenha alterado
a exigência para a concessão de tal benefício, tornando-a mais difícil ao trabalhador,
entendo não ter havido qualquer violação da norma constitucional.

De acordo com o §3º do art. 790 da CLT é facultada a concessão


de ofício ou a requerimento o benefício da Justiça gratuita àqueles que perceberem
salário igual ou inferior a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social, atualmente no valor de R$ 7.079,50. Assim, desde que o salário
atual do(a) autor(a) seja até R$ 2.831,80, o benefício deve ser concedido. 

Assinado eletronicamente por: MAURO VOLPINI FERREIRA - Juntado em: 28/03/2022 11:22:20 - ca66996
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Desta forma, considerando a consulta realizada neste ato pelo


CAGED, no qual verifiquei a existência de outro registro de contrato ainda em aberto
após o término da relação mantida com a reclamada, incumbia ao(a) reclamante o
ônus de comprovar que estaria recebendo salário abaixo do piso ou se acima,
comprovar que, em conformidade com o disposto no §4º do art. 790 da CLT, seus
recursos seriam insuficientes para sua manutenção e o pagamento das custas do
processo. No entanto, nenhuma prova neste sentido foi produzida, razão pela qual,
rejeito o pedido.

2.4. Dos honorários periciais

Tendo em vista que a reclamada sucumbiu no objeto que


ensejou a realização da perícia, nos termos do art. 790-B da CLT deverá arcar com os
honorários periciais, os quais, considerando a complexidade e o trabalho desenvolvido
são arbitrados em R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais).

Em relação à atualização de tal crédito, o art. 39 e parágrafos da


Lei nº 8.177/91 não contempla a aplicação de juros de mora fora dos créditos
trabalhistas e, portanto, como os honorários periciais, nos termos do disposto no art.
84 do CPC, se enquadram como despesas processuais, não estão sujeitos há incidência
de juros moratórios, mas tão somente a correção monetária (Orientação
jurisprudencial nº 81 da SDI-1 do C. TST).

No mesmo sentido explica José Luiz Ferreira Prunes2 que “no


processo brasileiro, o perito é único e seus honorários têm sido entendidos como
custas processuais...”

Assim também a jurisprudência do E. TRT da 2ª Região: 


 

“ATUALIZAÇÃO DOS HONORÁRIOS PERICIAIS. A


correção dos honorários periciais deve ser
realizada aplicando apenas tabela de
atualização publicada por este Regional, sem a
incidência de juros, pois assim se estará
cumprindo o comando da Lei 6.899/81.TRT 2ª
REGIÃO. ÓRGÃO JULGADOR- SÉTIMA TURMA.
ACÓRDÃO NUM: 20010772256. AP01 NUM:
20010348373.” 

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Assim, determino que a atualização dos valores devidos a título


de honorários periciais deva ser realizada com base no disposto na Lei nº 6.899/81 e
Decreto nº 86.649/81.

2.5. Dos honorários sucumbenciais

A partir da vigência da Lei nº 13.467/17, passou a ser devidos


honorários de sucumbência, a ser fixado no patamar de 5 a 15% (art. 791-A) de
obrigação recíproca sendo vedada a compensação.

Desta forma, considerando o decidido na presente sentença fixo:

a) honorários sucumbenciais a cargo da reclamada no


percentual de 10% em relação aos valores da condenação, quantificados na planilha
anexa.
 

Em relação a eventuais honorários sucumbências do patrono da


reclamada, deverá incidir correção monetária a contar do ajuizamento (§ 2, do art. 1 da
Lei n 6.889/81 - Súmula nº 14 do STJ), bem como, será cabível a incidência de juros
sobre os honorários sucumbenciais dos advogados das partes a contar do trânsito em
julgado. 

2.6. Da responsabilidade tributária e previdenciária

Em relação a eventual argumento de que a reclamada deveria


arcar com as obrigações previdenciárias e tributárias, registro meu entendimento de
que tais obrigações estão previstas na lei, não havendo justificativa jurídica para
transferi-las a terceiros, devendo ficar claro que o disposto no § 5º, do art. 33 da Lei nº
8.212/91 não se refere a valores pagos em juízo, mas a importâncias que mesmo

Assinado eletronicamente por: MAURO VOLPINI FERREIRA - Juntado em: 28/03/2022 11:22:20 - ca66996
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incontroversas, deixaram de ser retidas ou que foram retidas a menor do que o devido,
sendo aplicável ao caso o disposto no art. 43 da citada lei.

No tocante a forma de incidência, tais procedimentos foram


expressamente fixados pelo legislador, sendo que em relação às obrigações
previdenciárias por meio do disposto no art. 43 da Lei nº 8.212/91 e das tributárias pelo
art. 46 da Lei nº 8.541/92 e, portanto, esses procedimentos deverão ser observados.

2.7. Das inovações do art. 832 da CLT

Por força da lei nº 13.876/19 de 23 de setembro de 2019, a qual


incluiu dois parágrafos no art. 832 da CLT, a sistemática de discriminação de valores
em sede de decisões cognitivas ou homologatórios em processos trabalhistas foi
alterada. Tratou-se de inegável tentativa legislativa de coibir a livre discriminação da
natureza das parcelas pagas em processos judiciais, obrigando a inclusão de
discriminação remuneratória nas vezes que houver na ação pedido desta natureza,
independente do que realmente estiver sendo pago. Com este intuito, o legislador,
desprezando o previsto nas letras “a”, “c” e “d” do parágrafo único do art. 11 da lei nº
8.212/91, resolveu inovar nos critérios caracterizadores da natureza das parcelas. 

Vejamos.

O §3º-A do art. 832 da CLT combinado com seu inciso primeiro


prevê que a parcela referente às verbas de natureza remuneratória não poderá ter
como base de cálculo valor inferior ao salário-mínimo, para as competências que
integram o vínculo empregatício reconhecido na decisão cognitiva ou homologatória.
Ora, se uma pessoa pleitear o reconhecimento do vínculo de emprego de dois meses e
a condenação no pagamento de 02/12 avos de 13º salário, o recolhimento
previdenciário deverá ser realizado sobre o valor de um salário mínimo, ficando claro,
portanto, que sobre 10/12 avos do salário mínimo, a contribuição previdenciária não
teria correspondência com o valor pago. 

Ocorre que o artigo 195, inciso I, alínea “a”, da Constituição


Federal estabelece que a contribuição previdenciária incide sobre a folha de salários e
demais rendimentos pagos ou creditados ao trabalhador, com ou sem vínculo de
emprego, e, portanto, a diferença de 10/12 avos suso indicada não se enquadra como
valor pago ou creditado. 

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Em relação ao possível argumento de que a lei teria criado nova


hipótese de fato previdenciário, necessário explicar que o STF em reiteradas decisões
firmou o convencimento de que as contribuições previdenciárias têm natureza
tributária e, como tal, aplicável o disposto na letra “a” do inciso II do art. 146 da C.F., o
qual fixa que somente por lei complementar poderá ser estabelecido normas gerais
em matéria de legislação tributária, especialmente sobre “definição de tributos e de
suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a
dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes”. Assim, como o
artigo 195, inciso I, alínea “a” da C.F. já define a base de cálculo da contribuição
previdenciária para o trabalhador, sua alteração somente poderia ocorrer por meio de
lei complementar. Desta forma, a lei nº 13.876/19 não poderia fazer tal alteração.

Inegável, portanto, a inconstitucionalidade do disposto no inciso


I, do §3º-A, do art. 832 da CLT por fixar a incidência de contribuição social sobre parcela
que não constituiu pagamento ou crédito ao trabalhador.

Passemos, portanto, a analisar o disposto no inciso II, do §3º-A,


do art. 832 da CLT.

Imaginemos a situação de um processo no qual o empregado


com vínculo incontroverso pleiteia o recebimento do 13º salário de 2018 e aviso prévio
indenizado. Na audiência o empregador exibe o recibo do 13º salário, e o autor
confessa seu recebimento, em face do que, resolve pagar o aviso prévio indenizado
reconhecido como devido. Diante de tal situação, na sistemática do disposto no §3 -A
do art. 832 da CLT, o valor pago a título de aviso prévio ou parte deste necessariamente
deverá ser declarado como parcela de natureza remuneratória (no caso o 13º salário),
conquanto de fato a mesma não esteja sendo paga.

Poderíamos imaginar que esta hipótese se enquadraria na


mesma situação do exemplo anterior, no entanto, não é bem assim, pois naquele caso,
parte da base de cálculo não guardava correlação com pagamento, mas neste o valor
da base de cálculo realmente estaria sendo pago e, portanto, a questão estaria
centrada apenas no critério de discriminação. Assim, como a dissonância diz respeito à
discriminação da parcela paga, não haveria inconstitucionalidade. 

Em relação a discriminação da natureza das parcelas, o art. 28


da Lei nº 8.212/91 estabelece, conquanto não de forma exaustiva, a natureza da maior
parte das parcelas pagas em face da existência da relação de emprego. Devemos ainda
observar, que existem verbas que, a despeito de não representarem contraprestação
ao trabalho prestado, por expressa disposição legal possuem natureza remuneratória
como, por exemplo, o descanso semanal remunerado previsto no art. 67 da CLT.

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Assim, não há óbice para que, em sendo criado nova espécie de


pagamento decorrente do vínculo de emprego, a lei possa estabelecer sua natureza.
Isso posto, voltemos à análise do previsto no §3º-A do art. 832 da CLT, o qual fixa que
para fins da discriminação das parcelas em decisões cognitivas ou homologatórias
“salvo na hipótese de o pedido da ação limitar-se expressamente ao reconhecimento
de verbas de natureza exclusivamente indenizatória, a parcela referente às verbas de
natureza remuneratória não poderá ter como base de cálculo valor inferior” ao contido
no inciso II. Necessário registrar que o §3º-B do art. 832 da CLT tem o mesmo conteúdo
do anterior, divergindo, tão somente no tocante ao fato de utilizar o piso salarial da
categoria quando existente ao invés do salário mínimo.

Analisando tal previsão, verificamos que não se trata da fixação


da natureza de nova forma de pagamento criada para as relações de emprego e que,
como inovação, autorizaria a fixação legal de sua natureza, mas pelo contrário,
estabeleceu-se critério baseado em pedidos formulados em ação, em relação aos quais
criou-se presunção jure et de jure de que a mera pretensão a parcela de natureza
remuneratória, ensejaria o reconhecimento desta natureza em eventual pagamento.
Ora, a fixação de premissa sobre mera pretensão deduzida em ação é, no mínimo,
absurdo que somente o desconhecimento de que ação “é o direito a um
pronunciamento estatal que solucione o litígio, fazendo desaparecer a incerteza ou a
insegurança gerada pelo conflito de interesses, pouco importando qual seja a solução a
ser dada pelo juiz".

Críticas à parte, constatamos, portanto, que o §3º-A do art. 832


da CLT obriga as partes nos acordos e o juiz na sentença de conhecimento, a indicarem
dentre o valor a ser pago, o enquadramento em uma das parcelas remuneratórios
pleiteadas, ainda que a decisão ou o valor acordado não guarde qualquer relação com
a mesma. 

Ora, neste caso, não estamos diante da definição de natureza de


nova parcela de pagamento em decorrência da relação de emprego, mas sim de
situação de reenquadramento de parcelas cujas naturezas já foram definidas por meio
da legislação anteriormente existente. Neste sentido, é inegável que a sistemática
criada pela lei nº 13.876/19 colide frontalmente com a legislação já existente,
mormente em relação a lei nº 8.212/91, em especial ao disposto no seu art. 28,
gerando, portanto, inegável antinomia própria caracterizada de acordo com Hans
Kelsen, pela situação em que “uma norma determina uma certa conduta como devida
e outra norma determina também como devida uma outra conduta, inconciliável com
aquela” (fato gerador conforme a natureza das parcelas elencadas no art. 28 da Lei nº
8.212.01 ou sobre ficção criada por presunção jure et de jure de que, pelo menos parte
do que está sendo pago, tem natureza remuneratória independente da realidade).

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Este conflito deve ser resolvido pelo meta-critério da


especialidade segundo o qual a norma é considerada especial, em seu sentido de
especificidade, quando possuir todos os elementos típicos da norma geral e ainda
acrescentar outros, tanto de natureza objetiva ou subjetiva. Sob esta óptica, a lei nº
8.212/91 por definir o plano de custeio e já ter especificado a natureza das parcelas
que geram contribuição previdenciária, deve ser considerada especial e assim, deve
prevalecer em relação aos § 3º-A e B inseridos no art. 832 por força da lei nº 13.876/19.

Por estes fundamentos, pelo critério difuso, reconheço a


inconstitucionalidade do inciso I, do §3º-A, do art. 832 da CLT. De igual forma, diante da
antinomia entre o disposto no §3º-A, do art. 832 da CLT e a lei nº 8.212/91, reputo
inaplicável aquela inovação.

2.8. Da limitação aos valores pleiteados na inicial

A única referência existente na CLT sobre o pedido encontra-se


no §1, do art. 840 o qual fixa como condição de validade da inicial, que essa contenha
pedido certo, determinado e com a indicação do valor.

Trata-se, portanto, de previsão bem mais concisa do que a


existente no CPC, o qual regula o valor atribuído à causa (art. 291, 292 e 293) de forma
separada dos artigos que regulam o pedido (art. 322 a 327 do CPC). Assim, como o CPC
é mais minucioso em relação a estas matérias, deve ser utilizado de forma subsidiária. 

Em relação a certeza do pedido o art. 322 do CPC regula o


denominado pedido “implícito”, qual seja, matérias que devem ser apreciadas
independente da formulação expressa, fixando compreender no pedido principal “os
juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários
advocatícios”. Além disso, o art. 323 do CPC explica que “na ação que tiver por objeto o
cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas
incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão
incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do
processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las”

No tocante a determinação do pedido, prevê o art. 324 do CPC


que “o pedido deve ser determinado”, entretanto, no seu §1 admite exceção a esta
regra listando as seguintes hipóteses:

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§ 1 É lícito, porém, formular pedido genérico:

I - nas ações universais, se o autor não puder


individuar os bens demandados;

II - quando não for possível determinar, desde


logo, as consequências do ato ou do fato;

III - quando a determinação do objeto ou do


valor da condenação depender de ato que
deva ser praticado pelo réu.

§ 2 O disposto neste artigo aplica-se à


reconvenção.

Como exemplo da indeterminação com fundamento no inciso II,


do §1 deste artigo em sede processual trabalhista podemos citar:

- pedido de indenização por danos materiais e morais em


decorrência de doença incapacitante, pois somente um perito médico tem o
conhecimento específico para indicar a existência de tais ocorrências e o percentual de
eventual redução de capacidade.

Em relação ao valor da causa o art. 291 do CPC dispõe: “A toda


causa será atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico
imediatamente aferível”.

A indicação do valor da causa decorre da necessidade de


adequação do processo a um determinado rito (sumaríssimo ou ordinário) e, além
disso, de base para o cálculo para apuração eventual de custas e honorários de
sucumbência. Mas não é só, pois pelo princípio da congruência ou da adstrição, o juízo
está vinculado a decidir a lide dentro dos limites estabelecidos (art. 460 do CPC), ou
seja, limitando-se também em relação ao valor pleiteado e, portanto, a indicação do
valor serve também a esta finalidade. 

Analisando conjuntamente o previsto no artigo 292 do CPC com


o disposto no inciso II, do §1, do arr. 324 do CPC, poderíamos concluir pela
incongruência de se admitir a formulação de pedido genérico e da obrigação de fixação
valor ao mesmo, pois se não há elementos para a determinação, muito menos para a
apuração do seu valor. Entretanto, não há qualquer contradição, pois é necessário que
se faça a distinção entre a indicação de valor a um pedido determinado, situação na
qual realmente o juízo está adstrito a este limite, da indicação de valor a um pedido
genérico, o qual a despeito de não possuir elementos para tal balizamento, exige a
indicação de um valor apenas para servir de parâmetro para as demais finalidades

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(definição de rito, apuração de custas e honorários sucumbenciais na hipótese do autor


ser vencido na demanda).

Assim, em resumo temos:

- pedido determinado – o valor atribuído limita a condenação;

- pedido genérico – o valor atribuído não limita a condenação,


servindo apenas de parâmetro para a definição de rito, apuração de custas e
honorários sucumbenciais na hipótese do autor se vencido na demanda.

Visando dar maior segurança jurídica sobre as novas questões


decorrentes da reforma trabalhista realizada pela Lei n 13.467/17, o C. TST editou a
Instrução Normativa n 41/2018, a qual no § 2 do seu art. 12 definiu que “ o valor da
causa será estimado, observando-se, no que couber, o disposto nos arts. 291 a 293 do
CPC”.

Estimado é um adjetivo que significa a indicação de valor por


cálculo aproximado e, portanto, consolidou-se o entendimento de que em sede
processual trabalhista não há necessidade da indicação do exato valor, o que exigiria a
demonstração dos cálculos para sua apuração, mas tão somente, a atribuição de um
valor aproximado.

Se por um lado esse entendimento facilitou a propositura de


ações, pois não exige a juntada de memoriais de cálculos com a inicial, por outro
acabou gerando dúvida se a indicação de valor por estimativa continuaria vinculando a
condenação?

Poder-se-ia argumentar que uma vez que o valor do pedido não


corresponde a sua exata importância, este não vincularia eventual condenação,
entretanto, como justificar a ausência desta correlação, se ainda perduraria sua relação
como base de cálculo das custas e honorários sucumbenciais no caso do autor ser
vencido na demanda? Haveria fundamento legal para negar aquela vinculação
mantendo-se estas? A resposta é negativa, pois nada há que justifique esse
entendimento. Ademais, ao se admitir esta possibilidade, estaríamos permitindo que o
autor, até mesmo de forma deliberada visando o menor risco possível, atribuísse valor
ínfimo aos pedidos, sabedor de que em caso de sucesso em sua demanda a
condenação não ficará vinculada àqueles. Mas não é só, pois se afastarmos a
correlação do “valor estimado atribuído à causa” a limitação da condenação, também
estaríamos abrindo a possibilidade do autor vir a escolher o rito processual, a despeito
das regras cogentes sobre a matéria, pois mesmo ciente de que o proveito econômico
pleiteado exigiria o desenvolvimento processual pelo rito ordinário, bastaria indicar
valores baixos para conseguir enquadrá-lo no rito sumaríssimo, até porque, como já

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explicado, tal procedimento geraria menos risco em termos de eventual condenação


em face da sucumbência. 

Mesmo diante de todos os óbices suso explicados, como


derradeiro argumento devemos observar que a previsão de indicação de valor ao
pedido e as vinculações decorrentes do valor atribuído decorrem de expressa previsão
na CLT e no CPC e, portanto, não é possível por meio de Instrução Normativa elaborada
pelo TST negar tais efeitos.

Desta forma, concluo que a indicação do valor por estimativa,


decorrente da interpretação do TST pela Instrução Normativa n 41/2018, se trate
apenas de faculdade atribuída ao autor de apontar valor aproximado aos pedidos na
inicial, sem a necessidade de demonstrá-los por meio da juntada de memorial de
cálculos, permanecendo, no entanto, a vinculação destes valores desde que o pedido
seja determinado, para as finalidades de definição de rito, limitação da condenação,
base de cálculo de custas e honorários sucumbenciais na hipótese daquele ser vencido
na demanda.

2.9. Do cálculo

No dia 19.12.2020, o STF finalizou o julgamento das ações


diretas de inconstitucionalidade e ações declaratórias de constitucionalidade ADI 5.867
/DF, ADI 6.021/DF, ADC 58/DF, ADC 59/DF, acolhendo parcialmente os pedidos em face
do que, conferiu interpretação conforme à Constituição Federal ao art. 879, § 7º e ao
art. 899, § 4º, da CLT, ambos pela redação dada pela reforma trabalhista (lei 13.467
/2017), a fim de atribuir aos débitos trabalhistas decorrentes de condenação judicial -
bem como à correção dos depósitos recursais em contas judiciais na Justiça do
Trabalho - os mesmos índices de correção monetária e de juros vigentes para as
condenações cíveis em geral, quais sejam, a incidência do IPCA-E antes de sobrevir
reclamação trabalhista e, a partir do ajuizamento (decisão de embargos de declaração),
a incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil), até que sobrevenha entendimento
em lei específica (STF, Pleno, ADI 5.867/DF, ADI 6.021/DF, ADC 58/DF, ADC 59/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, j. 18.12.2020). Ainda, no julgamento do Recurso Extraordinário
(RE) 1.269.353, sob a sistemática da repercussão geral, o STF confirmou esse
entendimento. Assim, os presentes cálculos devem observar a incidência do IPCA-E em

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relação ao período anterior ao ajuizamento da ação e, a partir daí aplicar a taxa SELIC a
qual já engloba juros e correção monetária, acumulada de forma simples (somando os
índices, como é o caso da tabela da Receita Federal).

No tocante às parcelas salariais, deverá ser utilizado o índice do


mês subsequente, tendo em vista, o disposto no art. 459, § 1˚ da CLT, bem como, os
cálculos deverão se limitar ao valor do pedido (excluindo, por óbvio, a correção
monetária e os juros). 

Em relação à Previdência Social, deverá ser observado o


disposto nos artigos 20, 22 e 28 da lei nº 8.212/91 não sendo incluído valores relativos a
contribuições destinadas a terceiros (sistema “S”), sendo devido, no entanto, as
contribuições sociais relativas ao seguro de acidente de trabalho (Súmula nº 454 do C.
TST). 

Consultando o site da receita3 verifico que a reclamada não está


enquadrada no Simples Nacional.

A contribuição do empregado deverá ser calculada mês a mês,


aplicando as alíquotas previstas no art. 198 do Decreto nº 3.048/99, observado o limite
máximo do salário de contribuição (deve ser aplicado o entendimento contido na
Súmula nº 368 do C. TST). A correção dos valores previdenciários deverá ser realizada
utilizando-se a taxa SELIC (art. 35 da Lei nº 8.212/91 com a redação dada pela Lei nº
11.941/2009, remetendo-se ao disposto no art. 61 da Lei nº 9.430/1996).

No tocante ao Imposto de Renda, deverá ser observado o


disposto no art. 46 da Lei nº 8.541/92, e os artigos 6º e 7º da Lei nº 7.713/88, bem como,
o princípio da progressividade conforme Instrução Normativa RFB nº 1.127 de
07.02.2011. 

Registro que não foi juntado contrato de honorários


advocatícios e, portanto, não há que se falar em abatimento na base de cálculo do
imposto de renda.

Sobre os juros moratórios, por não representarem acréscimo no


patrimônio do autor, mas tão somente a reparação pelo tempo que o beneficiário ficou
privado do bem, não há incidência de imposto de renda (Súmula nº 19 do C. TRT da 2ª
Região).

Em sendo possível pelos documentos juntados aos autos,


deverão ser observados para apuração das verbas decorrentes desta condenação, os
dias de folga, faltas, férias, afastamento ou ausências injustificadas, a evolução salarial,

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as verbas de natureza salarial. Ainda, deverão ser abatidos eventuais valores


comprovadamente pagos sobre os mesmos títulos, por meio de documentos
existentes nos autos. 

Inaplicável a multa instituída no §1º do art. 523 do CPC, tendo


em vista a inexistência de omissão da CLT (Súmula nº 31 do E. TRT da 2ª Região).

2.10. Das explicações complementares

Desde já, deixo absolutamente claro às partes, meu


entendimento de que o recurso ordinário possui efeito translativo e, portanto, não é
necessário que o julgador ao fundamentar a decisão tomada tenha que responder a
cada um dos argumentos expostos, bastando que tenha encontrado fundamento
suficiente. Assim, não há que se falar em pré-questionamento, exigência esta somente
dos recursos excepcionais. Da mesma forma devem as partes observar, que o
argumento de equivocada interpretação de provas, não gera omissão ou contradição,
sendo passível de ataque, tão somente, por meio de recurso ordinário. 

Este entendimento, inclusive, já se encontra sedimentado no C.


TST por meio de Súmula:

“393. RECURSO ORDINÁRIO. EFEITO


DEVOLUTIVO EM PROFUNDIDADE. ART. 515,
§1º, DO CPC. (redação alterada pelo Tribunal
Pleno na sessão realizada em 16.11.2010)
O efeito devolutivo em profundidade do
recurso ordinário, que se extrai do §1º do art.
515 do CPC, transfere ao Tribunal a apreciação
dos fundamentos da inicial ou da defesa, não
examinados pela sentença, ainda que não
renovados em contrarrazões. Não se aplica,
todavia, ao caso de pedido não apreciado na
sentença, salvo a hipótese contida no §1º do
art. 515 do CPC4.

Tais explicações têm por finalidade advertir as partes do


entendimento deste juízo a fim de evitar a provocação de incidentes manifestamente
infundados (art. 80, VI do CPC).

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III - DISPOSITIVO

Ante o exposto, acolho a preliminar de prescrição quinquenal,


declarando extintas as pretensões do autor em relação às parcelas anteriores a 04/08
/2015, inclusive em relação às contribuições previdenciárias e de imposto de renda. No
mérito propriamente dito, julgo procedentes, EM PARTE, os pedidos formulados pelo
reclamante VALDECIR RODRIGUES PEREIRA, condenando a reclamada ESHO EMPRESA
DE SERVICOS HOSPITALARES S.A. a pagar o que restar apurado em liquidação por
cálculos a título de: 

- diferença de adicional de insalubridade em grau máximo,


tendo por base o percentual de 20% (diferença entre o percentual médio recebido,
qual seja de 20%, e o percentual máximo reconhecido – 40%) incidente sobre o salário
mínimo histórico, bem como, seus reflexos em horas extraordinárias, adicionais
noturnos pagos e destas e daqueles em aviso prévio, 13º salários, férias acrescidas de 1
/3, FGTS e a multa de 40% sobre este.

Tudo acrescido de correção monetária do descumprimento de


cada obrigação, utilizando-se o índice IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir do
ajuizamento da ação a taxa SELIC, devendo ainda ser observados os demais elementos
e procedimentos fixados na fundamentação. 

Deverá a reclamada, promover e comprovar os recolhimentos


previdenciários no mesmo prazo das obrigações trabalhistas, cuja apuração deverá
observar os valores que forem apurados a título de adicional de insalubridade, 13º
salários, horas extraordinárias e adicionais noturnos, bem como as fiscais, ficando,
desde logo, autorizada a reter ao reclamante, a parte que lhe incumbe àquele título, e
as de imposto de renda.

Indefiro o benefício da Justiça gratuita ao reclamante.

Arbitro honorários periciais a cargo da reclamada no valor de


R$3.500,00.

Condeno a reclamada ao pagamento de honorários


sucumbenciais em favor do(a) patrono(a) do(a) autor(a) no percentual de 10% apurados
conforme cálculo anexo. 

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Custas pela reclamada tendo por base o percentual de 2% sobre


o valor da condenação, no importe indicado na planilha de cálculo anexa, a qual passa
a fazer parte integrante desta sentença, acrescidas dos honorários periciais contábeis.

Notifiquem-se as partes. Cumpra-se. Nada mais.


 

MAURO VOLPINI FERREIRA

Juiz do Trabalho
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1977, pp. 130-132.
2As Perícias na Justiça do Trabalho – editora Ltr fls. 203
3 http://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/aplicacoes.aspx?id=21
4 Atual §1º do art. 1.013 do CPC.

SAO PAULO/SP, 28 de março de 2022.

MAURO VOLPINI FERREIRA


Juiz do Trabalho Titular

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Número do processo: 1000804-10.2020.5.02.0085
Número do documento: 22032719255841300000249468136
SUMÁRIO
Documentos

Data da
Id. Documento Tipo
Assinatura

ca66996 28/03/2022 11:22 Sentença Sentença

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