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25/03/2023, 17:34 Evento 36 - DECRESP1

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO
RECURSO ESPECIAL EM APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº
5045580-95.2020.4.02.5101/RJ
RECORRENTE: MARCOS SICILIANO ROSI (AUTOR)
ADVOGADO: MARCELO ROQUE ANDERSON MACIEL AVILA
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto por MARCOS


SICILIANO ROSI, com fundamento no artigo 105, inciso III, alínea "c",
da Constituição Federal, impugnando o acórdão proferido pela Oitava
Turma Especializada deste Egrégio Tribunal Regional Federal no evento
n.º 18 dos autos do processo em epígrafe, assim ementado:

ADMINSITRATIVO. REEXAME NECESSÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL.


UNIÃO. SERVIDOR. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE
ATIVIDADE MÉDICA. LEI 12.702/2012. VALORES DE
VENCIMENTOS E GRATIFICAÇÕES FIXADOS EM LEI. JORNADA
DE 40 HORAS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA
EQUIVALÊNCIA AO DOBRO DA JORNADA DE 20 HORAS.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

1. Remessa necessária e apelação interposta pela União contra a


sentença que julgou procedente o pedido inicial para"1) DECLARAR
o direito do autor ao recebimento da Gratificação de Desempenho
(GDM/PGPE) paga sobre a segunda jornada de trabalho nos mesmos
moldes pagos sobre a primeira jornada de trabalho; e 2)
CONDENAR a UNIÃO a incorporar a Gratificação de Desempenho
(GDM/PGPE) sobre os proventos do autor, nos termos acima”,
condenando, ainda a parte ré ao pagamento dos honorários
advocatícios, a serem fixados na fase de liquidação, com base nos
percentuais mínimos previstos no artigo 85, §3º, do Código de
Processo Civil.

2.  Na forma da Lei n. 11.355/2006, os autores, pertencentes aos


quadros do Ministério da Saúde, foram enquadrados na carreira da
Previdência, da Saúde e do Trabalho. Posteriormente, a MP n.
568/2012, que instituiu a Gratificações de Desempenho de Atividades
Médicas, foi convertida na Lei n. 12.702/2012, que também revogou a
Lei n. 9.436/1997, e prevê aos ocupantes dos cargos definidos pela lei
a jornada de 20 horas semanais, com a possibilidade de opção pela
jornada de 40 horas semanais, estando os valores dos vencimentos
básicos, gratificações e demais retribuições contidas no Anexo XLV
da referida norma.

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3. Os valores relativos à Gratificações de Desempenho de Atividades


Médicas foram fixados por lei, guardando relação com a
produtividade e desempenho do servidor e da instituição, com
pontuação atribuída a partir das avaliações de desempenho, além do
nível e posição na carreira, e não com a carga horária exercida pelos
profissionais ou o vencimento básico do servidor.

4. Os autores possuem vínculo com jornada de 40  horas semanais,


não tendo a nova norma (Lei n. 12.702/2012) mantido a previsão
anterior, revogada, de equivalência da jornada de 40 horas semanais
com duas de 20 horas. 

5. O  Supremo Tribunal Federal (STF) já deixou assentado, em


reiterados precedentes, o entendimento de que o servidor público não
possui direito adquirido a regime jurídico, podendo este ser alterado,
unilateralmente, pela Administração, através de lei, desde que
assegurado o direito à irredutibilidade de vencimentos.

6. Verifica-se que os autores, ocupantes de cargo médico com jornada


de 40 horas semanais, recebem seus proventos, inclusive a
Gratificação de  Desempenho  de Atividades Médicas,  em
conformidade com a Lei n. 12.702/2012, que não garante o
pagamento da referida gratificação em equivalência ao dobro
daqueles que cumprem jornada de 20 horas. Nesse sentido:  TRF2,
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000008-53.2019.4.02.5101, 8a. TURMA
ESPECIALIZADA, Desembargadora Federal VERA LUCIA LIMA DA
SILVA, POR UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM
19/10/2020.

7. Remessa necessária e apelação da União providas.

Em suas razões recursais (evento n.º 24), a parte recorrente


sustenta, em síntese, que o acórdão guerreado  adotou entendimento
divergente do adotado pelo STJ acerca da matéria.

A recorrida apresentou as suas contrarrazões no evento n.º


32.

É o breve relatório. Decido.

In casu, observa-se o preenchimento dos pressupostos


genéricos de admissibilidade do recurso especial, tais como cabimento,
legitimidade, interesse para recorrer, tempestividade e regularidade
formal, bem como os requisitos exigidos no artigo 1029 do Código de
Processo Civil.

 
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No que toca ao dissídio jurisprudencial, impende assinalar


que, a teor do estatuído no artigo 1029, § 1.º, do Código de Processo
Civil, é ônus da parte recorrente provar que é idêntico o objeto tratado
no acórdão como paradigma.

Para a comprovação do dissídio jurisprudencial, a parte


recorrente transcreveu trechos do acórdão recorrido e dos acórdãos
paradigmas, comparando-os, a fim de demonstrar que ambos os casos
são bem parecidos ou têm base fática similar e que foram dadas
interpretações divergentes, pelo Tribunal de origem, aos mesmos
dispositivos infraconstitucionais daquelas firmadas por outros Tribunais.

A propósito, confiram-se trechos emanados em recentes


julgados do Superior Tribunal de Justiça sobre a questão:

“para conhecimento de Recurso Especial fundado na alínea "c" do


art. 105, III, da Constituição é necessário, em qualquer caso,
demonstração analítica da divergência jurisprudencial invocada, por
intermédio da transcrição dos trechos dos acórdãos que configuram o
dissídio e da indicação das circunstâncias que identificam ou
assemelham os casos confrontados, não se oferecendo, como
bastante, a simples transcrição de ementas ou votos (...)”. (REsp
1649816/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 06/04/2017, DJe 25/04/2017).

“com relação ao dissídio jurisprudencial, a divergência deve ser


comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias
que identificam ou assemelham os casos confrontados, com indicação
da similitude fática e jurídica entre eles. 7. Ainda quanto ao dissídio
jurisprudencial,  segundo  a firme jurisprudência  assentada neste
Superior Tribunal, a interposição do Recurso Especial com
fundamento na alínea "c" não dispensa a indicação do dispositivo de
lei federal ao  qual  o  Tribunal de origem teria dado interpretação
divergente daquela firmada por outros tribunais. Incidência da
Súmula 284/STF”. (REsp 1666482/SP, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe
20/06/2017)

“o óbice da Súmula 7 do STJ atinge também o Recurso Especial


interposto com fundamento na alínea c  do  inciso III do artigo 105
da Constituição da República, porque impede  o  exame  de dissídio
jurisprudencial,  uma  vez que falta identidade  entre  os paradigmas
apresentados  e os fundamentos do acórdão, tendo em vista a
situação fática do caso concreto, com base na qual a Corte de origem

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deu solução à causa.” (REsp 1666580/PE, Rel. Ministro HERMAN


BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe
30/06/2017)

Ademais, em juízo de delibação, constata-se que o julgado


destoa da linha do Superior Tribunal de Justiça, senão vejamos:

ADMINISTRATIVO.  SERVIDOR  PÚBLICO DA ÁREA DE


SAÚDE.  JORNADA  DE TRABALHO. OPÇÃO PELO REGIME DE
40 HORAS  SEMANAIS, NOS TERMOS DA LEI N. 9.436/97,
DIREITO AOS BENEFÍCIOS EM RELAÇÃO AO VENCIMENTO DE
DUAS JORNADAS DE 20  HORAS  SEMANAIS. ACÓRDÃO EM
CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.
I - Na origem, trata-se de ação ordinária em desfavor da Funasa,
pretendendo a condenação desta ao pagamento dos valores atrasados
a título das gratificações GDPST e  GDM-PST, pela
segunda jornada de trabalho, observada a prescrição quinquenal. Na
sentença, julgou-se improcedente o pedido. No Tribunal a quo, a
sentença foi mantida.
II - A Corte Especial deste Tribunal já se manifestou no sentido de
que o juízo de admissibilidade do especial pode ser realizado de
forma implícita, sem necessidade de exposição de motivos. Assim, o
exame de mérito recursal já traduz o entendimento de que foram
atendidos os requisitos extrínsecos e intrínsecos de sua
admissibilidade, inexistindo necessidade de pronunciamento explícito
pelo julgador a esse respeito. (EREsp n. 1.119.820/PI, Relator
Ministro Mauro Campbell Marques, Corte Especial, DJe
19/12/2014). No mesmo sentido: AgRg no REsp n. 1.429.300/SC,
Relator Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 25/6/2015;
AgRg no Ag n. 1.421.517/AL, Relatora Ministra Assusete Magalhães,
Segunda Turma, DJe 3/4/2014).
III - A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que
os servidores públicos da área de saúde que optaram pelo regime de
trabalho de  40 horas  semanais, nos termos da Lei n. 9.436/97,
possuem direito aos benefícios em relação ao vencimento de duas
jornadas de 20 horas semanais. Nesse sentido: REsp n. 1.568.559/PB,
Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em
20/3/2018, DJe 6/4/2018; REsp n. 1.694.654/RJ, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 21/11/2017, DJe
19/12/2017; AgRg no AREsp n. 735.173/PB, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 1º/10/2015, DJe 7/10/2015;
AgRg no AREsp n. 593.441/PB, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, julgado em 11/11/2014, DJe 18/11/2014.)
IV - Agravo interno improvido.
(AgInt no REsp. 1.796.034/PE, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJe
11.12.2019).

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO CIVIL. MÉDICO. JORNADA DE
QUARENTA HORAS. DUPLA JORNADA.
GRATIFICAÇÕES GDASST E GDPST. INCIDÊNCIA SOBRE
VENCIMENTOS RELATIVOS ÀS DUAS JORNADAS.
POSSIBILIDADE. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E
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INFRACONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


AUSÊNCIA. SÚMULA 126/STJ. INCIDÊNCIA.
1. O Tribunal a quo decidiu de acordo com a jurisprudência desta
Corte no sentido de que é pertinente o pedido de recebimento da
remuneração total correspondente às duas jornadas de trabalho
efetivamente desempenhadas, inclusive no que tange à percepção das
gratificações GDASST E GDPST, tal qual ocorre com o adicional de
tempo de serviço.
2. O direito dos autores foi reconhecido pela Corte de origem com
fundamento no princípio da irredutibilidade salarial e na
independência dos poderes. Contudo, a recorrente não interpôs
recurso extraordinário a fim de impugnar tal motivação, suficiente à
manutenção do aresto, fazendo incidir, na hipótese, a Súmula 126 do
STJ, que dispõe ser inadmissível recurso especial quando o acórdão
impugnado assenta em fundamentos constitucional e
infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-
lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.
3. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no REsp.
1.531.566/PB, Rel. Min. OG FERNANDES, DJe 2.3.2017).

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL DE 1973. APLICABILIDADE. PRESCRIÇÃO
BIENAL. ART. 206, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL. VERBAS
REMUNERATÓRIAS DE NATUREZA ALIMENTAR.
INAPLICABILIDADE. SERVIDOR PÚBLICO. ÁREA DA SAÚDE.
JORNADA DE QUARENTA HORAS. LEI N.
9.436/97. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE DA
SEGURIDADE SOCIAL E DO TRABALHO. GRATIFICAÇÃO DE
DESEMPENHO DA CARREIRA DA PREVIDÊNCIA, DA SAÚDE E
DO TRABALHO. INCIDÊNCIA SOBRE VENCIMENTOS DE DUAS
JORNADAS DE 20 (VINTE) HORAS SEMANAIS.

I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão


realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela
data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu,
aplica-se o Código de Processo Civil de 1973.

II - O conceito jurídico de prestação alimentar constante do art. 206,


§ 2º, do Código Civil, relativa à seara privada, é distinto da ideia de
verbas remuneratórias de natureza alimentar, concernente às relações
de direito público, que atraem a aplicação da prescrição quinquenal,
a teor do art. 1º do Decreto n. 20.910/32. Precedentes.

III - Os servidores públicos da área de saúde que optaram pelo


regime de trabalho de 40 (quarenta) horas semanais, nos termos da
Lei n. 9.436/97, possuem direito aos benefícios em relação ao
vencimento de duas jornadas de 20 (vinte) horas semanais.

Precedentes.

IV - Recurso especial improvido" (REsp 1.568.559/PB, Rel. Ministra


REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 06/04/2018).

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ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ENUNCIADO


ADMINISTRATIVO N. 3/STJ. AGRAVO INTERNO EM RECURSO
ESPECIAL. MÉDICO. DUPLA JORNADA. ENRIQUECIMENTO
ILÍCITO. INOVAÇÃO RECURSAL.

1. A tese de enriquecimento ilícito do servidor não foi trazida ao


recurso especial, configurando indevida inovação recursal.

2. Ainda que assim não fosse, a jurisprudência do STJ está no sentido


de que 'os servidores da área de saúde que optaram pelo regime de
trabalho de 40 horas semanais, nos termos da Lei 9.436/1997,
possuem direito à incidência do adicional por tempo de serviço em
relação aos vencimentos dos dois turnos de 20 horas, nos moldes do
art. 1º, § 3º, do referido diploma legal' (STJ, AgRg no AREsp
593.441/PB, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe de 18/11/2014).

3. Agravo interno não provido" (AgInt no REsp 1.541.579/RS, Rel.


Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe
de 14/08/2018).

Sendo assim, admito o recurso especial, determinando a


imediata remessa dos autos ao Superior Tribunal de Justiça.

Documento eletrônico assinado por GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA,


Vice-Presidente, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e
Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico https://eproc.trf2.jus.br, mediante o
preenchimento do código verificador 20001187601v3 e do código CRC b6d0bf9e.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): GUILHERME CALMON NOGUEIRA DA GAMA
Data e Hora: 5/10/2022, às 15:35:1

5045580-95.2020.4.02.5101 20001187601 .V3

https://eproc.trf2.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento&doc=21664989729961557207369358906&evento=2166498972996155… 6/6

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