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A Recuperação Judicial sob a ótica Jurídica, Econômica e Social

A visão contemporânea do processo de recuperação judicial e a perspectiva do STJ

Rio de Janeiro, 14/08/2017

Luis Felipe Salomão

1
1) PAPEL CONSTITUCIONAL DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

• O destino encarregou essa Corte de Justiça de interpretar,


em última instância, os diplomas jurídicos recentes mais
importantes para a consolidação da democracia no Brasil,
sobretudo no âmbito do direito privado.
Destacam-se os seguintes diplomas legais:
- Código de Propriedade Industrial (Lei 9.279, 1996)
- CDC (Lei 8.078, 1990)
- Código Civil (Lei 10.406, 2002) e NCPC (Lei 13.105/15)
- Lei de Recuperação e Falências (Lei 11.101, 2005)
• O papel dos precedentes no novo CPC.
2
O STJ esquematizado
2) Análise Econômica do Direito (AED)
• Jusnaturalismo (direito e moral, visão metafísica) –
juspositivismo (Kant, Kelsen – século XIX)
• pós-positivismo (Escola de livre investigação, Realismo
Jurídico, neoconstitucionalismo)
• AED é metodologia para compreensão de fenômenos
sociais e jurídicos, auxiliando tomada de decisões
racionais
• Utilitarismo e a aplicação eficiente do direito, com
base em teorias econômicas
• Completamente diferente do direito econômico
Continuação

• Rawls, Habermas, Alexy, Dworkin


• Coase e Posner (a partir da década de 1960)
• Teoria dos Sistemas (TS) e Teoria dos jogos
• Contrato, concorrência, responsabilidade civil
e penal, tributos, direito societário, direito da
recuperação de empresas
Primeiro precedente abordando a AED no STJ – Resp
1.163.283 (07.04.2015)
1. A análise econômica da função social do contrato, realizada a partir da doutrina
da análise econômica do direito, permite reconhecer o papel institucional e social
que o direito contratual pode oferecer ao mercado, qual seja a segurança e
previsibilidade nas operações econômicas e sociais capazes de proteger as
expectativas dos agentes econômicos, por meio de instituições mais sólidas, que
reforcem, ao contrário de minar, a estrutura do mercado.
2. Todo contrato de financiamento imobiliário, ainda que pactuado nos moldes do
Sistema Financeiro da Habitação, é negócio jurídico de cunho eminentemente
patrimonial e, por isso, solo fértil para a aplicação da análise econômica do direito.
3. A Lei n. 10.931⁄2004, especialmente seu art. 50, inspirou-se na efetividade, celeridade
e boa-fé perseguidos pelo processo civil moderno, cujo entendimento é de que todo
litígio a ser composto, dentre eles os de cunho econômico, deve apresentar pedido
objetivo e apontar precisa e claramente a espécie e o alcance do abuso contratual
que fundamenta a ação de revisão do contrato.
[...] 5. Aplicam-se aos contratos de financiamento imobiliário do Sistema de
Financiamento Habitacional as disposições da Lei n. 10.931⁄2004, mormente as
referentes aos requisitos da petição inicial da ação de revisão de cláusulas
contratuais, constantes do art. 50 da Lei n. 10.931⁄2004.
Teoria dos Jogos na Recuperação Judicial - RECURSO
ESPECIAL Nº 1.302.735 – SP, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, 17/03/2016  
1. O legislador brasileiro, ao elaborar o diploma recuperacional, traçou alguns princípios, de
caráter axiológico-programático, com o intuito de manter a solidez das diversas normas que
compõem a referida legislação. Dentre todos, destacam-se os princípios da relevância
dos interesses dos credores; par conditio creditorum; e da preservação da empresa, os quais
são encontrados no artigo 47 da Lei 11.101⁄2005.
2. Essa base principiológica serve de alicerce para a constituição da Assembleia Geral de
Credores, a qual possui a atribuição de aprovar ou rejeitar o plano de recuperação judicial, nos
moldes apresentados pelo Administrador Judicial da empresa recuperanda.
3. Outrossim, por meio da "Teoria dos Jogos", percebe-se uma interação estratégica entre o
devedor e os credores, capaz de pressupor um consenso mínimo de ambos a respeito dos
termos delineados no plano de recuperação judicial. Essas negociações demonstram o
abandono de um olhar individualizado de cada crédito e um apego maior à interação coletiva
e organizada.
4. Discute-se, na espécie, sobre a modificação do plano originalmente proposto, após o biênio
de supervisão judicial – constante do artigo 61 da Lei de Falências –, sem que houvesse o
encerramento da recuperação judicial da empresa recuperanda. Ainda que transcorrido o
prazo de até 2 anos de supervisão judicial, não houve, como ato subsequente, o
encerramento da recuperação, e, por isso, os efeitos da recuperação judicial ainda perduram,
mantendo assim a vinculação de todos os credores à deliberação da Assembleia.
5. Recurso especial provido.  
3) GRANDES TEMAS DA PÓS MODERNIDADE E DA
SOCIEDADE DE CONSUMO
• Conceitos do CDC (fornecedor/consumidor) e proteção aos
vulneráveis e hipervulneráveis (pertenças – artigo 93,
CCivil)
• Obsolescência programada
• Superendividamento (limitação de desconto a 30%)
• Indenizatória por tempo perdido / Assédio em coletivos
• Responsabilidade objetiva dos bancos por fraudes
(fenômeno da “bancarização”)
• Spam / responsabilidade civil em rede social / dir.
esquecimento
• Legitimação adequada para as ações coletivas do
consumidor frente ao recente precedente do STF
8
4) I JORNADA DE PREVENÇÃO DE LITÍGIO –
STJ/22 e 23 de agosto de 2016
• Enunciados:
- 6. O processamento da recuperação judicial ou a
decretação da falência não autoriza o administrador
judicial a recusar a eficácia da convenção de arbitragem,
não impede a instauração do procedimento arbitral,
nem o suspende.
- 45. A mediação e conciliação são compatíveis com a
recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do
empresário e da sociedade empresária, bem como em
casos de superendividamento, observadas as restrições
legais.
https://www.serasaexperian.com.br/release/
indicadores/falencias_concordatas.htm
5) RECURSOS REPETITIVOS VERSANDO SOBRE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIA – PRECEDENTES
VINCULANTES

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FALÊNCIA. HABILITAÇÃO. CRÉDITO DE


NATUREZA ALIMENTAR. ART. 24 DA LEI N. 8.906/1994. EQUIPARAÇÃO A
CRÉDITO TRABALHISTA.

1. Para efeito do art. 543-C do Código de Processo Civil: 1.1) Os créditos


resultantes de honorários advocatícios têm natureza alimentar e
equiparam-se aos trabalhistas para efeito de habilitação em falência, seja
pela regência do Decreto-Lei n. 7.661/1945, seja pela forma prevista na Lei
n. 11.101/2005, observado, neste último caso, o limite de valor previsto no
artigo 83, inciso I, do referido Diploma legal.
1.2) São créditos extraconcursais os honorários de advogado resultantes de
trabalhos prestados à massa falida, depois do decreto de falência, nos
termos dos arts. 84 e 149 da Lei n. 11.101/2005.
2. Recurso especial provido.
(REsp 1152218/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL,
julgado em 07/05/2014, DJe 09/10/2014)
Recuperação judicial e devedores solidários
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO
CPC E RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. DIREITO EMPRESARIAL E CIVIL.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROCESSAMENTO E CONCESSÃO. GARANTIAS
PRESTADAS POR TERCEIROS. MANUTENÇÃO. SUSPENSÃO OU EXTINÇÃO
DE AÇÕES AJUIZADAS CONTRA DEVEDORES SOLIDÁRIOS E COOBRIGADOS
EM GERAL. IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 6º, CAPUT, 49,
§ 1º, 52, INCISO III, E 59, CAPUT, DA LEI N. 11.101/2005.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: "A recuperação judicial do devedor
principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz
suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores
solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou
fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º,
caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por
força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005".
2. Recurso especial não provido.
(REsp 1333349/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 26/11/2014, DJe 02/02/2015)
Custas e Massa Falida
1. Hipótese em que se discute a exigibilidade do encargo de 20% previsto
no Decreto-Lei 1.025/69 nas execuções fiscais propostas contra massa
falida, tendo em vista o disposto no artigo 208, § 2º, da antiga Lei de
Falências, segundo o qual "A massa não pagará custas a advogados dos
credores e do falido".
2. A Primeira Seção consolidou entendimento no sentido de que o
encargo de 20%, imposto pelo artigo 1º do Decreto-Lei 1.025/69 pode
ser exigido da massa falida. Precedentes: EREsp 668.253/PR, Rel.
Ministro Herman Benjamin; EREsp 466.301/PR, Rel. Ministro Humberto
Martins; EREsp 637.943/PR, Rel. Ministro Castro Meira e EREsp
448.115/PR, Rel. Ministro José Delgado.
3. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia,
submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1110924/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 10/06/2009, DJe 19/06/2009)
Modificação do polo passivo na execução fiscal
1. Na forma dos precedentes deste Superior Tribunal de Justiça, "a mera decretação da
quebra não implica extinção da personalidade jurídica do estabelecimento
empresarial. Ademais, a massa falida tem exclusivamente personalidade judiciária,
sucedendo a empresa em todos os seus direitos e obrigações. Em consequência, o
ajuizamento contra a pessoa jurídica, nessas condições, constitui mera irregularidade,
sanável nos termos do art. 284 do CPC e do art. 2º, § 8º, da Lei 6.830/1980" (REsp
1.192.210/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 4/2/2011).
2. De fato, por meio da ação falimentar, instaura-se processo judicial de concurso de
credores, no qual será realizado o ativo e liquidado o passivo, para, após, confirmados os
requisitos estabelecidos pela legislação, promover-se a dissolução da pessoa jurídica,
com a extinção da respectiva personalidade. A massa falida, como se sabe, não detém
personalidade jurídica, mas personalidade judiciária - isto é, atributo que permite a
participação nos processos instaurados pela empresa, ou contra ela, no Poder Judiciário.
Nesse sentido: REsp 1.359.041/SE, Rel.
Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 18/6/2013, DJe 28/6/2013; e EDcl no
REsp 1.359.259/SE, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em
2/5/2013, DJe 7/5/2013.
3. Desse modo, afigura-se equivocada a compreensão segundo a qual a retificação da
identificação do polo processual - com o propósito de fazer constar a informação de
que a parte executada se encontra em estado falimentar - implicaria modificação ou
substituição do polo passivo da obrigação fiscal.
(Continuação)
4. Por outro lado, atentaria contra os princípios da celeridade e da economia
processual a imediata extinção do feito, sem que se facultasse, previamente, à
Fazenda Pública oportunidade para que procedesse às retificações necessárias na
petição inicial e na CDA.
5. Nesse sentido, é de se promover a correção da petição inicial, e,igualmente, da CDA,
o que se encontra autorizado, a teor do disposto, respectivamente, nos arts. 284 do
CPC e 2º, § 8º, da Lei n. 6.830/80.
6. Por fim, cumpre pontuar que o entendimento ora consolidado por esta Primeira
Seção não viola a orientação fixada pela Súmula 392 do Superior Tribunal Justiça, mas
tão somente insere o equívoco ora debatido na extensão do que se pode compreender
por "erro material ou formal", e não como "modificação do sujeito passivo da
execução", expressões essas empregadas pelo referido precedente sumular.
7. Recurso especial provido para, afastada, no caso concreto, a tese de ilegitimidade
passiva ad causam, determinar o retorno dos autos ao Juízo de origem, a fim de que,
facultada à exequente a oportunidade para emendar a inicial, com base no disposto no
art. 284 do CPC, dê prosseguimento ao feito como entender de direito. Acórdão
submetido ao regime estatuído pelo art. 543-C do CPC e Resolução STJ 8/2008.
(REsp 1372243/SE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão
Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/12/2013, DJe 21/03/2014)
Afetação acolhida para decidir sobre competência em
ações ilíquidas em face de Massa Falida
1. Delimitação da controvérsia: "Competência para
processo e julgamento de demandas com pedidos ilíquidos
contra massa falida: se é competente o juízo no qual se
processa o feito falimentar ou o juízo cível em que proposta
a ação de conhecimento respectiva".
2. Recurso especial afetado ao rito dos arts. 1.036 e seguintes
do CPC/2015 (art. 256-I, c/c o art. 256-E, ambos do RISTJ, na
redação da Emenda Regimental n. 24, de 28/9/2016).
3. Proposta de afetação acolhida.
(ProAfR no REsp 1643856/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/06/2017, DJe 23/06/2017)
 
6) NOVO CPC E A LEI DE
RECUPERAÇÃO/FALÊNCIA

• PRAZOS? (PROCESSUAIS E MATERIAIS)


• NEGÓCIO PROCESSUAL?
• DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
• AGRAVO – ROL TAXATIXO? (ART. 1015, NCPC e
189, LRF)
• EXECUÇÃO CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE (ART.
1052/NCPC)
7) CRÉDITOS NA RECUPERAÇÃO E FALÊNCIA -
INTRODUÇÃO
• A ideia central, que permeia todo o processo
coletivo frente ao devedor em crise, é a do
“concurso universal”, de tal modo que o esforço
individual não se reverta em proveito próprio, de
maneira predatória e afoita, mas em prol da
massa de credores.
• Equivale dizer que, no concurso, o objetivo é a
melhor solução possível para todos os credores,
evitando-se a “corrida” individual pelo crédito, o
que pode ensejar, além de dispersão de recursos,
privilégios odiosos para credores da mesma classe.
(Continuação)

• É bem de ver que esse concurso exige


tratamento paritário a credores da mesma
classe, a par conditio creditorum dos romanos

• Insolvência do devedor e concurso creditório -


de natureza civil ou para efeito da lei de
recuperação e falência -, são conceitos que
não se confundem.
(Continuação)

• A pujança da economia de um país depende,


fundamentalmente, da atividade empresarial – cujo
oxigênio é a concessão do “crédito”. Por isso, a
regra é uma máxima da lex mercatoris, no sentido
de que, quanto menor o risco, maior o crédito e o
volume de negócios, com taxas baseadas no perigo
global.
• Em caso de crise do tomador do empréstimo, com
superveniente impetração de recuperação judicial
ou mesmo falência, a instituição financeira quer ver
garantido seu crédito, diminuindo o risco de perda
total dos recursos.
7.1) Créditos na recuperação:
• Créditos submetidos aos efeitos da recuperação e
créditos excluídos (parcial ou totalmente).
• Créditos com exclusão total - as exceções previstas
no art. 49 § 3º, da lei de falências (não se
permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta
Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do
devedor dos bens de capital essenciais a sua
atividade empresarial): a) Propriedade fiduciária; b)
Arrendamento mercantil; c) Direito real de
aquisição; d) Compra e venda com reserva de
domínio.
(Continuação)

• A “trava bancária” na recuperação judicial.


• As exceções previstas no art. 49, § 4º, da Lei
de Falências.
• Créditos com exclusão parcial – o art. 49, §
5º, da Lei de Falências.
• Obs.: os créditos de natureza fiscal, salvo em
caso de parcelamento, não se subsumem ao
procedimento da recuperação (art. 6º, § 7º, da
LF), mas apenas à falência (art. 83, III, da LF).
7.2) Créditos na falência:

• Os créditos na falência:
– Créditos concursais (ordem de preferência e
limite de valor).
7.3) Créditos extraconcursais:

• Créditos extraconcursais na Recuperação e


na Falência:
a) créditos derivados de negócios jurídicos
efetuados no período compreendido entre a
data do pedido de recuperação e do pedido de
falência;
b) encargos da massa.
8) ESTUDO DE CASOS (créditos na
recuperação e falência)

25
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA –
RECUPERAÇÃO JUDICIAL NO BRASIL

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. NATUREZA CONSTITUTIVA.


RECUPERAÇÃO JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE. NÃO
INCIDÊNCIA DO ART. 6º DA LEI 11.101/2005. PRESSUPOSTOS FORMAIS
PREENCHIDOS. HOMOLOGAÇÃO DEFERIDA.

[...]3. Por conseguinte, não há falar na incidência do art. 6º, § 4º, da Lei
de Quebras como óbice à homologação da sentença arbitral, uma vez que
se está em fase antecedente à execução, apenas emprestando eficácia
jurídica ao provimento homologando.

4. Homologação da sentença arbitral estrangeira deferida.

(SEC 14408, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado
em 21/06/2017, acórdão pendente de publicação)
SUSPENSÃO DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS
(...) 1. A decisão que defere o processamento do pedido de recuperação
judicial tem como um de seus efeitos a suspensão das ações e execuções
individuais contra o devedor que, dessa forma, pode desfrutar de maior
tranquilidade para a elaboração de seu plano de recuperação, alcançando o
fôlego necessário para atingir o objetivo de reorganização da empresa (art. 6º,
§ 4º, c/c art. 52, III, da Lei n. 11.101/2005).
2. Nessa linha, para alcançar esse desiderato, é ônus do devedor informar a
determinação de suspensão dessas ações ao juízo perante o qual elas estão
tramitando, no momento em que deferido o processamento da recuperação, o
qual é o termo a quo da contagem do prazo de duração do sobrestamento
(art. 6º, § 4º, da LFR), que pode ser ampliado pelo juízo da recuperação, em
conformidade com as especificidades de cada situação. No caso concreto,
porém, a Corte a quo não considerou que a informação acerca da suspensão
da ação pelo juízo da recuperação deveria ter sido obrigatoriamente realizada
ao juiz singular, mas sim que, de acordo com as circunstâncias, não era o caso
de dilargar o prazo de 180 dias.
(...) 5. Recurso especial não provido.
(REsp 1.116.328/RN, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 10/09/2013, DJe 24/09/2013). 27
EXECUÇÃO FISCAL

• AgRg no CC 136.130/SP, julgado em 13/05/2015, Dje


22/06/2015: A Segunda Seção debateu o fato de ser a lei
nova – Lei 13.043/2014 - suficiente para a obrigação de
parcelar. Prevaleceu o voto divergente do Min. Antônio
Carlos Ferreira, segundo o qual, uma vez tendo sido
homologado o plano e novadas as dívidas para os
credores, não pode a Fazenda alcançar todo o
patrimônio da empresa sem participar do concurso.
Manteve a competência do Juízo da Recuperação.
• Precedente anterior da Corte Especial dispensava a
certidão de quitação fiscal para obter o deferimento da
Recuperação (ônus do passivo tributário).
28
Posicionamento parece divergente da Segunda Seção, que não permite a
constrição de patrimônio pelo Juízo da execução fiscal, ficando tal
medida dependente do crivo do Juízo da recuperação

[...]2. Nos termos da jurisprudência do STJ, "o deferimento do pedido de recuperação


judicial não suspende a execução fiscal. Ressalte-se que, em sede de execução fiscal,
é possível a prática de atos constritivos em face de empresa em recuperação judicial,
desde que não fique inviabilizado o plano de recuperação judicial". (AgInt no AREsp
956.853/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 15.12.2016)
3. In casu, o Tribunal de origem consignou expressamente que a realização de leilões e
hastas públicas acarreta medidas mais gravosas, tendo em vista que retiram os bens
alienados da posse da empresa executada. Tal fato justifica a suspensão temporária
dos atos expropriatórios, com o objetivo de preservar os interesses da empresa
executada, sem descuidar da garantia de eventual satisfação dos interesses do credor,
uma vez que não se afasta a possibilidade de posterior realização da alienação do bem
constrito. Dessume-se que o acórdão recorrido está em sintonia com o atual
entendimento deste Tribunal Superior, razão pela qual não merece prosperar a
irresignação. Incide, in casu, o princípio estabelecido na Súmula 83/STJ: "Não se
conhece do Recurso Especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou
no mesmo sentido da decisão recorrida." 4. Ademais, revisão desse entendimento
somente seria possível por meio do reexame do acervo fático-probatório existente nos
autos, o que não se permite em Recurso Especial, ante o óbice da Súmula 7/STJ.
(REsp 1659669/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
02/05/2017, DJe 12/05/2017)
NOVAÇÃO
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. NOVAÇÃO. CONDIÇÃO RESOLUTIVA. SUSPENSÃO. NÃO
CABIMENTO.
1. A novação operada pelo plano de recuperação fica sujeita a
condição resolutiva, nos termos do art. 61 da Lei n.º 11.101/05.
2. Não se suspendem as execuções individuais direcionadas aos
avalistas de título cujo devedor principal é sociedade em recuperação
judicial.
(...)
5. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp 1.334.284/MT, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/09/2014, DJe
15/09/2014).
OBS.: A NOVAÇÃO EXTINGUE AS AÇÕES DE EXECUÇÃO EM CURSO,
NOVO TÍTULO.
30
DIREITO EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO DO PLANO.
NOVAÇÃO. EXECUÇÕES INDIVIDUAIS AJUIZADAS CONTRA A RECUPERANDA.
EXTINÇÃO.
1. A novação resultante da concessão da recuperação judicial após aprovado o
plano em assembleia é sui generis, e as execuções individuais ajuizadas contra a
própria devedora devem ser extintas, e não apenas suspensas.
2. Isso porque, caso haja inadimplemento da obrigação assumida por ocasião da
aprovação do plano, abrem-se três possibilidades: (a) se o inadimplemento ocorrer
durante os 2 (dois) anos a que se refere o caput do art. 61 da Lei n. 11.101/2005, o
juiz deve convolar a recuperação em falência; (b) se o descumprimento ocorrer
depois de escoado o prazo de 2 (dois) anos, qualquer credor poderá pedir a
execução específica assumida no plano de recuperação; ou (c) requerer a falência
com base no art. 94 da Lei.
3. Com efeito, não há possibilidade de a execução individual de crédito constante
no plano de recuperação - antes suspensa - prosseguir no juízo comum, mesmo
que haja inadimplemento posterior, porquanto, nessa hipótese, se executa a
obrigação específica constante no novo título judicial ou a falência é decretada,
caso em que o credor, igualmente, deverá habilitar seu crédito no juízo universal.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1.272.697/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 02/06/2015, Dje 18/06/2015). 31
(...) 1. Diferentemente do regime existente sob a vigência do DL nº
7.661/45, cujo art. 148 previa expressamente que a concordata não
produzia novação, a primeira parte do art. 59 da Lei nº 11.101/05
estabelece que o plano de recuperação judicial implica novação dos
créditos anteriores ao pedido.
2. A novação induz a extinção da relação jurídica anterior, substituída por
uma nova, não sendo mais possível falar em inadimplência do devedor
com base na dívida extinta.
(...) 4. Diante disso, uma vez homologado o plano de recuperação
judicial, os órgãos competentes devem ser oficiados a providenciar a
baixa dos protestos e a retirada, dos cadastros de inadimplentes, do
nome da recuperanda e dos seus sócios, por débitos sujeitos ao referido
plano, com a ressalva expressa de que essa providência será adotada
sob a condição resolutiva de a devedora cumprir todas as obrigações
previstas no acordo de recuperação.
5. Recurso especial provido.
(REsp 1.260.301/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 14/08/2012, DJe 21/08/2012). 32
(...) 3. A razão de ser da norma que determina a pausa momentânea das ações e
execuções - stay period - na recuperação judicial é a de permitir que o devedor em
crise consiga negociar, de forma conjunta, com todos os credores (plano de
recuperação) e, ao mesmo tempo, preservar o patrimônio do empreendimento, o
qual se verá liberto, por um lapso de tempo, de eventuais constrições de bens
imprescindíveis à continuidade da atividade empresarial, impedindo o seu
fatiamento, além de afastar o risco da falência.
4. Nessa fase processual ainda não se alcança, no plano material, o direito
creditório propriamente dito, que ficará indene - havendo apenas a suspensão
temporária de sua exigibilidade - até que se ultrapasse o termo legal (§ 4° do art. 6°)
ou que se dê posterior decisão do juízo concedendo a recuperação ou decretando a
falência (com a rejeição do plano).
5. Como o deferimento do processamento da recuperação judicial não atinge o
direito material dos credores, não há falar em exclusão dos débitos, devendo ser
mantidos, por conseguinte, os registros do nome do devedor nos bancos de dados
e cadastros dos órgãos de proteção ao crédito, assim como nos tabelionatos de
protestos. Também foi essa a conclusão adotada no Enunciado 54 da Jornada de
Direito Comercial I do CJF/STJ.
6. Recurso especial não provido.
(REsp 1.374.259/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 02/06/2015, Dje 18/06/2015). 33
BLOQUEIO DE ATIVOS DA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO

TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO FISCAL. IMPOSSIBILIDADE DE BLOQUEIO DE ATIVOS
FINANCEIROS DE SOCIEDADE EMPRESÁRIA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

1. As Turmas que compõem a 1a. Seção do STJ, no que tange ao


bloqueio de ativos financeiros de sociedade empresária em
recuperação judicial por meio do sistema Bacenjud, firmaram a
compreensão de que este procedimento não se mostra possível em
respeito ao princípio da preservação da empresa (AgInt no
REsp.1.607.090/PR, Rel. Min. SÉRGIO KUKINA, DJe 16.12.2016).

2. Agravo Interno da FAZENDA NACIONAL desprovido.

(AgInt no AREsp 1053565/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,


PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/05/2017, DJe 11/05/2017)
CRÉDITOS EXISTENTES NA DATA DO PEDIDO

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - EMBARGOS À


EXECUÇÃO - CRÉDITO CONSTITUÍDO APÓS O DEFERIMENTO DO
PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL - NÃO SUBMISSÃO AO
PLANO - RECURSO ESPECIAL NÃO ADMITIDO NA ORIGEM - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA
DA EXECUTADA.
1. De acordo com o art. 49 da Lei nº 11.101/2005, apenas os créditos
existentes na data do pedido estão sujeitos à recuperação judicial.
Assim, créditos posteriores ao pleito recuperacional não se submetem
aos seus efeitos. Precedentes.
(...)
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 468.895/MG, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 06/11/2014, DJe 14/11/2014).

35
CRÉDITOS EXCLUÍDOS DA RECUPERAÇÃO (TOTAL OU PARCIALMENTE)

• PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA:
AGRAVO REGIMENTAL EM CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. BUSCA E APREENSÃO. BENS OFERECIDOS EM GARANTIA
MEDIANTE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. NÃO SUBMISSÃO AOS EFEITOS DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONTINUIDADE DA EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE.
1. O credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou
imóveis não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial (art. 49, § 3º, da
Lei 11.101/2005).
2. Não ocorrência, na hipótese, de peculiaridade apta a recomendar o
afastamento circunstancial da regra, porquanto não demonstrado que o
objeto da busca e apreensão envolva bens de capital essenciais à atividade
empresarial, de maneira a atrair a exceção contida no § 3º do art. 49 da Lei
11.101/2005.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no CC 128.658/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 27/08/2014, DJe 06/10/2014).
36
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO
EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CRÉDITOS
RESULTANTES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL E COM
GARANTIA FIDUCIÁRIA. NÃO SUBMISSÃO À RECUPERAÇÃO.

1. Interpretando o art. 49, § 3º, da Lei n. 11.101/2005, a


jurisprudência entende que os créditos decorrentes de
arrendamento mercantil ou com garantia fiduciária - inclusive
os resultantes de cessão fiduciária - não se sujeitam aos efeitos
da recuperação judicial.
2. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1.181.533/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 05/12/2013, DJe
10/12/2013).

37
• COMPRA E VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO:
AGRAVO REGIMENTAL. LIMINAR. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DÚVIDA ACERCA DA COMPETÊNCIA
PARA O JULGAMENTO DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PRAZO DE SUSPENSÃO DE 180 DIAS
EXCEDIDO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO. MANUTENÇÃO DOS BENS
OBJETO DO CONTRATO NA POSSE DO DEVEDOR. EXCESSO DE PRAZO NÃO ATRIBUÍVEL AO DEVEDOR.
1. Nos termos do art. 49, § 3º, da Lei 11.101/2005, o credor titular da posição de proprietário em
contrato de compra e venda com reserva de domínio não se sujeita aos efeitos da recuperação
judicial, sendo vedada, porém, a retirada dos bens objeto do contrato do estabelecimento do
devedor, no prazo de 180 dias a que alude o art. 6º, § 4º, da mesma lei.
2. Essa proibição de retirada dos bens do estabelecimento do devedor tem como objetivo manter a
atividade produtiva da sociedade ao menos até a votação do plano de recuperação judicial.
3. No caso dos autos, como o processamento da recuperação judicial foi deferido em 14.10.2010, o
prazo de 180 dias previsto na Lei de Falências já se esgotou. Cumpre frisar, porém, que o
escoamento do prazo sem a apresentação do plano de recuperação judicial não se deveu a
negligência da suscitante, mas sim à determinação da suspensão do processo de recuperação em
vista de dúvida surgida acerca da competência para o julgamento do feito.
4. Diante disso, como não se pode imputar à sociedade recuperanda o descumprimento do prazo de
180 dias, e tendo em conta que o deferimento imediato do pedido de busca e apreensão coloca em
risco o funcionamento da sociedade e o futuro plano de recuperação judicial, já que os bens objeto
do contrato de compra e venda com reserva de domínio, no caso, são o "coração de uma usina de
açúcar e álcool", mostra-se correta a manutenção dos referidos bens na posse da suscitante, até
ulterior deliberação.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no CC 119.337/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/02/2012,
DJe 23/02/2012). 38
• ADIANTAMENTO A CONTRATO DE CÂMBIO – ACC:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. COTEJO INEXISTENTE.
CESSÃO FIDUCIÁRIA DE TÍTULOS E CRÉDITOS DECORRENTES DE
ADIANTAMENTO DE CONTRATO DE CÂMBIO NÃO SE SUJEITAM AOS
EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
(...) 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que os
créditos decorrentes de arrendamento mercantil ou com garantia
fiduciária - inclusive os resultantes de cessão fiduciária - não se sujeitam
aos efeitos da recuperação judicial.
3. Conforme entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, o
art. 49, § 4º, da Lei n.º 11.101/05, estabelece que o crédito advindo de
adiantamento de contrato de câmbio não está sujeito aos efeitos da
recuperação judicial.
(...) 5. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp 1.306.924/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/08/2014, DJe
39
28/08/2014).
• TRAVA BANCÁRIA:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO


EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CRÉDITO GARANTIDO
POR CESSÃO FIDUCIÁRIA. NÃO SUBMISSÃO AO PROCESSO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PRECEDENTES.
1.- Conforme a jurisprudência das Turmas que compõem a
Segunda Seção desta Corte o crédito garantido por cessão
fiduciária não se submete ao processo de recuperação judicial,
uma vez que possui a mesma natureza de propriedade
fiduciária, podendo o credor valer-se da chamada trava
bancária.
2.- Agravo Regimental improvido.
(AgRg no REsp 1.326.851/MT, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 03/12/2013).
40
- Não estão sujeitos aos efeitos da recuperação judicial os
créditos representados por títulos cedidos fiduciariamente
como garantia de contrato de abertura de crédito na forma
do art. 66-B, § 3º, da Lei n. 4.728/1965.
(REsp 1.263.500-ES, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
5/2/2013).

- Conceito amplo de “recebíveis”

- Voto parcialmente vencido – aplicação ampla do par. 3, art.


49 (critério do Juiz)

41
• EXCLUSÃO DO CRÉDITO EXTRACONCURSAL DA SEARA
DA RECUPERAÇÃO
(...) 1. O incidente processual não pode ser conhecido, porquanto não configuradas
quaisquer das hipóteses previstas no art. 115 do Código de Processo Civil, pois não
há dois juízes que se consideram competentes (inciso I) ou incompetentes (inciso II)
para o julgamento do mesmo feito, assim como não há controvérsia acerca da
reunião de processos (inciso III).
2. Esta Corte Superior, nos casos em que se discute a classificação do crédito em
extraconcursal, tem se manifestado no sentido de que tal questão não pode ser
objeto de análise em sede de conflito de competência, pois apenas ao Juízo
universal é atribuído apreciar o caráter dos créditos que lhe fora apresentado.
Precedente.
3. Na espécie, o crédito ora debatido já fora classificado pela instância ordinária
como extraconcursal, e, portanto, excluído, de imediato, da seara da recuperação
judicial. Tendo sido já excluído o crédito pelo Juízo de origem, não há também como
considerar a existência de conflito de competência.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no CC 129.639/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 24/09/2014, DJe 30/09/2014). 42
REsp nº 1.447.918 /SP (16.05.2016)

2. No caso, verifica-se que a controvérsia principal está em definir se o crédito


decorrente de sentença condenatória, proferida em autos de ação indenizatória
ajuizada antes do pedido de soerguimento, submete-se, ou não, aos efeitos da
recuperação judicial em curso.
3. A ação na qual se busca indenização por danos morais - caso dos autos - é tida
por "demanda ilíquida", pois cabe ao magistrado avaliar a existência do evento
danoso, bem como determinar a extensão e o valor da reparação para o caso
concreto.
4. Tratando-se, portanto, de demanda cujos pedidos são ilíquidos, a ação de
conhecimento deverá prosseguir perante o juízo na qual foi proposta, após o
qual, sendo determinado o valor do crédito, deverá ser habilitado no quadro geral
de credores da sociedade em recuperação judicial. Interpretação do § 1º do art.
6º da Lei n. 11.101/2005.
5. Segundo o caput do art. 49 da Lei n. 11.101/2005, estão sujeitos à recuperação
judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
7. Na hipótese de crédito decorrente de responsabilidade civil, oriundo de fato
preexistente ao momento da recuperação judicial, é necessária a sua
habilitação e inclusão no plano de recuperação da sociedade devedora.
43
CRÉDITO TRABALHISTA - REsp 1641191/RS, Rel. Ministro RICARDO
VILLASBÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe
23/06/2017

RECURSO ESPECIAL. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


PEDIDO. SENTENÇA TRABALHISTA POSTERIOR. SERVIÇO PRETÉRITO. ART. 49,
CAPUT, DA LEI Nº 11.101/2005. INTERPRETAÇÃO.
[...]
3. As verbas trabalhistas relacionadas à prestação de serviço realizada em
período anterior ao pedido de recuperação judicial, ainda que a sentença
condenatória tenha sido proferida após o pedido de recuperação judicial, devem
se sujeitar aos seus efeitos.

4. A exclusão dos créditos constituídos após o pedido de recuperação judicial tem a


finalidade de proporcionar o regular funcionamento da empresa, assegurando ao
devedor o acesso a contratos comerciais, bancários, trabalhistas e outros tantos
relacionados com a atividade fim do empreendimento, com o objetivo de viabilizar
a reabilitação da empresa. A inclusão de crédito originado em momento anterior
ao pedido não atende a tal fim.

5. Recurso especial provido.


AINDA O CRÉDITO TRABALHISTA

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


HABILITAÇÃO DE CRÉDITO TRABALHISTA. DISCUSSÃO
QUANTO AO MOMENTO DA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO
TRABALHISTA. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA QUE
PERSEGUE CRÉDITO ORIUNDO DE TRABALHO REALIZADO
EM MOMENTO ANTERIOR AO PEDIDO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUBMISSÃO AOS SEUS
EFEITOS, INDEPENDENTE DE SENTENÇA POSTERIOR QUE
SIMPLESMENTE O DECLARE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

REsp 1634046/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/


Acórdão Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 25/04/2017, DJe 18/05/2017
FALÊNCIA - SENTENÇA QUANDO NÃO HÁ CREDORES
HABILITADOS:

FALÊNCIA - INEXISTÊNCIA DE CREDORES HABILITADOS -


ENCERRAMENTO - DENÚNCIA POR CRIME FALIMENTAR -
INOCORRÊNCIA DESTE POR SUPERVENIÊNCIA DE LEGISLAÇÃO
ESPECIAL.

- SENDO A FALÊNCIA UMA EXECUÇÃO COLETIVA, A


INEXISTÊNCIA DE CRÉDITOS HABILITADOS A SEREM
SATISFEITOS FAZ COM QUE O PROCESSO PERCA O OBJETO.
(...)
- RECURSO A QUE SE DA PROVIMENTO PARA EFEITO DE
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
(RHC 451/SP, Rel. Ministro CID FLAQUER SCARTEZZINI, QUINTA
TURMA, julgado em 20/06/1990, DJ 06/08/1990.) 46
(...)
4. No caso dos autos, entretanto, verifica-se a inexistência
de credores habilitados na insolvência, o que, a exemplo
do que ocorre na falência, ocasiona a extinção da
execução coletiva, uma vez que a fase executória
propriamente dita somente se instaura com a habilitação
dos credores, os quais integram o polo ativo do feito e
sem os quais, por óbvio, não há a formação da relação
processual executiva.
5. Recurso especial não provido.
(REsp 1.072.614/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 26/02/2013, DJe
12/03/2013).
47
FALÊNCIA - DÉBITOS CONDOMINIAIS

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.


LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. COTAS CONDOMINIAIS. ENCARGOS
DA MASSA. CRÉDITO NÃO SUJEITO A HABILITAÇÃO NO QUADRO
GERAL DE CREDORES. OBSERVÂNCIA DA ORDEM DE PRIVILÉGIO
DOS CRÉDITOS ANTECEDENTES AOS ENCARGOS DA MASSA.
AGRAVO DESPROVIDO.
1. Nos termos do art. 124, § 1º, III, do Decreto-Lei 7.661/45
(antiga Lei de Falências), os débitos condominiais, por se
tratarem de obrigação de natureza propter rem, não podem ser
considerados da pessoa do falido, porquanto constituem ônus
relativo ao próprio imóvel, constituindo-se, portanto, em
encargos da massa.
2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 590.632/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 22/10/2013). 48
FALÊNCIA - HABILITAÇÃO DE CRÉDITOS
(...) 2. No processo falimentar, em relação aos créditos habilitados, o
princípio norteador é o da par conditio creditorum, na esteira do qual os
credores do falido devem ser tratados em igualdade de condições, salvo se a
lei expressamente dispuser de forma contrária, como ocorre com os créditos
com preferências e privilégios eleitos pelo legislador como dignos de
prioridade para pagamento.
3. O art. 43, III, da Lei n. 4.591/1964 preconiza que, no caso de decretação da
quebra do incorporador e ante a impossibilidade de ultimação da construção
do edifício pela maioria dos adquirentes, estes se tornam credores
privilegiados em relação aos valores já pagos ao incorporador em razão da
compra do imóvel.
4. No caso, os créditos pleiteados ostentam natureza manifestamente
diversa, porquanto são oriundos de mero ressarcimento com os custos das
obras de finalização do empreendimento imobiliário, enquadrando-se,
portanto, na classe dos quirografários.
5. Recurso especial não provido.
(REsp 1.185.336/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 02/09/2014, DJe 25/09/2014). 49
FALÊNCIA - DEPÓSITO BANCÁRIO
DIREITO FALIMENTAR E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. DEPÓSITO BANCÁRIO. IMPOSSIBILIDADE DE
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. CRÉDITO QUIROGRAFÁRIO.
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STJ.
1. De acordo com a jurisprudência desta Corte, "os depósitos
bancários não se enquadram na hipótese do art. 76 da Lei de
Falências, pois neles, em particular, ocorre a transferência da
titularidade dos valores à instituição bancária, ficando o correntista
apenas com o direito ao crédito correspondente" (AgRg no REsp n.
660.762/MG, Relator Ministro CESAR ASFOR ROCHA, DJ 13/6/2005,
p. 316). Precedentes.
(...) 4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1.093.638/MG, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2013, DJe 13/05/2013).

50
FALÊNCIA – COMPENSAÇÃO
(...) 3. A doutrina, desde muito tempo, vem apregoando que as hipóteses legais que
impedem a compensação do crédito perante a massa não estão listadas
exaustivamente no mencionado art. 46 do Decreto-Lei n. 7.661/1945 (correspondente,
em parte, ao art. 122 da Lei n. 11.101/2005). Aplicam-se também ao direito falimentar
as hipóteses que vedam a compensação previstas no direito comum, como aquelas
previstas nos arts. 1.015-1.024 do Código Civil de 1916, entre as quais se destaca a
compensação realizada em prejuízo de direitos de terceiros (art. 1.024).
4. Não é cabível, de um modo geral e em linha de princípio, compensar débitos da
falida com créditos da massa falida resultantes de ação revocatória julgada procedente,
porque a essa última subjaz, invariavelmente, uma situação de ilegalidade
preestabelecida em prejuízo da coletividade de credores, ilegalidade essa que não
pode beneficiar quem a praticou, viabilizando satisfação expedita de seus créditos.
Nessa ordem de ideias, a ação revocatória, de eficaz instrumento vocacionado à
restituição de bens que escoaram fraudulentamente do patrimônio da falida, tornar-se-
ia engenhosa ferramenta de lavagem de capitais recebidos em desconformidade com a
par conditio creditorum.
6. Recurso especial não provido.
(REsp 1.121.199/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/09/2013, REPDJe 12/02/2014, DJe
28/10/2013). 51
• “Quero ser acordada pela luz empoeirada
do sol, que entra pelas frestas das
persianas” –Shakespeare – O Mercador de
Veneza

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