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OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO NOVO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL

Silvio Mendonça Filho


Tiago Mendonça
Ana Teresa Guimarães Zanhar

SUMÁRIO: 1 Introdução – 2 Desenvolvimento. 2.1. A Natureza dos honorários


advocatícios e o direito à sucumbência. 2.2. Honorários nas execuções. 2.3.
Honorários no cumprimento de sentença. 2.4. Honorários no âmbito recursal. 2.5.
Honorários dos advogados públicos. 2.6. Dos critérios para fixação dos honorários –
3 Conclusão – 4 Referências bibliográficas

RESUMO: Não obstante seu natural impacto, o novo Código de Processo Civil é de
substancial importância para a advocacia. O conjunto dos artigos que regem a
questão dos honorários advocatícios buscou envolver os anseios da classe
profissional, bem como ofertar disciplina legal acerca das principais discussões
travadas sobre o tema em nossos Tribunais.

PALAVRAS-CHAVE: Honorários advocatícios; Sucumbência; Código de Processo


Civil.

ABSTRACT: Despite his natural impact, the new Civil Procedure Code represents
substantial importance for all lawyers. The legal articles which rule the issue of
attorneys fees sought to involve the concerns of the professional class, as well to offer
legal discipline for the main discussions about the subject in brazilian Courts.

KEY-WORDS: Attorney´s Fees; Loss of Suit; Code of Civil Procedure


Sócio Fundador do escritório Silvio Mendonça & Unias Silva. Graduado na Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais – PUC Minas. Pós-Graduado em Direito de Empresa, pelo Instituto de
Educação Continuada da PUC Minas.

Advogado graduado na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,
Pós-Graduado em Direito Tributário, pelo Instituto de Educação Continuada da PUC Minas.

Advogada graduada na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
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1. INTRODUÇÃO

Dentre as principais modificações e novidades depreendidas do Novo Código


de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), há várias afetas ao exercício da advocacia.
É desse contexto que surgem os artigos da Seção III, do Capítulo II, do Título
I, do Livro III, do Novo Código, que disciplinam as despesas processuais, os
honorários advocatícios e as multas aplicáveis no âmbito do processo.
A mera leitura do Novel Código evidencia o aprimoramento no trato da questão.
Enquanto o art. 85 do CPC/2015 possui dezenove parágrafos disciplinando
exaustivamente a verba sucumbencial, o art. 20 do Código de Processo Civil de 1973
(Lei nº 5.869/1973) possuía apenas quatro, incorrendo em diversas omissões, agora
sanadas.
As novidades legislativas representam melhoria no exercício da advocacia,
reivindicadas pelos advogados em verdadeiro complemento ao Estatuto da Advocacia
(Lei nº 8.906/1994), evidenciando a boa articulação política da classe.
Em um primeiro momento, faz-se necessário analisar a redação legal para
identificar as concepções adotadas pelo legislador para disciplinar a verba
advocatícia. Em seguida, investigar as principais modificações e novidades legais
sobre o tema, tendo sempre em mente as discussões travadas sobre os honorários
do advogado e que mereceram, em várias oportunidades, expressivos
pronunciamentos judiciais por parte de nossos Tribunais Superiores, inclusive, com a
edição de Súmulas sobre o assunto.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. A Natureza dos honorários advocatícios e o direito à sucumbência

É preciso entender os honorários do advogado como gastos necessários


expendidos pela parte para obter a sua respectiva representação em juízo. Nessa
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acepção e em coerência com a Seção III, do Capítulo II, do Título I, do Livro III, do
Código, que rege a matéria, tal verba pode ser considerada como espécie do gênero
despesas processuais.
Partindo de tal preceito, aquele que é vencido em uma demanda judicial,
denominado sucumbente, deveria ressarcir a parte vencedora pelos gastos
envolvidos na obtenção de decisão judicial que tutelasse os seus direitos. A partir de
tal ideia, o antigo Código de Processo Civil de 1973 determinava em seu artigo 20 que
“A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e
os honorários advocatícios”.
Contudo, no que se refere à sucumbência, o novo Código teve o zelo de
segregar as despesas processuais dos honorários, sendo garantindo à parte
vencedora do processo apenas o ressarcimento de parte das despesas processuais.
É que a parte perdedora, por força da regra do art. 84 do Código em questão, apenas
restituirá em favor da outra as custas dos atos do processo; a indenização de viagem;
a remuneração do assistente técnico e a diária da testemunha.
Os honorários advocatícios devidos pela parte perdedora a título de sua
sucumbência na demanda, por outro lado, gozam de tratamento especial dispensado
pela lei.
A verba é considerada de titularidade exclusiva do advogado, o que é reforçado
pela redação do novo diploma processualista. Embora tal previsão já constasse no
art. 23 da Lei nº 8.906 de 19941, o antigo Código nada dizia a respeito.
Outrossim, é dotada de caráter alimentar, com os mesmos privilégios dos
créditos de natureza trabalhista, sendo vedada a sua compensação em caso de
sucumbência parcial, nos termos do art. 85, § 14º do Código.
A compensação de honorários era expressamente prevista pelo art. 21 do
CPC/1973 2 e autorizada pelo enunciado da Súmula 306 do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), editada em 2004, que dispunha que “Os honorários advocatícios devem
ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito

1 “Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao


advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o
precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.”
2 “Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente

distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas.


Parágrafo único. Se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro,
pelas despesas e honorários.”
4

autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria


parte”.
Dentre os precedentes que levaram à publicação da súmula, destaca-se o
julgamento do Recurso Especial nº 290.141 3 , no qual o Ministro Carlos Alberto
Menezes Direito, votou em sentido contrário à compensação, entendendo o seguinte:

(…) Quanto à compensação, havia divergência entre as Turmas que


compõem a Seção de Direito Privado quando a Terceira Turma entendeu de
remeter o feito para que fosse a questão dirimida de uma vez por todas pela
Corte Especial. Recentemente, em sessão de 13⁄6⁄01, a Segunda Seção
decidiu pela possibilidade da compensação (REsp n° 155.135⁄MG, Relator o
Senhor Ministro Nilson Naves).

Todavia, estando o presente recurso em pauta para que seja o tema


reapreciado nesta Corte Especial, diante do interesse de todas as Seções,
mantenho o entendimento que prevalecia na Terceira Turma, no sentido de
que "com o novel Estatuto dos Advogados, pertencendo a verba,
autonomamente, aos advogados, não mais é possível a compensação"
(REsp n° 143.073⁄SP, da minha relatoria, DJ de 13⁄10⁄98; REsp n°
177.637⁄RS, da minha relatoria, DJ de 23⁄10⁄00). De fato, na minha
compreensão, se há direito autônomo, a compensação é impossível porque
não se pode compensar direitos que a partes diferentes pertencem. Cada
advogado é credor da parte contrária, daí a absoluta inviabilidade da
compensação pretendida. (…)

Infelizmente, restou vencido acertado entendimento, prevalecendo a


interpretação de que o art. 23 da Lei nº 8.906, de 1994, não teria revogado o art. 21
do Código de Processo Civil de 1973.
Por certo, equivocada estava a jurisprudência do STJ, pois a compensação é
forma de extinção da obrigação, prevista no art. 368 do Código Civil, segundo o qual
“se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem”.
Ou seja, a compensação consiste na “extinção das obrigações quando duas
pessoas forem, reciprocamente, credora e devedora” 4 , significa “contrabalançar,
contrapesar, equilibrar, estabelecer ou restabelecer um equilíbrio, (…) acerto de
débito e crédito entre duas pessoas que têm, ao mesmo tempo, a condição recíproca
de credor e devedor”5.

3 REsp 290.141/RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Rel. p/ Acórdão Ministro
ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/11/2001, DJ 31/03/2003, p. 137.
4 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Volume II. 27º edição. Rio de Janeiro:

Editora Forense, 2015, p. 244.


5 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos

Contratos. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 280.


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Por óbvio, a aplicação desse instituto para fins de compensação de honorários


sucumbenciais se dava de forma errônea, visto que inexiste, nessa situação,
identidade nas figuras de devedor e credor apta a justificar a extinção das obrigações.
Ora, o litigante em parte sucumbente não detém legitimidade para exigir o
pagamento dos honorários pertencentes ao seu advogado.
Logo, bem-vinda a revogação do art. 21 do CPC de 1973 pelo Novo Código,
fulminando o amparo legal para aplicação da Súmula 306 do STJ e fazendo justiça ao
direito dos advogados à percepção da verba honorária sucumbencial.
Ainda, ao advogado é garantida a possibilidade de requerer o pagamento de
sua verba em favor da sociedade de advogados que integre na qualidade de sócio.
Será a sentença que resolverá a questão dos honorários, salvo nas hipóteses
de execução e de cumprimento de sentença, nas quais a questão merecerá
tratamento por meio de decisão interlocutória. A partir de tal premissa, o ressarcimento
dos gastos referentes à verba do advogado será sempre pautado a partir do valor
indicado pelo Magistrado na sentença, não importando o contrato de prestação de
serviços firmado entre o causídico e a parte que representou em juízo.
A partir do art. 85 do Novo Código, não se olvida que os honorários advocatícios
de sucumbência decorrem de determinação legal. Dessa forma, mesmo diante de
ausência de pedido expresso acerca de tal verba, há obrigação da parte que sucumbiu
na demanda de pagar os honorários sucumbenciais, sendo que ao Magistrado cabe
a obrigação de condenar o vencido a pagar honorários em favor do Procurador da
parte vencedora, mesmo na hipótese do causídico advogar em causa própria.
Uma exceção ao princípio da sucumbência, que reza que a parte derrotada no
processo seja condenada ao pagamento dos honorários, reside no art. 81 do CPC.
Trata-se da hipótese de responsabilidade das partes por dano processual causado
por litigância de má-fé. Tal caso prescinde da delimitação e presença da sucumbência
na demanda. O critério que irá nortear tal espécie de condenação ao pagamento de
honorários é o reconhecimento em juízo de que a parte seja litigante de má-fé.
Atento ao comando da Súmula 4536 do colendo Superior Tribunal de Justiça, o
legislador instituiu a regra do art. 85, § 187 no Código de Processo Civil, afastando a

6 STJ - Súmula 453: “Os honorários sucumbenciais, quando omitidos em decisão transitada em julgado,
não podem ser cobrados em execução ou em ação própria.”
7 “Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.
(...) § 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos honorários ou ao
seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e cobrança.”
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aplicabilidade de tal entendimento sumulado. Diante de sentença silente quanto aos


honorários, ou mesmo omissa acerca do valor destes, mesmo após o trânsito em
julgado, é possível ao titular do direito à verba honorária ajuizar ação autônoma para
definir o valor e cobrança dos honorários.
Outrora, a interpretação jurisprudencial entendia que a posterior fixação dos
honorários quando omissa a sentença a respeito violaria o princípio da coisa julgada,
esculpido no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal 8 . Sobre tal instituto, cabe
destacar as considerações de Didier:

(...) a impugnabilidade das decisões não pode ser irrestrita; a partir de certo
momento, é preciso garantir a estabilidade daquilo que foi decidido, sob pena
de perpetuar-se a incerteza sobre a situação jurídica submetida à apreciação
do Judiciário (por ser objeto de um porcesso, cujo resultado é incerto, a
situação jurídica deduzida é uma mera afirmação).

De uma forma geral, nos ordenamentos jurídicos atuais, admite-se a revisão


das decisões judiciais. Mas não sem se impor limites. Esgotados ou não
utilizados adequadamente os recursos previstos em lei, encerra-se o debate
e o julgametno final torna-se imutável e indiscutível. Surge, então, a coisa
julgada. (...)

A coisa julgada é instituo jurídico que integra o conteúdo do direito


fundamental à segurança jurídica, assegurado em todo Estado Democrático
de Direito,encontrando consaração expressa, em nosso ordenamento, no art.
5º, XXXVI, CF. Garante ao jurisdicionado que a decisão final dada à sua
demanda será definitva, não podendo ser rediscutida, alterada ou
desrespeitada – seja pelas partes, sja pelo prórpio Poder Judiciário.

A coisa julgada não é instrumento de justiça, frise-se. Não assegura a justiça


das decisões. É, isso sim, garantia da segurança, ao impor a definitividade
da solução judicial acerca da sistuação jurídica que lhe foi submetida.9

Destarte, visando a imutabilidade da decisão transitada em julgado impedir a


rediscussão no futuro, em prestígio à segurança jurídica, despropositado se tornar
indiscutível o que sequer foi decidido, razão pela qual agiu com acerto o legislador.
O custo da parte vencedora com os honorários contratuais, aqueles pagos por
força de estipulação contratual em favor do representante em juízo, podem ser objeto
de pedido de indenização por perdas e danos a ser postulado por aquele que precisou
demandar a parte vencida em juízo. A ideia é de que como é a parte vencida quem

8
“XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”
9DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil. Vol .2. 4ª edição. Salvador: Editora
Juspodivm, 2009, p. 407-408.
7

deu causa ao processo, também será ela a responsável por ressarcir, de forma
integral, a parte vencedora pelo prejuízo ocasionado. Tal pleito encontra
embasamento legal nos artigos 389 10 , 395 11 , e 404 12 do Código Civil, sendo
resguardado por entendimento do Superior Tribunal de Justiça13 sobre o tema.

2.2. Honorários nas execuções

Em execuções de títulos extrajudiciais não embargadas, verdadeiro


instrumento processual de cobrança que independe de sentença condenatória do Réu
para a sua promoção, o devedor será onerado com a obrigação de pagar honorários
em favor do Procurador do Exequente. Em tal contexto, ao despachar a inicial, cabe
ao Juiz fixar o valor da verba honorária em 10% (dez por cento) do valor da execução,
independentemente da oposição de embargos pelo devedor, em consonância com o
que prescreve o art. 82714 do Código em voga.
Em caso de distribuição de embargos, caberão honorários na execução e nos
embargos, cumulativamente. Entretanto, os Tribunais serão provocados acerca de
eventual limite para tais honorários cumulativos, vez que o Novo Código não o fixou.

10 “Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.”
11 “Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização
dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.
Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e
exigir a satisfação das perdas e danos.”
12 “Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas
e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena
convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.”
13 STJ, Terceira Turma, Relator Ministro Sidnei Beneti, AgRg nos EDcl no REsp 1412965/RS, publicado
em 05.02.2014.
14 “Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento,
a serem pagos pelo executado.
§ 1o No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será
reduzido pela metade.
§ 2o O valor dos honorários poderá ser elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à
execução, podendo a majoração, caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento
executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do exequente.”
8

Ainda na vigência do Código de 1973, a orientação do STJ era a de que o limite


máximo de 20% (vinte por cento) deveria ser observado no momento da fixação dos
honorários da execução em conjunto dos embargos. Em breve, os Tribunais irão se
pronunciar em relação à manutenção ou alteração do entendimento jurisprudencial
consolidado sob a vigência do Código de 1973.
Também merece análise o incidente de exceção de pré-executividade,
modalidade de defesa do Executado, fruto de construção doutrinária e jurisprudencial,
na qual a parte postula, independentemente da prestação de garantia ao valor
perseguido em juízo, a extinção do feito executivo em virtude da ocorrência de causa
de nulidade da execução.
O acolhimento do incidente em questão enseja a extinção do feito executivo,
hipótese apta a motivar a incidência da verba honorária. Por outro lado, caso o
incidente seja julgado improcedente, a execução seguirá o seu regular curso, não
havendo condenação ao pagamento de verba honorária, por força de entendimento
consolidado do STJ.
Partindo do pressuposto de que é a extinção do processo executivo que motiva
a condenação ao pagamento dos honorários ao Exequente, ainda que parcialmente,
o STJ deverá se pronunciar em breve sobre a matéria, em sede de recurso repetitivo.
No caso, a Primeira Seção da respectiva Corte irá decidir, nos autos do Recurso
Especial nº 1.358.837, se cabe condenação de honorários na exclusão de sócio em
execução fiscal não extinta. O tema do repetitivo foi cadastrado sob o número 961.
Caso seja mantida coerência com tal premissa, o Superior Tribunal de Justiça deverá
reconhecer a possibilidade de condenação ao pagamento da verba honorária no
contexto fático e jurídico objeto de análise do respectivo recurso repetitivo.

2.3. Honorários no cumprimento de sentença

Em sede de cumprimento de sentença, não ocorrendo o pagamento voluntário


no prazo legal, haverá incidência de multa e honorários advocatícios. Na hipótese de
pagamento parcial do débito, os honorários terão como base de cálculo o
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remanescente do débito reclamado. É o que dispõe o art. 523 do Novo Código e seus
respectivos parágrafos15.
Porém, cabe registro que a regra não se aplica em desfavor do Poder Público,
haja vista que o art. 85, § 7º do CPC em vigor determina que não há incidência de
honorários no cumprimento de sentença contrário à Fazenda Pública que motiva a
expedição de precatório. Contudo, diante de impugnação ao cumprimento de
sentença, será devida a verba honorária sucumbencial. Portanto, para a Fazenda
Pública houve a concessão do privilégio de responder pela execução de sentença
sem nova condenação aos honorários sucumbenciais, desde que não haja resistência
ao cumprimento de sentença.
Cumpre destacar que os honorários também são devidos no cumprimento
provisório de sentença, conforme expressa previsão do art. 520, §2º do CPC16. Mais
uma conquista da classe de advogados, vez que, na vigência do CPC de 1973, o
Superior Tribunal de Justiça havia firmado o entendimento de que não cabia

15 “Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão
sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido
de custas, se houver.
§ 1o Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez
por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.
§ 2o Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no §
1o incidirão sobre o restante.”
16 “Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito

suspensivo será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte
regime:
I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a
reparar os danos que o executado haja sofrido;
II - fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução,
restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos;
III - se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte,
somente nesta ficará sem efeito a execução;
IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse
ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao
executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos
próprios autos.
§ 1o No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação, se quiser,
nos termos do art. 525.
§ 2o A multa e os honorários a que se refere o § 1o do art. 523 são devidos no cumprimento provisório
de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa.
§ 3o Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se
da multa, o ato não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto.
§ 4o A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da
transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já
realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado.
§ 5o Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de
dar coisa aplica-se, no que couber, o disposto neste Capítulo.”
10

honorários de advogado na execução provisória, conforme julgamento de recurso


especial representativo da controvérsia assim ementado:

“RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.


543-C DO CPC. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA.
HONORÁRIOS.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firmam-se as seguintes teses: 1.1. Em


execução provisória, descabe o arbitramento de honorários advocatícios em
benefício do exequente.

1.2. Posteriormente, convertendo-se a execução provisória em definitiva,


após franquear ao devedor, com precedência, a possibilidade de cumprir,
voluntária e tempestivamente, a condenação imposta, deverá o magistrado
proceder ao arbitramento dos honorários advocatícios.

2. Recurso especial provido.” (REsp 1291736/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE


SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2013, DJe 19/12/2013)

2.4. Honorários no âmbito recursal

Uma das principais novidades do Novo CPC no que concerne à matéria dos
honorários, é a obrigação dos Tribunais de majorarem o valor dos honorários
sucumbenciais anteriormente fixados pela sentença objeto de apreciação recursal. Tal
obrigação legal (art. 85, § 11º do CPC) considera a existência do trabalho adicional
dos Procuradores das partes em razão da sua atuação em grau recursal.
Além disso, a medida desestimula a oposição de recursos protelatórios,
contribuindo assim com a celeridade processual.

2.5. Honorários dos advogados públicos

A lei passa a reconhecer o direito do advogado público ao recebimento dos


honorários de sucumbência. A disciplina relacionada à divisão entre os Procuradores
públicos será regulada por lei própria.
11

2.6. Dos critérios para fixação dos honorários

Sob a regência do CPC de 1973, questionamentos eram feitos de forma


reiterada acerca de quais seriam os critérios objetivos que pautam a fixação dos
honorários advocatícios de sucumbência pelo Magistrado competente,
especialmente, em relação ao aspecto quantitativo da condenação.
Visando eliminar tais questionamentos e qualquer grau de subjetividade acerca
do tema, o Novo CPC apresenta critérios objetivos para balizar a fixação dos
honorários de sucumbência, estabelecendo limites mínimos e máximos a serem
respeitados em relação aos valores.
Tais limites gravitam em função da condenação imposta contra a parte
perdedora da ação pela sentença ou a partir do proveito econômico obtido. Apenas
no caso de não ser possível mensurar tal proveito econômico é que o Novo Código
autoriza a utilização do valor atualizado da causa como base de cálculo.
Estabelecidas as bases de cálculo, os percentuais a serem aplicados oscilam
entre o mínimo de 10% (dez por cento) e o máximo de 20% (vinte por cento). Para se
alcançar tal percentual, serão observados os seguintes parâmetros (art. 85, § 2º): grau
de zelo profissional; o local da prestação de serviços; a natureza e a importância da
causa; o trabalho desempenhado pelo advogado e o tempo exigido para a prestação
dos seus serviços.
Foi praticamente rechaçada a adoção da equidade como critério de fixação, ao
contrário do que ocorria sob a vigência do Código anterior. Apenas nos processos em
que a causa for de valor inestimável, muito baixo, ou mesmo irrisório o proveito
econômico obtido é que o Juiz poderá arbitrar o valor devido a partir de apreciação
equitativa, pautado pelos critérios elencados pelo § 2º do art. 85 do Novo Código, em
clara tentativa legislativa de se evitar o aviltamento da verba honorária (art. 85, § 8º).
As particularidades e prerrogativas outorgadas legalmente à Fazenda Pública
também estão presentes em relação aos honorários advocatícios. As principais
novidades do Novo Código nesse particular são, especialmente, a adoção de um
critério único de cálculo para todas as causas em que a Fazenda Pública litigue,
aplicáveis para todas as partes envolvidas; o fim do critério da equidade, passando-
se a adotar percentuais sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
pela parte vencedora da demanda, observando-se o escalonamento de valores e
12

percentuais estabelecidos pelo § 3º do art. 85 do CPC. Evidentemente, a aplicação


de tais critérios exige a liquidação da sentença.
Sobre a base de cálculo a ser utilizada, também vale destacar a regra do § 3º
do art. 85, sendo que o salário mínimo a ser considerado para fins de definição do
escalonamento de valores e percentuais estabelecidos pelo § 3º do art. 85 do CPC
será o vigente à época em que a sentença líquida for proferida, ou daquela proferida
em sede de liquidação.
Preservando o valor da verba honorária mesmo diante do decurso do tempo e
de casos de mora, haverá a incidência de correção monetária e juros moratórios. O
termo inicial para a contagem destes é a data do trânsito em julgado da decisão que
estabelecer a condenação ao pagamento da verba advocatícia, desde que a
condenação seja fixada em quantia certa.
Diante de sucumbência recíproca, o cálculo dos honorários observará a
proporção em que cada parte saiu vitoriosa do processo, sendo vedada a
compensação de valores, como visto. Afinal, tratam-se de créditos de titularidade
exclusiva dos Procuradores, não podendo as partes transacionarem sobre a verba
honorária sem a anuência dos titulares de tais valores, no caso, os advogados. A ideia
é inerente à noção de autonomia do direito do advogado aos honorários.
No caso de litisconsórcio entre as partes que sucumbiram na demanda, essas
irão responder, proporcionalmente, pelo valor dos honorários, em consonância com o
art. 87 do CPC.

3. CONCLUSÃO

Conforme o exposto, conclui-se que o Novo Código de Processo Civil é um


marco para a advocacia, especialmente, em razão da nova disciplina legal
concernente aos honorários advocatícios de sucumbência.
Há várias conquistas a serem celebradas. A maior e mais louvável,
indubitavelmente, decorre de uma notável preocupação de se estabelecer critérios
objetivos aptos a pautarem a obrigação legal dos Magistrados de fixarem o valor da
verba honorária. Coube ao Código, por diploma legal próprio, instituir procedimento
objetivo sobre a questão. Não há mais espaço para subjetividade no trato do tema. O
13

Novo Código, portanto, almeja segurança jurídica no momento da fixação dos


honorários.
O legislador esteve também atento às principais discussões sobre a matéria
alvo de apreciação de nossas Cortes, bem como aos principais entendimentos
jurisprudenciais sobre o assunto. A pretensão do NCPC, novamente, é a de promover
a segurança jurídica e sepultar antigas discussões e disputas acerca dos honorários.
Há mais garantias e instrumentos que asseguram a autonomia do direito do
advogado aos honorários, além de prerrogativas asseguradas à verba honorária.
Portanto, a nova disciplina legal introduzida a partir do Novo Código de
Processo Civil é de suma importância para os advogados, pois institui regras e
procedimentos salutares em relação à problemática dos honorários, valorizando a
profissão que é indispensável à administração da justiça, conforme previsão
constitucional17.

4. BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 03
jun. 2013.

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869.htm>. Acesso em: 30
nov. 2016.

BRASIL. Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia


e a Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8906.htm >. Acesso em: 30 nov. 2016.

“Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e
17

manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.”


14

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível


em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 30 nov. 2016.

BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.


Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Volume II. 27º edição.
Rio de Janeiro: Editora Forense, 2015.

DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil. Volume .2. 4ª edição.
Salvador: Editora Juspodivm, 2009.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria Geral


do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum.
Volume III. 47. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria
Geral dos Contratos. São Paulo: Editora Atlas, 2010.

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