Você está na página 1de 9

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 720.290 - PR (2005/0005691-6)

RELATOR : MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO


RECORRENTE : BANCO BOAVISTA INTERATLÂNTICO S/A
ADVOGADO : DORIVAL PADUAN HERNANDES E OUTROS
RECORRENTE : SÉRGIO ANTÔNIO MEDA (REC. ADESIVO)
ADVOGADO : SÉRGIO ANTÔNIO MEDA (EM CAUSA PRÓPRIA) E OUTROS
RECORRIDO : OS MESMOS
EMENTA

Honorários de advogado: compensação e termo inicial dos juros


moratórios.
1. Não se há de falar em compensação, sob a guarida do art. 21 do
Código de Processo Civil, quando se trate de créditos de outra natureza e,
ainda, em ações diversas.
2. O termo inicial dos juros moratórios relativos aos honorários de
advogado impostos sobre o valor da causa é a data da citação do
executado no processo de execução.
3. Recursos especiais não conhecidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, não conhecer dos recursos especiais, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Castro Filho, Humberto Gomes de Barros e
Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 9 de março de 2006 (data do julgamento).

MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO


Relator

Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 720.290 - PR (2005/0005691-6)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO:


Banco Boavista Interatlântico S.A. e Sérgio Antônio Meda interpõem
recursos especiais, o primeiro com fundamento nas alíneas "a" e "c" e o segundo com
fundamento na alínea "c" do permissivo constitucional, contra acórdão da Segunda
Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná, assim ementado:

"APELAÇÃO (1). EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL.


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1) JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA.
POSSIBILIDADE. 2) LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NÃO
CARACTERIZAÇÃO.
1. Não obstante omissos o título judicial exeqüendo e a
petição inicial executiva, a incidência dos juros moratórios é obrigatória,
porquanto decorre de lei e visa penalizar o devedor pelo não cumprimento
de obrigação de pagamento (STF, Súmula 254), devendo, no caso dos
autos, incidir a contar da citação (CPC, art. 219). (PROVIDO)
2. Incabível a aplicação da pena por litigância de má-fé
quando a parte vem a juízo para postular por um direito que razoavelmente
julgou ter.
RECURSO (1) CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO.

APELAÇÃO (2). EMBARGOS A EXECUÇÃO. 1) AGRAVO


RETIDO. ILEGITIMIDADE ATIVA AFASTADA. EXIBIÇÃO DO
CONTRATO DE HONORÁRIOS. DESNECESSIDADE. 2) DO MÉRITO.
2.1) VERBA SUCUMBENCIAL. COMPENSAÇÃO. PROCESSOS
DISTINTOS. IMPOSSIBILIDADE. 2.2) NOVO ESTATUTO DA OAB.
APLICABILIDADE. 2.3) CORREÇÃO MONETÁRIA. APLICAÇÃO DO
CRITÉRIO 'PRO RATA TEMPORIS'. 2.4) VERBA HONORÁRIA.
ELEVAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
I. Agravo retido:
I.1. O acórdão substitui a sentença (CPC, art. 512) e quando
da sua lavratura já se encontrava em vigor o novo Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil - Lei 8.906/94, o qual, como lei nova, estava apto
para ser aplicado em segundo grau, eis que direito superveniente (CPC,
art. 462). Outrossim, considerando-se que o trânsito em julgado da
decisão exeqüenda deu-se em data posterior à da edição do novo EOAB,
afastou-se a incidência da lei antiga - Lei 4.215/63, segundo a qual era
imprescindível a apresentação do contrato de honorários para o
recebimento da verba de sucumbência pelo advogado - porque na
ausência de convenção em contrário tal se constituía em direito da parte
litigante, destinando-se ao ressarcimento das custas e despesas em face
da causa ajuizada.
Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
I.2. Com a novel legislação, não mais possui o mandante o
direito à percepção da verba honorária definida em sede de condenação
judicial, tornando-se irrelevante, portanto, a juntada aos autos do contrato
de honorários advocatícios.
II. Apelação:
II.1. Se incabível a compensação dos honorários
advocatícios fixados em julgado que distribui reciprocamente a verba de
sucumbência entre as partes, haja vista se constituírem em créditos
autônomos dos advogados, ex vi do art. 23 do EOAB, menos cabível
ainda é a compensação se tais despesas forem relativas a processos
distintos, com decisões autônomas, quando não se pode falar em
sucumbência recíproca.
II.2. Tendo em vista que o título judicial exeqüendo foi
constituído posteriormente à edição do EOAB e tendo em vista as
peculiaridades do caso concreto, deve essa legislação ser aplicada à
espécie.
II.3. A atualização do valor da causa deve ser feita a partir
da data do ajuizamento da ação, considerando-se o critério 'pro rata
temporis', de forma a evitar o favorecimento de uma das partes e o
conseqüente prejuízo da outra. (PROVIDO)
II.4. Em se tratando de sucumbência recíproca, as custas
processuais e os honorários advocatícios devem ser distribuídos na
proporção da respectiva vitória ou derrota das partes (CPC, art. 21).
RECURSO (2) CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO" (fls. 395 a 397).

Sustenta o primeiro recorrente violação dos artigos 20 e 21 do Código de


Processo Civil e 23 da Lei nº 8.906/94 (EOAB), haja vista que a "verba honorária (...)
não constitui crédito exclusivo do advogado. Ela visa, antes de tudo, o restabelecimento
de uma diminuição patrimonial que a parte pode sofrer ao ser demandado injustamente,
ou na eventualidade de ter sido obrigado a exigir a tutela do Estado para salvaguarda de
seu direito" (fl. 424), e que, "para que o advogado tenha condições de usar o seu direito
autônomo de cobrar a verba honorária que foi conferida ao seu cliente na sentença,
através da 'cessio legis'; 'translatio'; substituição de direito de crédito ou qualquer outra
denominação que se queira dar a 'distrazione', antes de tudo o seu constituinte deve ser
o vencedor, e ter o crédito a ser transferido ao seu patrono" (fl. 426).
Aduz que "pela r. decisão transitada em julgado ficou bem determinado
que o cliente do embargante, foi quem decaiu na maior parte da condenação ao
pagamento do débito original e pela sucumbência recíproca" (fl. 427) e que não se
deve argumentar que a "compensação não possa aqui ser argüida porque são ações
distintas e não conexas e que verba honorária da Ação Ordinária não pode ser

Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 3 de 4
Superior Tribunal de Justiça
compensado com os demais créditos do Apelante em outras ações" (fl. 427).
Aponta dissídio jurisprudencial, colacionando julgados, também, desta
Corte.
Aponta o segundo recorrente dissídio jurisprudencial, colacionando
julgados, também, desta Corte, no sentido de que "os juros moratórios na execução de
título judicial, contam-se da data sentença, pois data da constituição do crédito e que
coincide com a data da mora do executado, até por força do artigo 508 do CPC e
também por força do artigo 407 do Código Civil" (fl. 455), e que "o próprio Banco, na
inicial dos embargos propusera que os juros contassem da data do início da ação em
que se prolatou a sentença em execução. Portanto, antes até da citação" (fl. 455).
Contra-arrazoados (fls. 485 a 494 e 496 a 500), os recursos especiais
(fls. 421 a 445 e 449 a 456) foram admitidos (fls. 502 a 504).
É o relatório.

Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 4 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 720.290 - PR (2005/0005691-6)

EMENTA

Honorários de advogado: compensação e termo inicial dos juros


moratórios.
1. Não se há de falar em compensação, sob a guarida do art. 21 do
Código de Processo Civil, quando se trate de créditos de outra natureza e,
ainda, em ações diversas.
2. O termo inicial dos juros moratórios relativos aos honorários de
advogado impostos sobre o valor da causa é a data da citação do
executado no processo de execução.
3. Recursos especiais não conhecidos.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO:


O banco recorrente ajuizou embargos à execução de sentença alegando
inépcia da inicial por falta de documento essencial, falta de interesse de agir e
inexigência de título.
A sentença julgou procedentes, em parte, os embargos para determinar a
exclusão dos juros moratórios na atualização do valor da causa e, por conseguinte, no
cômputo dos honorários de advogado objeto da execução. Determinou o Juiz novo
cálculo do valor da causa, indicando os índices de atualização.
Os embargos declaratórios do exeqüente foram rejeitados.
O Tribunal de Justiça do Paraná proveu a apelação do exeqüente ao
fundamento de que a omissão na indicação dos juros moratórios não justifica a sua
exclusão, afastando a preliminar de ilegitimidade do advogado para postular seus
honorários. Em seguida, afastou a possibilidade de compensação dos honorários,
embora reconhecendo que há precedentes desta Corte e do próprio Tribunal local em
sentido contrário, acolheu a impugnação da instituição financeira de que deve ser
adotado o critério pro rata para os três dias do mês de maio para atualização do valor

Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 5 de 4
Superior Tribunal de Justiça
da causa.
O especial da instituição financeira tem por objeto admitir a compensação
dos honorários de advogado. A postulação alcança as ações de execução extrajudicial
e ordinária de nulidade entre as mesmas partes, com base nos mesmos contratos, que
tramitaram paralelamente. Afirma que, não tem fundamento o julgado quando entendeu
que o estatuto dos advogados teria revogado o art. 21 do Código de Processo Civil.
Assim, pensa a recorrente que a autonomia conferida ao advogado não lhe dá o direito
de exigir do banco a verba em que foi perdedor, "sem a necessária compensação da
verba da qual foi o vencedor" (fl. 424). Sustenta o especial que não se pode
"argumentar que compensação não possa aqui ser argüida porque são ações distintas
e não conexas e que verba honorária da Ação Ordinária não pode ser compensada
com os demais créditos do Apelante em outras ações" (fl. 427). Deste modo,
prossegue o banco recorrente, "a própria Execução foi distribuída por dependência ao
juízo da Cautelar e Anulatória e, existindo pluralidade de demandas, onde ocorrem
mútuas sucumbências, é de meridiano entendimento que deve haver a compensação
de despesas, porque não se justifica que uma parte que tenha patrimônio seja lesada
ante a impossibilidade de receber verba idêntica daquele que nenhum patrimônio
possui" (fl. 427).
O exeqüente, ao que se verifica dos autos, foi advogado de cliente do
banco, com este litigando em algumas demandas, além da ação cautelar e da ação
ordinária de nulidade, em que apensada a execução. A alegação do banco é no sentido
de que existem créditos e débitos recíprocos, sendo "evidente que sobra ao
Embargante quantia bem superior à verba honorária aqui indevidamente postulada e
que será absorvida pela compensação" (fl. 7).
Creio que o banco recorrente não tem razão. A compensação dos
honorários é possível e cabe ao advogado executar o saldo remanescente. Mas não me
parece razoável entender que crédito do banco no tocante ao seu cliente possa ser
utilizado para compensar a verba honorária que foi fixada em favor do advogado
exeqüente. São coisas distintas. Não faz tempo que esta Terceira Turma decidiu ser
"inadmissível a compensação dos honorários advocatícios, objeto desta execução,
com os créditos existentes entre o banco e as empresas que se utilizaram dos serviços
profissionais dos exeqüentes" (REsp nº 541.308/RS, Relator para o acórdão o Ministro
Castro Filho, DJ de 8/3/04). Em outra ocasião, esta Terceira Turma (REsp nº
Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 6 de 4
Superior Tribunal de Justiça
613.125/PR, de minha relatoria, DJ de 6/6/05) decidiu não ser caso da aplicação do art.
21 do Código de Processo Civil quando alcança compensação de créditos oriundos de
ações diversas. Assim, a pretensão do banco de que poderia haver compensação entre
créditos, incluídos honorários de ações diversas não encontra eco em precedente desta
Corte. A compensação pode dar-se entre os honorários devidos pelas partes, mas não
pode alcançar honorários devidos em diversas ações ou créditos outros obtidos em
relação ao mérito do julgado.
O especial adesivo é sobre a questão dos juros moratórios que o
exeqüente pretende sejam devidos desde a prolatação da sentença exeqüenda e não da
citação do banco na execução. No precedente apresentado pelo recorrente proferi
voto-vista indicando que, no caso, "a própria embargante, ora recorrente, pleiteia a data
de 03/5/95, não me parecendo possível que seja computada data ainda mais favorável,
ou seja, 18/11/96, como indicado no voto do eminente Ministro Ari Pargendler, sob
pena de julgamento ultra petita" (REsp nº 327.708/SP, Relatora para o acórdão a
Ministra Nancy Andrighi, DJ de 24/2/03). Em precedente também desta Terceira
Turma, Relator o Ministro Ari Pargendler (REsp nº 275.685/MG, DJ de 27/11/2000),
ficou assentado que os "honorários de advogado devidos pelo autor da ação, em razão
da improcedência desta, só rendem juros quando forem liquidados por sentença
judicial, tal qual dispõe o artigo 1.064 do Código Civil; não a partir da citação no
processo de conhecimento, que só constitui em mora o réu (CPC, art. 219, caput)". Os
juros, naquele caso, como destacou o Relator, "só incidem a partir do momento em que
os honorários de advogado forem liquidados por sentença judicial, tal qual dispõe o
artigo 1.064 do Código Civil".
No caso, embora exista divergência quanto ao percentual, o acórdão
menciona 20% e o especial 15% (fls. 417 e 453), os honorários foram fixados sobre o
valor da causa. Não me parece que sejam ilíquidos, dependendo de meros cálculos
aritméticos, corrigido o valor apurado desde o ajuizamento da ação.
Portanto, tenho que a melhor orientação é a de que os juros moratórios
relativos aos honorários sejam calculados quando a fixação for sobre o valor da causa,
da data em que fixados, no caso, a data da sentença.
Creio que deve prevalecer a orientação fixada pelo julgado. É que não se
pode afirmar que há mora antes de deflagrada a execução. Até que tal ocorra ainda não
existe a obrigação de pagar os honorários. Com isso fica preservado o precedente da
Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 7 de 4
Superior Tribunal de Justiça
Corte antes mencionado que indicou o momento de liquidação como termo inaugural
para a contagem dos juros.
Em conclusão, não conheço dos recursos.

Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 8 de 4
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2005/0005691-6 REsp 720290 / PR

Números Origem: 12698 19698 2165328 673361

PAUTA: 07/03/2006 JULGADO: 09/03/2006

Relator
Exmo. Sr. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO
Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HENRIQUE FAGUNDES
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO BOAVISTA INTERATLÂNTICO S/A
ADVOGADO : DORIVAL PADUAN HERNANDES E OUTROS
RECORRENTE : SÉRGIO ANTÔNIO MEDA (REC. ADESIVO)
ADVOGADO : SÉRGIO ANTÔNIO MEDA (EM CAUSA PRÓPRIA) E OUTROS
RECORRIDO : OS MESMOS

ASSUNTO: Civil - Contrato - Bancário - Abertura de Crédito

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, não conheceu dos recursos especiais, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Castro Filho, Humberto Gomes de
Barros e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 09 de março de 2006

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO


Secretária

Documento: 611631 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 08/05/2006 Página 9 de 4

Você também pode gostar