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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 652.697 - RJ (2004/0053871-4)

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA


RECORRENTE : UNIÃO
RECORRIDO : NELSON ALVES VIEIRA E OUTROS
ADVOGADO : HAYDEE FIGUEIREDO DA CÂMARA

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de recurso


especial com base no art. 105, inciso III, alíneas "a" e "c" da Constituição Federal, interposto pela União
Federal, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que teve a seguinte ementa:

"PROCESSUAL CIVIL - EXTINÇÃO - FGTS - VALOR DA CAUSA -


AUTENTICAÇÃO DE DOCUMENTOS.
I - O prazo concedido para a parte recorrer não significa que possa ela
interpor mais de um recurso ou o mesmo recurso duas vezes.
II - Incabível a extinção do feito no que tange ao valor da causa.
III - A autenticação de documentos apresentados por cópia só é imprescindível
quando a parte contrária suscitar dúvida quanto a sua autenticidade, conforme
precedentes do eg. STJ (EREsp n. 97.0110901/SP, DJ 22/6/98, p.4; EREsp n.
96.0083751/SP, DJ 25/8/97, p. 39376; EREsp n. 96.0101422/RS, DJ 24/3/97, p. 9026).
IV - Apelo provido para cassar a sentença" (fl. 61).

A União alega que houve negativa de vigência, por parte do acórdão recorrido, aos arts.
259 e seguintes, 282, inciso V, e 284, todos do Código de Processo Civil-CPC. Sustenta a possibilidade
do juiz requisitar ex officio a alteração do valor da causa e, caso a parte autora quede inerte, extinguir
o processo sem julgamento do mérito, com fulcro no art. 267 do CPC.

Por fim, aduz divergência jurisprudencial e defende a reforma do acórdão a quo para
manter a sentença de 1º grau.

Nas contra-razões o recorrido afirma que, por ser de direito e merecido, o acórdão a quo
deve prevalecer.

Admitido o recurso especial na origem, subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 652.697 - RJ (2004/0053871-4)

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. VALOR DA CAUSA. DISCREPÂNCIA DO REAL


VALOR ECONÔMICO. DETERMINAÇÃO DO PROCEDIMENTO A SER SEGUIDO.
SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. POSSIBILIDADE DO MAGISTRADO REQUERER DE
OFÍCIO SUA ALTERAÇÃO. PRECEDENTES.
1. Conforme a redação do art. 261, caput e parágrafo único, o valor da causa
constante da petição inicial somente será alterado quando impugnado pela da parte adversa.
2. Entretanto, firmou-se nesta Corte o entendimento de que quando o valor
ponderado pelo autor encontrar-se em patente discrepância com o real valor econômico da
demanda e isto implicar em possíveis danos ao erário ou a adoção de procedimento
inadequado ao feito, deve o magistrado requerer ex officio a modificação do valor da causa.
Precedentes.
3. Recurso especial provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Presentes os requisitos de


admissibilidade, conheço do presente recurso especial pelas alíneas "a" e "c".

Ab initio, cumpre observar que a redação do art. 261 e de seu parágrafo único levam à
conclusão de que o valor da causa ponderado pelo autor na petição inicial (art. 282, V, do CPC)
somente pode ser alterado quando impugnado na contestação pela parte contrária. Confira-se a
literalidade do dispositivo legal sobredito:

"Art. 261. O réu poderá impugnar, no prazo da contestação, o valor atribuído à


causa pelo autor. A impugnação será autuada em apenso, ouvindo-se o autor no prazo
de 5 (cinco) dias. Em seguida o juiz, sem suspender o processo, servindo-se, quando
necessário, do auxílio de perito, determinará, no prazo de 10 (dez) dias, o valor da causa.

Parágrafo único. Não havendo impugnação, presume-se aceito o valor


atribuído à causa na petição inicial".

Todavia, diante das conseqüências que o valor da causa acarreta no andamento do feito, já
que é fator determinante do rito a ser seguido, esta Corte vem admitindo que o magistrado determine ex
officio sua alteração nas hipóteses em que estiver em patente desacordo com o real valor do bem
jurídico demandado, a fim de evitar burlas ao erário e às normas do procedimento.

No despacho em que ordena ao autor a alteração do valor da causa, assim consigna o juiz
de 1ª instância:

"Atribua o autor valor à causa condizente com o rito e autentique


documentação acostada à inicial, em 10 dias, sob pena de extinção" (fl. 24).
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Inobstante o despacho acima transcrito, inclusive reiterado, a parte autora quedou-se inerte
e não alterou o valor da causa. Cabe ao magistrado agir de tal forma quando perceber evidente
discordância entre os valores supracitados, uma vez que as normas referentes ao valor da causa são de
ordem pública, devendo, portanto, requerer de ofício sua modificação.

Confiram-se os seguintes precedentes desta Corte:

"PROCESSO CIVIL - VALOR DA CAUSA - ALTERAÇÃO DE OFÍCIO -


IMPOSSIBILIDADE - HIPÓTESE EXCEPCIONAL NÃO VERIFICADA.
1. O art. 261 do CPC estabelece que o valor da causa somente pode ser
alterado compulsoriamente por provocação do réu.
2. Admite-se a modificação ex officio do valor da causa em casos
excepcionais, não configurados nos autos.
3. Recurso improvido" (REsp nº 594.255, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ
29.11.2004);

"RECURSO ESPECIAL. USUCAPIÃO. ARTIGO 261 DO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL. FIXAÇÃO DO VALOR DA CAUSA DE OFÍCIO PELO
MAGISTRADO. QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA.
As regras sobre o valor da causa são de ordem pública, podendo o magistrado,
de ofício, fixá-lo quando for atribuído à causa valor manifestamente discrepante quanto
ao seu real conteúdo econômico. Precedentes.
Recurso especial não conhecido" (REsp nº 55.288, Rel. Min. Castro Filho, DJ
14.10.2002).

Neste REsp nº 55.288, o Min. Castro Filho assim assevera em seu voto:

"Encontra-se assentado na jurisprudência deste Tribunal que o juiz pode


proceder à retificação do valor da causa quando o critério de fixação estiver previsto na
lei ou quando a atribuição constante da inicial constituir expediente do autor para desviar
a competência, o rito procedimental adequado ou alterar a regra recursal (RESp nº
231.363/GO, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 30/10/2000, AGA nº
240.661/GO, Rel Min. Waldemar Zveiter, e REsp nº 154.991/SP, Rel. Min. Barros
Monteiro, DJ de 09/11/98)".

O Tribunal a quo entendeu que não pode o magistrado determinar de ofício alteração no
valor da causa, cabendo-lhe aguardar a impugnação da parte contrária. Como se vê, tal entendimento
colide com a jurisprudência desta Corte, não obstante o prolator do voto na instância ordinária seja uma
das mais autorizados doutrinadores do processo civil, o Desembargador Federal J. E. Carreira Alvim.

Ademais, admitindo-se que o magistrado pode ordenar ex officio a alteração do valor da


causa em situações excepcionais e que deste modo entendeu o magistrado de 1ª instância, mudar tal
entendimento implicaria revolver matéria fático-probatória, o que encontra óbice na Súmula 07/STJ.

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Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial.

É como voto.

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