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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ACRE

Tribunal de Justiça - Segunda Câmara Cível

Acórdão n. : 7.684
Classe : Agravo de Instrumento n. 1000785-93.2019.8.01.0900
Foro de Origem : Rio Branco
Órgão : Segunda Câmara Cível
Relator : Des. Roberto Barros
Agravante : Estado do Acre
Proc. Estado : Fábio Marcon Leonetti (OAB: 28935/SC)
Agravado : Alexandre de Sousa Mendonça
Advogado : Josandro Barboza Cavalcante (OAB: 4660/AC)

Assunto : Direito Processual Civil e do Trabalho


_______________________________________________________________________________

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUIZADO ESPECIAL DE


FAZENDA PÚBLICA E VARA DE FAZENDA PÚBLICA.
COMPLEXIDADE DA DEMANDA. REALIZAÇÃO DE PERÍCIA.
FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA. DECISÃO MANTIDA.
1. A Constituição Federal traz expresso em seu art. 98, I, que aos
juizados especiais competem as causas de menor complexidade,
esta a premissa maior.
2. Com efeito, a Lei Federal n. 12.153/2009 que dispõe sobre os
Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados,
do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios preconiza em
seu art. 2º, não só a competência de demandas até o valor de 60
(sessenta) salários mínimos, excluindo-se as que não são de sua
competência.
3. Embora o valor da causa não ultrapasse os 60 (sessenta)
salários mínimos albergados pela norma, certo é que o próprio
Juízo combatido tratou de consignar em seu decisum que a
demanda tem potencial de complexidade e eventual realização
de perícia médica se revela no mesmo grau dificuldade, o que
afasta, por conseguinte, a incidência do art. 10 da Lei Federal n.
12.153/2009.
4. Diante da eventual necessidade de perícia com contornos de
complexidade dissonantes da simplificação exigida pela Lei dos
Juizados Especiais da Fazenda Pública, entende-se que a ação
em espeque deve permanecer no âmbito da Justiça Comum
Estadual;
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5. Desprovimento do Recurso.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de


Instrumento n. 1000785-93.2019.8.01.0900, ACORDAM os Senhores Desembargadores
da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, negar provimento
ao recurso, tudo nos termos do voto do relator e das mídias digitais arquivadas.

Rio Branco, 08/08/2019.

Desembargadora Waldirene Cordeiro


Presidente

Desembargador Roberto Barros


Relator

RELATÓRIO

O Desembargador Roberto Barros (Relator); Trata-se de Agravo de


Instrumento com pedido de efeito suspensivo, interposto por Estado do Acre em face de
decisão proferida pelo Juízo de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de
Rio Branco, nos autos n. 0701719-08.2019.8.01.0001, proferida nos seguintes termos:

"Os autos já transcorreram neste juízo


normalmente, havendo sido apresentada contestação
(p. 154/170) e impugnação à contestação (p.
174/177).
Sendo assim, este juízo se mostra competente para
julgar a ação, em que pese o valor da causa
indicado na inicial seja inferior a 60 (sessenta)
salários mínimos, pois a demanda tem potencial de
mostrar-se complexa, o que poderá eventualmente
vir a necessitar de perícia médica.
Nesse sentido, determino que a Secretaria agende
audiência de instrução e julgamento para próxima
data desimpedida, ao tempo em que determino a
intimação das partes para o comparecimento.
Na referida audiência serão fixados os pontos
controvertidos sobre os quais incidirão as provas
produzidas, ex vi do disposto no artigo 357,
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inciso V, do Novo Código de Processo Civil.


De acordo com o disposto no artigo 455 do CPC,
caberá ao advogado da parte informar ou intimar a
testemunha por ele arrolada do dia, hora e do
local da audiência designada, dispensando-se a
intimação por este juízo. A intimação deverá ser
realizada por carta com aviso de recebimento,
devendo-se juntar aos autos, com antecedência
mínima de 03 (três) dias da data da audiência,
cópia da correspondência de intimação e do
comprovante de recebimento.
Ao apresentar o rol, a parte pode comprometer-se
a levar a testemunha à audiência,
independentemente da referida intimação. Neste
caso, se a testemunha não comparecer, presumir-se-
á a desistência de sua oitiva.
Por fim, em relação aos novos documentos juntados
pelo réu, frise-se, posteriormente à apresentação
da contestação, analisarei a admissibilidade
destes em audiência. Intime-se. Cumpra-se"

O Agravante noticia que o objetivo da demanda é sua condenação no


valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), a título de danos morais, em razão da
demora na cirurgia somente realizada no Agravado na FUNDHACRE em 04.10.2018,
após ter passando pelo atendimento no Hospital de Urgência e Emergência de Rio
Branco – HUERB, decorrente de um acidente ocorrido em 07.08.2018.
Disse ainda ter apresentado contestação, ocasião em que aventou a
preliminar de mérito, a incompetência absoluta da Vara da Fazenda Pública em razão do
valor da causa ser inferior a 60 salários mínimos e por não haver necessidade de
produção de perícia de natureza complexa.
Insurge-se, dessa forma quanto à decisão que não reconheceu a alegada
incompetência, aduzindo novamente o valor da causa, e fazendo distinção entre
competência absoluta e relativa, e para corroborar sua tese, encarta jurisprudência.
Pontua ainda que "no presente caso, o MM Juízo justificou sua
competência para causa sob a justificativa de, eventualmente, poder haver necessidade
de produção de prova pericial de alta complexidade, o que, em sua percepção, afastaria
a competência do Juizado Especial da Fazenda Pública. Todavia, no presente caso, não
há necessidade de produção de prova pericial, tampouco de perícia complexa."
Sustenta que a causa de pedir da demanda diz respeito unicamente à
demora (58 dias) para realização da cirurgia ortopédica, sem apontar qualquer erro
médico passível de ser avaliado em laudo pericial.
Afirma estarem presentes os requisitos para concessão de efeito

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suspensivo, para ao final requer:


"a) O conhecimento do presente Agravo de Instrumento, eis que
preenchidos todos os requisitos de admissibilidade;
b) A concessão, pelo relator, do EFEITO SUSPENSIVO, tolhendo-se os
efeitos da decisão interlocutória proferida pelo juízo a quo;
c) No mérito, o provimento do recurso para, na forma da fundamentação,
seja reconhecida a incompetência absoluta do MM Juízo a quo com a consequente e
imediata remessa dos autos para o Juizado Especial da Fazenda Pública da Comarca de
Rio Branco-AC."
Em cognição sumária, deferi o vindicado efeito suspensivo (pp. 12/16).
Em contrarrazões, a parte ora Agravada refuta a tese encampada pelo
Agravante quanto à incompetência da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Rio
Branco, ao tempo que requer seja mantida a decisão atacada (pp. 21/25).
Dispensada intervenção da Procuradoria Geral de Justiça, por não
vislumbrar hipóteses de cabimento.
É o relatório.

VOTO

O Desembargador Roberto Barros (Relator): A Constituição Federal, traz


expresso em seu art. 98, I, que aos juizados especiais competem as causas de menor
complexidade, essa a premissa maior:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos


Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes
togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas
cíveis de menor complexidade e infrações penais
de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas
hipóteses previstas em lei, a transação e o
julgamento de recursos por turmas de juízes de
primeiro grau;

Com efeito, a Lei Federal n. 12.153/2009 que dispõe sobre os Juizados

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Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios
e dos Municípios preconiza em seu art. 2º, não só a competência de demandas até o
valor de 60 (sessenta) salários mínimos, mas sobretudo as causas que não são de sua
competência, sendo relevante trazer à colação:

Art. 2o É de competência dos Juizados Especiais


da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar
causas cíveis de interesse dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários
mínimos.
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado
Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de
desapropriação, de divisão e demarcação,
populares, por improbidade administrativa,
execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou
interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados,
Distrito Federal, Territórios e Municípios,
autarquias e fundações públicas a eles
vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a
impugnação da pena de demissão imposta a
servidores públicos civis ou sanções
disciplinares aplicadas a militares.

Pois bem.
Cotejando-se os autos, os dispositivos em menção, vê-se que muito
embora o valor da causa não ultrapasse os 60 (sessenta) salários mínimos, porquanto
fixada em 56.000,00 (cinquenta e seis mil reais), certo é que o próprio Juízo combatido
tratou de consignar em seu decisum que a demanda tem potencial de complexidade e
eventual realização de perícia médica se revela no mesmo grau dificuldade, o que
entendo afasta a incidência do art. 10 da Lei Federal n. 12.153/2009, porquanto a
realização de exames técnicos especificados neste dispositivo, se coaduna com a
pequena complexidade inerente ao próprio sistema dos Juizados.
Nesse diapasão, diante da eventual necessidade de perícia com
contornos de complexidade dissonantes da simplificação exigida pela Lei dos Juizados
Especiais da Fazenda Pública, entendo que a ação em espeque deve permanecer no
âmbito da Justiça Comum Estadual .
Por oportuno, os seguintes precedentes:

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER. JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. VARA
DA FAZENDA PÚBLICA. VALOR DA CAUSA. INFERIOR AO
LIMITE LEGAL. PARTE AUTORA. INCAPAZ. USO ABUSIVO
DE DROGAS. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA. PROVA
PERICIAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA VARA DE FAZENDA
PÚBLICA. 1. A competência dos Juizados Especiais
da Fazenda Pública é absoluta e limitada às
causas cujo valor não exceda 60 (sessenta)
salários mínimos (art. 2º, §§2º e 4º, da Lei nº
12.153/2009). 2. No entanto, sendo a parte ré
relativamente incapaz, por fazer uso abusivo de
drogas, nos termos do art. 4°, II, do Código
Civil, aplica-se o disposto no art. 27 da Lei nº
12.159/2009 c/c art. 8º da Lei nº 9.099/95,
inviabilizando o processamento do feito no
Juizado Especial da Fazenda Pública,
independentemente do valor da causa ser inferior
a 60 (sessenta) salários mínimos. 3. Tendo a
parte autora postulado expressamente em sua peça
inicial a produção de prova pericial,
procedimento complexo que não se coaduna com o
rito célere dos juizados especiais, resta
afastada a competência dos Juizados Especiais da
Fazenda Pública. 4. Conflito negativo de
competência acolhido e declarado competente o
Juízo suscitado, da 3ª Vara da Fazenda Pública.
(destaquei) (TJDFT, Conflito de Competência n.
0700215-65.2019.8.07.9000, 1ª Câmara Cível,
Relatora Desembargadora Gislene Pinheiro, j. Em
27.05.2019, DJe 31.05.2019.

[...] V.V.: CONFLITO DE COMPETÊNCIA - ADICIONAL


DE PERICULOSIDADE - SERVIDOR PÚBLICO -
NECESSIDADE DE PERÍCIA - COMPLEXIDADE DA PROVA -
COMPETÊNCIA DO JUÍZO COMUM - CONFLITO ACOLHIDO.
1. Em que pese a natureza absoluta da
competência em discussão, imperioso salientar
que nos Juizados Especiais da Fazenda Pública só
se admite a realização de exames técnicos de
pequena complexidade, haja vista a necessidade
de adequação ao procedimento célere e
simplificado estabelecido pelo microssistema do
Juizado Especial. 2. Ostentando a prova pericial
requerida complexidade dissonante com o
procedimento ínsito aos juizados especiais,
remanesce ao Juízo Cível Comum a competência
para o julgamento da causa. (TJ-MG - CC:
10000170017180000 MG, Relator: Corrêa Junior,
Data de Julgamento: 12/02/0017, Câmaras Cíveis /
6ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 24/02/2017)

Feitas ponderações pertinentes, e analisando a pretensão jurisdicional, em


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que objetiva a condenação do ente estatal em danos morais, por demora em realização
de cirurgia, eventual perícia médica não enseja óbice ao julgamento pelo Juízo da Vara
da Fazenda Pública da Comarca de Rio Branco
O caso em testilha, apresenta-se dentro dos parâmetros de julgamento na
Vara descrita, não havendo falar em competência do Juízo do Juizado Especial da
Fazenda Pública da Comarca de Rio Branco, mormente quando a demanda já se
encontra em estágio avançado, inclusive, já tendo havido contestação, na iminência da
audiência de instrução e julgamento.
Dessarte, voto pelo desprovimento do recurso, mantendo-se, in totum, a
decisão de primeiro grau. Isento de Custas.
É como voto.

DECISÃO

Conforme consta da Certidão de Julgamento, a decisão foi a seguinte:


_______________________________________________________________________
"DECIDE A SEGUNDA CÂMARA CÍVEL NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO DESEMBARGADOR RELATOR. UNÂNIME".
_______________________________________________________________________

Participaram do julgamento o Des. Roberto Barros (Relator), a Desª.


Regina Ferrari (Membro) e a Desª. Waldirene Cordeiro (Presidente).

Sara Cordeiro de Vasconcelos Silva


Secretária

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