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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 262

Décima Oitava Câmara Cível

APELAÇÃO N° 0127963-03.2011.8.19.0001

Apelante: JAIME DA SILVA MANO JUNIOR


Apelado: CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO GARAGEM SÃO BENTO
Origem: Juízo de Direito da 19ª Vara Cível da Comarca da Capital

APELAÇÃO. Ação de cobrança de cotas condominiais.


Reconhecimento de nulidade da primeira sentença pelo próprio
Juízo de primeiro grau. Descabimento. Coisa Julgada. A correção
do erro material contido no dispositivo do julgado não representa
ofensa à coisa julgada, dado que pode ser corrigido, de ofício, a
qualquer tempo, nos termos do art. 494, I, do CPC (“Publicada a
sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - para lhe corrigir, de ofício
ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou erros de
cálculo”). Interpretação do pronunciamento judicial (CPC, art. 489,
§ 3º). Exclusão do excesso. Prosseguimento da fase executiva que
se impõe. Recurso a que se dá parcial provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e examinados estes autos, ACORDAM os


Desembargadores que compõem a Décima Oitava Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE,
em conhecer e dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto
do Relator.

VOTO DO RELATOR

Com razão o recorrente, em termos.

A sentença recorrida violou a norma fundamental da lei


processual civil, prevista no art. 11 do CPC, o qual reproduz a
disposição constitucional no sentido de que serão fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade (CF, art. 93, IX).

O julgado recorrido desconsiderou os efeitos processuais de


seu próprio pronunciamento. A pretexto de atender ao princípio da
congruência, anulou a sentença anteriormente proferida tão-somente
com o fim de corrigir o período temporal objeto da cobrança das cotas
condominiais.

O pedido formulado na inicial refere-se aos débitos no período


compreendido entre novembro de 2009 e outubro de 2010, acrescidos
de multa e dos consectários legais, assim como as cotas que se
vencerem até o efetivo pagamento. A primeira sentença, contudo,
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CLAUDIO LUIS BRAGA DELL ORTO:14566 Assinado em 30/01/2019 16:52:52


Local: GAB. DES CLAUDIO LUIS BRAGA DELL'ORTO
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condenou o réu a pagar as cotas condominiais vencidas no período de


maio de 2011 a julho de 2010, acrescidas da multa de até 2% sobre o
débito e juros de 1% ao mês, bem como as vincendas no curso do
processo

A matéria, no entanto, poderia haver sido suscitada inclusive


por simples petição, dado que a correção do erro material contido no
dispositivo do julgado não representa ofensa à coisa julgada, certo que
pode ser corrigido, de ofício, a qualquer tempo, nos termos do art. 494,
I, do CPC (“Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - para lhe
corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou
erros de cálculo”).

Nesse sentido, recorde-se a jurisprudência da Corte Superior,


vg:

“PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS. BASE DE CÁLCULO. VALOR


DA CAUSA. MODIFICAÇÃO NA FASE DE CONHECIMENTO.
AUSÊNCIA DE PERCEPÇÃO PELO ÓRGÃO JULGADOR.
EQUÍVOCO EVIDENTE. ERRO MATERIAL. POSSIBILIDADE DE
CORREÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA DE OFENSA À COISA JULGADA.
(...) Erro material é o equívoco evidente, perceptível de plano
por simples análise dos caracteres inscritos nos autos (PET na
APn 603/PR, Rel. p/ Acórdão Ministro Castro Meira, Corte
Especial, DJe 1.2.2012; AgRg no AgRg no Ag 570.489/MG, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
17.8.2006, DJ 12.9.2006, p. 299; EDcl no REsp 793.035/RJ, Rel.
Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ 18.5.2006, p. 208). 6. In
casu, ao fixar a verba sucumbencial em percentual sobre o valor da
causa, referindo-se a este como o montante que já havia sido
modificado na fase de conhecimento, o julgador incorreu em
inequívoco erro material, cuja correção não representa ofensa à
coisa julgada (REsp 888.643/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 17.8.2009; EDcl no REsp
959.338/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Seção, DJe 3.8.2012; EDcl nos EDcl no AgRg no REsp
1.123.830/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 9.11.2010). 7. Recurso Especial parcialmente conhecido e,
nessa parte, não provido. (REsp 1263832/SC Rel. Min.HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 13/03/2013).

Ademais, é vedado ao juiz, após o exaurimento da função


jurisdicional, inovar no processo a não ser para corrigir inexatidão
material ou corrigir erro de cálculo, tal como acima esclarecido, dado
que a primeira sentença já transitou em julgado.

Iniciada a fase executiva, as partes suscitaram diversas

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questões que sequer foram apreciadas (pastas 192 e 226), sobrevindo a


sentença recorrida que, considerando “a ausência de adstrição entre o
pleito autoral e o bem da vida concedido”, reputou anulada a sentença
anteriormente proferida assim como todos os atos posteriores o que, por
evidente, descabe.

Não obstante, o art. 489, § 3º, do CPC estabelece que “a


decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os
seus elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé”.

Em atenção ao princípio da boa-fé, a impor a proteção da


legítima confiança dos sujeitos que participam do processo, assim como
ao princípio da razoável duração do processo, deve ser mantido o
capítulo do pronunciamento judicial que corrige o erro material contido
no dispositivo do julgado já transitado em julgado, anulando-se tão-
somente o capítulo da decisão que anula a primeira sentença e todos os
atos posteriores.

Por estas razões, VOTO pelo parcial provimento do


recurso, para anular parcialmente o julgado e determinar o
prosseguimento do feito, como de direito, seguindo-se o
enfretamento das questões suscitadas pelas partes na fase
executiva, observado o devido processo legal, mantido hígido o
capítulo do pronunciamento judicial que reconhece o erro material
contido no dispositivo do julgado transitado em julgado
concernente ao período de cobrança do débito condominial.

Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 2019.

CLÁUDIO DELL´ORTO
DESEMBARGADOR RELATOR

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