Você está na página 1de 18

ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA GERAL FEDERAL


PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

EXMO(A). SENHOR(A) DESEMBARGADOR(A) FEDERAL VICE-PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

PROCESSO ELETRÔNICO

O INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS,


autarquia federal, representada pela Procuradoria-Geral Federal, nos autos em
epígrafe, por seu Procurador Federal in fine assinado, vem, respeitosamente, à
presença de V. Ex.ª, interpor AGRAVO em face da r. decisão que não admitiu o
recurso especial da autarquia, passando a sustentá-los pela maneira seguinte.

Requer seja admitido e remetido, com as anexas razões, ao C.


Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos próprios autos, a teor do art. 1042 do
CPC.
Termos em que,
Pede deferimento.

Porto Alegre, (data do evento eletrônico).

Carlos Alberto Koakoski


Procurador Federal
Matrícula 1.311.795
OAB/RS 49.068

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RAZÕES DE AGRAVO

1. BREVE RESUMO DOS FATOS

Data maxima venia, não pode conformar-se o agravante com


a decisão guerreada pelos fundamentos a seguir expostos.

Trata o presente Recurso Especial do inconformismo do


INSS quanto ao acórdão prolatado do E. Tribunal Regional Federal no tocante à
concessão de aposentadoria por idade rural à parte autora, nada obstante a
ausência de prova material do labor rural no período de carência.

O INSS buscou a reforma de tal decisão, face à afronta ao


artigo 55, § 3º, da Lei nº 8.213/91, que restou inadmitido sob o
fundamento de que, no caso em tela, a decisão recorrida está em
conformidade com a jurisprudência do E. STJ, sendo que, além disso, o
conhecimento do recurso ensejará no reexame do conjunto probatório.

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

Com a devida vênia, é clara a usurpação de competência com


tal decisão, conforme será demonstrado a seguir.

2. PRELIMINARES:

2.1 DA NÃO INCIDÊNCIA DA UNIRRECORRIBILIDADE

Por cautela, cabe advertir que o fato de terem sido


interpostos dois recursos contra o mesmo ato não atrai, no caso, o óbice do
princípio da unirrecorribilidade, visto que cada recurso ataca uma decisão
distinta e que o recurso cabível para uma é de espécie diversa do cabível para
outra. Conforme o CPC/2015, art. 1.030 ...

“§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com


fundamento no inciso V caberá agravo ao tribunal superior,
nos termos do art. 1.042.

§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III


caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021.”

No caso dos autos, o Excelentíssimo Vice-Presidente proferiu


decisões de ambas as espécies no mesmo ato, cabendo contra cada uma o
recurso adequado.

A matéria própria de um recurso não pode ser tratada em


outro. A unirrecorribilidade, nesse caso, impede apenas a interposição de dois
recursos contra a mesma decisão (v. AgRg no AREsp n. 624.720/SC). Por
exemplo, contra a decisão que declarou o recurso prejudicado. Não há óbice à

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

interposição de dois recursos contra um mesmo ato que contenha duas decisões
de espécies diversas, cada uma sujeita a um recurso distinto.

Por essa razão, aliás, o STJ cindiu o AREsp 972.722/MG em


dois recursos: converteu parte dele em agravo regimental e deu prosseguimento
a outra parte como agravo em recurso especial.

Por fim, o momento para a interposição de ambos os recurso


é o mesmo, pois, se tratando de decisões recorríveis, a ausência de impugnação
geraria preclusão. Nesse sentido:

“A admissão de que pudesse ficar ao talante da recorrente


manejar imediatamente agravo em recurso especial,
quando pendente matéria que deve ser impugnada via agravo
interno junto ao Tribunal de origem, significaria admitir que
permanecesse sem adequada impugnação fundamento que
ensejou a inadmissão do recurso especial. (AgRg no AREsp
624.720/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 28/08/2015).”

2.2. NÃO INCIDÊNCIA DA UNIRRECORRIBILIDADE

Por cautela, cabe advertir que o fato de terem sido


interpostos dois recursos contra o mesmo ato não atrai, no caso, o óbice do
princípio da unirrecorribilidade, visto que cada recurso ataca uma decisão
distinta e que o recurso cabível para uma é de espécie diversa do cabível para
outra. Conforme o CPC/2015, art. 1.030 ...

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

“§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com


fundamento no inciso V caberá agravo ao tribunal superior,
nos termos do art. 1.042.

§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III


caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021.”

No caso dos autos, o Excelentíssimo Vice-Presidente


proferiu decisões de ambas as espécies no mesmo ato, cabendo contra cada uma
o recurso adequado.

A matéria própria de um recurso não pode ser tratada em


outro. A unirrecorribilidade, nesse caso, impede apenas a interposição de dois
recursos contra a mesma decisão (v. AgRg no AREsp n. 624.720/SC). Por
exemplo, contra a decisão que declarou o recurso prejudicado. Não há óbice à
interposição de dois recursos contra um mesmo ato que contenha duas decisões
de espécies diversas, cada uma sujeita a um recurso distinto.

Por essa razão, aliás, o STJ cindiu o AREsp 972.722/MG em


dois recursos: converteu parte dele em agravo regimental e deu prosseguimento
a outra parte como agravo em recurso especial.
Por fim, o momento para a interposição de ambos os
recurso é o mesmo, pois, se tratando de decisões recorríveis, a ausência de
impugnação geraria preclusão. Nesse sentido:

“A admissão de que pudesse ficar ao talante da recorrente


manejar imediatamente agravo em recurso especial,
quando pendente matéria que deve ser impugnada via agravo
Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

interno junto ao Tribunal de origem, significaria admitir que


permanecesse sem adequada impugnação fundamento que
ensejou a inadmissão do recurso especial. (AgRg no AREsp
624.720/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 28/08/2015).”

3. DO MÉRITO.

3.1. AUSÊNCIA DE PROVA METERIAL DO EXERCICIO DE


LABOR RUAL EM REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR NO PERÍODO DE
CARÊNCIA. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 55, § 3º, DA LEI 8.213/91. NÃO
INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO DA SÚMULA 07 DO E.STJ.

O impedimento destacado pela Súmula 7 do STJ – A


pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial – foi herdado
de enunciado equivalente tradicionalmente aplicado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF), de número 279, o qual dispõe de modo análogo que, para simples
reexame de prova não cabe recurso extraordinário.

Entretanto, o mero reexame da prova não pode ser


confundido com valoração e admissibilidade da prova, que são questões
diferentes e que ensejam, sem dúvida, a interposição de recurso especial.

Desde longa data, a interpretação dada pelo STJ considera


essa diferença, ou seja, é admissível o recurso especial contra acórdão que
contraria um princípio ou uma regra jurídica no campo probatório, pois tal
situação não se equivale ao simples reexame de prova (REsp 17144/BA, Rel.

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em


12/05/1992, DJ 08/06/1992, p. 8622), como na esclarecedora decisão a seguir
transcrita:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – CONVOLAÇÃO DE


AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RESP - JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE - DECISÃO DO RELATOR - FUNÇÃO
CONSTITUCIONAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA –
VALORAÇÃO E REAPRECIAÇÃO DE PROVA – INCIDÊNCIA DE
ICMS NA IMPORTAÇÃO DE MERLUZA – MATÉRIA
CONTROVERTIDA NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS – SÚMULA
07/STJ – ALEGAÇÃO DE OFENSA A PRECEITOS
CONSTITUCIONAIS.

1. Convolado o agravo de instrumento em recurso especial, o


Relator, monocraticamente, concluindo pela inadmissibilidade
do especial, pode negar-lhe seguimento, nos termos do art.
557 do CPC.

2. Não é o Superior Tribunal de Justiça terceira instância,


sendo sua função constitucional uniformizar a interpretação
da legislação federal, preservando sua correta aplicação,
motivo pelo qual o recurso especial reveste-se de tecnicidade,
cujas hipóteses de admissibilidade estão previstas no art. 105,
inciso III da CF/88, devendo ser observados os pressupostos
recursais genéricos e específicos para sua admissão.

3. A valoração da prova refere-se ao valor jurídico desta,


sua admissão ou não em face da lei que a disciplina,
podendo ser ainda a contrariedade a princípio ou regra

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

jurídica do campo probatório, questão unicamente de


direito, passível de exame nesta Corte.

4. O reexame da prova implica a reapreciação dos elementos


probatórios para concluir-se se eles foram ou não bem
interpretados, constituindo matéria de fato, soberanamente
decidida pelas instâncias ordinárias, insuscetível de revisão no
recurso especial.

5. As teses em torno da incidência de ICMS na importação de


merluza de país signatário do GATT podem encontrar soluções
diversas nesta Corte, em razão de não estar uniformizado, nas
instâncias ordinárias, soberanas quanto ao exame da prova, o
entendimento quanto à existência ou não de merluza ou
similar desta em território nacional.

6. Inviável a apreciação de matéria constitucional em sede de


Recurso especial.

7. Recurso especial que tece considerações a respeito de


aspectos fáticos e probatórios, ensejando a aplicação da
Súmula 07/STJ.

8. Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp 405967/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON,


SEGUNDA TURMA, julgado em 21/05/2002, DJ 21/10/2002,
p. 357) (grifo nosso).

Dito ainda de outro modo, é preciso distinguir o recurso


excepcional interposto para discutir a apreciação da prova, que não se admite,
daquele que se interpõe para discutir a aplicação do direito probatório, que é
uma questão de direito e, como tal, é passível de controle por esse gênero de

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

recurso (DIDIER JR., F. e CUNHA, L. J. C. da, Curso de Direito Processual Civil, vol.
3, 7ª ed., Salvador: JusPODIVM, 2009, p. 257) (grifo nosso).

A decisão agravada não considerou corretamente a


diferença apontada, especialmente quanto à questão de direito tratada pelo
recurso, a qual merece ser delimitada também em termos teóricos.

“Questão de fato” e “questão de direito” são os termos que


melhor condensam o que pode e o que não pode ser conhecido por juízos
extraordinários. A dificuldade é, justamente, defini-las de modo adequado.

Coube à doutrina explorar essas definições e uma das mais


esclarecedoras é aquela apresentada por Ovídio A. Batista da Silva, que abaixo
se transcreve:

“Buscando um critério que permite uma solução adequada


para a distinção entre uma “questão de fato”, cujo exame seja
vedado ao juízo da cassação, ou em nosso caso, em sede de
recurso extraordinário, e uma “questão de direito” que
envolva valoração da prova e, como tal, admissível nestas
instâncias, GUIDO CALOGERO (La logica
del giudice e il suo controllo in cassazione,1964, nº 52) mostra
que o julgador, ao tratar de estabelecer a existência dos
fatos no processo, age como o historiador que estivesse a
investigar as fontes históricas para descrever os fatos que sua
pesquisa irá indicar como tendo ocorrido. Depois disso – uma
vez determinada a existência dos fatos -, caberá ao julgador
interpretá-los, numa “fase terminal” de sua análise da prova,

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

agora não mais para determinar a pura existência, mas


para qualificar os fatos cuja existência ele dera como
certa e enquadrá-los no esquema legal. Esta
última operação não corresponde mais a uma simples
“questão probatória”, mas equivale, ao contrário, a
uma quaestio iuris capaz de ser apreciada e decidida em
recurso extraordinário” (SILVA, Ovídio A. B., Curso de
Processo Civil, vol.1, 6ª ed., São Paulo: RT, 2003, p. 458).

Dentre as múltiplas questões de direito que se pode


imaginar, é de se destacar a aplicação dos chamados conceitos jurídicos
indeterminados e das cláusulas gerais, ambos pertencentes ao gênero
“conceito vago”. Sobre estes conceitos é possível o controle por meio dos
recursos excepcionais, porque discutir a correta subsunção de determinado
fato ao tipo normativo configura uma questão de direito (DIDIER e CUNHA,
op.cit., p. 258-259).

Se dentre as cláusulas gerais encontramos a boa-fé e a


função social da propriedade, por exemplo, os conceitos jurídicos
indeterminados estão referidos nas próprias súmulas do STJ, como “prova
escrita” apta para ensejar ação monitória (súmulas 247 e 299) e “bem de
família” e “móveis que guarnecem a casa” para fins da Lei 8.009/90, ou “preço
vil” do art. 692 do CPC, o que só vem a confirmar a viabilidade da sua análise
pelas vias excepcionais de impugnação.

No Direito Previdenciário encontramos inúmeros exemplos


de indeterminação, dentre os quais se destacam os de qualidade de segurado
(art. 15 da Lei 8.213/91 – LB), incapacidade laborativa (arts. 20 § 1º, 21-A, 23,

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

42 caput e § 1º, 43 § 1º, 59 caput e par. único, todos da LB), miserabilidade, ou


de não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por
sua família (art. 20, caput, Lei 8.742/93 – LOAS) ou, como no caso dos autos,
início de prova material para comprovação do exercício de atividade rural
(art. 55, 3º, LB).

Tendo em conta tais aspectos, é forçoso concluir que a


inadmissão do recurso no presente caso foi evidentemente equivocada, isto

porque a defesa oposta pelo INSS versou


sobre a extemporaneidade do início de prova material
em relação ao período legal necessário de comprovação
(carência) do tempo rural que a parte pretende ver

reconhecido judicialmente, ou seja, nenhuma das


provas anexadas aos autos são
contemporâneas ao período de carência
exigido.

A extemporaneidade é um aspecto objetivo e incontroverso


no acórdão recorrido, situação que diferencia o caso do impedimento referido
no AgRg no REsp 134999/GO.

Não se trata, portanto, de simples reexame de


prova o que o recurso está suscitando, mas sim a correta

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

aplicação do texto normativo federal – art. 55, § 3º, LB – que exige


início de prova material (conceito jurídico indeterminado),
suficiente e contemporâneo ao período de carência, para
comprovar tempo de atividade laboral, o que não foi o caso neste
processo, como se infere da simples leitura do acórdão recorrido.

3.2. DA. NÃO INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83 DO E. STJ.

Saliente-se, desde logo, que a restrição ao conhecimento


do Recurso Especial nos termos da Súmula 83 do STJ – Não se conhece de
recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou
no mesmo sentido da decisão recorrida – como se denota da simples leitura
do enunciado, constitui óbice apenas para os recursos interpostos pela alínea
“c” do inciso III, art. 105 da CF/88, por divergência jurisprudencial.

Não só a leitura da súmula induz tal interpretação, mas


também a doutrina exposta por um eminente ex-Ministro dessa Corte
Superior, ATHOS GUSMÃO CARNEIRO (CARNEIRO, A. G., Recurso Especial,
Agravos e Agravo Interno, 7ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2011).

A referida e autorizada obra, no Título I, que trata do


Recurso Especial, Capítulo VII, sobre o Cabimento do Recurso Especial, no
item 27 trata do cabimento do Recurso Especial pela alínea “c” (CARNEIRO,
op.cit., p. 70-73).

Neste capítulo o autor apresenta o conteúdo da Súmula


286 do STF, cujo equivalente no STJ é a de número 83, como se
transcreve a seguir:

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

Vale sublinhar, quanto à alínea ‘c’, algumas súmulas


alusivas ao cabimento do apelo especial:

a) Consoante os Enunciados nº 369 – STF e nº 13 – STJ


(...)

b) Pelo Enunciado 291 – STF, (...)

c) Enunciado nº 286 – STF e nº 82 do STJ – o recurso


especial com base em divergência não deverá ser conhecido
quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo
sentido da decisão recorrida. Em última análise, a
divergência deve ser atual, não pretérita, e assim foi
editada a Súmula nº 83 – STJ, verbis:

‘Súmula 83. (...)’.

Não será pertinente, pois, a invocação do acórdão


proferido em idos tempos e que na atualidade não mais
represente a orientação do próprio tribunal que o
proferiu. Em recurso especial de que fomos relator, em
tema de responsabilidade civil em acidente de trânsito, o
STJ rejeitou a indicação, como divergentes, de acórdãos da
década de 30, que refletiam jurisprudência de muito
superada (CARNEIRO, op.cit., p. 73) (grifos nossos).

O recurso interposto pela Autarquia neste caso não se


baseou em divergência jurisprudencial, mas apenas na contrariedade à
Lei Federal (alínea “a” do permissivo).
Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

Ademais, ao contrário do decidido, a jurisprudência


do E. STJ no sentido da impossibilidade de concessão do benefício de
aposentadoria rural por idade sem início de prova material do labor
rural no período de carência. À conferência:

“RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO


CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO
DE CONTROVÉRSIA. SEGURADO ESPECIAL. TRABALHO RURAL.
INFORMALIDADE. BOIAS-FRIAS. PROVA EXCLUSIVAMENTE
TESTEMUNHAL. ART. 55, § 3º, DA LEI 8.213/1991. SÚMULA
149/STJ. IMPOSSIBILIDADE. PROVA MATERIAL QUE NÃO
ABRANGE TODO O PERÍODO PRETENDIDO. IDÔNEA E
ROBUSTA PROVA TESTEMUNHAL. EXTENSÃO DA EFICÁCIA
PROBATÓRIA. NÃO VIOLAÇÃO DA PRECITADA SÚMULA.

1. Trata-se de Recurso Especial do INSS com o escopo de


combater o abrandamento da exigência de produção de prova
material, adotado pelo acórdão recorrido, para os
denominados trabalhadores rurais boias-frias.

2. A solução integral da controvérsia, com fundamento


suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC.

3. Aplica-se a Súmula 149/STJ ("A prova exclusivamente


testemunhal não basta à comprovação da atividade
rurícola, para efeitos da obtenção de benefício
previdenciário") aos trabalhadores rurais denominados

"boias-frias", sendo imprescindível a

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

apresentação de início de prova


material.
4. Por outro lado, considerando a inerente dificuldade
probatória da condição de trabalhador campesino, o STJ
sedimentou o entendimento de que a apresentação de prova
material somente sobre parte do lapso temporal pretendido
não implica violação da Súmula 149/STJ, cuja aplicação é
mitigada se a reduzida prova material for complementada por
idônea e robusta prova testemunhal.

5. No caso concreto, o Tribunal a quo, não obstante tenha


pressuposto o afastamento da Súmula 149/STJ para os "boias-
frias", apontou diminuta prova material e assentou a produção
de robusta prova testemunhal para configurar a recorrida
como segurada especial, o que está em consonância com os
parâmetros aqui fixados.

6. Recurso Especial do INSS não provido. Acórdão submetido ao


regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.”

(REsp 1321493/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,


PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/10/2012, DJe
19/12/2012)

“PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. APOSENTADORIA POR
IDADE RURAL. COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE RURAL NO
PERÍODO IMEDIATAMENTE ANTERIOR AO REQUERIMENTO.
REGRA DE TRANSIÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 143 DA LEI

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

8.213/1991. REQUISITOS QUE DEVEM SER PREENCHIDOS DE


FORMA CONCOMITANTE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1.
Tese delimitada em sede de representativo da controvérsia, sob
a exegese do artigo 55, § 3º combinado com o artigo 143 da Lei

8.213/1991, no sentido de que o segurado


especial tem que estar laborando no
campo, quando completar a idade mínima
para se aposentar por idade rural,
momento em que poderá requerer seu
benefício. Se, ao alcançar a faixa etária exigida no

artigo 48, § 1º, da Lei 8.213/1991, o segurado especial


deixar de exercer atividade rural, sem ter atendido a regra
transitória da carência, não fará jus à aposentadoria por
idade rural pelo descumprimento de um dos dois únicos
critérios legalmente previstos para a aquisição do direito.
Ressalvada a hipótese do direito adquirido em que o segurado
especial preencheu ambos os requisitos de forma concomitante,
mas não requereu o benefício. 2. Recurso especial do INSS
conhecido e provido, invertendo-se o ônus da sucumbência.
Observância do art. 543-C do Código de Processo Civil..” –
grifei- (REsp Nº 1.354.908 - SP, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
09/09/2015)

É esse o entendimento que o INSS quer ver prevalecer,


ou seja, o de que é impossível a concessão do benefício de
aposentadoria rural por idade caso não ficar comprovado nos autos o
Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

exercício de labor rural em regime de economia familiar na época em


que a parte interessada completou a idade mínima para se aposentar
por idade rural.

Portanto, merece reforma a decisão agravada, porquanto


totalmente equivocada.

4. REQUERIMENTO

Por todo o exposto, demonstrado o equívoco da decisão que


não admitiu o Recurso Especial, o recorrente requer:

(a) seja determinada a conversão deste agravo em recurso


especial, uma vez que contém os elementos necessários para o julgamento do
mérito, com base no CPC art. 1042, § 5º; e, seja finalmente provido o recurso
especial, ou, alternativamente,

(b) seja reformado o despacho do juízo a quo, de modo que


reste admitido o recurso especial.

Termos em que,
Pede deferimento.

Porto Alegre, (data do evento eletrônico).

Carlos Alberto Koakoski


Procurador Federal
Matrícula 1.311.795
OAB/RS 49.068

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL – 4ª REGIÃO

Av. Carlos Gomes, 1942/1950, Conj. 1102 - Três Figueiras - Porto Alegre/RS
CEP 90480-002 – Telefone: (51) 3017-6500 - E-mail: prf4@agu.gov.br

Você também pode gostar