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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES

REMESSA NECESSÁRIA/APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000291-10.2018.8.06.0201


APELANTE: MUNICÍPIO DE MIRAÍMA
APELADA: FRANCISCA RODRIGUES BATISTA
ORIGEM: AÇÃO ORDINÁRIA - VARA ÚNICA DA COMARCA DE AMONTADA

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO CÍVEL.


AÇÃO DE RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. SERVIDOR PÚBLICO. CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA. CONTRATO DE TRABALHO NULO (CF, ART. 37, § 2º). SENTENÇA DE
PARCIAL PROCEDÊNCIA. PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. ACOLHIMENTO.
ALEGAÇÃO DA AUSÊNCIA DE PROVA QUANTO AO PERÍODO DE DURAÇÃO DA
RELAÇÃO AFIRMADA. INOVAÇÃO RECURSAL. DEPÓSITOS DO FGTS, FÉRIAS, TERÇO
CONSTITUCIONAL, 13º SALÁRIO E SALDO DE SALÁRIO RELATIVO A DEZEMBRO/2016.
VERBAS DEVIDAS. TEMA 308 E 551 DO STF. APLICAÇÃO DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
ÀS VERBAS FUNDIÁRIAS. MANTIDA POR INEXISTÊNCIA DE IRRESIGNAÇÃO DA PARTE
AFETADA. MONTANTE CONDENATÓRIO AQUÉM DO VALOR DE ALÇADA (ART. 496, § 3º,
III, CPC). REMESSA NECESSÁRIA NÃO CONHECIDA. APELAÇÃO CONHECIDA EM
PARTE E PROVIDA PARCIALMENTE. AJUSTE, DE OFÍCIO, DOS ÍNDICES DE JUROS E
CORREÇÃO MONETÁRIA (RESP 1495146/MG E ART. 3º, EC nº 113/2021).

ACÓRDÃO

ACORDA a Turma Julgadora da Segunda Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado
do Ceará, em não conhecer da Remessa e conhecer em parte da Apelação Cível para, acolhendo a
preliminar suscitada, provê-la parcialmente, nos termos do voto da Desembargadora Relatora.
Fortaleza, 26 de julho de 2023

TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES


Relatora e Presidente do Órgão Julgador
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES

RELATÓRIO

Trata-se de Remessa Necessária e Apelação Cível interposta pelo Município de Miraíma


contra a sentença de parcial procedência do pedido inicial, proferida pelo Juízo da Vara Única da
Comarca de Amontada, nos autos da Reclamação Trabalhista nº 0000291-10.2018.8.06.0201,
ajuizada por Francisca Rodrigues Batista, ora apelada, às fls. 122-131.

Integro a este relatório, na parte pertinente, o constante do parecer da Procuradoria de Justiça,


a seguir transcrito (fls. 174-176):
Tratam os autos de Remessa Necessária e Apelação Cível interposta pelo Município de
Miraíma contra sentença proferida pelo Juízo da Vara Única da Comarca de Amontada em sede
de Reclamação Trabalhista ajuizada por Francisca Rodrigues Batista.

Em sua petição inicial, às fls. 02/05 dos autos, a autora busca a condenação do ente público
promovido ao pagamento das verbas rescisórias inadimplidas relativas ao período em que
laborou por meio de sucessivos contratos temporários entre 01/08/2009 e 30/12/2016, o que
incluiria salário vencido, férias integrais em dobro com o terço constitucional, décimo terceiro
salário e FGTS, totalizando a quantia de R$ 9.873,00 (nove mil e oitocentos e setenta e três
reais).

Sentença, às fls. 122/131 dos autos, consignou em seu dispositivo:

"Ante as razões expendidas, com base no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil,
JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido autoral, de modo a reconhecer a nulidade
do contrato firmado entre a parte autora e a requerida; reconhecer prescritas as parcelas de
FGTS vencidas anteriores a 13/11/2009 e as parcelas anteriores a 21/09/2013 em relação aos
demais pedidos e, não obstante, condenar o Município de Miraíma a pagar à parte autora:

a) férias não gozadas, acrescidas do terço constitucional, integralmente, levando-se em


consideração a prescrição das parcelas anteriores a 21/09/2013;

b) gratificação natalina (13º salário), referente ao período trabalhado, levando-se em


consideração a prescrição das parcelas anteriores a 21/09/2013;
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c) FGTS, levando-se em consideração a prescrição das parcelas anteriores a 13/11/2009; e

d) Saldo da remuneração não recebida durante a vigência do contrato, referente ao mês de


dezembro de 2016.

Tais valores deverão ser acrescidos de correção monetária pelo IPCA desde a data de aquisição
de cada benefício, bem assim de juros de mora a contar da citação, pelos índices oficiais de
remuneração básica da caderneta de poupança que, a partir de 08.08.2012, devem ser aplicados
nos termos do art. 1º, II, “a” e “b”, da Lei n.º12.703/12.

Custas pelo promovido, dispensadas na forma da lei.

Deixo de arbitrar, por hora, os ônus sucumbenciais, uma vez que, em razão da iliquidez da
sentença, a fixação da verba honorária somente ocorrerá na fase de liquidação, conforme
expressa previsão do art. 85, § 4º, inciso II, do Código Processual Civil.

Sentença sujeita a reexame necessário, por tratar-se de condenação ilíquida contra a Fazenda
Pública, na forma da Súmula 490 do Superior Tribunal de Justiça.

Transitada em julgado, intimem-se os vencedores a iniciar a execução do julgado."

Recurso de apelação do Município de Miraíma às fls. 137/152 dos autos. Na oportunidade,


argumentou que a parte autora não fez qualquer prova quanto à duração da relação afirmada e
que não há qualquer contrato, contracheque ou outro meio que prove suas alegações, o que
demonstra que ela não se desincumbiu do ônus que lhe competia, nos termos do art. 373, I, do
CPC.

Em seguida, defendeu a prescrição quinquenal da pretensão formulada em desfavor da Fazenda


Pública, nos termos do art. 1° do Decreto n.° 20.910/32, bem como a inexistência de direito ao
recebimento de FGTS e saldo de salário e da desnaturação do vínculo temporário. Além disso,
sustentou a incompatibilidade do FGTS com o regime jurídico administrativo.

[...]

Encaminhados os autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, foram distribuídos a esta


Relatoria, consoante termos às fls. 159-160.
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Com vista, a Procuradoria-Geral de Justiça se manifestou pelo conhecimento e provimento


parcial do recurso e do reexame necessário, no parecer de fls. 174-189.

É o relatório.

VOTO

Passo ao Juízo de Admissibilidade da Remessa Necessária e da Apelação Cível.

Observa-se que o Juízo da causa julgou procedente em parte o pedido requerido na exordial,
com valor reputado em R$ 11.353,00 (onze mil e trezentos e cinquenta e três reais), referente ao saldo
de salário, aos depósitos do FGTS, 13º salário e férias, acrescidas do terço constitucional.

Contudo, apesar de se tratar de sentença ilíquida, embora proferida contra a Fazenda Pública,
evidencia-se que o montante condenatório estimado, quantia que, mesmo acrescida de juros e correção
monetária, se perfaz muito inferior ao valor de alçada definido no art. 496, § 3º, inciso III, do CPC,
circunstância que enseja o não conhecimento da remessa necessária.

Nesse sentido:

ENUNCIADO ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ. PROCESSUAL CIVIL. REMESSA


NECESSÁRIA. DISPENSA. SENTENÇA ILÍQUIDA. PRECEDENTES DO STJ. Em
casos em que se reconhece como devido valores a servidor público, entende o Superior
Tribunal de Justiça que, se o montante for mensurável, a aparente iliquidez do julgado,
quando abaixo dos limites legais, não justifica a remessa necessária. Precedentes: AgInt
no REsp 1705814/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, DJe 04/09/2020; AgInt no REsp 1873359/PR, Rel. Ministro GURGEL DE
FARIA, PRIMEIRA TURMA, DJe 17/09/2020; EDcl no REsp 1891064/MG, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 18/12/2020. 2. Agravo interno não
provido. (AgInt no AREsp n. 1.807.306/RN, relator Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, julgado em 30/8/2021, DJe de 2/9/2021.). [grifei]

Dessa forma, embora, o juízo a quo tenha submetido o decisum ao reexame necessário, reputo
por dispensável sua apreciação, em alinhamento ao entendimento jurisprudencial supramencionado.

No tocante à Apelação, conheço do recurso, posto que preenchidos os requisitos legais de


admissibilidade.
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Por sentença, o demandado foi condenado ao pagamento de férias não gozadas, acrescidas do
terço constitucional, integralmente, gratificação natalina (13º salário), referente ao período trabalhado,
levando-se em consideração a prescrição das parcelas anteriores a 21/09/2013, depósitos do FGTS,
levando-se em consideração a prescrição das parcelas anteriores a 13/11/2009, além do saldo da
remuneração não recebida durante a vigência do contrato, referente ao mês de dezembro de 2016.

O Município de Miraíma apresentou sua inconformação, suscitando, preliminarmente, a


prescrição da verbas anteriores a 18/11/2016, devido o protocolo da ação ter ocorrido em 18/11/2020,
alegando não haver qualquer prova quanto ao período de duração da relação afirmada. No mérito, aduz
inexistência de direito ao recebimento de FGTS e de saldo de salário.

No tocante à prescrição, nas pretensões voltadas contra a Fazenda Pública, a teor do disposto
no art. 1º do Decreto nº 20.910/1932, é quinquenal o prazo prescricional adotado:

Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e
qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for
a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se
originarem. [grifei]

Verifica-se que a ação foi proposta, inicialmente, perante a Justiça do Trabalho, em


17/05/2018 (fls. 03), e não em 18/11/2020, conforme afirmou o Município, desse modo, as verbas
atingidas pela prescrição quinquenal são as anteriores a 17/05/2013.

Assim, acolho a preliminar suscitada pelo ente público, contudo, a prescrição atinge as
parcelas anteriores a 17/05/2013.

A apelada afirma ter sido contratada temporariamente pelo ente público, sem a realização de
concurso, para prestar serviços na função de professora, através de contrato temporário, de 01 de agosto
de 2009 até 30 de dezembro de 2016.

O município em sua peça de defesa de fls. 25-39, assentiu que a parte autora fora contratada
para exercer função temporária e excepcional de relevante interesse público, acrescentando que o
vínculo firmado sempre foi excepcional e precário, à falta de aprovação em concurso público, não
fazendo jus as verbas pleiteadas. Nada falando em relação ao período da relação apontado pela
promovente.
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Por ocasião do apelo, o ente público arguiu que "não há qualquer prova quanto ao período de
duração da relação afirmada," e que "não há qualquer contrato, contracheque ou outro meio que
prove suas alegações. Não há nem mesmo qualquer prova quanto a seu vínculo ou salário" (fls. 141).

Contudo, é descabida a alegação extemporânea formulada no juízo ad quem, por caracterizar-


se em inovação recursal, porquanto, não se tratando de matéria de ordem pública, cognoscível ex
officio, constitui-se em óbice sua apreciação nesta instância, por ofensa aos princípios da vedação à
supressão de instância, consubstanciado no art. 1.013, CPC, bem como do juiz natural e do
contraditório e ampla defesa, assegurados na Constituição Federal, no art. 5º, incisos LIII e LV.1

Vale ressaltar, ainda, o disposto no art. 1.014, do CPC,2 que autoriza as partes a levantarem, na
apelação, questões de fato não apresentadas no juízo de origem, desde que, comprovado motivo de
força maior para a proposição tardia na seara recursal.

Todavia, o ponto levantado pelo Município não se adequa à previsão legal de "fato novo",
uma vez que, o argumento aventado pelo Município, acerca de questão administrativa do servidor,
pertencia a sua esfera de conhecimento já por ocasião da apresentação da peça de defesa.

A vista disso, não merece acolhida essa parte do recurso, porquanto, de forma tardia, veiculou
em sua insurgência matéria sem o conhecimento das partes e do juízo que presidiu o feito na origem.

Nessa questão, o Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS, elenca relações


previdenciárias da autora vinculadas ao Município de Miraíma, atestando o vínculo estabelecido entre
si, o que não atraiu impugnação da edilidade (fls. 18 e 20).

Como se sabe, a investidura em cargo ou emprego público é regida pelo princípio do concurso
público, previsto no art. 37, inciso II, da Constituição Federal, constituindo-se o trabalho temporário
em exceção legal, prevista somente em casos excepcionais.

A contratação temporária, para ser considerada válida, deve preencher requisitos, de acordo
com o STF, enumerados no julgamento do RE nº 658026/MG, julgado sob a sistemática da repercussão
geral, os quais determinam que:

1Art. 5º [...]
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;
2 Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo
de força maior.
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a) os casos excepcionais estejam previstos em lei;


b) o prazo de contratação seja predeterminado;
c) a necessidade seja temporária;
d) o interesse público seja excepcional;
e) a contratação seja indispensável, sendo vedada para os serviços ordinários permanentes do
Estado que estejam sob o espectro das contingências normais da Administração.

No caso, o ente público não se submeteu às regras constitucionais para o recrutamento


temporário de pessoal, ante a inexistência de termo inicial e final da contratação, já que temporária,
ferindo a regra contida no art. 37, inciso IX, da CF/88, perdurando a relação por mais de 7 anos.

Analisando o feito, sobressai-se que o pacto firmado com a parte autora, nos moldes do
contrato temporário, evidencia sua irregularidade, pois inexiste temporariedade a justificar a conduta
adotada para a contratação do recorrido; assim, deve ser considerada nula e, por essa razão, inapta a
gerar qualquer vínculo jurídico-administrativo entre as partes.

Acrescente-se que a função de Professora não se caracteriza como atividade extraordinária,


antes se configura como de natureza permanente, inserida no rol de serviço ordinário visando a atender
necessidades comuns da dinâmica administrativa, ferindo a regra contida no art. 37, inciso IX, da
CF/88.

Sobre a matéria, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº 705.140/RS, submetido


à sistemática de repercussão geral estabelecida pelo art. 543-B do Código de Processo Civil de 1973
(arts. 1.036 e 1.039 do CPC/2015), firmou o entendimento no sentido de que as contratações ilegítimas
não geram quaisquer efeitos jurídicos válidos, salvo o direito à percepção dos salários inerentes ao
período trabalhado e ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (Tema 308):

CONSTITUCIONAL E TRABALHO. CONTRATAÇÃO DE PESSOAL PELA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SEM CONCURSO. NULIDADE. EFEITOS
JURÍDICOS ADMISSÍVEIS EM RELAÇÃO A EMPREGADOS: PAGAMENTO DE
SALDO SALARIAL E LEVANTAMENTO DE FGTS (RE 596.478 - REPERCUSSÃO
GERAL). INEXIGIBILIDADE DE OUTRAS VERBAS, MESMO A TÍTULO
INDENIZATÓRIO. 1. Conforme reiteradamente afirmado pelo Supremo Tribunal Federal, a
Constituição de 1988 reprova severamente as contratações de pessoal pela Administração
Pública sem a observância das normas referentes à indispensabilidade da prévia aprovação
em concurso público, cominando a sua nulidade e impondo sanções à autoridade responsável
(CF, art. 37, § 2º). 2. No que se refere a empregados, essas contratações ilegítimas não
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geram quaisquer efeitos jurídicos válidos, a não ser o direito à percepção dos salários
referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, ao
levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço -
FGTS. 3. Recurso extraordinário desprovido.” (RE 705140/RS, Relator: Min. TEORI
ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 28/08/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-217 DIVULG 04-11-2014 PUBLIC 05-11-2014).
[grifei]

Nos Embargos Declaratórios no Recurso Extraordinário 765.320/MG, julgados sob a relatoria


do Ministro Alexandre de Moraes, o Supremo Tribunal Federal explicitou, ainda, que aplicação do art.
19- A da Lei 8.036/1990 aos servidores irregularmente contratados na formado art. 37, inciso IX, da
CF/88 não se restringe as relações regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SERVIDOR CONTRATADO POR TEMPO


DETERMINADO PARA ATENDER A NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE
EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO. NULIDADE DO VÍNCULO. DIREITO AOS
DEPÓSITOS DO FGTS. JURISPRUDÊNCIA REAFIRMADA. INEXISTÊNCIA DE
VÍCIOS DE FUNDAMENTAÇÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. REJEIÇÃO. 1 O
acórdão embargado contém fundamentação apta e suficiente a resolver todos os pontos d
recurso que lhe foi submetido. 2. A aplicação do art. 19-A da Lei 8036/1990 aos
servidores irregularmente contratados na forma do art. 37, IX, da CF/88 não se
restringe a relações regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho. 3. Ausentes
omissão, contradição, obscuridade ou erro material o julgado, não há razão para qualquer
reparo. 4. Pedido de ingresso de amicus curiae indeferido. Embargos de declaração
rejeitados. (STF, ED no RE 765.320. Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em
11/9/2017, DJe 21/9/2017). [grifei]

Em nada destoa a jurisprudência deste Tribunal de Justiça:

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL,


ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.
AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA DE VERBAS RESCISÓRIAS. CONTRATO
TEMPORÁRIO. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE EXCEPCIONAL
INTERESSE PÚBLICO. NULIDADE DO CONTRATO. EVOLUÇÃO
JURISPRUDENCIAL DO STF (TEMAS 551 E 916 - REPERCUSSÃO GERAL).
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DAS
VERBAS TRABALHISTAS. APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA. SENTENÇA
REFORMADA DE OFÍCIO APENAS QUANTO AOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
SUCUMBENCIAIS, CUJA FIXAÇÃO SOMENTE DEVE OCORRER NA FASE DE
LIQUIDAÇÃO (ART. 85, §4º, II, DO CPC). 1. O cerne da questão de mérito consiste em
analisar, em suma, se o autor, ora apelado, possui direito de receber as verbas trabalhistas
rescisórias não pagas, pelo período em que laborou junto à municipalidade apelante, entre os
anos de 2013 a 2020. 2. Compulsando-se os autos, notadamente no que concerne às
anotações da Carteira de Trabalho Digital, tem-se que o autor, ora apelado, exerceu
temporariamente junto ao Município de Cascavel/CE a função de motorista em períodos
sucessivos de 04/2013a 12/2013, 01/2014 a 06/2014, 07/2014 a 12/2014, 01/2015 a 12/2015,
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01/2016 a 12/2016, 01/2017 a 06/2017, 07/2017 a 12/2017, 01/2018 a 12/2018, 01/2019 a


12/2019, 01/2020 a 05/2020. 3. Percebe-se que os contratos firmados entre o autor e o
Município perduraram por longo período sem justificativa razoável, contrariando a natureza
temporária da contratação. A rescisão e recontratação sucessiva dos pactos temporários,
pelos períodos em que foram assinalados, demonstra a nulidade da contratação. 4. O
Supremo Tribunal Federal, em sede do julgamento do RE 765.320/MG, de Relatoria do
Ministro Teori Zavascki, firmou o entendimento, com repercussão geral, no sentido de
que a contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade
temporária de excepcional interesse público, realizada em desconformidade com os
preceitos do art. 37, IX, da Constituição Federal, não gera quaisquer efeitos jurídicos
válidos em relação aos servidores contratados, com exceção do direito à percepção dos
salários referentes ao período trabalhado e do FGTS. 5. No entanto, recentemente, o
Supremo Tribunal Federal julgou o Tema 551 da Repercussão Geral e, apreciando o RE
1.066.677/MG, definiu a seguinte tese: "Servidores temporários não fazem jus a décimo
terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo (I) expressa
previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado desvirtuamento da
contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas
renovações e/ou prorrogações". 6. Diante do novo posicionamento da Corte Maior nos casos
em que há evidente desvirtuamento da contratação temporária, o servidor faz jus ao
recebimento de todos os salários do período trabalhado e ao levantamento do FGTS
referente a este período (Tema 916), bem como ao recebimento do décimo terceiro salário e
férias remuneradas acrescidas do terço constitucional (Tema 551). 7. Verifica-se equívoco
na forma como o juízo singular fixou os honorários advocatícios, qual seja, em percentagem
com base no§3º, do art. 85, do CPC, pois se trata de sentença ilíquida, na qual os valores a
serem pagos pela parte vencida ainda serão apurados na fase posterior de liquidação da
sentença, devendo o arbitramento dos honorários sucumbenciais respeitar o previsto no
inciso II, do §4º, do art. 85 do CPC. 8. Recurso de Apelação Cível CONHECIDO e
DESPROVIDO. (Apelação Cível - 0050839-63.2021.8.06.0062, Rel. Desembargador
RAIMUNDO NONATO SILVA SANTOS, 2ª Câmara Direito Público, data do julgamento:
14/09/2022, data da publicação: 14/09/2022). [grifei]

Dessarte, embora o FGTS seja verba afeta ao regime celetista, tal entendimento objetiva evitar
enriquecimento ilícito da Administração, remunerando adequadamente o contratado pelo serviço
efetivamente prestado.

No que tange à prescrição do FGTS, considerar-se-á a modulação dos efeitos do ARE nº


709.212/DF (Tema 608), fixada pelo STF, em repercussão geral.

O STF, alterou a jurisprudência até então dominante, fixando o entendimento de que "o prazo
prescricional aplicável à cobrança de valores não depositados no Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS) é quinquenal, nos termos do art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal" (TEMA
608/STF – Leading case ARE nº 709212/DF).
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Todavia, em homenagem ao Princípio da Segurança Jurídica, modulou os efeitos da decisão


nos seguintes termos:

A modulação que se propõe consiste em atribuir à presente decisão efeitos ex nunc


(prospectivos). Dessa forma, para aqueles cujo termo inicial da prescrição ocorra após a data
do presente julgamento, aplica-se, desde logo, o prazo de cinco anos. Por outro lado, para os
casos em que o prazo prescricional já esteja em curso, aplica-se o que ocorrer
primeiro: 30 anos, contados do termo inicial, ou 5 anos, a partir desta decisão. [grifei]

Oportuno, nesse momento, transcrever as conclusões exaradas no REsp nº 1.841.538/AM STJ,


quanto à modulação dos efeitos do ARE supracitado:

Dessarte, diante da modulação estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal, e esposando a


orientação coletada pelo Tribunal Superior do Trabalho, extraem-se as seguintes conclusões:

(a) à ação ajuizada até 13.11.2014, data do julgamento do ARE n. 709.212/DF, aplica-se a
prescrição trintenária;
(b) ao contrato de trabalho celebrado após 13.11.2014 aplica-se, de imediato, a prescrição
quinquenal; e
(c) no caso em que o prazo prescricional já estava em curso no momento do julgamento da
repercussão geral (Tema 608/STF), ou seja, contrato de trabalho celebrado até 13.11.2014,
mas ação pleiteando o recebimento do FGTS ajuizada após tal data, aplica-se "o que
ocorrer primeiro: 30 anos, contados do termo inicial, ou 5 anos, a partir desta decisão".
A hipótese a que se refere a alínea (c) merece algumas considerações.
O Supremo Tribunal Federal, ao modular o entendimento firmado no julgamento do ARE n.
709.212/DF, com o objetivo de garantir a segurança jurídica e evitar surpresa, adotou efeitos
ex nunc, preservando, assim, o direito ao recebimento de parcelas do FGTS em período
superior a 5 anos (limitado a 30 anos), para aquele cujo contrato de trabalho foi celebrado
até 13.11.2014 e a ação foi ajuizada dentro do prazo de 5 anos a contar de tal data, desde
que, entre o termo inicial e o ajuizamento da ação, o prazo não seja superior a 30 anos.
Em consequência da modulação aplicada, emergem as seguintes conclusões com relação aos
contratos de trabalho em curso no momento do julgamento do Supremo Tribunal Federal
(ARE n. 709.212/DF - Tema 608/STF), conforme a hipótese:
(i) se o ajuizamento da ação, objetivando o recebimento das parcelas do FGTS, ocorreu até
13.11.2019, aplica-se a prescrição trintenária, ou seja, o trabalhador tem direito ao
recebimento das parcelas vencidas no período de 30 anos antes do ajuizamento da
ação; e
(ii) se o ajuizamento da ação, objetivando o recebimento das parcelas do FGTS, ocorreu
após 13.11.2019, aplica-se a prescrição quinquenal, ou seja, o trabalhador faz jus
somente ao recebimento das parcelas vencidas no período de 5 anos antes do
ajuizamento da ação. [grifos originais]
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Nesse contexto, como dito no julgado em referência, no item (i), para os casos em que a ação
objetivando o recebimento das parcelas do FGTS, se o ajuizamento da ação ocorreu até 13/11/2019,
aplica-se a prescrição trintenária, ou seja, o trabalhador tem direito ao recebimento das parcelas
vencidas no período de 30 anos antes do ajuizamento da ação.

No caso, considerando o início do contrato de trabalho agosto/2009 e o ajuizamento da ação


no dia 17/05/2018 (fls. 03), incidiria, desde logo, a prescrição trintenária.

Por sua vez, o magistrado a quo, ao reconhecer a nulidade dos contratos firmados entre o
servidor e a edilidade, concluiu pela aplicação da prescrição quinquenal, não havendo insurgência da
parte autora nessa questão.

Contudo, observa-se que, embora aplicando a prescrição quinquenal à verba fundiária, a


sentença considerou "prescritas as parcelas de FGTS vencidas anteriores a 13/11/2009", fazendo
presumir que a data utilizada, como parâmetro, para a retroação da contagem da prescrição, tenha sido
13/11/2014 (data do julgamento do ARE 709212/DF), consoante se vê às fls. 124, e não a data de
21/09/2018 (fls. 02), considerada pelo magistrado como a data do ajuizamento, que, acaso tivesse
observado, a prescrição retroagiria à 21/09/2013.

Entretanto, repise-se que a data a ser reputada como do ajuizamento é a da propositura perante
a Justiça do Trabalho, em 17/05/2018 (fls. 03).

Desse modo, com o acolhimento da preliminar de prescrição quinquenal, suscitada pelo ente
público, as parcelas referentes as férias não gozadas, acrescidas do terço constitucional, 13º salário e ao
FGTS, anteriores a 17/05/2013, deverão ser desconsideradas pela incidência da prescrição quinquenal,
considerando que não houve insurgência da parte recorrida no que pertine à aplicação da prescrição
aplicada à verba fundiária.

Acerca pagamento do 13º salário e das férias acrescidas de um terço, em recente julgado RE
1.066.677/MG, sob o rito da repercussão geral, o STF adotou o entendimento segundo o qual, em caso
de nulidade do contrato temporário, os servidores, além do direito às verbas de FGTS, têm direito
também ao recebimento de décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço
constitucional (Tema 551).

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. CONSTITUCIONAL.


ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA.


DIREITO A DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO E FÉRIAS REMUNERADAS,
ACRESCIDAS DO TERÇO CONSTITUCIONAL. 1. A contratação de servidores
públicos por tempo determinado, para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público, prevista no art. 37, IX, da Constituição, submete-se ao
regime jurídico-administrativo, e não à Consolidação das Leis do Trabalho. 2. O
direito a décimo terceiro salário e a férias remuneradas, acrescidas do terço
constitucional, não decorre automaticamente da contratação temporária, demandando
previsão legal ou contratual expressa a respeito. 3. No caso concreto, o vínculo do
servidor temporário perdurou de 10 de dezembro de 2003 a 23 de março de 2009. 4.
Trata-se de notório desvirtuamento da finalidade da contratação temporária, que tem
por consequência o reconhecimento do direito ao 13º salário e às férias remuneradas,
acrescidas do terço. 5. Recurso extraordinário a que se nega provimento. Tese de
repercussão geral: "Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e
férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo (I) expressa previsão
legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado desvirtuamento da
contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e
reiteradas renovações e/ou prorrogações”. (STF, RE 1.066.677/MG, Tribunal
Pleno, Relator: MIN. MARCO AURÉLIO; Redador do acórdão: MIN.
ALEXANDRE DE MORAES; DJ 22/05/2020). [grifei]

Por conseguinte, esta Corte de Justiça, a par do precedente supracitado do STF, tem seguido o
mesmo entendimento:
APELAÇÕES CÍVEIS. REMESSA NECESSÁRIA. CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE TRABALHO
TEMPORÁRIO CONSIDERADO NULO. INVESTIDURA SEM CONCURSO
PÚBLICO. NÃO IDENTIFICAÇÃO DE NECESSIDADE DE ATENDIMENTO A
INTERESSE PÚBLICO EXCEPCIONAL. ART. 37, IX, CF/88. OBRIGAÇÃO
QUANTO AO PAGAMENTO DOS VALORES DEPOSITADOS ALUSIVOS AO
FGTS, DO DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO E FÉRIAS ACRESCIDAS DO
TERÇO CONSTITUCIONAL DEVIDOS. CONFORME ENTENDIMENTO
FIRMADO PELO STF NO RE 1.066.677 (TEMA 551 DA REPERCUSSÃO
GERAL). JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. RECURSOS CONHECIDOS E
DESPROVIDOS. 1. Trata-se de Apelações Cíveis, visando reformar sentença que
julgou parcialmente procedente a Ação de Cobrança, condenado o Município de
Jaguaretama ao pagamento do eventual saldo de salário e FGTS referente ao período
laborado, devidamente corrigido de acordo com a orientação jurisprudencial do
Superior Tribunal de Justiça, sob a sistemática dos recursos repetitivos (Tema nº
905). 2. Autora, contratada temporariamente pelo Município de Jaguaretama para
exercer a função de professora, pelo período de 04.02.1993 a 30.12.2016, alega que o
ente público durante o tempo trabalhado não assinou sua CTPS, nem realizou o
pagamento do salário proporcional referente ao mês de outubro de 2014 a dezembro
de 2014, aviso prévio indenizado, décimo terceiro salário proporcional, férias
acrescidas do terço constitucional, depósito de FGTS de todo o período, acrescido de
multa de 40%, seguro desemprego, multa prevista no art. 477 da CLT e art. 467 da
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CLT. Pleiteia, portanto, o reconhecimento do vínculo de emprego no período


laborado, com a assinatura da sua CTPS, a fim de reconhecer a contribuição
previdenciária, junto ao INSS e o pagamento das verbas trabalhistas. 3. A
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 37, IX, garante a
possibilidade de contratação por tempo determinado no âmbito do Poder Público para
atender à necessidade temporária e excepcional do interesse público, forma de
admissão de agentes públicos diversa do concurso público e da nomeação para cargos
em comissão. Na hipótese sub oculi, a contratação do autor não atende aos
pressupostos indispensáveis para a contratação temporária, circunstância que faz ser
reconhecida sua nulidade. 4. O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento, em
tese de Repercussão Geral -Tema 551- no recente julgamento do RE 1.066.677/MG,
assim decidindo: Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e
férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo (I) expressa previsão
legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado desvirtuamento da
contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e
reiteradas renovações e/ou prorrogações. 5. Registro que os juros moratórios devem
seguir os índices da remuneração oficial da caderneta de poupança, enquanto aplica-
se o IPCA-E para a correção monetária, conforme o preconizado pelo Tema 905 do
STJ (REsp nº 1.492.221/PR); e que, a partir de 09/12/2021, deverá incidir a Taxa
SELIC, uma única vez, conforme o preconizado pelo art. 3º da Emenda
Constitucional nº 113/2021. 6. Considerando que a demanda versa sobre sentença
ilíquida, a definição do percentual alusivo aos honorários advocatícios deverá
observar o disposto no art. 85, § 4º, II, do CPC, ou seja, deve ser fixada pelo juízo da
liquidação. 7. Apelações conhecidas e desprovidas. (Apelação Cível -
0000679-04.2018.8.06.0106, Rel. Desembargadora MARIA IRANEIDE MOURA
SILVA, 2ª Câmara Direito Público, data do julgamento: 19/04/2023, data da
publicação: 19/04/2023). [grifei]
Como se vê, o direito da parte autora à percepção das verbas de décimo terceiro salário, férias
acrescidas do terço constitucional, decorrentes da contratação temporária nulificada, encontra respaldo
no posicionamento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 1.066.677/MG
(Tema 551), sob o rito da repercussão geral, não podendo o ente público se eximir de pagá-las.

Por sua vez, a Administração Pública não se desincumbiu de demonstrar que efetivamente
adimpliu as verbas reclamadas, nos moldes do art. 373, inciso II, do CPC, o qual estabelece ser ônus do
réu a comprovação da existência dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito autoral,
ou seja, a demonstração da adimplência dos valores pleiteados na exordial.

Ponderados os argumentos acima, ratifica-se a condenação do município ao adimplemento de


todas as verbas conferidas na sentença, ressalvado o emprego da prescrição quinquenal, que atingiu as
parcelas anteriores a 17//05/2013.
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Com relação aos consectários legais, deve se proceder de acordo com o definido no Resp
1495146/MG,3 acrescentando-se que, a partir de 09/12/2021, data da publicação da Emenda
Constitucional nº 113/2021, adota-se o índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação
e de Custódia (Selic), acumulado mensalmente, que deverá incidir uma única vez, até o efetivo
pagamento (art. 3º, EC nº 113/2021)4.

Ante o exposto, não conheço da Remessa Necessária e conheço em parte da Apelação


Cível, para dar-lhe parcial provimento.

É como voto.

Des. ª TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES


Relatora

3 REsp. nº 1.495.146-MG (2014/0275922-0). TESES JURÍDICAS FIXADAS. (…)


3.1.1 Condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos. As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos,
sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção monetária: índices previstos no
Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) agosto/2001 a junho/2009: juros de
mora: 0,5% ao mês; correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de poupança; correção
monetária: IPCA-E. (STJ - REsp 1495146/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRASEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe
02/03/2018). [grifei]
4 Emenda Constitucional nº 113/2021. Art. 3º Nas discussões e nas condenações que envolvam a Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, de remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do precatório, haverá a incidência,
uma única vez, até o efetivo pagamento, do índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), acumulado
mensalmente. (DOU Nº 231 - Seção 1, págs. 1-2 - 09.12.2021)

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