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Registro: 2023.0000749476
ACÓRDÃO
SÁ MOREIRA DE OLIVEIRA
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
selecionadas pela autora às fls. 86, bem como realize a reserva dos voos e
forneça todas as informações relativas aos voos de ida e volta, sob pena de
multa diária de R$ 500,00, limitada a R$ 25.000,00, e para condenar a ré ao
pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00,
corrigido desde publicação da sentença e com juros de mora desde a
citação.
Sustenta a ré que não houve falha na prestação
dos seus serviços. Diz ter cumprido a tutela de urgência concedida na
sentença apenas para elidir a incidência das “astreintes”. Defende a
possibilidade de remarcação dos serviços até 31/12/2023 com base na Lei
14046/2020, já que a autora adquiriu o pacote promocional no período da
pandemia de Covid-19. Alega não estar obrigada a agendar a viagem para
qualquer data que venha a ser solicitada pela consumidora, pois o pacote foi
adquirido na modalidade “data flexível”. Ressalta que a aceitação das
sugestões de datas dos consumidores está condicionada à disponibilidade
promocional. Nega a ocorrência de danos morais decorrentes de mero
inadimplemento contratual, por terem ocorrido meros aborrecimentos, de
modo que a indenização fixada deve ser afastada ou reduzida, por ser
excessiva. Invoca os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
Pede a improcedência da ação ou a redução da indenização por danos
morais.
Contrarrazões.
É o relatório.
ré, que verificaria a disponibilidade nas datas sugeridas. Caso não houvesse
disponibilidade, a ré enviaria uma nova opção em até 45 dias da primeira
data sugerida (fls. 31).
Escolhidas as datas para outubro de 2022, foi a
autora informada de que não haveria disponibilidade para aquele ano por
conta do aumento da demanda em virtude da expansão da vacinação contra
a Covid-19 e o consequente aumento dos preços das passagens aéreas,
tendo sido sugerida a extensão do pacote para o ano de 2023, a conversão
em créditos para uso em até doze meses ou a opção pelo estorno do valor
em até 60 dias úteis (fls. 46/51 e 54).
Segundo apontado na inicial, por conta da
pandemia de Covid-19, a ré ainda teria concedido uma diária a mais gratuita
(fls. 02).
A ré não contestou o feito, sendo revel, de modo
que se presumem verdadeiros os fatos narrados na inicial, os quais são
confirmados pelos documentos reunidos nos autos.
O descumprimento do contrato pela ré é patente,
pois não ofereceu alternativas de datas disponíveis para até 45 dias da
primeira sugerida pela autora, nem concedeu a gratuidade da oitava diária
no pacote contratado (fls. 64).
A autora tentou resolver a situação por diversos
canais de relacionamento com a empresa (chat fls. 52/64, e-mail fls.
46/51), assim como por meio da plataforma Reclame Aqui (fls. 65/68) e do
Procon (fls.69/76), mas sem sucesso.
Ingressou com esta ação em agosto de 2022,
pleiteando, em sede de tutela de urgência, a condenação da ré na
obrigação de fazer de disponibilização da viagem em três datas sugeridas
(10/10/2022, 16/11/2022 ou 30/03/2023), sob pena de multa diária ou
adoção de medidas que assegurem um resultado prático equivalente. E, no
caso de descumprimento da obrigação e não realização da viagem na data
aprazada, pediu a condenação da ré no pagamento de indenização por
dano moral no valor de R$ 5.000,00.
dela decorrente.
Conforme assevera Sergio Cavalieri Filho: “O
importante, destarte, para a configuração do dano moral não é o ilícito em si
mesmo, mas sim a repercussão que ele possa ter1”.
E ensina Yussef Said Cahali, citando Dalmartello,
“Parece mais razoável, assim, caracterizar o dano
moral pelos seus próprios elementos; portanto, 'como a privação
ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida
do homem e que são a paz, a tranquilidade de espírito, a
liberdade individual, a integridade individual, a integridade física,
a honra e os demais sagrados afetos'; classificando-se, desse
modo, em dano que afeta a “parte social do patrimônio moral”
(honra, reputação etc.) e dano que molesta a “parte afetiva do
patrimônio moral” (dor, tristeza, saudade etc.); dano moral que
provoca direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz
deformante etc.) e dano moral puro (dor, tristeza etc.)2.
SÁ MOREIRA DE OLIVEIRA
Relator
3
Cahali, Yussef Said. Dano moral. 4ª Ed rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011, p. 219/221.
Apelação Cível nº 1040181-67.2022.8.26.0224 -Voto nº 7