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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 3ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0711463-62.2019.8.07.0000


VZUVIO FRUTOS DO MAR EMPORIO EIRELI,VANDERLEY FERREIRA
AGRAVANTE(S)
BORGES e ALVARO HERIQUE RIBEIRO
AGRAVADO(S) JACKSON EVANDRO GLATZ
Relator Desembargador ALVARO CIARLINI

Acórdão Nº 1208895

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. REDISTRIBUIÇÃO DA CARGA PROBATÓRIA OPE LEGIS


. FATO DO SERVIÇO. ART. 14, § 3º, DO CDC. INVERSÃO DO ÕNUS DA PROVA.
DECISÃO MANTIDA.

1. Hipótese de redistribuição da carga probatória entre as partes integrantes da relação jurídica


processual. 1.1 Os agravantes são réus em ação de indenização por danos materiais e morais,
decorrentes de fato do serviço. 1.2 A relação jurídica substancial existente entre as partes ajusta-se aos
requisitos dos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor.

2. A inversão do ônus da prova, no caso de demanda originada pela ocorrência de fato do serviço, é
automática (art. 14, § 3º, do CDC). Por isso, os recorrentes devem demonstrar que não houve defeito na
prestação do serviço ou a existência de excludente do nexo de causalidade entre o fato jurídico descrito
e o dano experimentado pelo recorrido.

3. Recurso conhecido e desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ALVARO CIARLINI - Relator, MARIA DE LOURDES ABREU - 1º Vogal
e ROBERTO FREITAS - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora , em proferir a
seguinte decisão: CONHECER E NEGAR PROVIMENTO, UNÂNIME. , de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 09 de Outubro de 2019

Desembargador ALVARO CIARLINI


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por Vzuvio Frutos do Mar Empório EIRELI,
Vanderley Ferreira Borges e Alvaro Henrique Ribeiro contra a decisão proferida pelo Juízo da 6ª
Vara Cível de Brasília-DF, nos autos do processo nº 0734469-32.2018.8.07.0001, assim redigida:

“1. Trata-se de ação de conhecimento na qual pretende o autor obter o pagamento de indenização por
danos materiais, morais e estéticos que alega ter experimentado em razão de lesões decorrentes de
acidente com fogo ocorrido nas dependências do restaurante Vzúvio, 3º réu, localizado dentro do
condomínio Life Resort, 4º réu.

2. Inicialmente, analiso as preliminares apontadas pelos réus.

No tocante à alegação de inépcia, a inicial apresenta causa de pedir e pedidos possíveis e sem
incompatibilidades, bem como logicidade entre a narração dos fatos e a conclusão extraída da peça.

Portanto, à míngua de demonstração de ocorrência de qualquer dos vícios trazidos no artigo 330, § 1º,
do CPC, rejeito a preliminar arguida.

Em relação à legitimidade para figurar no pólo passivo da demanda, a questão deve ser examinada sob
o prisma da teoria da asserção, segundo a qual a parte será legítima quando houver nos autos a
identificação inicial mínima entre os titulares dos direitos e obrigações, partindo-se da premissa
hipotética de que são reais os fatos narrados na inicial. Afasto, portanto, a preliminar suscitada.

3. Presentes os pressupostos para a válida constituição e regular desenvolvimento da relação jurídica


processual, declaro saneado o feito e passo a sua organização.

A lide apresentada pelas partes aponta como questões de fato relevantes o acidente relatado na inicial e
o grau dos prejuízos causados ao autor. De outro lado, as correspondentes questões de direito se
referem à aferição da responsabilidade dos réus quanto aos danos suscitados pelo autor.

Do quadro posto, ainda demandam dilação probatória a dinâmica do acidente, a relação de causalidade
entre os fatos e a extensão das lesões ocorridas no autor.

4. Acerca do ônus probatório, registro que a relação jurídica que originou os alegados danos e que
vincula as partes está submetida ao Código de Defesa do Consumidor. Dentro desta perspectiva, no
caso dos autos, vislumbro configurada a hipótese inscrita no art. 6º, VI, do CDC, representativa da
inversão do ônus da prova, pois as alegações do autor são verossímeis e configurada a sua
hipossuficiência técnica, haja vista o acidente ter ocorrido dentro do restaurante, sendo o autor mero
cliente do local, o que dificulta seu acesso a provas que possam estar no lugar e/ou se relacionar com o
funcionamento do restaurante. Inverto, pois, o ônus da prova, incumbindo aos réus, pois, o ônus
probatório.
5. Dito isso, defiro a prova oral requerida pelo autor, no intuito de melhor aferir a dinâmica do
acidente.

6. Designe-se audiência de instrução e julgamento, intimando-se as partes por meio de seus patronos
constituídos.

7. Por força do art. 455 do CPC, é de responsabilidade do advogado da parte informar ou intimar a
testemunha por ele arrolada, do dia, da hora e do local da audiência designada, dispensando-se a
intimação do juízo.

8. A intimação deverá obedecer ao disposto no §1º do art. 455 do CPC, sendo realizada por Aviso de
Recebimento - AR a ser juntado aos autos com antecedência mínima de 03 (três) dias da data da
audiência. A parte poderá trazer a testemunha independente de intimação, presumindo-se, caso não
compareça, que desistiu de sua oitiva, nos termos do § 2º do artigo em comento.

9. Realizada a audiência de instrução, fica desde já deferida a produção de prova pericial, na


modalidade CIRURGIA PLÁSTICA, a fim de subsidiar a análise da extensão das lesões causadas ao
autor. Para o trabalho, nomeio como "expert" Dr. NABI GEBRIM NETTO, e-mail:
nabynetto@hotmail.com / nabygebrimplastica@gmail.com, Tels: 61-3223-6596 / 98477-8488.

10. Considerando que a prova pericial foi requerida pela parte ré, a esta caberá arcar com o ônus do
pagamento dos honorários periciais.

11. Intime-se o "expert" para que diga se aceita o encargo e para apresentar proposta de honorários, no
prazo de 5 dias (art. 465, § 2º, do CPC).

12. Após, no prazo comum de 15 dias, digam as partes nos termos do art. 465, § 1º, do CPC, podendo
arguir o impedimento ou suspeição do perito, indicar assistente técnico e apresentar quesitos, bem
como se manifestarem sobre a proposta de honorários do perito.

13. Não havendo impugnação à nomeação do perito e ao valor dos honorários, intime-se a parte
requerida para que promova o depósito judicial dos honorários periciais, no prazo de 10 dias. Fica a
ressalva de que os sites das instituições financeiras, principalmente do Banco do Brasil, possuem
serviço de emissão de guia de depósito judicial, o que torna dispensável a emissão pela secretaria da
vara.

14. Caso a parte responsável por efetuar o pagamento dos honorários não o faça no prazo legal,
venham-se os autos conclusos para sentença.

15. Feito o depósito, intime-se novamente o perito para dizer a data e local de realização da perícia no
prazo de 5 dias, intimando as partes para ciência.

16. Autorizo desde já, em caso de requerimento expresso do perito, o levantamento de metade do valor,
mediante expedição de alvará.

17. Prazo para a apresentação do laudo pelo perito e dos pareceres dos assistentes técnicos: 30 dias.

18. Na confecção do laudo, o eminente perito deverá observar o contido no art. 473 do CPC.

19. Para o desempenho de suas funções, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se de todos os
meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam
em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas,
mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da
perícia, devendo os terceiros, repartições públicas e as partes, independente de novo despacho judicial,
facilitar o cumprimento das solicitações do perito, sob pena de serem tomadas as medidas cabíveis.

20. Realizada a perícia, dê-se vistas às partes pelo prazo comum de 15 dias.
21. Havendo oferta de quesitos supervenientes, impugnação ao laudo, dúvida ou divergência das partes
ou do assistente técnico, diga o eminente perito no prazo de 15 dias, na forma do art. 477, § 2º, do
CPC, caso em que, após a manifestação do perito, as partes deverão ser novamente intimadas para
dizerem no prazo comum de 5 dias.

22. Não havendo impugnação, expeça-se o alvará de levantamento dos valores dos honorários periciais
em favor do perito e façam-se os autos conclusos para sentença na sequência.”

Em suas razões recursais (fls. 1-7, Id. 9411829), alegam os agravantes, em breve síntese, que o
recorrido não pode ser considerado pessoa hipossuficiente, em termos técnicos, no que diz respeito à
produção de provas a respeito dos fatos jurídicos subjacentes à causa de pedir.

Argumentam que os documentos coligidos aos autos pelo recorrido, bem como a indicação de 8 (oito)
testemunhas, demonstram que ele tem aptidão para produzir as provas necessárias à demonstração da
legitimidade da pretensão deduzida.

Acrescenta que os pontos controvertidos fixados pela decisão de saneamento não estão relacionados à
controvérsia fática a ser elucidada com maior facilidade pelos recorrentes.

Requerem a atribuição de efeito suspensivo ao recurso, bem como a reforma da decisão impugnada
para que seja restabelecida a regra da distribuição estática do ônus da prova.

A guia de recolhimento do valor referente ao preparo recursal e o respectivo comprovante de


pagamento foram acostados aos presentes autos às fls. 1-2 (Id. 9411834).

O requerimento de concessão de efeito suspensivo foi indeferido (fls. 1-11, Id. 9636387).

O agravado apresentou contrarrazões, ocasião em que pugnou pelo desprovimento do recurso (fls. 1-7,
Id. 10096534).

É o relatório.

VOTOS
O Senhor Desembargador ALVARO CIARLINI - Relator

A interposição do presente agravo de instrumento está prevista no art. 1015, inc. XI, do CPC. No
mais, o recurso é tempestivo e os recorrentes estão dispensados da instrução do recurso com as peças
do processo principal, nos termos do art. 1017, § 5º, do Código de Processo Civil.

Por essa razão, o recurso de agravo de instrumento merece ser conhecido, pois estão preenchidos os
pressupostos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade, sendo tempestivo e adequado à espécie.

No caso em exame, a questão devolvida ao conhecimento deste Egrégio Tribunal de Justiça consiste
na avaliação a respeito da distribuição da carga probatória entre as partes integrantes da relação
jurídica processual.

A relação jurídica substancial em análise ajusta-se aos requisitos previstos nos artigos 2º e 3º do
Código de Defesa do Consumidor. Aliás, os recorrentes não controvertem a esse respeito, mas
limitam-se a questionar o preenchimento dos requisitos exigidos para a aplicação da regra contida no
art. 6º, inc. VIII, do CDC.

Convém ressaltar, todavia, que o CDC fornece outros critérios para a distribuição da carga probatória
entre as partes, além daquele decorrente da norma contida no já mencionado art. 6º, inc. VIII, do
CDC, que exige como requisitos sucessivos a verossimilhança das alegaçõesoua hipossuficiência do
consumidor.

A aplicação das hipóteses especiais de distribuição do ônus da prova depende da qualificação do fato
jurídico subjacente à causa de pedir, de acordo com os critérios de classificação definidos pelo próprio
CDC.

No caso, o recorrido foi até o restaurante “Vzúzio” durante o horário de almoço, aos 15 de setembro
de 2018, ocasião em que houve acidente com um dos recipientes utilizados para servir alimentos aos
consumidores, provocado pelos recorrentes, que deram causa, segundo narra o recorrido, a
queimaduras em várias partes do seu corpo.

A situação concreta nitidamente envolve um acidente de consumo. Logo, a pretensão deduzida pelo
recorrido tem como causa de pedir correlata a responsabilidade do fornecedor pelo fato do serviço,
nos termos do art. 14, § 1º, do CDC[1].

A inversão do ônus da prova, nesses casos, é ope legis(art. 14, § 3º, do CDC [2]). Com efeito, em
virtude do caráter automático da referida inversão, os ora recorrentes devem demonstrar que não
houve defeito na prestação do serviço ou a existência de excludente do nexo de causalidade entre o
fato jurídico descrito e o dano experimentado pelo recorrido.

A esse respeito, examinem-se as seguintes ementas promanadas deste Egrégio Tribunal de Justiça:

“DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS.


EMPRESA DE TELEFONIA E BANDA LARGA. FORNECEDOR DE SERVIÇOS.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DESCARGA ELÉTRICA. CASO FORTUITO OU FORÇA
MAIOR NÃO CONFIGURADOS. QUEIMA DE ELETRODOMÉSTICOS. INVERSÃO LEGAL
DO ÔNUS DA PROVA. PROVA SUFICIENTE DOS DANOS ALEGADOS PELO AUTOR.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

I - A responsabilidade do fornecedor de serviço é objetiva, fundada no risco da atividade


desenvolvida, respondendo pelo eventual dano causado, independentemente da existência de culpa.

II - A inversão do ônus da prova é 'ope legis' nos casos de aplicação do art. 12 e 14 do CDC, ou
seja, é o fornecedor de serviços que tem a obrigação legal de demonstrar que o fato não ocorreu
ou que decorreu de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.

III - Recurso interposto por CLARO S/A conhecido e não provido. Honorários recursais majorados
para 20% do valor da condenação em desfavor da ora Apelante, mantidos os demais termos da
sentença

(Acórdão nº 1159274, 07100107920178070007, Relator: GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA 3ª


Turma Cível, Data de Julgamento: 20/03/2019, Publicado no DJE: 24/04/2019)”

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. AGRAVO RETIDO.


PROVA TESTEMUNHAL E PERICIAL. JUIZ COMO DESTINATÁRIO FINAL DA PROVA.
AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONSUMIDOR.
INDENIZAÇÃO. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. QUEIMADURAS DERIVADAS DE
EXPLOSÃO DE RADIADOR DE ÔNIBUS. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO.
“RESPONSABILIDADE OBJETIVA. SEGURANÇA E INFORMAÇÃO. NÃO DEMONSTRAÇÃO
DE EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. DANO MORAL. VIOLAÇÃO À ÓRBITA DA
PERSONALIDADE. CICATRIZ NA PERNA. DESDOBRAMENTO NOS HÁBITOS
ORDINÁRIOS DA VÍTIMA. DANO ESTÉTICO. SÚMULA Nº 246 DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. ABATIMENTO DO SEGURO DPVAT DO VALOR DA INDENIZAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE QUE O SEGURO FOI
RECEBIDO EFETIVAMENTE.

1. O juiz é o destinatário final da prova, de modo que, tendo o magistrado recolhido elementos
bastantes para elucidar a dinâmica do evento narrado, não há falar em cerceamento de defesa, em
decorrência da dispensa da oitiva de outra testemunha arrolada pela parte ré.

2. Sendo suficiente e conclusivo o laudo pericial acerca da origem e da extensão da cicatriz, não se
revela útil e necessário à formação do acervo probatório dos autos a providência reclamada de
provocar esclarecimentos novos sobre questões já demarcadas pelo expert.

3. Em sede de responsabilidade por fato do serviço, não se perquire acerca da existência de


culpa por parte da prestadora do serviço (responsabilidade objetiva - art. 14, caput, do CDC),
sendo, nessa linha, suficiente a demonstração do nexo causal e do dano perpetrado, competindo
à prestadora do serviço, na forma do art. 14, § 3º, do CDC, o ônus de provar a inexistência do
defeito do serviço (inversão do ônus ope legis).

4. Diante do direito básico do consumidor atinente à proteção da vida, saúde e segurança (art. 6º, I, do
CDC), deve o prestador de serviço de transporte, porque sabedor dos riscos inerentes ao serviço de
transporte urbano oferecido, orientar a acomodação dos passageiros, de modo a impedir que
consumidores fiquem nas proximidades de área na qual haveria um incremento de risco à sua
integridade física.

5. Não demonstrada a ocorrência da excludente de responsabilidade atinente à culpa exclusiva do


consumidor e porque preservado o nexo causal entre o defeito do serviço e o dano causado, revela-se
formado o dever sucessivo de compensação do prestador de serviço.

6. Os danos físicos (queimaduras de segundo grau) decorrentes da explosão de um radiador adentram


na esfera dos direitos da personalidade do consumidor, tendo em conta a aflição e a perturbação
considerável de que foi vítima, não podendo, de modo algum, ser reduzido o evento a um incidente ou
a um mero dissabor, de tal sorte que se revela presente violação à órbita dos direitos da personalidade
do consumidor.

7. Sendo permissionária de serviço público de transporte urbano, a prestadora de serviço possui o


dever de prestar um serviço adequado, o qual perpassa pela preservação da incolumidade do
passageiro, como é próprio de todo contrato de transporte, mas também pela preservação da dignidade
do cidadão. A prestação de um serviço público, ainda que por delegação, não pode se confundir com a
mera exploração de atividade econômica em sentido estrito, devendo, dessa forma, atentar-se aos
primados próprios de uma atividade realizadora do interesse público.

8. O dano estético figura como categoria autônoma em relação ao dano moral (Súmula nº 387 do e.
STJ), ficando caracterizado diante de um efeito particular de um dano físico, a saber, a exteriorização
de um "enfeiamento", por exemplo, em decorrência de cicatrizes.

9. O dano estético não se atém à projeção fisiológica do dano, envolvendo a imagem física da pessoa
em aspectos associados, por exemplo, a movimentos habituais de andar, de gesticular, de
comportar-se, caracterizando, nessa linha, ofensa com relevo jurídico por vilipendiar as expressões
próprias da dinâmica da personalidade da pessoa.

10. Em se tratando de mulher, cuja vaidade natural conta com a sensação de bem-estar, o dano
referente a uma cicatriz hipercrômica (tonalidade diversa da pele e mais escura) na perna perturbará
hábitos ordinários da sua vida como o de se vestir, bem como repercutirá no modo de exposição da
sua imagem, o que caracteriza dano estético

11. O abatimento do valor do seguro DPVAT da indenização judicial (Súmula nº 246 do e. STJ)
somente tem lugar, quando, evidentemente, for demonstrado que a vítima foi contemplada com essa
quantia, sob pena de ser prolatada sentença circunstanciada. Logo, em razão da necessidade de
atividade cognitiva, a qual imprescinde de provocação do jurisdicionado (princípio da inércia), não é
possível, para efeito de abatimento, antever o valor do DPVAT, o qual pode ser inclusive
proporcional, motivo pelo qual a minoração da condenação com base em conjectura importaria a
atribuição ao ofensor de um ganho sem causa (locupletamento ilícito).

12. Agravos retidos conhecidos aos quais se nega provimento. Apelo conhecido a que se nega
provimento. (Acórdão nº 673176, 20111010055034APC, Relator: SIMONE LUCINDO, Revisor:
ALFEU MACHADO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 24/04/2013, Publicado no DJE:
03/05/2013, p. 64) (Ressalvam-se os grifos)”
Diante desse contexto, a avaliação da hipossuficiência do recorrido para produzir provas a respeito de
determinado fato é irrelevante e não altera a conclusão adotada pelo Juízo singular. Em outras
palavras, a distribuição da carga probatória foi efetuada de forma correta, ainda que por fundamento
diverso.
[3]
A respeito da inversão do ônus da prova nesses casos, atente-se à doutrina de Sérgio Cavalieri Filho :

“Temos aí, induvidosamente, uma inversão do ônus da prova quanto ao nexo causal, porquanto em
face da prova de primeira aparência, caberá ao fornecedor provar que o defeito inexiste, ou a
ocorrência de qualquer outra causa de exclusão de responsabilidade. Essa inversão do ônus da prova –
cumpre ressaltar – não é igual àquela que está prevista no art. 6º, VIII. Aqui [§ 3º dos arts. 12 e 14] a
inversão é ope legis, isto é, por força da lei; ao passo que ali a inversão é ope iudicis (...).

(...).

Correta a posição do Código, porque se para a vítima é praticamente impossível produzir prova
técnica ou científica do defeito, para o fornecedor isso é perfeitamente possível ou pelo menos muito
mais fácil. (...) O que não se pode é transferir esse ônus para o consumidor”.

Verifica-se, portanto, que a inversão do ônus da prova no caso em exame decorre de determinação
legal, pois se trata de responsabilidade pelo fato do serviço. O Código de Defesa do Consumidor,
neste caso, optou pelo estabelecimento de critério de distribuição objetivo da carga probatória,
situação que independe de valorações efetuadas nos autos pelo Juiz.

Diante do exposto, nego provimento ao recurso.

É como voto.

[1] Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

[2] § 3° - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

[3] CAVALIERI, Sérgio Filho. Programa de responsabilidade civil. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2009, p.
493-494.
A Senhora Desembargadora MARIA DE LOURDES ABREU - 1º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ROBERTO FREITAS - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECER E NEGAR PROVIMENTO, UNÂNIME.

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