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EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUIZA DE DIREITO DO JUÍZO DO 6º

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DO FORO REGIONAL DA


TRISTEZA DA COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS.

Processo. nº. 5001292-46.2022.8.21.6001

HORAIDE GONÇALVES, brasileira, solteira, pensionista, inscrita


no sob o CPF nº 236.963.70-15 e RG nº 7005226861, residente e domiciliada à Beco
Maria Balbina, 520, bairro Campo Novo, Porto Alegre/RS, CEP 91750-100, vem, por
intermédio de seus advogados infra assinados, os quais, em atendimento aos ditames
contidos no art. 77, inciso V, do CPC, indica-o para as intimações necessárias, para,
com supedâneo no art. 335 e segs. da Legislação Adjetiva Civil, art. 476, do Código
Civil c/c art. 30 e 31, um e outro da Lei dos Juizados Especiais, ofertar a presente

CONTESTAÇÃO C/C RECONVENÇÃO

Em face de COOPERATIVA HABITACIONAL DOS


TRABALHADORES RODOVIÁRIOS AUTÔNOMOS DE PORTO ALEGRE LTDA,
já qualificado na peça exordial, em razão das justificativas de ordem fática e de direito
abaixo estipuladas.

I. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O art. 98 do CPC prevê o direito a concessão de justiça gratuita a


pessoa jurídica com insuficiência de recursos para arcar com os encargos processuais.

A ré não tem recursos suficientes para arcar com os encargos


processuais, sem que prejudique, para tanto, a sua própria atividade. Sendo assim, a ré
pleiteia os benefícios da justiça gratuita conforme preceitua o art. 98 e seguintes do CPC
e a Súmula 481 do STJ.
II. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

A parte Autora busca cobrar taxas administrativas, sugerindo que Ré


sequer pagou qualquer valor desde 08/12/2018. Esse episódio fático, como afirmado
alhures, foi prontamente refutado durante audiência deste mesmo processo. De todo
modo, apresenta-se preliminar de incompetência absoluta deste juízo de unidade de
Juizados Especiais.

Sem hesitação, dar-se solução à vertente fática posta em juízo reclama


a realização de provas testemunhal em audiência de instrução; um levantamento
detalhado de todos os fatores que, eventualmente, levaram à ocorrência em estudo.

Nessa seara, considerando-se a vexata quaestio, a pretensão


condenatória passa, antes, pela concretização da dívida, fato esse apenas possível
mediante prova testemunhal. E isso, obviamente, revela a complexidade da causa e, via
de consequência, na incompetência absoluta dos juizados especiais, a teor do que dispõe
os arts. 3º e 51, II, um e outro da Lei n. 9.099/95.

Não se descure, de mais a mais, o que nos revela o entendimento


jurisprudencial:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA. FRETE.


PRELIMINAR CONTRARRECURSAL DE IMPUGNAÇÃO AO
PEDIDO DE GRATUIDADE JUDICIÁRIA, AFASTADA.
DESCONTO DE 30% DO VALOR CONSTANTE NA NOTA
FISCAL. AJUSTE VERBAL. AVARIAS NOS BENS ENTREGUES.
RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR. PROVA
TESTEMUNHAL QUE CORROBORA A TESE DEFENSIVA.
Hipótese em que a demandante busca receber as diferenças das
quantias descontadas pela realização de frete, bem como dos valores
relativos a avarias supostamente ocorridas na entrega do produto aos
consumidores. Preliminar contrarrecursal. Impugnação ao pedido da
gratuidade da justiça. Comprovada a insuficiência financeira da parte
recorrente, sem que tenha havido produção de mínima prova em
sentido contrário, não prospera a impugnação. Valor do frete. Prova
coligida aos autos, que demonstra ter havido ajuste verbal entre as
partes para a ocorrência de desconto de 30% do valor da nota fiscal,
para cálculo do valor do frete a ser pago à demandante. A prova
testemunhal coligida demonstra a habitualidade do ajuste verbal, a
este título. Descabe à demandante exigir da demandada a exibição de
documentos, pois o pedido se revela incompatível com o
procedimento do JEC, de modo a se mostrar inviabilizada a
aplicação da penalidade de confissão, requerida pela recorrente. A
obrigação de demonstrar os termos do contrato cabe à parte autora,
quando alega não ter sido adimplido o valor ajustado e a parte
demandada, por sua vez, comprova que houve ajuste verbal, nos
termos da tese defensiva. Inadimplemento contratual não verificado.
Responsabilidade pelas avarias. A ausência de prova de que os
produtos já se encontravam avariados no momento do transporte e da
entrega, afastam da ré o dever de ressarcir a demandante das quantias
descontadas a este título. Oportunizado à parte demandante a
verificação das mercadorias, no momento da retirada para efetivação
do transporte, cabia à autora verificar a ausência de danos no produto
transportado. Assim não procedendo, assumiu o risco de ter que
indenizar pelo prejuízo ocasionado, diante da presunção de que as
avarias ocorreram durante o transporte. A relação de continuidade dos
serviços prestados pela parte autora, pelo período de 02 anos, sem
reclamação dos valores pagos pela ré, reforça o argumento de que
houve ajuste verbal entre as partes, acerca da forma como os
pagamentos seriam realizados. Sentença mantida, a teor do art. 46 da
Lei 9.099/95. PRELIMINAR CONTRARRECURSAL AFASTADA
E RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Recurso Cível, Nº
71009329053, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,
Relator: Elaine Maria Canto da Fonseca, Julgado em: 26-08-2020)
(grifo nosso)

Por fim, inarredável a conclusão da incompetência absoluta deste


juízo, haja vista a complexidade da prova, motivo da extinção do processo sem se
adentrar ao mérito. (LJE, art. 51, inc. II).

III. PRELIMINAR DE IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA


GRATUITA

Pelo que se depreende da documentação apresentada, o impugnado


apenas declarou ser pobre nos termos da lei para auferir os benefícios da Gratuidade de
Justiça.
Ocorre que a declaração de pobreza gera apenas presunção relativa
acerca da necessidade, cabendo ao Julgador verificar outros elementos para decidir
acerca do cabimento do benefício.

Apesar da redação dado pela Súmula 481 do Stj conferir à pessoa


jurídica o direito de obter a gratuidade de justiça, a prova de hipossuficiência é requisito
indispensável à sua concessão.

Desta forma, o pedido de gratuidade deve vir instruído com prova


suficiente da impossibilidade da empresa em arcar com as custas processuais, o que não
ocorre no presente caso, devendo conduzir ao seu indeferimento, conforme precedentes
sobre o tema:

AGRAVO INTERNO. JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA JURÍDICA.


HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO COMPROVADA. INDEFERIMENTO.
– Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem
fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais (Súmula 481, STJ). – Não demonstrada a
hipossuficiência, indefere-se o benefício da gratuidade judiciária. (TJ-
MG – Agravo Interno Cv 1.0043.17.001513-5/003, Relator (a): Des.
(a) Aparecida Grossi, julgamento em 23/01/2020, publicação da
súmula em 29/01/2020)
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA – Pedido de benefício da gratuidade de
justiça – Pessoa jurídica – Admissibilidade desde que comprovada a
falta de condições de pagar as custas e despesas processuais – Art. 99,
§3º do CPC/2015 – Súmula 481 do STJ – Comprovação no caso
concreto – Recurso da ré denunciada nesta parte provido.
CONTRATO – Transporte de pessoas – Colisão – Violação à cláusula
de incolumidade – Nexo causal evidente – Culpa de terceiro que não
ilide a responsabilidade da transportadora na execução do contrato –
Passageiro que sofreu danos corporais – Danos materiais e
extrapatrimoniais demonstrador – Proporcionalidade no arbitramento
– Valor de R$ 5.000,00 que não deve ser reduzido – Recurso das rés
nesta parte improvido” (TJSP; Apelação Cível 0018636-
43.2012.8.26.0309; Relator (a): J. B. Franco de Godoi; Órgão
Julgador: 23ª Câmara de Direito Privado; Foro de Jundiaí – 6º Vara
Cível; Data do Julgamento: 04/08/2020; Data de Registro:
04/08/2020)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DE JUSTIÇA.
PESSOA JURÍDICA. Necessidade de demonstração dos requisitos
legais. Recurso ao qual se nega provimento (TJSP; Agravo de
Instrumento 0100135-70.2020.8.26.9006; Relator (a): Eduardo
Calvert; Órgão Julgador: 4ª Turma Recursal Cível e Criminal; Foro de
Guararema – Juizado Especial Cível e Criminal; Data do Julgamento
24/08/2020; Data de Registro: 02/09/2020)

Ao disciplinar sobre o tema, grandes doutrinadores sobre o tema


esclarecem:

“Havendo dúvidas fundadas, não bastará a simples declaração,


devendo a parte comprovar sua necessidade (STJ, 3ª Turma. AgRg
no AREsp 602.943/SP, rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 04.02.15). Já
compreendeu o Superior Tribunal de Justiça que “Por um lado, à luz
da norma fundamental a reger a gratuidade de justiça e do art. 5º,
caput, da Lei n. 1.060/1950 – não revogado pelo CPC/2015 -, tem o
juiz o poder-dever de indeferir, de ofício, o pedido, caso tenha
fundada razão e propicie previamente à parte demonstrar sua
incapacidade econômico-financeira de fazer frente às custas e/ou
despesas processuais. Por outro lado, é dever do magistrado, na
direção do processo, prevenir o abuso de direito e garantir às partes
igualdade de tratamento” (STJ, 4ª Turma. Resp 1.584.130/RS, rel.
Min. Luis Felipe Salomão, j. 07/06/2016, Dje 17.08.2016).
“(MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz.
MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. 3ª
ed. Revista dos Tribunais, 2017. Vers. Ebook. Art. 99)

Motivos que devem conduzir ao imediato indeferimento do pedido de


Gratuidade de Justiça.

IV. MÉRITO

A contestante impugna todos os fatos articulados na inicial o que se


contrapõem com os termos desta contestação, esperando a IMPROCEDÊNCIA DA
AÇÃO PROPOSTA, pelos seguintes motivos:

DOS VALORES PAGOS

Afirma a parte autora o não pagamento da dívida contraída pelo


contestante por mais de 41 (quarenta um) meses. Ocorre que o valor de R$ 5.654,29
cobrado sobre taxas administrativas, foram quitados.
Quanto aos valores sobre IPTU e “ESCRITURAÇÃO”: a escrituração
foi paga à 11 (onze) anos, quando a ré comprou o imóvel, então não há em que ser falar
em dívida. Já o valor do IPTU, será devidamente pago, quando a parte autora apresentar
de fato que deu a entrada formalmente junto à Procuradoria Geral do Município de
Porto Alegre, para fazer a legalização do terreno e subdividir o valor, conforme os lotes
existentes.

DA RECONVENÇÃO - REPETIÇÃO DE INDÉBITO

Conforme disposição expressa do art. 343 do CPC, pode o réu em


sede de contestação arguir a Reconvenção, o que faz pelos fatos e direito a seguir.

O autor, ao impor cobranças abusivas, responde pelos débitos de


forma dobrada que estão sendo cobrados novamente da parte ré.

Desta forma, comprovado que os pagamentos foram realizados


indevidamente, o autor deverá ressarcir ao contestante os valores descontados em dobro
e eventuais descontos futuros, nos termos do parágrafo único do artigo 42 da Lei
8078/90, verbis:

Art. 42. (...) Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia


indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

Portanto, inequívoca a responsabilidade e dever do autor no


pagamento em dobro dos valores indevidamente cobrados, conforme comprovantes
anexos.

V. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante o exposto, restando evidenciado o direito e interesse de agir da


reconvinte, requer-se;
a) Pretende-se o conhecimento e acolhimento das preliminares
arguidas;
b) Em face do exposto, contesta todos os termos da inicial,
requerendo que seja julgado IMPROCEDENTE os pedidos da
presente ação sob pena de enriquecimento ilícito, e ainda
condenando o reconvindo no pagamento de custas, despesas
processuais e honorários advocatícios;
c) Seja o pedido de reconvenção julgado TOTALMENTE
PROCEDENTE, a fim de condenar o reconvindo ao
pagamento em dobro do valor já pago pela reconvinde
referente às taxas administrativas do período de 08/12/2018 à
presente data;
d) Seja o reconvindo condenado ao pagamento de custas de
despesas processuais, bem como honorários advocatício,
conforme preceitua o art. 85, §1º do CPC;
e) Tendo em vista que a reconvinte não tem condições de arcar
com as custas e despesas processuais, requer os BENEFÍCIOS
DA ASSITÊNCIA JUDICIÁRIA, conforme reza o art. 98 e
seguintes do CPC e a Súmula: 481 do STJ;
f) Provarão o alegado por todos os meios de provas em direito
admitidos, especialmente a oitiva de testemunhas
oportunamente arroladas, juntadas de documentos, etc.
Protestam por outras provas;

Cumpridas as necessárias formalidades legais, deve a presente ser


recebida e juntada aos autos.

Nesses Termos,
Pede deferimento.
Porto Alegre, 06 de maio de 2022.

P.p. Lucas Adílio do Prado


OAB/RS 94.874
P.p. Thays Moura Gonçalves
OAB/RS 122.430

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