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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”

@graceliamenezes

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
QUESTÕES DE PROVAS OBJETIVAS “FGV” E “CEBRASPE”.
Atualizado até 17.04.23

LEGENDA DE CORES:
VERDE IDENTIFICAÇÃO DA MATÉRIA E DESTAQUE DE PONTOS IMPORTANTES
AMARELO DESTAQUE
VERMELHO ATENÇÃO! SUPER IMPORTANTE!
AZUL ASSERTIVAS/QUESTÕES DE PROVA

O MATERIAL: Os julgados, neste material, foram retirados de questões cobradas em


provas objetivas realizadas pela FGV e CEBRASPE. O objetivo foi reunir o maior
número de decisões cobradas pelas bancas supracitadas. “Jurisprudência em
Provas” vem com juris e assertivas. Um material elaborado para meus estudos para o
concurso da Magistratura Estadual. MATERIAL GRATUITO.

Elaboração: Gracélia Menezes.

Revisor: Fernando E. Hack.

Edição: Fred Cezar

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SUMÁRIO
1. DIREITO ADMINISTRATIVO ....................................................................................................................................... 8
1.1 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA .................................................................................................................... 8
1.2 RESPONSABILIDADE ........................................................................................................................................ 8
1.3 PODER DE POLÍCIA ........................................................................................................................................ 12
1.4 AGENTES PÚBLICOS ...................................................................................................................................... 12
1.5 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA ........................................................................ 12
1.6 ATO ADMINISTRATIVO ................................................................................................................................... 13
1.7 PRESCRIÇÃO ................................................................................................................................................... 13
1.8 ACORDO DE LENIÊNCIA ................................................................................................................................. 15
2. DIREITO CONSTITUCIONAL .................................................................................................................................... 16
2.1 SISTEMA REMUNERATÓRIO .......................................................................................................................... 16
2.2 CPI – COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO ...................................................................................... 16
2.3 IMPOSIÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES ..................................................................................................... 17
2.4 CRIME COMUM PRATICADO POR GOVERNADOR: DESCENECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO DA
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA ........................................................................................................................................ 17
2.5 COMPETÊNCIA ................................................................................................................................................ 17
2.6 MEDIDA PROVISÓRIA ..................................................................................................................................... 18
2.7 FAKE NEWS ..................................................................................................................................................... 19
2.8 AUTONOMIA DIDÁTICO-CIENTÍFICA E ADMINISTRATIVA DAS UNIVERSIDADES ................................... 19
2.9 ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAIS ................................................................................................. 20
3. DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................................... 21
3.1 BEM DE FALMILIA ........................................................................................................................................... 21
3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................................................................................ 21
3.3 ANALOGIA........................................................................................................................................................ 21
3.4 CONTRATO DE HIPOTECA ............................................................................................................................. 23
3.5 DIREITOS DE PERSONALIDADE: DIREITOS AUTORAIS ............................................................................. 24
3.6 SEGURO DE VIDA x SEGURO DE AUTOMÓVEL .......................................................................................... 24
3.7 DOS ATOS PRÓPRIOS .................................................................................................................................... 25
3.8 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA .............................................................................. 26
3.9 SÚMULA 537 STJ – REPARAÇÃO DE DANOS x SEGURADORA ................................................................ 26
4. PROCESSO CIVIL ..................................................................................................................................................... 27
4.1 QUERELA NULLITATIS (AÇÃO DECLARATÓRIA) ........................................................................................ 27
4.2 FRAUDE À EXECUÇÃO ................................................................................................................................... 27
4.3 IMPRESCRITIBILIDADE DAS AÇÕES DE RESSARCIMENTO FUNDADAS NA PRÁTICA DE ATO DOLOSO
DA LIA 27
4.4 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ...................................................................................................................... 28
4.5 EXECUÇÃO FISCAL ........................................................................................................................................ 28
4.6 EMBAROS DE DECLARAÇÃO: NÃO SUSPENDEM E NEM INTERROMPEM O PRAZO PARA
INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO...................................................................................................................................... 28
4.7 EXECUÇÃO DE PENALIDADE IMPOSTA POR TRIBUNAL DE CONTAS ..................................................... 29

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4.8 REMESSA NECESSÁRIA................................................................................................................................. 29


4.9 RESERVA DE PLENÁRIO ................................................................................................................................ 30
4.10 INTERVENÇÃO DE TERCEIRO ....................................................................................................................... 30
4.11 RECURSOS ...................................................................................................................................................... 31
4.12 MANDADO DE SEGURANÇA .......................................................................................................................... 31
4.13 RESSARCIMENTO x EFETIVAÇÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA ................................................................. 33
4.14 AÇÃO CIVIL PÚBLICA ..................................................................................................................................... 33
4.15 SENTENÇAS DE IMPROBIDADE NÃO FICAM SUJEITAS AO REEXAME NECESSÁRIO. (NOVIDADE!!!) 37
4.16 AÇÃO REVISIONAL X INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL ........................................................ 38
4.17 MEDIDAS EXECUTIVAS ATIPICAS ................................................................................................................. 39
4.18 LITISCONSÓRCIO ENTRE MPE E MPF .......................................................................................................... 40
4.19 AÇÃO COLETIVA X SUSPENSÃO DAS AÇÕES INDIVIDUAIS ..................................................................... 40
4.20 COMPETÊNCIA – ACESSO/MATRICULA AO ENSINO .................................................................................. 41
5. DIREITO DO CONSUMIDOR ..................................................................................................................................... 43
5.1 DANO MORAL COLETIVO ............................................................................................................................... 43
5.2 PLANO COLETIVO x RESCISÃO UNILATERAL x CONTINUIDADE ASSISTENCIAIS ................................. 46
5.3 COBRANÇA INDEVIDA DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS DE TELEFONIA .............................................. 46
5.4 INSCRIÇÃO INDEVIDA x DECORRENTE DE FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO. ............................... 46
5.5 PUBLICIDADE ENGANOSA POR OMISSÃO .................................................................................................. 47
5.6 INDICAÇÃO DA CID EM REQUISIÇÕES DE EXAMES E SERVIÇOS DE SAÚDE. CONDICIONAMENTO
PARA A COBERTURA DO SERVIÇO ........................................................................................................................... 47
5.7 DIREITO CIVIL E SECURITÁRIO ..................................................................................................................... 48
5.8 JUROS NO PÉ .................................................................................................................................................. 48
5.9 CONTRATO DE MÚTUO X PENHOR DE JOIAS SUBTRAÍDAS..................................................................... 49
5.10 AÇÃO REDIBITÓRIA. RECLAMAÇÃO QUE OBSTA A DECADÊNCIA.......................................................... 51
5.11 SEGURO SAÚDE .............................................................................................................................................. 51
5.12 USO FORA DA BULA (OFF-LABEL ................................................................................................................ 53
5.13 REAJUSTE DE MENSALIDADE DE SEGURO-SAÚDE EM RAZÃO .............................................................. 53
5.14 CLÁUSULA DE COPARTICIPAÇÃO x INTERNAÇÃO EM RAZÃO DE TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS 54
5.15 TERMO INICIAL DO PRAZO DE PERMANÊNCIA DE REGISTRO DE NOME DE CONSUMIDOR EM
CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ................................................................................................................ 54
5.16 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ................................................................................................................. 54
5.17 PRAZO DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO CONDENATÓRIA DECORRENTE DE NULIDADE DE
CLÁUSULA DE REAJUSTE DE PLANO OU SEGURO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. ............................................... 54
6. DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA ............................................................................................. 57
6.1 UNIDADES DE CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS x LOTAÇÃO MÁXIMA ...................... 57
6.2 INSIGNIFICÂNCIA x ATO INFRACIONAL ....................................................................................................... 57
6.3 HIPÓTESES DE INTERNAÇÃO ....................................................................................................................... 57
6.4 ATENUANTE DE CONFISSÃO ........................................................................................................................ 58
6.5 LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO x LAUDO PSICOSSOCIAL ............................................................... 58
6.6 DAS MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS ................................................................................................................. 58
6.7 ADOÇÃO À BRASILEIRA, DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR E ESTUDO SOCIAL .............................. 59

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6.8 OMISSÃO VOLUNTÁRIA E INJUSTIFICADA: DANOS MORAIS ................................................................... 59


6.9 IMPOSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DA MULTA APLICA AO GENITOR HIPOSSUFICIENTE ..................... 59
6.10 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA JULGAR O CRIME DO ART. 241-A DO ECA PRATICADO
POR MEIO DE APLICATIVO DE MENSAGENS PRIVADAS ........................................................................................ 60
7. DIREITO PENAL ........................................................................................................................................................ 61
7.1 MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO................................................................................................... 61
7.2 INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, HISTÓRICA, SISTEMÁTICA E FINALÍSTICA ........................................ 61
7.3 VEDADA A UTILIZAÇÃO DE INQUÉRITOS E AÇÕES EM CURSO PARA IMPEDIR A APLICAÇÃO DO
TRÁFICO PRIVILEGIADO ............................................................................................................................................. 62
7.4 APLIACAÇÃO DA PENA - CONDENAÇÃO PELO CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE
ENTORPECENTES. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006.......... 62
7.5 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FURTO COMETIDO DURANTE O
REPOUSO NOTURNO. NÃO APLICAÇÃO ................................................................................................................... 62
7.6 CRITÉRIOS PARA O INGRESSO DA POLÍCIA EM UMA RESIDÊNCIA ........................................................ 63
7.7 INOBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES DO ART. 226. E A NULIDADE DO RECONHECIMENTO
PESSOAL ....................................................................................................................................................................... 67
7.8 FIXAÇÃO DE ASTREINTES EM DESFAVOR DE TERCEIROS NÃO PARTICIPANTES DO PROCESSO .... 68
7.9 PUNIBILIDADE DA TENTATIVA: TEORIA OBJETIVA.................................................................................... 68
7.10 ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO ................................................................................................................... 69
7.11 CRIMES PREVISTOS NOS ART. 231 E 217-A DO CP DISPENSAM O CONTATO FÍSICO ENTRE
OFENSOR E OFENDIDO ............................................................................................................................................... 69
7.12 CRIMES/HIPÓTESES QUE ADMITEM PERDÃO JUDICIAL. [TEMA DE ALTA INCIDÊNCIA] ...................... 70
7.13 QUALIFICADORA DO MOTIVO FÚTIL x HOMICÍDIO PRATICADO COM DOLO EVENTUAL ...................... 70
7.14 AMEAÇA DE MAL ESPIRITUAL x CRIME DE EXTORSÃO ............................................................................ 71
7.15 CRIME ÚNICO................................................................................................................................................... 71
7.16 AUTORIA COLATERAL ................................................................................................................................... 71
7.17 OMISSÃO DE VALORES NA GUIA DE RECOLHIMENTO DO FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE
SERVIÇO E INFORMAÇÃO À PREVIDÊNCIA SOCIAL ............................................................................................... 72
7.18 MÚLTIPLA REINCIDÊNCIA .............................................................................................................................. 72
7.19 ATENUANTE DE CONFISSÃO ........................................................................................................................ 73
7.20 INAPLICABILIDADE DE INSIGNIFICÂNCIA AOS DELITOS DE TRÁFICO E PORTE DE DROGAS ............ 73
7.21 REQUISITOS PARA REDUÇÃO DE PENA PREVISTA NO ART. 33, § 4° DA LEI N° 11.343/2006 ............... 74
7.22 A APREENSÃO DE BALANÇA DE PRECISA X ENVOLVIMENTO COM ATIVIDADES CRIMINOSAS ........ 74
7.23 ROUBO PRATICADO CONTRA AGÊNCIA FRANQUEADA DOS “CORREIOS” x AGÊNCIA PRÓPRIA ..... 74
7.24 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR E JULGAR OS CRIMES DOS ARTS. 241,
241-A E 241-B QUANDO PRATICADOS PELA INTERNET ......................................................................................... 74
7.25 ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA .......................................................................................................................... 75
7.26 TEORIA DA PONDERAÇÃO UNITÁRIA: REPELIR COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS ................................. 75
7.27 QUANDO A INFRAÇÃO DISCIPLINAR TAMBÉM CONFIGURAR CRIME, APLICAR-SE-Á O PRAZO
PREVISTO NO ART. 109 DO CP INDEPENDENTEMENTE DE ESTAR SENDO APURADA OU NÃO ...................... 75
7.28 PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO .......................................................................................................................... 76
7.29 DETRAÇÃO ...................................................................................................................................................... 76
7.30 EXCEÇÃO DA VERDADE É PROCESSADA EM PRIMEIRO GRAU E APENAS JULGADA PELO TRIBUNAL
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8. DIREITO PROCESSUAL PENAL .............................................................................................................................. 78


8.1 COMPARTILHAMENTO DOS RELATÓRIOS DE INTELIGÊNCIA FINANCEIRA ........................................... 78
8.2 PRINCIPIO DA DIVISIBILIDADE ...................................................................................................................... 78
8.3 MEDIDAS CAUTELARES ................................................................................................................................. 79
8.4 SIGILO TELEFÔNICO....................................................................................................................................... 80
8.5 INQUÉRITO POLICIAL ..................................................................................................................................... 80
8.6 BUSCA E APREENSÃO: MEDIDA CAUTELAR REAL ................................................................................... 81
8.7 HIPÓTESES EM QUE A BUSCA PESSOAL INDEPENDE DE MANDADO .................................................... 81
8.8 PROGRESSAO DE REGIME ............................................................................................................................ 81
8.9 HC x TURMA RECURSAL ................................................................................................................................ 82
8.10 IMUNIDADE MATERIAL DOS VEREADORES ................................................................................................ 82
8.11 A RESPOSTA POSITIVA DOS JURADOS AO QUESITO REFERENTE À TENTATIVA DE HOMICÍDIO
IMPLICA RECUSA AO DA DESISTÊNCIA ESPONTÂNEA .......................................................................................... 82
8.12 IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO QUE INDEFERE O PEDIDO DE ADMISSÃO DE ASSISTENTE..................... 83
8.13 TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO ......................................................................................... 83
8.14 REMIÇÃO DE PENA POR MEIO DE PRÁTICA SOCIAIS EDUCATIVAS NÃO-ESCOLARES ....................... 83
8.15 BENEFÍCIO DA PROGRESSÃO AO APENADO EM PRESÍDIO FEDERAL DE SEGURANÇA MÁXIMA ..... 84
8.16 INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEFENSOR DATIVO (REGRA) .......................................................................... 85
8.17 A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PODE SER AMPLIADA ............................................................ 85
8.18 EXCEÇÃO DA VERDADE OPOSTA EM FACE DE AUTORIDADE COM PRERROGATIVA DE FORO ........ 85
8.19 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA x RENOVABILIDADE ................................................................................ 85
8.20 NULIDADE DO APF POR AUSÊNCIA DE ADVOGADO: CONDIÇÕES PARA RECONHECIMENTO ........... 86
8.21 SOMENTE É AUTORIZADO AO JULGADOR AFASTAR AS QUALIFICADORAS CONTIDAS NA
DENÚNCIA CASO NÃO HAJA DÚVIDAS DE QUE ELAS NÃO ESTÃO CONFIGURADAS NO CASO CONCRETO 86
8.22 O PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE DOS RECURSOS .............................................................................. 86
8.23 LEGITIMIDADE DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO ........................................................................................ 87
8.24 O TERMO INICIAL DO PRAZO PARA O MP IMPUGNAR DECISÃO JUDICIAL ............................................ 87
8.25 A INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL DOS MEMBROS DO MP x PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO EM ALEGAÇÕES
FINAIS POR UM MEMBRO x RECURSO INTERPOSTO POR OUTRO MEMBRO DO MP: POSSIBILIDADE ........... 87
8.26 A RENÚNCIA DO RÉU AO DIREITO DE APELAÇÃO, MANIFESTADA SEM A ASSISTÊNCIA DO
DEFENSOR, NÃO IMPEDE O CONHECIMENTO DA APELAÇÃO QUE SEU DEFENSOR INTERPUSER. ............... 88
8.27 QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTAIS .......................................................................... 88
8.28 LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA ............................................................................................... 88
8.29 HIPÓTESE EM QUE A DEFESA TÉCNICA TOMOU CIÊNCIA DA DECISÃO QUE REVOGOU O SURSIS E
NÃO INTERPÔS RECURSO, RAZÃO PELA QUAL NÃO HÁ FALAR EM NULIDADE. .............................................. 89
8.30 QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA DA PROVA ......................................................................................... 89
8.31 ADMITE-SE A COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DE LESÕES CORPORAIS POR OUTROS MEIOS
DE PROVA ..................................................................................................................................................................... 92
8.32 A REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO
NÃO EXIGE MAIORES FORMALIDADES .................................................................................................................... 92
8.33 JUSTA CAUSA É EXIGÊNCIA LEGAL PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA ........................................ 92
8.34 AÇÃO PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA ................................................................................................ 92
8.35 CONFIGURA-SE ATO INVESTIGATIVO? ........................................................................................................ 93

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8.36 DENUNCIA ANÔNIMA ...................................................................................................................................... 93


9. DIREITO ELEITORAL ................................................................................................................................................ 94
9.1 ALFABETIZAÇÃO EM BRAILLE DE CANDIDATO DEFICIENTE VISUAL PARA FINS DE PARTICIPAÇÃO
NO PLEITO. ................................................................................................................................................................... 94
9.2 AGENTES PÚBLICOS DOTADOS DE AUTONOMIA x ATO COMPLEXO x CORRESPONSABILIDADE ..... 95
9.3 PARTIDO POLÍTICO NÃO POSSUI LEGITIMIDADE PARA POSTULAR PEDIDO DE SUSPENSÃO DE
SEGURANÇA ................................................................................................................................................................. 96
9.4 REJEIÇÃO DE CONTAS PELO TCU ............................................................................................................... 96
10. DIREITO EMPRESARIAL...................................................................................................................................... 98
10.1 CONJUNTO-IMAGEM – “TRADE DRESS”...................................................................................................... 98
10.2 RECUPERAÇÃO JUDICIAL ............................................................................................................................. 99
10.3 FALÊNCIA....................................................................................................................................................... 100
11. DIREITO TRIBUTÁRIO ....................................................................................................................................... 101
11.1 HABILITAÇÃO DOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS NA FALÊNCIA ................................................................. 101
11.2 IMPOSSIBILIDADE DE QUESTIONAR COBRANÇA DE COSIP VIA ACP ................................................... 102
11.3 ICMS – SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA .......................................................................................................... 102
11.4 DESCONTOS INCONDICIONAIS X ICMS ...................................................................................................... 103
11.5 EXECUÇÃO FISCAL X PEDIDO DE HABILITAÇÃO DE CRÉDITO .............................................................. 103
11.6 DESCAMINHO E PENA DE PERDIMENTO ................................................................................................... 104
11.7 ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)................................................................................................. 104
11.8 BASE DE CÁLCULO DO ITBI ........................................................................................................................ 105
11.9 OS ESTADOS NÃO PODEM CRIAR LEIS PARA TRIBUTAR AS DOAÇÕES E HERANÇAS DE BENS NO
EXTERIOR ................................................................................................................................................................... 105
12. AMBIENTAL ........................................................................................................................................................ 106
12.1 MEDIDAS ADMINISTRATIVAS NECESSÁRIAS À CORRETA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ........ 106
12.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ................................................................................................... 106

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1. DIREITO ADMINISTRATIVO

1.1 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Improbidade administrativa - Sanção de cassação de aposentadoria. Imposição pelo


poder judiciário. IMPOSSIBILIDADE.
"Em recente julgado, a Primeira Seção do STJ concluiu que, 'no âmbito da persecução cível
por meio de processo judicial, e por força do princípio da legalidade estrita em matéria de
direito sancionador, as sanções aplicáveis limitam-se àquelas previstas pelo legislador
ordinário, não cabendo ao Judiciário estendê-las ou criar novas punições, sob pena,
inclusive, de violação ao princípio da separação dos poderes', de modo que, por não haver
previsão na Lei 8.429/92, 'falece competência à autoridade judicial para impor a sanção
de cassação de aposentadoria, pela prática de ato de improbidade administrativa' (STJ,
EREsp 1.496.347/ES, Rel. p/ acórdão ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe de 28/4/2021)." (AgInt no AgInt
no REsp 1.941.701/SC, relatora ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, julgado em 8/8/2022, DJe de 12/8/2022).

IMPROBIDADE ADMININSTRATIVA - Acordo de não persecução civil


O acordo de não persecução cível pode ser celebrado mesmo que a ação de improbidade
administrativa já esteja em fase de recurso. É possível acordo de não persecução cível
no âmbito da ação de improbidade administrativa em fase recursal. STJ. 1ª Turma. Acordo no
AREsp 1314581/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/02/2021 (Info 686).

ASSERTIVA CORRETA: É possível a celebração de acordo de não persecução cível no


âmbito da ação de improbidade administrativa em fase recursal, mediante homologação
judicial.

ATENÇÃO: ADI 7236 Sobre o acordo de não-persecução civil, destaca-se recente decisão
do Min. Alexandre de Moraes nos autos da ADI 7236: O ministro também suspendeu o
artigo 17-B parágrafo 3º, da LIA, que exige a manifestação do Tribunal de Contas
competente, no prazo de 90 dias, para o cálculo do ressarcimento em caso de acordo de
não persecução civil com o Ministério Público. Para o relator, entre outros pontos, a medida
condiciona o exercício da atividade-fim do Ministério
Público à atuação da Corte de Contas, em possível interferência na autonomia
funcional do MP.

“(...) A norma aparenta condicionar o exercício da atividade-fim do Ministério Público à


atuação da Corte de Contas, transmudando-a em uma espécie de ato complexo apto a
interferir indevidamente na autonomia funcional constitucionalmente assegurada ao órgão
ministerial (...)”. (Fonte: STF)
1.2 RESPONSABILIDADE

STJ - AREsp 1.893.472 (DECISÃO DE 8.9.22) – (Responsabilidade objetiva


extracontratual perante terceiros das pessoas jurídicas de direito privado que prestem
serviços públicos). Prazo prescricional por danos causados por fundação privada de
apoio à universidade pública é de cinco anos.

A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que os danos decorrentes
da prestação de serviço público por fundação privada de apoio à universidade pública se
submetem ao prazo prescricional de cinco anos previsto no artigo 1º-C da Lei 9.494/1997.

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A controvérsia analisada pelo colegiado teve origem em ação de danos morais e materiais
ajuizada por uma pós-doutoranda que, em virtude de falha no serviço de desembaraço
aduaneiro prestado por fundação privada de apoio à universidade pública, alega ter perdido
amostra genética destinada à sua pesquisa.

A pesquisadora, bolsista da Fapesp, fazia o estudo em formato “sanduíche”, parte em


Portugal, parte no Brasil. A pesquisa foi concebida em 2013, em seu doutorado. Após
produzir as amostras genéticas na Europa, com cruzamentos de duas gerações de
indivíduos com mutações de interesse, seriam feitas dissecção dos tecidos, extração de
RNA e seu sequenciamento, na Unicamp.

Entretanto, após retornar ao Brasil, em 2015, ela teve as amostras retidas na aduana. A
fundação de apoio à universidade afirmou ter enviado os documentos necessários para o
desembaraço, mas a pesquisadora, após estranhar a demora na entrega do material e se
informar diretamente com a Anvisa, soube que os tecidos haviam sido devolvidos a Portugal
por falta da documentação. Todo o material genético se degradou, levando ao cancelamento
do experimento.

A fundação alegou ser entidade de direito privado e não ter nenhuma relação contratual com
a cientista, visto que a parceria foi firmada diretamente com a universidade. Assim, haveria
apenas uma responsabilidade extracontratual sujeita ao prazo prescricional de três anos
(artigo 206, parágrafo 3º, inciso V, do Código Civil) – tese acolhida pelo tribunal de
origem.

Prescrição é de cinco anos no caso de falha de serviço público prestado por entidade
privada

Após identificar a ausência de controvérsia acerca da assunção do desembaraço por


prepostos da fundação, o relator, ministro Og Fernandes, destacou ser irrelevante a natureza
privada da fundação, pois a prescrição quinquenal descrita na Lei 9.494/1997 se aplica
a qualquer entidade que preste serviço público, conforme a jurisprudência do STJ.

O magistrado lembrou que a própria Constituição Federal, em seu artigo 37, parágrafo 6º,
dispõe sobre a responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos pelos danos causados a terceiros.

"Diante da existência de serviço público na relação entabulada entre a fundação privada e a


universidade pública, atrai-se a responsabilidade objetiva extracontratual perante terceiros
das pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, configurando-se
hipótese de incidência do prazo prescricional quinquenal", concluiu o relator.

Conforme o ministro, a hipótese pode ser equiparada aos casos de responsabilização


de hospitais privados conveniados ao SUS. Para o STJ, nessa situação, o prazo
prescricional também é quinquenal, à luz da mesma norma invocada pela pesquisadora
prejudicada pela atuação da fundação privada prestadora de serviço público.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: STJ - "Ementa: ADMINISTRATIVO.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. INVESTIDURA EM CARGO PÚBLICO POR
FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL. 1. Tese firmada em repercussão geral: na hipótese de
posse em cargo público determinada por decisão judicial, o servidor não faz jus a
indenização (regra), sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento

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anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante (exceção). 2. Recurso extraordinário


provido. (RE 724347, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno,
julgado em 26/02/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-088 DIVULG 12-05-
2015 PUBLIC 13-05-2015).

ASSERTIVA CORRETA: Apenas em situação de flagrante arbitrariedade o servidor faz jus


a indenização, com o fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior.

AREsp 1.893.472. DECISÃO DE RESPONSABILIZAÇÃO DE HOSPITAIS PRIVADOS


CONVENIADOS AO SUS “(...) A jurisprudência desta Corte aponte ser mesmo quinquenal
o prazo da prescrição incidente para pretensões indenizatórias contra hospitais
privados conveniados ao SUS (um dos dois exemplos citados na doutrina acima). Confira-
se:

[...] 8. Quando prestado diretamente pelo Estado, no âmbito de seus hospitais ou postos de
saúde, ou quando delegado à iniciativa privada, por convênio ou contrato com a
administração pública, para prestá-lo às expensas do SUS, o serviço de saúde constitui
serviço público social. [...] 10. Hipótese em que tem aplicação o art. 1º-C da Lei 9.494/97,
segundo o qual prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos
causados por agentes de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços
públicos. [...] (REsp n. 1.771.169/SC, relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
26/5/2020, DJe de 29/5/2020).”

*(A Lei 9494/97 Disciplina a aplicação da tutela antecipada contra a Fazenda Pública, altera
a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.).

*É um exemplo de fundação privada de apoio à universidade pública. Há uma


responsabilização objetiva da entidade privada que, em prestação de serviço público,
prejudica terceiro, hipótese cuja prescrição é regulada pela Lei n. 9.494/1997.

REPERCUSSÃO GERAL - (Tema 362) CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOA
CONDENADA CRIMINALMENTE, FORAGIDA DO SISTEMA PRISIONAL. DANO
CAUSADO A TERCEIROS. INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE O ATO DA FUGA
E A CONDUTA DANOSA. AUSÊNCIA DE DEVER DE INDENIZAR DO ESTADO.
PROVIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 1.A responsabilidade civil das pessoas
jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço
público baseia-se no risco administrativo, sendo objetiva, exige os seguintes requisitos:
ocorrência do dano; ação ou omissão administrativa; existência de nexo causal entre
o dano e a ação ou omissão administrativa e ausência de causa excludente da
responsabilidade estatal. 2. A jurisprudência desta CORTE, inclusive, entende ser objetiva
a responsabilidade civil decorrente de omissão, seja das pessoas jurídicas de direito público
ou das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público. 3. Entretanto, o
princípio da responsabilidade objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite o
abrandamento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil do Estado, nas
hipóteses excepcionais configuradoras de situações liberatórias como o caso fortuito e a
força maior ou evidências de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima. 4. A fuga de
presidiário e o cometimento de crime, sem qualquer relação lógica com sua evasão, extirpa
o elemento normativo, segundo o qual a responsabilidade civil só se estabelece em
relação aos efeitos diretos e imediatos causados pela conduta do agente. Nesse
cenário, em que não há causalidade direta para fins de atribuição de responsabilidade civil

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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extracontratual do Poder Público, não se apresentam os requisitos necessários para a


imputação da responsabilidade objetiva prevista na Constituição Federal - em especial,
como já citado, por ausência do nexo causal. 5. Recurso Extraordinário a que se dá
provimento para julgar improcedentes os pedidos iniciais. Tema 362, fixada a seguinte tese
de repercussão geral: “Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se
caracteriza a responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime
praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o nexo
causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada”. (STF. RE 608880, Repercussão
Geral).

STF – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR MORTE DE DETENTO - O tema


concernente à morte de pessoas custodiadas pelo Estado, em presídios e
penitenciárias, foi objeto de exame pelo STF, com repercussão geral, no bojo do RE
841.526/RS, relator o Ministro LUIZ FUX, em acórdão assim ementado:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. RESPONSABILIDADE CIVIL


DO ESTADO POR MORTE DE DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, E 37, § 6º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A responsabilidade civil estatal, segundo a Constituição
Federal de 1988, em seu artigo 37, § 6º, subsume-se à teoria do risco administrativo, tanto
para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas, posto rejeitada a teoria do
risco integral. 2. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade em relação ao dano
sofrido pela vítima nos casos em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva
possibilidade de agir para impedir o resultado danoso. 3. É dever do Estado e direito
subjetivo do preso que a execução da pena se dê de forma humanizada, garantindo-se os
direitos fundamentais do detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e moral
(artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal). 4. O dever constitucional de proteção ao
detento somente se considera violado quando possível a atuação estatal no sentido
de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto inafastável para a
configuração da responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da
Constituição Federal. 5. Ad impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em que
não é possível ao Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria mesmo
que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade, afastando-se a
responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio
doctorum a teoria do risco integral, ao arrepio do texto constitucional. 6. A morte do
detento pode ocorrer por várias causas, como, v. g., homicídio, suicídio, acidente
ou morte natural, sendo que nem sempre será possível ao Estado evitá-la, por mais
que adote as precauções exigíveis. 7. A responsabilidade civil estatal resta conjurada
nas hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva da sua atuação
protetiva do detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão com o
resultado danoso. 8. Repercussão geral constitucional que assenta a tese de que: em
caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no artigo 5º,
inciso XLIX, da Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte do detento.
9. In casu, o tribunal a quo assentou que inocorreu a comprovação do suicídio do detento,
nem outra causa capaz de romper o nexo de causalidade da sua omissão com o óbito
ocorrido, restando escorreita a decisão impositiva de responsabilidade civil estatal. 10.
Recurso extraordinário DESPROVIDO.”

Daí se extrai, portanto, que a regra geral consiste na incidência da responsabilidade


objetiva do Estado, face ao dever específico de proteção, que emana do art. 5º, LXIX, da
CRFB/88, a qual somente será afastada acaso se comprove que o resultado morte não

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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teria como ser evitado. TESE FIRMADA: em caso de inobservância do seu dever
específico de proteção previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, o Estado
é responsável pela morte do detento.

Observação: o simples fato de ter havido revista "regular" não exime o Estado da
responsabilidade decorrente de disparo efetuado por visitante, do qual resultou a
morte de um dos detentos, considerando que o Estado tem o dever de evitar o ingresso
de pessoas armadas no interior de suas instalações penitenciárias. Com efeito, é evidente
que, se tivesse sido de maneira eficiente, a revista teria evitado a entrada da arma e, por
conseguinte, também o cometimento do crime de homicídio. Não há como se afastar, pois,
a responsabilização objetiva do Estado, neste exemplo hipotético.

STF - No tocante à possibilidade de responsabilização do Estado por inadimplência de


empresas contratadas, relativamente a débitos trabalhistas, a jurisprudência do STF fixou
compreensão no sentido de que, em regra, não há que se transferir tal responsabilidade
ao Estado, devendo ser demonstrada, para tanto, falha no dever de fiscalização da
execução contratual, nos moldes do art. 67 da Lei 8.666/93."Agravo regimental em
reclamação. 2. Responsabilidade subsidiária da Administração Pública. Ausência de
comprovação do elemento subjetivo do ato ilícito imputável ao Poder Público. Ofensa ao que
decidido na ADC 16/DF. 3. Atribuição de culpa ao ente público por presunção.
Inadmissibilidade. Necessidade de prova inequívoca da conduta omissiva ou comissiva na
fiscalização dos contratos, conforme tese firmada no julgamento do RE 760.931, Redator
para o acórdão Min. Luiz Fux. 4. Agravo regimental não provido."
(Rcl 29240 AgR/SP, Segunda Turma, rel. Ministro GILMAR MENDES, julgado em 17.8.2018).

"(...)Esta Corte Superior entende que é solidária a responsabilidade pelo ressarcimento


ao erário até a instrução final do feito, em que se irá delimitar a porção obrigacional
de cada réu." (REsp 1814284, rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, Segunda Turma, DJE DATA:25/09/2019)

1.3 PODER DE POLÍCIA


PODER DE POLICIA - STF - É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio
de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública
indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente
serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial. STF.
Plenário. RE 633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – T.ema 532) (Info 996).

1.4 AGENTES PÚBLICOS

AGENTES PÚBLICOS E LEI 8.112/90 - STF O teto constitucional remuneratório não


incide sobre os salários pagos por empresas públicas e sociedades de economia mista, e
suas subsidiárias, que não recebam recursos da Fazenda Pública. Veja o que diz o § 9º do
art. 37 da CF/88: “O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às sociedades
de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados,
do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio
em geral.” (STF, ADI 6584, 2021).

1.5 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA


Não é permitido tombamento de uso. EMENTA: Tombamento de bem imóvel para limitar
sua destinação à atividades artístico-culturais. Preservação a ser atendida por meio de

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desapropriação. Não pelo emprego da modalidade do chamado tombamento de uso.


Recurso da Municipalidade do qual não se conhece, porquanto não configurada a alegada
contrariedade, pelo acórdão recorrido, do disposto no art. 216, § 1º, da Constituição. (RE
219292, Relator(a): OCTAVIO GALLOTTI, Primeira Turma, julgado em 07/12/1999, DJ 23-
06-2000 PP-00031 EMENT VOL-01996-01 PP-00118). Dessa maneira, como a finalidade
do tombamento é determinada, utilizar ele como intuito de interditar a habitação em um
conjunto de antigos imóveis, caracteriza desvio de finalidade.

A lei LEI Nº 4.717, DE 29 DE JUNHO DE 1965 disciplina que são nulos os atos lesivos ao
patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de desvio de
finalidade, existente quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

1.6 ATO ADMINISTRATIVO


REPERCUSSAO GERAL TEMA 445 – Incidência do prazo decadencial previsto no art.
54 da Lei 9.784/1999 para a Administração anular ato de concessão de aposentadoria.
Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Aposentadoria. Ato complexo. Necessária a
conjugação das vontades do órgão de origem e do Tribunal de Contas. Inaplicabilidade do
art. 54 da Lei 9.784/1999 antes da perfectibilização do ato de aposentadoria, reforma ou
pensão. Manutenção da jurisprudência quanto a este ponto. 3. Princípios da segurança
jurídica e da confiança legítima. Necessidade da estabilização das relações
jurídicas. Fixação do prazo de 5 anos para que o TCU proceda ao registro dos atos de
concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão
definitivamente registrados. 4. Termo inicial do prazo. Chegada do processo ao Tribunal
de Contas. 5. Discussão acerca do contraditório e da ampla defesa prejudicada. 6. TESE:
"Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os
Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de 5 anos para o julgamento da legalidade
do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada
do processo à respectiva Corte de Contas". 7. Caso concreto. Ato inicial da concessão
de aposentadoria ocorrido em 1995. Chegada do processo ao TCU em 1996. Negativa do
registro pela Corte de Contas em 2003. Transcurso de mais de 5 anos. 8. Negado provimento
ao recurso. (RE 636553, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-129 DIVULG 25-05-2020 PUBLIC 26-05-2020)

1.7 PRESCRIÇÃO
ADMINISTRATIVO – PRESCRIÇÃO - "prescrição contra a Fazenda Pública é quinquenal,
mesmo em ações indenizatórias, uma vez que é regida pelo Decreto 20.910 /32, tendo
como termo inicial a data do ato ou fato do qual originou a lesão ao patrimônio material ou
imaterial" (AgRg no REsp 1.221.455/RJ, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 14/9/2015). Portanto, a resposta é: no prazo prescricional de cinco anos,
com base em aplicação analógica do Decreto Federal n.º 20.910/1932.
ASSERTIVA CORRETA: Determinado taxista dirigia embriagado quando colidiu contra o
prédio de determinada secretaria estadual, que foi danificado com a batida. conforme o
entendimento do STJ, o estado federado prejudicado deverá propor ação de ressarcimento
no prazo prescricional de cinco anos, com base em aplicação analógica do Decreto Federal
n.º 20.910/1932.

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ADMINISTRATIVO – STF: REPERCUSSÃO GERAL "Recurso extraordinário. Repercussão


geral reconhecida. Questão de ordem. Formulação de pedido de desistência da ação no
recurso extraordinário em que reconhecida a repercussão geral da matéria. Impossibilidade.
Mandado de segurança. Servidores públicos civis e direito de greve. Descontos dos dias
parados em razão do movimento grevista. Possibilidade. Reafirmação da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal. Recurso do qual se conhece em parte, relativamente à qual é
provido. 1. O Tribunal, por maioria, resolveu questão de ordem no sentido de não se admitir
a desistência do mandado de segurança, firmando a tese da impossibilidade de desistência
de qualquer recurso ou mesmo de ação após o reconhecimento de repercussão geral da
questão constitucional. 2. A deflagração de greve por servidor público civil corresponde
à suspensão do trabalho e, ainda que a greve não seja abusiva, como regra, a
remuneração dos dias de paralisação não deve ser paga. 3. O desconto somente não se
realizará se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos servidores públicos
civis ou por outras situações excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da
suspensão da relação funcional ou de trabalho, tais como aquelas em que o ente da
administração ou o empregador tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para que
a greve ocorresse ou em que haja negociação sobre a compensação dos dias parados ou
mesmo o parcelamento dos descontos. 4. Fixada a seguinte tese de repercussão geral: A
administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação
decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da
suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso
de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público”. 5. Recurso extraordinário provido na
parte de que a Corte conhece." (RE 693.456/RJ, Pleno, rel. Ministro DIAS TOFFOLI, julgado em
27.10.2016, Informativo de Jurisprudência n. 845).

ADMINISTRATIVO: "PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.


FORNECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO. INEXISTÊNCIA DE HIDRÔMETRO. COBRANÇA
PELA TARIFA MÍNIMA. ART. 283 DO CPC/1973. SÚMULA 7/STJ. SÚMULA 83/STJ. 1. É
inviável analisar a tese defendida no Recurso Especial de que as faturas juntadas aos autos
seriam insuficientes para instruir a demanda unicamente por não conterem o número do
hidrômetro, pois inarredável a revisão do conjunto probatório dos autos para afastar as
premissas fáticas estabelecidas pelo acórdão recorrido. Aplica-se o óbice da Súmula 7/STJ.
2. Não há como confundir tarifa por estimativa com tarifa mínima. O acórdão recorrido está
em sintonia com o atual entendimento do Superior Tribunal Justiça de que, inexistindo
hidrômetro, é possível a cobrança pela tarifa mínima. 3. Recurso Especial não
conhecido." (RESP - RECURSO ESPECIAL - 1721682 2018.00.01483-7, rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, STJ -
SEGUNDA TURMA, DJE DATA:22/11/2018)

LEI 8.429/92 – PRESCRIÇÃO - "Após a conclusão da tomada de contas, com a apuração


do débito imputado ao jurisdicionado, a decisão do TCU formalizada em acórdão terá
eficácia de título executivo e será executada conforme o rito previsto na Lei de Execução
Fiscal (Lei 6.830/1980), por enquadrar-se no conceito de dívida ativa não tributária da União,
conforme estatui o art. 39, § 2º, da Lei 4.320/1964"STF. Plenário. RE 636886/AL, Rel. Alexandre de
Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 899) (Info 983 – clipping).

ASSERTIVA CORRETA: Em matéria de prescrição, de acordo com atual orientação do


Supremo Tribunal Federal, a pretensão de ressarcimento ao erário fundada exclusivamente
em título executivo extrajudicial consistente em decisão de Tribunal de Contas em face de
agentes públicos, prescreve na forma da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal).

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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ADI 7236 Em decisão monocrática datada de 27 de dezembro de 2022, o Ministro do


Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, concedeu medida liminar, em sede da ADI
7236, para suspender o teor do art. 1º, § 8º, da Lei 8.429/92, segundo o qual: “não
configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei,
baseada em jurisprudência, ainda que não pacificada, mesmo que venha a ser
posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais do Poder
Judiciário", sob o argumento de que a norma traz insegurança jurídica apta a esvaziar a
efetividade da ação de improbidade administrativa.

PRESCRIÇÃO – LEI 8429/92: “Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa
é possível o prosseguimento da demanda para pleitear o ressarcimento do dano ao erário,
ainda que sejam declaradas prescritas as demais sanções previstas no art. 12 da Lei nº
8.429/92 (STJ. 1ª Seção. REsp 1.899.455-AC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 22/09/2021).
1.8 ACORDO DE LENIÊNCIA
ACORDO DE LENIÊNCIA - É possível o compartilhamento, para outros órgãos e
autoridades públicas, das provas obtidas no acordo de leniência, desde que sejam
respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes. Assim, por
exemplo, se uma empresa celebra acordo de leniência com o MPF aceitando fornecer
provas contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que
foram ajustadas no acordo. No entanto, nada impede que tais provas sejam fornecidas
(compartilhadas) para os órgãos de apuração para que sejam propostas medidas
contra as outras pessoas envolvidas nos ilícitos e que não fizeram parte do acordo.
STF. 2ª Turma. Inq 4420 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/08/2018. (Julgado cobrado em 2 questões
da FGV)
ASSERTIVA CORRETA: o compartilhamento pretendido é viável, desde que o pedido se
mostre adequadamente delimitado e justificado, bem como não acarrete eventual prejuízo
aos aderentes do instrumento, de maneira que sejam respeitados os limites estabelecidos
no acordo, observadas as formalidades cabíveis.

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@graceliamenezes

2. DIREITO CONSTITUCIONAL
2.1 SISTEMA REMUNERATÓRIO
ADI 6436/DF - PGR questiona vinculação de remuneração de procurador do Legislativo de MT
a subsídio de ministro do STF (art. 37, XIII, CF)

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, não conheceu da ação em relação ao art. 1º, § 3º,
da Lei nº 10.276/2015 do Estado de Mato Grosso, e, na parte conhecida, julgou parcialmente
procedente a ação direta, para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 1º, 2º e 4º do art. 1º
da referida lei, nos termos do voto do Relator. Falou, pela interessada, o Dr. Gustavo Roberto
Carminatti Coelho, Procurador-Geral Adjunto da Assembleia Legislativa do Estado de Mato
Grosso. Plenário, Sessão Virtual de 20.11.2020 a 27.11.2020.

11.11.2020. O procurador-geral da República, Augusto Aras, ajuizou no Supremo Tribunal


Federal (STF) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6436, contra o artigo 1º da Lei
estadual 10.276/2015 de Mato Grosso, que dispõe sobre a remuneração do cargo de
procurador da Assembleia Legislativa estadual. O relator é o ministro Alexandre de Moraes.

A norma prevê que o subsídio do grau máximo da carreira corresponderá a 90,25% da


remuneração dos ministros do STF, escalonados conforme as respectivas classes, com
diferença de 5% entre uma e outra. Na avaliação de Augusto Aras, a lei promove
vinculação de espécies remuneratórias entre categorias funcionais distintas sem
fundamento em lei específica, o que viola a Constituição Federal.

O procurador-geral da República sustenta que a jurisprudência do STF veda a vinculação


de “quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
serviço público”, inclusive para fins de reajuste automático. Alega ainda que o
dispositivo tem relação direta com o quadro de descontrole das finanças do estado,
especialmente em relação ao crescimento das despesas de pessoal efetivo em 695% entre
2003 e 2017.

LEGISLAÇÃO: ART. 37: (...) XIII, CF - “é vedada a vinculação ou equiparação de


quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço
público”.
2.2 CPI – COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

O Plenário do STF, no julgamento da ADPF 848, decidiu ser inconstitucional a


convocação de governadores de estados-membros da Federação por Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pelo Senado Federal. A convocação viola o
princípio da separação dos Poderes e a autonomia federativa dos estados-membros.
Eis um trecho do aludido julgamento: "ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL. PEDIDO DE LIMINAR. CPI DA PANDEMIA. CONVOCAÇÃO DE
GOVERNADORES DE ESTADO PARA DEPOR NA CONDIÇÃO DE TESTEMUNHAS.
INADMISSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E
AFRONTA À AUTONOMIA FEDERATIVA DOS ESTADOS-MEMBROS. PRECEDENTES.
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. REFERENDO. (...) (ADPF 848 MC-Ref, Relator(a): ROSA WEBER,
Tribunal Pleno, julgado em 28/06/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-209 DIVULG 20-10-2021 PUBLIC 21-10-2021)"

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@graceliamenezes

2.3 IMPOSIÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES


É possível que o juiz de primeiro grau, fundamentadamente, imponha a parlamentares
municipais as medidas cautelares de afastamento de suas funções legislativas sem
necessidade de remessa à Casa respectiva para deliberação, conforme entendeu o STJ
no RHC 88.804-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07/11/2017.

2.4 CRIME COMUM PRATICADO POR GOVERNADOR: DESCENECESSIDADE DE


AUTORIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
O STF entende que não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa
para que o STJ receba denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de
Estado, por crime comum. Eis trechos do julgado: "(...) “É vedado às unidades federativas
instituírem normas que condicionem a instauração de ação penal contra o Governador, por
crime comum, à prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de
Justiça dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais,
inclusive afastamento do cargo". (ADI 4362, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 09/08/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 05-02-2018 PUBLIC 06-
02-2018)

ATENÇÃO: em caso de nova legislatura, é possível a recondução dos presidentes da


Câmara dos Deputados e do Senado Federal para o mesmo cargo na eleição imediatamente
subsequente. O que não é permitida é a recondução da presidência dentro na mesma
legislatura, mas em sessões subsequentes. Destaque-se que a legislatura corresponde a
4 anos, compostas por duas sessões legislativas de 2 anos.

2.5 COMPETÊNCIA
É inconstitucional lei estadual que fixe a obrigatoriedade de divulgação diária de fotos de
crianças desaparecidas em noticiários de TV e em jornais de estado-membro. Na hipótese,
a lei estadual invade a competência legislativa da União para dispor privativamente sobre
radiodifusão de sons e imagens, em afronta ao previsto no art. 22, IV, da CF (1)(2). (INFO 1048
STF).

CONSTITUCIONAL – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE: Ação direta de


inconstitucionalidade. (ADI 903) - Lei nº 10.820/92 do Estado de Minas Gerais, que dispõe
sobre adaptação dos veículos de transporte coletivo com a finalidade de assegurar seu
acesso por pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção. Competência legislativa
concorrente (art. 24., XIV, CF). Atendimento à determinação constitucional prevista
nos arts. 227, § 2º, e 244 da Lei Fundamental. Improcedência.

QUESTÃO DE PROVA: situação hipotética em que a lei estadual X estabeleceu a


obrigatoriedade da realização de adaptações nos veículos de transporte coletivo
intermunicipal de propriedade das empresas concessionárias do serviço, com a finalidade
de facilitar o acesso de pessoas com deficiência física ou com dificuldades de locomoção.
A lei seria constitucional. ASSERTIVA CORRETA.
Conforme as disposições do texto constitucional, a legislação, a doutrina e a jurisprudência
do STF, a lei estadual X é constitucional, pois está compatível com a CF e com a Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, incorporada ao direito nacional
como norma constitucional. (CESPE).

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

Atenção porque está falando sobre a Convenção, que foi incorporada como norma
constitucional e não como norma de caráter supralegal (pegadinha da assertiva)

Conforme o STF, “Lei 10.820/1992 do Estado de Minas Gerais, que dispõe sobre adaptação
dos veículos de transporte coletivo com a finalidade de assegurar seu acesso por pessoas
com deficiência ou dificuldade de locomoção. (...) A ordem constitucional brasileira,
inaugurada em 1988, trouxe desde seus escritos originais a preocupação com a proteção
das pessoas portadoras de necessidades especiais, construindo políticas e diretrizes de
inserção nas diversas áreas sociais e econômicas da comunidade (trabalho privado, serviço
público, previdência e assistência social). Estabeleceu, assim, nos arts. 227, § 2º, e 244, a
necessidade de se conferir amplo acesso e plena capacidade de locomoção às pessoas com
deficiência, no que concerne tanto aos logradouros públicos quanto aos veículos de
transporte coletivo, determinando ao legislador ordinário a edição de diplomas que
estabeleçam as formas de construção e modificação desses espaços e desses meios de
transporte. (...) Muito embora a jurisprudência da Corte seja rígida em afirmar a amplitude
do conceito de trânsito e transporte para fazer valer a competência privativa da União (art.
22, XI, CF), prevalece, no caso, a densidade do direito à acessibilidade física das pessoas
com deficiência (art. 24, XIV, CF), em atendimento, inclusive, à determinação prevista nos
arts. 227, § 2º, e 244 da Lei Fundamental, sem preterir a homogeneidade no tratamento
legislativo a ser dispensado a esse tema. Nesse sentido, há que se enquadrar a situação
legislativa no rol de competências concorrentes dos entes federados. Como, à época
da edição da legislação ora questionada, não havia lei geral nacional sobre o tema, a teor
do § 3º do art. 24 da CF, era deferido aos Estados-membros o exercício da competência
legislativa plena, podendo suprir o espaço normativo com suas legislações locais. [ADI 903,
rel. min. Dias Toffoli, j. 22-5-2013, P, DJE de 7-2-2014.]

2.6 MEDIDA PROVISÓRIA


STF: RE 592.377 – TEMA 33 Ementa: CONSTITUCIONAL. ART. 5º DA MP 2.170/01.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS COM PERIODICIDADE INFERIOR A UM ANO. REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA EDIÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA. SINDICABILIDADE PELO
PODER JUDICIÁRIO. ESCRUTÍNIO ESTRITO. AUSÊNCIA, NO CASO, DE ELEMENTOS
SUFICIENTES PARA NEGÁ-LOS. RECURSO PROVIDO. 1. A jurisprudência da Suprema
Corte está consolidada no sentido de que, conquanto os pressupostos para a edição de
medidas provisórias se exponham ao controle judicial, o escrutínio a ser feito neste particular
tem domínio estrito, justificando-se a invalidação da iniciativa presidencial apenas quando
atestada a inexistência cabal de relevância e de urgência. 2. Não se pode negar que o tema
tratado pelo art. 5º da MP 2.170/01 é relevante, porquanto o tratamento normativo dos juros
é matéria extremamente sensível para a estruturação do sistema bancário, e,
consequentemente, para assegurar estabilidade à dinâmica da vida econômica do país. 3.
Por outro lado, a urgência para a edição do ato também não pode ser rechaçada, ainda mais
em se considerando que, para tal, seria indispensável fazer juízo sobre a realidade
econômica existente à época, ou seja, há quinze anos passados. 4. Recurso extraordinário
provido.

Tema 33 - Relevância e urgência da medida provisória nº 2.170-36/2001 que disciplina a


capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano nas operações realizadas pelas
instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional. Tese: Os requisitos de relevância
e urgência previstos no art. 62 da Constituição Federal estão presentes na Medida
Provisória 2.170-36/2001, que autoriza a capitalização de juros com periodicidade

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inferior a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema


Financeiro Nacional.

Obs: Redação da tese aprovada nos termos do item 2 da Ata da 12ª Sessão
Administrativa do STF, realizada em 09/12/2015.

2.7 FAKE NEWS


FAKE NEWS – LIBERDADE DE IMPRESA - entendimento do STJ, a liberdade de imprensa,
embora amplamente assegurada e com proibição de controle prévio, acarreta
responsabilidade a posteriori pelo eventual excesso e não compreende a divulgação de
especulação falsa, cuja verossimilhança, no caso - Superior Tribunal de Justiça STJ -
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL : AREsp 1265555 PR 2018/0063699-8.

ASSERTIVA CORRETA: A publicação de informações falsas em veículos de comunicação


social não está assegurada pela liberdade de imprensa.

2.8 AUTONOMIA DIDÁTICO-CIENTÍFICA E ADMINISTRATIVA DAS UNIVERSIDADES

ORDEM SOCIAL: A questão expõe caso hipotético semelhante a julgado do STF, exigindo
do candidato o conhecimento relacionado à jurisprudência da corte. Nesse sentido, Por
unanimidade de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente a
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3792 e declarou inconstitucional a Lei
8.865/2006, do Rio Grande do Norte, que determina a realização de plantão criminal pelo
escritório de prática jurídica gratuita mantido pelo curso de Direito da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), para atender, nos finais de semana e
feriados, os casos de prisão em flagrante.
Portanto, analisando o caso hipotético e conforme a CF, a doutrina e a jurisprudência do
STF, a lei Y é inconstitucional por ferir a autonomia didático-científica e administrativa
da universidade.

“(...) - Por sua vez, a legislação em questão resultou de projeto de lei de iniciativa
parlamentar, ao passo que, para a promoção da atividade, deve a UERN efetuar o
remanejamento de professores supervisores e ceder espaços convenientes, bem como
arcar com os ônus decorrentes da atividade. Sem falar que, como os atendimentos serão
realizados pelos acadêmicos do Curso de Direito cursando o estágio curricular obrigatório,
a Universidade, obrigatoriamente, terá que alterar as grades curriculares e horárias dos
estudantes para que desenvolvam essas atividades em regime de plantão, ou seja, aos
sábados, domingos e feriados. Nisso peca o diploma legislativo em sua totalidade, porque
fere a autonomia administrativa, a financeira e, até mesmo, a didático-científica da
instituição, restando ausente o seu assentimento para a criação/modificação do novo
serviço a ser prestado.

ASSERTIVA CORRETA: a doutrina e a jurisprudência do STF, a lei Y é inconstitucional por


ferir a autonomia didático-científica e administrativa da universidade. (Fonte: QConcurso).

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2.9 ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAIS


CONSTITUCIONAL – ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAIS: A corte Colombiana,
na decisão T 025/2004, sistematizou vários fatores que costumam ser levados em conta
para estabelecer que um determinado caso concreto constitua um estado de coisas
inconstitucional.

A Corte Constitucional da Colômbia constatou que a inércia estatal decorria do labirinto


burocrático e do bloqueio institucional responsáveis por deso- ordenar e
dispersar a responsabilidade sobre o tema (GRAVITO; FRANCO, 2010). A questão foi
enfrentada no Brasil, por meio da ADPF 347. Na ocasião, o ministro Marco Aurélio, ao tratar
da legitimidade da Corte para intervir na situação carcerária, em seu voto, esclareceu o
seguinte: “Apenas o Supremo revela-se capaz, ante a situação descrita, de superar os
bloqueios políticos e institucionais que vêm impedindo o avanço de soluções, o que
significa cumprir ao Tribunal o papel de retirar os demais. Poderes da inércia, catalisar os
debates e novas políticas públicas, coordenar as ações e monitorar os resultados. Isso é
o que se aguarda deste Tribunal e não se pode exigir que se abstenha de intervir, em nome
do princípio democrático, quando os canais políticos se apresentem obstruídos, sob pena
de chegar-se a um somatório de inércias injustificadas. (AURÉLIO, Marco. 2015. Voto
medida cautelar da ADPF 347).” ASSERTIVA CORRETA: No plano dos remédios
estruturais para saneamento do estado de coisas inconstitucional, estão a superação dos
bloqueios institucionais e políticos e o aumento da deliberação de soluções sobre a
demanda. (Fonte: QConcurso).

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3. DIREITO CIVIL
3.1 BEM DE FALMILIA
BEM DE FALMILIA - STF: É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador
de contrato de locação, seja residencial, seja comercial. STF. Plenário. RE 1.307.334/SP,
Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 8/3/2022 (Repercussão Geral – Tema 1127) (Info 1046).

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL


STJ - Resp 1136885/SP – CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
TRANSPORTE DE PESSOAS. CASO FORTUITO. CULPA DE TERCEIRO. LIMITES.
APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVA.
IMPOSSIBILIDADE. 1. A cláusula de incolumidade é ínsita ao contrato de transporte,
implicando obrigação de resultado do transportador, consistente em levar o passageiro
com conforto e segurança ao seu destino, excepcionando-se esse dever apenas nos casos
em que ficar configurada alguma causa excludente da responsabilidade civil,
notadamente o caso fortuito, a força maior ou a culpa exclusiva da vítima ou de
terceiro. 2. O fato de um terceiro ser o causador do dano, por si só, não configura
motivo suficiente para elidir a responsabilidade do transportador, sendo
imprescindível aferir se a conduta danosa pode ser considerada independente
(equiparando-se a caso fortuito externo) ou se é conexa à própria atividade econômica
e aos riscos inerentes à sua exploração. 3. A culpa de terceiro somente romperá o nexo
causal entre o dano e a conduta do transportador quando o modo de agir daquele puder ser
equiparado a caso fortuito, isto é, quando for imprevisível e autônomo, sem origem ou
relação com o comportamento da própria empresa. 4. Na hipótese em que o
comportamento do preposto da transportadora é determinante para o acidente, havendo
clara participação sua na cadeia de acontecimentos que leva à morte da vítima - disparos
de arma de fogo efetuados logo após os passageiros apartarem briga entre o cobrador e o
atirador -, o evento não pode ser equiparado a caso fortuito. 5. Quando a aplicação do direito
à espécie reclamar o exame do acervo probatório dos autos, convirá o retorno dos autos à
Coorte de origem para a ultimação do procedimento de subsunção do fato à norma.
Precedentes. 6. Recurso especial provido.
3.3 ANALOGIA
STJ – Resp 1693718/RJ – DIREITOS DA PERSONALIDADE – CRIOGENIA – ULTIMA
VONTADE DO INDIVÍDUO – INTEGRAÇÃO DA NORMA POR MEIO DE ANALOGIA
EMENTA RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ORDINÁRIA. 1. DISCUSSÃO TRAVADA ENTRE
IRMÃS PATERNAS ACERCA DA DESTINAÇÃO DO CORPO DO GENITOR. ENQUANTO
A RECORRENTE AFIRMA QUE O DESEJO DE SEU PAI, MANIFESTADO EM VIDA, ERA
O DE SER CRIOPRESERVADO, AS RECORRIDAS SUSTENTAM QUE ELE DEVE SER
SEPULTADO NA FORMA TRADICIONAL (ENTERRO). 2. CRIOGENIA. TÉCNICA DE
CONGELAMENTO DO CORPO HUMANO MORTO, COM O INTUITO DE REANIMAÇÃO
FUTURA. 3. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL SOBRE O PROCEDIMENTO DA
CRIOGENIA. LACUNA NORMATIVA. NECESSIDADE DE INTEGRAÇÃO DA NORMA POR
MEIO DA ANALOGIA (LINDB, ART. 4º). ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO QUE, ALÉM
DE PROTEGER AS DISPOSIÇÕES DE ÚLTIMA VONTADE DO INDIVÍDUO, COMO
DECORRÊNCIA DO DIREITO AO CADÁVER, CONTEMPLA DIVERSAS NORMAS LEGAIS
QUE TRATAM DE FORMAS DISTINTAS DE DESTINAÇÃO DO CORPO HUMANO EM

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RELAÇÃO À TRADICIONAL REGRA DO SEPULTAMENTO. NORMAS CORRELATAS


QUE NÃO EXIGEM FORMA ESPECÍFICA PARA VIABILIZAR A DESTINAÇÃO DO CORPO
HUMANO APÓS A MORTE, BASTANDO A ANTERIOR MANIFESTAÇÃO DE VONTADE
DO INDIVÍDUO. POSSIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO DA VONTADE POR QUALQUER
MEIO DE PROVA IDÔNEO. LEGITIMIDADE DOS FAMILIARES MAIS PRÓXIMOS A
ATUAREM NOS CASOS ENVOLVENDO A TUTELA DE DIREITOS DA PERSONALIDADE
DO INDIVÍDUO POST MORTEM. 4. CASO CONCRETO: RECORRENTE QUE CONVIVEU
E COABITOU COM SEU GENITOR POR MAIS DE 30 (TRINTA) ANOS, SENDO A MAIOR
PARTE DO TEMPO EM CIDADE BEM DISTANTE DA QUE RESIDEM SUAS IRMÃS
(RECORRIDAS), ALÉM DE POSSUIR PROCURAÇÃO PÚBLICA LAVRADA POR SEU PAI,
OUTORGANDO-LHE AMPLOS, GERAIS E IRRESTRITOS PODERES. CIRCUNSTÂNCIAS
FÁTICAS QUE PERMITEM CONCLUIR QUE A SUA MANIFESTAÇÃO É A QUE MELHOR
TRADUZ A REAL VONTADE DO DE CUJUS. 5. CORPO DO GENITOR DAS PARTES QUE
JÁ SE ENCONTRA SUBMETIDO AO PROCEDIMENTO DA CRIOGENIA HÁ QUASE 7
(SETE) ANOS. SITUAÇÃO JURÍDICA CONSOLIDADA NO TEMPO. POSTULADO DA
RAZOABILIDADE. OBSERVÂNCIA. 6.RECURSO PROVIDO. 1. A controvérsia instaurada
neste feito diz respeito à destinação do corpo de Luiz Felippe Dias Andrade Monteiro, pai
das litigantes. Enquanto a recorrente busca mantê-lo submetido ao procedimento de
criogenia nos Estados Unidos da América, sustentando ser esse o desejo manifestado em
vida por seu pai, as recorridas pretendem promover o sepultamento na forma tradicional
(enterro). 2. A criogenia ou criopreservação é a técnica de congelamento do corpo humano
morto, em baixíssima temperatura, com o intuito de reanimação futura da pessoa, caso
sobrevenha alguma importante descoberta médica ou científica capaz de ressuscitar o
indivíduo. 3. O procedimento da criogenia em seres humanos não possui previsão legal em
nosso ordenamento jurídico. Nesses casos, para preencher a lacuna normativa sobre a
matéria, o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB enumera
as técnicas de integração da norma jurídica, estabelecendo que: "Quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito". 3.1 Na hipótese, deve-se aplicar a analogia jurídica (iuris), pois o
nosso ordenamento jurídico, além de proteger as disposições de última vontade do indivíduo,
como decorrência do direito ao cadáver, contempla diversas normas legais que tratam de
formas distintas de destinação do corpo humano após a morte em relação à tradicional regra
do sepultamento, dentre as quais podemos citar o art. 77, § 2º, da Lei de Registros Públicos,
que disciplina a possibilidade de cremação do cadáver; a Lei n. 9.434/1997, que dispõe
sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e
tratamento; o art. 14 do Código Civil, que possibilita a destinação do corpo, após a morte,
para fins científicos ou altruísticos, dentre outras. 3.2. Da análise das regras correlatas
dispostas no ordenamento jurídico, considerando a necessidade de extração da norma
jurídica a ser aplicada ao caso concreto, verifica-se que não há exigência de formalidade
específica para a manifestação de última vontade do indivíduo, sendo perfeitamente
possível, portanto, aferir essa vontade, após o seu falecimento, por outros meios de prova
legalmente admitidos, observando-se sempre as peculiaridades fáticas de cada caso. 3.3.
Ademais, o ordenamento jurídico brasileiro, em casos envolvendo a tutela de direitos da
personalidade do indivíduo post mortem, legitima os familiares mais próximos a atuarem em
favor dos interesses deixados pelo de cujus. São exemplos dessa legitimação as normas
insertas nos arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil, que tratam
especificamente sobre direitos da personalidade, bem como no art. 4º da Lei n. 9.434/1997,
que diz respeito à legitimidade dos familiares em relação à autorização para a remoção de
órgãos, tecidos e outras partes do corpo humano para fins de transplante, dentre outras. 3.4.
Nessa linha de entendimento, extraindo-se os elementos necessários à integração da

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lacuna normativa pela analogia, é de se concluir que, na falta de manifestação


expressa deixada pelo indivíduo em vida no sentido de ser submetido à criogenia após
a morte, presume-se que sua vontade seja aquela manifestada por seus familiares
mais próximos. 4. Na hipótese dos autos, não obstante as partes litigantes - recorrente e
recorridas - tenham o mesmo grau de parentesco com o falecido, pois todas são
descendentes de 1º grau (filhas), é razoável concluir que a manifestação da filha Lígia
Monteiro, ora recorrente, é a que traduz a real vontade de seu genitor em relação à
destinação de seus restos mortais, visto que, sem dúvida alguma, é a que melhor pode
revelar suas convicções e desejos, em razão da longa convivência com ele, que perdurou
até o final de sua vida. 4.1. Com efeito, revela-se incontroverso nos autos que a recorrente
conviveu e coabitou com seu pai por mais de 30 (trinta) anos, após ele ter se divorciado da
mãe das recorridas, sendo a maior parte desse tempo - mais de 20 (vinte) anos - em cidade
bem distante da que residem suas irmãs (recorridas). 4.2. Também é fato incontroverso que
Luiz Felippe Dias de Andrade Monteiro lavrou procuração pública em favor de sua filha Lígia
(recorrente), com quem residia, outorgando-lhe amplos, gerais e irrestritos poderes, o que
indica a confiança irrestrita inerente a uma convivência duradoura entre pai e filha. 4.3. Por
outro lado, as autoras da ação (recorridas) não se desincumbiram de refutar, de forma
concreta, o fato de que sua irmã Lígia, por ter convivido com o genitor delas por mais de 30
(trinta) anos, teria melhores condições de traduzir sua vontade, sobretudo porque a causa
de pedir está totalmente fundada no desejo delas próprias de realizar o sepultamento de seu
pai em território nacional, e não na aferição da manifestação de última vontade dele.5. Vale
destacar que o corpo do genitor das litigantes já se encontra submetido ao
procedimento de criogenia, no Cryonics Institute, localizado na cidade de Michigan
(EUA), desde julho de 2012, isto é, há quase 7 (sete) anos. 5.1. Tal fato deve ser levado
em consideração na análise do presente caso, visto que, embora legítimo o interesse das
recorridas em tentar sepultar o pai em território nacional, não se pode ignorar que a
situação jurídica, de certa forma, já se consolidou no tempo. De fato, negar provimento
ao presente recurso especial para que o corpo seja repatriado e, posteriormente, sepultado
e enterrado no Rio de Janeiro/RJ, cidade na qual as recorridas nem sequer residem, não se
mostra razoável, pois, além de restabelecer o difícil sentimento de perda e sofrimento já
experimentado quando do falecimento, essa situação, certamente, não teria o condão de
assegurar a pacificação social almejada pelo direito. 5.2. A solução da controvérsia perpassa
pela observância ao postulado da razoabilidade, porquanto, a par do reconhecimento de
que o de cujus realmente desejava ser submetido ao procedimento da criogenia após a
morte, não se pode ignorar, diante da singularidade da questão discutida, que a situação
fático-jurídica já se consolidou no tempo, impondo-se, dessa forma, a preservação do corpo
do pai da recorrente e das recorridas submetido ao procedimento da criogenia no referido
instituto. 6. Recurso especial provido.
3.4 CONTRATO DE HIPOTECA
STJ - CIVIL. DIREITO REAL DE GARANTIA. HIPOTECA. VALIDADE. AVERBAÇÃO NO
CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS. NÃO OCORRÊNCIA. BEM DE FAMÍLIA.
EXCEÇÃO À REGRA DA IMPENHORABILIDADE. HIPÓTESE CONFIGURADA. 1. Nos
termos do art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90, ao imóvel dado em garantia hipotecária não se
aplica a impenhorabilidade do bem de família na hipótese de dívida constituída em
favor da entidade familiar. 2. A hipoteca se constitui por meio de contrato (convencional),
pela lei (legal) ou por sentença (judicial) e desde então vale entre as partes como crédito
pessoal. Sua inscrição no cartório de registro de imóveis atribui a tal garantia a eficácia
de direito real oponível erga omnes. 3. A ausência de registro da hipoteca não afasta a
exceção à regra de impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90; portanto,

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não gera a nulidade da penhora incidente sobre o bem de família ofertado pelos
proprietários como garantia de contrato de compra e venda por eles descumprido.4.
Recurso especial provido. (REsp 1455554/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 14/06/2016, DJe 16/06/2016).

3.5 DIREITOS DE PERSONALIDADE: DIREITOS AUTORAIS


OFENSA AOS DIREITOS PATRIMONIAIS – AUTORAIS - Segundo decidiu o STJ no RESp
1.947.6523. O direito da personalidade é inato, absoluto, imprescritível, está amparado
na Declaração Universal dos Diretos Humanos, na Constituição pátria e na Lei nº 9.610/98
(art. 27). Por serem os direitos morais do autor inerentes aos direitos da personalidade, não
se exaurem pelo não uso ou pelo decurso do tempo, sendo autorizado ao autor, a
qualquer tempo, pretender a execução específica das obrigações de fazer ou não fazer
decorrentes dos direitos elencados no art. 24, da Lei nº 9.610/98.
4. A legislação especial que rege a matéria, portanto, afasta o decurso do prazo
decadencial quanto a pretensão de reivindicar a autoria da obra musical, razão por
que não incidem as regras gerais do Código Civil na hipótese em exame (art. 178, II,
do CC/2002).
5. A retribuição pecuniária por ofensa aos direitos patrimoniais do autor se submete
ao prazo decenal, inseridos no contexto da relação contratual existente entre as
partes.
ASSERTIVA CORRETA: a resposta de que é 10 anos o prazo para cobrar direitos
patrimoniais decorrentes de direitos autorais, mas não há decadência para reivindicar
autoria.
3.6 SEGURO DE VIDA x SEGURO DE AUTOMÓVEL
SEGURO DE VIDA E SEGURO DE AUTOMÓVEL - No que diz respeito ao seguro de
automóvel de fato, há uma presunção relativa de agravamento de risco, o que não
impede de os herdeiros provarem a ausência de nexo causal entre a embriaguez e o
acidente. O Código civil prevê em seu art. 768 que o segurado perderá o direito à garantia
se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato, inclusive o STJ já tem entendimento
consolidado de que é legítima a negativa da cobertura securitária quando
demonstrado o agravamento intencional do risco causado pelo segurado ou terceiro,
em decorrência da condução de veículo automotor após a ingestão de álcool - REsp
1782462 - Superior Tribunal de Justiça.(FONTE: Comentário monitor QConcurso).

ASSERTIVA CORRETA: a ingestão de álcool gera uma presunção relativa de agravamento


do risco no seguro do automóvel, admitindo-se que os herdeiros provem a ausência de nexo
causal. (DPE/MS 2022).

OBS.: SOBRE O NEXO CAUSAL - Conforme visto, nos seguros de vida, não há que se
comprovar o nexo causal entre a embriaguez e o acidente, conforme a súmula 620 do STJ.
Já no seguro de automóveis, em regra a indenização não será devida, exceto se
houver a comprovação do nexo causal.

OBS2.: No seguro de automóvel, há uma presunção relativa do agravamento de risco, o


que acarreta em regra a perda da indenização.

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3.7 DOS ATOS PRÓPRIOS


A DOUTRINA DOS ATOS PRÓPRIOS - A doutrina dos atos próprios, no âmbito do Código
Civil de 2002, foi acolhida como: Postulado - o que se considera como fato reconhecido e
ponto de partida, implícito ou explícito, de uma argumentação; premissa. Afirmação
ou fato admitido sem necessidade de demonstração.

Enunciado 362 da IV Jornada de Direito Civil: Art. 422. A vedação do comportamento


contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se
extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil.
O princípio da boa-fé objetiva exerce três funções:

1 - Regras de interpretação;
2 - Fontes de direitos e de deveres jurídicos;
3 - Limites ao exercício de direitos subjetivos.
Pertencem a este terceiro grupo a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a
teoria dos atos próprios (tu quoque; venire contra factum proprium - vedação ao
comportamento contraditório; surrectio; supressio). (Fonte: Tartuce, Flávio.Manual de direito civil: volume
único. 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016).

STJ - RECURSO ESPECIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADEDE TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA PROMISSÓRIA. ASSINATURA
ESCANEADA.DESCABIMENTO. INVOCAÇÃO DO VÍCIO POR QUEM O DEU CAUSA.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. APLICAÇÃO DA TEORIA DOS ATOS
PRÓPRIOS SINTETIZADA NOS BROCARDOS LATINOS 'TU QUOQUE' E 'VENIRE
CONTRAFACTUM PROPRIUM'.

(...) 6. Aplicação da 'TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOS', como concreção do princípio da


boa-fé objetiva, sintetizada nos brocardos latinos 'tu quoque' e 'venire contra factum
proprium', segundo a qual ninguém é lícito fazer valer um direito em contradição com
a sua conduta anterior ou posterior interpretada objetivamente, segundo a lei, os bons
costumes e a boa-fé7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 8. RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO. (STJ. REsp 1192678 PR 2010/0083602-0. Relator Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO. Julgamento 13/11/2012. Terceira Turma. DJe 26/11/2012).

PROCESSUAL CIVIL. TEMPESTIVIDADE DA APELAÇÃO. SUSPENSÃO DO PROCESSO.


HOMOLOGAÇÃO ANTES DE SER PUBLICADA A DECISÃO
RECORRIDA.IMPOSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE ATO ENQUANTO PARALISADA A
MARCHAPROCESSUAL. HIPÓTESE QUE NÃO SE CONFUNDE COM A ALEGADA
MODIFICAÇÃODE PRAZO PEREMPTÓRIO. BOA-FÉ DO JURISDICIONADO.
SEGURANÇA JURÍDICA EDEVIDO PROCESSO LEGAL. NEMO POTEST VENIRE
CONTRA FACTUM PROPRIUM.

(...) 8. É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual,


em atenção aos princípios da segurança jurídica, do devido processo legal e seus corolários
– princípios da confiança e da não surpresa - valores muito caros ao nosso ordenamento
jurídico.

9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos


jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o termo

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final do prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em seguida, seja
praticado ato processual de ofício - publicação de decisão - e, ademais, considerá-lo
como termo inicial do prazo recursal.

10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da


relação processual responsável por conduzir o procedimento com vistas à
concretização do princípio do devido processo legal. Assim agindo, o Poder Judiciário
feriu a máxima nemo potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no
âmbito processual. Precedentes do STJ. 11. Recurso Especial provido. (STJ. REsp 1306463 RS
2011/0227199-6. Relator Ministro HERMAN BENJAMIN. Julgamento 04/09/2012. Segunda Turma. DJe 11/09/2012).
(Comentários professor QConcurso)

ATENÇÃO: O princípio do Venire Contra Factum Proprium veda o comportamento


contraditório, inesperado, que causa surpresa na outra parte.
ASSERTIVA CORRETA: A doutrina dos atos próprios, no âmbito do Código Civil de 2002, foi
acolhida como: Postulado.
CIVIL - CONSTRATO DE VENDA EM CONSIGNAÇÃO/CONTRATO ESTIMATÓRIO – STJ
- O que caracteriza o contrato de venda em consignação, também denominado pela doutrina
e pelo atual Código Civil (arts. 534 a 537) de contrato estimatório, é que a propriedade
da coisa entregue para venda não é transferida ao consignatário e que, após recebida
a coisa, o consignatário assume uma obrigação alternativa de restituir a coisa ou pagar o
preço dela ao consignante. (REsp 710658 / RJ - STJ).

ASSERTIVA ERRADA: Jurema deixou consignada uma estatueta sua em uma loja de
antiguidades, a Salomão Ltda. Os representantes da loja incumbiram-se de buscar vendê-
la, obrigando-se a pagar a Jurema o preço ajustado ou devolver a estatueta ao final de um
mês. a entrega da estatueta para a venda implica transferência de sua propriedade à loja
Salomão Ltda. (NÃO IMPLICA TRANSFERÊNCIA) – (FGV – TJPE/22).

3.8 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


Desconsideração da personalidade jurídica - A inexistência ou não localização de bens da
pessoa jurídica não é condição para a instauração do procedimento que objetiva a
desconsideração, por não ser sequer requisito para aquela declaração, já que
imprescindível a demonstração específica da prática objetiva de desvio de finalidade
ou de confusão patrimonial. Assim, o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica pode ser instaurado mesmo nos casos em que não for comprovada a inexistência
de bens do devedor, pois o que é condição para a instauração do incidente é a prova do
desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. STJ. 4ª Turma. REsp 1729554/SP, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/05/2018. O encerramento das atividades ou
dissolução da sociedade, ainda que irregulares, não é causa, por si só, para a
desconsideração da personalidade jurídica prevista no Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp
1306553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/12/2014 (Info 554).

3.9 SÚMULA 537 STJ – REPARAÇÃO DE DANOS x SEGURADORA


Súmula 537 STJ - Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar
a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e
solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima,
nos limites contratados na apólice.

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4. PROCESSO CIVIL

4.1 QUERELA NULLITATIS (AÇÃO DECLARATÓRIA)


“Ação rescisória. Processual civil. Não cabimento de ação rescisória diante da nulidade
decorrente de vício/inexistência de citação. Litisconsorte passivo necessário. Proprietário
do imóvel. Ação demolitória. Cabível ação declaratória – querela nullitatis. Inadequação da
via eleita. Ação extinta. Condenação da parte autora em honorários advocatícios e custas
processuais. Necessário o recolhimento de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa nos
termos do artigo 488, II, do CPC. À unanimidade. 1. De acordo com a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, é cabível ação declaratória de nulidade (querela nullitatis) para
se combater sentença proferida com nulidade ou inexistência de citação, sendo
inadequado o uso da ação rescisória. 2. Não estando prevista tal causa de pedir dentre
as taxativas hipóteses constantes dos incisos do art. 485 do CPC, o expediente processual
adequado para corrigir o suposto equívoco praticado no primeiro grau de jurisdição é
a querela nullitatis. 3. Precedentes jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça. 4. Ação
Rescisória julgada extinta. À unanimidade. Prejudicado o Agravo Regimental interposto pela
parte autora. 5. Condenação da parte autora ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios, estes arbitrados em R$ 500,00 (quinhentos reais). 6. Deve, ainda,
a parte autora fazer o pagamento do depósito de 5% (cinco por cento) sobre o valor da
causa, conforme previsto no artigo 488, II, do Código de Processo Civil” (TJPE, Grupo de
Câmaras de Direito Público, AGR 3254235/PE, Rel. Erik de Sousa Dantas Simões, j.
05.08.2015, data de publicação 14.08.2015)

4.2 FRAUDE À EXECUÇÃO


PROCESSO CIVIL - Inf. 552/STJ (Corte Especial - Recurso Repetitivo - Tema 243):
FRAUDE À EXECUÇÃO. O STJ definiu as seguintes teses: (1) Em regra, para que haja
fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida do devedor;
(2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou
onerou o bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos.
Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa
averbação.
(3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de
execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do
terceiro adquirente;
(4) A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, devendo ser
respeitada a parêmia (ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se presume, a má-fé se
prova”;
(5) Assim, não havendo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o
ônus de provar que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de
levar o alienante à insolvência. STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi,
Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (Recurso Repetitivo – Tema 243) (Info 552).

4.3 IMPRESCRITIBILIDADE DAS AÇÕES DE RESSARCIMENTO FUNDADAS NA


PRÁTICA DE ATO DOLOSO DA LIA
AÇÃO POPULAR – STF: São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade

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Administrativa. STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 08/08/2018 (repercussão geral) (Info 910).

ASSERTIVA CORRETA: A ação prevista nesta lei (Lei 4717. Art. 21) prescreve em 5
(cinco) anos. Mas o ressarcimento por ato doloso é imprescritível.

4.4 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


STJ- “Nos processos judiciais, a fixação de honorários advocatícios sucumbenciais é
regida pela lei vigente na data de prolação da sentença.” De fato, este é o entendimento
do STJ a respeito do tema, que consolidou o seguinte entendimento: "1. A Corte Especial
do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a fixação dos
honorários advocatícios de sucumbência rege-se pela lei vigente na data da prolação da
sentença ou, no caso dos feitos de competência originária dos tribunais, do ato
jurisdicional equivalente à sentença. (EDcl na MC 17.411/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE
ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe 27/11/2017).

4.5 EXECUÇÃO FISCAL

PROCESSO CIVIL – “Na execução fiscal, o prazo de um ano de suspensão do


processo, previsto na Lei de Execução Fiscal, e da respectiva prescrição intercorrente
se inicia automaticamente na data de ciência da fazenda pública a respeito da não
localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço
fornecido.” Este foi o entendimento firmado pelo STJ em sede de julgamento de recursos
repetitivos, senão vejamos: "O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do
respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º e 2º da Lei n. 6.830/1980 - LEF tem
início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito da não localização
do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem
prejuízo dessa contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a
suspensão da execução. Sem prejuízo do disposto anteriormente: 1.1) nos casos de
execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho
ordenador da citação tenha sido proferido antes da vigência da Lei Complementar n.
118/2005), depois da citação válida, ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa
infrutífera de localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução; e,
1.2) em se tratando de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária
(cujo despacho ordenador da citação tenha sido proferido na vigência da Lei Complementar
n. 118/2005) e de qualquer dívida ativa de natureza não tributária, logo após a primeira
tentativa frustrada de citação do devedor ou de localização de bens penhoráveis, o Juiz
declarará suspensa a execução" (REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 12/09/2018, DJe 16/10/2018 (Tema 566).

4.6 EMBAROS DE DECLARAÇÃO: NÃO SUSPENDEM E NEM INTERROMPEM O


PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO

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STF Recurso – ED Juízo de Admissibilidade em RE - "DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO


TRABALHO – RECURSOS ED e juízo de admissibilidade de RE-2 Os embargos de
declaração opostos contra a decisão de presidente do tribunal que não admite recurso
extraordinário não suspendem ou interrompem o prazo para interposição de agravo,
por serem incabíveis.
Esse é o entendimento da Primeira Turma que, por maioria e em conclusão, converteu
embargos declaratórios em agravos regimentais e a eles negou provimento (vide Informativo
700).
Vencidos os ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que deram provimento aos agravos, por
entenderem que todo pronunciamento com carga decisória desafia embargos declaratórios.
ASSERTIVA CORRETA: não são cabíveis e, por isso, não haverá interrupção do prazo
recursal para a interposição de agravo em recurso extraordinário.”
ED e juízo de admissibilidade de RE - O STF possui entendimento no sentido de que não
são oponíveis embargos de declaração em face de decisão que não admite o recurso
extraordinário, razão pela qual não há que se falar em interrupção de prazo para a
interposição de agravo contra esta mesma decisão.
4.7 EXECUÇÃO DE PENALIDADE IMPOSTA POR TRIBUNAL DE CONTAS
STF - "AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
ALEGADA CONTRARIEDADE AO ART. 5º, XXXV, DA CONSTITUIÇÃO. OFENSA
REFLEXA. PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. TRIBUNAL DE CONTAS
ESTADUAL. APLICAÇÃO DE PENALIDADE. EXECUÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA.
BENEFICIÁRIO DA CONDENAÇÃO. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (...) II - A jurisprudência desta Corte é no
sentido de que a ação de execução de penalidade imposta por Tribunal de Contas
somente pode ser ajuizada pelo ente público beneficiário da condenação. Precedentes.
III - Agravo regimental a que se nega provimento" (STF. ARE 791577 AgR/MA. Rel. Min. Ricardo
Lewandowski. DJ 12/08/2014).

4.8 REMESSA NECESSÁRIA


REMESSA NECESSÁRIA - TRF4: 50486972220174040000/TRF (29.10.2019) - O Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF4) decidiu, por maioria, que no cumprimento de
sentença contra a Fazenda Pública, é possível o pagamento de parte da execução já
transitada em julgado, ou seja, de pagamento fracionado. A questão foi objeto do Incidente
de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) de número 18, julgado na última quinta-feira
(24/10) pela Corte Especial.
Isso pode ocorrer tanto naquelas hipóteses de julgamento antecipado parcial do mérito,
como de recurso parcial da fazenda pública, com expedição de RPV ou precatório.
Segundo o relator do acórdão, desembargador federal Paulo Afonso Brum Vaz, o novo
Código de Processo Civil (CPC) foi expresso ao referir no § 3º do art. 966, que a ação
rescisória pode ter por objeto apenas um capítulo da sentença. “O CPC de 2015, que
veio para prestigiar a celeridade do processo civil, expressamente determina que a parte
incontroversa da sentença seja executada provisoriamente se pender recurso e
definitivamente se não houver recurso interposto sobre esta parte”, analisou Brum Vaz.
O desembargador, entretanto, frisou que se tratando de condenação contra a Fazenda
Pública, a eficácia executiva da sentença fica condicionada ao reexame necessário,

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nos casos em que é exigido, ou seja, à reanálise pelo tribunal mesmo que não existam
recursos.
Tese: É legalmente admitido o imediato cumprimento definitivo de parcela transitada em
julgado, tanto na hipótese de julgamento antecipado parcial do mérito (§§ 2° e 3º do art. 356
do CPC), como de recurso parcial da Fazenda Pública, e o prosseguimento, com
expedição de RPV ou precatório, na hipótese de impugnação parcial no cumprimento de
sentença que reconheça a exigibilidade de quantia certa (art. 523 e §§ 3º e 4º do art. 535 do
CPC), respeitada a remessa oficial, nas hipóteses em que necessária, nas ações em que é
condenada a Fazenda Pública na Justiça Federal, nos Juizados Especiais Federais e na
competência federal delegada.
4.9 RESERVA DE PLENÁRIO
STF: RCL 24284/SP - EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO –
ALEGAÇÃO DE OFENSA À SÚMULA VINCULANTE 10/STF – DECISÃO FUNDADA EM
JURSIPRUDÊNCIA DESTA CORTE - NÃO CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO –
PRECEDENTES - AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal é
pacífica no sentido de que é desnecessária a submissão de demanda judicial à regra da
reserva de plenário na hipótese em que a decisão judicial estiver fundada em
jurisprudência do Plenário do Supremo Tribunal Federal ou em Súmula deste Tribunal,
nos termos dos arts. 97 da Constituição Federal, e 949 do CPC/2015. 2. Agravo regimental,
interposto em 21.06.2016, a que se nega provimento. (Rcl 24284 AgR, Relator(a): Min. EDSON FACHIN,
Primeira Turma, julgado em 22/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-098 DIVULG 10-05-2017 PUBLIC 11-05-2017)

4.10 INTERVENÇÃO DE TERCEIRO


INTERVENÇÃO DE TERCEIRO - STJ “não é extinta a denunciação da lide apresentada
intempestivamente pelo réu nas hipóteses em que o denunciado contesta apenas a
pretensão de mérito da demanda principal. STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.108-PR, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 6/6/2017 (Info 606).

STJ é de que a assistência exige interesse jurídico, não bastando interesse


corporativo. Neste sentido: “O acionista de uma sociedade empresária, a qual, por sua vez,
tenha ações de outra sociedade, não pode ingressar em processo judicial na condição de
assistente simples da última no caso em que o interesse em intervir no feito esteja limitado
aos reflexos econômicos de eventual sucumbência da sociedade que se pretenda assistir”.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1262401-BA, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/4/2013 (Info 521).

ASSERTIVA ERRADA: Considera-se possível o ingresso de terceiro como assistente


simples, desde que demonstrada a presença de interesse jurídico, revelando-se como tal o
interesse corporativo. NÃO BASTA O INTERESSE CORPORATIVO.

(NO CASO DO JULGADO ACIMA, O ACORDÃO DESTACOU QUE O PEDIDO DE


ASSISTÊNCIA SIMPLES NÃO PODERIA SER DEFERIDO, PORQUANTO NÃO FICOU
DEMONSTRADO O INTERESSE JURIDICO NA DEMANDA, MAS O INTERESSE
MERAMENTE ECONÔMICO.)

DENUNCIAÇÃO DA LIDE - STJ - Não é admissível a denunciação da lide embasada no


art. 70, III, do CPC 1973 (art. 125, II, do CPC 2015) quando introduzir fundamento novo
à causa, estranho ao processo principal, apto a provocar uma lide paralela, a exigir
ampla dilação probatória, o que tumultuaria a lide originária, indo de encontro aos

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princípios da celeridade e economia processuais, que essa modalidade de


intervenção de terceiros busca atender. STJ. 4ª Turma. REsp 701868-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado
em 11/2/2014 (Info 535).

ASSERTIVA ERRADA: Admite-se a denunciação da lide àquele que estiver obrigado, por
lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no
processo, ainda que introduzir fundamento novo à causa.

(NÃO É ADMISSIVEL A DENUNCIAÇÃO DA LIDE QUANDO INTRODUZIR NOVO


FUNDAMAMENTO Á CAUSA).

4.11 RECURSOS
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL - STJ é de que “O erro do sistema eletrônico do Tribunal
de origem na indicação do término do prazo recursal é apto a configurar justa causa
para afastar a intempestividade do recurso”. STJ. Corte Especial.EAREsp 1.759.860-PI, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 16/03/2022 (Info 730).

ASSERTIVA ERRADA: Eventual informação equivocada prestada por sistema eletrônico de


tribunal não pode ser utilizada como parâmetro para aferição da tempestividade do recurso.

STJ - “as decisões interlocutórias sobre a instrução probatória não são impugnáveis
por agravo de instrumento ou pela via mandamental, sendo cabível a sua impugnação
diferida pela via da apelação”. STJ. 2ª Turma. RMS 65943-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 26/10/2021).

ATENÇÃO: As decisões sobre a instrução probatória, e, portanto, sobre o exercício do


direito à ampla defesa, estão em tese imunes ao sistema de preclusão processual, e
tampouco se inserem nas hipóteses do art. 1.015 do CPC/2015, daí por que cabível a sua
impugnação diferida pela via da apelação, não se aviando a ação mandamental tanto por
isso quanto porque a sua impetração implicaria indireta ofensa a essa sistemática de
impugnação.

4.12 MANDADO DE SEGURANÇA


STJ - É incabível a interposição de recurso ordinário contra apelação em mandado de
segurança. STJ. 2ª Turma. RMS 66905-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/03/2022 (Info 731). Haja vista
que não decidido em única instância.

STJ - É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado (art.
5º, III, da Lei nº 12.016/2009 e Súmula nº 268-STF). No entanto, se a impetração do
mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da decisão questionada,
mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito do MS deverá ser julgado,
não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a perda de objeto. STJ. Corte Especial.
EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/03/2019 (Info 650). Veja a fundamentação
do Min. Mauro Campbell Marques:

“O interesse na desconstituição da decisão judicial objeto do mandado de segurança


não desaparece com o trânsito em julgado. Essa, com efeito, foi impugnada antes de seu
transito em julgado e a mora judicial para seu exame não deve acarretar prejuízos para o
impetrante.

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(...)
Não há razoabilidade na perda superveniente do interesse no mandado de segurança
quando a decisão por ele impugnada transita em julgado após a sua impetração.
Interpretação em sentido contrário se afasta, então, do disposto no art. 5º, XXXV, da
CF/1988.”

STJ: A Defensoria Pública não detém legitimidade para impetrar mandado de


segurança coletivo, não se enquadrando no rol taxativo dos artigos 5°, LXX, Benedito
Gonçalves, julgado em 23/11/2021.

ATENÇÃO: O rol dos legitimados a impetrar mandado de segurança coletivo previsto no


art. 5º, LXX, da CF, assim como no art. 21 da Lei nº 12.016/09, é taxativo.

MANDADO DE SEGURANÇA - STJ e STF : não é cabível intervenção de terceiros em


mandado de segurança. Neste sentido: O rito procedimental do mandado de segurança
é INCOMPATÍVEL com a intervenção de terceiros, conforme se extrai do art. 24 da Lei nº
12.016/09, ainda que na modalidade de assistência litisconsorcial. STJ. 1ª Seção. AgInt na PET no
MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 28/04/2020. STF. 2ª Turma. RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, DJE 06/11/2020.

MANDADO DE SEGURANÇA - O STF considerou inconstitucional impedir ou


condicionar a concessão de medida liminar, o que caracteriza verdadeiro obstáculo à
efetiva prestação jurisdicional e à defesa do direito líquido e certo do impetrante. A
Corte concluiu que: É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a
concessão de medida liminar na via mandamental. STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info
1021).
ATENÇÃO: Art. 7º, § 2º: Inconstitucional

Esse dispositivo proíbe a concessão de liminar em mandado de segurança para a


compensação de créditos tributários, entrega de mercadorias e bens provenientes do
exterior:

Art. 7º (...)§ 2º Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação
de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a
extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. ASSERTIVA ERRADA:
Existem vedações legais à concessão de liminar em mandado de segurança. Entre elas,
inclui-se a vedação à liminar para liberação de mercadorias provenientes do
exterior, considerada constitucional por decisão do Supremo Tribunal Federal em controle
concentrado de constitucionalidade. (SENADO FEDERAL/2022- consultor legislativo/FGV).

MANDADO DE SEGURANÇA - STJ: PROCESSUAL CIVIL – DENEGAÇÃO DE


MANDADO DE SEGURANÇA ANTERIORMENTE IMPETRADO – REDISCUSSÃO DA
MATÉRIA NA VIA ORDINÁRIA – IMPOSSIBILIDADE – COISA JULGADA MATERIAL –
PRECEDENTES. Ocorrência de coisa julgada material na hipótese, pois, ao se denegar o
mandado de segurança impetrado anteriormente pelo recorrente, adentrou no mérito da
questão, o que impede sua rediscussão na via ordinária. Agravo regimental improvido.
(STJ - AgRg no REsp: 645400 RJ 2004/0026304-5, Relator: Ministro HUMBERTO
MARTINS, Data de Julgamento: 09/09/2008, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação:

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- DJe 09/10/2008)

OBS.: Importante ressaltar que quando a sentença ou o acórdão que denega mandado
de segurança, não decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria,
pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais, de acordo com o art. 19
da Lei 12.016 (lei do mandado de segurança). ASSERTIVA CORRETA: o juiz da nova
causa, após o oferecimento da réplica autoral, deve julgar extinto o feito, sem resolução do
mérito, em razão da coisa julgada.
4.13 RESSARCIMENTO x EFETIVAÇÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA

STJ - A obrigação de indenizar o dano causado ao adversário, pela execução de tutela


antecipada posteriormente revogada, é consequência natural da improcedência do
pedido, decorrência ex lege da sentença e da inexistência do direito anteriormente
acautelado, responsabilidade que independe de reconhecimento judicial prévio, ou de
pedido do lesado na própria ação ou em ação autônoma ou, ainda, de reconvenção,
bastando a liquidação dos danos nos próprios autos, conforme comando legal previsto nos
arts. 475-O, inciso II, c/c art. 273, § 3º, do CPC. Precedentes. (REsp n. 1.191.262/DF, relator Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 25/9/2012, DJe de 16/10/2012.).

ASSERTIVA CORRETA: É desnecessário pronunciamento judicial expresso sobre a


obrigação de indenizar o dano causado pela execução de tutela antecipada posteriormente
revogada, por ser consequência natural da improcedência do pedido.

4.14 AÇÃO CIVIL PÚBLICA


AÇÃO CIVIL PÚBLICA - STF - Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito
nacional ou regional, firma-se a prevenção do juízo que primeiro conheceu de uma
delas, para o julgamento de todas as demandas conexas. STF. Plenário. RE 1101937/SP, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 1075) (Info 1012).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - Tema 1075 (RE 1101937/SP)

“Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova”. (Incluído pela Lei 9.494/1997).”

Jurisprudência relacionada:

Tema 1075 (RE 1101937/SP, j. em 07/04/2021): (i) É inconstitucional o artigo 16 da Lei


7.347/1985, alterada pela Lei 9.494/1997; (ii) Em se tratando de ação civil pública de efeitos
nacionais ou regionais, a competência deve observar o artigo 93, II, do CDC; (iii) Ajuizadas
múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-se a prevenção do juízo
que primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas conexas.

Os sindicatos e as associações, na qualidade de substitutos processuais, têm


legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses coletivos de toda a
categoria que representam, sendo dispensável a relação nominal dos afiliados e suas
respectivas autorizações. Logo, as associações quando atuam como representante, deve,
possui autorização e como substituta, não necessitam.

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STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 454.098/SC - Existem diversos julgados do STJ afirmando
que os sindicatos e associações, na qualidade de substitutos processuais, detêm
legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses coletivos de toda a
categoria que representam

REsp 1.243.887/PR (Corte Especial), o STJ decidiu que o art. 16 é incompatível com as
finalidades da própria tutela da coletividade. Por isso, é possível requerer
individualmente o cumprimento de sentença fora dos limites territoriais de onde ela
foi proferida.

STJ .Não pode haver limite territorial em relação aos efeitos da coisa julgada.

STJ. Corte Especial. EREsp 1.134.957/SP - 3ª. A eficácia das decisões proferidas em
ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada ao território da competência do
órgão jurisdicional que prolatou a decisão.

ASSERTIVA CORRETA: Caso seja julgada procedente a ação civil pública ajuizada pela
associação, a eficácia subjetiva da sentença alcançará os sujeitos residentes em todos
os territórios de comercialização do produto, inclusive o Estado de Goiás, motivo pelo
qual é dispensada a identificação dos associados na petição inicial. (MPE-GO-2022).

PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – TELEFONIA. COBRANÇA DE PULSOS


ALÉM DA FRANQUIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. MATÉRIA QUE SE
INSERE NO ÂMBITO DE COGNIÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS. ILEGITIMIDADE
PASSIVA DA ANATEL. CARÁTER INFRACONSTITUCIONAL DA MATÉRIA QUE
ENVOLVE ANÁLISE DO CONTRATO DE CONCESSÃO. 1. Por não figurar na relação
jurídica de consumo, a Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL carece de
legitimidade para compor o polo passivo de ação movida pelo particular, usuário do
serviço de telefonia móvel, contra a concessionária. 2. Ausente participação da autarquia
federal, sob qualquer das hipóteses previstas no art. 109, I, da Constituição, a competência
é da Justiça Estadual. 3. Em se tratando de demanda que se resolve pela análise de matéria
exclusivamente de direito, a dispensar instrução complexa, cabível seu processamento no
Juizado Especial. 4. Reveste-se de natureza infraconstitucional a matéria relacionada à
relação de consumo e ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão. 5.
Recurso conhecido em parte e, nesta extensão, desprovido.
(RE 571572, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 08/10/2008,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-030 DIVULG 12-02-2009 PUBLIC 13-02-2009
EMENT VOL-02348-05 PP-00939 RF v. 105, n. 403, 2009, p. 401-412)

Súmula 506 do STJ: “A Anatel não é parte legitima nas demandas entre concessionária
e o usuário de telefonia decorrentes da relação contratual." Desse modo, não sendo a
ANATEL litisconsorte passiva necessária, compete à Justiça estadual julgar causas
entre consumidor e concessionária de serviço público de telefonia, de acordo com a súmula
vinculante 27.
A ação civil pública contra operadora de telefonia é da competência da justiça estadual, não
havendo que remeter a petição ao juiz federal, pois a ANATEL não está como
litisconsorte passiva necessária. ASSERTIVA ERRADA: determinar a emenda da
petição inicial, para que a agência reguladora do setor seja inserida no polo passivo, por se
tratar de litisconsórcio passivo necessário.

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA - RE n° 643.978/SE (Rel.: Min. Alexandre de


Moraes, Pleno, j. em 9.10.2019), no qual se reconheceu a legitimidade do MP para a
propositura de ação civil pública em defesa de direitos sociais relacionados ao Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), pois, nesse caso, estamos diante de direitos
individuais homogêneos de caráter social, cuja relevância transcende a esfera individual
dos interessados, donde a legitimidade do parquet para promover sua tutela, aplicando-se
ao p. único do art. 1° da LACP (Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões
que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados) uma interpretação conforme a Constituição Federal.
ASSERTIVA CORRETA: A ação civil pública é meio processual inadequado para a defesa
de fundos de natureza institucional cujos beneficiários possam ser individualizados, como é
o caso do FGTS. Isso não impede, todavia, o reconhecimento da possibilidade de
sua utilização para defesa de direitos sociais relacionados a estes fundos.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – TELEFONIA. COBRANÇA DE PULSOS ALÉM DA FRANQUIA.


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. MATÉRIA QUE SE INSERE NO ÂMBITO DE
COGNIÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA ANATEL.
CARÁTER INFRACONSTITUCIONAL DA MATÉRIA QUE ENVOLVE ANÁLISE DO
CONTRATO DE CONCESSÃO. 1. Por não figurar na relação jurídica de consumo, a
Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL carece de legitimidade para compor
o polo passivo de ação movida pelo particular, usuário do serviço de telefonia móvel,
contra a concessionária. 2. Ausente participação da autarquia federal, sob qualquer das
hipóteses previstas no art. 109, I, da Constituição, a competência é da Justiça Estadual. 3.
Em se tratando de demanda que se resolve pela análise de matéria exclusivamente de
direito, a dispensar instrução complexa, cabível seu processamento no Juizado Especial. 4.
Reveste-se de natureza infraconstitucional a matéria relacionada à relação de consumo e
ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão. 5. Recurso conhecido em
parte e, nesta extensão, desprovido. (RE 571572, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
08/10/2008, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-030 DIVULG 12-02-2009 PUBLIC 13-02-2009 EMENT VOL-02348-
05 PP-00939 RF v. 105, n. 403, 2009, p. 401-412)

Súmula 506 do STJ: “A Anatel não é parte legitima nas demandas entre concessionária
e o usuário de telefonia decorrentes da relação contratual." Desse modo, não sendo a
ANATEL litisconsorte passiva necessária, compete à Justiça estadual julgar causas
entre consumidor e concessionária de serviço público de telefonia, de acordo com a súmula
vinculante 27.
A ação civil pública contra operadora de telefonia é da competência da justiça estadual, não
havendo que remeter a petição ao juiz federal, pois a ANATEL não está como
litisconsorte passiva necessária. ASSERTIVA ERRADA: determinar a emenda da
petição inicial, para que a agência reguladora do setor seja inserida no polo passivo, por se
tratar de litisconsórcio passivo necessário.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - RE n° 643.978/SE (Rel.: Min. Alexandre de Moraes, Pleno, j. em


9.10.2019), no qual se reconheceu a legitimidade do MP para a propositura de ação civil
pública em defesa de direitos sociais relacionados ao Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS), pois, nesse caso, estamos diante de direitos individuais homogêneos
de caráter social, cuja relevância transcende a esfera individual dos interessados, donde a
legitimidade do parquet para promover sua tutela, aplicando-se ao p. único do art. 1° da
LACP (Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos,

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros


fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados) uma interpretação conforme a Constituição Federal.

ASSERTIVA CORRETA: A ação civil pública é meio processual inadequado para a defesa
de fundos de natureza institucional cujos beneficiários possam ser individualizados, como é
o caso do FGTS. Isso não impede, todavia, o reconhecimento da possibilidade de
sua utilização para defesa de direitos sociais relacionados a estes fundos.

PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – RECURSO - AGRAVO - O prazo para a


Fazenda Pública interpor AGRAVO INTERNO em Suspensão de Liminar é de 15 dias e
deve ser contado em dobro (STJ), mas, segundo o STF, não deve ser contado em
dobro.
O prazo para a Fazenda Pública interpor agravo interno em Suspensão de Liminar é de 15
dias e deve ser contado em dobro.

• STJ. Corte Especial. SLS nº 2572/DF, julgado em 15/12/2021


• STJ. Corte Especial. AgRg no AgRg na SLS 1.955/DF, Rel. Min. Francisco Falcão,
julgado em 18/03/2015;

Por outro lado, o pensamento do STF é que não se aplica o prazo em dobro.

• STF; SL-AgR-AgR 586; Tribunal Pleno; Rel. Min. Presidente; DJE 25/08/2017;
• STF; SS-AgR 4.390; Tribunal Pleno; Rel. Min. Presidente; DJE 27/02/2018.

“Art. 1.070. É de 15 (quinze) dias o prazo para a interposição de qualquer agravo, previsto
em lei ou em regimento interno de tribunal, contra decisão de relator ou outra decisão
unipessoal proferida em tribunal.”

“Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-
ão somente os dias úteis.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.”

Lei da Ação Civil Pública

Art. 12. § 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar
grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do
Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da
liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas
julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.

• Esse prazo de 5 dias não é mais aplicável por causa do art. 1.070 do CPC, que
fixou o prazo de 15 dias para qualquer agravo, independentemente de estar
previsto em lei ou em regimento interno de Tribunal.

ASSERTIVA CORRETA: Não obstante, o presidente do tribunal, apreciando os argumentos


da pessoa jurídica de direito público, indeferiu o seu pleito de suspensão de execução da

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

tutela provisória.
Inconformado com essa decisão, o Município, através do órgão da Advocacia Pública,
poderá interpor recurso de agravo, no prazo de quinze dias; (TJSC/2022).

4.15 SENTENÇAS DE IMPROBIDADE NÃO FICAM SUJEITAS AO REEXAME


NECESSÁRIO. (NOVIDADE!!!)
MEDIDAS JUDICIAIS – Márcio André Lopes Cavalcante de O dizer o Direito, ensina que se
trata do chamado Reexame necessário “invertido”. Com efeito, diferentemente do que
ocorre no reexame necessário previsto no art. 496 do CPC, em que as sentenças que
desafiam o referido instituto são de procedência, no reexame necessário previsto na Lei de
Ação Popular, as sentenças que o desafiam são de improcedência.
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada
pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.
"Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame
necessário. Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do
CPC. Lá, se a Fazenda “perde”, haverá reexame. Aqui, o reexame necessário ocorre se
o cidadão perde. Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de
duplo grau de jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau que ocorre em favor do cidadão
(e não necessariamente da Fazenda Pública)".
O reexame necessário previsto no art. 19 da Lei nº 4.171/65 (AP) aplica-se às ações de
improbidade administrativa. Nesse sentido:
A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade
administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do
CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. STJ. 1ª Seção.
EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

ASSERTIVA CORRETA: A respeito de medidas judiciais destinadas à proteção de


interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e individuais indisponíveis das
pessoas com deficiência, a sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da
ação estará sujeita ao duplo grau de jurisdição. (Desatualizada). ATENÇÃO para a
atualização acerca do tema, como se vê a seguir.
Importante: VAMOS VER A IMPORTANTE ATUALIZAÇÃO ACERCA DO ASSUNTO,
COM A LEI FEDERAL N° 14.230/21 E O FIM DO REEXAME NECESSÁRIO NAS AÇÕES
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
A Lei Federal nº 14.230/2021 promoveu a expressa extinção da remessa necessária
no âmbito das ações de improbidade administrativa em seu art. 17-C, §3°, com
aplicação imediata, nos termos do art. 1º, §4º da LIA (PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE
DA LEI MAIS BENÉFICA), veja:
“Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere esta Lei deverá, além de
observar o disposto no art. 489 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil): § 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta
Lei.”

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

Com o advento da nova lei, não há mais espaço para qualquer interpretação no sentido de
ser devido o reexame necessário no contexto das ações de improbidade administrativa.
Ou seja, para que as sentenças de improcedência cheguem à segunda instância, é
necessário que o órgão acusador recorra por meio de apelação. E, quando o
Ministério Público assim não agir, o caso automaticamente transitará em julgado. o
Superior Tribunal de Justiça lançou o Tema 1.042.
Ocorre que, com o advento da nova legislação, e inexistindo margem para
interpretações contra legem, o aludido Tema perdeu o objeto, pois os dois pontos
levantados pelo Superior Tribunal de Justiça no Tema 1.042 já foram resolvidos, de
forma inequívoca, pelo legislador federal. É dizer: o Congresso Nacional já definiu que
o reexame necessário não se aplica no âmbito da improbidade administrativa e que,
portanto, o respectivo processo somente chegará na segunda instância se o órgão
acusador exercer a sua prerrogativa de recorrer. Por força da Lei Federal nº 14.230/2021,
todos os reexames necessários provenientes de ações de improbidade
administrativa, que ainda não tenham transitado em julgado, devem ser
imediatamente extintos, independentemente da manifestação do Superior Tribunal
de Justiça.
(Fonte: Jusbrasil https://eduardocrego.jusbrasil.com.br/artigos/1429679190/a-lei-federal-n-14230-2021-e-o-
fim-do-reexame-necessario-nas-acoes-de-improbidade-administrativa).

4.16 AÇÃO REVISIONAL X INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL


A propositura da ação revisional pelo devedor interrompe o prazo prescricional para
o ajuizamento da ação executiva
Caso adaptado: em julho de 2007, João celebrou contrato de mútuo com a Caixa Econômica
Federal (CEF). Em julho de 2010, venceu a última parcela do contrato. Em julho de 2018, a
CEF ajuizou execução cobrando R$ 200 mil de saldo que João ainda estaria devendo. O
executado arguiu a prescrição afirmando que a pretensão se submetia ao prazo prescricional
de 5 anos, previsto no art. 206, § 5º, I, do Código Civil. Como a última parcela venceu em
julho de 2010, a instituição financeira teria até julho de 2015 para executar (5 anos). A CEF,
contudo, contra argumentou afirmando que, em janeiro de 2010, João ajuizou ação revisional
contra ela pedindo que fosse recalculado o saldo devedor considerando que os índices
aplicados para reajuste das parcelas estariam errados. Essa ação revisional somente foi
definitivamente julgada em julho de 2017. Assim, a CEF argumentou que a ação ajuizada
por João para discutir a dívida interrompeu a prescrição, pois somente após o trânsito
em julgado da decisão é que seria possível saber o valor exato a ser exigido do
devedor. Em outras palavras, a CEF defendeu que a prescrição foi interrompida com
o ajuizamento da ação que controverteu os valores. Esse prazo prescricional somente
foi reiniciado (do zero) após o último ato do processo, qual seja, o trânsito em julgado
da sentença. O STJ concordou com a CEF. A configuração da mora nem sempre induz à
inércia do credor em relação à persecução do seu direito. A quebra da inércia do credor é
caracterizada não só pela ação executiva, mas por qualquer outro meio que evidencie a
defesa do crédito representado pelo título executivo. A possibilidade de o credor negociar,
transigir ou reconhecer, total ou parcialmente, eventual excesso do crédito no âmbito da
própria ação movida pelo devedor pode evitar a necessidade posterior da execução de um

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

título que representa um mesmo objeto. O reconhecimento da prescrição se opera em


desfavor do titular do crédito. Assim, (como constou na assertiva) a disposição contida no
§ 1º do art. 794 do CPC/2015 não deve ser interpretada no sentido de que a ação
executiva seja a única forma de o credor demonstrar uma atitude ativa em relação à
pretensão de receber o que lhe é devido. STJ. 3ª Turma. REsp 1.956.817-MS, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 14/06/2022 (Info 743). (Dizer o Direito)

4.17 MEDIDAS EXECUTIVAS ATIPICAS


ADI 5941 MEDIDAS EXECUTIVAS ATIPICAS - O Supremo Tribunal Federal (STF), na
sessão desta quinta-feira (9), declarou constitucional dispositivo do Código de Processo Civil
(CPC) que autoriza o juiz a determinar medidas coercitivas necessárias para assegurar
o cumprimento de ordem judicial, como a apreensão da Carteira Nacional de Habilitação
(CNH) e de passaporte, a suspensão do direito de dirigir e a proibição de participação
em concurso e licitação pública.
A maioria do Plenário acompanhou o voto do relator, ministro Luiz Fux, para quem a
aplicação concreta das medidas atípicas previstas no artigo 139, inciso IV, do CPC, é válida,
desde que não avance sobre direitos fundamentais e observe os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade.
OBSERVAÇÃO: Comentário de uma questão do QConcurso - medida executivas atípicas
em IMPROBIDADE ADMINISTATIVA: É cabível a apreensão de passaporte e
a suspensão da CNH no bojo do cumprimento de sentença proferida em
ação de improbidade administrativa.
Em regra, a jurisprudência do STJ entende ser possível a aplicação de medidas executivas
atípicas na execução e no cumprimento de sentença comum, desde que, verificando-se a
existência de indícios de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais medidas sejam
adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha fundamentação
adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância do contraditório
substancial e do postulado da proporcionalidade.
Na ação de improbidade administrativa, com ainda mais razão, há a
possibilidade de aplicação das medidas executivas atípicas, pois se tutela a moralidade e o
patrimônio público. No que diz respeito à proporcionalidade, o fato de se tratar de uma
ação de improbidade administrativa deve ser levado em consideração na análise do
cabimento da medida aflitiva não pessoal no caso concreto, já que envolve maior interesse
público.
Enunciado 12 do FPPC. A aplicação das medidas atípicas sub-rogatórias e coercitivas é
cabível em qualquer obrigação no cumprimento de sentença ou execução de título
executivo extrajudicial. Essas medidas, contudo, serão aplicadas de forma subsidiária às
medidas tipificadas, com observação do contraditório, ainda que diferido, e por
meio de decisão à luz do art. 489, § 1º, I e II.
Enunciado 396 do FPPC. As medidas do inciso IV do art. 139 podem ser
determinadas de ofício, observado o art. 8º.
Na execução fiscal não cabe a retenção de passaporte ou a suspensão da CNH como
forma de compelir o executado a pagar o débito
A lógica de mercado não se aplica às execuções fiscais, pois o Poder Público já é dotado,
pela Lei nº 6.830/80 de privilégios processuais.

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

Assim, são excessivas as medidas atípicas aflitivas pessoais, tais como


a suspensão de passaporte e da licença para dirigir, quando aplicadas no
âmbito de execução fiscal.
STJ. 1ª Turma. HC 453.870-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/06/2019 (Info 654).

RESUMO: É possível, em tese, a aplicação das medidas executivas atípicas


(ex: suspensão do passaporte e da CNH)?

Nas execuções e cumprimentos de sentença comuns: SIM

Nas ações de improbidade administrativa: SIM

NA EXECUÇÃO FISCAL: NÃO.

4.18 LITISCONSÓRCIO ENTRE MPE E MPF


ATENÇÃO: (AgInt no CC 151.506/MS) - III. Nos termos da jurisprudência do STJ, (a) "a
competência da Justiça Federal, prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, é fixada, em
regra, em razão da pessoa (competência ratione personae), levando-se em conta não a
natureza da lide, mas, sim, a identidade das partes na relação processual" (STJ, CC
105.196/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de
22/02/2010); e (b) "em ação proposta pelo Ministério Público Federal, órgão da União,
somente a Justiça Federal .está constitucionalmente habilitada a proferir sentença
que vincule tal órgão, ainda que seja sentença negando a sua legitimação ativa" (STJ, CC
40.534/RJ, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, DJU de
17/05/2004). Em igual sentido: STJ, REsp 1.645.638/CE, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 12/05/2017; STF, AgRg no RE 822.816/DF, Rel.

Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, SEGUNDA TURMA, DJe de 15/06/2016.IV. Agravo


interno improvido.(AgInt no CC 151.506/MS, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/09/2017, DJe 06/10/2017).

OBS.: Litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério Público Estadual e o Federal


depende da demonstração de alguma razão específica que justifique a presença de
ambos na lide. ASSERTIVA ERRADA: o Ministério Público do Estado de Goiás e o
Ministério Público Federal poderiam, em litisconsórcio, ajuizar ação civil pública perante a
Justiça Estadual de Goiânia (GO) com pedido de condenação do fornecedor ao pagamento
de danos morais coletivos em favor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Estado de
Goiás e a retirar o produto de circulação.

4.19 AÇÃO COLETIVA X SUSPENSÃO DAS AÇÕES INDIVIDUAIS


PROCESSO CIVIL – AÇÃO COLETIVA - Tema Repetitivo 60/STJ. Tese
Firmada: Ajuizada ação coletiva atinente a macro-lide geradora de processos
multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da
ação coletiva.

Observação: "Na identificação da macro-lide multitudinária, deve-se considerar apenas


o capítulo substancial do processo coletivo. No ato de suspensão não se devem levar
em conta peculiaridades da contrariedade (p. ex., alegações diversas, como as de

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

ilegitimidade de de parte, de prescrição, de irretroatividade de lei, de nomeação de gestor,


de julgamento por Câmaras Especiais e outras que porventura surjam, ressalvada,
naturalmente, a extinção devido à proclamação absolutamente evidente e sólida de
pressupostos processuais ou condições da ação), pois, dada a multiplicidade de
questões que podem ser enxertadas pelas partes, na sustentação de suas pretensões,
o não sobrestamento devido a acidentalidades de cada processo individual levaria à
ineficácia do sistema." (REsp 1110549/RS)

Tema 675/STF. Suspensão de ação individual em razão da existência de ação coletiva. ARE
738109. Não há repercussão geral (questão infraconstitucional).

ASSERTIVA CORRETA: Ana e seus litisconsortes, sentindo-se lesados, podem ajuizar


ação em nome próprio, ainda que se trate de situação possível de ser objeto de tutela
coletiva, pois tal fato não afasta o direito individual.

4.20 COMPETÊNCIA – ACESSO/MATRICULA AO ENSINO


CRITÉRIOS DE COMPETÊNCIA – ACESSO/MATRICULA AO ENSINO - O STJ também já
decidiu que a Justiça da infância e da juventude tem competência absoluta para processar
e julgar causas envolvendo matrícula de menores em creches ou escolas:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRÉDIO ESCOLAR COM SÉRIOS


PROBLEMAS ESTRUTURAIS. PERMANÊNCIA NO ENSINO. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. JULGAMENTO POR CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO SEM
COMPETÊNCIA PARA MATÉRIA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE. RESP 1.846.781/MS.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA. VIOLAÇÃO. [...]IV - Em matéria de acesso (matrícula) ao
ensino de crianças e adolescentes e a respectiva competência para o conhecimento
de demandas judiciais, verifica-se que a Justiça da Infância e da Juventude tem
competência absoluta para processar e julgar causas envolvendo matrícula em
creches ou escolas, nos termos dos arts.
148, IV, e 209 da Lei n. 8.069/1990. Este entendimento foi assentado, em regime de
recursos repetitivos, pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (REsp
1846781/MS, Rel. Ministra Assusete Magalhães, DJe 29/3/2021).
V - Esse precedente obrigatório sobre acesso (matrícula) ao ensino se aplica,
portanto, a demandas que discutam permanência, o que abrange reformas de
estabelecimentos de ensino.[...] (AREsp 1840462/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 15/03/2022, DJe 18/03/2022).

ASSERTIVA CORRETA: acertou ao afirmar a legitimidade ad causam do Ministério Público


e a existência do direito público subjetivo à educação, bem como sua exigibilidade em juízo,
mas se equivocou quanto à competência, uma vez que o ECA estabelece a competência
absoluta do Juízo da Infância e da Juventude para processar e julgar demandas que visem
proteger direitos individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente,
independentemente de o menor encontrar-se ou não em situação de risco ou abandono.

OBS.: Não há que se falar em prevalência do critério ratione personae, trata-se de


competência absoluta em razão da matéria, ainda o Ministério Público tem legitimação para
a tutela de tais interesses, além disso, a educação é um direito público subjetivo, de acordo
com o art. 54, IV, §1º da Lei 8.069/90. Cita-se ainda a jurisprudência em teses, edição 19,
processo coletivo I, legitimidade: “O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

ação civil pública com o objetivo de assegurar os interesses individuais indisponíveis,


difusos ou coletivos em relação à infância, à adolescência e aos idosos, mesmo quando
a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada."

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

5. DIREITO DO CONSUMIDOR

5.1 DANO MORAL COLETIVO

STJ - Resp 1.737.412/SE - DANO MORAL COLETIVO - É cabível indenização por danos
morais em caso de demora excessiva para atendimento na fila do banco?
RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. TEMPO DE ATENDIMENTO PRESENCIAL EM
AGÊNCIAS BANCÁRIAS. DEVER DE QUALIDADE, SEGURANÇA, DURABILIDADE E
DESEMPENHO. ART. 4º, II, "D", DO CDC. FUNÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE
PRODUTIVA. MÁXIMO APROVEITAMENTO DOS RECURSOS PRODUTIVOS. TEORIA
DO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR. DANO MORAL COLETIVO. OFENSA
INJUSTA E INTOLERÁVEL. VALORES ESSENCIAIS DA SOCIEDADE. FUNÇÕES.
PUNITIVA, REPRESSIVA E REDISTRIBUTIVA. 1. Cuida-se de coletiva de consumo, por
meio da qual a recorrente requereu a condenação do recorrido ao cumprimento das regras
de atendimento presencial em suas agências bancárias relacionadas ao tempo máximo de
espera em filas, à disponibilização de sanitários e ao oferecimento de assentos a
pessoas com dificuldades de locomoção, além da compensação dos danos morais
coletivos causados pelo não cumprimento de referidas obrigações.
2. Recurso especial interposto em: 23/03/2016; conclusos ao gabinete em: 11/04/2017;
julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é determinar se o descumprimento de normas
municipais e federais que estabelecem parâmetros para a adequada prestação do serviço
de atendimento presencial em agências bancárias é capaz de configurar dano moral de
natureza coletiva. 4. O dano moral coletivo é espécie autônoma de dano que está
relacionada à integridade psico-física da coletividade, bem de natureza estritamente
transindividual e que, portanto, não se identifica com aqueles tradicionais atributos da
pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico), amparados pelos danos morais
individuais. 5. O dano moral coletivo não se confunde com o somatório das lesões
extrapatrimoniais singulares, por isso não se submete ao princípio da reparação integral (art.
944, caput, do CC/02), cumprindo, ademais, funções específicas. 6. No dano moral coletivo,
a função punitiva - sancionamento exemplar ao ofensor - é, aliada ao caráter preventivo - de
inibição da reiteração da prática ilícita - e ao princípio da vedação do enriquecimento ilícito
do agente, a fim de que o eventual proveito patrimonial obtido com a prática do ato irregular
seja revertido em favor da sociedade. 7. O dever de qualidade, segurança, durabilidade e
desempenho que é atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d, do
CDC, tem um conteúdo coletivo implícito, uma função social, relacionada à otimização e
ao máximo aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis na sociedade, entre eles, o
tempo. 8. O desrespeito voluntário das garantias legais, com o nítido intuito de otimizar o
lucro em prejuízo da qualidade do serviço, revela ofensa aos deveres anexos ao princípio
boa-fé objetiva e configura lesão injusta e intolerável à função social da atividade produtiva
e à proteção do tempo útil do consumidor. 9. Na hipótese concreta, a instituição financeira
recorrida optou por não adequar seu serviço aos padrões de qualidade previstos em lei
municipal e federal, impondo à sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação
injusta e intolerável ao interesse social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos,
o que é suficiente para a configuração do dano moral coletivo. 10. Recurso especial provido.
(REsp 1737412/SE, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe 08/02/2019).

CONSTITUCIONALIDADE
Essas leis municipais são constitucionais?

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

SIM. Trata-se de assunto de interesse local, sendo, portanto, de competência dos Municípios
segundo o art. 30, I, da CF/88.
Esse é o entendimento do STF:
É pacífica a jurisprudência desta Corte de que os Municípios detêm competência para
legislar sobre o tempo máximo de espera por atendimento nas agências bancárias, uma vez
que essa questão é de interesse local e diz respeito às normas de proteção das relações de
consumo, não se confundindo com a atividade-fim das instituições bancárias.
STF. 1ª Turma. AI 495187 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/08/2011.

LEI DAS FILAS E DANOS MORAIS INDIVIDUAIS


O simples fato de uma pessoa ter esperado mais tempo do que é fixado pela “Lei da
Fila” é causa suficiente para, obrigatoriamente, gerar indenização por danos morais?
NÃO.
➢ A mera invocação de legislação municipal que estabelece tempo máximo de
espera em fila de banco não é suficiente para ensejar o direito à indenização.
➢ Em outras palavras, o simples fato de a pessoa ter esperado por atendimento
bancário por tempo superior ao previsto na legislação municipal não enseja
indenização por danos morais. Ex: a lei estipulava o máximo de 15 minutos e o
consumidor foi atendido em 25 minutos.
➢ No entanto, se a espera por atendimento na fila de banco for excessiva ou
associada a outros constrangimentos, pode ser reconhecida como
provocadora de sofrimento moral e ensejar condenação por dano moral.
➢ STJ. 3ª Turma. REsp 1662808/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/05/2017.
➢ STJ. 4ª Turma. REsp 1647452/RO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
26/02/2019.

LEI DAS FILAS E DANO MORAL COLETIVO


A condenação em danos morais coletivos cumprirá sua função de sancionar o ofensor,
inibir referida prática ilícita e, ainda, de oferecer reparação indireta à sociedade, por meio
da repartição social dos lucros obtidos com a prática ilegal com a destinação do valor da
compensação ao fundo do art. 13 da Lei nº 7.347/85.
STJ. 2ª Turma. REsp 1402475/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/05/2017.
STJ. 3ª Turma. REsp 1737412/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2019.
Basta que haja violação à lei ou ao contrato para que se caracterize o dano moral
coletivo?
NÃO.
Não basta a mera infringência à lei ou ao contrato para a caracterização do dano moral
coletivo. É essencial que o ato antijurídico praticado atinja alto grau de reprovabilidade e
transborde os lindes do individualismo, afetando, por sua gravidade e repercussão, o círculo
primordial de valores sociais.
O dano moral coletivo não pode ser banalizado para evitar o seu desvirtuamento.

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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STJ. 3ª Turma. REsp 1473846/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/02/2017.
Reparação dos danos morais: individuais X coletivos
Danos morais INDIVIDUAIS Danos morais COLETIVOS
O objetivo da reparação é promover o O propósito visado não é,
retorno do status quo, ou seja, da primordialmente, o retorno à situação
situação anterior à violação do direito. anterior.
Sua finalidade precípua é a de punir o
responsável pela lesão e inibir novas
práticas ofensivas.
Importante binômio: punir e inibir.
A reparação está limitada pela A reparação tem por objetivo
extensão do dano (art. 944 do CC) e redistribuir o lucro obtido pelo ofensor
pelo princípio da compensação de forma ilegítima, entregando parte
integral da lesão, razão pela qual a dele à sociedade.
vítima não deve receber quantia
Não se trata, portanto, de uma
inferior ou superior aos danos reparação típica.
sofridos.
O valor obtido com a indenização visa Restitui o dano causado de forma
a restituir de forma direta o dano apenas indireta, considerando que o
causado à vítima. ganho obtido com a prática do ilícito é
revertida ao fundo de reconstituição
dos bens coletivos, previsto no art. 13
da Lei nº 7.347/85.

Trinômio dos danos morais coletivos


• Punir a conduta (sancionamento exemplar ao ofensor);
• Inibir a reiteração da prática ilícita;
• Evitar o enriquecimento ilícito do agente.

TEMPO MÁXIMO DE ESPERA EM FILA E DANO MORAL COLETIVO


Dano moral coletivo gerado pela perda injusta e intolerável do tempo do consumidor
O tempo útil e seu máximo aproveitamento são interesses coletivos.
Desse modo, a proteção contra a perda do tempo útil do consumidor deve ser realizada não
apenas sob o ponto de vista individual, mas também de forma coletiva.
“Teoria do desvio produtivo do consumidor”. O que vem a ser isso? (DOD) Trata-se de
uma teoria desenvolvida por Marcos Dessaune, autor do livro Desvio Produtivo do
Consumidor – O Prejuízo do Tempo Desperdiçado. São Paulo: RT, 2011).
Segundo o autor,“o desvio produtivo caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma
situação de mau atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas
competências — de uma atividade necessária ou por ele preferida — para tentar resolver

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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um problema criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza


irrecuperável”. (Fonte - DIZER O DIREITO).
5.2 PLANO COLETIVO x RESCISÃO UNILATERAL x CONTINUIDADE ASSISTENCIAIS
CONSUMIDOR - TEMA 1082 – STJ - O Superior Tribunal de Justiça publicou, em
01/08/2022, o acórdão de mérito dos Recursos Especiais n°s 1.842.751/RS e 1.846.123/SP,
paradigmas da controvérsia repetitiva descrita no Tema 1082, cuja tese foi firmada nos
seguintes termos:

“A operadora, mesmo após o exercício regular do direito à rescisão unilateral de plano


coletivo, deverá assegurar a continuidade dos cuidados assistenciais prescritos a usuário
internado ou em pleno tratamento médico garantidor de sua sobrevivência ou de sua
incolumidade física, até a efetiva alta, desde que o titular arque integralmente com a
contraprestação devida”.
5.3 COBRANÇA INDEVIDA DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS DE TELEFONIA

STJ A cobrança indevida de pagamento por serviços de telefonia enseja a condenação


da empresa prestadora do serviço por danos morais presumidos, independentemente de
efetuada a inscrição do nome do consumidor em cadastros de inadimplentes.
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
TELEFONIA. COBRANÇA INDEVIDA. MERO ABORRECIMENTO. DANO MORAL. NÃO
OCORRÊNCIA. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. ENUNCIADO 7 DA SÚMULA DO STJ.
AUSÊNCIA DE DANO MORAL IN RE IPSA. (...) 2. O Tribunal de origem com base nos fatos
e provas dos autos, concluiu pelo mero dissabor, afastando o dano moral. A revisão do
entendimento adotado encontra óbice no verbete 7 da Súmula dessa Corte. 3. Agravo
interno a que se nega provimento. (AgRg no AREso 448.372/RS. QUARTA TURMA. Relatora Ministra MARIA
ISABEL GALOTTI. Julgamento em 06.11.2018, DJe 13.11.2018).
A cobrança indevida de pagamento por serviços de telefonia não enseja a condenação
da empresa prestadora do serviço por danos morais presumidos, devendo ser
comprovados.
5.4 INSCRIÇÃO INDEVIDA x DECORRENTE DE FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO.
Prazo prescricional – Inscrição Indevida X decorrente de fato do produto ou do
serviço. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSCRIÇÃO INDEVIDA. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS.
TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO. RECONHECIMENTO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
CARÊNCIA SUPERVENIENTE DE INTERESSE RECURSAL. RESPONSABILIDADE
EXTRACONTRATUAL. EXTINÇÃO PELA PRESCRIÇÃO TRIENAL. SÚMULA 83/STJ.
AGRAVO IMPROVIDO. (...)
2. “No que se refere ao prazo prescricional da ação de indenização por danos morais
decorrente da inscrição indevida em cadastro de inadimplentes, promovida por
instituição financeira ou assemelhada, como no caso dos autos, por tratar-se de
responsabilidade extracontratual, incide o prazo de 3 (três) anos previsto no art. 206, § 3º,
V, do CC/2002. 3. A aplicação do art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, que prevê o
prazo de 5 (cinco) anos para ajuizamento da demanda, restringe-se tão somente às
hipóteses de responsabilidade decorrente de fato do produto ou do serviço. (...) (AgRg
no AREsp 586.219/RS, TERCEIRA TURMA, Relator Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, julgado em 09.12.2014, DJe
15.12.2014).

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CONSUMIDOR – Venda Casada - STJ - RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL.


DIREITO DO CONSUMIDOR. ART. 39, I, DO CDC. VENDA CASADA. VENDA DE
ALIMENTOS. ESTABELECIMENTO CINEMATOGRÁFICOS. LIBERDADE DE ESCOLHA.
ART. 6º, II, DO CDC. VIOLAÇÃO. AQUISIÇÃO DE PRODUTO EM OUTRO LOCAL.
VEDAÇÃO. TUTELA COLETIVA. ART. 16 DA LEI Nº 7.347/1985. SENTENÇA CIVIL.
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. EFICÁCIA ERGA OMNES. LIMITE
TERRITORIAL. APLICABILIDADE.
1. A venda casada ocorre em virtude do condicionamento a uma única escolha, a
apenas uma alternativa, já que não é conferido ao consumidor usufruir de outro
produto senão aquele alienado pelo fornecedor.
2. Ao compelir o consumidor a comprar dentro do próprio cinema todo e qualquer produto
alimentício, o estabelecimento dissimula uma venda casada (art. 39, I, do CDC), limitando
a liberdade de escolha do consumidor (art. 6º, II, do CDC), o que revela prática abusiva.
3. A restrição do alcance subjetivo da eficácia erga omnes da sentença proferida em ação
civil pública envolvendo direitos individuais homogêneos aos limites da competência
territorial do órgão prolator, constante do art. 16 da Lei nº 7.347/1985, está plenamente em
vigor.
4. É possível conceber, pelo caráter divisível dos direitos individuais homogêneos, decisões
distintas, tendo em vista a autonomia de seus titulares.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. (REsp 1331948 SP. T3 -
TERCEIRA TURMA. Relator Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA. Julgamento 14.06.2016. DJe 05.09.2016.

5.5 PUBLICIDADE ENGANOSA POR OMISSÃO


STJ – Publicidade enganosa por omissão - Recurso especial. Prequestionamento.
Publicidade enganosa por omissão. Aquisição de refrigerantes com tampinhas premiáveis.
Defeitos de impressão. Informação não divulgada. Aplicação do Código de Defesa do
Consumidor. Dissídio jurisprudencial. Comprovação. Omissão. Inexistência. Embargos de
declaração. Responsabilidade solidária por publicidade enganosa. Reexame fático-
probatório.
(...) É solidária a responsabilidade entre aqueles que veiculam publicidade enganosa
e os que dela se aproveitam, na comercialização de seu produto.
- É inviável o reexame fático-probatório em sede de Recurso Especial. Recursos Especiais
conhecidos parcialmente e não providos. (REsp n. 327.257-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 22.6.2004, DJ 16.11.2004, p. 272).

5.6 INDICAÇÃO DA CID EM REQUISIÇÕES DE EXAMES E SERVIÇOS DE SAÚDE.


CONDICIONAMENTO PARA A COBERTURA DO SERVIÇO
RECURSO ESPECIAL E AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. SAÚDE SUPLEMENTAR. SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE.
INDICAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID) EM
REQUISIÇÕES DE EXAMES E SERVIÇOS DE SAÚDE. CONDICIONAMENTO PARA A
COBERTURA DO SERVIÇO. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE.

(...) 7. O condicionamento da indicação da CID nas requisições de exames e serviços de


saúde ao deferimento da cobertura destes decorre, razoavelmente, do fato de as
operadoras de planos de saúde estarem obrigadas a prestar os serviços relacionados no
plano-referência celebrado com o respectivo usuário. 8. Inocorrência de abusividade no
procedimento, não se tonalizando como iníqua e nem colocando o consumidor em

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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desvantagem exagerada, ou incompatível com a boa-fé ou a eqüidade, a exigência de


indicação da CID pelo profissional que requisita a realização de exames médicos. 9.
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO E RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(STJ - REsp: 1509055 RJ 2014/0338315-8, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento:
22/08/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/08/2017).

ASSERTIVA CORRETA: A exigência de indicação da classificação internacional de


doenças (CID) para cobertura de exames e pagamento de honorários médicos pelas
operadoras de planos de saúde é lícita. (CEBRASPE).

5.7 DIREITO CIVIL E SECURITÁRIO

STJ - DIREITO CIVIL E SECURITÁRIO. PROPOSTA DE SEGURO DE VIDA.


CONSUMIDOR JOVEM ACOMETIDO POR LEUCEMIA, DE QUE SE ENCONTRA
CURADO. SEGUROOFERECIDO NO ÂMBITO DA RELAÇÃO DE TRABALHO.
PROPOSTA REJEITADA PELA SEGURADORA, SOB A MERA FUNDAMENTAÇÃO DE
DOENÇA PRÉ-EXISTENTE .AUSÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE OPÇÕES. DANO
MORAL CARACTERIZADO. (...) 4. Se um jovem foi portador de leucemia, mas apresenta-
se clinicamente curado, a pura e simples negativa de contratar seguro de vida é ilícita,
violando a regra do art. 39, IX, do CDC. Diversas opções poderiam substituir a simples
negativa, como a formulação de prêmio mais alto ou mesmo a redução da cobertura
securitária, excluindo-se os sinistros relacionados à doença pré-existente. Rejeitar o
consumidor, pura e simplesmente, notadamente em situações em que o seguro é oferecido
como consectário do contrato de estágio, gera dano moral. O consumidor, rejeitado pelo
seguro, vê sua doença desnecessariamente exposta em seu ambiente de trabalho. (...) (STJ
- REsp: 1300116 SP 2011/0143997-6, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 23/10/2012, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/11/2012)

5.8 JUROS NO PÉ
STJ - AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. "JUROS NO PÉ".
SÚMULA 83/STJ. 1. A Segunda Seção, no julgamento do EREsp 670.117/PB, decidiu que
não é abusiva a cláusula de cobrança de juros compensatórios incidentes em período
anterior à entrega das chaves nos contratos de compromisso de compra e venda de imóveis
em construção sob o regime de incorporação imobiliária (Rel. para acórdão Ministro Antonio Carlos
Ferreira, julgado em 13.6.2012). 2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 144.732/RJ, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 15/09/2016, DJe 21/09/2016). ASSERTIVA ERRADA:
Nos contratos de compromisso de compra e venda de imóveis em construção decorrente de
incorporação imobiliária, é abusiva cláusula que estipule cobrança de juros compensatórios
incidentes em período anterior à entrega das chaves. (CESPE).
STJ - REsp 1.091.756-MG - Ação civil pública. Proteção dos direitos do consumidor.
DPVAT. Indenização às vítimas. Ausência de pertinência temática. Legitimidade
ativa ad causam de associação. Ausência.

Associação com fins específicos de proteção ao consumidor não possui legitimidade


para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar interesses
coletivos de beneficiários do seguro DPVAT.

Na origem, trata-se de ação civil pública proposta por associação civil de defesa dos direitos
de donas de casa e de consumidores por meio da qual pleiteia o recebimento das diferenças
de indenização do seguro obrigatório (DPVAT) às vítimas de acidente de trânsito, com base

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nos montantes fixados pelo art. 3º da Lei n. 6.194/74. Nesse contexto discute-se,
preliminarmente, a legitimidade e a própria existência de interesse processual da referida
associação para o ajuizamento da demanda, fazendo-se necessário decidir, de início, se há
correspondência entre a finalidade estatutária da entidade associativa e o objeto da lide. E,
sob esse enfoque, tem-se que o seguro DPVAT, instituído e imposto por lei, não
consubstancia sequer reflexamente uma relação consumerista, a revelar a ausência de
pertinência temática da associação demandante com os interesses discutidos na presente
ação. Em se tratando de uma obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer
acordo de vontades e, principalmente, voluntariedade, entre o proprietário do veículo (a
quem compete, providenciar o pagamento do "prêmio"), e as seguradoras componentes do
consórcio seguro DPVAT (que devem efetivar o pagamento da indenização mínima pelos
danos pessoais causados à vítima do acidente automobilístico), o que, por si, evidencia, de
contrato, não se cuidar, mas sim de hipótese de responsabilidade legal objetiva,
vinculada à teoria do risco, afigurando-se de todo desinfluente a demonstração, por parte
do beneficiário, de culpa do causador do acidente. Evidenciado que o seguro DPVAT
decorre de imposição legal e não de uma relação contratual, constata-se, de igual modo,
a inexistência de uma relação consumerista, ainda que se valha das figuras equiparadas de
consumidor dispostas na Lei n. 8.078/90. Nesse sentido, não há, por parte das seguradoras
integrantes do consórcio do seguro DPVAT, responsáveis por lei a procederem ao
pagamento, qualquer ingerência nas regras atinentes à indenização securitária, inexistindo,
para esse propósito, a adoção de práticas comerciais abusivas de oferta, de contratos de
adesão, de publicidade, de cobrança de dívidas, etc. Aliás, diversamente do que se dá no
âmbito da contratação de seguro facultativo (esta sim, de inequívoca incidência da legislação
protetiva do consumidor), a atuação das referidas seguradoras, adstrita à lei de regência,
não é concorrencial, tampouco destinada à obtenção de lucro. Finalmente, seria impossível
falar-se em vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito
— e muito menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio" do
seguro DPVAT — perante a seguradoras, as quais não possuem qualquer margem
discricionária para efetivação do pagamento da indenização securitária, sempre que
presentes os requisitos estabelecidos na lei. Dessa forma, ausente, sequer
tangencialmente, relação de consumo, não se afigura correto atribuir a uma
associação, com fins específicos de proteção ao consumidor, legitimidade para tutelar
interesses diversos, como é o caso dos que se referem ao seguro DPVAT, sob pena
de desvirtuar a exigência da representatividade adequada, própria das ações
coletivas. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, por maioria, julgado em
13/12/2017, DJe 05/02/2018. (Informativo 618 do STJ).

5.9 CONTRATO DE MÚTUO X PENHOR DE JOIAS SUBTRAÍDAS


STJ - REsp 1.369.579-PR - Contrato de mútuo garantido por penhor de joias subtraídas
na constância do contrato. Falha no serviço. Ação de indenização. Prescrição
quinquenal. Art. 27 do CDC.

As pretensões indenizatórias decorrentes do furto de joias, objeto de penhor em


instituição financeira, prescrevem em 5 (cinco) anos, de acordo com o disposto no art.
27 do CDC.

A controvérsia dos autos consiste na definição do prazo prescricional a ser adotado para o
ajuizamento de ação de indenização por furto de joias utilizadas como garantia de
mútuo em contrato de penhor subscrito com instituição financeira. De início, anota-se,
no que diz respeito à natureza da relação existente entre os pactuantes do contrato

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@graceliamenezes

analisado, que a orientação pacífica do Superior Tribunal de Justiça reconhece a submissão


das instituições financeiras aos princípios e às regras do Código de Defesa do Consumidor.
De fato, no contrato de penhor celebrado com o banco, é notória a hipossuficiência do
consumidor, pois este, necessitando de empréstimo, apenas adere a contrato cujas
cláusulas são inegociáveis, submetendo-se, inclusive, à avaliação unilateral realizada pela
instituição financeira. Com efeito, o referido contrato traz embutido o de depósito do bem e,
por conseguinte, o dever do credor pignoratício de devolver esse bem após o pagamento do
mútuo. Foi nesse rumo de ideias que a jurisprudência do STJ assentou que, quando o credor
é banco e o bem dado em garantia fica depositado em cofre, não é possível admitir o furto
ou o roubo como causas excludentes do dever de indenizar, devendo-se considerar
esse tipo de evento como um fortuito interno, inerente à própria atividade, incapaz de
afastar, enfim, a responsabilidade do depositário. Há, portanto, nos casos de roubo de joias
objeto de contrato de penhor ligado ao mútuo, falha no serviço prestado pela instituição
financeira, a impor a incidência da norma especial. Com isso, na hipótese em análise deve
incidir o prazo de cinco anos previsto no art. 27 do CDC para a ação de indenização por
danos materiais e morais. Isso porque, frise-se, a indenização requerida não se
fundamenta no inadimplemento contratual, nada obstante a base da natureza jurídica entre
as partes seja o contrato regido pela lei consumerista. A guarda do bem penhorado é, sim,
obrigação da instituição financeira, isso não se discute, mas não é prestação
contratual stricto sensu. De fato, a contraprestação devida nos contratos de mútuo garantido
por penhor é o pagamento do valor acordado para o empréstimo. (REsp 1.369.579-PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 24/10/2017, DJe 23/11/2017. (Informativo 616 do STJ).

STJ - REsp 1.573.859-SP - Ação de indenização por danos morais. Saque indevido de
numerário na conta corrente do autor. Ressarcimento dos valores pela instituição
bancária. Ausência de dano moral in re ipsa.

O saque indevido de numerário em conta corrente, reconhecido e devolvido pela


instituição financeira dias após a prática do ilícito, não configura, por si só, dano moral
IN RE IPSA.

De início, não se olvida que a Terceira Turma desta Corte tem precedente no sentido de
considerar que o saque indevido em conta corrente, por si só, acarreta dano moral. Observe-
se que, por ocasião do julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.197.929/PR, a
Segunda Seção desta Corte fixou a tese de que as instituições bancárias respondem de
forma objetiva pelos danos causados aos correntistas, decorrentes de fraudes praticadas
por terceiros, caracterizando-se como fortuito interno. Cabe ainda ressaltar que no referido
julgado foi reconhecido o dano moral presumido em decorrência da inscrição indevida em
cadastro de proteção ao crédito, razão pela qual não se confunde com o caso ora em análise.
Assim, na linha do que ficou decidido no recurso especial representativo da controvérsia
citado alhures, os valores sacados de forma fraudulenta na conta corrente do consumidor,
tal como ocorrido na espécie, devem ser integralmente ressarcidos pela instituição bancária.
Logo, nessas hipóteses, o consumidor não terá qualquer prejuízo material em decorrência
do defeito na prestação do serviço oferecido pelo banco. Embora não se tenha dúvida de
que o saque indevido acarreta dissabores ao consumidor, para fins de constatação de
ocorrência de dano moral é preciso analisar as particularidades de cada caso concreto, a
fim de verificar se o fato extrapolou o mero aborrecimento, atingindo de forma significativa
algum direito da personalidade do correntista (bem extrapatrimonial). Circunstâncias, por
exemplo, como o valor total sacado indevidamente, o tempo levado pela instituição bancária
para ressarcir os valores descontados e as repercussões daí advindas, dentre outras,

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

deverão ser levadas em conta para fins de reconhecimento do dano moral e sua respectiva
quantificação. Não seria razoável que o saque indevido de pequena quantia,
considerada irrisória se comparada ao saldo que o correntista dispunha por ocasião
da ocorrência da fraude, sem maiores repercussões, possa, por si só, acarretar
compensação por dano moral. Dessa forma, o saque indevido em conta corrente não
configura, por si só, dano moral, podendo, contudo, observadas as particularidades do caso,
ficar caracterizado o respectivo dano se demonstrada a ocorrência de violação significativa
a algum direito da personalidade do correntista. REsp 1.573.859-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por
unanimidade, julgado em 07/11/2017, DJe 13/11/2017. (Informativo 615 do STJ).

5.10 AÇÃO REDIBITÓRIA. RECLAMAÇÃO QUE OBSTA A DECADÊNCIA

STJ - REsp 1.442.597-DF (INFO 614) - Ação redibitória. Reclamação que obsta a
decadência. Forma documental ou verbal. Admissão. Comprovação pelo consumidor.
A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC pode ser
feita documentalmente ou verbalmente.

ASSERTIVA CORRETA: A reclamação obstativa da decadência PODERÁ SER feita


VERBALMENTE pelo consumidor para protestar vícios do produto tem validade.

CONSUMIDOR – STJ - REsp 1.679.190-SP - Plano de saúde. Transtorno mental.


Depressão. Tratamento psicoterápico. Limitação do número de consultas.
Abusividade. Fator restritivo severo. Interrupção abrupta de terapia. CDC. Incidência.
Há abusividade na cláusula contratual ou em ato da operadora de plano de saúde que
importe em limitação/interrupção de tratamento psicoterápico por esgotamento do número
de sessões anuais asseguradas no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS,
devendo as consultas excedentes ser custeadas em regime de coparticipação. REsp 1.679.190-
SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em 26/09/2017, DJe 02/10/2017. Informativo 612 STJ.

ASSERTIVA CORRETA: Embora seja abusiva cláusula contratual que preveja a interrupção
de tratamento psicoterápico por esgotamento do número de consultas anuais asseguradas
pela Agência Nacional de Saúde Complementar, o plano de saúde poderá cobrar
coparticipação nas consultas excedentes.

5.11 SEGURO SAÚDE


A questão trata de seguro saúde conforme entendimento jurisprudencial do STJ.
INFORMATIVO 590 do STJ:
DIREITO CIVIL. PRAZO DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO CONDENATÓRIA
DECORRENTE DE NULIDADE DE CLÁUSULA DE REAJUSTE DE PLANO OU SEGURO
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. RECURSO REPETITIVO. TEMA 610.

Na vigência dos contratos de plano ou de seguro de assistência à saúde, a pretensão


condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste nele
prevista prescreve em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, § 3º, IV, do
CC/2002), observada a regra de transição do art. 2.028 do CC/2002. Inicialmente, afasta-
se a prescrição anual para pretensões deduzidas em contratos de seguro saúde, por se
enquadrar como plano privado de assistência à saúde, nos termos do art. 2º da Lei n.
10.185/2001, bem como a aplicação do prazo prescricional disposto no art. 27 do CDC, haja
vista não se tratar, na espécie, de acidente de consumo. Pois bem, a locução "indevidamente

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

auferido", constante do art. 884 do CC/2002, admite interpretação ampla, no sentido de


albergar não só o termo causa como atribuição patrimonial (simples deslocamento
patrimonial), mas também no sentido de causa negocial (de origem contratual, por exemplo),
cuja ausência, na modalidade de enriquecimento por prestação, demandaria um exame
subjetivo, a partir da não obtenção da finalidade almejada com a prestação, hipótese que
parece mais adequada à prestação decorrente de cláusula indigitada nula (ausência de
causa jurídica lícita). Sob esse prisma, nota-se que o exame de pretensões fundadas no
enriquecimento sem causa não é novidade no âmbito da Segunda Seção, conforme se
verifica em alguns julgados, proferidos em âmbito de recurso especial repetitivo (REsp
1.220.934-RS, DJe 12/6/2013; REsp 1.249.321-RS, DJe 16/4/2013), nos quais a relação
jurídica base estabelecida entre as partes também possuía natureza contratual e a demanda
visava exatamente a declaração de nulidade de cláusula tida por abusiva, casos em que foi
aplicado o prazo prescricional trienal previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002. Acrescente-
se, por oportuno, que, havendo pretensão de reconhecimento do caráter abusivo de cláusula
contratual, sua invalidação tem como consequência o desaparecimento da causa lícita do
pagamento que foi efetuado a tal título, caracterizando, assim, o enriquecimento indevido
daquele que o recebeu. Estar-se-á, nessas hipóteses, diante de enriquecimento sem causa
derivado de pagamento indevido, tendo em vista que, por invalidação, no todo ou em parte,
do negócio jurídico que o embasava, o pagamento perdeu a causa que o autorizava.
Provavelmente em razão dessa lógica jurídica, é que os arts. 182 e 876 do CC/2002
disciplinam, respectivamente: "Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes
ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão
indenizadas com o equivalente [...] Art. 876. Todo aquele que recebeu o que não lhe era
devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional
antes de cumprida a condição". A respeito do tema, há julgados do STJ que, levando em
consideração o enriquecimento sem causa até mais como princípio do que como instituto,
entendem que, diante da declaração judicial de ilegalidade de cláusula contratual, torna-se
cabível a devolução ou compensação dos valores pagos a tal título, independentemente da
comprovação de erro no pagamento. Diante de todas essas ponderações, conclui-se
que, em se tratando de pretensão de nulidade de cláusula de reajuste prevista em
contrato de plano ou seguro de assistência à saúde, com a consequente repetição do
indébito, a ação ajuizada está fundada no enriquecimento sem causa e, por isso, o
prazo prescricional aplicável é o trienal, previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002. REsp
1.361.182-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado em
10/8/2016, DJe 19/9/2016.

ASSERTIVA CORRETA: A) prescrição de três anos, porque se trata de hipótese de


enriquecimento sem causa da empresa contratada.

CONSUMIDOR - A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA SE OPERA DE MODO


AUTOMÁTICO NO MICROSSISTEMA DO CDC? Resposta: NÃO – TJDFT “1. A inversão
do ônus da prova, mesmo nos casos que envolvam direito do consumidor, não se opera de
forma automática, dependendo do preenchimento dos seguintes requisitos: verossimilhança
das alegações ou hipossuficiência do consumidor. 2. O consumidor é a parte vulnerável na
relação, conforme preceitua o artigo 4º do Código do Consumidor, podendo o juiz inverter o
ônus da prova quando há um dos dois requisitos previstos na Lei consumerista, sendo certo
que na hipótese, encontra presente não só a verossimilhança das alegações como
a impossibilidade ou excessiva dificuldade na obtenção da prova por parte do consumidor.

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

3. Tratando-se de relação de consumo, mostra-se cabível a inversão do ônus da prova, nos


termos do art. 6º, inciso VIII, do CDC.” Acórdão 1227725.
STJ – sobre o tema Inversão do ônus da prova – relação de consumo – critério do juiz
(ope judicis) - 3. Nos termos do entendimento jurisprudencial desta Corte, a inversão do
ônus da prova fica a critério do juiz, conforme apreciação dos aspectos de verossimilhança
da alegação do consumidor e de sua hipossuficiência, conceitos intrinsecamente ligados ao
conjunto fático-probatório dos autos delineado nas instâncias ordinárias, cujo reexame é
vedado em recurso especial, em função da aplicação da Súmula 7 do STJ.” AgInt no AREsp
1429160/SP

E a inversão do ônus da prova de Fato do serviço? – inversão automática do ônus da


prova “2. A inversão do ônus da prova, no caso de demanda originada pela ocorrência
de fato do serviço, é automática (art. 14, § 3º, do CDC). Por isso, os recorrentes devem
demonstrar que não houve defeito na prestação do serviço ou a existência de excludente do
nexo de causalidade entre o fato jurídico descrito e o dano experimentado pelo recorrido.”
Acórdão 1208895, 07114636220198070000, Relator: ALVARO CIARLINI, Terceira Turma
Cível, data de julgamento: 9/10/2019, publicado no DJE: 23/10/2019. (Fonte: Buscador Dizer o
Direito).
ASSERTIVA CORRETA: Em demanda pertinente a responsabilidade por fato do serviço, a
inversão do ônus da prova opera independentemente de decisão do magistrado, na
modalidade ope legis, conforme entendimento do STJ. (De fato, opera independentemente
da decisão do juiz (na modalidade ope legis), com base no art. 14, §3º do CDC)

5.12 USO FORA DA BULA (OFF-LABEL

USO FORA DA BULA (Off-label) - A operadora de plano de saúde não pode negar o
fornecimento de tratamento prescrito pelo médico, sob o pretexto de que a sua
utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual
registrado na ANVISA (uso off-label). REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade,
julgado em 28/08/2018, DJe 06/09/2018 (Informativo 632 STJ).

Planos de saúde. Negativa de fornecimento de medicação. Tratamento experimental.


Uso fora da bula (off-label). Ingerência da operadora na atividade médica.
Impossibilidade.
5.13 REAJUSTE DE MENSALIDADE DE SEGURO-SAÚDE EM RAZÃO
STJ - DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. REAJUSTE DE MENSALIDADE DE SEGURO-
SAÚDE EM RAZÃO DE ALTERAÇÃO DE FAIXA ETÁRIA DO SEGURADO. É válida a
cláusula, prevista em contrato de seguro-saúde, que autoriza o aumento das mensalidades
do seguro quando o usuário completar sessenta anos de idade, desde que haja respeito
aos limites e requisitos estabelecidos na Lei 9.656/1998 e, ainda, que não se apliquem
índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia o segurado. REsp
1.381.606-DF, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio De Noronha, julgado em 7/10/2014.
(Informativo 551 STJ).

Uma das condições para que o reajuste de mensalidade de plano de saúde individual
fundado na mudança de faixa etária do beneficiário seja válido é que os percentuais
aplicados sejam razoáveis, baseados em estudos atuariais idôneos, e não onerem
excessivamente o consumidor nem discriminem o idoso.

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

5.14 CLÁUSULA DE COPARTICIPAÇÃO x INTERNAÇÃO EM RAZÃO DE


TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS
CONSUMIDOR - STJ - Não é abusiva a cláusula de coparticipação expressamente
contratada e informada ao consumidor para a hipótese de internação superior a 30 (trinta)
dias decorrentes de transtornos psiquiátricos. EAREsp 793.323-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, por
unanimidade, julgado em 10/10/2018, DJe 15/10/2018 (Informativo 635 STJ).

Não é abusiva a cláusula contratual de coparticipação na hipótese de internação superior a


trinta dias em razão de transtornos psiquiátricos, desde que expressamente contratada e
informada ao consumidor.
Obs.: A coparticipação nada mais é que um valor que o beneficiário deve pagar, além da
mensalidade, quando utiliza algum serviço do plano de saúde (como consultas, exames e
até cirurgias). (https://www.cuidar.me/blog/plano-saude/o-que-e-plano-saude-coparticipacao)
5.15 TERMO INICIAL DO PRAZO DE PERMANÊNCIA DE REGISTRO DE NOME DE
CONSUMIDOR EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.

STJ - TERMO INICIAL DO PRAZO DE PERMANÊNCIA DE REGISTRO DE NOME DE


CONSUMIDOR EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. O termo inicial do prazo
de permanência de registro de nome de consumidor em cadastro de proteção ao crédito (art.
43, § 1º, do CDC) inicia-se no dia subsequente ao vencimento da obrigação não paga,
independentemente da data da inscrição no cadastro. REsp 1.316.117-SC, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/4/2016, DJe 19/8/2016. Informativo 588 STJ.
A manutenção de inscrição negativa nos cadastros de proteção ao crédito deve respeitar o
limite de cinco anos, sendo o termo inicial o dia seguinte ao vencimento da dívida,
independentemente da prescrição para a cobrança do crédito.
5.16 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
(REsp 866.371/RS. T4 – QUARTA TURMA. Relator Ministro RAUL ARAÚJO. Julgamento
27.03.2012. DJe 20.08.2012. A operadora de plano de saúde, na condição de fornecedora
de serviço, responde solidariamente por falha na prestação de serviço de hospital
conveniado.
5.17 PRAZO DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO CONDENATÓRIA DECORRENTE DE
NULIDADE DE CLÁUSULA DE REAJUSTE DE PLANO OU SEGURO DE
ASSISTÊNCIA À SAÚDE.
PRAZO DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO CONDENATÓRIA DECORRENTE DE
NULIDADE DE CLÁUSULA DE REAJUSTE DE PLANO OU SEGURO DE ASSISTÊNCIA
À SAÚDE. RECURSO REPETITIVO. TEMA 610.

Na vigência dos contratos de plano ou de seguro de assistência à saúde, a pretensão


condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste nele
prevista prescreve em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, § 3º, IV, do
CC/2002), observada a regra de transição do art. 2.028 do CC/2002. Inicialmente, afasta-
se a prescrição anual para pretensões deduzidas em contratos de seguro saúde, por se
enquadrar como plano privado de assistência à saúde, nos termos do art. 2º da Lei n.
10.185/2001, bem como a aplicação do prazo prescricional disposto no art. 27 do CDC, haja
vista não se tratar, na espécie, de acidente de consumo. Pois bem, a locução "indevidamente
auferido", constante do art. 884 do CC/2002, admite interpretação ampla, no sentido de

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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albergar não só o termo causa como atribuição patrimonial (simples deslocamento


patrimonial), mas também no sentido de causa negocial (de origem contratual, por exemplo),
cuja ausência, na modalidade de enriquecimento por prestação, demandaria um exame
subjetivo, a partir da não obtenção da finalidade almejada com a prestação, hipótese que
parece mais adequada à prestação decorrente de cláusula indigitada nula (ausência de
causa jurídica lícita). Sob esse prisma, nota-se que o exame de pretensões fundadas no
enriquecimento sem causa não é novidade no âmbito da Segunda Seção, conforme se
verifica em alguns julgados, proferidos em âmbito de recurso especial repetitivo (REsp
1.220.934-RS, DJe 12/6/2013; REsp 1.249.321-RS, DJe 16/4/2013), nos quais a relação
jurídica base estabelecida entre as partes também possuía natureza contratual e a demanda
visava exatamente a declaração de nulidade de cláusula tida por abusiva, casos em que foi
aplicado o prazo prescricional trienal previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002. Acrescente-
se, por oportuno, que, havendo pretensão de reconhecimento do caráter abusivo de cláusula
contratual, sua invalidação tem como consequência o desaparecimento da causa lícita do
pagamento que foi efetuado a tal título, caracterizando, assim, o enriquecimento indevido
daquele que o recebeu. Estar-se-á, nessas hipóteses, diante de enriquecimento sem causa
derivado de pagamento indevido, tendo em vista que, por invalidação, no todo ou em parte,
do negócio jurídico que o embasava, o pagamento perdeu a causa que o autorizava.
Provavelmente em razão dessa lógica jurídica, é que os arts. 182 e 876 do CC/2002
disciplinam, respectivamente: "Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes
ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão
indenizadas com o equivalente [...] Art. 876. Todo aquele que recebeu o que não lhe era
devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional
antes de cumprida a condição". A respeito do tema, há julgados do STJ que, levando em
consideração o enriquecimento sem causa até mais como princípio do que como instituto,
entendem que, diante da declaração judicial de ilegalidade de cláusula contratual, torna-se
cabível a devolução ou compensação dos valores pagos a tal título, independentemente da
comprovação de erro no pagamento. Diante de todas essas ponderações, conclui-se que,
em se tratando de pretensão de nulidade de cláusula de reajuste prevista em contrato de
plano ou seguro de assistência à saúde, com a consequente repetição do indébito, a ação
ajuizada está fundada no enriquecimento sem causa e, por isso, o prazo prescricional
aplicável é o trienal, previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/2002. REsp 1.361.182-RS, Rel. Min. Marco
Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, julgado em 10/8/2016, DJe 19/9/2016.

ASSERTIVA CORRETA: Renê firmou contrato de seguro de assistência à saúde e, anos


depois, quando ele completou sessenta anos de idade, a seguradora reajustou o valor do
seu plano de assistência com base em uma cláusula abusiva. Por essa razão, Renê pretende
ajuizar ação visando à declaração de nulidade da cláusula de reajuste e à condenação da
contratada em repetição de indébito referente a valores pagos em excesso.

De acordo com entendimento jurisprudencial do STJ, nessa situação hipotética, as parcelas


vencidas e pagas em excesso estão sujeitas à prescrição de três anos, porque se trata
de hipótese de enriquecimento sem causa da empresa contratada.

PUBLICIDADE ENGANOSA – STJ - A ausência de informação relativa ao preço, por si


só, não caracteriza publicidade enganosa. Para a caracterização da ilegalidade omissiva,
a ocultação deve ser de qualidade essencial do produto, do serviço ou de suas reais
condições de contratação, considerando, na análise do caso concreto, o público alvo do
anúncio publicitário. STJ. 4ª Turma. REsp 1705278-MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 19/11/2019
(Info 663).

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@graceliamenezes

ASSERTIVA CORRETA: À luz do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e do


entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o anúncio publicitário deve omitir informação
substancial para ser considerado enganoso, não sendo qualquer omissão configuradora de
ilícito; há legitimidade ativa, por se tratar da hipótese de interesses ou direitos individuais
homogêneos. (FGV – TJPE/22).

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@graceliamenezes

6. DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA

6.1 UNIDADES DE CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS x LOTAÇÃO


MÁXIMA
STF - HC 143.988/ES - A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que
as unidades de cumprimento de medidas socioeducativas não podem exceder sua lotação
máxima projetada. A decisão (HC 143.988/ES) teve como relator o ministro Edson Fachin.
“17. Propõe-se, ainda, a observância dos seguintes critérios e parâmetros, a serem
observados pelos Magistrados nas unidades de internação que operam com a taxa de
ocupação dos adolescentes superior à capacidade projetada:
i) adoção do princípio numerus clausus como estratégia de gestão, com a liberação de
nova vaga na hipótese de ingresso;
ii) reavaliação dos adolescentes internados exclusivamente em razão da reiteração em
infrações cometidas sem violência ou grave ameaça à pessoa, com a designação de
audiência e oitiva da equipe técnica para o mister;
iii) proceder-se à transferência dos adolescentes sobressalentes para outras unidades que
não estejam com capacidade de ocupação superior ao limite projetado do estabelecimento,
contanto que em localidade próxima à residência dos seus familiares;
iv) subsidiariamente, caso as medidas propostas sejam insuficientes e essa transferência
não seja possível, o magistrado deverá atender ao parâmetro fixado no art. 49, II, da Lei
12.594/2012, até que seja atingido o limite máximo de ocupação;
v) na hipótese de impossibilidade de adoção das medidas supra, que haja conversão
de medidas de internação em internações domiciliares, sem qualquer prejuízo ao
escorreito cumprimento do plano individual de atendimento podendo ser adotadas
diligências adicionais de modo a viabilizar o seu adequado acompanhamento e
execução;
vi) a internação domiciliar poderá ser cumulada com a imposição de medidas
protetivas e/ou acompanhada da advertência ao adolescente infrator de que o
descumprimento injustificado do plano individual de atendimento ou a reiteração em atos
infracionais poderá acarretar a volta ao estabelecimento de origem;
vii) a fiscalização da internação domiciliar poderá ser deprecada à respectiva Comarca, nos
casos em que o local da residência do interno não coincida com o da execução da medida
de internação, respeitadas as regras de competência e organização judiciária;
viii) alternativamente, a adoção justificada pelo magistrado de outras diretrizes que entenda
adequadas e condizentes com os postulados constitucionais e demais instrumentos
normativos. (HC 143988, Relator(a): EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 24/08/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-221 DIVULG 03-09-2020 PUBLIC 04-09-2020).

6.2 INSIGNIFICÂNCIA x ATO INFRACIONAL


STJ: “É POSSÍVEL a incidência do princípio da insignificância nos procedimentos que
apuram a prática de ato infracional. Acórdãos: HC 292824/SP,Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA
TURMA, Julgado em 30/06/2015,DJE 05/08/2015."

6.3 HIPÓTESES DE INTERNAÇÃO

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Jurisprudências em Tese do STJ: De fato, não cabe aplicação de internação para


hipóteses além do rol taxativo do art. 122 do ECA. É o que se extrai a publicação
Jurisprudências em Tese do STJ, edição 54, Medidas Socioeducativas.

STJ: “O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar a
internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II, do ECA (reiteração no cometimento
de outras infrações graves). Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada
caso e as condições específicas do adolescente a fim de aplicar ou não a internação. A
depender das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada, com
fundamento no art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes
tenha cometido apenas uma outra infração grave. Está superado o entendimento de que a
internação com base nesse dispositivo somente seria permitida com a prática de no mínimo
3 infrações. (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 527.658/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 05/03/2020)."

JURISPRUNDÊNCIA EM TESE STJ: “Jurisprudência em Teses do STJ. Edição 54: Medidas


Socioeducativas. 13) A gravidade do ato infracional equiparado ao crime de ameaça
(art. 147 do CP) não se subsume à grave ameaça exigida para a aplicação da medida de
internação (art. 122, I, do ECA)."

6.4 ATENUANTE DE CONFISSÃO

STJ: “A aplicação da circunstância atenuante de confissão, prevista no art. 65, III, d, do


Código Penal, é impossível em sede de procedimento relativo a ato infracional
submetido ao Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que a medida
socioeducativa não tem natureza de pena. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1.654.739/GO, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 2/02/2021."

6.5 LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO x LAUDO PSICOSSOCIAL

Pelo princípio do livre convencimento motivado, o Juiz avalia as provas dos autos de
forma fundamentada e racional, mas sem ser obrigado a se vincular aos estudos técnicos.
"O Magistrado não está adstrito aos laudos elaborados pelas equipes de avaliação
psicossocial, notadamente os que sugerem a extinção da medida ou a progressão para
medida socioeducativa mais branda, haja vista que os aludidos relatórios consubstanciam
apenas um dos elementos de convicção, sem caráter vinculante. Assim, é possível que,
ainda que haja parecer técnico favorável à progressão, seja justificada a continuidade
da internação do adolescente com base em outros dados e provas constantes dos
autos. A teor dos julgados desta Corte, é 'indubitável a possibilidade de extinção e
progressão de medida socioeducativa, todavia, a decisão sobre tais situações é de livre
convencimento do juiz, o qual deverá apresentar justificativa idônea, não estando
vinculado ao relatório multidisciplinar do adolescente'". (STJ AREsp 1248960). ASSERTIVA
ERRADA: Por ser uma consequência natural do processo de ressocialização, a progressão
da medida socioeducativa prescinde do juízo de convencimento do magistrado, que fica
vinculado ao relatório multidisciplinar individual do adolescente. (NÃO FICA VINCULADO).

6.6 DAS MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS

APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS - As medidas socioeducativas, impostas


aos adolescentes que praticaram ato infracional, possuem como escopos principais a
ressocialização e o caráter pedagógico. De acordo com o princípio da intervenção
precoce, tais medidas socioeducativas devem ser aplicadas o quanto antes, para retirar

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

os adolescentes da situação de risco. Uma medida imposta apenas com o trânsito em


julgado da sentença perderia sua atualidade. Dessa forma, os Tribunais Superiores
entendem que a aplicação das medidas referidas, como a liberdade assistida, não depende
do trânsito em julgado da sentença.

"AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL


EQUIPARADODELITO DE TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. MEDIDA SOCIOEDUCA
TIVADELIBERDADE ASSISTIDA. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA
REPRESENTAÇÃO.AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] os princípios da
proporcionalidade e da atualidade, em tema de aplicação de medidas socioeducativas,
devem ser observados 'no momento em que a decisão é tomada' (Lei n. 8.069/90, art. 100,
parágrafo único, inciso VIII)'[...]" (STJ. AgRg no HC 500212 / SC). ASSERTIVA ERRADA: É ilegal a
determinação de cumprimento da medida socioeducativa de liberdade assistida antes do
trânsito em julgado da sentença condenatória. (É LEGAL).

6.7 ADOÇÃO À BRASILEIRA, DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR E ESTUDO


SOCIAL

ADOÇÃO - A adoção é uma forma de colocação em família substituta, pela qual o adotado
passa a integrar a família como membro, sendo medida excepcional e irrevogável. Tal
medida se submete a um procedimento prévio por meio de cadastro de crianças e de
adolescentes aptos à adoção, bem como de pessoas e casais aptos a adotarem. A efetiva
adoção de um infante por uma pessoa obedece, em regra, a ordem cronológica da inclusão
da última no cadastro.
A adoção à brasileira ou adoção de fato é uma burla ao cadastro. O(a)(s) genitor(a)(s)
entrega a criança ou o adolescente a pessoa sem parentesco e não incluída no cadastro,
sem se submeter ao Poder Judiciário. Aquele que recebe o petiz o registra como se fosse
seu filho. Trata-se de crime (art. 242 do Código Penal).
Em regra, para o reconhecimento da adoção à brasileira, o estudo psicossocial não é
essencial: basta o reconhecimento falso de maternidade ou paternidade, por vontade
própria, abstendo-se dos procedimentos legais, e com o registro do nascimento.
Contudo, segundo entendimento recente do Superior Tribunal de Justiça, se o
reconhecimento da adoção de fato for o elemento principal de destituição do poder
familiar, o estudo social é imprescindível para verificar a presença de uma das causas
permissivas para a destituição e se o adotado vive em situação de risco. (STJ 1.674.207-PR).

6.8 OMISSÃO VOLUNTÁRIA E INJUSTIFICADA: DANOS MORAIS

STJ - "A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo material do filho
gera danos morais, passíveis de compensação pecuniária". (STJ, 1.087.561).
O poder familiar consiste, entre outras obrigações, na assistência moral, material e
educacional à criança e ao adolescente. Se podendo, o genitor deixa de prestar assistência
material, acarreta danos à integridade do filho, tanto física quanto psicológica, ensejando,
em última instância, afronta à dignidade da pessoa humana. Dessa forma, é passível a
indenização pelos danos morais pela humilhação e privação que eventual criança ou
adolescente tenha passado pelo descumprimento involuntário do pagamento de pensão
alimentícia de seu(ua) genitor(a).

6.9 IMPOSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DA MULTA APLICA AO GENITOR


HIPOSSUFICIENTE

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

STJ - A hipossuficiência financeira do genitor deve apenas ser sopesada para


especificação do valor da multa, que pode ser estipulada até menos abaixo do mínimo legal,
mas jamais pode permitir a exclusão da multa. A multa do Estatuto da Criança e do
Adolescente, além do caráter sancionatório, possui aspecto pedagógico, para impedir a
repetição da conduta. (STJ, 1658508).

6.10 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA JULGAR O CRIME DO ART. 241-


A DO ECA PRATICADO POR MEIO DE APLICATIVO DE MENSAGENS PRIVADAS

CF. Art. 109.: “Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V - os crimes previstos
em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente".
Art. 241-A do ECA:. “Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou
divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa".
O Brasil é signatário de tratado internacional que prevê o combate a atividades
criminosas relacionadas a pedofilia. Para determinação da competência da justiça federal, o
crime do art. 241-A deve também manter uma relação de internacionalidade entre a
conduta praticada e o resultado produzido ou que deveria ter sido produzido.
Segundo o Superior Tribunal de Justiça, se o crime é praticado por meio de mensagens
de whatssap entre pessoas residentes no Brasil, não há internacionalidade e, portanto,
o crime é de competência da justiça estadual. Constatado que a imagem ultrapassou
os limites do país, a competência é da Justiça Federal. (STJ. 150.564-MG).

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

7. DIREITO PENAL
7.1 MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO

REPERCUSSÃO GERAL STJ – marco interruptivo da prescrição


Tema: 1100 (Originado da Controvérsia n. 266) Processo(s): REsp n. 1.920.091/RJ e REsp
n. 1.930.130/MG. Relator: Min. João Otávio de Noronha.
Tese firmada: O acórdão condenatório de que trata o inciso IV do art. 117 do Código
Penal interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório de sentença
condenatória, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente
imposta. Data de publicação do acórdão: 22/8/2022 (publicação dos acórdãos dos REsp n. 1.920.091/RJ e
REsp n. 1.930.130/MG)*.

7.2 INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, HISTÓRICA, SISTEMÁTICA E FINALÍSTICA

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. DIREITO PENAL.


PRESCRIÇÃO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DE APELAÇÃO. ACÓRDÃO
CONDENATÓRIO. MARCO INTERRUPTIVO DO PRAZO PRESCRICIONAL. ALTERAÇÃO
PROMOVIDA NO ART. 117, IV, DO CP PELA LEI N. 11.596/2007. INTERPRETAÇÃO
GRAMATICAL, HISTÓRICA, SISTEMÁTICA E FINALÍSTICA. LEGALIDADE. CASO
CONCRETO. OBSERVÂNCIA DA PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE. 1. Não se vê
impropriedade, sob o prisma da interpretação gramatical, na conclusão de que as
disposições normativas do art. 117, IV, do CP objetivam que o acórdão condenatório
proferido na primeira instância recursal em apelação interposta contra a sentença
condenatória seja causa interruptiva da prescrição. 2. Segundo interpretação de lei pelo
método histórico, é idôneo o entendimento de que a alteração promovida no art. 117,
IV, do CP pela Lei n. 11.596/2007 visou adicionar nova causa de interrupção da
prescrição superveniente, a saber, a publicação do acórdão condenatório em primeira
instância recursal, e, desse modo, evitar que recursos meramente protelatórios
alcançassem o lapso prescricional. 3. A alta carga de substitutividade, translatividade e
devolutividade inerente ao recurso de apelação propicia que o acórdão condenatório
resultante de seu julgamento, ainda que confirmatório de sentença condenatória, seja hábil
para sucedê-la, de modo que, sob o aspecto sistemático-processual, não se percebe
incompatibilidade sistêmica que impossibilite que ele constitua marco interruptivo
prescricional, nem mesmo sob o aspecto de postulados inerentes ao Direito Penal
relacionados à obrigatoriedade de clareza e precisão de uma norma penal. 4. Em notório
cenário em que o sistema recursal propicia elevada recorribilidade com fins procrastinatórios,
de modo a ensejar a não punibilidade do acusado, é legítimo, segundo interpretação
finalística, instituir como marco prescricional a data de publicação de acórdão
condenatório resultante da interposição de apelação contra sentença condenatória,
visto que impede o fomento da impunibilidade e, por conseguinte, o descrédito do
Poder Judiciário. 5. Na resolução do caso concreto, embora se deva observar a interrupção
do prazo prescricional pelo acórdão que confirmou a sentença condenatória, deve o órgão
julgador observar a possibilidade de incidência da prescrição intercorrente. 6. Tese jurídica:
O acórdão condenatório de que trata o inciso IV do art. 117 do Código Penal interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório de sentença condenatória, seja mantendo,
reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta. 7. Recurso especial provido para
fixar o entendimento de que também o acórdão confirmatório da sentença condenatória
constitui marco interruptivo do lapso prescricional e, de ofício, decretar a prescrição.

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Obs.: Interpretação histórica: método que avalia as circunstâncias exteriores às normas


criadas pelo legislador. Ou seja, leva em consideração os fatores sociais, econômicos,
políticos que motivaram o legislador a criar tal lei, regra, não se atendo somente ao sentido
literal da norma.
Interpretação sistemática considera que a norma não pode ser vista de forma isolada, pois
o direito existe como sistema, de forma ordenada e com certa sincronia.
Interpretação gramatical permite desvendar o significado da norma, enfrentando
dificuldades léxicas e de relações entre as palavras. Podem surgir questões quanto ao
sentido dicionarizado de uma palavra ou quanto a relações entre substantivos e adjetivos
ou, ainda, no uso de pronomes relativos.
Interpretação finalística ou teleológica aspira compreender o direito do seu ponto de vista
funcional, ou seja, a norma jurídica cumpre uma finalidade, que justifica sua existência.

7.3 VEDADA A UTILIZAÇÃO DE INQUÉRITOS E AÇÕES EM CURSO PARA IMPEDIR


A APLICAÇÃO DO TRÁFICO PRIVILEGIADO

Tema: 1139 (Originado da Controvérsia n. 389) Processo(s): REsp n. 1.977.027/PR e REsp


n. 1.977.180/PR. Relator: Min. Laurita Vaz.
Tese firmada: É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir
a aplicação do art. 33, § 4.º, da Lei n. 11.343/06. Data de publicação do acórdão: 18/8/2022
(publicação dos acórdãos dos REsp n. 1.977.027/PR e REsp n. 1.977.180/PR).
Obs.: o §4º refere-se a minorante do tráfico privilegiado.
7.4 APLIACAÇÃO DA PENA - CONDENAÇÃO PELO CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA
O TRÁFICO DE ENTORPECENTES. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA
NO ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006

"A configuração do crime de associação para o tráfico (art. 35 da Lei 11.343/06) é suficiente
para afastar a aplicação da minorante do tráfico privilegiado, porquanto evidencia a
dedicação do agente à atividade criminosa. Precedentes. In casu, mantido o decreto
condenatório pela prática do crime tipificado no art. 35, caput, da Lei 11.343/2006, inviável
a aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas." (AgRg
no AREsp 2.084.889/SP, relator ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 9/8/2022,
DJe de 16/8/2022).

7.5 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FURTO


COMETIDO DURANTE O REPOUSO NOTURNO. NÃO APLICAÇÃO

"A jurisprudência desta Corte entende que, tendo o furto sido praticado durante o repouso
noturno e mediante o rompimento de obstáculo, resta demonstrada maior reprovabilidade
da conduta, o que obsta a aplicação do Princípio da Insignificância. "(AgRg
no HC 737.900/RO, relator ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 2/8/2022, DJe de 10/8/2022).

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7.6 CRITÉRIOS PARA O INGRESSO DA POLÍCIA EM UMA RESIDÊNCIA

IMPORTANTE: Asilo inviolável, mas nem sempre: o STJ e o ingresso policial em domicílio
(29/08/2022).
A entrada de forças policiais na residência do investigado é, provavelmente, um dos
momentos de maior tensão entre o interesse público – nesse caso, a pretensão do Estado
de manter a ordem, investigar e punir ilícitos – e as garantias individuais, como a intimidade,
a privacidade e a inviolabilidade do domicílio.
Quando o ingresso policial é amparado em mandado judicial – apesar de também haver
momentânea mitigação do princípio da inviolabilidade domiciliar –, há menos discussão nos
tribunais e na esfera doutrinária sobre eventual ilegalidade; a controvérsia principal se dá
nas situações em que a entrada dos agentes não é precedida de autorização judicial, como
em situações de alegado flagrante.
No caso do ingresso sem mandado, são comuns os pedidos de anulação das provas obtidas
na diligência em virtude de aspectos como a falta de consentimento do morador ou a
inexistência da comprovação de investigações prévias que embasassem a ação policial.
Afinal, quais são os critérios para o ingresso da polícia em uma residência? Em meio
a esse debate, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem corrigido ilegalidades e fixado
parâmetros para evitar que elas ocorram.

ORDEM GENÉRICA CONTRA MORADORES DE COMUNIDADES POBRES

Em 2019, a Sexta Turma do STJ, no julgamento de habeas corpus impetrado pela


Defensoria Pública, anulou uma autorização judicial para busca e apreensão coletiva em
residências de comunidades pobres do Rio de Janeiro. O colegiado considerou que a
ordem, genérica e indiscriminada, não identificava os nomes de investigados nem os
endereços específicos que deveriam ser objeto da diligência policial.
Segundo a Defensoria, a medida foi tomada em 2017 após a morte de um policial, para que
os agentes tentassem encontrar armas, documentos, celulares e outras provas contra
facções criminosas.
O relator do HC 435.934, ministro Sebastião Reis Júnior, afirmou que "não é possível a
concessão de ordem indiscriminada de busca e apreensão para a entrada da polícia em
qualquer residência. A carta branca à polícia é inadmissível, devendo-se respeitar os direitos
individuais. A suspeita de que na comunidade existam criminosos e que crimes estejam
sendo praticados diariamente, por si só, não autoriza que toda e qualquer residência do local
seja objeto de busca e apreensão".
De acordo com o ministro, o mandado de busca e apreensão deve ter objetivo certo e pessoa
determinada. A falta de individualização das medidas contrariou vários dispositivos legais,
inclusive o artigo 5°, XI, da Constituição Federal, que traz como direito fundamental a
inviolabilidade do domicílio.

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BUSCA E APREENSÃO EM APARTAMENTO DESABITADO SEM AUTORIZAÇÃO


JUDICIAL

A Quinta Turma, no HC 588.445, entendeu não haver nulidade na busca feita por
policiais, sem mandado judicial, em apartamento que não revelava sinais de habitação e
sobre o qual havia fundada suspeita de servir para a prática de crime permanente.

Segundo o ministro Reynaldo Soares da Fonseca, relator, a proteção constitucional da casa,


independentemente de seu formato e sua localização, de se tratar de bem móvel ou imóvel,
pressupõe que o indivíduo a utilize para fins de habitação – ainda que de forma
transitória, pois o bem jurídico tutelado é a intimidade da vida privada.

No caso, o ministro verificou que houve uma denúncia anônima sobre armazenamento de
drogas e de armas, e também informações dos vizinhos de que não haveria residentes no
imóvel. Segundo os autos, a polícia teria feito uma vistoria externa, na qual não foram
identificados indícios de ocupação por moradores, mas foi visualizada parte do material
ilícito. Quando a força policial entrou no local, encontrou grande quantidade de drogas.

Segundo o magistrado, o crime de tráfico de drogas, na modalidade de guardar ou ter


entorpecentes em depósito, possui natureza permanente. "Tal fato torna legítima a
entrada de policiais em domicílio para fazer cessar a prática do delito, independentemente
de mandado judicial, desde que existam elementos suficientes de probabilidade delitiva
capazes de demonstrar a ocorrência de situação flagrancial", afirmou.

INGRESSO EM RESIDÊNCIA SEM MANDADO E SEM INDÍCIOS SUFICIENTES DE


CRIME

Em 2017, a Sexta Turma negou provimento ao REsp 1.574.681, interposto pelo Ministério
Público do Rio Grande do Sul, e manteve a absolvição de um homem acusado de tráfico de
drogas, ao reconhecer a ilicitude da prova colhida em busca realizada no interior de sua
residência sem autorização judicial.

De acordo com o processo, o denunciado, ao avistar policiais militares em patrulhamento de


rotina em local conhecido como ponto de venda de drogas, correu para dentro da casa, onde
foi abordado. Após buscas na residência, os policiais encontraram 18 pedras de crack, e o
morador foi condenado. O Tribunal de Justiça, no entanto, considerou ilícita a violação
domiciliar.

Para o relator do recurso da acusação, ministro Rogerio Schietti Cruz, o contexto fático
anterior à invasão não permitia a conclusão da ocorrência de crime no interior da residência
que justificasse o ingresso dos agentes.

De acordo com o ministro, os policiais até poderiam ter abordado o suspeito em via pública
para averiguação, mas a simples intuição quando à prática de tráfico não configura, por
si só, justa causa capaz de autorizar o ingresso em domicílio sem o consentimento do
morador – que deve ser mínima e seguramente comprovado – e sem determinação judicial.

No HC 686.489, julgado em 2021, a Quinta Turma anulou as provas e absolveu um réu que
havia sido condenado por tráfico após a polícia invadir sua residência sem mandado
judicial. O processo informa que o homem estava em frente de casa e, ao avistar o carro
da polícia, que fazia ronda pelo bairro, correu para dentro do imóvel. Os policiais bateram

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à porta e foram atendidos pelo próprio acusado, o qual, segundo eles, teria admitido
a posse de drogas e autorizado a entrada.

Para o relator do habeas corpus, ministro Reynaldo Soares da Fonseca, os policiais "agiram
sem mandado judicial e sem o amparo de denúncia ou de investigação prévia que os
conduzisse a crer que naquele local havia tráfico de drogas. Suas suspeitas tiveram por
base apenas o fato de que uma pessoa que estava na frente da casa fugiu para o quintal
assim que percebeu a aproximação da viatura policial".

Entretanto – assinalou o ministro –, de acordo com a jurisprudência do STJ, tais


circunstâncias não constituem fundamento suficiente para autorizar a conclusão de
que, na residência, estivesse sendo cometido algum tipo de crime, permanente ou
não. O relator também considerou inverossímil a versão dos policiais sobre o
consentimento do morador para a busca domiciliar, pois não foi comprovada em juízo.

DÚVIDA SOBRE AUTORIZAÇÃO DO MORADOR PARA ENTRADA NA CASA

No julgamento do HC 674.139, em fevereiro deste ano, a Sexta Turma estabeleceu que, em


caso de dúvidas entre a versão da polícia – que diz ter sido autorizada a ingressar na
residência – e a do morador – que diz ter sido induzido em erro pelos agentes –, deve
prevalecer esta última. Com esse entendimento, o colegiado reconheceu a ilegalidade das
provas supostamente colhidas em uma diligência e concedeu habeas corpus para absolver
um acusado por tráfico de drogas.

O morador relatou que os policiais afirmaram estar procurando um assaltante e lhe pediram
para abrir o portão, mas, depois de entrar, passaram a procurar drogas. Por outro lado, os
policiais disseram que o morador, abordado na rua, admitiu ter drogas em casa e autorizou
a entrada.

O relator do habeas corpus, ministro Rogerio Schietti, recordou que a inviolabilidade de


domicílio é direito fundamental previsto constitucionalmente e que a sua violação não pode
ser legitimada pela simples constatação de situação de flagrância posterior ao ingresso
não autorizado.

Ele destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar o RE 603.616, com
repercussão geral, decidiu que o ingresso forçado em domicílio sem mandado só é lícito
quando amparado em fundadas razões, com lastro em circunstâncias objetivas que
indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente e de nulidade das provas obtidas.

"Caberia aos agentes que atuam em nome do Estado demonstrar, de modo


inequívoco, que o consentimento do morador foi livremente prestado, ou que havia
em curso na residência uma clara situação de comércio espúrio de droga, a autorizar
o ingresso domiciliar mesmo sem consentimento válido do morador. Entretanto, não
se demonstrou preocupação em documentar esse consentimento, quer por escrito, quer por
testemunhas, quer, ainda e especialmente, por registro de áudio-vídeo", afirmou o
magistrado.

CONSENTIMENTO DEVE SER VOLUNTÁRIO E LIVRE DE COAÇÃO

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Em 2021, ao analisar o HC 616.584, a Quinta Turma entendeu que, "na falta de


comprovação de que o consentimento do morador foi voluntário e livre de qualquer
coação e intimidação, impõe-se o reconhecimento da ilegalidade na busca domiciliar e,
consequentemente, de toda a prova dela decorrente".

O relator, ministro Ribeiro Dantas, apontou que o caso em julgamento envolvia sérias
dúvidas sobre o alegado consentimento para ingresso em domicílio. Consta do processo
que, em razão de denúncia anônima sobre tráfico de drogas, o réu e sua namorada –
também acusada –foram abordados na rua e revistados, mas não se encontrou nada. Na
sequência, foram levados à residência do acusado, que teria autorizado a entrada dos
agentes, os quais localizaram entorpecentes durante a busca domiciliar.

Ribeiro Dantas destacou, porém, que o suposto consentimento não foi documentado e que
a defesa apresentou outra versão: o casal teria sido levado à força, algemado e sob coação,
para dentro da casa. "O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes
estatais em sua casa e a busca e apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser
voluntário e livre de qualquer tipo de constrangimento ou coação", declarou o ministro ao
anular as provas e determinar a libertação dos acusados.

TEORIA DA APARÊNCIA E A AUTORIZAÇÃO DE INGRESSO EM RESIDÊNCIA

No entanto, havendo a autorização de parente hospedado em domicílio particular,


é legítima a entrada de policiais no local sem mandado judicial.

Com esse entendimento, a Quinta Turma, no julgamento do RHC 141.544, manteve


uma ação penal contra mãe e filho suspeitos de tráfico de drogas. A investigação partiu de
denúncia anônima sobre o plantio de maconha em propriedade rural localizada em São José
dos Pinhais (PR). A revista foi autorizada por uma mulher que estava na casa e se
identificou como nora da dona da chácara. Os policiais encontraram no local 155 pés de
maconha, 780g de sementes e utensílios utilizados na estufa para o cultivo da planta.

Para o relator, ministro Reynaldo Soares da Fonseca, mesmo a autorização tendo sido dada
por pessoa não residente no imóvel – no caso, uma hóspede não eventual –, essa situação
não é capaz, por si só, de tornar ilícita a ação policial. Para o ministro, deve-se aplicar ao
caso a teoria da aparência, pois quem autorizou o ingresso dos agentes foi a ex-
companheira do filho da proprietária, que se referiu a ela como "sogra".

O ministro explicou também que, por ser crime permanente, quem guarda drogas em
casa está em situação de flagrante. "Legítima, portanto, a entrada de policiais para fazer
cessar a prática do delito, independentemente de mandado judicial, desde que existam
elementos suficientes de probabilidade delitiva", afirmou.

DESVIO DE FINALIDADE APÓS A INVASÃO DO DOMICÍLIO

Por se tratar de medida invasiva e que restringe o direito fundamental à intimidade, o


ingresso em morada alheia deve se limitar ao estritamente necessário para cumprir a
sua finalidade, conforme estabelece o artigo 248 do Código de Processo Penal (CPP),
segundo o qual, "em casa habitada, a busca será feita de modo que não moleste os
moradores mais do que o indispensável para o êxito da diligência".

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No julgamento do HC 663.055, a Sexta Turma considerou ilícitas as provas colhidas em uma


caixa no interior de residência (drogas e uma munição calibre .32), uma vez que os policiais
ali entraram sem ordem judicial e sem haver uma situação que justificasse a invasão.

De acordo com o processo, o morador foi abordado na rua pela polícia e, tentando esconder
o fato de já ter registro de envolvimento com drogas, identificou-se com dados de seu irmão,
sem saber que contra este havia um mandado de prisão em aberto. Ao ser informado da
existência do mandado, o morador conseguiu fugir. Enquanto uma equipe policial o
procurava, outra foi à sua casa, onde procedeu a uma minuciosa revista.

Para o relator no STJ, ministro Rogerio Schietti, nenhuma circunstância do caso justificava
o ingresso dos policiais na residência sem autorização judicial – nem o crime de falsa
identidade, pois os agentes ainda não sabiam que o suspeito havia mentido; nem o mandado
de prisão, pois não foi respeitado o artigo 293 do CPP, e a polícia nem mesmo sabia se o
fugitivo estava ou não ali.

Além disso, o ministro observou que, mesmo se admitida a possibilidade de ingresso no


domicílio para cumprimento do mandado de prisão ou até por flagrante do crime de falsa
identidade, houve desvirtuamento da finalidade do ato, porque as drogas e a munição
foram apreendidas em uma caixa de papelão que estava no chão de um dos quartos
– evidência de que não houve mero encontro fortuito enquanto se procurava pelo
fugitivo.

"Admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa
conceder um salvo-conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente,
em verdadeira pescaria probatória (fishing expedition), sob pena de nulidade das
provas colhidas por desvio de finalidade", disse o magistrado.

7.7 INOBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES DO ART. 226. E A NULIDADE DO


RECONHECIMENTO PESSOAL

IMPORTANTE: Nulidade do reconhecimento pessoal quando não seguidas as


formalidades do art. 226.

Divergência nas turmas do STJ:

NÃO. Posição pacífica da 5ª Turma.

As disposições contidas no art. 226 do CPP configuram uma recomendação legal, e não
uma exigência absoluta. Assim, é válido o ato mesmo que realizado de forma diversa da
prevista em lei. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1665453/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
02/06/2020.

SIM. Há recente julgado da 6ª Turma, que fixou as seguintes conclusões:

1) O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no art. 226,


cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se encontra na condição de
suspeito da prática de um crime;

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2) À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do


procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da
pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado
o reconhecimento em juízo;

3) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que


observado o devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria
delitiva a partir do exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com
o ato viciado de reconhecimento;

4) O reconhecimento do suspeito por simples exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a


par de dever seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto
como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir
como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo. 6ª Turma. HC 598.886-SC,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info 684).

ATENÇÃO: Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário


instaurar o procedimento do art. 226 do CPP: O art. 226 do CPP trata sobre o
procedimento para reconhecimento de pessoa. Vale ressaltar que esse dispositivo diz
que o reconhecimento de pessoa somente será realizado “quando houver
necessidade”, ou seja, quando houver dúvida sobre a identificação do suposto autor.
Isso porque a prova de autoria não é tarifada pelo Código de Processo Penal, podendo
ser comprovada por outros meios. No caso concreto, houve um reconhecimento sem
observância das formalidades do art. 226 do CPP. No entanto, apesar disso, a
condenação foi mantida porque havia outras provas e a autoria delitiva não estava em
dúvida mesmo antes desse reconhecimento. STJ. 6ª Turma. HC 721963-SP, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 19/04/2022 (Info 733). (Fonte: Buscador Dizer o Direito)

7.8 FIXAÇÃO DE ASTREINTES EM DESFAVOR DE TERCEIROS NÃO


PARTICIPANTES DO PROCESSO

É possível a fixação de astreintes em desfavor de terceiros, não participantes do


processo, pela demora ou não cumprimento de ordem emanada do Juízo Criminal.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.568.445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
24/06/2020 (Info 677).

7.9 PUNIBILIDADE DA TENTATIVA: TEORIA OBJETIVA

STJ: Como regra, o Código Penal, em seu art. 14, II, adotou a teoria objetiva quanto à
punibilidade da tentativa, pois, malgrado semelhança subjetiva com o crime consumado,
diferencia a pena aplicável ao agente doloso de acordo com o perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado.

Nessa perspectiva, jurisprudência do STJ adota critério de diminuição do crime tentado de


forma inversamente proporcional à aproximação do resultado representado: quanto maior
o iter criminis percorrido pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição.
STJ. 5ª Turma. HC 226359/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 02/08/2016.

QUESTÃO DO MP sobre este julgado: Praticado o crime por José, o Ministério Público
ofereceu a denúncia. Durante a instrução, José confessou a prática delitiva e ficou

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comprovado que o crime não se consumou por circunstâncias alheias a sua vontade. O juiz,
no momento de fixar a pena, deverá adotar o seguinte critério para diminuir a pena a ser
aplicada a José em razão da tentativa:

Resposta: O caminho (iter criminis) percorrido por José, na execução do crime, até ser
interrompido.

7.10 ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO

STJ:
a) O crime de associação para o tráfico (art. 35 - Lei 11.343/2006), mesmo formal ou
de perigo, demanda os elementos "estabilidade" e "permanência" do vínculo
associativo, que devem ser demonstrados de forma aceitável (razoável), ainda que
não de forma rígida, para que se configure a societas sceleris e não um simples
concurso de pessoas, é dizer, uma associação passageira e eventual (03/05/2022);
b) Dispositivo declarado inconstitucional;
c) A conduta foi despenalizada, não descriminalizada;
d) Não se aplica. Perigo abstrato;
e) Não é possível que o agente responda pela prática do crime do art. 34 da Lei nº
11.343/2006 quando a posse dos instrumentos configura ato preparatório destinado ao
consumo pessoal de entorpecente. STJ. 6ª Turma. RHC 135.617-PR, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 14/09/2021 (Info 709). (DIZER O DIREITO) ASSERTIVA CORRETA:
a posse de instrumentos destinados ao plantio de cannabis sativa para consumo
pessoal não configura o crime previsto no art. 34 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006),
que demanda instrumentos com a finalidade específica de tráfico de drogas.
Art. 34, Lei 11.343/06: Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir,
entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação,
produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000
(dois mil) dias-multa.

7.11 CRIMES PREVISTOS NOS ART. 231 E 217-A DO CP DISPENSAM O CONTATO


FÍSICO ENTRE OFENSOR E OFENDIDO

STJ: A conduta de contemplar lascivamente, sem contato físico, mediante pagamento,


menor de 14 anos desnuda em motel pode permitir a deflagração da ação penal para a
apuração do delito de estupro de vulnerável.

Segundo a posição majoritária na doutrina, a simples contemplação lasciva já configura


o “ato libidinoso” descrito nos arts. 213 e 217-A do Código Penal, sendo irrelevante, para
a consumação dos delitos, que haja contato físico entre ofensor e ofendido. STJ. 5ª
Turma. RHC 70976-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 2/8/2016 (Info 587).

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@graceliamenezes

Juris em teses STJ nº 152 - 4) A contemplação lasciva configura o ato libidinoso constitutivo
dos tipos dos art. 213 e art. 217-A do CP, sendo irrelevante, para a consumação dos delitos,
que haja contato físico entre ofensor e vítima.

7.12 CRIMES/HIPÓTESES QUE ADMITEM PERDÃO JUDICIAL. [TEMA DE ALTA


INCIDÊNCIA]
• HOMICÍDIO CULPOSO (ART. 121, §5º DO CP)
• LESÃO CORPORAL CULPOSA (ART. 129, §8º DO CP)
• HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃO CORPORAL CULPOSA NA DIREÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR (STJ – RESP: 1871697 MA, RELATOR: MINISTRO ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, DATA DE JULGAMENTO: 25/08/2020)
• INJÚRIA SIMPLES (ART.140 §1º I E II DO CP)
• RECEPTAÇÃO CULPOSA (ART.180 §5º, 1ª PARTE DO CP)
• ART.176, PAR.ÚN. DO CP: DE ACORDO COM AS CIRCUNSTÂNCIAS O JUIZ PODE
DEIXAR DE APLICAR A PENA A QUEM TOMA REFEIÇÕES OU SE HOSPEDA SEM
DISPOR DE RECURSOS PARA O PAGAMENTO
• SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA (ART. 337-A, §2º DO CP)
• APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART. 168-A, §3º DO CP)
• COLABORAÇÃO PREMIADA (ART. 4º, CAPUT, DA LEI 12.850/2013)

7.13 QUALIFICADORA DO MOTIVO FÚTIL x HOMICÍDIO PRATICADO COM DOLO


EVENTUAL

STJ: A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o
homicídio praticado com dolo eventual?

SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte (dolo eventual), não
exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do
agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. (STJ. 5ª
Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/03/2012.) (STJ. 6ª Turma. REsp 1601276/RJ,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017)

A jurisprudência desta Corte reconhece a compatibilidade entre o dolo eventual e as


qualificadoras de ordem subjetiva, como o motivo torpe ou fútil. Precedentes: AgRg no RHC
87.508/DF, QUINTA TURMA, DJe 3/12/2018.

DOLO EVENTUAL – (Essa juris já foi cobrada em várias questões). o STJ já decidiu
que não há incompatibilidade ente o homicídio qualificado praticado por meio cruel e com
dolo eventual, veja o julgado:

RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR.


PRONÚNCIA. DOLO EVENTUAL. QUALIFICADORA DO MEIO CRUEL.
COMPATIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Consiste a sentença de
pronúncia no reconhecimento de justa causa para a fase do júri, com a presença de prova
da materialidade de crime doloso contra a vida e indícios de autoria, não representando juízo

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de procedência da culpa. 2. Inexiste incompatibilidade entre o dolo eventual e o


reconhecimento do meio cruel para a consecução da ação, na medida em que o dolo do
agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o emprego
de meio mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel (AgRg no RHC 87.508/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 03/12/2018). 3. É admitida a
incidência da qualificadora do meio cruel, relativamente ao fato de a vítima ter sido
arrastada por cerca de 500 metros, presa às ferragens do veículo, ainda que já
considerado ao reconhecimento do dolo eventual, na sentença de pronúncia. 4. Recurso
especial provido para restabelecer a qualificadora do meio cruel reconhecida na sentença
de pronúncia. (STJ - REsp: 1829601 PR 2019/0139667-5, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de
Julgamento: 04/02/2020, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/02/2020).

7.14 AMEAÇA DE MAL ESPIRITUAL x CRIME DE EXTORSÃO

STJ “A ameaça de mal espiritual, em razão da garantia de liberdade religiosa, não pode ser
considerada inidônea ou inacreditável. Para a vítima e boa parte do povo brasileiro, existe a
crença na existência de força ou forças sobrenaturais, manifestada em doutrinas e rituais
próprios, não havendo falar que são fantasiosas e que nenhuma força possuem para
constranger o homem médio. Os meios empregados foram idôneos, tanto que ensejaram a
intimidação da vítima, a consumação e o exaurimento da extorsão". REsp 1299021
(2012/0002922-6 - 23/02/2017). ASSERTIVA CORRETA: extorsão (art. 158 do CP) pode
ser praticada mediante ameaça feita por pastor, de causar “mal espiritual” a um fiel da igreja,
com a finalidade de compeli-lo a realizar doação em dinheiro.

7.15 CRIME ÚNICO

“As circunstâncias fáticas e a dinâmica do evento autorizam o reconhecimento de


crime único, diante da evidência de que embora subtraídos patrimônios distintos, os
mesmos estavam sob os cuidados de uma única pessoa, a qual sofreu a grave ameaça.
Irrelevante perquirir se o cobrador era ou não o proprietário de todas as coisas subtraídas"
(AgRg no REsp 1396144/DF, Rel. Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP), QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2014, DJe 05/11/2014).

7.16 AUTORIA COLATERAL

O que ocorre na autoria colateral é o seguinte: dois ou mais agentes, ignorando a


contribuição do outro, dirigem suas condutas para a prática de uma mesma infração penal.
Não há, na autoria colateral, liame subjetivo entre os agentes (vínculo psicológico entre eles,
ou seja, consciência de que concorrem para a prática de uma infração).
Ex.: João e José não sabem que têm o mesmo desejo: matar Júlio. Assim, se escondem,
cada um atrás de uma moita, e, quando Júlio passa, os dois disparam contra ele. O tiro de
João não acerta Júlio, mas o tiro de José o acerta e ele morre. João responde por tentativa
de homicídio e José responde por homicídio consumado.
Obs.: a pluralidade de agentes, o liame subjetivo, a relevância causal das condutas e a
identidade de infração penal (os agentes contribuem para o mesmo evento) são requisitos
do concurso de agentes. ASSERTIVA CORRETA: a participação, que pode ser moral ou
material, é admitida até a consumação do crime - É o que explica Cunha (2020): "A
participação, adotada a teoria formal-objetiva quanto à autoria, consiste na realização de
atos que de alguma forma concorram para o crime, sem que o agente ingresse na ação

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nuclear típica. (...) Aponta a doutrina que a participação pode ocorrer por via moral ou
material. (...) O auxílio pode ser prestado durante os atos preparatórios ou executórios, mas,
se consumado o delito, somente se considera eventual assistência se previamente acordada
entre os agentes. (...)".
Obs.: muito cuidado com o estilo de cobrança CESPE-CEBRASPE. Como se viu acima, é
possível, ainda que excepcionalmente, que a participação ocorra após a consumação.
Isso não é contraditório com a assertiva porque ela não disse que a participação somente é
admitida até a consumação ou que a participação não será admitida após a consumação.

TEORIA DA ACESSORIEDADE LIMITADA: (segundo a qual a punição do partícipe


pressupõe a prática de fato típico e ilícito pelo autor do crime). ADOTADA PELA DOUTRINA
BRASILEIRA.
4 TEORIAS – PARTICIPAÇÃO
Há quatro teorias que explicam a participação, a saber, a da acessoriedade mínima
(segundo a qual é suficiente a prática de fato típico pelo autor para que a participação seja
punível); a da acessoriedade limitada (segundo a qual a punição do partícipe pressupõe a
prática de fato típico e ilícito pelo autor do crime); a da acessoriedade máxima (segundo a
qual a participação só é punida se tiver ocorrido fato típico e ilícito praticado por agente
culpável); e da hiperacessoriedade (segundo a qual a punição do partícipe só ocorre se
tiver havido, além da prática de fato típico e ilícito por autor culpável, a punição de autor).
Assim, a alternativa não narra a teoria da acessoriedade limitada, adotada pela doutrina
brasileira, mas a da acessoriedade mínima.
7.17 OMISSÃO DE VALORES NA GUIA DE RECOLHIMENTO DO FUNDO DE GARANTIA
POR TEMPO DE SERVIÇO E INFORMAÇÃO À PREVIDÊNCIA SOCIAL

Omissão de valores na guia de recolhimento do fundo de garantia por tempo de serviço e


informação à Previdência Social – O STJ vem decidindo que o delito é comum. Veja o trecho
do julgado: “Pode qualquer pessoa, particular ou agente público, inclusive prefeitos,
praticar o crime do art. 337-A do Código Penal, consistente na omissão de valores na
guia de recolhimento do fundo de garantia por tempo de serviço e informação à Previdência
Social – GFIP". (RHC 43.741/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado
em 10/03/2016, DJe 17/03/2016). DOUTRINA: O Professor Rogério Sanches Cunha em
seu Código Penal Para Concursos, 2018, p. 899, aponta para o fato de que há
entendimentos de que o crime é próprio. ASSERTIVA CORRETA: Roger, empresário,
omitiu da folha de pagamento da sua empresa empregados segurados pelo INSS e suprimiu
as respectivas contribuições sociais previdenciárias. classificado como próprio e que
configura norma penal em branco, uma vez que necessita de complementação pela
legislação previdenciária.

7.18 MÚLTIPLA REINCIDÊNCIA

A múltipla reincidência ocorre quando o réu possui mais de uma condenação anterior apta
à gerar sua reincidência. Segundo o STJ, em caso de multirreincidência, prevalecerá a
agravante e haverá apenas a compensação parcial/proporcional (mas não integral) -
Vide: STJ 6ª Turma AgRg no AREsp 713.657/DF, Rel. Min Nefi Cordeiro, julgado em 10/04/2018.

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7.19 ATENUANTE DE CONFISSÃO

CONFISSÃO - Entendimento consubstanciado na jurisprudência em teses do STJ (edição


n° 29), no informativo n° 551 e na Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a
formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65,
III, d, do Código Penal. (Atenção: o STF rechaça essa posição. Vide: STF, HC 119671/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, j. 13/12/2016). ASSERTIVA CORRETA: A confissão
qualificada, na qual o réu alega em seu favor causa descriminante ou exculpante, não afasta
a incidência da atenuante de confissão espontânea.
OBS.: Nesse sentido: A confissão qualificada (aquela na qual o agente agrega teses
defensivas discriminantes ou exculpantes), quando efetivamente utilizada como
elemento de convicção, enseja a aplicação da atenuante prevista na alínea “d” do
inciso III do art. 65 do CP.
CUIDADO: A questão pediu entendimento do STJ, então está correta. Porém, há
divergência desse entendimento com o STF: STF (HC
119671/13): a confissão qualificada não autoriza a incidência da atenuante.
*NOVO ENTENDIMENTO DO STJ (INFO 741) Novo entendimento do STJ sobre a confissão: O
réu fará jus à atenuante do art. 65, III, 'd', do CP quando houver admitido a autoria do crime
perante a autoridade, independentemente de a confissão ser utilizada pelo juiz como um dos
fundamentos da sentença condenatória, e mesmo que seja ela parcial, qualificada, extrajudicial
ou retratada. (Info 741 STJ).

7.20 INAPLICABILIDADE DE INSIGNIFICÂNCIA AOS DELITOS DE TRÁFICO E PORTE


DE DROGAS

Conforme entendimento do STJ: “O princípio da insignificância não se aplica aos delitos de


tráfico de drogas e porte de substância entorpecente para consumo próprio, pois trata-se de
crimes de perigo abstrato ou presumido” (Tese, STJ, edição 45).
ASSERTIVA CORRETA: A pouca quantidade de droga não justifica a aplicação do princípio
da insignificância tanto no tráfico quanto para consumo próprio por serem crimes de perigo
abstrato.

A conduta de portar ou possuir munição é típica (crime), pois ausência de arma de fogo
não é capaz de afastar a tipicidade da conduta. Conforme o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça “O simples fato de possuir ou portar munição caracteriza os delitos
previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003, por se tratar de crime de perigo
abstrato e de mera conduta, sendo prescindível a demonstração de lesão ou de perigo
concreto ao bem jurídico tutelado, que é a incolumidade pública” (Tese, STJ – Edição 108).

Importante: O próprio STJ reconhece que “A apreensão de ínfima quantidade de munição


desacompanhada de arma de fogo, excepcionalmente, a depender da análise do caso
concreto, pode levar ao reconhecimento de atipicidade da conduta, diante da ausência de
exposição de risco ao bem jurídico tutelado pela norma” (Tese, STJ – Edição 108).

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7.21 REQUISITOS PARA REDUÇÃO DE PENA PREVISTA NO ART. 33, § 4° DA LEI N°


11.343/2006

Os requisitos para que incida a redução de pena prevista no art. 33, § 4° da lei n°
11.343/2006 (LEI DE DROGAS) – TRAFICO PRIVILEGIADO - são a primariedade de
agente, os bons antecedentes, não dedicação a atividades criminosas ou integração
a organização criminosa, esses requisitos são cumulativos. Assim, a quantidade de
drogas não é requisito preponderante nem para aplicar e nem para afastar a aplicação
da redução de pena. Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça “a
quantidade de drogas, por si só, não constitui fundamentação suficiente para afastar
a incidência do redutor previsto no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006”. (AgRg no HC
691.243/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 15/02/2022, DJe
21/02/2022).

7.22 A APREENSÃO DE BALANÇA DE PRECISA X ENVOLVIMENTO COM ATIVIDADES


CRIMINOSAS

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça “é pacífica no sentido de que a apreensão


de balança de precisão é também circunstância que denota envolvimento com
atividades criminosas” (AgRg no REsp 1895691/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA,
julgado em 07/12/2020, DJe 18/12/2020). Contudo, não significa dizer que a apreensão da balança
descaracterize o crime de posse de drogas para consumo e configure associação para o
tráfico, pode configurar outro delito como o tráfico, a posse de maquinário para o tráfico, etc.

7.23 ROUBO PRATICADO CONTRA AGÊNCIA FRANQUEADA DOS “CORREIOS” x


AGÊNCIA PRÓPRIA

CONFLITO DE COMPETÊNCIA - Aqui o grande ponto é perceber que foi enunciado de


crime de roubo perpetrado contra agência FRANQUEADA da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos. Sendo assim, compete à Justiça Estadual. Seria diferente se
houvesse sido dito que era agência própria, pois então seria de competência da Justiça
Federal. Vale observar o julgado: STJ. 3º Seção. CC 122.596-SC. ASSERTIVA ERRADA:
O julgamento de crime de roubo perpetrado contra agência franqueada da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos competirá à justiça federal. (COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA ESTADUAL).

7.24 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR E JULGAR OS


CRIMES DOS ARTS. 241, 241-A E 241-B QUANDO PRATICADOS PELA INTERNET

COMPETÊNCIA - STF - RG Tema 393 - Compete à Justiça Federal processar e julgar


os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico
envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando
praticados por meio da rede mundial de computadores (internet). STF. Plenário. RE
628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). ASSERTIVA CORRETA: Compete à justiça
federal julgar crime de divulgação e publicação na rede mundial de computadores de
imagens com conteúdo pornográfico envolvendo criança ou adolescente.

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7.25 ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

O delito do art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.850/2013 é crime material, inclusive na modalidade
embaraçar. STJ. 5ª Turma. REsp 1.817.416-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 03/08/2021 (Info
703).
A Lei nº 12.850/2013 (Lei de Organização Criminosa), prevê o seguinte delito no § 1º do art.
2º: Art. 2º (...) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
correspondentes às demais infrações penais praticadas. § 1º Nas mesmas penas incorre
quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que
envolva organização criminosa.
O crime do art. 2º, § 1º é formal ou material? Material. O tipo penal possui dois núcleos
(verbos): impedir e embaraçar. No que tange ao núcleo “impedir”, nunca houve dúvida de
que se trata de crime material. A dúvida estava no verbo “embaraçar”. Alguns
doutrinadores afirmavam que, neste ponto, o delito seria formal. Não foi esta, contudo, a
conclusão do STJ. Tanto no núcleo impedir como embaraçar, o crime do art. 2º, § 1º
da Lei nº 12.850/2013 é material.
A adoção da corrente que classifica o delito como crime material se explica porque o verbo
embaraçar atrai um resultado, ou seja, uma alteração do seu objeto. Na hipótese
normativa, o objeto é a investigação, que pode se dar na fase de inquérito ou na instrução
da ação penal. Em outras palavras, haverá embaraço à investigação se o agente conseguir
produzir algum resultado, ainda que seja momentâneo e reversível. STJ. 5ª Turma. REsp
1.817.416-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 03/08/2021 (Info 703). (Fonte: Dizer o Direito).

7.26 TEORIA DA PONDERAÇÃO UNITÁRIA: REPELIR COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS

O STF (RE 600.817-MS) adota a teoria da ponderação unitária, ou global, de modo a


repelir a combinação de leis penais, em homenagem aos princípios da reserva legal e da
separação dos Poderes do Estado, sob o argumento de ser vedada ao Poder Judiciário a
criação de uma terceira pena. ASSERTIVA ERRADA: A lei nova que, de qualquer forma,
beneficie o acusado deve ser imediatamente aplicável; se o benefício for parcial, despreza-
se a parte que prejudica o réu, aplicando-se apenas a parte benéfica. (NÃO É POSSIVEL).

7.27 QUANDO A INFRAÇÃO DISCIPLINAR TAMBÉM CONFIGURAR CRIME, APLICAR-


SE-Á O PRAZO PREVISTO NO ART. 109 DO CP INDEPENDENTEMENTE DE
ESTAR SENDO APURADA OU NÃO

O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também


capituladas como crime independentemente da apuração criminal da conduta do
servidor. Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 não se exige que o
fato esteja sendo apurado na esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de
denúncia ou instauração de inquérito policial). Se a infração disciplinar praticada for, em
tese, também crime, deve ser aplicado o prazo prescricional previsto na legislação penal
independentemente de qualquer outra exigência. STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 22/05/2019 (Info 651 ).

OBS.: Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo


prescricional do processo administrativo será aquele que for previsto no art. 109 do
CP, esteja ou não esse fato sendo apurado na esfera penal.

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7.28 PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO

Prevalece no STJ o entendimento de que o princípio da consunção apenas aplica-se quando


o crime absorvido e o delito continente atingirem o mesmo bem jurídico. Neste sentido,
confira-se o seguinte trecho de resumo de acórdão da mencionada Corte:
“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRINCÍPIO DA
CONSUNÇÃO. INCIDÊNCIA. ABSORÇÃO DA CONDUTA RELATIVA AO ART. 33, § 1º, I
PELA DO ART. 33, CAPUT, AMBOS DA LEI N. 11.343/2006. CONDUTA ÚNICA. CAFEÍNA
UTILIZADA COMO MEIO DE OBTENÇÃO DA DROGA COMERCIALIZADA (COCAÍNA).
APREENSÃO NO MESMO CONTEXTO FÁTICO. QUANTIDADE E NATUREZA DO
ENTORPECENTE APREENDIDO. UTILIZAÇÃO PARA EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE
E AFASTAMENTO DA MINORANTE. BIS IN IDEM. OCORRÊNCIA. QUANTIDADE E
NATUREZA DA DROGA APREENDIDA. COMPROVAÇÃO DE DEDICAÇÃO DO AGENTE.
ÚNICO FUNDAMENTO DECLINADO. APLICAÇÃO DO ART. 33, § 4º, DA LEI N.
11.343/2006. AFASTAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
(...)
2. Sobre a aplicação do princípio da consunção, esta Corte entende que ele "incide quando
for um dos crimes meio necessário ou usual para a preparação, execução ou mero
exaurimento do delito final visado pelo agente, desde que não ofendidos bens
jurídicos distintos. Entre os delitos de tráfico de drogas, de seus insumos ou maquinário,
pode ocorrer a consunção quando constatado que sejam os insumos ou maquinários
confirmados como meios de obtenção da droga comercializada". (HC n. 598.863/SC, relator
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 1º/9/2020, DJe 16/9/2020). (...)". (STJ; Sexta Turma;
AgRg no HC 682984/SC; Relator Ministro Antônio Saldanha Palheiro; Publicado no DJe de 22/10/2021).

ASSERTIVA CORRETA: o princípio da consunção incide quando for um dos crimes meio
necessário ou usual para a preparação, execução ou mero exaurimento do delito final visado
pelo agente, desde que não ofendidos bens jurídicos distintos.

- A alternativa contida neste item reproduz em sua literalidade o entendimento prevalente


no STJ.

7.29 DETRAÇÃO

STJ: “(...) a medida cautelar de recolhimento domiciliar noturno, nos finais de semana e dias
não úteis, com monitoração eletrônica, representando efetiva privação da liberdade de
locomoção, computa-se para fins de detração quanto aos dias em que efetivamente for
cumprida a medida. 1.1. Destaca-se que somente o tempo em que o segregado se
encontrou obrigatoriamente recolhido em casa, gera direito ao desconto da pena" (HC
455.097/PR – Info 693). ASSERTIVA CORRETA: o período de recolhimento domiciliar
fiscalizado por monitoramento eletrônico deve ser detraído.
STJ: “(...) a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça deve uniformizar a jurisprudência
e perfilhar do entendimento da Quinta Turma, de que a medida cautelar de recolhimento
domiciliar noturno, ainda que não cumulada com a fiscalização eletrônica, implica privação
da liberdade que justifica a detração" (RHC 140.214/SC).
ATENÇÃO: A detração se aplica à medida cautelar de recolhimento domiciliar noturno
mesmo que não tenha havido fiscalização eletrônica.

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7.30 EXCEÇÃO DA VERDADE É PROCESSADA EM PRIMEIRO GRAU E


APENAS JULGADA PELO TRIBUNAL

STJ - JURIS EM TESE N 130 – tese 5: 5) O juízo de admissibilidade, o processamento e


a instrução da exceção da verdade oposta em face de autoridades públicas com prerrogativa
de foro devem ser feitos pelo próprio juízo da ação penal originária que, após a instrução
dos autos, admitida a “exceptio veritatis”, deve remetê-los à instância decorrente da
prerrogativa de função para julgamento do mérito.
ATENÇÃO: Exceção da verdade é processada em primeiro grau e apenas julgada pelo
Tribunal (STJ HC 311.623/RS). ASSERTIVA: o juízo de admissibilidade da exceção da
verdade relacionada ao crime de calúnia em desfavor de autoridade pública com foro por
prerrogativa de função é de competência das instâncias ordinárias. (primeira parte da
tese 5).

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8. DIREITO PROCESSUAL PENAL


8.1 COMPARTILHAMENTO DOS RELATÓRIOS DE INTELIGÊNCIA FINANCEIRA

Esse julgado já caiu 3 x no ano de 2021: É constitucional o compartilhamento dos


relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório
da Receita Federal do Brasil - em que se define o lançamento do tributo - com os
órgãos de persecução penal para fins criminais sem prévia autorização
judicial, devendo ser resguardado o sigilo das informações em procedimentos formalmente
instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional; 2. O compartilhamento pela UIF e
pela RFB referido no item anterior deve ser feito unicamente por meio de comunicações
formais, com garantia de sigilo, certificação do destinatário e estabelecimento de
instrumentos efetivos de apuração e correção de eventuais desvios. (RE 1055941, Relator(a):
DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL
- MÉRITO DJe-243 DIVULG 05-10-2020 PUBLIC 06-10-2020). ASSERTIVA CORRETA: O
compartilhamento direto de informações entre a UIF e o Ministério Público não implica
violação de sigilo. Veda-se, contudo, a geração de informações por encomenda do
órgão de acusação, situação inexistente no caso em apreço, sendo legal a prova.

8.2 PRINCIPIO DA DIVISIBILIDADE

O Ministério Público pode ajuizar a ação penal em face de um réu e a investigação prosseguir
em face de outros. Nesse sentido o julgamento do HC 34.233/SP:
“PROCESSUAL PENAL. ACÓRDÃO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA DENEGATÓRIO DE
HABEAS CORPUS. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO AO INVÉS
DE RECURSO ORDINÁRIO. ERRO GROSSEIRO. FUNGIBILIDADE. NÃO APLICAÇÃO.
CONHECIMENTO DA SÚPLICA COMO IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO
ORDINÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE.
PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA À AÇÃO PENAL PÚBLICA.
PRECEDENTES ITERATIVOS DO STJ.
1 - A interposição de recurso em sentido estrito no lugar de recurso ordinário, contra acórdão
que denega habeas corpus, em única instância, em Tribunal de Justiça, configura erro
grosseiro, apto a impedir a aplicação da fungibilidade, ainda mais se, como na espécie, a
súplica somente foi protocolada mais de trinta depois da publicação do julgado atacado,
inviabilizando qualquer tipo de recurso.
2 - Hipótese expressa na Constituição Federal acerca do cabimento do recurso ordinário e
ausência de previsão, no Código de Processo Penal, em uma das hipóteses taxativas
referentes ao recurso em sentido estrito.
3 - Não vigora o princípio da indivisibilidade na ação penal pública. O Parquet é livre
para formar sua convicção incluindo na increpação as pessoas que entenda terem
praticados ilícitos penais, ou seja, mediante a constatação de indícios de autoria
e materialidade, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem
não foi denunciado.
4 - Recurso não conhecido."
ATENÇÃO: Segundo o princípio da indivisibilidade, quando a parte optar por oferecer a ação
penal deverá realizar em face de todos os autores. Se houver uma omissão voluntária
quanto a um agente ocorrerá a extinção da punibilidade pela renúncia ao direito de

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queixa, artigo 107, V, do Código de Processo Penal, que se estende a todos os envolvidos,
artigo 49 do CPP. Se a omissão for involuntária o Ministério Público irá requerer a
intimação do querelante para aditar a queixa-crime (não fazendo ocorrerá extinção da
punibilidade com base nos artigos citados).
Na ação PENAL PÚBLICA vigora o princípio da divisibilidade, ou seja, o Ministério
Público pode ajuizar a ação penal em face de um réu e a investigação prosseguir em
face de outros.
Na ação penal PRIVADA SUBSIDIÁRIA da PÚBLICA o Ministério Público pode retomar
como parte principal se ocorrer situações como as que geram a perempção da ação penal
privada.
IMPORTANTE STJ - A indivisibilidade da ação é uma das características da ação penal
privada, em que se renunciar o ofendido ao direito de queixa em relação a um dos
beneficiários, a todos se estenderá. Tal preceito não se aplica à ação penal pública
incondicionada, apesar de haver alguma controvérsia doutrinária, a maioria e o STJ
entendem que PROCESSUAL PENAL. ACÓRDÃO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DENEGATÓRIO DE HABEAS CORPUS. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO AO INVÉS DE RECURSO ORDINÁRIO. ERRO GROSSEIRO. FUNGIBILIDADE.
NÃO APLICAÇÃO. CONHECIMENTO DA SÚPLICA COMO IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA
DE RECURSO ORDINÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE
ILEGALIDADE.PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA À AÇÃO PENAL
PÚBLICA.
PRECEDENTES ITERATIVOS DO STJ.
1 - A interposição de recurso em sentido estrito no lugar de recurso ordinário, contra acórdão
que denega habeas corpus, em única instância, em Tribunal de Justiça, configura erro
grosseiro, apto a impedir a aplicação da fungibilidade, ainda mais se, como na espécie, a
súplica somente foi protocolada mais de trinta depois da publicação do julgado atacado,
inviabilizando qualquer tipo de recurso.
2 - Hipótese expressa na Constituição Federal acerca do cabimento do recurso ordinário e
ausência de previsão, no Código de Processo Penal, em uma das hipóteses taxativas
referentes ao recurso em sentido estrito.
3 - Não vigora o princípio da indivisibilidade na ação penal pública. O Parquet é livre
para formar sua convicção incluindo na increpação as pessoas que entenda terem
praticados ilícitos penais, ou seja, mediante a constatação de indícios de autoria e
materialidade, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi
denunciado.4-Recurso não conhecido. (RHC 34.233/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe 14/05/2014).

8.3 MEDIDAS CAUTELARES

a) a jurisprudência dos tribunais superiores admite a interpretação extensiva para afirmar


que o recurso adequado contra decisão que indeferir medidas cautelares diversas da
prisão é o RESE e não a apelação.

b) “A paciente que tem sua atuação em organização criminosa de tráfico de


drogas limitada à lavagem de dinheiro podem ser aplicadas medidas cautelares
diversas da prisão, considerando que ela se encontra desmantelada em face da prisão
dos seus membros que atuam diretamente no tráfico”. (HC 376.169/GO, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
01/12/2016, DJe 14/12/2016).

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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c) “É possível considerar o tempo submetido à medida cautelar de recolhimento


noturno, aos finais de semana e dias não úteis, supervisionados por monitoramento
eletrônico, como tempo de pena efetivamente cumprido, para detração da pena". ( STJ.
3ª Seção. HC 455.097/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/04/2021).

d) O entendimento dos tribunais superiores é de que “não havendo demonstração da


presença dos requisitos previstos nos art. 312 do Código de Processo Penal,
autorizadores da custódia preventiva, configura-se constrangimento ilegal a
manutenção da prisão do paciente com base unicamente no não pagamento da
fiança arbitrada”. (STJ – HC: 662429 RS 2021/0125015-6, Relator, Ministro Ribeiro Dantas, Data da
Publicação: DJ 30/04/2021).

e) Não há poder geral de cautela em matéria penal. Isso porque as medidas cautelares
são previstas de formas na taxativa no art. 319 do Código de Processo Penal e em leis
especiais, não pode ser aplicadas medidas cautelares atípicas.

ATENÇAO: A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que por força do
poder geral de cautela, de forma excepcional e motivada, não há óbice ao magistrado
impor ao investigado ou acusado medida cautelar atípica, a fim de evitar a prisão preventiva,
isto é, mesmo que não conste literalmente do rol positivado no art. 319 do CPP, o alcance
das hipóteses típicas pode ser ampliado para, observados os ditames do art. 282 do CPP,
aplicar medida constritiva adequada e necessária à espécie ou, ainda, pode ser aplicada
medida prevista em outra norma do ordenamento. (RHC 148.574/MG, Rel. Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 14/12/2021, DJe 17/12/2021)

8.4 SIGILO TELEFÔNICO


A partir do AgRg no REsp 1853702/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta
Turma, julgado em 23/06/2020, DJe 30/06/2020, a Quinta Turma estabeleceu uma
importante distinção entre as informações protegidas pelo sigilo constitucional
– mensagens de texto e conversas obtidas em aplicativos – e os dados constantes da
agenda de contatos e do registro de chamadas.
Para a Quinta Turma do STJ, a agenda telefônica é uma das facilidades oferecidas pelos
modernos aparelhos de smartphones a seus usuários e durante uma prisão em flagrante, a
análise pelos policiais dos dados constantes na agenda telefônica ou no registro de
chamadas não está garantida pela de proteção do sigilo telefônico ou de dados
telemáticos prevista no art. 5º, XII, da CR/1988.
Segundo o Tribunal, a agenda de contatos telefônicos não se inclui na proteção
prevista no art. 5º, XII, haja vista que essas informações não são decorrentes de
comunicação telefônica ou telemática, mas de mera compilação do proprietário do
aparelho.
8.5 INQUÉRITO POLICIAL

STJ - O indiciamento formal dos acusados, após o recebimento da denúncia, submete os


pacientes a constrangimento ilegal e desnecessário, uma vez que tal procedimento, que é
próprio da fase inquisitorial, não mais se justifica quando a ação penal já se encontra em
curso. STJ, 6ª Turma, H C 182.45S/SP, Rei. Min. Haroldo Rodrigues - 05/05/2011.

ASSERTIVA CORRETA: O indiciamento pode ser realizado no auto de prisão em flagrante


ou no relatório final do inquérito, mas, de acordo com o STJ, não será admitido após o
recebimento da denúncia.

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8.6 BUSCA E APREENSÃO: MEDIDA CAUTELAR REAL

Jurisprudência em Teses STJ - Edição n. 185: DO PACOTE ANTICRIME II - 11) A busca e


apreensão é medida cautelar real, assim, diferentemente das cautelares pessoais, independe, para
sua concessão, da comprovação do requisito da contemporaneidade dos fatos introduzido pelo
Pacote Anticrime no § 1º do art. 315 do CPP. (Fonte: Dizer o Direito)

8.7 HIPÓTESES EM QUE A BUSCA PESSOAL INDEPENDE DE MANDADO

AgRg no AREsp n. 2.093.117/SC - A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)


decidiu que a busca pessoal independerá de mandado quando houver prisão ou fundada
suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou ainda quando a medida for determinada no curso de
busca domiciliar.
Fundamentação – art. 244, CPP.
PROCESSO PENAL – STF: HC 101542/SP – 1T
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. JULGAMENTO DE
CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA. COMPETÊNCIA MÍNIMA DO TRIBUNAL DO JÚRI.
INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, XXXVIII, D, DA CF. POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO DE
JURISDIÇÃO POR LEI ORDINÁRIA. REGRAS DE CONEXÃO E CONTINÊNCIA
LEGITIMAMENTE ESTABELECIDAS PELO ART. 78, I, DO CPP. CONSELHO DE
SENTENÇA QUE SE PRONUCIA TAMBÉM SOBRE OS DELITOS DE SEQUESTRO E
ROUBO. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. ORDEM DENEGADA I - A competência do Tribunal
do Júri, fixada no art. 5º, XXXVIII, d, da CF, quanto ao julgamento de crimes dolosos contra
a vida é passível de ampliação pelo legislador ordinário. II - A regra estabelecida no art. 78,
I, do CPP de observância obrigatória, faz com que a competência constitucional do tribunal
do júri exerça uma vis atractiva sobre delitos que apresentem relação de continência ou
conexão com os crimes dolosos contra a vida. Precedentes. III - A manifestação dos jurados
sobre os delitos de sequestro e roubo também imputados ao réu não maculam o julgamento
com o vício da nulidade. IV - O habeas corpus, ademais, em que pese configurar remédio
constitucional de largo espectro, não pode ser utilizado como sucedâneo da revisão criminal,
salvo em situações nas quais se verifique flagrante nulidade processual seja na sentença
condenatória, seja no acórdão que a tenha confirmado. V - Ordem denegada.
8.8 PROGRESSAO DE REGIME

STF: AgRg no HC 656.813/PR, - EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


HABEAS CORPUS. TRANSFERÊNCIA DE PRESO PARA PRESÍDIO FEDERAL DE
SEGURANÇA MÁXIMA. PENITENCIÁRIA FEDERAL DE CATANDUVAS. ALTA
PERICULOSIDADE DO APENADO E RISCO PARA A SEGURANÇA PÚBLICA. LÍDER DE
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ( OKD RB) ENVOLVIDO EM EPISÓDIO DE REBELIÃO E
FUGA. PROGRESSÃO DE REGIME. IMPOSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO DA
TERCEIRA SEÇÃO DESTA CORTE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Na
espécie, o sentenciado foi inserido no Sistema Penitenciário Federal, em Regime Disciplinar
Diferenciado - RDD, o qual foi renovado fundamentadamente por mais 3 anos, contados de
28/4/2020, consignando-se, na oportunidade, persistirem os motivos para sua permanência
no SPF, na medida em que o preso possui condenação por crime violento, por associação
criminosa, consta que é líder de organização criminosa (OKD RB), e que esteve envolvido
em episódio de rebelião e planejamento de fuga.

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2. Assim, ficou explicitada adequadamente a necessidade de manutenção do apenado no


Sistema Penitenciário Federal, justificada no interesse da segurança pública.
3. Por outro lado, não se pode olvidar que a Terceira Seção desta Superior Corte de Justiça
possui entendimento consolidado no sentido de que a concessão do benefício da progressão
de regime ao apenado em presídio federal de segurança máxima fica condicionada à
ausência dos motivos que justificaram a transferência originária para esse sistema ou, ainda,
à superação de eventual conflito de competência suscitado. Tal entendimento jurisprudencial
deriva da interpretação sistemática dos dispositivos legais que norteiam o ingresso no
Sistema Penitenciário Federal, os quais demonstram a absoluta incompatibilidade entre os
motivos que autorizam a inclusão do preso e os benefícios liberatórios da execução (CC n.
125.871/RJ, Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Seção, DJe 7/6/2013 [AgRg no CC n.
131.887/RJ, relator Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, DJe de 3/4/2014].
Na mesma linha: AgRg no CC 168.851/RJ, Rel. Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/11/2019, DJe 04/12/2019; EDcl no RHC 75.366/RO, Rel.
Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/11/2018, DJe
04/12/2018. 4. No caso concreto, permanecem os motivos que justificaram a transferência
do sentenciado para presídio federal de segurança máxima, não sendo plausível a
concessão do referido benefício. 5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no HC 656.813/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 20/04/2021, DJe 26/04/2021).
ASSERTIVA: De acordo com o STF, a transferência do apenado para penitenciária federal
por motivo de segurança pública não é compatível com a progressão de regime prisional.

8.9 HC x TURMA RECURSAL

Jurisprudência em Teses do STJ - Edição nº 93 - Juizados Especiais Criminais – I -


1) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o
julgamento dos pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma
Recursal dos Juizados Especiais.

8.10 IMUNIDADE MATERIAL DOS VEREADORES

STF - Imunidade parlamentar de vereador e exercício do mandato nos limites da


circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato, garante-se
a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores. (INFO 775 STF). ASSERTIVA
CORRETA: Com relação aos crimes contra a honra, a imunidade material dos vereadores
pelos discursos que proferem restringe-se aos dizeres emanados por eles nos limites do
município onde possuem mandato, além de ter estrita pertinência com o exercício do
mandato.

8.11 A RESPOSTA POSITIVA DOS JURADOS AO QUESITO REFERENTE À TENTATIVA


DE HOMICÍDIO IMPLICA RECUSA AO DA DESISTÊNCIA ESPONTÂNEA

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO.


RECONHECIMENTO DA TENTATIVA. AUSÊNCIA DE QUESITO REFERENTE À
DESISTÊNCIAVOLUNTÁRIA. NULIDADE NÃO DEMONSTRADA. ORDEM DENEGADA.1.
Segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, a resposta positiva dos
jurados ao quesito referente à tentativa de homicídio implica recusa ao da desistência

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espontânea. Precedentes.2. Ordem denegada. (HC 218.814/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 04/10/2011, DJe 20/10/2011).

8.12 IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO QUE INDEFERE O PEDIDO DE ADMISSÃO DE


ASSISTENTE

ASSISTÊNCIA - sabe-se que se o juiz indeferir o pedido para admitir o assistente, não
caberá recurso, de acordo com o art. 273 do CPP, entretanto, a doutrina entende que se
admite o mandando de segurança, a exemplo de Nucci (2014).
Veja também o julgado do STJ: O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento
uniforme de que o mandado de segurança instituto que visa a proteção de direito
líquido e certo contra ato abusivo ou ilegal de autoridade pública não pode ser
utilizado como sucedâneo recursal, sob pena de se desnaturar a sua essência
constitucional. Não obstante, em hipóteses excepcionais, quando o ato judicial for eivado de
ilegalidade, teratologia ou abuso de poder, esta Corte tem abrandado referido
posicionamento. 1. Embora, em regra, não caiba mandado de segurança quando o ato
judicial é passível de recurso próprio, conforme disciplina a Súmula 267/STF, esta
Corte Superior tem abrandado esse entendimento nas hipóteses de decisão
teratológica, de manifesta ilegalidade ou abuso de poder. 2. No caso, o Tribunal
Regional Federal da 1ª Região entendeu que a hipótese era justamente de teratologia da
decisão que decretou o sequestro e indisponibilidade dos bens do impetrante, não havendo
que se falar em ofensa ao dispositivo legal indicado. 3. Agravo regimental a que se nega
provimento. (AgRg no REsp 1155085/MT, Relator Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA,
DJe 02/06/2014). Na hipótese dos autos, entretanto, em que a recorrente ataca decisão que
deferiu o ingresso de assistente de acusação, não há a previsão legal de cabimento de
recurso, nos moldes dispostos no art. 273, do Código de Processo Penal, in verbis: "Do
despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá recurso, devendo, entretanto,
constar dos autos o pedido e a decisão". Assim, autorizada está a impetração do remédio
heróico. Nesse sentido, esta Corte já se manifestou anteriormente no julgamento do
RHC 31667/ES, da relatoria do em. Ministro Jorge Mussi. Do voto do relator, extrai-se o
seguinte excerto: No caso dos autos, o Desembargador Relator do habeas corpus originário
não o conheceu sob o argumento de que "a doutrina pátria tem formado o entendimento
de que uma vez impossível a utilização de qualquer via recursal para impugnação da
decisão que admite ou não o assistente de acusação, deve-se utilizar a via ordinária
do mandado de segurança" (e-STJ fl. 99), entendimento que foi confirmado em sede de
agravo regimental. (STJ - RMS: 44402 MG 2013/0395068-6, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Data
de Publicação: DJ 17/02/2016).
8.13 TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO

Juris em Teses 108, STJ: tese nº 9) Para a configuração do tráfico internacional de arma
de fogo, acessório ou munição não basta apenas a procedência estrangeira do artefato,
sendo necessário que se comprove a internacionalidade da ação.

8.14 REMIÇÃO DE PENA POR MEIO DE PRÁTICA SOCIAIS EDUCATIVAS NÃO-


ESCOLARES

“A participação do ora paciente em aulas de capoeira, ainda que contribua para sua
ressoacialização, não pode ser interpretada como frequência em curso de ensino
formal, tendo em vista tratar-se de prática esportiva e não de atividade

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intelectual, propriamente dita". (STJ, HC 131.170/RJ, QUINTA TURMA, DJE 24/02/2012).


(CEBRASPE).

ATENÇÃO: Em 2021, A Resolução 391 de 10/05/21 do CNJ passou a permitir


a concessão de remição de pena por meio de prática sociais educativas não-
escolares, assim consideradas: "atividades de socialização e de educação não-escolar, de
autoaprendizagem ou de aprendizagem coletiva, assim entendidas aquelas que ampliam as
possibilidades de educação para além das disciplinas escolares, tais como as de natureza
cultural, esportiva, de capacitação profissional, de saúde, dentre outras, de participação
voluntária, integradas ao projeto político-pedagógico (PPP) da unidade ou do sistema
prisional e executadas por iniciativas autônomas, instituições de ensino públicas ou privadas
e pessoas e instituições autorizadas ou conveniadas com o poder público para esse fim".

Antes da resolução, o STJ indeferiu pedido para remição de pena ao apenado que
frequentou curso de capoeira por entender que não caracterizaria curso de ensino formal, e
que não se trata de atividade intelectual. O julgado ocorreu em 2012 e não representa o
atual cenário jurídico em relação à remição de pena, que tem se mostrado cada vez
mais ampliativo, exatamente para fomentar práticas culturais, sociais, esportivas e
intelectuais que auxiliem no processo de reintegração social.
(Fonte:https://www.migalhas.com.br/depeso/363758/esporte-essencial-para-a-execucao-penal).
Apesar da mencionada resolução, a banca considerou como CERTA a assertiva que
considerou os exatos termos do julgado de 2012:"A participação do ora paciente em
aulas de capoeira, ainda que contribua para sua ressoacialização, não pode ser interpretada
como frequência em curso de ensino formal, tendo em vista tratar-se de prática esportiva e
não de atividade intelectual, propriamente dita".
8.15 BENEFÍCIO DA PROGRESSÃO AO APENADO EM PRESÍDIO FEDERAL DE
SEGURANÇA MÁXIMA

A concessão do benefício da progressão de regime ao apenado em presídio federal


de segurança máxima fica condicionada à ausência dos motivos que justificaram a
transferência originária para esse sistema ou, ainda, à superação de eventual conflito de
competência suscitado. Tal entendimento jurisprudencial deriva da interpretação sistemática
dos dispositivos legais que norteiam o ingresso no Sistema Penitenciário Federal, os quais
demonstram a absoluta incompatibilidade entre os motivos que autorizam a inclusão
do preso e os benefícios liberatórios da execução. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 656.813/PR,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/04/2021.

STF - O cumprimento de pena em penitenciária federal de segurança máxima por motivo


de segurança pública não é compatível com a progressão de regime prisional. (STF. 2ª
Turma. HC 131.649/RJ, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, rel. p/ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/9/2016 (Info 838).

“Para ficar mais fácil de compreender, podemos assim resumir:

• Se já não há mais motivos para ele permanecer no presídio federal: significa que ele
poderá receber a progressão de regime.

• Se ainda há motivos para ele permanecer no presídio federal: ele não poderá
progredir.” Fonte: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. ASSERTIVA CORRETA: De

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acordo com o STF, a transferência do apenado para penitenciária federal por motivo de
segurança pública não é compatível com a progressão de regime prisional.

8.16 INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEFENSOR DATIVO (REGRA)

Em regra, é obrigatória a intimação pessoal do defensor dativo, inclusive a respeito do dia


em que será julgado o recurso. Se for feita a sua intimação apenas pela imprensa oficial,
isso é causa de nulidade. Exceção: não haverá nulidade se o próprio defensor dativo
pediu para ser intimado dos atos processuais pelo diário oficial. STJ. 5ª Turma. HC 311.676-
SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/4/2015 (Info 560).

8.17 A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PODE SER AMPLIADA

A competência não pode ser reduzida, mas nada impede que seja ampliada por lei
infraconstitucional (STF HC 101.542/SP). ASSERTIVA ERRADA: A competência
constitucional do tribunal do júri é uma cláusula pétrea, razão pela qual é inadmitida a sua
ampliação por lei ordinária

8.18 EXCEÇÃO DA VERDADE OPOSTA EM FACE DE AUTORIDADE COM


PRERROGATIVA DE FORO

Exceção da verdade é processada em primeiro grau e apenas julgada pelo Tribunal (STJ
HC 311.623/RS). Jurisprudência em tese 1305, STJ. O juízo de admissibilidade, o
processamento e a instrução da exceção da verdade oposta em face de autoridades
públicas com prerrogativa de foro devem ser feitos pelo próprio juízo da ação penal
originária que, após a instrução dos autos, admitida a exceptio veritatis, deve remetê-los à
instância decorrente da prerrogativa de função para julgamento do mérito.

8.19 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA x RENOVABILIDADE

Renovação das interceptações: A Lei nº 9.296/96 prevê que a interceptação telefônica


"não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada
a indispensabilidade do meio de prova." (art. 5º). A interceptação telefônica não pode
exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada por igual período, não havendo restrição
legal ao número de vezes para tal renovação, se comprovada a sua necessidade. STF.
2ª Turma. RHC 132115/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 6/2/2018 (Info 890).

DECISÃO POSTERIOR A PROVA - o STF autorizou a renovação sucessiva de


interceptação telefônica em investigações criminais, sem limite definido de prazo. Venceu
a tese proposta pelo ministro Alexandre de Moraes. O processo tem repercussão geral
reconhecida, logo, servirá de baliza a todos os juízes e tribunais brasileiros.
“Só em filme que se pega algo no primeiro fim de semana de interceptação. São meses, às
vezes anos de interceptação para se obter resultados. O prazo inicial da lei é diminuto. É
necessário um trabalho detalhado” (Min. Alexandre de Moraes).
A Corte fixou a seguinte tese: “São lícitas as sucessivas renovações de interceptação
telefônica desde que, verificados os requisitos do artigo 2º da lei 9.296 de 1996 e

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demonstrada a necessidade da medida diante de elementos concretos e a


complexidade da investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam
devidamente motivadas com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a
continuidade das investigações. São ilegais as motivações padronizadas ou
reproduções de modelos genéricos sem relação com o caso concreto.”

8.20 NULIDADE DO APF POR AUSÊNCIA DE ADVOGADO: CONDIÇÕES PARA


RECONHECIMENTO

2. Eventual nulidade no auto de prisão em flagrante por ausência de assistência por


advogado somente se verificaria caso não tivesse sido oportunizado ao conduzido o
direito de ser assistido por advogado, não sendo a ausência de causídico por ocasião
da condução do flagrado à Delegacia de Polícia para oitiva pela Autoridade
Policial, por si só, causa de nulidade do auto de prisão em flagrante (RHC n. 61.959⁄ES,
Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, Dje 4⁄12⁄2015). Isso porque a
documentação do flagrante prescinde da presença do defensor técnico do conduzido, sendo
suficiente a lembrança, pela autoridade policial, dos direitos constitucionais do preso de ser
assistido.” (HC 442.334/RS, j. 21/06/2018).

ASSERTIVA CORRETA: A presença do defensor técnico é dispensável por ocasião da


formalização do auto de prisão em flagrante, desde que a autoridade policial informe ao
preso os seus direitos constitucionalmente garantidos.

8.21 SOMENTE É AUTORIZADO AO JULGADOR AFASTAR AS QUALIFICADORAS


CONTIDAS NA DENÚNCIA CASO NÃO HAJA DÚVIDAS DE QUE ELAS NÃO
ESTÃO CONFIGURADAS NO CASO CONCRETO

Jurisprudência importante do STJ que ensina que a exclusão de qualificadora constante


na denúncia somente pode ocorrer quando manifestamente improcedente. Do contrário,
estaríamos minando a competência do Tribunal do Júri, que é o competente para julgar os
crimes dolosos contra a vida. Uma vez que vigora nesta fase o princípio in dubio pro
societate, somente é autorizado ao julgador afastar as qualificadoras contidas na
denúncia caso não haja dúvidas de que elas não estão configuradas no caso concreto.
Se o juiz não estiver certo disso, deverá deixar para o Conselho de Sentença decidir
sobre a incidência ou não de tal qualificadora. (5ª Turma. HC 406.869/RS, julgado em 19/09/2017
e 6ª Turma. AgRg no AREsp 830.308/RS, julgado em 20/06/2017).

ASSERTIVA CORRETA: É possível a exclusão, na decisão de pronúncia, de qualificadoras


descritas na denúncia, quando elas forem manifestamente incabíveis.

8.22 O PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE DOS RECURSOS

RECURSO – PRINCIPIO DA VOLUNTARIEDADE: o princípio da voluntariedade dos


recursos, previsto no art. 574 do CPP. Vide, ainda, jurisprudência que coaduna: Defensor
dativo e o réu intimados pessoalmente da sentença condenatória e não manifestaram a
pretensão de recorrer. Aplicação da regra processual da voluntariedade dos recursos,
insculpida no art. 574, caput, do Código de Processo Penal, segundo a qual não está
obrigado o defensor público ou dativo, devidamente intimado, a recorrer (HC 121.050/SP,
Sexta Turma, julgado em 2012 e publicado em 2013). O inverso disso são os recursos de ofício.

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O Duplo Grau de Jurisdição possibilita a revisão, mantendo relação com a voluntariedade


recursal, com a presunção de inocência e com a ampla defesa. Em regra, para que ocorra
um segundo julgamento, realizado por um órgão do Poder Judiciário, em uma posição
hierarquicamente superior ao juízo inicialmente competente, necessita-se de provocação por
parte do interessado, utilizando este dos recursos existentes. (Brito, Alexis Couto de.
Processo Penal Brasileiro / Alexis Couto de Brito, Humberto Barrionuevo Fabretti, Marco
Antônio Ferreira Lima. – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2019). ASSERTIVA CORRETA: Em razão
do princípio da voluntariedade dos recursos, o defensor dativo regularmente intimado não
estará obrigado a recorrer

8.23 LEGITIMIDADE DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO

STF – LEGITIMIDADE DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO – RECURSO - Duas súmulas


demonstram que ele pode sim recorrer: 448 e 210, ambas do STF. Além delas, há julgado
recente que demonstra: Embora o assistente de acusação receba o processo no estado em
que se encontra, o fato de o órgão ministerial não haver recorrido da decisão que
absolveu o recorrente não impede a que o ofendido o faça, ainda que não esteja
habilitado nos autos (...) (RHC 85.526/DF, Quinta TurmaA, julgado em 2019).

ASSERTIVA ERRADA: Em caso de inércia do MP, o assistente de acusação não terá


legitimidade para interpor recurso de apelação. (ELE TERÁ LEGITIMIDADE).

8.24 O TERMO INICIAL DO PRAZO PARA O MP IMPUGNAR DECISÃO JUDICIAL

STJ - O termo inicial da contagem do prazo para impugnar decisão judicial é, para o
Ministério Público, a data da entrega dos autos na repartição administrativa do órgão.
É irrelevante que a intimação pessoal tenha se dado em audiência, em cartório ou por
mandado. Cuida-se de jurisprudência do STJ, 3ª Seção. REsp 1.349.935-SE, julgado em 23/8/2017 (recurso
repetitivo) (INFO 611).

ASSERTIVA ERRADA: O termo inicial para a interposição de recurso pelo MP é a data de


prolação da sentença em audiência em que haja promotor de justiça presente. (DATA DA
ENTREGA DOS AUTOS NA REPARTIÇÃO ADMINISTRATIVA DO ÓRGÃO).

8.25 A INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL DOS MEMBROS DO MP x PEDIDO DE


ABSOLVIÇÃO EM ALEGAÇÕES FINAIS POR UM MEMBRO x RECURSO
INTERPOSTO POR OUTRO MEMBRO DO MP: POSSIBILIDADE

STJ - O que ocorre é que a circunstância do promotor de justiça, com atuação no processo
em fase das alegações finais, formular pedido de absolvição acolhido na sentença, não
impede que um outro membro do MP interponha recurso pugnando para que se
preserve a acusação inicial (STJ - AgRg. no Ag. 1322990/RJ - 2010). Sendo assim, pode-
se considerar como reflexo dos princípios constitucionais da instituição: unidade,
indivisibilidade e independência funcional.
ASSERTIVA ERRADA: Determinado órgão do MP não terá interesse na interposição de
apelação contra sentença absolutória quando outro órgão, em alegações finais, tiver se
manifestado pela absolvição do réu. (ESTA MANIFESTAÇÃO NÃO IMPEDE OUTRO
MEMBRO DE FAZÊ-LO).

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8.26 A RENÚNCIA DO RÉU AO DIREITO DE APELAÇÃO, MANIFESTADA SEM A


ASSISTÊNCIA DO DEFENSOR, NÃO IMPEDE O CONHECIMENTO DA APELAÇÃO
QUE SEU DEFENSOR INTERPUSER.

APELAÇÃO - STJ e STF - Prevalecerá a vontade de quem apresentar: seja a autodefesa


ou a defesa técnica. Sobre isso, veja: Havendo discordância sobre a conveniência da
interposição de recurso, deve prevalecer a manifestação de vontade quem optar por sua
apresentação, quer provenha da defesa técnica ou da autodefesa (HC 162.071/SP, julgado
em 2012). No mesmo tema há importante súmula, de nº 705, do STF, que ensina que a
renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não
impede o conhecimento da apelação que seu defensor interpuser. ASSERTIVA
ERRADA: Em razão do princípio da voluntariedade, havendo conflito entre a manifestação
do acusado e a de seu defensor a respeito da interposição de recurso, deverá prevalecer a
vontade do réu. (PREVALECE A MANIFESTAÇÃO DE QUEM OPTAR POR SUA
APRESENTAÇÃO).
8.27 QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTAIS

Sequestro é uma medida cautelar de natureza patrimonial, cabível no processo penal,


por meio da qual o juiz determina a retenção dos bens adquiridos pelo investigado ou
acusado com os proventos (lucros) do crime. (...) Na hipótese de sequestro, o
contraditório será diferido em prol da integridade do patrimônio e contra a sua
eventual dissipação. Nesse caso, não se caracteriza qualquer cerceamento à defesa, que
tem a oportunidade de impugnar a determinação judicial, utilizando os instrumentos
processuais previstos na lei para tanto. RMS 30172-M, julgado em 2012 (INFO 513, STJ). O
objetivo é exatamente de postergar o contraditório; é justamente evitar a dissipação desse
patrimônio; o perigo da demora. (Fonte: QConcurso)

8.28 LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA

STF – ADI 937 – QO. TESE: DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL.


QUESTÃO DE ORDEM EM AÇÃO PENAL. LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA
DE FUNÇÃO AOS CRIMES PRATICADOS NO CARGO E EM RAZÃO DELE.
ESTABELECIMENTO DE MARCO TEMPORAL DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA.
Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, resolveu questão de ordem
no sentido de fixar as seguintes teses: "(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se
apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas; (limitação do foro) e (ii) Após o final da instrução processual, com a
publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a
competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de
o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer
que seja o motivo"(estabelecimento de marco temporal de fixação de competência),
com o entendimento de que esta nova linha interpretativa deve se aplicar imediatamente aos
processos em curso, com a ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo
STF e pelos demais juízos com base na jurisprudência anterior, conforme precedente
firmado na Questão de Ordem no Inquérito 687 (Rel. Min. Sydney Sanches, j. 25.08.1999
ATENÇÃO: Com relação a segunda tese, mister ressaltar que A jurisprudência do STF
admite a possibilidade de prorrogação de competências constitucionais quando necessária
para preservar a efetividade e a racionalidade da prestação jurisdicional. Precedentes

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8.29 HIPÓTESE EM QUE A DEFESA TÉCNICA TOMOU CIÊNCIA DA DECISÃO QUE


REVOGOU O SURSIS E NÃO INTERPÔS RECURSO, RAZÃO PELA QUAL NÃO HÁ
FALAR EM NULIDADE.

STJ - HC 419.787 PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. PRELIMINAR DE PREJUDICIALIDADE DO WRIT
AFASTADA. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO. INTIMAÇÃO PARA JUSTIFICAR DESCUMPRIMENTO DE CONDIÇÃO
IMPOSTA. PACIENTE NÃO ENCONTRADO NO ENDEREÇO DECLINADO NOS AUTOS.
INÉRCIA QUE IMPLICOU REVOGAÇÃO DA BENESSE E PROSSEGUIMENTO DA
PERSECUÇÃO PENAL. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. DEFESA PRELIMINAR.
DESNECESSIDADE. RITO SUMARÍSSIMO. ART. 89 DA LEI N. 8.099/1995. NULIDADES
NÃO EVIDENCIADAS. WRIT NÃO CONHECIDO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não
cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-
se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante
ilegalidade no ato judicial impugnado. 2. Afastada a alegada prejudicialidade do writ arguida
pelo Parquet Federal, em face da superveniente prolação de sentença condenatória em
desfavor do paciente, uma vez que, reconhecida alguma das nulidades aqui suscitadas pela
defesa, por conseguinte, o processo estará maculado pela existência de vício processual
insanável, devendo todos os atos processuais posteriores serem renovados, inclusive, a
sentença. 3. No caso em exame, o processo se desenvolveu sob o procedimento
sumaríssimo previsto no art. 89 da Lei n. 9.099/1995, em face de a conduta do paciente se
amoldar à infração penal de menor potencial ofensivo. Assim, não há falar em adaptações
do rito previsto na referida legislação à luz das inovações trazidas pela Lei n. 11.719/2008.
4. Não ocorre nulidade do processo penal que tramita em Juizado Especial Criminal pelo
fato de haver sido proposta a suspensão condicional do processo antes do oferecimento da
resposta à acusação. Isso porque, de acordo com o art. 89 da Lei n. 9.099/1995, a proposta
de sursis processual deve ser feita no momento do oferecimento da denúncia, não havendo
que se falar na necessidade de prévio oferecimento de resposta à acusação.
5. Na revogação facultativa, é imprescindível que o magistrado, antes da revogação do
sursis processual, intime o beneficiário a fim de lhe dar a oportunidade de se justificar quanto
ao descumprimento da condição a ele imposta. 6. No caso em apreço, conforme certidão do
Oficial de Justiça, o mandado de intimação não foi cumprido, por não ter sido encontrado o
paciente no endereço por ele declinado nos autos.
7. Em processo penal, cabe ao réu manter atualizado o seu endereço nos autos, o que
não ocorreu na espécie, razão pela qual há óbice para o reconhecimento de seu
alegado direito em contradição com sua anterior conduta.
8. Nos termos da legislação processual pátria, não cabe à parte arguir nulidade a que
haja dado causa, ou para que tenha concorrido (ex vi, art. 565,CPP).
9. Hipótese em que a defesa técnica tomou ciência da decisão que revogou o sursis e
não interpôs recurso, razão pela qual não há falar em nulidade. 10. Writ não conhecido.

8.30 QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA DA PROVA

STJ HC 653.515- RJ - HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA


O NARCOTRÁFICO. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA DA PROVA. AUSÊNCIA DE
LACRE. FRAGILIDADE DO MATERIAL PROBATÓRIO RESIDUAL. ABSOLVIÇÃO QUE SE
MOSTRA DEVIDA. ASSOCIAÇÃO PARA O NARCOTRÁFICO. HIGIDEZ DA
CONDENAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. A superveniência de sentença condenatória não

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tem o condão de prejudicar a análise da tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia
de custódia da prova, em razão de a substância entorpecente haver sido entregue para
perícia sem o necessário lacre. Isso porque, ao contrário do que ocorre com a prisão
preventiva, por exemplo - que tem natureza rebus sic standibus, isto é, que se caracteriza
pelo dinamismo existente na situação de fato que justifica a medida constritiva, a qual deve
submeter-se sempre a constante avaliação do magistrado -, o caso dos autos traz hipótese
em que houve uma desconformidade entre o procedimento usado na coleta e no
acondicionamento de determinadas substâncias supostamente apreendidas com o paciente
e o modelo previsto no Código de Processo Penal, fenômeno processual, esse, produzido
ainda na fase inquisitorial, que se tornou estático e não modificável e, mais do que isso, que
subsidiou a própria comprovação da materialidade e da autoria delitivas.
2. Segundo o disposto no art. 158-A do CPP, "Considera-se cadeia de custódia o conjunto
de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do
vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a
partir de seu reconhecimento até o descarte". 3. A autenticação de uma prova é um dos
métodos que assegura ser o item apresentado aquilo que se afirma ele ser, denominado
pela doutrina de princípio da mesmidade. 4. De forma bastante sintética, pode-se afirmar
que o art. 158-B do CPP detalha as diversas etapas de rastreamento do vestígio:
reconhecimento, isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte, recebimento,
processamento, armazenamento e descarte. O art. 158-C, por sua vez, estabelece o perito
oficial como sujeito preferencial a realizar a coleta dos vestígios, bem como o lugar para
onde devem ser encaminhados (central de custódia). Já o art. 158-D disciplina como os
vestígios devem ser acondicionados, com a previsão de que todos os recipientes devem ser
selados com lacres, com numeração individualizada, "de forma a garantir a inviolabilidade e
a idoneidade do vestígio". 5. Se é certo que, por um lado, o legislador trouxe, nos arts. 158-
A a 158-F do CPP, determinações extremamente detalhadas de como se deve preservar a
cadeia de custódia da prova, também é certo que, por outro, quedou-se silente em relação
aos critérios objetivos para definir quando ocorre a quebra da cadeia de custódia e quais as
consequências jurídicas, para o processo penal, dessa quebra ou do descumprimento de
um desses dispositivos legais. No âmbito da doutrina, as soluções apresentadas são as mais
diversas. 6. Na hipótese dos autos, pelos depoimentos prestados pelos agentes estatais em
juízo, não é possível identificar, com precisão, se as substâncias apreendidas realmente
estavam com o paciente já desde o início e, no momento da chegada dos policiais, elas
foram por ele dispensadas no chão, ou se as sacolas com as substâncias simplesmente
estavam próximas a ele e poderiam eventualmente pertencer a outro traficante que estava
no local dos fatos. 7. Mostra-se mais adequada a posição que sustenta que as
irregularidades constantes da cadeia de custódia devem ser sopesadas pelo magistrado com
todos os elementos produzidos na instrução, a fim de aferir se a prova é confiável. Assim, à
míngua de outras provas capazes de dar sustentação à acusação, deve a pretensão ser
julgada improcedente, por insuficiência probatória, e o réu ser absolvido.
9. O fato de a substância haver chegado para perícia em um saco de supermercado, fechado
por nó e desprovido de lacre, fragiliza, na verdade, a própria pretensão acusatória, porquanto
não permite identificar, com precisão, se a substância apreendida no local dos fatos foi a
mesma apresentada para fins de realização de exame pericial e, por conseguinte, a mesma
usada pelo Juiz sentenciante para lastrear o seu decreto condenatório. Não se garantiu a
inviolabilidade e a idoneidade dos vestígios coletados (art. 158-D, § 1º, do CPP). A
integralidade do lacre não é uma medida meramente protocolar; é, antes, a segurança de
que o material não foi manipulado, adulterado ou substituído, tanto que somente o perito
poderá realizar seu rompimento para análise, ou outra pessoa autorizada, quando houver
motivos (art. 158-D, § 3º, do CPP). 9. Não se agiu de forma criteriosa com o recolhimento

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dos elementos probatórios e com sua preservação; a cadeia de custódia do vestígio não foi
implementada, o elo de acondicionamento foi rompido e a garantia de integridade e de
autenticidade da prova foi, de certa forma, prejudicada. Mais do que isso, sopesados todos
os elementos produzidos ao longo da instrução criminal, verifica-se a debilidade ou a
fragilidade do material probatório residual, porque, além de o réu haver afirmado em juízo
que nem sequer tinha conhecimento da substância entorpecente encontrada, ambos os
policiais militares, ouvidos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, não foram
uníssonos e claros o bastante em afirmar se a droga apreendida realmente estava em poder
do paciente ou se a ele pertencia. 10. Conforme deflui da sentença condenatória, não houve
outras provas suficientes o bastante a formar o convencimento judicial sobre a autoria do
crime de tráfico de drogas que foi imputado ao acusado. Não é por demais lembrar que a
atividade probatória deve ser de qualidade tal a espancar quaisquer dúvidas sobre a
existência do crime e a autoria responsável, o que não ocorreu no caso dos autos. Deveria
a acusação, diante do descumprimento do disposto no art. 158-D, § 3º, do CPP, haver
suprido as irregularidades por meio de outros elementos probatórios, de maneira que, ao
não o fazer, não há como subsistir a condenação do paciente no tocante ao delito descrito
no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006. 11. Em um modelo processual em que sobrelevam
princípios e garantias voltadas à proteção do indivíduo contra eventuais abusos estatais que
interfiram em sua liberdade, dúvidas relevantes hão de merecer solução favorável ao réu
(favor rei).

12. Não foi a simples inobservância do procedimento previsto no art. 158-D, § 1º, do
CPP que induz a concluir pela absolvição do réu em relação ao crime de tráfico de
drogas; foi a ausência de outras provas suficientes o bastante a formar o
convencimento judicial sobre a autoria do delito a ele imputado. A questão relativa à
quebra da cadeia de custódia da prova merece tratamento acurado, conforme o caso
analisado em concreto, de maneira que, a depender das peculiaridades da hipótese
analisada, pode haver diferentes desfechos processuais para os casos de
descumprimento do assentado no referido dispositivo legal.

13. Permanece hígida a condenação do paciente no tocante ao crime de associação para o


tráfico de drogas (art. 35 da Lei n. 11.343/2006), porque, além de ele próprio haver admitido,
em juízo, que atuava como olheiro do tráfico de drogas e, assim, confirmando que o local
dos fatos era dominado pela facção criminosa denominada Comando Vermelho, esta Corte
Superior de Justiça entende que, para a configuração do referido delito, é irrelevante a
apreensão de drogas na posse direta do agente.

14. Porque proclamada a absolvição do paciente em relação ao crime de tráfico de drogas,


deve ser a ele assegurado o direito de aguardar no regime aberto o julgamento da apelação
criminal. Isso porque era tecnicamente primário ao tempo do delito, possuidor de bons
antecedentes, teve a pena-base estabelecida no mínimo legal e, em relação a esse ilícito,
foi condenado à reprimenda de 3 anos de reclusão (fl. 173). Caso não haja recurso do
Ministério Público contra a sentença condenatória (ou, se houver e ele for improvido) e a
sanção permaneça nesse patamar, fica definitivo o regime inicial mais brando de
cumprimento de pena.
15. Ordem concedida, a fim de absolver o paciente em relação à prática do crime previsto
no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, objeto do Processo n. 0219295-36.2020.8.19.0001.
Ainda, fica assegurado ao réu o direito de aguardar no regime aberto o julgamento do recurso
de apelação.

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8.31 ADMITE-SE A COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DE LESÕES CORPORAIS


POR OUTROS MEIOS DE PROVA

AgRg no AREsp 1.874.301/AL (...) Conquanto o exame de corpo de delito deva, como
regra, ser produzido para a configuração do delito de lesão corporal ocorrida no contexto de
violência doméstica, já que se trata de situação que deixa vestígio, admite-se que a
MATERIALIDADE possa ser comprovada por outros meios de prova, tais como laudos
médicos subscritos por profissionais da saúde (Lei 11.340/06 art. 12,§3º).

8.32 A REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA


À REPRESENTAÇÃO NÃO EXIGE MAIORES FORMALIDADES

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA – STJ - “1. De acordo com a jurisprudência


do Superior Tribunal de Justiça, a representação nos crimes de ação penal pública
condicionada à representação não exige maiores formalidades, bastando que haja a
manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal, demonstrando a
intenção de ver o autor do fato delituoso processado criminalmente. Precedentes. 2.
Na espécie, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais ressaltou que, na primeira oportunidade
em que foi ouvida, a genitora da menor deixou expressamente consignado o desejo de
representar contra o autor do fato criminoso. Além disso, ponderou que a lavratura do
Boletim de Ocorrência e o atendimento médico prestado à vítima deveriam ser considerados
com verdadeira representação, pois contêm todas as informações necessárias para que se
procedesse à apuração da conduta supostamente delituosa. Diante disso, concluiu estar
demonstrado o desejo de submeter o acusado à jurisdição criminal, em harmonia com a
orientação desta Casa” (AgRg no HC 233.479/MG, DJe 02/02/2017). ATENÇÃO PARA
ESTE JULGADO E ARTIGO. FGV GOSTA.

ASSERTIVA CORRETA: a representação prescinde de qualquer formalidade, sendo


necessária apenas a vontade inequívoca da vítima ou de seu representante legal de
representar contra o autor do fato; (ART.39, CPP).

8.33 JUSTA CAUSA É EXIGÊNCIA LEGAL PARA O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

STF – JUSTA CAUSA – AÇÃO PENAL - Informativo 869 do STF: A justa causa é
exigência legal para o recebimento da denúncia, instauração e processamento da
ação penal, nos termos do art. 395, III, do CPP, e consubstancia-se pela somatória de três
componentes essenciais: (a) tipicidade (adequação de uma conduta fática a um tipo penal);
(b) punibilidade (além de típica, a conduta precisa ser punível, ou seja, não existir quaisquer
das causas extintivas da punibilidade); e (c) viabilidade (existência de fundados indícios de
autoria). 3. Esses três componentes estão presentes na denúncia ofertada pelo Ministério
Público, que, nos termos do art. 41 do CPP, apontou a exposição do fato criminoso, com
todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e a classificação do crime. STF. 1ª
T., HC 129678, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/06/17.

ASSERTIVA CORRETA: A justa causa é exigência legal para o recebimento da denúncia,


instauração e processamento da ação penal, nos termos do Art. 395, inciso III, do Código de
Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória dos três seguintes componentes
essenciais: tipicidade, punibilidade e viabilidade;
8.34 AÇÃO PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA

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PROCESSO PENAL - AÇÃO PENAL - "A ação privada subsidiária da pública só é possível
quando o Órgão Ministerial se mostrar desidioso e não se manifestar no prazo previsto em
lei. Se o Ministério Público promove o arquivamento do inquérito ou requer o seu retorno
ao delegado de polícia para novas diligências, não cabe queixa subsidiária" (STJ. 6ª Turma.
AgRg no AREsp 1049105/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/10/2018).

ASSERTIVA CORRETA: não será cabível ação penal privada subsidiária da pública pelo
ofendido quando o órgão de execução do Ministério Público promover o arquivamento do
inquérito policial;

OBSERVAÇÕES DO PROFESSOR DO QCONCURSO: “A iniciativa é exclusiva do


Ministério Público, e a queixa a que faz menção o artigo não é a originária, mas sim a queixa
subsidiária (art. 29 do CPP), aquela situação excepcional em que o ofendido, em crime de
ação penal de iniciativa pública, pode propor a queixa, diante da inércia do parquet. Mas a
ação é de iniciativa pública e não perde esse status, de modo que o Ministério Público pode
retomar a titularidade a qualquer momento, inclusive para fazer o aditamento”. Lopes Jr., Aury.
Direito processual penal / Aury Lopes Jr. – 13. ed. – São Paulo : Saraiva, 2016, p. 481.

8.35 CONFIGURA-SE ATO INVESTIGATIVO?


ADIs 6245 e 6264 – (17.02.2023): O Termo Circunstanciado de Ocorrência
(TCO) configura-se ato investigativo?
Não. Por unanimidade, o Plenário do STF entendeu que o TCO dos Juizados
Especiais Criminais (art. 69, Lei 9099/95) não é ato investigativo e pode ser
lavrado por polícia judiciária ou administrativa.
Vale lembrar que a possibilidade de lavratura do TCO por autoridade policial que
não seja delegado de polícia já foi confirmada pelo Plenário do STF no
julgamento da ADI 5637, em 14.03.2022. Dessa forma, em fevereiro de 2023, em decisão
unânime, o Plenário do STF entendeu que é constitucional a previsão que confere à
Polícia Rodoviária Federal, polícia administrativa por natureza, a atribuição para lavrar
TCO em casos de crime federal de menor potencial ofensivo.
Fixou-se a seguinte tese de julgamento: “O Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO)
não possui natureza investigativa, podendo ser lavrado por integrantes da polícia judiciária
ou da polícia administrativa”.
Fonte: STF EM FOCO – Boletim de Fevereiro de 2023. (Este não foi retirado de questão
de prova).

8.36 DENUNCIA ANÔNIMA

“É firme o entendimento deste Superior Tribunal de Justiça no sentido de que há ilegalidade


flagrante na instauração de inquérito policial, que não foi precedida de qualquer investigação
preliminar para subsidiar a narrativa fática da delação apócrifa”, RHC 139.242

A abertura de inquérito penal com base em informações obtidas por denúncia


anônima depende de investigação preliminar que subsidie as informações coletadas.
ASSERTIVA CORRETA: a denúncia anônima não tem valor jurídico a embasar a
instauração de inquérito policial.

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9. DIREITO ELEITORAL
9.1 ALFABETIZAÇÃO EM BRAILLE DE CANDIDATO DEFICIENTE VISUAL PARA FINS
DE PARTICIPAÇÃO NO PLEITO.

TSE, REspe n.º 234956:Alfabetização em braille de candidato deficiente visual para


fins de participação no pleito. EMENTA: RECURSO ESPECIAL. IMPUGNAÇÃO AO
REGISTRO DE CANDIDATURA. AUSÊNCIA. COMPROVANTE DE ESCOLARIDADE.
INDEFERIMENTO.
2. A participação de candidato em eleições anteriores não o exime de comprovar a sua
alfabetização, pois até mesmo "o exercício de cargo eletivo não é circunstância suficiente
para, em recurso especial, determinar-se a reforma de decisão mediante a qual o candidato
foi considerado analfabeto (Súmula 15/TSE)". 3. Não sendo suficiente o único documento
apresentado pelo candidato para demonstrar sua alfabetização, deve-se proceder de acordo
com a forma prevista na parte final do § 4º do art. 26 da Res.-TSE nº 23.405, a fim de permitir
que o candidato - se assim desejar - participe de teste individual e reservado para afastar
a dúvida sobre a sua alfabetização.
4. O teste de alfabetização não pode ser feito em condições que exponham o candidato
à situação vexatória e, na sua aplicação, não deve ser exigida a demonstração de
grande erudição ou completo domínio das normas técnicas da língua portuguesa,
bastando que se verifique, minimamente, a capacidade de leitura e de expressão do
pensamento por escrito.
5. Não cabe impor o comparecimento coercitivo do candidato ao teste, uma vez que a
parte não pode ser obrigada a produzir prova que eventualmente lhe seja
desfavorável. Entretanto, a oportunidade lhe deve ser assegurada, sem prejuízo de
sua eventual ausência ser interpretada no momento oportuno. Recurso especial
recebido como ordinário e provido, em parte, para o fim de determinar o retorno dos
autos à origem para que o candidato seja convidado a participar de teste de
alfabetização (TSE, REspe n.º 234956 - SÃO PAULO – SP, Relator: Min. Henrique Neves
da Silva, DJe. 23.09.2014).

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TSE, RO n.º 060247518 - DIREITO ELEITORAL E CONSTITUCIONAL. RECURSO


ORDINÁRIO. ELEIÇÕES 2018. INELEGIBILIDADE. ANALFABETISMO. DEFICIENTE
VISUAL. ART. 14, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA.
DIREITO FUNDAMENTAL À ELEGIBILIDADE. PROVIMENTO. (...)
3. Recursos ordinários em face de acórdão regional que indeferiu o pedido de registro
do candidato, deficiente visual, por considerar ausente a comprovação de
alfabetização em braille, embora tenha apresentado declaração de escolaridade de
próprio punho.
4. As causas de inelegibilidade, dentre as quais se inclui o analfabetismo previsto no art. 14,
§ 4º, da CF/1988, devem ser interpretadas restritivamente. Precedentes.
5. A interpretação do art. 14, § 4º, da CF/1988 não pode ignorar a realidade social
brasileira, de precariedade do ensino e de elevada taxa de analfabetismo, que alcança,
ainda, cerca de 7% da população brasileira. Interpretação rigorosa desse dispositivo,
além de violar o direito fundamental à elegibilidade e os princípios democrático e da
igualdade, dificultaria a ascensão política de minorias e excluiria importantes
lideranças do acesso a cargos eletivos.
6. A aferição da alfabetização deve ser feita com o menor rigor possível. Sempre que
o candidato possuir capacidade mínima de escrita e leitura, ainda que de forma
rudimentar, não poderá ser considerado analfabeto para fins de incidência da
inelegibilidade em questão. Precedentes.
7. Além disso, deve–se admitir a comprovação dessa capacidade por qualquer meio
hábil. O teste de alfabetização, contudo, somente pode ser aplicado: (i) sem qualquer
constrangimento; e (ii) de forma a beneficiar o candidato, suprindo a falta de
documento comprobatório, vedada a sua utilização para desconstituir as provas de
alfabetização apresentadas.
8. No caso, o candidato, com deficiência visual adquirida, comprovou sua
alfabetização por meio de declaração de escolaridade de próprio punho, firmada na
presença de servidor da Justiça Eleitoral. Ficou demonstrado, portanto, que possui
capacidade mínima de leitura e escrita.
9. Não há que se exigir alfabetização em braille de candidato deficiente visual para fins
de participação no pleito. Para promover o acesso das pessoas com deficiência aos
cargos eletivos, deve–se aceitar e facilitar todos os meios, formas e formatos
acessíveis de comunicação, à escolha das pessoas com deficiência.
Conclusão
10. Recurso a que se dá provimento para deferir o pedido de registro de candidatura. (TSE,
RO n.º 060247518 - SÃO PAULO – SP, Relator: Min. Luís Roberto Barroso, DJe. 18/09/2018).

9.2 AGENTES PÚBLICOS DOTADOS DE AUTONOMIA x ATO COMPLEXO x


CORRESPONSABILIDADE

TSE, de 28.6.2018, no RO nº 127239: os agentes públicos, dotados de autonomia, cujas


manifestações se revelam essenciais à validade e à concretude do ato complexo são
corresponsáveis pela conduta e devem figurar, ao lado do beneficiário, no polo
passivo, como litisconsortes necessários.

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EMENTA: ELEIÇÕES 2014. RECURSOS ORDINÁRIOS E AGRAVOS DE INSTRUMENTO.


APRECIAÇÃO CONJUNTA. VOTO ÚNICO. REPRESENTAÇÃO. CONDUTA VEDADA.
ART. 73, § 10, DA LEI Nº 9.504/97. SUBVENÇÃO SOCIAL. EMENDAS
PARLAMENTARES. PROCEDÊNCIA NO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL. MATÉRIA
PRELIMINAR DA DEFESA: NULIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. DECADÊNCIA. RECONHECIMENTO.
EXTINÇÃO COM RESOLUÇÃO DO MÉRITO DE CADA UM DOS FEITOS. PROVIMENTO.
2. A conduta apontada como vedada, nos termos do art. 73, § 10, da Lei nº 9.504/97,
decorre, in casu, de ato administrativo de natureza complexa, no qual distintos agentes
políticos, cada qual delimitado por sua competência funcional, sempre exercida com
autonomia, ex vi do regimento interno da casa legislativa, manifestam isoladamente a
sua vontade para, assim, somando-as, alcançar perfectibilidade no campo formal e
material.
3. Os agentes públicos, dotados de autonomia, cujas manifestações se revelam
essenciais à validade e à concretude do ato complexo são, via de regra,
corresponsáveis pela essência da conduta que dele emerge (inquinada, ainda que em
tese, de vedada). Nessa perspectiva, nas representações do art. 73 da Lei nº 9.504/97,
devem figurar, ao lado do beneficiário, no polo passivo, como litisconsortes
necessários.
4. O não chamamento desses atores, a tempo e modo, acarreta a nulidade dos atos
decisórios e inviabiliza, se ultrapassado o prazo decadencial (in casu, aquele
estabelecido pelo legislador no art. 73, § 12, da Lei das Eleições), a regularização (ou
repetição) processual, desaguando, com supedâneo no art. 487, II, do CPC, na
extinção do feito com resolução de mérito.
5. Provimento dos agravos e dos recursos ordinários. Preliminar de nulidade processual
acolhida. Decadência reconhecida. Extinção de todos os feitos com resolução de
mérito. (TSE, RO n.º 127.239 - ARACAJU – SE, Relator: Min. Luiz Fux, DJe. 19.09.2018).

9.3 PARTIDO POLÍTICO NÃO POSSUI LEGITIMIDADE PARA POSTULAR PEDIDO DE


SUSPENSÃO DE SEGURANÇA

STF sobre o tema: “Partido político não possui legitimidade para postular pedido de
suspensão de segurança, já que se trata de pessoa jurídica de direito privado, com
base na vedação legal disposta no art. 15 da Lei 12.016/2009”. STF. Tribunal Pleno, SL 1424
AgRg, Min. Luiz Fux (Presidente), julgado em 15/09/2021.

ASSERTIVA CORRETA: Eventual concessão de liminar em sede de mandado de segurança


não pode ser impugnada por meio de pedido de suspensão de segurança feito por partido
político, visto que este não possui legitimidade para postular o referido pedido.

9.4 REJEIÇÃO DE CONTAS PELO TCU

TSE - 2.2. EMENTA. ELEIÇÕES 2016. RECURSOS ESPECIAIS. REGISTRO DE


CANDIDATURA. CARGO. PREFEITO. DEFERIMENTO. ART. 1°, I, G, DA LC N° 64/90.
AFERIÇÃO DOS REQUISITOS. DIVERGÊNCIA QUANTO À OCORRÊNCIA DO DOLO.
REJEIÇÃO DE CONTAS PELO TCU ASSENTANDO A PRESENÇA DE ELEMENTO
VOLITIVO NA PRÁTICA DAS IRREGULARIDADES APURADAS. ACÓRDÃO DA
JUSTIÇA COMUM CONSIGNANDO AUSÊNCIA DO DOLO. CENÁRIO DE DÚVIDA
RAZOÁVEL OBJETIVA ACERCA DO ESTADO JURÍDICO DE ELEGIBILIDADE.
EXEGESE QUE POTENCIALIZE O EXERCÍCIO DO IUS HONORUM COMO CRITÉRIO
NORTEADOR DO EQUACIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA. INCIDÊNCIA DO
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PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. INELEGIBILIDADE NÃO CONFIGURADA.


CONDENAÇÕES DE SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS EM AÇÕES DIVERSAS.
IMPOSSIBILIDADE DE SOMA DOS PRAZOS DAS SANÇÕES POLÍTICAS PARA FINS
DE RECONHECIMENTO DE CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE. RECURSOS ESPECIAIS
A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O art. 1º, I, g, do Estatuto das Inelegibilidades reclama,
para a sua caracterização, o preenchimento, cumulativo, dos seguintes pressupostos fático-
jurídicos: (i) o exercício de cargos ou funções públicas; (ii) a rejeição das contas pelo
órgão competente; (iii) a insanabilidade da irregularidade apurada, (iv) o ato doloso de
improbidade administrativa; (v) a irrecorribilidade do pronunciamento que desaprovara; e (vi)
a inexistência de suspensão ou anulação judicial do aresto que rejeitara as contas. 2. O art.
1º, I, l, da Lei Complementar nº 64/90, pressupõe o preenchimento cumulativo dos seguintes
requisitos: (i) a condenação por improbidade administrativa, transitada em julgado ou
proferida por órgão colegiado, (ii) a suspensão dos direitos políticos, (iii) o ato doloso de
improbidade administrativa e (iv) a lesão ao patrimônio público e (v) o enriquecimento ilícito
[...] 9. Recursos especiais desprovidos (TSE, REspe nº 21321, rel. Min. Luiz Fux, DJ em 06.04.2017).

3) (competência para julgamento das contas do chefe do Poder Executivo)

A competência para processar e julgar as contas do chefe do Poder Executivo, após emissão
de parecer prévio do Tribunal de Contas é:

3.1) Presidente da República: Congresso Nacional;


3.2) Governador de Estado: Assembleia Legislativa;
3.3) Governador do Distrito Federal: Câmara Legislativa do DF; e
3.4) Prefeito: Câmara de Vereadores.

4) Exame da questão e identificação da resposta:


O parecer dado por tribunal de contas que rejeita as contas de atual mandatário do Poder
Executivo, segundo a jurisprudência consolidada do Tribunal Superior Eleitoral, não tem o
poder de impedir que este se candidate à reeleição ou concorra a outro cargo público.
É preciso que o parecer do órgão de contas seja confirmado, isto é, faz-se necessário
que o Poder Legislativo competente (Congresso Nacional em relação ao Presidente da
República, Assembleia Legislativa em relação a Governador de Estado, Câmara Legislativa
do Distrito Federal em relação a Governador do DF ou Câmara de Vereadores em relação
a prefeito) rejeite as contas do chefe do Poder Executivo.
Antes dessa decisão final do parlamento, a elegibilidade do Presidente da República, do
Governador de Estado ou do Distrito Federal ou do Prefeito, é mantida.

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10. DIREITO EMPRESARIAL

10.1 CONJUNTO-IMAGEM – “TRADE DRESS”

STJ: (...) A despeito da ausência de expressa previsão no ordenamento jurídico pátrio


acerca da proteção ao trade dress, é inegável que o arcabouço legal brasileiro confere
amparo ao conjunto-imagem, sobretudo porque sua usurpação encontra óbice na
repressão da concorrência desleal. Incidência de normas de direito de propriedade
industrial, de direito do consumidor e do Código Civil. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1677787/SC, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017.

ASSERTIVA CORRETA - A proteção do conjunto-imagem decorre da proteção da


propriedade intelectual e da vedação à concorrência desleal)

STJ: Para configuração da prática de atos de concorrência desleal derivados de imitação de


trade dress, não basta que o titular, simplesmente, comprove que utiliza determinado
conjunto-imagem, sendo necessária a observância de alguns pressupostos para
garantia da proteção jurídica:

a) ausência de caráter meramente funcional;

b) distintividade;

c) confusão ou associação indevida;

d) anterioridade de uso.

STJ. 3ª Turma. REsp 1943690-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
19/10/2021 (Info 715).

STJ: As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência


desleal e outras demandas afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação
judicial entre particulares, é inequivocamente de competência da Justiça estadual, já que
não afeta interesse institucional da autarquia federal. No entanto, compete à Justiça

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Federal, em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao


titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela provisória. STJ. 2ª Seção. REsp 1527232-
SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/12/2017 (recurso repetitivo) (Info 618).

10.2 RECUPERAÇÃO JUDICIAL

JURISPRUDÊNCIA EM TESE: O STJ na edição nº37, da jurisprudência em tese firmou o


seguinte entendimento:
Enunciado nº 4: Os institutos da recuperação judicial e da falência, a despeito de
instaurarem o juízo universal, não acarretam a atração das ações que demandam quantia
ilíquida - art. 6º, § 1º, da Lei n. 11.101/05.
OBS: No caso em tela as ações de danos morais não serão suspensão pelo
deferimento do processamento da recuperação judicial, justamente por tratar-se de
quantia ilíquida, continuaram tramitando normalmente até que se tenha o valor
apurado do crédito, e ocorra o trânsito em julgado.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL - O STJ na edição nº 37, da jurisprudência em tese firmou o


seguinte entendimento: Enunciado nº 4 - Os institutos da recuperação judicial e da falência,
a despeito de instaurarem o juízo universal, não acarretam a atração das ações que
demandam quantia ilíquida - art. 6º, § 1º, da Lei n. 11.101/05.
No caso em tela as ações de danos morais não serão suspensão pelo deferimento do
processamento da recuperação judicial, justamente por tratar-se de quantia ilíquida,
continuaram tramitando normalmente até que se tenha o valor apurado do crédito, e
ocorra o trânsito em julgado.
ASSERTIVA ERRADA: Ação de compensação por danos morais movida contra empresa
em recuperação judicial deve permanecer suspensa pelo prazo máximo de dois meses após
o transcurso do prazo de cento e oitenta dias de suspensão previsto na legislação falimentar.
(NÃO SERÃO SUSPENSAS).
Importante - STJ - REsp 1.992.192-SC – INFO 760 (06.12.2022): Recuperação Judicial -
VOTAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL PELOS CREDORES -
Recuperação judicial. Assembleia geral de credores. Credor que se abstém de votar.
Cômputo como voto positivo. Descabimento. Não composição do quórum de deliberação.
Equiparação a credor ausente.

Na apuração do resultado de votação em assembleia geral de credores, somente serão


computados os votos daqueles que efetivamente se manifestaram pela aprovação ou
rejeição do plano de recuperação, não se considerando a abstenção para qualquer
efeito.

TESE FIXADA: Na apuração do resultado de votação em Assembleia Geral de


Credores, somente serão computados os votos daqueles que efetivamente se
manifestaram pela aprovação ou rejeição do PRJ, não se considerando a abstenção
para qualquer efeito.”

Nessa hipótese, não se apresenta possível a aplicação do disposto no art. 111 do Código
Civil de 2002 que estabelece: "O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os
usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa", porquanto a
Lei n. 11.101/2005 impõe a necessidade de votação favorável da maioria dos credores,
ou seja, é imprescindível a declaração de vontade expressa favorável para a aprovação

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do plano de recuperação. O silencio não importa anuência, pois, conforme decisão da


4ª turma do STJ, NÃO SE CONSIDERA A ABSTENÇÃO PARA QUALQUER EFEITO. Não
é possível conferir-se uma interpretação extensiva ao artigo 45 da Lei n. 11.101/05 para
atribuir à abstenção a qualidade de voto "positivo (sim)", porquanto a lei de regência exige
a manifestação expressa e favorável dos credores, para efeito de aprovação do plano
recuperacional, sendo inviável a mera presunção de anuência. Por fim, ao credor que,
presente na assembleia geral, se abstém de votar, deve ser conferido o mesmo tratamento
dado ao credor ausente, ou seja, não pode compor o quorum de deliberação, seja pelo valor
do crédito seja pelo número de credores, pois a abstenção não pode influenciar no resultado
da deliberação pela aprovação ou rejeição da proposta.

10.3 FALÊNCIA

REsp 1.532.154/SC - "Com a apresentação do pedido de falência, abre-se oportunidade


para o devedor alegar como defesa alguma das hipóteses elencadas no art. 96 da Lei (que
constituem razões de direito relevantes a justificar o inadimplemento) ou efetuar o depósito
elisivo (art. 98, p. único), sendo-lhe facultado, ainda, requer, no prazo para contestação, sua
recuperação judicial (art. 95)." ASSERTIVA CORRETA: Acerca do efeito da apresentação
do pedido sobre o curso do procedimento pré-falimentar, é correto afirmar que a falência não
poderá ser decretada em razão da apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo
da contestação. (Art. 96, VII, Lei 11.101/05).

“Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será
decretada se o requerido provar: (...)

VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação,


observados os requisitos do art. 51 desta Lei; (...)”.

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11. DIREITO TRIBUTÁRIO


11.1 HABILITAÇÃO DOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS NA FALÊNCIA

STJ: O STJ entende, contudo, que esses dois dispositivos não proíbem que a Fazenda
Pública faça a habilitação dos créditos tributários na falência. Esses dispositivos
garantem ao ente público a prerrogativa de escolher entre receber o pagamento de
seu crédito pelo rito da execução fiscal ou mediante habilitação nos autos da
falência. Assim, muito embora o processamento e o julgamento das execuções fiscais não
se submetam ao juízo universal da falência, compete à Fazenda Pública optar por ingressar
com a cobrança judicial ou requerer a habilitação de seu crédito na ação falimentar. O
ajuizamento de execução fiscal em momento anterior à decretação da quebra do devedor
não enseja o reconhecimento da ausência de interesse processual do ente federado
para pleitear a habilitação do crédito correspondente no processo de falência. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.857.055-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Se a Fazenda Pública optar por habilitar o crédito na falência, ela deverá renunciar ao
rito da execução? NÃO.

A tramitação da ação executiva fiscal não representa, por si só, uma garantia para o credor.
Diante do pedido de habilitação do crédito na falência, não haverá obrigatoriedade de a
Fazenda Pública renunciar a execução fiscal se, no processo executivo, não há constrição
de bens. Logo, é cabível a coexistência da habilitação de crédito na falência com a
execução fiscal desprovida de garantia, desde que a Fazenda Pública se abstenha de
requerer a constrição de bens em relação ao executado que também figure no polo
passivo da ação falimentar. STJ. 1ª Turma. REsp 1.831.186-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/05/2020 (Info 674). STJ. 2ª Turma REsp 1866843-SP, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado 22/09/2020.

É possível a Fazenda Pública habilitar em processo de falência crédito tributário objeto de


execução fiscal em curso, mesmo antes da vigência da Lei nº 14.112/2020, e desde que
não haja pedido de constrição de bens no feito executivo. STJ. 1ª Seção. REsp 1872759-SP,
Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/11/2021 (Recurso Repetitivo - Tema 1092) (Info 718).

Vale ressaltar, contudo, que o processo de execução fiscal fica suspenso:

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É cabível o pedido de habilitação de crédito da Fazenda Pública na falência desde que


suspensa a execução fiscal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.872.153-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 09/11/2021 (Info 719).(Buscador).

A Lei nº 14.112/2020 acrescentou o art. 7º-A, corroborando o entendimento do STJ acima


explicado.

11.2 IMPOSSIBILIDADE DE QUESTIONAR COBRANÇA DE COSIP VIA ACP

TRIBUTÁRIO – STJ: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO.


INEXISTÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE PROCESSUAL CIVIL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COBRANÇA DE TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA.
ILEGITIMIDADE ATIVA. INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
NATUREZA TRIBUTÁRIA. 1. Os embargos de declaração são cabíveis quando houver no
acórdão ou sentença, omissão, contradição ou obscuridade, nos termos do art. 535, I e II,
do CPC, ou para sanar erro material. 2. Inocorrentes as hipóteses de omissão, contradição,
obscuridade ou erro material, não há como prosperar o inconformismo, cujo real objetivo é
a pretensão de reformar o decisum, o que é inviável de ser revisado em sede de embargos
de declaração, dentro dos estreitos limites previstos no artigo 535 do CPC.

3. In casu, é juridicamente impossível a propositura de ação civil pública, seja pelo


Ministério Público, seja por qualquer outra associação legitimada para tal, que tenha
como objeto mediato do pedido a Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação
Pública - COSIP, por ostentar natureza tributária.

4. O artigo 1º, § único da Lei de ação civil pública (Lei nº 7.347/85) dispõe que: "Não será
cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de
natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados. (Vide
Medida Provisória nº 2.180-35, de 24.8.2001)" (grifou-se) 5. A Contribuição para Custeio
do Serviço de Iluminação Pública - COSIP tem inequívoca natureza tributária, posto
encartada na definição de tributo do CTN, in verbis: "Art. 3º Tributo é toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua
sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada."

6. Embargos de Declaração parcialmente acolhidos apenas para esclarecer ser incabível a


propositura de ação civil pública por qualquer associação legitimada versando tema
tributário. (EDcl no REsp n. 729.399/SP, relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 3/5/2007, DJ
de 31/5/2007, p. 334.).

ASSERTIVA CORRETA: O serviço de iluminação pública é prestado a toda a


coletividade, e não se enquadra no conceito previsto no CDC por se encontrar fora do
mercado de consumo.

11.3 ICMS – SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA

ICMS - STF: É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias


e Serviços (ICMS) pago a mais no regime de substituição tributária para a frente se a base

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
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de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida (STF, Repercussão Geral, Tema 201) (STF,
RE n.º 593.849/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/10/2016);

QUESTÃO DO MPMG: Segundo o Supremo Tribunal Federal, nas hipóteses de substituição


tributária “para frente" (e não “para trás") ou progressiva (e não regressiva), o eventual
pagamento do ICMS referente a fato gerador que não se consumou, ou que se realizou com
base de cálculo a menor, é devida a compensação tributária ou repetição do indébito, nos
termos do Tema 201, da Repercussão Geral, do STF.

11.4 DESCONTOS INCONDICIONAIS X ICMS

STJ: Súmula STJ n.º 457. Os descontos incondicionais nas operações mercantis não se
incluem na base de cálculo do ICMS.
Constitui um dos fatos geradores do ICMS a entrada de bem ou mercadoria importados do
exterior por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto,
qualquer que seja a sua finalidade, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o
domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria, bem ou serviço, nos termos
do art. 155, § 2.º, inc. IX, alínea “a", da CF.
Nos termos do art. 155, § 2.º, incs. IV e V, alíneas “a" e “b", da CF, compete ao Senado
Federal fixar, por resolução, as alíquotas do ICMS nas operações interestaduais.
Também é facultado ao Senado Federal regular as alíquotas mínimas do ICMS nas
operações internas e as alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver conflito
específico que envolva interesse de Estados.
11.5 EXECUÇÃO FISCAL X PEDIDO DE HABILITAÇÃO DE CRÉDITO

STJ (Tema Repetitivo 1092): PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. EXECUÇÃO FISCAL. FALÊNCIA. FAZENDA
PÚBLICA. PEDIDO DE HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. POSSIBILIDADE.

1. A questão jurídica submetida ao Superior Tribunal de Justiça cinge-se à possibilidade da


Fazenda Pública apresentar pedido de habilitação de crédito no juízo falimentar objeto de
execução fiscal em curso, antes da alteração legislativa da Lei n. 11.101/2005 pela Lei n.
14.112/2020.

2. A execução fiscal é o procedimento pelo qual a Fazenda Pública cobra dívida


tributária ou não tributária, sendo o Juízo da Execução o competente para decidir a
respeito do tema.

3. O juízo falimentar, nos termos do que estabelece a Lei 11.101/2005, é "indivisível e


competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido,
ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido
figurar como autor ou litisconsorte ativo".

4. A interpretação sistemática dos arts. 5º, 29 e 38 da Lei n. 6.830/1980, do art. 187 do CTN
e do art. 76 da Lei n. 11.101/2005 revela que a execução fiscal e o pedido de habilitação de
crédito no juízo falimentar coexistem, a fim de preservar o interesse maior, que é a satisfação
do crédito, não podendo a prejudicialidade do processo falimentar ser confundida com falta
de interesse de agir do ente público.

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

5. Para os fins do art. 1.039 do CPC, firma-se a seguinte tese: "É possível a Fazenda
Pública habilitar em processo de falência crédito objeto de execução fiscal em curso,
mesmo antes da vigência da Lei n. 14.112/2020 e desde que não haja pedido de
constrição no juízo executivo".

6. Recurso especial provido. (REsp n. 1.872.759/SP, relator Ministro Gurgel de Faria,


Primeira Seção, julgado em 18/11/2021, DJe de 25/11/2021.) Ou seja, o enunciado é
corretamente completado pela letra D, ficando assim: Consoante a posição assumida
pelo Superior Tribunal de Justiça em sede de recursos repetitivos, em caso de abertura de
processo de falência de uma empresa que é ré em processo de execução fiscal, à fazenda
pública é facultado habilitar o respectivo crédito no processo de falência, desde que não haja
pedido de constrição no juízo executivo. O ponto chave aqui é que a Fazenda Pública
pode, então, escolher se quer usar o rito da Lei de execução fiscal ou não (lei 6.080/80).
Ela pode ir atrás de seu crédito, via LEF ou via habilitação em um processo de falência.

11.6 DESCAMINHO E PENA DE PERDIMENTO

INFRAÇÃO ADUANEIRA. DESCAMINHO. VEÍCULO TRANSPORTADOR. PENA DE


PERDIMENTO. JUÍZO DE COGNIÇÃO SUMÁRIA. ALEGAÇÃO DE BOA-FÉ. ANÁLISE
EXAURIENTE A SER REALIZADA NA SENTENÇA. ÕNIBUS DE TURISMO.
FRETAMENTO. TEMA 1041 DO STJ.1. Agravo de instrumento no qual a alegação de
boa-fé do proprietário do veículo transportador de mercadoria descaminhada, ante o
confronto com as informações constantes no feito, deve ser objeto de análise
exauriente a ser realizada na sentença.2. Tratando-se de ônibus de turismo fretado, a
matéria discutida encontra-se afetada ao rito dos recursos especiais repetitivos, com
determinação de suspensão do processamento de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem acerca da questão delimitada e tramitem no
território nacional (DJe de 17/12/2019), tendo sido delimitada a questão no Tema
1041/STJ.
Obs.: Em 13.02.23 o Min. Alexandre de Moraes pediu o destaque do processo que foi
deferido e publicado em 22.03.23. (fonte: site STF)

11.7 ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING).

AÇÃO ANULATÓRIA. STJ ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING). APREENSÃO DE


VEÍCULOS ARRENDADOS E DE MERCADORIAS DE ORIGEM ESTRANGEIRA
CONTRABANDEADAS. PENA DE PERDIMENTO. POSSIBILIDADE. A jurisprudência atual
do e. Superior Tribunal de Justiça é dominante no sentido de permitir a aplicação da
sanção de perdimento de veículo automotor objeto de alienação fiduciária
ou arrendamento mercantil (leasing), independentemente da valoração sobre a boa-fé
do credor fiduciário ou arrendante, fincado no artigo 123 do CTN, de que as convenções
particulares não são oponíveis ao Fisco. Precedentes: (AgInt no REsp n. 1.692.944/MS,
Relator Ministro Sérgio Kukina, DJe de 1/7/2020; AgInt no REsp n. 1.726.032/MS, Relator
Ministro Gurgel de Faria, DJe de 27/3/2020;;AgInt no REsp n. 1.827.362/MS, Relator Ministro
Francisco Falcão, DJe de 10/3/2020; e REsp n. 1.648.142/MS, Rel. Ministro Francisco
Falcão, Segunda Turma, julgado em 6/6/2017, DJe 13/6/2017.
Esse entendimento é perfeitamente compatível com o enunciado da Súmula n. 138, do
extinto TFR ("A pena de perdimento de veículo utilizado em contrabando ou descaminho
somente é aplicada se demonstrada a responsabilidade do proprietário na prática do delito"),

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

pois tal se dá porque esse enunciado aplica-se em situação onde o direito de propriedade
invocado produz efeitos contra a Fazenda Pública, diferente da situação em discussão.
Apelação improvida. (TRF 3ª Região, 4ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 0004922-
15.2011.4.03.6100, Rel. Desembargador Federal MARLI MARQUES FERREIRA, julgado em 22/09/2022,
DJEN DATA: 28/09/2022).

11.8 BASE DE CÁLCULO DO ITBI

ITBI - STJ - Recurso Repetitivo – Tema 1113 (TESE FIRMADA)


a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de
mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser
utilizada como piso de tributação;
b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é
condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante
a regular instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN);
c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em
valor de referência por ele estabelecido unilateralmente (STJ. 1ª Seção, REsp. 1937821/SP, Rel.
Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/02/2022).

ASSERTIVA ERRADA: a apuração do valor venal do imóvel ocorre da mesma forma no


ITBI e no IPTU. (NÃO OCORRE – ITEM “A” DO JULGADO) – (FGV -TJPE/22).

TRIBUTARIO – STF – ICMS – REPERCUSSÃO GERAL - São inconstitucionais leis


estaduais que preveem a incidência do ICMS sobre a operação de extração de petróleo e
sobre a operação de circulação de petróleo desde os poços de extração até a empresa
concessionária (STF. Plenário. ADI 5481/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2021);
4.2) EMENTA: Recurso extraordinário com agravo. Direito Tributário. Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Deslocamento de mercadorias.
Estabelecimentos de mesma titularidade localizados em unidades federadas distintas.
Ausência de transferência de propriedade ou ato mercantil. Circulação jurídica de
mercadoria. Existência de matéria constitucional e de repercussão geral. Reafirmação da
jurisprudência da Corte sobre o tema. Agravo provido para conhecer em parte do
recurso extraordinário e, na parte conhecida, dar-lhe provimento de modo a conceder a
segurança. Firmada a seguinte tese de repercussão geral: Não incide ICMS no
deslocamento de bens de um estabelecimento para outro do mesmo contribuinte
localizados em estados distintos, visto não haver a transferência da titularidade ou a
realização de ato de mercancia (STF, RE com Agravo n.º 1.255.885/MS, DJU em 14.08.2020).
ASSERTIVA CORRETA: ENUNCIADO: Lei do Estado Alfa de julho de 2021 estabeleceu
que o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incide sobre operação
de circulação de petróleo ou gás natural desde os poços de sua extração para a empresa
concessionária, determinando que o fato gerador ocorre imediatamente após a extração do
petróleo ou gás natural, quando estes, provenientes da jazida, passarem pelos Pontos de
Medição da Produção instalados pela empresa concessionária. RESPOSTA - tal operação
de circulação de petróleo ou gás natural não constitui circulação de mercadoria para fins
de incidência de ICMS. (FGV - TJPE22)

11.9 OS ESTADOS NÃO PODEM CRIAR LEIS PARA TRIBUTAR AS DOAÇÕES E


HERANÇAS DE BENS NO EXTERIOR

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“JURISPRUDÊNCIA EM PROVAS”
@graceliamenezes

STF - REPERCUSSÃO GERAL – ITCMD - Os Estados não podem criar leis para tributar
as doações e heranças de bens no exterior, sob pena de violação do artigo 155, § 1º,
inciso III, da Constituição Federal, que exige lei complementar para regular esta cobrança
(STF, Tema 825, Repercussão Geral).

12. AMBIENTAL
12.1 MEDIDAS ADMINISTRATIVAS NECESSÁRIAS À CORRETA GESTÃO DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS

STJ: O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que a Administração


Pública adote medidas assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como
essenciais, sem que isso configure violação do princípio da separação de poderes. STF. 1ª
Turma. RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013 (Info 726).

ASSERTIVA CORRETA: A obrigação do Município em adotar as medidas


administrativas necessárias à correta gestão dos resíduos sólidos no âmbito do seu
território é passível de controle pelo Judiciário.

12.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Para o Superior Tribunal de Justiça, o ente federado que se omite em seu dever de fiscalizar
e preservar o meio ambiente pode ser considerado como poluidor indireto), o que ensejaria
responsabilidade civil objetiva. Vale ressaltar que se trata de responsabilidade civil, não
cabendo responsabilidade penal ou administrativa resultante da omissão estatal.
Jurisprudência em teses nº 30 - Tese 8: Em matéria de proteção ambiental,
há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de cumprimento adequado do
seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento do dano
causado. (Cebraspe – TJPA 2019)
Jurisprudência em teses nº 30 - Tese 8: Em matéria de proteção ambiental,
há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de cumprimento adequado do
seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento do dano
causado.

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