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TURMA 9
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Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 9
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – CONTINUAÇÃO DE FATO TÍPICO, TEORIA DO TIPO, ITER CRIMINIS,
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA, DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E ARREPENDIMENTO
POSTERIOR, CRIME IMPOSSÍVEL ....................................................................................................................... 9
1. CONTINUAÇÃO DOS ELEMENTOS DO FATO TÍPICO ...................................................................................... 9
2. CONCAUSAS ................................................................................................................................................. 21
3. TEORIA DO TIPO........................................................................................................................................... 27
3.1 Funções do Tipo Penal .......................................................................................................................... 28
3.2 Estrutura do Tipo Penal ......................................................................................................................... 28
3.3 Classificações do Tipo Penal .................................................................................................................. 29
3.3.1 Tipo Normal X Anormal.................................................................................................................. 29
3.3.2 Tipo Congruente X Tipo Incongruente ........................................................................................... 29
3.3.3 Tipo Simples X Tipo Misto .............................................................................................................. 30
3.3.4 Tipo Fechado (Cerrado) X Tipo Aberto .......................................................................................... 30
3.3.5 Tipo Preventivo .............................................................................................................................. 30
3.3.6 Tipo Penal Doloso X Culposo X Preterdoloso................................................................................. 31
4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA....................................................................................................................... 44
4.1 Consumação .......................................................................................................................................... 44
5700
4.1.2 Iter Criminis.................................................................................................................................... 45
4.2. Tentativa (= conatus, crime imperfeito, crime incompleto) ................................................................ 49
5. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ ........................................................................... 54
6. ARREPENDIMENTO POSTERIOR ...................................................................................................................
5700 58
7. CRIME IMPOSSÍVEL (ART. 17, CPC) .............................................................................................................. 63
META 2 ............................................................................................................................................................ 68
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ............................................................. 68
1. OBJETO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA .................................................................................................. 68
2. NATUREZA JURÍDICA DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ............................................................................ 68
3. COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS DE QUALQUER NATUREZA ........................................................................ 71
4. QUEBRA DO SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS ............................................................................................. 72
5. QUEBRA DE ERB ........................................................................................................................................... 74
6. MOMENTO DE DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ................................................................ 77
7. DA NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO. ...................................................................................................... 79
8. REQUISITOS PARA A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA: ................................................................................... 80
9. SIGILO PROFISSIONAL DO ADVOGADO ....................................................................................................... 86
10. ENCONTRO FORTUITO DE ELEMENTO PROBATÓRIO EM RELAÇÃO A OUTROS FATOS DELITUOSOS
(SERENDIPIDADE): ........................................................................................................................................... 87
11. PROCEDIMENTO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA .................................................................................. 89
11.1 Fundamentação da decisão judicial: ................................................................................................... 89
11.2. Duração da interceptação .................................................................................................................. 90
12. EXECUÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ........................................................................................... 94
13. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E AUTORIDADES COM FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO .............. 97
14. INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES AMBIENTAIS ............................................................................... 97
14.1 Cláusula de Reserva de Jurisdição ..................................................................................................... 101
14.2 Captação Ambiental Clandestina e Figura Criminosa Respectiva ..................................................... 101
14.3 Causa de Ausência de Tipicidade ...................................................................................................... 103
DIREITO PROCESSUAL PENAL: JUIZ DAS GARANTIAS .................................................................................... 108
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 108
2. DA DISCIPLINA NORMATIVA ...................................................................................................................... 112
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2.1 Vedação ao atuar de ofício do juiz na fase pré-processual e a revogação tácita do Art. 20 da L.11340/06
...................................................................................................................................................................
5700 112
3. DA COMPETÊNCIA DO JUIZ DAS GARANTIAS ............................................................................................ 116
4. REGRAS COMPLEMENTARES: .................................................................................................................... 126
META 3 .......................................................................................................................................................... 128
DIREITO PROCESSUAL PENAL: AÇÃO PENAL.................................................................................................. 128
1. PRETENSÃO PUNITIVA ............................................................................................................................... 129
2. AÇÃO PENAL .............................................................................................................................................. 130
2.1 Direito de Ação .................................................................................................................................... 130
2.2 Condições da Ação .............................................................................................................................. 132
2.2.1 Conceito ....................................................................................................................................... 132
2.2.2 Condições genéricas .................................................................................................................... 133
2.2.3 Condições Específicas da Ação .................................................................................................... 140
3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL ..................................................................................................................... 146
3.1 Princípios Comuns da Ação Penal Pública e Privada ........................................................................... 146
3.2 Princípios da Ação Penal Pública ......................................................................................................... 146
3.3 Princípios da Ação Penal Privada ........................................................................................................ 152
4. AÇÃO PENAL PÚBLICA ............................................................................................................................... 156
4.1 Ação Penal Pública Incondicionada ..................................................................................................... 156
4.2 Ação Penal Pública Condicionada ....................................................................................................... 158
4.2.1 Ação Penal Pública Condicionada à Representação do Ofendido ............................................... 158
4.2.2 Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça....................................... 162
4.2.3 Ação Penal Pública Subsidiária da Pública ...................................................................................
5700 162
5. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA ....................................................................................................... 163
5.1 Ação Penal Privada Personalíssima ..................................................................................................... 164
5.2 Ação Penal Privada Exclusiva ou Propriamente Dita .......................................................................... 165
5.3 Ação Penal Privada Subsidiária da Pública ou Acidentalmente Privada ou Supletiva ........................ 165
6. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DA AÇÃO PENAL ............................................................................................... 169
6.1 Ação Penal Adesiva ............................................................................................................................. 169
6.2 Ação Penal Popular ............................................................................................................................. 170
6.3 Ação Penal Secundária ........................................................................................................................ 170
6.4 Ação de Prevenção Penal .................................................................................................................... 171
7. DENÚNCIA E QUEIXA CRIME ...................................................................................................................... 171
8. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (Lei 13.964/19) ........................................................................... 181
8.1 Conceito .............................................................................................................................................. 181
8.2 Requisitos, Condições e Vedações ...................................................................................................... 184
8.3 Procedimento do Acordo de Não Persecução Penal .......................................................................... 187
9. AÇÃO CIVIL EX DELICTO ............................................................................................................................. 192
9.1 Execução Civil ex delicto (art. 63, CPP) X Ação Civil ex delicto (art. 64, CPP) ...................................... 193
9.2 Legitimados ativos para propor a ação civil ........................................................................................ 194
9.3 Indenização na sentença condenatória .............................................................................................. 194
9.4 Efeitos civis da sentença absolutória .................................................................................................. 195
META 4 .......................................................................................................................................................... 200
DIREITO CONSTITUCIONAL: TEORIA DA CONSTITUIÇÃO ............................................................................... 200
1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO ................................................................................................................... 200
1.1 Concepções do Conceito de Constituição ........................................................................................... 201
2. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ....................................................................................................... 207
3. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO ................................................................................................................ 213
4. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO: CONSTITUCIONALISMO E NEOCONSTITUCIONALISMO ...................... 215
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ATENÇÃO
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META 1
⦁ Art. 13, caput e §1º, CP (muito, muito, muito importante! Não vá para a prova sem ter este artigo
decorado na ponta da língua!)
⦁ Art. 15 a 17, CP 5700
Vimos anteriormente que o fato típico é composto por 4 elementos: conduta, resultado, nexo causal
e tipicidade, sendo que “conduta” já estudamos. Vamos ao restante:
I – CONDUTA
Visto na parte anterior.
II – RESULTADO:
É consequência da conduta do agente.
“Resultado” é a terminologia mais utilizada no Brasil, mas alguns doutrinadores usam o termo
“evento”. Existem duas importantes classificações. Uma delas baseia-se no resultado naturalístico ou
material e a outra, no resultado jurídico ou normativo:
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✔ Crime Material: O tipo penal descreve conduta e resultado naturalístico. E esse resultado
naturalístico é indispensável para a consumação. Ex. homicídio;
✔ Crime Formal ou Crime de consumação antecipada: O tipo penal descreve que a simples prática da
conduta já é suficiente para a consumação do crime. Sendo assim, o resultado naturalístico é
dispensável para consumação; é mero exaurimento do crime. O crime se consuma com a conduta
(por isso é chamado de consumação antecipada). Ex. Extorsão. O exaurimento do crime é
importante: (i) na aplicação da pena e, (ii) serve como limite temporal para o ingresso de coautor ou
partícipe (parte da doutrina – Cirino,
5700 Nilo Batista)
✔ Crime de mera conduta: O tipo penal descreve uma mera conduta, sem resultado naturalístico
5700
descrito no tipo e a realização da conduta vai gerar a consumação. Ex. violação de domicílio, omissão
de socorro.
DICA DD! Alguns autores afirmam que o tipo penal nos crimes formais é incongruente, porquanto descreve
conduta e resultado, mas se contenta com aquela para que ocorra a consumação, vale dizer, exige menos do
que aquilo que está escrito na norma penal.
● Jurídico/Normativo: Lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. É a transgressão da lei penal.
Presente em todos os crimes.
“Mas calma aí, então há crime sem resultado?” Sem resultado naturalístico sim. Mas todo e qualquer
crime terá resultado jurídico.
Dogmaticamente, a teoria jurídica é a mais acolhida pela doutrina penal. Há crime sem resultado? De acordo
com a teoria naturalística, isso ocorre nos crimes de mera conduta. Para a teoria jurídica, não há crime sem
resultado jurídico, de modo que, se a conduta não provocou uma afetação (lesão ou ameaça de lesão) a
algum bem jurídico penalmente tutelado, não houve crime.
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o Crime de Dano (ou lesão): A consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico. Ex. Homicídio.
o Crime de Perigo: A consumação se dá com a exposição do bem jurídico a uma situação de perigo.
a) Crime de Perigo Abstrato
⦁ Perigo advindo da conduta é absolutamente presumido por lei.
⦁ Basta a acusação comprovar a conduta
⦁ Ex.: todos os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento são crimes de Perigo Abstrato
⦁ O perigo advindo da conduta deve ser comprovado (se aproxima do crime de perigo
concreto)
⦁ Dispensa o risco para a pessoa certa e determinada (se aproxima do crime de perigo abstrato)
Nexo de causalidade é a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado material do delito.
Em outras palavras: É o vínculo entre conduta e resultado.
O estudo da causalidade busca concluir se o resultado naturalístico, como um fato, decorreu da ação
e se pode ser atribuído objetivamente ao sujeito passivo, motivo pelo qual só tem relevância nos crimes
materiais. Nos crimes de mera conduta não há resultado naturalístico. Nos crimes formais, o resultado é
irrelevante para a consumação, por se tratar de mero exaurimento do crime, nos crimes omissivos, prevalece
que o nexo causal é normativo, realizado por meio de uma norma que que liga o resultado a conduta do
agente, aquela que prevê o dever jurídico de agir.
O CP utilizou a expressão “relação de causalidade” (art. 13).
a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido.
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TEORIAS QUE BUSCAM EXPLICAR A RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO ENTRE A CONDUTA E O RESULTADO:
Segundo essa teoria, causa é toda e qualquer ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido (há aqui uma generalização, em que todas as causas teriam igual valor);
Para identificar se algo foi causa, utiliza-se o método de eliminação hipotética de Thyrém. Deve o
aplicador do direito eliminar hipoteticamente a conduta e analisar se o resultado desaparece ou subsiste.
O processo de eliminação hipotética se baseia na conceituação de que causa é todo fato que, que se for
eliminado no campo da suposição, leva á exclusão do resultado.
5700
Caso o resultado desapareça com a eliminação da conduta, esta será considerada como causa.
Assim, para considerarmos que determinado fato realmente deu causa ao resultado, é preciso que
façamos um exercício mental de eliminação hipotética dos antecedentes causais:
1 - Devemos determinar o fato que influenciou o resultado
2 - Devemos SUPRIMIR mentalmente esse fato da cadeia causal
3 - Se, como consequência dessa supressão mental, o resultado vier a se modificar, significa que o fato
suprimido deve ser considerado como causa desse resultado.
Ex.: João, intencionalmente, ateia fogo na casa de Maria com ela dentro, de modo que esta venha a
óbito. Se eliminarmos a conduta de João a morte de Maria teria ocorrido? Então a conduta dele foi
causa.
Ex.: A tem ideia para cometer um crime. Fala com B e B o instiga. C empresta a arma sabendo que
era para matar D (auxílio material). A acaba matando B com as próprias mãos (sem o uso da arma de fogo
emprestada).
⦁ A → quer matar
⦁ B → instiga para ele matar mesmo
⦁ C → empresta a arma de fogo
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Na investigação da relação de causalidade, temos que eliminar hipoteticamente cada uma das
condutas para saber qual delas deu causa ao resultado. 5700
Crítica: A teoria dos antecedentes causais gera um grande inconveniente apontado pela Doutrina:
Permite o regresso “ad infinitum”.
Se formos regressando cada vez mais no tempo e eliminando condutas que geraram outras, por
exemplo, chegaríamos ao ponto de que se a mãe de João não tivesse dado à luz a ele, ele não teria existido
e nem causado a morte de Maria. Assim, essa conduta teria sido causa, o que é bizarro. Então esse regresso
deve ser feito somente até onde há relevância, analisando não só a causalidade física, como a causalidade
psíquica/subjetiva, verificando dolo/culpa.
A Teoria da causalidade Adequada veio para limitar o nexo causal nos desdobramentos causais
extraordinários produzidos pelas concausas relativamente independentes. Ou seja: veio limitar esse regresso
ao infinito promovido pela Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais
☞ Adotada como exceção, no §1º, para concausa relativamente independente que por si só
produziu o resultado.
Por essa teoria, são consideradas apenas as circunstâncias indispensáveis/idôneas/eficazes à
produção do resultado, capazes de causá-lo quando e como ele ocorreu;
Aqui, utiliza-se para a análise um juízo de probabilidade/estatístico, avaliando aquilo que
normalmente acontece como desdobramento natural de uma conduta, e excluindo os fatos inidôneos e
improváveis.
Ex.: A atira em B e B morre por causa de uma infecção hospitalar no ferimento:
⦁ Pela Teoria dos Antecedentes Causais → se retirarmos o disparo ela não morre, logo disparo
é causa do resultado.
⦁ Pela Teoria da Causalidade adequada → tem que analisar a conduta e perceber quais são
seus desdobramentos estatísticos prováveis, e verificar se eles estão compatíveis com o
resultado. Quem atira em alguém, acaba produzindo estatisticamente uma morte por
infecção hospitalar no ferimento.
⦁ Entretanto, se ele morre porque está em uma ambulância que bate em um carro, o disparo
de arma de fogo não causa o risco estatístico de morte por acidente de ambulância. Por isso,
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a causa disparo de arma de fogo não é adequada ao resultado morte por acidente de
trânsito.
Segundo o autor Claus Roxin, só é causa uma conduta que possui uma tendência geral a produzir o resultado
típico, enquanto as condições que, por mera causalidade houverem provocado o resultado são juridicamente
irrelevantes. Essa teoria elimina resultados extravagantes, como o citado acima da morte
5700por acidente de
O nexo de causalidade não se afere por meio da simples eliminação hipotética, mas por intermédio de um
juízo de prognose póstuma objetiva. O conhecimento das causas e condições, no caso concreto, deve se
realizar por meio de um prognóstico (previsão do que poderia acontecer) póstumo (realizado
posteriormente), sob a perspectiva objetiva, terceiro observador. Em outras palavras, para se verificar a
relação de causalidade entre conduta e resultado, deve-se analisar se, no momento da conduta, o resultado
se afigurava como provável ou possível, segundo um prognóstico capaz de ser realizado por uma pessoa
mediana.
A IMPUTAÇÃO OBJETIVA se insere na TIPICIDADE OBJETIVA → vai verificar se vai imputar aquele
comportamento ou resultado (a depender da teoria adotada), antes mesmo de analisar o dolo e culpa.
Ou seja: o caminho é: praticou uma conduta → 1º deve-se verificar se há nexo pela conditio sine qua
non? → SE SIM → AGORA SIM VAMOS VERIFICAR A IMPUTAÇÃO OBJETIVA.
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A teoria da imputação objetiva requer que a conduta do agente represente um risco proibido ao bem jurídico
tutelado, risco esse que deve ter sido produtor do resultado.
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A solução encontrada pelo finalismo para evitar o regresso ao infinito gerado pela causalidade simples foi
delimitá-la por intermédio do dolo e da culpa (causalidade subjetiva). Já para Claus Roxin: os problemas de
imputação não devem ser resolvidos nos tipos subjetivos, dolo ou culpa, mas dentro do tipo objetivo (por
isso a imputação é objetiva). Em outras palavras, para a teoria da imputação objetiva a solução para a
causalidade deve decorrer no tipo objetivo sem perquirir o tipo subjetivo dolo ou culpa. O autor acrescenta
ao nexo físico, a causalidade normativa, isto é, nexo normativo. Portanto a análise deve seguir as seguintes
etapas: 1-teoria da equivalência dos antecedentes conjugada com a eliminação hipotética de thyrém
(causalidade objetiva) 2-imputação objetiva. 3-dolo ou culpa (causalidade subjetiva).
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→ Caso concreto citado por Roxin e Jakobs: João deseja a morte de seu tio, Pedro. Para isso, ele
convence Pedro a andar de avião frequentemente, rezando para que o avião caia. Nesse caso,
embora ele queira a morte da pessoa (ele tem o dolo, porque ele quer), ele não responde por
homicídio, caso o avião caia e Pedro morra, porque não há a criação ou incremento de um risco
não permitido.
→ Dirigir com velocidade muito acima do permitido é um risco proibido que dá causa à imputação do
resultado.
5700
Ex.: Se ele atropelar alguém em razão do excesso de velocidade, haverá imputação do resultado
morte. No entanto, se constatar que mesmo trafegando na velocidade permitida o atropelamento teria
ocorrido, significa que o risco incrementado (excesso de velocidade) não eliminou o resultado morte advindo
do atropelamento, pois o acidente ocorreria da mesma maneira.
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* Obs.: Em ambos a vítima se coloca no perigo, a diferença é quem gera o risco/quem tem o domínio sobre
o risco/quem realiza efetivamente a situação arriscada.
Günther Jakobs também tem sua vertente da imputação objetiva, porém, menos discutida na
doutrina.
Considerações importantes:
(1) A Imputação objetiva de Jakobs é DO COMPORTAMENTO (E não do resultado)
(2) A ideia central é a ideia de PAPÉIS SOCIAIS/EXPECTATIVAS – Em uma sociedade complexa, cada
pessoa tem seu papel na sociedade.
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5700
Requisitos para a exclusão da imputação (se presente algum deles, não há imputação):
(3) PROIBIÇÃO DE REGRESSO (autoexplicativo – e traz a mesma ideia, só tem relevância regressar
até onde há violação do papel social)
Se determinada pessoa atuar de acordo com limites de seu papel social, sua conduta, mesmo que
contribuindo para o sucesso da infração penal levada a efeito pelo agente, não lhe poderá ser imputada.
Ex.: O autor compra uma peça de pão para envenená-lo e matar alguém. Mesmo que o padeiro
soubesse da finalidade ilícita do agente ao comprar o pão, não poderia responder pela infração penal, pois
a atividade de vender pães, seja qual for a sua utilização, consiste no papel social de padeiro. Dessa forma,
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como o padeiro estava atuando dentro do limite do seu papel social, não lhe pode ser imputado o
comportamento criminoso de outrem.
CONCLUSÃO: Ambas as vertentes (Imputação de Roxin e de Jakobs) buscam a mesma coisa: definir
5700
objetivamente a relação de causalidade. A “diferença”, é o sentido que cada um deu à sua teoria. E aqui,
lembremos do que estudamos sobre o funcionalismo de cada um. Enquanto para Roxin não haverá nexo
causal se não foi violado ou ameaçado aquilo que o ordenamento jurídico buscava proteger (para ele a função
do DP é proteger bens jurídicos), para Jakobs não existirá o nexo causal e não será crime se o agente não
tiver violado seu papel na sociedade (para ele a função
5700 do DP é assegurar o império da norma). Tema
bastante interessante para uma discursiva!
Vamos de tabelinha?
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Juris relevante: É inepta denúncia que impute a prática de homicídio na forma omissiva imprópria quando
não há descrição clara e precisa de como a acusada – médica cirurgiã de sobreaviso – poderia ter impedido
o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção do não comparecimento da denunciada à unidade
5700
hospitalar, quando lhe foi solicitada a presença para prestar imediato atendimento a paciente que foi a óbito.
De igual modo, é também inepta a denúncia que, ao descrever a conduta da acusada como sendo dolosa, o
faz de forma genérica, a ponto de ser possível enquadrá-la tanto como culpa consciente quanto como dolo
5700
eventual. STJ. 6a Turma. RHC 39.627-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 8/4/2014.
Quando se imputa a alguém CRIME COMISSIVO POR OMISSÃO (art. 13, § 2o, “b”, do CP), é necessário que
se demonstre o NEXO NORMATIVO (também chamado de NEXO DE EVITAÇÃO) entre a conduta omissiva
e o resultado normativo, porque só se tem por constituída a relação de causalidade se, baseado em
elementos empíricos, for possível concluir, com alto grau de probabilidade, que o resultado não ocorreria se
a ação devida fosse efetivamente realizada. Na hipótese em foco, a denúncia não descreveu com a clareza
necessária qual foi a conduta omitida pela denunciada que teria impedido o resultado morte, com
probabilidade próxima da certeza. (Via Dizer o Direito)
Como foi cobrado: (PC-AC – Delegado – 2017) Sobre causalidade e imputação objetiva, assinale a resposta
correta.
A – Para a teoria da imputação objetiva em Roxin. não há riscos juridicamente irrelevantes em ações dolosas.
Errada. Para ele, se não há risco juridicamente relevante não deve incidir o direito penal.
B – A teoria da equivalência dos antecedentes, adotada no Código Penal, é abolida pela imputação objetiva,
que renega a existência de uma causalidade natural.
Errada. Nem foi abolida, vez que a imputação objetiva complementa, nem há renegação por esta da
causalidade natural, mas apenas impõe limites a esta.
C – A teoria da conditio sine qua non tem como consequência o regresso ad infinitum na análise dos
antecedentes causais, o que pode ser evitado, entre outras análises, pela imputação objetiva.
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2. CONCAUSAS
O resultado, não raras vezes, é feito de pluralidade de comportamentos, associação de fatores, entre
os quais a conduta do agente aparece como seu principal (mas não único) elemento desencadeante.
Nesse sentido, concausas consiste na pluralidade de causas concorrendo para o mesmo evento.
As concausas podem ser:
☠ As espécies de concausas foram objeto da prova oral do MPMG em 2020!
o Dependentes: Não são capazes de produzir, por si só, o resultado. Precisam da conduta do agente e,
por isso, não excluem a relação de causalidade;
5700
o Independentes: Capazes de produzir, por si só, o resultado, ou seja, não dependem da conduta do
agente. Podem ser absolutas ou relativas, como veremos à 5700
frente.
▪ Concausa absolutamente independente: Ocorre quando há uma concausa capaz de produzir por si
só o resultado e que NÃO se origina da conduta do agente. É totalmente desvinculada, motivo pelo
qual ocorre a EXCLUSÃO DA IMPUTAÇÃO DAQUELE RESULTADO (deixa de ser causa, exclui o nexo e
responde por tentativa.
Pode ser:
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⦁ Que exclui a imputação do resultado morte – Pois não foi o disparo de arma de fogo que
causou a morte. Retirando o disparo de arma de fogo do processo causal, a morte ocorreria
como ela ocorreu? SIM! A vítima morreria do mesmo jeito: envenenada.
Aqui, “A” responderia por tentativa de homicídio e “C” por homicídio consumado
(b) Absolutamente independente concomitante: é aquela que ocorre ao mesmo tempo que a conduta
do agente – Seguindo o exemplo anterior, ‘A’ alveja
5700
‘B’ com disparo de arma de fogo, mas ‘B’ morre
em razão de traumatismo craniano por um tijolo de um prédio que ao mesmo tempo da conduta de
A caiu e atingiu a sua cabeça
⦁ Causas absolutamente independentes → pois um disparo não tem nada a ver com o
traumatismo craniano.
⦁ Como o resultado foi causado pelo traumatismo, exclui-se o resultado morte de ‘A’, que
responde por homicídio tentado.
(c) Absolutamente independente superveniente: ‘A’ causa efetiva é posterior à conduta do agente.
Ex.: ‘A’ coloca veneno na comida de ‘B’. Antes que o veneno cause a morte de ‘B’, ‘C’ entra na casa
dele e o mata com um tiro.
⦁ O tiro é uma causa absolutamente independente → mesmo sem o envenenamento, ele teria
morrido de qualquer jeito pelo disparo efetuado por ‘C’.
⦁ ‘A’ só responde pela tentativa de homicídio, justamente porque, por causas alheias à sua
vontade, ‘B’ morreu pelo disparo de tiro, e não pelo veneno como ele queria.
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A concausa absolutamente independente, por produzir por si só o resultado, rompe o nexo causal
entre o resultado e a conduta do agente, fazendo com que este responda apenas pelo crime na modalidade
TENTADA. Adotou-se aqui a regra geral do artigo 13 do CP, teoria da conditio sine qua non.
Podem ser:
Causas relativamente independentes não excluem a imputação. Logo, o indivíduo que desferiu as facadas
deve responder pelo resultado morte.
(b) Relativamente independente concomitante: ocorre ao mesmo tempo que a conduta do agente. Ex.:
‘A’, objetivando matar ‘B’, efetua disparo de arma de fogo contra a vítima, não vindo, contudo, a
atingi-la. ‘B’, em decorrência do susto causado pelo disparo, sofre um infarto e falece. A morte se
deu pelo conjunto das causas, de modo que ‘A’ responde pelo delito consumado;
⦁ O disparo, por si só, não levaria ele à morte. Assim como o colapso cardíaco, por si só,
também não o levaria à morte.
⦁ O que levou à morte foi a conjunção dos dois resultados: uma causa depende da doutra.
(causa efetiva= colapso e causa concorrente= disparo).
Se uma causa depende da outra, não haverá a exclusão do resultado morte, e ‘A’ deve responder pelo
homicídio.
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NÚCLEO DURO
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⦁ Exceção: Art. 13, §1º - Eventualmente, as concausas relativamente independentes podem
excluir a imputação, fugindo à regra geral, quando, por si só, produzirem o resultado.
i. Que por si só produz o resultado: A atira em B e este é socorrido. Estando no hospital, com
vida, o teto desaba e ele vem a falecer em decorrência do desabamento. Qual seria a
responsabilidade de A? Sabemos que se não fosse o tiro, ele não estaria no hospital, é
verdade. Mas aqui, é a EXCEÇÃO em que o CP adotou a teoria da causalidade adequada (§1º
do art. 13), mais restrita, em que há um juízo de probabilidade do que normalmente acontece
(todas as demais hipóteses de concausas são analisadas com base na conditio sine qua non).
Tendo em vista que o desabamento de um teto não está dentro do resultado esperado
advindo de um tiro, houve o rompimento do nexo causal, de modo que o agente responde
apenas por tentativa. (situação imprevisível, que seja apto a produzir o resultado, exclui a
imputação e só responde por tentativa).
Caiu na Prova Delegado PC-ES (2022) Em relação a conceitos e previsões presentes na Parte Geral do Código
Penal, assinale a opção correta: Se o agente ferir alguém
5700 com uma faca no pescoço, com nítida intenção de
matar, mas a vítima for socorrida e levada ao hospital e, durante a internação, morrer em decorrência de
uma explosão acidental no hospital, o agente responderá por tentativa de homicídio. (item correto). Aqui
5700
trata-se de um exemplo como acima mencionado, causa relativamente independente que por si só produz o
resultado.
ii. Por si só não produz o resultado: Aqui, com base no mesmo exemplo anterior, suponhamos
que B morre em razão de infecção nos ferimentos decorrentes do tiro. Tendo em vista que
não fosse o tiro não haveria a infecção e que esta infecção é uma possibilidade normal, que
se encontra dentro das consequências esperadas de um tiro, o agente responde pelo delito
consumado.
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NÚCLEO DURO
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ENTENDA: o incêndio no hospital é um desdobramento causal anormal que gera um rompimento com a
conduta inicial (disparo por arma de fogo).
O indivíduo que toma um tiro pode morrer do tiro, mas pode morrer também de uma infecção hospitalar ou
5700
de um erro médico, que são desdobramentos naturais do tiro. No entanto, quem toma um tiro, não morre
envenenado, não morre asfixiado, não morre queimado, não morre soterrado, não morre pelo incêndio do
hospital. Essas são mortes anormais, são causas que, por si só, produzem o resultado, pois há um
rompimento na linha de desdobramento físico causal natural.
⦁ Por si só produz o resultado → contexto que não corresponde a um desdobramento físico ou natural
da conduta→ impede a imputação do resultado → só responde pelos atos anteriores (tentativa)
⦁ Não produz por si só o resultado → o contexto corresponde a um desdobramento físico ou natural
da conduta → cabe a imputação do resultado ao agente → responde pelo resultado produzido de acordo
com seu dolo.
IV – TIPICIDADE
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NÚCLEO DURO
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É o elemento do fato típico presente em todo e qualquer crime. Conforme a doutrina moderna, a
tipicidade penal é formada por:
●
Tipicidade Formal: Juízo de subsunção do fato à norma;
●
Tipicidade Material: Lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Há ainda a TIPICIDADE CONGLOBANTE, preconizada por Zaffaroni, que é formada pela tipicidade
material + antinormatividade. (QUESTÃO PROVA ORAL DELEGADO PC-SE/2019)
A antinormatividade é a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico como um
todo. Para ele, não se pode considerar ilícita uma conduta que é determinada ou fomentada pelo Estado.
Assim, para o autor, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito, que para a doutrina
majoritária e para o CP constituem causas excludentes
5700
de ilicitude, seriam, na verdade, causas de exclusão
da tipicidade, tornando, por consequência, a conduta atípica, justamente por achar absurdo que alguém que
esteja cumprindo seu dever legal ou esteja exercendo uma atividade fomentada pelo direito tenha estas
ações consideradas como fatos típicos.
Um exemplo é do oficial de justiça que promove penhora de bens em razão de cumprimento de mandado
(ele está nada menos que subtraindo coisa alheia móvel), que só ficará isento de responsabilidade na análise
do segundo elemento do crime, enquanto não deveria sequer haver tipicidade penal.
Já legítima defesa e estado de necessidade continuariam
5700
como excludentes de ilicitude, segundo esta teoria,
vez que não são fomentadas e nem determinadas pelo Estado, mas tão somente toleradas.
O STJ já adotou a tipicidade conglobante (AP 638).
Caiu em prova Delegado – PC-PI (2014) Segundo a teoria da tipicidade conglobante proposta por Eugenio
Raúl Zaffaroni, quando um médico, em virtude de intervenção cirúrgica cardíaca por absoluta necessidade
corta com bisturi a região torácica do paciente, é CORRETO afirmar que: não responde por nenhum crime,
carecendo o fato de tipicidade, já que não podem ser consideradas típicas aquelas condutas toleradas ou
mesmo incentivadas pelo ordenamento jurídico. (item correto).
V. ADEQUAÇÃO TÍPICA
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(1) Subsunção direta ou adequação típica imediata: não há dependência de qualquer dispositivo
complementar para adequar o fato à norma. Ex.: A subtrai o celular de B. Neste caso, o fato de subtrair
coisa alheia móvel se enquadra diretamente ao art. 155 do CP.
(2) Subsunção indireta ou adequação típica mediata: há uma conjugação do tipo penal com a NORMA DE
EXTENSÃO, também denominada de norma de adequação típica mediata. No nosso Código Penal temos
3 hipóteses: 5700
A. Norma de extensão temporal: Tentativa (art. 14, II do CP). Os tipos penais não possuem definição
direta de tentativa em cada um deles. Há essa norma geral que será combinada com o tipo penal não
consumado. Ex.: A tenta matar B. Este fato não há subsunção direta ao art. 121. Neste caso, devemos
utilizar do art. 121 do CP, cumulado com o art. 14, II, do CP.
B. Norma de extensão pessoal e espacial: Participação, artigo 29 do CP (esse artigo trata de todo o
concurso de pessoas, mas o que tem relevância aqui é a figura do partícipe). Quem espera do lado
de fora da casa enquanto o comparsa subtrai a televisão da vítima, embora não tenha subtraído coisa
alheia móvel, como manda o tipo, responderá pelo furto qualificado pelo concurso de pessoas em
razão da norma de extensão prevista no art. 29 do CP.
5700
C. Norma de extensão da conduta: Crimes comissivos por omissão (em que há um garantidor): a
conduta que só podia ser praticada por ação passa a ser praticada por omissão, quando o garante
devia e podia agir para evitar o resultado. Art. 13, §2º, CP.
3. TEORIA DO TIPO
O tipo penal é aquele que descreve as condutas proibidas ou permitidas pelo direito penal de modo
genérico e abstrato, ou seja, condutas criminosas ou as hipóteses em que a prática destas é tolerada (já vimos
sobre isso nas classificações da lei penal).
Atenção: não confundir TIPO X TIPICIDADE. Enquanto o tipo é a figura penal que resulta da imaginação do
legislador, a tipicidade consiste na averiguação se determinada conduta se amolda ou não nesse modelo
imaginário pensado pelo legislador.
Veja a dica do professor Marcelo Veiga:
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NÚCLEO DURO
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5700
✔ Seletiva (seleciona as condutas proibidas (crimes comissivos) ou ordenadas (crimes omissivos) pelo
direito penal.
Todos possuem núcleo e elementos, que formam o tipo fundamental. Quando há privilégios ou
qualificadoras, acrescentam-se circunstâncias, formando os tipos derivados.
O núcleo é o verbo do tipo – Ex.: “subtrair”, “matar”. É o ponto de partida.
Os elementos/elementares se dividem em:
A. Objetivos/descritivos: trazem um juízo de certeza. Podem ser compreendidos por qualquer pessoa.
Ex.: “coisa alheia móvel” no furto, “alguém” no homicídio etc.
B. Subjetivos: Se relacionam com o animus do agente, sua especial finalidade de agir, suas intenções.
Ex.: “para si ou para outrem” no furto. Não basta a subtração de coisa alheia móvel, faz-se necessário
o “animus rem sibi habendi”, dolo de assenhoramento definitivo.
C. Normativos: Demandam um juízo de valor por parte do aplicador do direito. Ex.: “obsceno”,
“indevidamente”, “cruel”, “honesto”, “pudor”, “decoro” etc. Termos não definidos, que demandam
uma interpretação caso a caso.
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▪ Tipo normal / neutro / acromático / avalorado: é o que, além do núcleo, contém somente
elementos objetivos/descritivos (ex.: matar alguém).
▪ Tipo anormal: é aquele que, além de núcleo e elementos objetivos, contém também elementos
subjetivos e/ou normativos (no finalismo TODOS os tipos são anormais, vez que dolo e culpa estão
no fato típico, como elemento da conduta e são essenciais a qualquer tipo).
▪ Tipo congruente (simétrico) é aquele em que há perfeita congruência entre a vontade do agente e
o fato tipificado (exemplo: crimes dolosos consumados).
▪ Tipo incongruente (assimétrico) é aquele em que não há congruência entre a vontade do agente o
fato por ele praticado (exemplo: os crimes tentados, os crimes culposos, preterdolosos). Se ‘A’ quer
5700
matar ‘B’, mas apenas o lesiona, há uma assimetria entre os elementos objetivos e subjetivos.
CONTEXTUALIZANDO: CAIU EM PROVA! Em regra, o tipo subjetivo está inteiramente voltado para a
totalidade do tipo objetivo; assim ocorrendo, o tipo é chamado de congruente ou congruente simétrico.
5700
Como exemplo, tem-se o homicídio simples consumado, posto que, alcançado o resultado morte e tendo o
agente obrado com animus necandi, haverá perfeita sintonia entre o tipo subjetivo (dolo homicida) e o tipo
objetivo (matar alguém). Todavia, quando não há essa sincronia, opera-se o que se tem denominado de
incongruência ou congruência assimétrica. Assim, tipos incongruentes ou congruentes assimétricos são
aqueles que exigem algo a mais que o dolo, havendo um hipertrofiamento do aspecto subjetivo com relação
ao objetivo. Esse “algo a mais” além do dolo é tratado como elemento subjetivo do tipo distinto do dolo (ou,
para a doutrina clássica, dolo específico). São exemplos os delitos de intenção que contém expressões
designativas de intenções especiais (“com o fim de”, “em proveito próprio”), bem assim aqueles crimes
chamados de tendência, como os contra os costumes em que se exige que a ação se desenvolva seguindo
uma intenção sexual (satisfação da lascívia).
O professor paranaense Luiz Alberto Machado se reporta a uma outra terminologia sobre o tema: ele chama
de tipos originariamente incongruentes (ou assimétricos), aqueles em que, de maneira textual, (a) o
elemento objetivo vai além do elemento subjetivo (crime qualificado pelo resultado – aqui, há excesso
objetivo); ao reverso, quando (b) o tipo subjetivo vai além do objetivo (excesso subjetivo), tem-se o chamado
crime formal (consumação antecipada) e a que outros que exigem especial fim de agir. Por fim, fala-se em
congruência defeituosa (assimetria); nestes casos, pode haver erro de tipo ou tentativa. A congruência
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defeituosa pode se dar em relação ao tipo subjetivo (este não vê a perfeição do tipo objetivo), e se observa
no erro de tipo: EX.: o agente subtrai a coisa alheia móvel para si, crendo-a invencivelmente própria. Ao
contrário, quando o defeito de congruência estiver situado no tipo objetivo, se está diante de hipótese de
tentativa. Nesta hipótese, o tipo objetivo não se aperfeiçoa porque o verbo não se completa por um acidente
de percurso no iter criminis (circunstâncias alheias à vontade do agente, art. 14, II, do Código Penal), como
sucede, v.g., na tentativa de homicídio; daí porque, neste caso, a conatus também pode ser definida como
um tipo penal acidentalmente incongruente ou incongruente per accidens.
5700
Pode ser subdividido em:
(1) Tipo misto alternativo: mesmo com a prática de mais de um núcleo do tipo haverá crime único,
desde que no mesmo contexto fático. (Ex.: prática de conjunção carnal e de outros atos libidinosos
diversos, sob violência ou grave ameaça, no mesmo
5700
contexto fático – caracteriza crime único – STJ)
(2) Tipo misto cumulativo: são os que a pratica de mais de um núcleo do tipo, configurando concurso
material de crimes (ex.: art. 244, CP – Abandono material).
* Diferença entre tipo aberto e norma penal em branco: esta última é complementada por lei ou ato
administrativo, enquanto o primeiro é complementado por um juízo de valor.
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NÚCLEO DURO
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A) DOLO
Vontade livre e consciente, dirigida a realizar ou aceitar realizar a conduta prevista no tipo penal
incriminador.
ELEMENTOS DO DOLO:
1) Intelectivo/Cognitivo: Consciência (ocorre primeiro);
2) Volitivo: Vontade, é o querer.
* Dentro do elemento cognitivo (saber), o que o indivíduo precisa ter consciência para que ele
efetivamente tenha dolo? Ou seja: quais os limites desse conhecimento (do elemento cognitivo) para que
eu possa tecnicamente afirmar que o indivíduo tinha dolo?
Resposta: O conhecimento precisa ser ATUAL E REAL, precisa abranger as CIRCUNSTÂNCIAS DE FATO DO
TIPO OBJETIVO (são as elementares típicas), ou seja, ele precisa ter o conhecimento de todos os elementos
descritos no tipo penal incriminador,
5700
e precisa, ainda, abranger os ELEMENTOS PRESENTES E FUTUROS DO
TIPO OBJETIVO.
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https://youtu.be/NVOFCoM_UsU
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●
TEORIAS SOBRE O DOLO (se dividem em cognitivas/intelectivas ou volitivas):
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consciente;
⦁ Probabilidade → gera dolo eventual
⦁ Possibilidade → gera culpa consciente
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Segundo o autor André Stefan (Direito Penal Parte Geral V1) O dolo, ademais, abrange não só o objetivo
5700
perseguido pelo sujeito (dolo de primeiro grau), mas também os meios escolhidos para a consecução desse
fim e as consequências secundárias inerentemente ligadas aos meios escolhidos (dolo de segundo grau ou
dolo de consequências secundárias). Se o agente, pretendendo matar um gêmeo siamês, efetua contra ele
um disparo de arma de fogo letal e, como consequência secundária inerentemente ligada aos meios e ao fim
pretendido, leva à morte do irmão, responde por dois homicídios a título de dolo direto (de primeiro grau
em relação ao seu desafeto e de segundo grau no tocante ao seu irmão). Exemplo interessante de dolo de
segundo grau nos é fornecido pelo autor Cezar Bitencourt: Imagine um terrorista que, pretendendo matar
um importante líder político, decida colocar uma bomba no automóvel oficial e, com a explosão, provoque a
morte do político e do motorista. Haverá dolo direto com relação às duas mortes. A do líder político será
imputada a título de dolo direto de primeiro grau e a do motorista, de segundo grau.
Atenção!! Não se pode confundir o dolo direito de segundo grau com o dolo eventual. No dolo de segundo
grau as consequências secundárias são inerentes aos meios escolhidos
b) DOLO INDIRETO: O agente, com sua conduta, não busca realizar um determinado resultado:
⮚ Dolo alternativo: O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta na
realização de qualquer deles, com igual intensidade a produzir um ou outro resultado.
⮚ Dolo eventual: Embora o agente não deseje o resultado, assume o risco de produzi-lo. Age
com indiferença.
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NÚCLEO DURO
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TEORIA POSITIVA DO CONHECIMENTO: Reinhard Frank. “Seja como for, dê no que dê, eu não deixarei de
agir”.
o Dolo cumulativo: O agente pretende alcançar dois ou mais resultados típicos em sequência (progressão
criminosa);
o Dolo geral (erro sucessivo): Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado um resultado por ele
visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca. Ex.: para matar seu inimigo, alguém o golpeia
fortemente, de modo que a vítima desmaia, fazendo o agente pensar equivocadamente que ela faleceu;
em seguida, com a finalidade de simular um suicídio, deixa o ofendido suspenso em uma corda amarrada
ao seu pescoço, asfixiando-o.
Atenção! Não se pode confundir o dolo geral com o erro sobre o nexo causal (aberratio causae)
5700
ou com a
figura da consumação antecipada. No erro sobre o nexo causal realiza-se uma só conduta pretendendo o
resultado, o qual é alcançado em virtude de um processo causal diverso daquele imaginado. Exemplo: uma
pessoa joga seu inimigo de uma ponte sobre um rio (conduta), pretendendo matá-lo (resultado) por
afogamento (nexo de causalidade esperado), mas a morte ocorre porque, durante a queda, o ofendido choca
sua cabeça contra os alicerces da ponte (nexo de
5700
causalidade diverso do imaginado). A diferença
fundamental entre o dolo geral e o erro sobre o nexo de causalidade reside no fato de que naquele há duas
condutas, enquanto neste há somente uma. A consumação antecipada é, pode-se dizer, o oposto do dolus
generalis, porquanto se refere a situações em que o agente produz antecipadamente o resultado esperado,
sem se dar conta disso. Exemplo: uma enfermeira ministra sonífero em elevada dose para sedar um paciente
e, após, envenená-lo; apura-se, posteriormente, que o óbito foi decorrência da dose excessiva de sedativo e
não da peçonha ministrada a posteriori.
o Dolo de propósito (refletido): resulta da reflexão do agente. Ocorre nos crimes premeditados.
o Dolo de ímpeto (repentino): resulta de uma explosão emocional. Ocorre nos crimes passionais.
B) CULPA
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por não ter o agente observado o seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo
assumido, tipificado previamente na lei penal”.
Via de regra é tipo penal aberto, ou seja, a conduta não é descrita de modo detalhado (geralmente
vem “se tal crime é culposo – pena tal”), demandando um juízo de valor pelo aplicador do direito. Mas há
crime culposo com tipo fechado, como o art. 180, §3º do CP.
O fundamento da punibilidade de crimes culposos está no interesse público da proteção de bens
jurídicos indispensáveis ao indivíduo e à sociedade. O homem vive em sociedade, então é responsável pelo
que causa nela.
Porém, as penas são menores, vez que o desvalor da conduta é menor que nos crimes dolosos.
valor, comparando a conduta do agente no caso concreto com aquela que uma pessoa medianamente
prudente teria na mesma situação. Isso faz com que a culpa seja qualificada como um elemento normativo
da conduta (necessita de um juízo prévio de valor).
* ATENÇÃO: as hipóteses de crimes culposos devem vir expressamente previstas em lei, desse modo, a regra
é o dolo, enquanto a culpa é exceção.
5700
* Discursivas com consulta: além do 18, II do CP, o CPM tem uma melhor definição do que seria o crime
culposo (DICA: FAZER REMISSÃO)
ELEMENTOS DA CULPA:
1) Conduta humana voluntária
2) Violação de um dever de cuidado objetivo (imprudência, negligência ou imperícia).
3) Resultado involuntário
4) Nexo de causalidade
5) Previsibilidade Objetiva
6) Tipicidade
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https://youtu.be/EsRWOwjpmIM
5700
2) Violação de um dever objetivo de cuidado: O agente atua de forma diversa do esperado pela lei e
sociedade:
▪ Imprudência: Culpa positiva ou “in agendo”. Ação intempestiva e irrefletida. Faz algo que a cautela
não recomenda. Uma característica fundamental da imprudência é a de que nela a culpa se
desenvolve paralelamente à ação. Enquanto o agente pratica a conduta comissiva, vai ocorrendo
simultaneamente a imprudência. Ex.: excesso de velocidade na direção de veículo automotor,
ultrapassagem proibida, trafegar na contramão...
▪ Negligência: Culpa negativa ou “in omitendo”. Falta de precaução. Deixa de fazer o que a cautela
recomenda. Ela é a inação, inércia e passividade. negligente é quem, podendo e devendo agir de
determinado modo, por indolência ou preguiça mental não age (Fernando Capez) (Ex.: médico que
não esterilizou seus utensílios antes de uma cirurgia, pessoa que deixa de reparar os pneus e os freios
antes de viajar);
▪ Imperícia: Culpa profissional. Falta de aptidão técnica para o exercício de arte, ofício ou profissão. O
5700
agente está autorizado a exercer determinada atividade, mas não tem as habilidades necessárias. Se
a imperícia advier de pessoa que não exerce arte ou profissão, haverá imprudência e não imperícia.
Assim, um curandeiro que tenta fazer uma operação no lugar de chamar um médico incorre em
imprudência. (Fernando Capez). Ex.: Engenheiro civil, com CREA, que não tem conhecimento
necessário para a construção de um prédio, mas o faz e ele desaba.
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OBS.1: É tendência achar que sempre que tivermos um profissional envolvido, o caso será de imperícia, mas
não é verdade. Depende da conduta. Como vimos no exemplo dado em negligência, também foi algo no
exercício da profissão. Olho vivo nisso!
OBS.2: Nos crimes culposos no CTB, a Jurisprudência vem no sentido de que é IMPRESCINDÍVEL apontar,
precisamente, qual foi a conduta culposa. Vejamos:
Denúncia no caso de homicídio culposo deve apontar qual foi a conduta culposa -
É inepta a denúncia que imputa a prática de homicídio culposo na direção de
veículo automotor (art. 302 da Lei 9.503/1997) sem descrever, de forma clara e
precisa, a conduta negligente, imperita ou imprudente que teria gerado o resultado
morte, sendo insuficiente a simples menção de que o suposto autor estava na
direção do veículo no momento do acidente. STJ. 6ª Turma. HC 305194-PB, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/11/2014 (Info 553).
atividade ou profissão que requeira habilidade especial. Somente a falta grosseira desses profissionais
consubstancia a culpa penal, pois a exigência maior provocaria a paralisação da ciência, impedindo os
pesquisadores de tentar métodos novos de cura de edificações etc. Ou seja, enquanto a imperícia seria
decorrente do desempenho de uma função pelo agente, que possui autorização para exercê-la, sem
conhecimentos práticos ou teóricos para seu exercício, o erro profissional derivaria da própria possibilidade
de falha científica.
3) Resultado Involuntário / naturalístico: Alteração física no mundo exterior. São crimes materiais, via de
regra.
Há exceções. Ex.: art. 38 da Lei de Drogas. Prescrever drogas culposamente sem que delas necessite
o paciente. Se consuma com a mera prescrição feita por médico ou dentista, ou seja, é um crime de mera
conduta. Se o indivíduo usar a droga será mero exaurimento.
5) Previsibilidade objetiva:
Ao contrário da previsibilidade subjetiva, que analisa as condições do agente no momento da
conduta, a previsibilidade objetiva analisa o fato de acordo com a visão do “homem médio”. Ou seja, não
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será analisado se aquele agente específico previu o resultado, mas se, naquelas circunstâncias, era possível
que um homem médio as tenha previsto.
Assim, haverá previsibilidade objetiva quando o agente, nas circunstâncias em que se encontrava,
podia, segundo a experiência geral (homem médio), ter representado como possível as consequências de
seu ato
Segundo André Stefan, a previsibilidade objetiva, como visto, é aquela determinada segundo o critério de
5700
uma pessoa de mediana prudência e discernimento. Sua ausência torna o fato atípico. Exemplo: um
motorista conduz seu veículo acima do limite de velocidade permitido (imprudência) por uma estrada
estreita; ao fazer uma curva, colide com um ciclista embriagado que se encontrava na contramão de direção.
Suponha que, em função da própria estrada, não era possível de modo algum enxergar depois da curva, de
tal forma que o condutor do automóvel não podia imaginar que havia uma pessoa naquele local. Além disso,
mesmo que trafegasse em velocidade compatível com a via, não poderia evitar o acidente. Apesar de sua
imprudência, o resultado era objetivamente imprevisível (não é possível imaginar que depois de cada curva
haverá um ciclista embriagado na contramão de direção!), motivo pelo qual o fato será considerado atípico.
Art. 18, §único, CP: Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.
ESPÉCIES DE CULPA:
1) Culpa consciente: É a culpa com previsão. O agente prevê o resultado, mas não espera que ele ocorra.
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NÚCLEO DURO
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Segundo Fernando Capez, de acordo com a lei penal, não existe diferença de tratamento entre a culpa com
previsão e a inconsciente “pois tanto vale não ter consciência da anormalidade da própria conduta, quanto
está consciente dela, mas confiando, sinceramente, em que o resultado lesivo não sobreviverá” (exposição
de motivos do código penal de 1940). Além disso, não há diferença quanto a combinação da pena
abstratamente no tipo. Entretanto, parece-nos que no momento da dosagem da pena, o grau de
culpabilidade (circunstância judicial previsto no artigo 59 do caput do código penal) deva o juiz, na primeira
fase da dosimetria, elevar um pouco mais a sanção de quem age com culpa consciente, dada maior
censurabilidade desse comportamento. Diferente do dolo eventual, em que o agente, embora também
preveja, não se importa que o resultado ocorra.
Professor Cézar Roberto Bitencourt: Há culpa consciente, também chamada culpa com previsão, quando o
agente, deixando de observar a diligência a que estava obrigado, prevê um resultado, previsível, mas confia
convictamente em que ele não ocorra. Quando o agente, embora prevendo o resultado, espera sinceramente
que este não se verifique, estar-se-á diante de culpa consciente e não de dolo eventual. No entanto, na
análise dessa espécie de culpa, deve-se agir com cautela, pois a simples previsão do resultado não significa,
por si só, que o agente age com culpa consciente, uma vez que, mais que a previsão, o que a caracteriza
efetivamente é a consciência acerca da lesão ao dever de cuidado. Logo, nada impede que possa ocorrer erro
de proibição, quando o agente se equivocar a respeito
5700
da existência ou dos limites do dever objetivo de
cuidado
2) Culpa inconsciente: O agente não prevê o resultado, mas ele era objetivamente previsível. (essa
possibilidade nem sequer passa pela cabeça do agente).
3) Culpa própria: o agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo;
Olha o bizu: Via de regra, crime culposo não admite tentativa. Porém, no caso de culpa imprópria, admite-
se, justamente por ser um dolo tratado como culpa. (Foi questão da 2ª Fase de Delegado de Polícia de Minas
Gerais em 2018!)
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Olha o bizu: Há autores que defendem a possibilidade de se reconhecer a tentativa em crimes preterdolosos
(dolo no antecedente e culpa no consequente), quando a parte frustrada da conduta é a dolosa. Nesse
sentido: Grecco e Rogério Sanches.
5700
5) Culpa mediata ou indireta: é aquela em que o resultado naturalístico é produzido indiretamente a título
de culpa. É importante ressaltar que, para a configuração dessa modalidade de culpa, será
imprescindível que o resultado esteja na linha de desdobramento causal da conduta, ou seja, no âmbito
do risco provável, e, além disso, que possa ser atribuído ao autor mediante culpa.
"É o caso, por exemplo, da vítima que acabara de ser torturada no interior de um
veículo, parado no acostamento de movimentada via pública. Quando conseguiu
fugir, buscou atravessar a pista, foi atropelada e morreu. O agente responde de
pela tortura e também pelo homicídio, provocado indiretamente e por sua atuação
culposa, pois lhe era previsível objetivamente a fuga da pessoa torturada na direção
da via pública."
Desse modo, a culpa indireta
5700pressupõe: nexo causal (que o agente tenha dado
6) Culpa presumida (“in re ipsa”): Sendo uma forma de responsabilidade objetiva, não é admitida no Brasil,
pois a culpa precisa ser provada.
EXCLUSÃO DA CULPA:
1) Caso fortuito e força maior;
2) Princípio da confiança
3) Erro profissional;
4) Risco tolerado;
5) Risco praticado por outrem.
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o 2ª Corrente (LFG): Não admite nem coautoria e nem participação nos crimes culposos, em razão da
ausência de vínculo subjetivo entre os envolvidos.
o 3ª Corrente (Fernando Capez): Ambos são possíveis, sendo autor aquele que realiza o núcleo do tipo
e partícipe o que concorre para o crime, sem, no entanto, cometer o núcleo verbal da ação.
Obs:. Para os partidários da teoria do domínio do fato, não há como sustentar o concurso de agentes no
crime culposo, pois neste o agente não quer o resultado e, portanto, não há como sustentar que ele detenha
o controle final sobre algo que ele não deseja. Por isso, adotam a posição no sentido da inviabilidade da
participação no crime culposo.
A. CRIME PRETERDOLOSO
É uma espécie de crime agravado pelo resultado, constituindo de dolo no antecedente e culpa no
consequente (art. 19, CP).
Cleber Masson: A conduta dolosa acarreta a produção de um resultado mais grave do que o desejado pelo
agente à título de culpa.
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Elementos:
✔ Conduta dolosa visando a determinado resultado;
✔ Provocação culposa de resultado mais grave do que o desejado;
✔ Nexo causal entre conduta e resultado;
✔ Tipicidade.
Crime qualificado pelo resultado: é aquele em que o legislador, após descrever uma conduta típica, com
todos seus elementos, acrescenta-lhe
5700
um resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento da sanção
penal. O crime qualificado apresenta duas etapas:
1) prática de um crime completo, com todos os seus elementos (fato antecedente);
2) produção de um resultado agravador, além daquele necessário para a consumação (fato consequente).
Na primeira parte, há um crime perfeito e acabado, praticado a título de dolo ou culpa, ao passo que, na
segunda, um resultado agravador produzido dolosa ou culposamente acaba por tipificar um delito mais
grave. Ex.: ofensa à integridade corporal de outrem, por si só, configura o crime previsto no art. 129 CP, mas,
se o resultado final caracterizar uma lesão gravíssima, essa consequência servirá para agravar a sanção penal,
fazendo com que o agente responda por um delito mais intenso.
ESPÉCIES DE CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO: a) dolo no antecedente e dolo no consequente:
conduta dolosa e um resultado agravador também doloso. Ex.: marido que espanca a mulher, provocando-a
deformidade permanente. Há dolo no comportamento antecedente na produção do resultado agravador,
pois o autor não quis apenas produzir a ofensa à integridade corporal da ofendida, mas obter o resultado
deformidade permanente. B) culpa no antecedente e culpa no consequente: o agente pratica uma conduta
culposamente e, além desse resultado culposo, acaba produzindo outros, também a título de culpa, no crime
de incêndio culposo, por exemplo, considerando o fato antecedente, se além do incêndio, vier a ocorrer
alguma morte, também por culpa, o homicídio culposo funcionará como resultado agravador (fato
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consequente), é a hipótese prevista no artigo 258 parte final do código penal que prevê o crime de incêndio
culposo qualificado pelo resultado morte. C) culpa no antecedente e dolo no consequente: o agente após
produzir o resultado por imprudência, negligência ou imperícia, realiza uma conduta dolosa agravadora. É o
caso do motorista que, após atropelar um pedestre ferido, foge, omitindo-lhe socorro (art. 303 parágrafo
único CTB). Houve um comportamento anterior culposo ao qual sucedeu uma conduta dolosa, que agravou
o crime (culpa no antecedente e dolo no consequente). D) conduta dolosa e resultado agravador culposo
(crime preterdoloso ou preterintencional): o agente quer praticar um crime, mas acaba excedendo-se e
produzindo culposamente um resultado mais gravoso do que o desejado. É o caso da lesão corporal seguida
de morte, na qual a gente quer ferir, mas acaba matando. Ex.: Um sujeito desfere um soco contra o rosto da
vítima com a intenção de lesionar, no entanto, ela perde o equilíbrio, bate a cabeça e morre. Há só um crime:
lesão corporal dolosa qualificada pelo resultado morte culposa. Como se nota, o agente queria provocar
lesões corporais mas, acidentalmente, por culpa, acabou gerando um resultado muito mais grave, qual seja,
a morte. Na hipótese, diz-se que o autor fez mais do que queria, agiu além do dolo, isto é, com preterdolo.
Somente esta última espécie de crime qualificado pelo resultado configura o crime preterdoloso ou
preterintencional.
4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
5700
4.1 Consumação
Conceito: É aquele em que foram realizados todos os elementos constantes de sua definição legal. Ex.: o
crime de furto se consuma no momento em que o agente subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel,
ou seja, no exato instante em que o bem sai da esfera de disponibilidade da vítima que, então, precisará
agora retomá-lo. nesse caso todas as elementares do tipo do furto foram inteiramente realizadas.
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Caiu na Prova Delegado PC-RR (2022) - Os crimes omissivos impróprios são necessariamente crimes de
resultado naturalístico (item correto).
*Só haverá iter criminis nos crimes dolosos! Já que, nos crimes culposos, o resultado ilícito não é querido,
ele provém da violação de um dever objetivo de cuidado.
I. FASE INTERNA:
1) COGITAÇÃO: O agente apenas mentaliza, idealiza, prevê, planeja, deseja. Nessa fase o crime é
impunível.
Abarca:
5700
⦁ Idealização – quando surge a ideia da prática do delito;
⦁ Deliberação – o agente faz a análise de prós e contras da empreitada criminosa;
⦁ Resolução – o agente decide praticar o crime.
ATENÇÃO! A simples ideia de crime NÃO pode ser punida, em razão do princípio da materialização,
exteriorização do fato (princípio da transcendência). “Direito à perversão”. “Claustro psíquico”. O Direito
Penal não se ocupa de convicções pessoais, pensamentos ou desejos íntimos.
Obs.: Há quem entenda que compõe a fase interna, a exemplo de Rogério Sanches, mas não prevalece.
o Regra: Impunível, vez que o CP busca punir o crime a partir dos atos executórios, pois o bem jurídico
ainda não foi exposto á agressão nem colocado em risco.
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o Exceção – Atos preparatórios podem gerar crimes autônomos chamados de crimes obstáculo criados
pelo legislador.
⦁ Fabricar, fornecer, adquirir e portar explosivos;
⦁ Incitação ao crime;
⦁ Petrechos de falsificação de moeda;
⦁ Associação criminosa.
ENTENDA: Trata-se do fenômeno chamado antecipação da tutela penal. É o fenômeno pelo qual o legislador
criminaliza condutas que seriam atos preparatórios de outros crimes, mas que constituem crimes
autônomos. Essa ampliação
5700
está atrelada ao próprio papel do Estado, como provedor de determinados
direitos.
2) EXECUÇÃO:
Inicia a agressão ao bem jurídico, ou seja, começo da realização da conduta típica. Deve ser:
● Ato idôneo: Com capacidade suficiente para lesar o bem jurídico penalmente tutelado;
● Ato inequívoco: Direcionado ao ataque do bem jurídico.
Fronteira entre o fim da Preparação e o início da execução: é muito tênue a linha divisória entre o término
5700
da preparação do primeiro ato executório. torna-se bastante difícil saber quando a gente está preparando
ou já está executando um crime. o melhor critério para tal distinção é o que entende que a execução se
inicia com a prática do primeiro ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito. Enquanto os atos
realizados não forem aptos a consumação, ou, quando não estiverem inequivocamente vinculados a ela, o
crime permanece em sua fase de preparação. Desse modo, no momento em que o agente aguarda a
passagem da vítima escondido atrás de uma árvore, ainda não praticou nenhum ato idôneo para causar a
morte daquela, nem se pode estabelecer em duvidosa ligação entre esse fato e o homicídio a ser praticado.
● Teoria subjetiva: O início da execução é a partir do elemento subjetivo ativo, verificando-se se foi
iniciada com a fase do elemento intelectivo e volitivo do autor (plano interno do autor). Não há
distinção entre o ato preparatório e o executório. Considera-se o dolo do agente, que está presente a
todo momento – não é admitida no Brasil
● Teorias objetivas
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a) Teoria da hostilidade ao bem jurídico: o ato de execução é aquele em que o agente ataca o bem
jurídico (expõe o bem jurídico a perigo), enquanto que o ato preparatório não altera o seu “estado
de paz”. No momento que cria um risco proibido ao bem jurídico tutelado pela normal penal, a
conduta do agente é considerada início dos atos de execução, e logo, punível na esfera penal.
(Nelson Hungria, Max Ernst Mayer)
b) Teoria objetivo-formal ou lógico-formal: é a teoria majoritária no Brasil. Caracteriza ato de
execução como aquele em que o agente começa a praticar o verbo (o núcleo do tipo) da conduta
criminosa,
5700
enquanto os atos anteriores são preparatórios. Portanto, é a realização do núcleo do
tipo (verbo nuclear que descreve a conduta no tipo penal) que configura o marco de início da
execução e, por conseguinte, do marco a partir do qual a conduta passa a ser punível. (Franz Von
Liszt)
circunstanciado.
Caso adaptado: João e Pedro caminhavam nas ruas de um bairro e decidiram praticar assalto em uma das
casas. Eles arrombaram o cadeado e destruíram a fechadura da porta da casa, no entanto, quando iam
adentrar na residência, passou uma viatura da Polícia Militar. Os indivíduos correram quando perceberam a
presença das autoridades de segurança. Os policiais perseguiram a dupla, conseguindo prendê-los. Com eles,
foi encontrada uma arma de fogo de uso permitido. Vale ressaltar, contudo, que não possuíam porte de
arma. Não se pode falar que houve roubo circunstanciado tentado. STJ. 5ª Turma. AREsp 974254-TO, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/09/2021 (Info 711).
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d) Teoria objetivo-material: Os atos de execução são aqueles em que o agente inicia a realização do
núcleo do tipo e também os atos que lhe são imediatamente anteriores, NA VISÃO DO TERCEIRO
OBSERVADOR. É o que diferencia da lógico-individual / objetivo-subjetiva. O juiz deve avaliar os atos
a partir de uma visão externa da situação (não necessariamente de uma terceira pessoa presente no
local do crime – é uma figura hipotética). (Reinhart Frank).
f) Teoria negativa: entende não ser possível limitar, em uma regra geral, o que seriam atos
preparatórios ou executórios, devendo tal definição ficar a cargo do julgador no momento da análise
de cada caso.
3) CONSUMAÇÃO:
⦁ Crimes de perigo concreto = a consumação se dá com a efetiva exposição do bem jurídico a uma
probabilidade de dano
⦁ Crimes de perigo abstrato = a consumação se dá com a mera prática da conduta definida pela
lei como perigosa (porte de arma).
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Obs1.: Não é necessário que se alcance essa fase para que a conduta do agente seja punível, pois, como
vimos, o ingresso na fase dos atos executórios já torna a conduta penalmente relevante. Se não atingida a
fase da consumação, a realização de atos executórios é punível em regra, pela tentativa.
Obs2.: Há crimes que preveem um resultado naturalístico cuja ocorrência não é necessária para a
consumação. Denomina-se delitos de consumação antecipada, ou, ainda, crimes formais. A consumação
ocorre com a pratica da conduta e independe de resultado naturalístico previsto na norma penal, e se acaso
ocorrer, será mero exaurimento do crime.
na dosimetria da pena, seja como circunstância judicial desfavorável, ou então como qualificadora ou causa
de aumento de pena.
5700
ITER CRIMINIS:
Crime tentado é aquele que, após o início da sua execução, não se consumou por circunstâncias alheias à
vontade do agente. De acordo com o autor Zaffaroni, temos uma tipicidade subjetiva completa e um
aspecto objetivo incompleto.
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b) Conceito:
É o início da execução de um crime que somente não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente. Também é chamada de “crime manco, truncado”, vez que o tipo5700subjetivo está perfeito
(vontade/voluntariedade), mas o tipo objetivo, a figura criminosa, não se realiza integralmente.
d) Elementos:
● Início da execução (questão de lógica: se tentativa é justamente a execução interrompida por
circunstâncias alheias à vontade do agente, é imprescindível o seu início)
● Ausência de consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente
●
5700
Dolo de consumação (o dolo é o mesmo do delito consumado)
● Resultado possível (se o resultado não ocorreu por ser impossível, será crime impossível, ora bolas).
● Teoria subjetiva/voluntarista/monista: o sujeito é punido por sua intenção, pois o que importa é o
desvalor da ação, sendo irrelevante o desvalor do resultado, de modo que deveria suportar a mesma
pena. O fundamento da punibilidade é a vontade contrário ao direito posta em ação.
→ Assim, se ele tem a intenção de matar, a tentativa de homicídio deve ser punida da mesma
forma que o homicídio. Ou seja: ele deve ser punido pela pena da consumação tangente à
sua vontade.
→ Consequências de adotar a teoria subjetiva:
1. É a punição da tentativa inidônea ou crime impossível
2. Equiparação do crime consumado ao crime tentado (o crime tentado é punido com a
mesma pena do crime consumado, uma vez que a intenção, o animus, o dolo era de
consumar a conduta).
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- REGRA: A Teoria Objetiva é a teoria adotada pelo nosso CP! (Art. 14, §único, 2ª parte).
- EXCEÇÃO: Essa teoria foi adotada com ressalvas, em razão da primeira parte do §único do
art. 14, que é considerada pela doutrina como um resquício da Teoria Subjetiva.
https://youtu.be/AdGTbyayFtI
5700
5700
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CONCLUSÃO: Em regra, a teoria adotada pelo Código Penal é a Teoria Objetiva. No entanto,
excepcionalmente, adotou a Teoria Subjetiva nas hipóteses de crimes de atentado ou de mero
empreendimento, hipóteses em que a tentativa é punida com a mesma pena da consumação.
5700
Obs.: Rogério Sanches e Masson tratam a teoria objetivo-subjetivo e da impressão como sinônimas,
entretanto outros doutrinadores diferenciam as teorias.
5700
- Consequências da tentativa: É causa obrigatória de diminuição de pena.
o Reduz a pena de 1/3 a 2/3;
o Incide na 3ª fase na aplicação da pena privativa de liberdade;
o Parâmetro de aplicação: iter criminis (proximidade da consumação).
A doutrina e a jurisprudência apontam que o critério deve ser a proximidade do agente de atingir a
consumação do delito, de modo que, quanto mais próximo ele chegar, menor deve ser a fração de diminuição
de pena e vice-versa.
f) Espécies:
● Tentativa branca ou incruenta: O objeto material NÃO é atingido pela conduta criminosa;
● Tentativa vermelha ou cruenta: O objeto é atingido;
● Tentativa perfeita ou crime falho: O agente esgota todos os meios executórios que estavam à
disposição, e mesmo assim não sobrevém a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade.
☞ Apenas é compatível com os crimes materiais, tendo em vista que nos formais e de mera
conduta, esgotando-se os atos executórios, teremos crime consumado, não tentado;
☞ Atenção à nomenclatura! Não confunda crime falho com crime impossível (quase-crime,
crime oco, tentativa inidônea e tentativa impossível).
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● Tentativa imperfeita, inacabada ou tentativa propriamente dita: O agente inicia a execução sem
utilizar todos os meios que tinha ao seu alcance, e o crime não se consuma por circunstâncias alheias
à sua vontade.
● Tentativa simples: É a tentativa propriamente dita. O resultado não ocorre por circunstâncias alheias
à vontade do agente.
● Tentativa qualificada/abandonada: Embora carregue o termo “tentativa”, de tentativa só tem o
nome, pois, na verdade, não é. É o termo utilizado como gênero, do qual são espécies a desistência
voluntária e o arrependimento eficaz (que veremos mais à frente).
Caiu na prova Delegado PC-SP (2022)! Considere a seguinte hipótese: Caio, com intuito de obter vantagem
econômica indevida, faz-se passar por Júlio, filho de Aurélia e, nesse papel, realiza ligação telefônica para ela,
pedindo depósito de determinada quantia de dinheiro em conta de terceiro – seu cúmplice. Aurélia,
inicialmente, se convence e promete fazer o depósito, mas, depois de desligar o telefone, resolve procurar
seu filho, descobre o engodo e não deposita o dinheiro. Nesse caso, houve tentativa perfeita. (item correto).
o Crime obstáculo: vez que a preparação já está sendo punida de forma autônoma;
o Crime habitual: exige reiteração de atos, motivo pelo qual a tentativa não seria cabível.
Doutrina minoritária entende que sim, ex.: falso médico aluga local e faz anúncio da futura
abertura de sua clínica, antes de chegar a atender alguém.
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Pergunta de prova: Existe algum crime que seja punido apenas na forma tentada?
Determinados doutrinadores apontam que há crimes que só se punem na forma tentada. São os crimes
chamados de lesa-pátria. Estão atualmente previstos no Título XII - Parte Especial, que trata dos crimes contra
o Estado Democrático de Direito. E o caso do artigo 359-M, que tipifica o crime de golpe de estado: Art 359-
M. Tentar depor por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído: Pena -
reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, além da pena correspondente à violência. Observa que o núcleo do
tipo é "tentar depor exprimindo que é conduta tentada que é punida. Por que então não se pune a forma
consumada? Neste caso, a consumação do delito resultaria em um golpe de Estado, com a instituição de um
novo regime jurídico, com rompimento da ordem jurídico-constitucional
5700
vi gente. Desse modo, não há lógica
em se prever a punição de quem conseguir tomar o poder e causar a ruptura democrática, pois não haveria
efetivamente a punição.
a) Conceito:
Os dois institutos constituem aquilo que a doutrina chamou de "tentativa abandonada" ou
"tentativa qualificada", em que o crime não se consuma pela própria vontade do agente. – NÃO
CONFUNDIR com a "tentativa", propriamente dita (em que o crime não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente).
São chamados também de "ponte de ouro" - pela oportunidade que o agente tem de "corrigir o seu
percurso", voltando à esfera da licitude.
▪ Desistência voluntária: O agente inicia os atos executórios, mas por vontade própria, interrompe este
processo, abandonando a prática dos demais atos necessários e que estavam à sua disposição para
a consumação. Em regra, conduta negativa.
☞ Um terceiro pode influenciar, pedir, mas não pode ter havido coação. Exige-se, portanto, a
vontade livre do agente, mas não precisa ser espontânea (surgir da cabeça dele).
☞ É incabível nos crimes unissubsistentes, que são realizados por apenas 1 (um) ato.
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▪
5700
Arrependimento eficaz ou resipiscência (olho no nome!): Depois de já praticados todos os atos
executórios suficientes à consumação do crime, o agente adota providências aptas a impedir a
produção do resultado. Sendo assim, é cabível somente em crimes materiais. Em regra, conduta
positiva.
b) Natureza jurídica: Causa de exclusão da tipicidade (doutrina majoritária). Em sentido contrário, para
Nelson Hungria, trata-se de extinção da punibilidade.
Há debate na doutrina sobre o assunto, sendo pertinente destacar que, para a corrente que entende se tratar
de causa de exclusão da tipicidade, a desistência do autor irá beneficiar o partícipe, mas a desistência do
partícipe não irá beneficiar o autor. Para a corrente que entende se tratar de causa de extinção da
punibilidade, a desistência do autor não repercute sobre os partícipes (e vice-versa).
O Professor Rogério Sanches aborda as duas correntes, explicando o seguinte:
“A doutrina discute a natureza jurídica da desistência voluntária e do arrependimento eficaz. Para uns, trata-
se de causa de EXCLUSÃO DA TIPICIDADE. Nesse sentido, argumenta Miguel Reale Jr.: ‘Se típica é a tentativa,
quando o resultado deixa de ocorrer por razão alheia à vontade do agente; atípica é a tentativa quando o
evento deixa de se efetivar, não por causa alheia à vontade
5700 do agente, mas graças à sua própria vontade’.
Para outros, causa pessoal EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE. Vejamos a explicação de Zaffaroni e Pierangeli:
‘Optamos pela causa pessoal de isenção de pena, porque entendemos que o delito tentado encontra-se
completo em todos os seus elementos, apesar da mediação da desistência voluntária. Embora se afirme que
o conceito de crime tentado do art. 14, II, requer que ele `não se consume por circunstâncias alheias à
vontade do agente', com o que pareceria significar que a não consumação, por circunstâncias alheias à
vontade do agente, é um elemento da tipicidade na tentativa, entendemos não ser isto sustentável, dado
que a tentativa já é típica desde o início da execução, e uma etapa posterior em que se detém a execução
não pode apagar o campo do proibido que já foi incursionado na etapa anterior. Em outras palavras: quando
o autor começa a arrombar a porta para furtar, com isto inicia a execução do furto e sua conduta já é típica;
se dez minutos depois, e já dentro da casa em que haveria de cometer o apoderamento, se arrepende e
decide desistir, esta circunstância não pode eliminar a tipicidade já configurada de seus atos executivos
anteriores’”.
Por fim, trata-se de uma causa de exclusão tipicidade. O sujeito dá início à execução de um crime, o qual
não se consuma. A forma tentada, entretanto, torna-se atípica com a atitude do agente, o qual, por
vontade própria, evita a produção do resultado.
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delito na sua forma tentada, posto que o fim inicialmente pretendido pelo agente não se realiza, ou seja, ao
alterar o dolo inicialmente quisto, enseja a ocorrência da atipicidade, respondendo, entretanto, pelos atos já
praticados. (item correto)
d) Requisitos:
o Voluntariedade – vontade livre (é diferente de espontaneidade, que não é requisito);
o Eficácia - Para que se apliquem esses institutos, a conduta do agente deve ter sido eficaz para
impedir a consumação. Se ele apenas tentou, mas não conseguiu evitar, será cabível somente
uma atenuante genérica (Art. 65, III, b, primeira parte, do Código Penal).
Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte alternativa: O agente que tenha desistido
voluntariamente de prosseguir na execução ou, mesmo depois de tê-la esgotado, atue no sentido de evitar
5700
a produção do resultado, não poderá ser beneficiado
5700
com os institutos da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz caso o resultado venha a ocorrer.
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Questão de prova - CESPE: Pedro, José e Alfredo integram uma organização criminosa que opera com tráfico
de drogas e comete vários
5700crimes na periferia de uma grande cidade brasileira. José ocupa uma posição mais
alta na organização, sendo responsável por punir quem não correspondesse às expectativas do grupo. Certo
dia, tendo Alfredo falhado na cobrança de uma dívida do tráfico, José, com a ajuda de Pedro, deu-lhe uma
surra. Com o objetivo de se vingar de ambos, Alfredo armou um plano para acabar com a vida de José e
atribuir a responsabilidade a Pedro. Assim, durante um tiroteio entre integrantes da organização criminosa
e policiais, Alfredo, apontando na direção de José, que estava atrás de um arbusto, orientou Pedro a atirar
nele, sob a alegação de que se tratava de um policial. O tiro atingiu José e Alfredo fugiu. Tendo percebido o
erro, Pedro levou José ao hospital, o que evitou sua morte. Considerando que, conforme o Código Penal, o
crime de homicídio consiste em matar alguém e o crime de lesão corporal em ofender a integridade corporal
ou a saúde de outrem, assinale a opção correta a respeito da responsabilização de Alfredo e Pedro na
situação hipotética apresentada.
A - Pedro não será responsabilizado pela prática de crime, em razão do erro sobre pessoa, e Alfredo
responderá por tentativa de homicídio.
B - Alfredo será responsabilizado por tentativa de homicídio e Pedro por lesão corporal.
C - Nem Alfredo nem Pedro serão responsabilizados pela prática de crime, já que Pedro impediu a morte de
José. 5700
CORRETA: Alfredo será responsabilizado por tentativa de homicídio e Pedro por lesão corporal.
Justificativa: Pedro: erro de tipo acidental sobre a pessoa (aberratio in persona) + arrependimento eficaz.
“Ué, mas vocês acabaram de falar que se comunica. Por qual razão foi diferente aqui?”
Note que Alfredo agiu com má fé, levando o autor executor a erro. Assim, na verdade, não houve concurso
de pessoas, mas autoria mediata mediante induzimento a erro de tipo (art. 20, §2º do CP: responde pelo
crime o terceiro que determina o erro). Ele não é mero partícipe, ele foi o AUTOR MEDIATO. Por esta razão,
Alfredo não será beneficiado com o arrependimento eficaz praticado por José. Se o caso fosse de concurso
de pessoas mediante participação, como muita gente pensa ao ler o enunciado, ele seria sim beneficiado,
vez que o instituto se aplica aos demais agentes, mesmo que não concordem com o arrependimento. Assim,
Alfredo será responsabilizado por tentativa de Homicídio.
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Distinção de ato voluntário e espontâneo: a desistência e o arrependimento não precisam ser espontâneos,
bastando que sejam voluntários. Por conseguinte, se o agente desiste ou se arrepende por sugestão ou
conselho de terceiro, subsistem a desistência voluntária e o arrependimento eficaz. Do mesmo modo, por
motivo nobre ou de índole ética, piedade,
5700 remorso ou por motivos subalternos egoísticos, covardia, medo,
receio de eventualmente ser descoberto: é suficiente que não tenha sido obstado por causa exteriores,
independentemente de sua vontade. É indiferente a razão interna do arrependimento ou da mudança de
propósito.
Como lembra Nélson Hungria, segundo Frank, a desistência é voluntária quando o agente pode dizer: ‘não
quero prosseguir, embora pudesse fazê-lo’, e é involuntária quando tem de dizer: ‘não posso prosseguir,
ainda que o quisesse’.
6. ARREPENDIMENTO POSTERIOR
5700
Ocorre quando o responsável pelo crime praticado sem violência à pessoa ou grave ameaça,
voluntariamente e até o recebimento da denúncia ou queixa, restitui a coisa ou repara o dano provocado
por sua conduta.
Arrependimento posterior
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado
o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
b) Extensão do benefício:
Conforme a doutrina majoritária, alcança qualquer crime que com ele seja compatível, e não apenas
delitos contra o patrimônio, vez que o CP não limita a eles.
No entanto, o STJ tem jurisprudência que os crimes praticados sejam patrimoniais ou possuam
efeitos patrimoniais. Já nos crimes contra a fé pública, assim como nos demais crimes não patrimoniais em
geral, são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de
haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída” (REsp 1.242.294/PR, j. 18/11/2014).
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c) Fundamentos:
● Proteção à vítima;
● Fomento ao arrependimento do agente.
d) Requisitos (cumulativos):
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(1) Natureza do crime: crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa (a violência à coisa não obsta
o reconhecimento do instituto).
Cabe arrependimento posterior nos casos em que há violência imprópria? Ex.: quando se utiliza um
sonífero para diminuir a capacidade de resistência da vítima.
R.: Há divergência doutrinária: Parte da doutrina entende que o arrependimento posterior é uma das
poucas hipóteses em que o legislador se preocupa com a vítima, se preocupa com a forma de diminuir os
danos causados à vítima. Assim, como esse instituto é direcionado à vítima, sempre que puder incentivar o
autor a reparar o dano ou restituir a coisa, reduzindo os prejuízos da vítima, admitiria a aplicação do
arrependimento posterior. No entanto, a jurisprudência é muito reticente em aplicar.
TURMA 9
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Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente:
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado
o dano;
https://youtu.be/HTvFfb3-AuI
5700
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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e) Algumas características:
5700
● A reparação do dano ou restituição da coisa tem natureza objetiva, razão pela qual comunica-se aos
demais coautores e partícipes do crime (majoritário).
● A recusa do ofendido NÃO impede a redução da pena.
● Em algumas situações, não se aplicará pelo fato de existir norma específica mais favorável para o
caso de haver reparação do dano, como por exemplo, extinção da punibilidade, ex: apropriação
indébita, crimes de menor potencial ofensivo, peculato culposo etc.
1. PECULATO CULPOSO
● Reparação do dano até a sentença irrecorrível — extinção da punibilidade
● Reparação do dano após a sentença irrecorrível — redução de ½ da pena
62
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A Súmula 554 do STF não incide para qualquer estelionato, mas apenas para o estelionato em que
há emissão de cheque sem fundo.
Assim, se o pagamento for antes do recebimento da denúncia, objetaria /impediria o prosseguimento
da ação penal.
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
a) Conceito: Verifica-se da impossibilidade de ocorrer a consumação, seja pela ineficácia absoluta do meio,
ou por absoluta impropriedade do objeto. Também conhecido por “tentativa inidônea, tentativa
inadequada, tentativa impossível ou quase crime”.
TURMA 9
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● Por ineficácia absoluta do meio de execução: O meio empregado ou o instrumento utilizado para a
execução do crime jamais levarão a consumação, pois não possui potencialidade lesiva alguma. Ex:
Um palito de dente para matar um adulto é incapaz de produzir o resultado. A idoneidade deve ser
analisada no caso concreto.
Obs: A ineficácia do meio, quando relativa, leva à tentativa e não ao crime impossível. Ex: um palito é meio
relativamente independente eficaz para matar um recém-nascido, perfurando-lhe a moleira.
☞ Critério para aferição da idoneidade: a aferição da idoneidade deve ser feita no momento
em que se realiza a ação ou omissão delituosa:
a) se concretamente os meios ou o objeto eram inidôneos para a consecução do resultado já antes
de se iniciar a ação executória, o crime é impossível.
b) se os meios ou o objeto tornam-se inidôneos concomitantemente ou após o início da execução,
tipifica-se uma tentativa de crime que se pretendia cometer, porque, no momento em que o agente praticou
o crime, este tinha possibilidade de consumar-se. Um exemplo dado pelo autor Fernando Capez, em que o
agente envenena a vítima, que já tinha sido envenenada antes por outra pessoa. Vindo ela, posteriormente,
a falecer em decorrência do veneno anterior, não se poderá falar em crime impossível no tocante ao agente,
que, assim, responderá por tentativa, pois a vítima ainda estava viva quando ele a envenenou, sendo esse
objeto material idôneo para sofrer a agressão homicida. O resultado só não ocorreu em decorrência de
conduta anterior, que produziu sozinha o resultado morte.
Súmula 145, STF: “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação”. Segundo Greco, “por intermédio da Súmula
n° 145 do STF foi pacificado o entendimento daquela Corte no sentido de que, em
determinadas situações, se a polícia preparar o flagrante de modo a tornar
impossível a consumação do delito, tal situação importará em crime impossível,
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NÚCLEO DURO
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5700
reprimenda do Estado”.
A atuação ao agente provocador pode impedir a caracterização do crime, quando se cria um cenário em que
o crime não pode ocorrer. Será uma hipótese de flagrante provocado ou de crime de ensaio. No caso há uma
indução de um terceiro para a prática criminosa, e assim, provocar uma responsabilização. Teríamos nesse
caso, um controle de um terceiro na situação que provocou a conduta agente, simulando por exemplo uma
transação ilícita para o flagrante, tornando o crime impossível (crime de ensaio).
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NÚCLEO DURO
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- Teoria objetiva pura: havendo inidoneidade, não importa se absoluta ou relativa, será caso
de crime impossível – não admite a tentativa, pois sempre que o agente não conseguir
consumar o crime será caso de crime impossível;
- Teoria objetiva temperada ou intermediária: se a idoneidade for absoluta o crime é
impossível, se a inidoneidade for relativa, será hipótese de tentativa. Adotada pelo CP.
Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: No direito penal brasileiro, adota-se a
teoria subjetiva para o regramento do crime impossível, o que significa que o agente não responde, inclusive
pela tentativa, diante da impossibilidade da consumação do crime em razão da ineficácia absoluta do meio
ou da absoluta impropriedade do objeto.
Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: Crime impossível e delito putativo são
considerados pela doutrina como expressões sinônimas.
Delito putativo por obra do agente provocador, crime de flagrante preparado, delito de ensaio ou
experiência: A polícia ou terceiro (agente provocador) prepara uma situação, na qual induz o agente a
cometer o delito (ex: delegada grávida pede para o médico fazer aborto ilegal e depois que o prende em
flagrante). Nessa situação o autor é protagonista de uma farsa que, desde o início, não tem a menor chance
de dar certo. Por essa razão a jurisprudência considera a encenação do flagrante preparado uma espécie de
crime impossível entendendo não haver delito, ante a atipicidade do fato.
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NÚCLEO DURO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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META 2
TODOS OS ARTIGOS
⦁ Lei 9296/96
⦁ Art. 5º, XII, CF/88
⦁ Art. 3º-A, CPP
⦁ Art. 13-A e 13-B, CPP
⦁ Art. 15, lei 12850/2013
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
Destaca-se pelo fato de não possuir previsão específica no rol de provas previstas no Código de
Processo Penal (Título VII), os resultados obtidos legalmente pelas interceptações de comunicações
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NÚCLEO DURO
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Uma questão interessante é saber: toda obtenção de diálogos alheios trata-se de uma interceptação
telefônica?
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ESCUTA TELEFÔNICA GRAVAÇÃO TELEFÔNICA
Ocorre quando um terceiro Ocorre quando um terceiro Ocorre quando o diálogo telefônico travado
capta o diálogo telefônico capta o diálogo telefônico entre duas pessoas é gravado por um dos
travado entre duas pessoas, travado entre duas pessoas, próprios interlocutores, sem o
sem que nenhum dos sendo que um dos consentimento ou a ciência do outro.
interlocutores saibam. interlocutores sabe que está Também é chamada de GRAVAÇÃO
sendo realizada a escuta. CLANDESTINA (obs: a palavra “clandestina”
Há o consentimento deste está empregada no sentido de “feito às
interlocutor ocultas”, não na acepção de “ilícito”, mas
sim).
Ex: polícia, com autorização Ex: polícia grava a conversa Ex: mulher grava a conversa telefônica no
judicial, grampeia os telefones telefônica que o pai mantém qual o ex-marido ameaça matá-la.
dos membros de uma quadrilha com o sequestrador
5700
de seu
e grava os diálogos mantidos filho.
entre eles.
Para que a interceptação seja Para que seja realizada é A gravação telefônica é válida mesmo que
válida é indispensável a indispensável a autorização tenha sido realizada SEM autorização
autorização judicial judicial (posição majoritária). judicial.
(entendimento pacífico). A única exceção em que haveria ilicitude se
dá no caso em que a conversa era
amparada por sigilo (ex: advogados e
clientes, padres e fiéis).
Em relação à ESCUTA TELEFÔNICA, é importante notar que o consentimento dado por um dos
interlocutores não pode estar viciado. Em se tratando de consentimento viciado, envolvendo suposto
consentimento de um suspeito e gravação de conversas telefônicas por viva-voz,
5700 o STJ entendeu que o
consentimento não foi válido e declarou a ilicitude da prova.
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NÚCLEO DURO
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Nota-se, que o suspeito foi compelido e forçado a colocar o celular no modo viva voz, tornando ilegal
toda e qualquer prova obtida a partir desse momento, uma vez que é inviolável o sigilo das comunicações
sem autorização judicial ou minimamente por consentimento voluntário do indivíduo. Essa situação é
específica em relação ao consentimento viciado.
de forma coercitiva pela polícia, de conversa travada pelo investigado com terceira
pessoa em telefone celular, por meio do recurso "viva-voz", que conduziu ao
flagrante do crime de tráfico ilícito de entorpecentes. STJ. 5ª Turma. REsp
1.630.097-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 18/4/2017 (Info 603).
À luz do entendimento do STJ, no Info 543, quando um dos interlocutores é incapaz, o consentimento
para a interceptação (escuta) será dado por seu representante.
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NÚCLEO DURO
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A expressão “comunicação telefônica” não deve se restringir às comunicações por telefone, mas deve
também abranger a transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons
ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia, estática ou móvel. Entretanto, os tribunais
superiores divergem quanto à aplicação da lei 9296 em algumas hipóteses;
5700
STJ – É ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas
diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia
autorização judicial. Recurso ordinário em habeas corpus provido, para declarar a
nulidade das provas obtidas no celular do paciente sem autorização judicial, cujo
produto deve ser desentranhado dos autos. (RHC 51531)
STJ - É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp via Código
QR para acesso no WhatsApp Web. Também são nulas todas as provas e atos que
dela diretamente dependam ou sejam consequência, ressalvadas eventuais fontes
independentes. Não é possível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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STJ - Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia, sem
prévia autorização judicial, na hipótese em que seu proprietário - a vítima - foi
morto, tendo o referido telefone sido entregue à autoridade policial por sua
esposa. STJ. 6ª Turma.RHC 86076-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/10/2017 (Info 617). Cuidado para não
confundir: Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia
por meio da extração de dados e de conversas registradas no Whatsapp presentes
no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido
apreendido no momento da prisão em flagrante. STJ. 5ª Turma. RHC 67379-RN, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2016 (Info 593). STJ. 6ª Turma. RHC 51531-
RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583).
O acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica
como quebra de sigilo telefônico. STJ, 5ª Turma, HC 720.605, julgado em
09.08.2022. 5700
5700
4. QUEBRA DO SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS
A interceptação das comunicações telefônicas NÃO se confunde com a quebra de sigilo de dados
telefônicos:
TURMA 9
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Comissões Parlamentares de Inquérito também podem determinar a quebra do sigilo de dados telefônicos
com base em seus poderes de investigação (CF, art. 58, §3°), desde que o ato deliberativo esteja devidamente
fundamentado (MS 23.452/RJ).
Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte alternativa: Não se deve confundir a interceptação
telefônica, esta autorizada pela Constituição, desde que por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal, com o sigilo dos registros
telefônicos, que nada mais são do que os telefonemas registrados nos bancos de dados das operadoras de
telefonia e que não estão sujeitos ao princípio da reserva absoluta de jurisdição, podendo as Comissões
Parlamentares de Inquérito, segundo precedente do Supremo Tribunal Federal, ter acesso a tais dados sem
a necessidade de ordem judicial.
STJ - O fato de ter sido verificado o registro das últimas chamadas efetuadas e
recebidas pelos dois celulares apreendidos em poder do co-réu, cujos registros se
encontravam gravados nos próprios aparelhos, não configura quebra do sigilo
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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5. QUEBRA DE ERB
Por meio da estação rádio base (ERB), é possível saber a localização aproximada de qualquer aparelho
celular ligado, desde que este esteja em uso, seja enviando ou recebendo uma mensagem, seja efetuando
ou recebendo uma ligação, e, consequentemente, de seu usuário. Note, portanto, que essa quebra não
permite acesso ao conteúdo da comunicação, mas somente o local aproximado onde se encontra
determinado aparelho.
Há divergência acerca da necessidade ou não de autorização judicial para obter o acesso a tais dados.
● 1ª C (STJ) – Dispensa prévia autorização judicial.
5700 Não se pode confundir a interceptação das
comunicações telefônicas com a obtenção de informações quanto ao posicionamento das ERB´s,
verdadeira espécie de dados telefônicos. O STJ tem precedente afirmando ser desnecessária a
autorização judicial para quebra de ERB.
TURMA 9
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● 2ª C (Doutrina + CPP) – Depende de autorização judicial. A obtenção das informações colhidas pela
quebra da ERB permite obter informações acerca da localização aproximada de uma pessoa, fato que
guarda relação e tangencia o direito à intimidade e à vida privada
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6. MOMENTO DE DECRETAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
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NÚCLEO DURO
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Apesar de a decretação da interceptação telefônica ser mais comum durante a fase investigatória, é
perfeitamente possível o deferimento da medida durante a instrução processual penal. Com efeito, podem
surgir, no curso do processo, circunstâncias novas, desconhecidas, que recomendem a realização imediata
da interceptação telefônica.
Como a Constituição Federal e a Lei n° 9.296/96
5700
dispõem que a interceptação telefônica só pode ser
autorizada para fins de investigação criminal ou instrução processual penal, não é possível que essa medida
seja determinada no curso de um processo de natureza cível, comercial, trabalhista, administrativa etc.
Apesar de sabermos que há precedentes de Tribunais Estaduais em sentido contrário, uma vez
decretada a realização de uma interceptação telefônica para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal, nada impede que os elementos probatórios aí obtidos sejam utilizados em outro processo,
a título de prova emprestada.
A jurisprudência dos tribunais superiores entende que dados obtidos em interceptação de
comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em
investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo
disciplinar, contra5700a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros
servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova.
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NÚCLEO DURO
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Ressalta-se que, em 2019, a 6ª Turma do STJ, no informativo 648, entendeu que é dever do Estado
disponibilizar a integralidade das conversas avindas nos autos de forma emprestada (prova emprestada).
Veja:
5700
A defesa deve ter acesso à integralidade das conversas advindas nos autos de
forma emprestada, sendo inadmissível que as autoridades de persecução façam
a seleção dos trechos que ficarão no processo e daqueles que serão extraídos. A
apresentação de somente parcela dos áudios, cuja filtragem foi feita sem a
presença do defensor, acarreta ofensa ao princípio da paridade de armas e ao
direito à prova, porquanto a pertinência do acervo probatório não pode ser
realizada apenas pela acusação, na medida em que gera vantagem desarrazoada
em detrimento da defesa. STJ. 6ª Turma. REsp 1.795.341-RS, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 07/05/2019 (Info 648).
7. DA NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO.
Em regra, haverá o que a doutrina convencionou chamar de “contraditório diferido”, ante a própria
natureza da interceptação telefônica como medida cautelar inaudita, ora, avisar ao investigado que seu
telefone se encontra interceptado esvaziaria a possibilidade de êxito da cautelar, o sujeito simplesmente
deixaria de usar o telefone e passaria a usar linha desconhecida pelas autoridades.
Por conta disso o contraditório será observado, a posteriori, tão logo concluída a diligência.
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Inclusive, é possível impetrar habeas corpus preventivo, em virtude de a possibilidade advir prejuízo
à liberdade ambulatorial, mesmo que não iminente, mas que seria decretada com base no ilegal manejo da
interceptação telefônica por parte do agente público.
Não é possível interceptação telefônica para verificar se uma determinada pessoa, contra a qual
inexiste qualquer indício, está ou não cometendo algum crime. É absolutamente proibida a chamada
INTERCEPTAÇÃO DE PROSPECÇÃO, desconectada da realização de um fato delituoso, sobre o qual ainda não
se conta com indícios suficientes.
80
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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B) QUANDO A PROVA NÃO PUDER SER FEITA POR OUTROS MEIOS DISPONÍVEIS:
A interceptação telefônica deve ser utilizada como medida de ultima ratio, sob pena de ilicitude da
prova, sendo inegável o caráter subsidiário esta possui como meio de prova.
Ou seja, a medida é exceção, e não regra, só podendo ser manejada quando não houver outro meio
para apurar o fato, nesse sentido;
5700
Considerando seu caráter subsidiário, uma vez que a interceptação telefônica somente deve ser
utilizada diante da insuficiência dos meios de obtenção
5700 de prova tradicionais, é certo que não deve ser
adotada, de imediato, pela autoridade policial, ao receber uma denúncia anônima.
É necessário, como em qualquer hipótese de “denúncia anônima” (noticia criminis inqualificada),
que o delegado de polícia proceda à verificação das informações para analisar a plausibilidade e veracidade
das informações obtidas.
Assim, se após a denúncia anônima houver a investigação preliminar, poderá ser decretada a
interceptação telefônica.
Vejamos a jurisprudência dos Tribunais Superiores nesse sentido (Info 855):
TURMA 9
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5700
Aqui o legislador limitou o uso da interceptação telefônica em razão da natureza da pena, só sendo
possível manejá-la caso o crime seja punido com pena de reclusão, estando os crimes punidos com detenção,
e as contravenções, que são punidas com prisão simples, excluídas das hipóteses de incidência de
interceptação telefônica.
5700
Caiu na prova 2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia A interceptação telefônica, preenchidos os
demais requisitos legais, pode ser determinada quando o fato investigado isoladamente constituir infração
penal punida com detenção ou reclusão, não sendo admitida nas hipóteses de prisão simples. (item
incorreto)
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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OBS.1: DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: será sempre obrigatória a descrição com clareza da
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo
impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
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Considerações importantes:
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NÚCLEO DURO
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De acordo com a doutrina majoritária, o magistrado NÃO pode atuar de ofício na fase pré-processual,
por caracterizar ofensa ao Sistema Acusatório (consagrado expressamente no art. 3ª-A, CPP). Logo, em tese,
não pode decretar de ofício a interceptação telefônica fora da instrução processual. No entanto, uma vez em
curso o processo, a autoridade judiciária passaria a deter poderes inerentes ao próprio exercício da função
jurisdicional, podendo determinar a interceptação telefônica de ofício.
Ressalta-se que a atuação de ofício do magistrado na fase processual não foge às diversas críticas
doutrinárias, uma vez que o juiz deixa de estar em posição equidistante das partes, atuando como
interessado na instrução processual, o que acabaria ferindo o processo penal contraditório, maculando-o
com traços de inquisitoriedade.
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A conversa pessoal e reservada entre advogado e cliente tem toda a proteção da lei, porquanto,
entre outras reconhecidas garantias do advogado, está a inviolabilidade de suas comunicações. Como estão
proibidas de depor as pessoas que, em razão de profissão, devem guardar segredo, é inviolável a
comunicação entre advogado e cliente.
No entanto, o STJ já decidiu que o simples fato de o advogado do investigado ter sido interceptado
não é causa, por si só, para gerar a anulação do processo
A anulação do processo e da condenação imposta ao réu só ocorrerá se for indevida e violar as
prerrogativas da defesa, podendo gerar consequências processuais distintas
● Cassação ou invalidação do ato judicial que determinou a interceptação
● Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório
5700
com ele relacionado
● Afastamento do magistrado caso de demonstre que, ao agir assim, atuava de forma parcial.
5700
As conversas entre investigado e seu advogado, obtidas mediante interceptação telefônica judicialmente
autorizada, seria válida ou a prova deverá ser considerada ilícita?
- Conversas entre investigado e seu advogado sobre estratégias de defensa: se o investigado interceptado
estiver em conversa com seu advogado tratando, por exemplo, de estratégias relativas à sua defesa o
respectivo conteúdo não poderá ser utilizado como prova para incriminá-lo. A conversa estará acobertada
pelo sigilo profissional do advogado (desdobramento lógico do devido processo legal).
- Advogado como autor, coautor ou partícipe de crime: O sigilo profissional do advogado não poderá ser
invocado como uma espécie de blindagem indiscriminada capaz de imunizá-lo da prática de crimes. Dessa
forma, se o advogado estiver envolvido na prática de crimes autorizadores da medida excepcional da
interceptação telefônica, eventuais conversas gravadas nesse contexto poderão ser utilizadas como prova
de crime
A decisão deixa claro, que em respeito ao princípio do “pas nullité sans grief”, não haverá nulidade
sem prejuízo, logo, se o próprio juiz, ao perceber que o advogado do investigado foi indevidamente
“grampeado”, anula as gravações envolvendo o professional e, na sentença, não utiliza nenhuma dessas
conversas nem qualquer prova derivada delas, não há motivo para se anular a condenação imposta.
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NÚCLEO DURO
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STJ - O simples fato de o advogado do investigado ter sido interceptado não é causa,
por si só, para gerar a anulação de todo o processo e da condenação que foi imposta
ao réu. Se o Tribunal constatar que houve indevida interceptação do advogado do
investigado e que, portanto, foram violadas as prerrogativas da defesa, essa
situação poderá gerar três consequências processuais: 1ª) Cassação ou invalidação
do ato judicial que determinou a interceptação; 2ª) Invalidação dos atos
processuais subsequentes ao ato atentatório e com ele relacionados; 3ª)
Afastamento do magistrado caso se demonstre que, ao assim agir, atuava de
forma parcial.
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No mesmo sentido se posiciona o Supremo Tribunal Federal, que vai além ao considerar a prova
lícita, ainda que o “crime achado” não tenha relação de conexão com o delito que estava sendo investigado,
desde que respeitados os requisitos legais para a interceptação, e que não tenha havido fraude ou desvio de
finalidade
STF - O réu estava sendo investigado pela prática do crime de tráfico de drogas.
Presentes os requisitos constitucionais e legais, o juiz autorizou a interceptação
telefônica para apurar o tráfico. Por meio dos diálogos, descobriu-se que o acusado
foi o autor de um homicídio. A prova obtida a respeito da prática do homicídio é
LÍCITA, mesmo a interceptação telefônica tendo sido decretada para investigar
5700
outro delito que não tinha relação com o crime contra a vida. Na presente situação,
tem-se “crime achado”, ou seja, uma infração penal desconhecida e não
investigada até o momento em que, apurando-se outro fato, descobriu-se esse
novo delito. (STF. 1ª Turma. HC 129678/SP)
Como dito, para o Min. Alexandre de Moraes, a prova é considerada lícita, mesmo que o “crime
achado” não tenha relação (não seja conexo) com o delito que estava sendo investigado, desde que tenham
sido respeitados os requisitos constitucionais e legais.
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NÚCLEO DURO
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Caiu na prova delegado SP 2022 - Nos termos da Lei n° 9.296/1996 (Lei de Interceptação Telefônica), é
correto afirmar excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde
que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação das comunicações telefônicas, caso
em que a concessão será condicionada à sua redução a termo. (item correto).
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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É indispensável que o magistrado aponte, de maneira concreta, as circunstâncias fáticas que indicam
a adoção da medida cautelar, sob pena de manifesta ilegalidade da decisão e, por consequência, ilicitude da
prova assim obtida.
Requisitos da decisão judicial:
● Quais são os concretos indícios de autoria ou de participação (art. 2., I);
● Quais são as provas existentes a respeito da infração penal (materialidade) (art. 2º, I);
● Que se trata de infração punida com reclusão (art. 2°, III);
● Que a interceptação é necessária em virtude da inexistência de outros meios disponíveis para a
obtenção da prova (art. 2°, II, e art. 4°);
● A descrição com clareza da situação objeto da investigação (delimitação fática da medida, isto é, qual
é o crime, onde está ocorrendo, desde quando vem ocorrendo etc.) (art. 2., parágrafo único); f)
indicação e, se possível, a qualificação do sujeito passivo da medida (identificação do investigado ou
dos investigados (art. 2°, parágrafo único); 5700
Em regra, execução da diligência não pode ultrapassar o limite de 15 (quinze) dias, a partir do dia em
que a medida é efetivada.
Havendo necessidade de renovação do prazo da interceptação, esta deve se dar antes do decurso do
prazo fixado na decisão originária, mediante decisão judicial motivada, evitando-se uma solução de
continuidade na captação das comunicações telefônicas.
90
NÚCLEO DURO
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“São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação com o
caso concreto”.
STF - A lei 9296/1996 prevê que a interceptação telefônica não poderá exceder o
prazo de 15 dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a
indispensabilidade do meio de prova. (STF 2° Turma. HC133148- ES)
STF – A interceptação telefônica não poderá exceder 15 dias. Contudo, pode ser
renovada por igual período, 5700
não havendo restrição legal ao número de vezes para
tal renovação, comprovada a sua necessidade. (STF °2 Turma. RHC 132115/PR)
Esse julgado foi objeto de questionamento na prova de Delegado de Polícia do Paraná (2021):
Em 2019, o STJ considerou inconstitucional parte da Resolução do CNJ (Resolução nº 59/2008), que
proibia o juiz de prorrogar a interceptação telefônica durante o plantão judiciário ou durante o recesso do
fim de ano.
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OBS.1: Em 15.09.2020, o STJ, no bojo do AgRg no AREsp 1.861.383, entendeu que a captação de
áudio em interceptação telefônica fora do período autorizado resulta na nulidade apenas da gravação
realizada no dia excedente, e não na nulidade de toda a gravação!
OBS.2: A limitação temporal somente é necessária para o fluxo das comunicações, não sendo
requisito indispensável quando se tratar de quebra de5700
sigilo que envolva dados estáticos/já armazenados.
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→ Como visto acima, a interceptação pode ser prorrogada sucessivas vezes, desde que fundamentada a
5700
decisão. Desse modo, tanto o deferimento como a prorrogação precisam ser fundamentadas, dito isto,
questiona-se:
Trata-se de uma forma de motivação por meio da qual se faz remissão ou referência às alegações de uma
das partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos do mesmo processo. É chamada pela doutrina e
jurisprudência de motivação ou fundamentação per relationem ou aliunde. Também é denominada de
motivação referenciada, por referência ou por remissão.
→ É válida a decisão judicial que se utiliza de fundamentação per relationem para decretar a interceptação
telefônica?
Sim! Admite-se o uso da motivação per relationem 5700
para justificar a quebra do sigilo das comunicações
telefônicas. No entanto, as decisões que deferem a interceptação telefônica e respectiva prorrogação devem
prever, expressamente, os fundamentos da representação que deram suporte à decisão – o que constituiria
meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório, da motivação reportada como razão de
decidir – sob pena de ausência de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar. STJ. 6ª Turma. HC
654131-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/11/2021 (Info 723).
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manifestação ministerial anterior, não implica vício de fundamentação. (item correto). Jurisprudência: O
entendimento jurisprudencial pacificado é no sentido de que a utilização da fundamentação per relationem,
seja para fim de reafirmar a fundamentação de decisões anteriores, seja para incorporar à nova decisão os
termos de manifestação ministerial anterior, não implica vício de fundamentação (STJ. 5ª Turma. AgRg no
AREsp n. 1.7906.66/SP, Min. Felix Fischer, DJe 6/5/2021).
Segundo o STJ (RHC 80.773/2020), o artigo 6º,5700ao atribuir à autoridade policial a competência para
conduzir a interceptação, não pode ser interpretado de forma totalmente estrita. Isso porque admite-se a
legitimidade de órgão da Secretaria de Segurança Pública para conduzir o trabalho de interceptação.
Ademais, há desnecessidade de degravação integral das conversas efetuadas desde que
assegurado às partes o acesso à integralidade dos registros. Não há na lei qualquer exigência no sentido de
que a degravação seja submetida à perícia. Além disso, é desnecessário que a transcrição das gravações
resultantes da interceptação telefônica seja feita por peritos oficiais: cuidando-se de tarefa que não exige
conhecimentos técnicos especializados, pode ser realizada pelos próprios policiais que atuaram na
investigação.
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STJ – Não se exige, sempre e de modo irrestrito, a degravação integral das escutas
telefônicas. Há de ser feita uma seleção daquilo que deve, realmente, constar dos
autos para a defesa e para a acusação. (STJ no AgRg no Ag em Resp 1.123.449/2020)
STJ – Em regra não existe imposição legal para a realização de perícia para o
reconhecimento de vozes para os diálogos interceptados, excepcionalmente a
perícia pode ser necessária em caso de fundada dúvida sobre o interlocutor.
5700
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É importante frisar que a ausência de autos apartados configura mera irregularidade, sem o condão
de macular a prova, uma vez que, dessa ausência, não se pode auferir prejuízo em concreto à nenhuma das
partes. Nesse sentido:
STF – Preenchidas as exigências previstas na lei 9296, não deve ser considerada
ilícita a interceptação telefônica pela simples ausência de autuação. A ausência de
autuação configura mera irregularidade que não viola os elementos essenciais a
validade da interceptação. (STF. 1° Turma. HC 128102/ SP).
Art. 9º. A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial,
durante o inquérito, a instrução
5700 processual ou após esta, em virtude de
requerimento do Ministério Público ou da parte interessada.
Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público,
sendo facultada a presença do acusado ou de seu representante legal.
a) Momento: O incidente de inutilização das conversas telefônicas que poderá ser instaurado ao longo
de toda a persecução penal, inclusive após a instrução processual, mas até a prolação da sentença,
já que exaurido a sua competência, não podendo reconhecer esse
5700
incidente. O terceiro pode
requerer o desarquivamento da condenação ao juízo da condenação originária sendo um exemplo
de jurisdição voluntária. Isso pode ocorrer quando um terceiro vê sua vida exposta.
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Vejamos os conceitos:
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c) Escuta ambiental: é a captação de uma comunicação, no ambiente dela, feita por terceiro, com o
consentimento de um dos comunicadores. Por exemplo, imagine-se a hipótese de cidadão vítima de
concussão que, com o auxílio da autoridade policial, efetue o registro audiovisual do exato momento em que
funcionário público exige vantagem indevida para si em razão de sua função;
5700
A gravação ambiental tem sido admitida pela Suprema Corte como legítima desde
que atendidas algumas exigências, tais como ser gravação de comunicação própria
e não alheia, estar em jogo relevantes interesses e direitos da vítima como, por
exemplo, nos crimes de extorsão. Assim, presentes essas circunstâncias a prova é
aceita como válida.
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Julgamento: 05/12/1997)
Por fim, o Professor Luiz Flávio Gomes faz a seguinte ressalva: "A tendência lógica seria o STF admitir
a gravação ambiental clandestina com as mesmas restrições e cautelas. Admitir a gravação ambiental
clandestina (gravação de sons que são emitidos num determinado ambiente) como meio lícito de prova, de
maneira ampla, significa eliminar nossa privacidade (ou seja, proscrever um dos mais importantes direitos
fundamentais). Mas nenhuma restrição a direito fundamental pode afetar o seu núcleo essencial". E conclui
afirmando que "a gravação ambiental (...) sem autorização judicial prévia, só pode valer como prova em casos
excepcionalíssimos e desde
5700 que envolva interesses e direitos de quem fez a gravação. Fora disso, é manifesta
a inconstitucionalidade da prova"
É justamente nesse sentido que as alterações implementadas pelo PACOTE ANTICRIME operam,
buscam trazer regulamentação para que ocorra a interceptação de comunicações ambientais e estas sejam
utilizadas de forma legítima à instrução processual penal. Vejamos abaixo as novidades trazidas pela Lei
13.964/2019:
Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz,
a requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação
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Desse modo, a partir da entrada em vigor da Lei 13.964/2019, passa-se a exigir autorização
5700
judicial,
com o objetivo de investigação ou instrução criminal, para a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos.
À semelhança do art. 1º da Lei 9.296/96, que abrange tanto a interceptação telefônica em sentido
estrito quanto a escuta telefônica, o art. 8º faz uso da expressão “captação ambiental” em sentido amplo,
englobando a interceptação ambiental em sentido estrito e a escuta ambiental, pois ambas consistem em
processos de captação da conversa alheia.
Ressalta-se ainda que a doutrina e jurisprudência apontam que a interceptação ambiental está
tutelada no inciso X do art. 5º da CF/88 – garantia constitucional da intimidade e vida privada.
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Inicialmente, observa-se que se trata de hipótese sujeita à cláusula de reserva de jurisdição. Assim,
será decretada judicialmente a captação ambiental para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal.
É interessante observar que a captação ambiental não poderá ser decretada de ofício, nem mesmo
na fase processual, já que exige:
(a) Representação da autoridade policial (curso da investigação).
(b) Requerimento do membro do Ministério Público (curso da investigação ou no curso do processo).
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Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
13.869. de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a
execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado
em lei. (Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019)
Art. 10-A. Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou
acústicos para investigação ou instrução criminal sem autorização judicial, quando
esta for exigida: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos
interlocutores. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que descumprir
determinação de sigilo das investigações que envolvam a captação ambiental ou
revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo judicial.
- Promover escuta ambiental: essa modalidade, em grande parte, foi tacitamente revogada pelo novo crime
previsto no art. 10-A da Lei n° 9.296/96, tema que estudaremos no tópico seguinte. Funcionará apenas
subsidiariamente quando a escuta ambiental foi realizada sem prévia autorização judicial;
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A captação promovida por um dos interlocutores, mesmo sem o conhecimento dos demais, não depende de
autorização judicial, sendo, portanto, fato atípico (conclusão reforçada pelo §i» do art. 10-A da Lei n°
9.296/96).
- A captação promovida em lugares públicos também independe de autorização judicial. Sendo assim, se
colocada em prática não haverá crime e a prova obtida será considerada lícita.
5700
O legislador foi cuidadoso a ponto de estabelecer conduta criminosa específica na hipótese de:
1) Captação ambiental sem autorização judicial, quando ela for exigida.
2) Funcionário público descumprir a determinação de sigilo das investigações que envolvam
captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo judicial.
5700
☞ Nesses casos, a pena estabelecida no caput: 02 a 04 anos de reclusão, deverá ser
aplicada em dobro.
Não haverá enquadramento no referido delito se a captação for realizada por um dos interlocutores.
Dessa forma, podemos observar que o referido dispositivo legal somente se adequa aquelas situações em
que a captação ambiental é realizada por terceiro, não participante das conversas realizadas.
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→ É dever do Estado a disponibilização da integralidade das conversas advindas nos autos de forma
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emprestada, sendo inadmissível a seleção pelas autoridades de persecução de partes dos áudios
interceptados.
Situação concreta: durante uma investigação para apurar tráfico de drogas, o juiz
5700
da vara criminal decretou a interceptação telefônica dos suspeitos. Durante os
diálogos, constatou-se a participação de um militar. O militar foi, então,
denunciado na Justiça Militar. Os diálogos interceptados foram juntados aos autos
do processo penal militar como prova emprestada, oriundos da vara criminal.
Ocorre que o juiz da vara criminal não remeteu à Justiça Militar a integralidade dos
áudios, mas apenas os trechos em que se entendia que havia a participação do
militar.
O STJ entendeu que esse procedimento não foi correto. Isso porque houve “quebra
da cadeia de custódia da prova”. A cadeia de custódia da prova consiste no caminho
que deve ser percorrido pela prova até a sua análise pelo magistrado, sendo certo
que qualquer interferência indevida durante esse trâmite processual pode resultar
na sua imprestabilidade (RHC 77.836/PA, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
05/02/2019).
A defesa deve ter acesso à integralidade das conversas advindas nos autos de forma
emprestada, sendo inadmissível
5700 que as autoridades de persecução façam a seleção
Obs.: vale ressaltar que o caso acima explicado trata sobre falta de acesso à integralidade da interceptação
telefônica e não sobre falta de transcrição ou degravação integral das conversas obtidas. O entendimento da
jurisprudência do STF e do STJ é o de que não é obrigatória a transcrição integral do conteúdo das
interceptações telefônicas. Isso não foi alterado pelo julgado acima, que trata sobre hipótese diferente.
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documento apócrifo.
Após confirmar a plausibilidade das "denúncias", o MP requereu ao juízo a
decretação da interceptação telefônica dos investigados alegando que não havia
outro meio senão a utilização de tal medida, como forma de investigação dos
supostos crimes. O juiz acolheu o pedido. O STJ e o STF entenderam que a decisão
do magistrado foi correta considerando que a decretação da interceptação
telefônica não foi feita com base unicamente na "denúncia anônima" e sim após a
realização de diligências investigativas por parte do Ministério Público e a
constatação de que a interceptação era indispensável neste caso. STJ. 6ª Turma.
RHC 38.566/ES, Rel. Min. Ericson Maranho (Des. Conv. do TJ/SP), julgado em
19/11/2015. STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 21/2/2017 (Info 855).
5700
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TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 129, I, CF/88
⦁ Art. 3º-A a Art. 3º-F, CPP
⦁ Art. 10, CPP
⦁ Art. 28-A, CPP
⦁ Art. 282, §3º =, CPP
⦁ Art. 395, CPP
⦁ Art. 396 e 396-A, CPP
⦁ Art. 399, CPP
⦁ Art. 400, CPP
⦁ Art. 20, Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha)
⦁ Art. 30 da Lei 13.869/19 (Lei de Abuso de Autoridade)
⦁ Art. 3º-B, CPP. Principais incisos: II, IV, V, VI, VIII, XI, XIV, XVII E XVIII
⦁ Art. 3º-C, CPP. Principalmente o §3º
⦁ Art. 3º-D, CPP.
⦁ Art. 10, CPP
⦁ Art. 396, CPP
⦁ Art. 399, CPP
Inicialmente, importante mencionar que o dispositivo referente ao juiz das garantias está com
eficácia suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (ADI 6298/19, STF Medida Cautelar). Um dos
fundamentos é no sentido de que a Lei n° 13.964/19 importaria em reorganização de todo poder judiciário
(sob o ponto de vista formal), envolvendo novos órgãos jurisdicionais com impacto no orçamento (sob o
ponto de vista material). Diante desse cenário, entendeu o Ministro Fux, que a iniciativa teria que ter partido
do Poder Judiciário e que ofenderia o pacto federativo. Portanto, com base nessa linha argumentativa acabou
por suspender cautelarmente os dispositivos do juiz das garantias.
1. INTRODUÇÃO
Por muito tempo a doutrina teceu duras críticas quanto ao sistema acusatório brasileiro, previsto no
Art. 129, I, da CRFB, que entregou ao Ministério Público a titularidade da ação penal, apresentando, ao menos
em tese, separação da atividade de julgar, acusar e defender, própria dos sistemas acusatórios democráticos.
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O que parece ter passado desapercebido (ou não), foi justamente um ponto central na distinção
entre o sistema inquisitório (juiz inquisidor) e o sistema acusatório (juiz expectador), a gestão da prova.
Antes da reforma objeto da nossa análise, apesar da doutrina majoritária e da jurisprudência
afirmarem que o sistema adotado no Brasil era o sistema acusatório, com base no Art.129, I, da CRFB, o
código de processo delegava ao juiz amplos poderes probatórios, até mesmo antes de iniciada a ação penal,
o que, na prática, representava um resquício
5700
do sistema inquisitório.
Como bem citou Nestor Távora1
Então esse era o panorama, um sistema teoricamente acusatório com resquícios do sistema
inquisitório. A doutrina majoritária e a jurisprudência diziam que o sistema era o acusatório puro, entretanto
não sabíamos explicar o porquê o juiz tinha a gestão da prova. Era um gato vestido de cachorro, com nome,
coleira e tudo mais, só que, na prática da nossa justiça criminal, voltada basicamente para controle da
criminalidade de baixa renda, o “cachorro” não latia.
Destaca-se que todas as iniciativas probatórias do juiz caem por terra, isso vai englobar sem a menor
pretensão/dúvida os arts. 156; o art. 209, caput e §1º; o art. 3º da L. 9.296/96 já que em tese o juiz poderia
determinar de ofício a interceptação telefônica; art. 242 do CPP etc.
Um outro ponto importante nessa discussão, era a possibilidade de o juiz tomar conhecimento
(decidir) quanto a medidas cautelares, receber o inquérito policial para decidir sobre a dilação de prazo e,
ainda assim, continuar competente para julgar a ação penal. A doutrina sempre criticou a contaminação do
juiz, que teria a oportunidade de tomar (formar) conhecimento antes mesmo do início da ação penal.
1
(Nestor Távora; Rosmar R. Alencar, 2017, p. 55)
109
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“Com efeito, é quase uma obviedade dizer-se que o juiz do Crime exercer atividades
cumulativas, na fase pré- processual e na jurisdicional que lhe é subsequente, o faz
perder a isenção para criticar e controlar a denúncia que depois se formule com
base nos elementos cuja produção se realizou sob o seu controle na primeira etapa
da persecução, bem como – principalmente – para emitir julgamento sobre o
mérito da lide penal. ”
finalidade primordial é garantir que o julgador não se contamine com o que foi
apurado na fase de colheita de informações para manter a imparcialidade e julgar
apenas de acordo com o que está nos autos do processo. O ideal, mas aí já é sonhar
demais, é que o inquérito ou a peça de informação seja retirado dos autos do
processo e apensado, lacrado a este, permitindo apenas que as provas não
repetíveis, cautelares ou antecipadas constem dos autos do processo.”
Atendendo às críticas da doutrina, alguns projetos de lei incluíram em seus textos a figura do juiz das
garantias, que é o juiz responsável para atuar na fase pré-processual, evitando assim, que o juiz que tenha
contato com elementos de prova colhidos em procedimento investigatório administrativo, possa se
contaminar, formando um pré-julgamento, antes mesmo de iniciada a instrução processual.
O mais famoso dos projetos de lei, objeto inclusive de obras jurídicas, tamanha a fé na sua aprovação,
foi o PLS 156/2009, que elencou entre os Arts. 15 a 18, a competência do juiz das garantias, texto que serviu
de base para reforma advinda da L.XXX, chamada de Lei Anticrime.
2
(Napoleão Nunes Maia Filho; Ceará: O Curumim Sem Nome, 2010, p. 160)
3
(Rangel, 2019, p. 139)
110
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A necessidade da separação do juiz que atua na instrução e do juiz que atua na fase pré-processual
decorre do princípio da presunção de inocência, que possui duas dimensões4:
Na dimensão interna, é um dever de tratamento imposto – inicialmente – ao juiz, determinando
que a carga da prova seja inteiramente do acusador (pois, se o réu é inocente, não precisa provar nada) e
que a dúvida conduza inexoravelmente à absolvição; ainda na dimensão interna, implica severas restrições
ao (ab)uso das prisões cautelares (como prender alguém que não foi definitivamente condenado?).
Externamente ao processo, a presunção de inocência exige uma proteção contra a publicidade
abusiva e a estigmatização (precoce) do réu. Significa dizer que a presunção de inocência (e também as
garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade) deve ser utilizada como verdadeiros limites
democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do próprio processo judicial. O
bizarro espetáculo montado pelo julgamento midiático deve ser coibido pela eficácia da presunção de
inocência.
Assim, o objetivo da reforma, ao trazer a figura do juiz das garantias, é garantir ao acusado um
julgamento imparcial, sem que o juiz que o julgará tenha tido qualquer tipo de contato com os elementos
colhidos na fase pré-processual. Como bem observa Aury Lopes Jr5, é garantir um verdadeiro estado de
alheamento:
Ressalta-se o porquê de dar importância ao juiz das garantias. A resposta está na necessidade de
neutralizar quadros de dissonância cognitiva. A visão do processo penal é extremamente dogmática, pouco
epistemológica. Todo preceito normativo se debruça sobre uma hipótese fática, um substrato fático, assim
a plena compreensão do direito vai envolver outras esferas do conhecimento humano como economia,
psicologia, psiquiatria. Essa interface é mandatória em qualquer processo de aperfeiçoamento das regras
5700
jurídicas. A atual dogmática traz princípios constitucionais do processo penal para evitar que o juiz seja
arbitrário, por exemplo, a obrigação de fundamentar suas decisões e garantir que um julgamento racional e
imparcial.
Esse mesmo juiz que atuou na investigação irá atuar no processo, só que é obvio que o juiz como
qualquer ser humano já tem convicções, na medida que ele já atuou na investigação inclusive determinando
medidas cautelares, vai adentrar no processo com pré-valorações, com preconceitos inconscientes e
involuntários.
4
(Jr, 2016, p. 84)
5
(Jr, 2016)
111
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Então a finalidade do juiz de garantias é evitar ou ao menos minimizar esses quadros de dissonância
cognitiva. Mas para isso se garantir é necessário que se tenha de fato juiz somente para instrução e
julgamento. 5700
2. DA DISCIPLINA NORMATIVA
Pois bem, feita a introdução, vamos passar à análise dos artigos do código de processo penal após a
reforma:
2.1 Vedação ao atuar de ofício do juiz na fase pré-processual e a revogação tácita do Art. 20 da L.11340/06
“Art. 3º-A O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz
na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. ”
O novo Art.3º-A do CPP, ampliou uma mudança de pensamento já trazida pela lei 12403/11, que
passou a vedar a decretação da prisão preventiva de ofício na fase pré-processual.
A questão que certamente levantará debates na
5700 doutrina e na jurisprudência é a possível revogação
do Art. 20 da L. 11340/06, que prevê a possibilidade do juiz decretar a prisão preventiva durante o inquérito
policial.
Mesmo com o advento do Art.282, §2º do CPP, trazido pela lei 12403/11, a doutrina majoritária
afirmava que o Art. 20 da L. 11340/06 não teria sido revogado tacitamente, em razão do princípio da
especialidade. Em artigo publicado na Carta Forense, a Professora Alice Bianchini6 sustenta:
“A principal justificativa para entender que o art. 20 não sofreu qualquer alteração
baseia-se no fato de ser, a Lei Maria da Penha, norma especial, e, por conta disso,
é ela que deve prevalecer sobre a regra geral (do CPP). É nesse sentido o
posicionamento de Rui Porto7 e de Andrey Borges de Mendonça8. “
6
Prisão preventiva de ofício na Lei Maria da Penha: posição favorável
(http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/prisao-preventiva-de-oficio-na-lei-maria-da-penha-posicao-
favoravel/18147#_ftn1. Acessado em 23/12/2019).
7
(Porto, 2012, p. 79)
8
(Mendonça, 2016, p. 452)
112
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Em sentido contrário, sustentando a revogação do Art.20 da L. 11340/06 (Eugênio Pacelli, Aury Lopes
Júnior, Paulo Rangel, Nestor Távora, entre outros). Apesar da discussão na doutrina, o Art. 20 da L.11340/06
continuou sendo aplicado validamente.
Ora, se a lei anticrime trouxe modificações gerais no CPP, exatamente como a lei 12403/11, o que
nos faz discutir novamente o Art. 20 da L.11340/06? Não permaneceria uma norma especial?
Para entender melhor o tema, precisamos lembrar da solução dada pelos Tribunais Superiores
quando tratou do interrogatório como último ato da instrução.
A lei 11719/08, alterou o Art. 400 do CPP, fixando o interrogatório como último ato da instrução:
“Por isso, sustentamos que a Lei n. 11.343 deve contemplar os novos institutos
inseridos pela reforma processual de 2008, com possibilidade de absolvição
sumária após
5700 a resposta à acusação (defesa escrita) e, principalmente, deslocando-
9
(Jr, 2016, p. 650)
113
NÚCLEO DURO
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Perceba que estamos diante da mesma divergência, motivo pelo qual, nos leva a crer que a solução
dada será a mesma, isto é, “Ubi eadem ratio ibi idem jus”, onde houver o mesmo fundamento haverá o
mesmo direito.
O disposto no Art. 20 da L. 11340/06 reproduzia o modelo vigente à época de sua edição, que
permitia o atuar de ofício do juiz na fase pré-processual, modelo que, com o advento da lei anticrime, tornou-
se superado, devendo ser afastada a solução de antinomias com base no princípio da especialidade,
conforme já sedimentou o STJ, em questão análoga, como vimos acima.
Aqui, não se trata de antinomia entre dispositivos e sim da superação de um sistema processual
(antes tarde do que nunca) e a necessária reinterpretação dos institutos vigentes à luz do sistema acusatório.
Essa é uma discussão que não deve aparecer tão cedo em provas objetivas, entretanto, nas provas
discursivas, é de suma importância a apresentação dos argumentos acima.
Art. 3º-C A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais,
exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou
queixa na forma do art.399 deste Código.
5700
Quanto à matéria, a reforma foi o mais abrangente possível, estabelecendo a competência do juiz
das garantias para o conhecimento de qualquer infração penal, excerto
5700 aquelas de menor potencial
ofensivo.
Quanto ao momento, a competência se inicia ainda na fase pré-processual, quando o juiz toma
conhecimento da prisão em flagrante ou do início das investigações e se encerra com o recebimento da
denúncia ou queixa.
O detalhe aqui é que andou mal a reforma ao fazer referência ao Art. 399 do CPP como momento
processual do recebimento da denúncia ou queixa, não é. A denúncia é recebida na forma do Art. 396 do CPP
(e não art. 399).
O tema já é pacífico na doutrina10, que entende que no Art. 399 do CPP o juiz realiza a ratificação do
recebimento, podendo, inclusive, reanalisar os requisitos para a rejeição previstos no Art. 395 do CPP.
10
(Jr, 2016, p. 368)
116
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“Com isso, o recebimento da denúncia é imediato e ocorre nos termos do art. 396.
Esse é o marco interruptivo da prescrição e demarca o início do processo, que se
completa com a citação válida do réu (art. 363). Tanto que o réu é citado nesse
momento para apresentar sua resposta e, posteriormente, intimado para audiência
de instrução (logo, intimado também para o interrogatório que lá será realizado).
Ademais, a absolvição sumária (art. 397), em que pese recorrer àquilo que
consideramos serem as condições da ação processual penal, pressupõe a existência
do processo. Como absolver antes do início do processo? A absolvição (mesmo
sumária) somente é possível após o recebimento da acusação. Antes desse
recebimento da acusação, o que pode haver é rejeição, não absolvição. Quanto ao
art. 399, nada mais faz do que remeter para o recebimento anterior, sendo a
expressão recebida desnecessária. Mas, já que lá está, deve ser interpretada como
uma remissão ao recebimento já realizado e não uma nova decisão. Em suma, a
mesóclise da discórdia demarca a manutenção do sistema de recebimento
imediato da acusação, antes do oferecimento da resposta da defesa. ”
Cabe registrar que Eugênio Pacelli chama esse momento processual de saneamento liminar do
processo. 5700
“Observa-se, então, que, embora não haja disposição expressa nesse sentido, essa
é a fase que deve ser reservada a um saneamento liminar do processo, no qual se
resolvem algumas questões antecedentes à audiência de instrução e julgamento,
e, sobretudo, aquelas que veiculam matéria submetida à preclusão. ”
§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução
e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar
a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias.
Essa já era a posição dos Tribunais Superiores que não deve ser alterada com a reforma:
117
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Sigamos.
118
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja
conduzido à sua presença, a qualquer tempo;
O Art. 3º-B do CPP deslocou para o âmbito da competência do juiz das garantias o dever de fiscalizar
a atividade da polícia judiciária, não no sentido de se trasmudar o judiciário em um órgão de controle
externo da polícia, função já exercida pelo Ministério Público (Art. 129, VII, da CRFB), mas no sentido de
garantir à toda pessoa a observância do devido processo legal, que impõe o respeito aos direitos e as
garantias fundamentais.
A novidade aqui é a necessidade de comunicação ao juiz quando da instauração de qualquer
investigação criminal, o que se justifica à luz do devido5700
processo legal, devendo o juiz, diante da instauração
de investigação criminal sem justa causa, determinar seu trancamento, o que foi expressamente previsto no
inciso IX.
Vale lembrar também, que a instauração de investigação criminal sem justa causa contra pessoa
sabidamente inocente pode se adequar ao tipo de injusto previsto no Art. 30 da L. 13869/19 (abuso de
autoridade).
“Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem
justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. ”
5700
ESQUEMATIZANDO:
TURMA 9
SEMANA 03/16
Art. 3-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais,
exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou
queixa na forma do art. 399 deste Código.
Toda prisão provisória se submete a clausula de reserva de jurisdição, logo, se houver requerimento
de prisão provisória, cabe o juiz das garantias avaliar
Nesse sentido, o juiz das garantias passou a ser competente para decidir sobre as medidas cautelares
reais, pessoais e probatórias na fase pré-processual, como já vimos acima, o destaque aqui é para a
necessidade de audiência pública e oral, para que seja efetivado o princípio do contraditório.
Obs.: O parágrafo primeiro encontra-se vetado, pois vedava o emprego de videoconferência na audiência de
custódia.
Destaca-se que o Art. 282, §3º, do CPP, já previa a intimação da parte contrária antes da decretação
de cautelares de natureza pessoal, o que na prática era inefetivo em razão da possibilidade de se afastar o
contraditório em casos de urgência ou perigo de ineficácia da medida. Com a reforma o §3º foi repaginado,
entretanto a exceção foi mantida.
TURMA 9
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Antes da reforma
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz,
ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte
contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias,
permanecendo os autos em juízo.
Depois da reforma
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz,
ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte
contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do
requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos
de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que
contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional.
Parece que a reforma tentou tornar efetivo o que já estava entre nós. De qualquer forma, foi salutar
a previsão, resta saber como o judiciário irá operacionalizar o dispositivo.
Quanto à previsão do inciso VII, esta será analisada mais adiante, quanto tratarmos das mudanças
no capítulo de provas. Por hora, basta saber que o Art. 3º-A do CPP passou a vedar o atuar de ofício do juiz
na fase pré-processual e, em razão disso, passou a ser 5700
competência do juiz das garantias decidir sobre o que
antes era possível decretar de ofício com base no disposto no Art. 156 do CPP.
Ainda sobre a competência do juiz das garantias, vamos analisar os outros incisos:
O inciso VIII veio para sanar uma discussão na doutrina sobre a possibilidade da prorrogação do prazo
do inquérito com o indiciado preso, diante do silêncio do Art. 10 § 3º do CPP:
Na doutrina, Nestor Távora sustentava que o prazo o inquérito com o indiciado preso era
improrrogável: 5700
“Como regra geral, para os crimes da atribuição da polícia civil estadual, o prazo
para a conclusão do inquérito é de 10 dias, estando o indiciado preso, prazo este
121
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Nesse sentido, caso o inquérito policial não estivesse concluído nos 10 dias, o juiz deveria determinar
o relaxamento da prisão por excesso de prazo. Vale lembrar que nos crimes de competência da Justiça
Federal (art. 66 da Lei no 5.010/1966), nos crimes previstos na Lei 11343/06 (Art. 51), já se admitia a
prorrogação do prazo para conclusão do inquérito policial ainda que preso o indiciado.
Portanto, a reforma veio dar linearidade ao tratamento dado ao inquérito policial no tocante ao seu
prazo. Agora, mesmo preso o indiciado, o juiz das garantias poderá determinar a prorrogação do inquérito
policial por até 15 dias, mediante representação da autoridade policial, ouvido o Ministério Público,
possibilitando a conclusão das investigações. Destaca-se, que após o escoamento do prazo sem a conclusão
das investigações, a prisão será imediatamente relaxada.
→ Aqui a autoridade coatora será o MP, o HC vai para o TJRJ ou TRF. O inciso XII reforça posição
vencida do Prof. Tourinho Filho, que sempre questionou HC tendo como autoridade coatora
122
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
MP sendo julgado pelo TJ ou TRF, por falta de previsão legal. Assim, HC contra ato de
promotor deveria ser julgado na 1ª instância.
XIV – decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399
deste Código;
Destaca-se que não se fala em juiz das garantias como juiz da investigação, pois sua competência de
estende até a fase do art. 399 do CPP. E é importante que assim seja, pois o juiz responsável pelo julgamento
não participe do juízo de admissibilidade da acusação, pois isso já geraria quadro de dissonância cognitiva.
Além disso, ressalta-se que o art. 399 continuaria sendo uma ratificação do recebimento da denúncia. Isso
teria uma razão de ser, a ideia é de que de fato o juiz da instrução e julgamento não participe desse debate
preliminar sobre a admissibilidade da acusação, justamente para que ele ingresse nos autos despido de
preconceitos. 5700
Obs. O art. 3º-B, inciso XVI teria revogado os §§4º e 5º, II do art. 159 do CPP em apresso ao princípio da
anterioridade.
123
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Como já tínhamos visto acima, a reforma entregou ao juiz das garantias a competências para decidir
sobre questões inerentes a fase pré-processual, assegurando ao juiz da instrução o necessário alheamento
ao que foi apurado na fase pré-processual.
Foi previsto expressamente o poder de requisição
5700 do juiz, que deve ser interpretado de forma
sistemática, devendo ser exercido com a finalidade de garantir o devido processo legal e a duração razoável
das investigações, não mais para dirimir dúvidas ou para se imiscuir nas investigações, por força do Art.3º-A
do CPP.
§ 1º O preso em flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à
presença do juiz de garantias no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, momento em que se realizará audiência
com a presença do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de advogado constituído, vedado o emprego
de videoconferência.
Passa a ser também da competência do juiz das garantias o recebimento da comunicação na prisão
em flagrante e no cumprimento de mandado de prisão provisória.
Quanto à prisão provisória, o papel do juiz é fiscalizar a regularidade do mandado de prisão, se está
válido, se foi cumprido na forma da lei e se foram assegurados os direitos e garantias fundamentais do preso.
Quanto à prisão em flagrante, após realizar o controle de legalidade da lavratura do auto de prisão em
flagrante, o juiz analisará qual das soluções previstas no Art.310 do CPP será dada, até aqui, nada de novo,
esse procedimento já estava entre nós por meio das audiências de custódia regulamentadas pelo CNJ.
A novidade fica por conta da vedação expressa da realização das audiências de custódia por meio de
videoconferência, o que vai ao encontro do que já decidiu o Conselho Nacional de Justiça, que acolheu a tese
pela Defensoria Pública de Santa Catarina, que argumentou que a medida violava a resolução 213/2015 do
próprio conselho, que estabelece que toda pessoa presa deve ser apresentada à autoridade judicial no prazo
de 24 horas.
124
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Seguimos.
§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias
ficarão acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e
da defesa, e não serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da
instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis,
medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser
remetidos para apensamento
5700 em apartado.
de que os autos pertinentes à investigação ficarão acautelados no cartório atinente ao órgão jurisdicional
que estava exercendo a competência das garantias, ou seja, sem o envio para o juiz da instrução e
julgamento.
Há muito a doutrina já clamava pelo desentranhamento dos autos da investigação do processo, para
que o juiz não formasse um juízo de valor antecipado ao ter contato com a investigação. Pelo mesmo motivo
a lei prevê que a prova ilícita deve ser desentranhada (Art. 157, §3º, do CPP), o que levou a doutrina 11 a
sustentar que não só a prova deve ser desentranhada, mas também o juiz substituído:
“Daí por que não basta anular o processo e desentranhar a prova ilícita: deve-se
substituir o juiz do processo, na medida em que sua permanência representa um
imenso prejuízo, que decorre dos “pré-juízos” (sequer é prejulgamento, mas
julgamento completo!) que ele fez.”
Atenta às críticas, a reforma reproduziu o que a doutrina sustentava e vedou que o juiz da instrução
e julgamento tenha contato ao que foi produzido na fase pré-processual, vale dizer, os autos da investigação
não serão apensados aos autos do processo de instrução e julgamento, mantendo o juiz em verdadeiro
estado de alheamento, imparcial.
11
(Jr, 2016, p. 364)
125
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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A lei prevê uma exceção: os chamados elementos migratórios. Estes, serão remetidos em apartado.
Seguimos. 5700
Art. 3º-D O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas
competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no
processo.
Por fim, a lei 13964/19 estabelece que o juiz que praticar atos na fase de investigação estará
impedido de funcionar no processo. Segundo a doutrina12:
5700
4. REGRAS COMPLEMENTARES:
Art. 3º-E O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização
judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios
objetivos a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal.
12
(Gonçalves, 2018, p. 288)
126
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Art. 3º-F O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o
tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade
com órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão,
sob pena de responsabilidade civil, administrativa e penal.
A segunda regra importante é que cabe ao Tribunal organizar de forma objetiva os critérios utilizados
para designação do juiz de garantias. Nada de novo. Qualquer designação na magistratura já era feita dessa
forma.
A terceira regra é que não será mais permitido a exposição da imagem dos presos, visto que é dever
do Estado preservar tal imagem. Nesse sentido, o artigo 41, inciso VIII, da Lei 7.210/84 dispõe, no rol de
direitos, a “proteção contra qualquer forma de sensacionalismo”. As autoridades deverão, em 180 dias,
5700
regulamentar a maneira como as informações sobre a prisão serão repassadas à imprensa.
127
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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META 3
CF/88
⦁ Art. 129, I
⦁ Art. 5º, LIX
CPP
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 5º, §4º
⦁ Art. 24 a 68
⦁ Art. 384 e 385
⦁ Art. 395
5700
Outros Diplomas Legais
⦁ Art. 76 e 88 a 91, Lei 9099/95
⦁ Art. 2º, § 1º, Lei n. 9.613/98 5700
CPP:
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 24 e 25
⦁ Art. 28 (cuidado com a nova redação trazida pelo Pacote Anticrime que ainda NÃO está produzindo
efeitos!)
⦁ Art. 28-A (importantíssimo!!!)
⦁ Art. 29
⦁ Art. 38, 41, 42, 46, 48, 49 e 51
⦁ Art. 60 (alto índice de cobrança em prova objetiva!)
⦁ Art. 65, 66 e 67 (alto índice de cobrança em prova objetiva!)
⦁ Art. 396
128
NÚCLEO DURO
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1. PRETENSÃO PUNITIVA
Possui o jus puniendi como seu elemento intersubjetivo, e é composta pelo próprio direito de punir
(poder/dever de punir), situado dentro da relação jurídico-penal que se forma após a prática do crime.
A legislação, a exemplo do Código Penal, prevê a conduta de matar alguém, com pena de 6 a 20 anos
(art. 121, CP). O tipo penal incriminador até então encontra-se no plano abstrato. Porém, no momento em
5700
que o sujeito pratica a conduta, in casu, o delito, o direito de punir, que estava no plano abstrato, passa para
o plano concreto, ocasião em que, surge o ius puniendi do Estado.
Assim, a partir do momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este
direito de punir desce do plano abstrato e se transforma no ius puniendi in concreto.
● Pretensão punitiva: Verifica-se quando se imputa ao réu, mediante a ação penal, a prática de crime,
para que ele seja sujeito às sanções previstas na legislação penal.
● Ação penal: É instrumento utilizado pelo Estado para obter o exercício da pretensão punitiva, uma
vez que, a partir da ação penal o Estado-acusação (ou o ofendido) ingressam em juízo para solicitar
a aplicação das normas de direito penal ao caso concreto, exercendo a pretensão punitiva.
129
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
5700
qualquer resistência contra os órgãos estatais a que cumpre executar a pena. (Manual de Processo Penal,
Renato Brasileiro, 2017, p. 37).
2. AÇÃO PENAL
a) Conceito
O Estado trouxe para si o exercício da função jurisdicional, de modo que ele deverá fornecer ao
cidadão a tutela jurisdicional. Esse instrumento encontra-se solidificado no direito de ação.
Nesse sentido, o direito de ação é o direito público subjetivo consagrado na CF/88, de se exigir do
Estado-Juiz a aplicação do direito objetivo ao caso concreto, para a solução da demanda penal.
A partir dele a parte acusadora – Ministério Público ou ofendido (querelante) – tem a possibilidade
de, mediante o devido processo legal, provocar o Estado-Juiz a dizer o direito objetivo no caso concreto.
(Renato Brasileiro).
b) Fundamento Constitucional
130
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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O direito de ação é extraído da própria Constituição Federal, art. 5º, XXXV: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
O dispositivo constitucional consagra o chamado princípio da inafastabilidade de jurisdição. Assim,
se não exclui a apreciação, significa dizer que há o dever de prestá-la.
5700
ATENÇÃO: não se pode confundir o direito de ação com o direito que se afirma ter quando se exercita o
direito de ação, o qual pode ser designado como o direito material deduzido em juízo. O direito de ação é
abstrato, pois independe do conteúdo que se afirma quando se provoca a jurisdição.
● Direito público: A ação é proposta contra o Estado, pois trata-se do direito de provocar o Estado-juiz
para o exercício da atividade jurisdicional, cuja natureza é pública, sendo função típica do Poder
Judiciário.
OBS.: A ação penal privada também apresenta a mesma característica, visto que há transferência apenas
da iniciativa da ação, mas NÃO da titularidade, visto que o poder punitivo pertence ao Estado.
● Direito subjetivo: O titular do direito de ação penal pode exigir do Estado-Juiz a prestação
jurisdicional, sendo essa titularidade conferida a um sujeito específico, conforme a legitimidade
conferida pela lei.
OBS.: Nos ensinamentos de Aury Lopes Jr. existe um direito potestativo em relação ao acusado – aliado
ao direito subjetivo em relação ao Estado-jurisdição. Isso porque, uma vez exercitado o direito de ação,
131
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
o réu se sujeita ao processo, bem como à eventuais consequências que dele decorram (como a pena
imposta em uma sentença penal condenatória).
● Direito autônomo: Não se confunde com o direito material que se pretende tutelar. O direito de
ação é o instrumento que viabiliza o pedido de condenação em relação a determinado fato, imputado
a certo indivíduo.
● Direito abstrato: Existe e será exercido mesmo quando a demanda for julgada improcedente, uma
vez que independe do resultado (característica relacionada a autonomia do direito de ação).
● Direito específico: Apresenta um conteúdo, que é o objeto da imputação. Ou seja, apesar de
abstrato, desenvolve-se a partir de um caso concreto.
2.2.1 Conceito
São requisitos mínimos indispensáveis ao julgamento da causa. Segundo Nestor Távora:
Como o direito de ação é autônomo e abstrato, pode ser exercido mesmo que as condições não
estejam presentes. O direito de invocar a tutela estatal é constitucional e incondicionado. Assim as condições
da ação são analisadas no âmbito do processo penal, uma vez que, na sua ausência, o processo não se
desenvolve, ou seja, não será objeto de análise meritória do Estado. O direito de ação é exercido com a
propositura de inicial e a análise das condições é feita em seguida, pelo juiz, que pode rejeitas a peça
acusatória.
A análise das condições da ação observa a Teoria da Asserção, segundo a qual é realizada com base
nos elementos fornecidos na inicial acusatória, conforme narrado pelo demandante, sem adentrar em
aspectos probatórios. Assim, há um juízo superficial / precário de admissibilidade, sendo possível que, no
curso do processo, seja demonstrada a ausência de uma dessas condições, dando azo à absolvição do réu.
Historicamente, a doutrina se valia do Processo Civil para estabelecer as condições da ação:
5700
legitimidade da parte, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. O CPC 15 suprimiu a
“possibilidade jurídica do pedido” e, diversos doutrinadores (como Aury Lopes Jr.) defendem que não é
possível importar institutos do processo civil para o processo penal, sem qualquer adaptação. Nesse sentido,
doutrina moderna aponta condições próprias da ação para o processo penal, como será visto adiante.
132
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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A doutrina trabalha com duas espécies de condições da ação: condições genéricas e as condições
específicas (condições de procedibilidade).
a) Condições Genéricas:
São aquelas condições que deve estar presente em toda e qualquer ação penal, independentemente
da natureza do crime, da pessoa processada, e do procedimento a ser seguido.
São elas:
1) Legitimidade para agir;
2) Interesse de agir;
3) Possibilidade jurídica do pedido + Justa Causa (lastro probatório mínimo de suporte para
início da ação penal).
b) Condições Específicas
São necessárias apenas em relação a determinadas infrações penais, ou ainda, em alguns
procedimentos específicos.
Ex.1: representação nos crimes de ação penal pública condicionada.
Ex.2: autorização de assembleia para que determinados agentes políticos sejam criminalmente
processados. 5700
● Legitimidade ativa:
Nessa esteira, segundo Renato Brasileiro, é a situação prevista em lei que permite a um determinado
sujeito propor a demanda judicial e a um determinado sujeito ocupar o polo passivo dessa mesma demanda.
Há legitimidade de partes quando o autor afirma ser titular do direito subjetivo material demandado
(legitimidade ativa) e pede a tutela em face do titular da obrigação correspondente àquele direito
(legitimidade passiva).
Lembre-se que, ainda que de ação penal pública, se verificada a inércia do MP, surge para o ofendido a
possibilidade de propor queixa-crime subsidiária (ação penal privada subsidiária da pública).
133
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
● Legitimidade passiva:
A ação penal pode ser proposta em face apenas do suposto autor do fato delituoso, com 18 anos
completos ou mais.
ATENÇÃO!
(1) Legitimidade ad causam ativa e passiva da Pessoa Jurídica
A pessoa jurídica é dotada de legitimidade ativa (pode oferecer ação penal pública, se restar
caracterizada a inércia do MP, ou privada). Nesse sentido, a disciplina do art. 37, CPP.
Também é admitida a legitimidade passiva (pode ser o provável autor do delito), porém adstrita aos
crimes ambientais. O art. 173, CF permite que a pessoa jurídica seja responsabilizada criminalmente quanto
aos crimes ambientais, e também quanto aos crimes
5700contra a ordem econômica, financeira e contra a
economia popular, na forma da lei. Contudo, não há lei ordinária regulando a responsabilidade penal da
pessoa jurídica no que diz respeito aos crimes contra a ordem econômica, financeira e contra a economia
popular.
Teoria da Dupla Imputação: Até pouco tempo atrás trabalhava-se com a adoção da teoria da dupla
imputação, segundo a qual a imputação da pessoa jurídica deveria ter por consequência a imputação
também da pessoa física. Em outras palavras: a pessoa jurídica só poderia ser denunciada pela prática de
crimes ambientais se a pessoa física também fosse.
Contudo, esse não é o entendimento que prevalece atualmente. Assim, é possível dizer que a pessoa
jurídica figurar como polo passivo da ação penal, independentemente da responsabilização concomitante
das pessoas físicas, pois os Tribunais Superiores não mais adotam a Teoria da Dupla Imputação.
TURMA 9
SEMANA 03/16
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como
a outros crimes e contravenções que envolvam relações de consumo, poderão
intervir, como assistentes do5700Ministério Público, os legitimados indicados no art.
82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a
denúncia não for oferecida no prazo legal.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(...)
III – as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que
sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e
direitos protegidos por este
código;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam
entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este
código, dispensada a autorização assemblear.
135
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
legitimidade para iniciar a ação. A vítima tem legitimidade para estar em juízo, enquanto o Estado é o titular
da pretensão punitiva.
Situação diversa é a de sucessão processual, que decorre da morte ou ausência do ofendido, quando
o seu direito de queixa ou de prosseguir na ação passará aos legitimados do art. 31, CPP.
Por fim, a representação processual (legitimidade ad processum) se opera quando alguém vai em
juízo, atuando em nome e na defesa de direito alheio. O sujeito não é parte, mas apenas confere capacidade
para que o legitimado ingresse em juízo. Ex.: vítima de crime de ação penal privada menor de 18 anos, cuja
legitimidade pode ser conferida a curador especial nos termos do art. 33, CPP, na ausência de representante
legal ou na hipótese de colisão de interesses.
b.1) Necessidade: No processo penal a necessidade é presumida, pois “nulla poena sine judicio”.
Desse modo, NÃO é possível a imposição de pena sem existência de um processo penal.
Exceções:
1. Transação Penal (Lei 9.099/95);
2. Acordo de não persecução penal (art. 28-A,
5700 CPP – inserido pelo Pacote Anticrime);
Art. 76. É possível o cumprimento imediato de pena, sem que haja sequer processo,
pois a pena negociada é anterior mesmo ao oferecimento da peça acusatória.
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir
em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva
de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a
investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um
ou mais dos seguintes resultados
OBS.: Todas as exceções elencadas são mitigações do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública
(presentes as condições da ação, o MP é obrigado a denunciar, art. 24 CPP).
136
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
b.2) Adequação: É preciso pleitear-se uma medida adequada para buscar seus interesses.
SUM 693, STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada.
SUM 694, STF: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de
militar ou de perda de patente ou de função pública.
SUM 695, STF: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade.
5700
b.3) Utilidade: Consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer a tutela do direito do
autor.
c) Justa Causa: Podemos conceituar justa causa como sendo o lastro probatório mínimo indispensável para
a instauração de um processo penal.
Assim, deve a acusação ser portadora de elementos de informação que justifiquem a admissão da
acusação e o custo que representa o processo penal em termos de estigmatização e penas processuais.
137
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Funciona, pois, como uma condição de garantia contra o uso abusivo de direito de acusar, evitando a
instauração de processos levianos ou temerários.
A natureza jurídica da justa causa é alvo de divergência doutrinária, no entanto, prevalece que o CPP
insere a justa causa como condição genérica da ação, em razão do art. 395, III, CPP:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta;
I - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Lei n. 9.613/98, art. 2º, § 1º: A denúncia será instruída com indícios suficientes da
existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta
Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade
da infração penal antecedente.
Justa causa triplicada: A doutrina aponta ainda para a existência de uma justa causa triplicada que ocorre
quando a infração penal antecedente à lavagem de capitais também possui uma infração penal antecedente
para a sua configuração. É o exemplo do crime de lavagem que tem como infração penal antecedente o crime
de receptação, o qual, por sua vez, tem como infração penal antecedente o crime de roubo.
Assim, quando do oferecimento da denúncia, cabe ao Parquet revelar o suporte probatório mínimo
em relação a estes três delitos, daí porque a justa causa se apresenta, de fato, triplicada.
138
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Imagine a seguinte situação hipotética: O Ministério Público ajuizou ação penal contra João
acusando-o da prática de determinado crime. O juiz recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para
responder à acusação. João apresentou resposta escrita alegando que não havia justa causa e que, portanto,
ele deveria ser absolvido sumariamente. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido de absolvição sumária e
determinou o início da instrução penal.
Diante desse cenário, existe algum recurso que João possa interpor? Cabe algum recurso contra a
decisão do juiz que rejeita o pedido de absolvição sumária?
NÃO. Não existe recurso cabível na legislação para esse caso. Nesse contexto, contudo, a
jurisprudência admite a impetração de habeas corpus sob o argumento de que existe risco à liberdade de
locomoção. Desse modo, em nosso exemplo, a defesa de João impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça
pedindo o trancamento da ação penal por falta de justa causa. O Desembargador negou o pedido de liminar
e designou o dia 15/08 para o julgamento do habeas corpus
5700
pela Câmara Criminal do TJ. Ocorre que, antes
disso, no dia 08/08, o juiz proferiu sentença condenando o réu.
Diante desse cenário, o que acontece com o julgamento do habeas corpus? O Tribunal de Justiça irá
apreciar o mérito do habeas corpus? 5700
E se a sentença tivesse sido absolutória? Se o juiz tivesse absolvido João, o HC também ficaria
prejudicado?
SIM. Com maior razão, o habeas corpus estaria prejudicado, mas agora por outro motivo: falta de
interesse processual já que a providência buscada pela defesa foi alcançada em 1ª instância. Nesse sentido:
139
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
d) Originalidade
E, por fim, como uma condição da ação (mas que não está em qualquer manual de processo penal),
5700
tem-se a ORIGINALIDADE. Segundo Afrânio Silva Jardim, a “originalidade” como condição genérica para o
regular exercício de qualquer ação. O autor sustenta que os tradicionais pressupostos objetivos extrínsecos
denominados “litispendência” e “coisa julgada” são, em verdade, condições da ação, porquanto não são
sanáveis, sem viabilidade de renovação da demanda com correção do vício. Em outros termos, a ação (penal)
tem que ser original, não se admitindo reproduções, em face da vedação de dupla persecução penal.
Nos ensinamentos dos professores, André Luiz Nicolitt e Afrânio Silva Jardim:
● Condição de prosseguibilidade: é aquela necessária para dar prosseguimento à ação penal. Trata-
se da situação na qual a ação penal já está em curso, mas uma lei posterior altera a natureza da ação
140
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
penal para aquele crime. Ou seja: o crime que antes era de ação penal pública incondicionada (e, por
isso, não exigia representação), passou a ser de ação penal pública condicionada, de modo que essa
representação passa a ser condição necessária para dar prosseguimento na ação penal.
Ex.: A lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9099/95) passou a exigir representação para os crimes de lesão
corporal leve e lesão corporal culposa. Ou seja, tais crimes, que antes eram de ação penal pública
incondicionada, passaram a exigir a representação tanto para dar início à ação penal (hipótese em que a
representação funciona como condição de procedibilidade), como para dar continuidade à ação que já
estava em andamento (hipótese em que funciona como condição de prosseguibilidade).
Nesse sentido, qual a natureza da representação quando se tratar de lesão corporal leve ou culposa
no âmbito dos Juizados Especiais? R.: Depende!
▪ Processos relativos à lesão corporal leve e culposa ainda não iniciados: exige representação para
dar início à ação penal → condição de procedibilidade (art. 88, Lei 9.099/95).
▪ Processos relativos à lesão corporal leve e culposa que já estavam em andamento: exige
representação para dar continuidade à ação penal → condição de prosseguibilidade (art. 91, Lei
9099/95).
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal 5700
relativa aos crimes de lesão corporais leve e lesões
culposas. (CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE)
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura
da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimada para
oferecê-la no prazo de 30 dias, sob pena de decadência. (CONDIÇÃO DE
PROSSEGUIBILIDADE)
OBS.: É certo que sem a representação não se pode nem iniciar a persecutio criminis, conforme preconiza o
artigo 5º, §4º, do CPP. Nesse caso, a representação é condição especial de persequibilidade, porque sem a
representação não há como deflagrar a persecutio criminis, que antecede a ação penal.
Sem representação a autoridade policial não pode instaurar o inquérito e assim dar início à persecutio
(condição especial de persequibilidade), sem a representação não se procede em Juízo, isto é, não se deflagra
ação penal (condição especial de procedibilidade) e sem a representação não se pode dar sequência ao feito
(condição especial de prosseguibilidade).
Considerações Importantes:
5700
1) A lei que altera a natureza jurídica de uma ação penal é considerada norma penal mista ou híbrida.
Vamos relembrar os tipos de norma penal e processual?
141
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
● Normas penais: Cuidam do crime, da pena, da medida de segurança, dos efeitos da condenação e do
direito de punir do Estado (ex.: causas extintivas da punibilidade).
● Normas processuais penais: Versam sobre o processo desde o seu início até o final da execução ou
extinção da punibilidade. Lembre-se que, à luz do art. 2º do CPP, a lei processual penal possui
aplicação imediata:
5700
Art. 2º - A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Em outras palavras: quando se tratar de norma penal mista, o critério a ser aplicado é o mesmo do
direito penal, ou seja, irretroatividade da lei maléfica e retroatividade da lei benigna.
As normas que alteram a natureza jurídica de uma ação penal são consideradas normas híbridas porque,
embora inseridas em diploma processual penal, possuem reflexos diretos em institutos de direito penal,
como, por exemplo, a extinção da punibilidade. Isso porque, o crime que antes era de ação penal pública
incondicionada e se torna de ação penal pública condicionada, passa a admitir uma nova hipótese de extinção
da punibilidade, qual seja, a decadência pela ausência de representação).
2) Considerando que a norma sobre a natureza jurídica da ação penal é uma norma híbrida e que as
normas híbridas devem seguir as regras das normas penais, é possível dizer que, em regra, caberá a
retroatividade da lei em benefício do réu.
ATENÇÃO! Essa retroatividade nem sempre será possível! Não basta analisar o instituto apenas de acordo
com a lei penal no tempo, sendo necessário também analisar se se trata de uma condição de procedibilidade
ou prosseguibilidade.
TURMA 9
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passou a ser de ação penal pública condicionada à representação, salvo algumas hipóteses expressamente
previstas. Veja:
143
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Considerando a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, os Tribunais Superiores foram instados a
se manifestar acerca da retroatividade da sua aplicação e, consequentemente, necessidade de oferecimento
ou não da representação aos processos em curso.
A discussão teve início no STJ (HC 573.093), em 2020 e, desde então tem sido objeto de uma série de
divergências. Veja a evolução jurisprudencial:
(1) Em 14/04/2020, a 5ª Turma do STJ decidiu que a retroatividade da representação deve se restringir à
fase policial, pois do contrário estar-se-ia transformando uma condição de procedibilidade em
prosseguibilidade (HC 573.093).
(2) Em 04/08/2020, a decisão da 6ª Turma do STJ foi no sentido de que, por ser lei mais benéfica, deve
retroagir (HC 583.837).
(3) Em 21/09/2020, a 5ª Turma do STJ reiterou o entendimento de que a retroatividade da representação
no crime de estelionato deve se restringir à fase policial (ato jurídico perfeito).
5700
(4) Em 14/10/2020, a 1ª Turma do STF reconheceu não ser cabível a aplicação retroativa do parágrafo 5º
do artigo 171 do CP, uma vez que no momento do oferecimento da denúncia a ação era incondicionada
e não se exigia representação (HC 187.341/SP).
(5) Em 13/04/2021, a 3ª Seção consolidou o entendimento das turmas criminais do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) ao definir que a exigência de representação da vítima como pré-requisito para a ação penal
por estelionato – introduzida pelo Pacote Anticrime–
5700 não pode ser aplicada retroativamente para
beneficiar o réu nos processos que já estavam em curso (Info 691).
(6) Em 22/06/2021, a 2ª Turma do STF decidiu que a alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que
introduziu o § 5º ao art. 171 do Código Penal, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado
à representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger tanto as ações
penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em julgado (Info 1023). Esse
entendimento foi reiterado pela 2ª Turma em 02/09/2022 (HC-AgR 207.835/SP).
(7) Em 13/04/2023, o debate foi levado ao Plenário do STF que decidiu a interpretação de normas
constitucionais não podem limitar o alcance da retroatividade em benefício do réu e, sendo a exigência
de representação para o crime de estelionato norma processual de caráter híbrido favorável ao acusado,
há de ser aplicada retroativamente aos processos em curso, sendo conferido a vítima o prazo de 30
dias para oferecer a representação, sob pena de decadência do direito (HC-AgR 208.817/RJ)
Logo, no cenário atual acerca da matéria, o tema está pacificado em cada Tribunal Superior, mas
permanece a divergência entre eles. Temos o entendimento pacificado do STJ no sentido de que deve ser
observada a retroatividade, respeitando-se a limitação do ato jurídico perfeito e acabado materializado com
o oferecimento da denúncia. Já no STF, em decisão mais recente do Plenário, deve ser observada a extensão
da retroatividade para todas as ações penais em curso que ainda não tenham transitado em julgado.
Atenção! É preciso ficar atento as próximas decisões do STJ, diante da possibilidade de se curvar
ao entendimento do STF.
144
NÚCLEO DURO
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OBS.: Para o professor Aury Lopes Jr, como dissemos alhures, o processo penal não poderia se valer da teoria
geral do processo civil para conferir das mesmas condições da ação. Para o processualista penal, são
condições da ação penal:
1) Prática de fato aparentemente criminoso;
2) Punibilidade concreta;
3) Legitimidade da parte;
4) Justa Causa.
a) Prática de fato aparentemente criminoso (fumus comissi delicti): O fato penalmente relevante praticado
em tese, deve ser típico, ilícito e culpável, não se admitiria uma ação penal por um fato que não fosse crime.
Ex.: denúncia por incesto, furto de coisa própria.
b) Punibilidade concreta: Deve o juiz rejeitar a peça acusatória quando houver prova de extinção da
punibilidade. Quando presente a causa de extinção de punibilidade, como prescrição, decadência, renúncia,
a denúncia ou queixa deverá ser rejeitada e o réu absolvido sumariamente, conforme o momento em que
seja reconhecida.
As outras duas condições para o professor Aury são idênticas as já exauridas acima e, por uma
questão de economia nos estudos, não abordaremos.
145
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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https://youtu.be/iB6yH8kLH0g
2) PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE:
O MP, titular da ação penal, pode agir de ofício, não dependendo da autorização de ninguém, da
mesma forma que o ofendido também pode agir de ofício quando legitimado.
OBS.: O juiz não pode dar início ao processo de ofício, uma vez que a ação penal é de iniciativa do
MP, nos crimes de ação penal pública, ou do ofendido ou seu representante legal, nos crimes de ação penal
privada.
OBS.2: O juiz pode conceder habeas corpus de ofício (art. 654, §2º, CPP), visto que a restrição se
limita a atuação de ofício em ação penal condenatória. Ademais, a execução tem início de ofício.
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NÚCLEO DURO
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O princípio da obrigatoriedade está previsto no art. 24 do CPP. Com isso, diferentemente do que
ocorre com os demais princípios que possuem status constitucional ou convencional, possui status de lei
ordinária. Consequentemente, pode ser excepcionado por outra lei ordinária.
Art. 24: Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
O MP, titular da ação penal pública, está OBRIGADO a oferecê-la, sempre que constatar a presença
de prova da materialidade e indícios de autoria ou participação.
Assim, se presentes as condições da ação penal e havendo justa causa, o MP está obrigado a
oferecer denúncia. Em outras palavras: não se reserva ao MP qualquer juízo de discricionariedade quando
constatada a presença de conduta delituosa e das condições da ação penal.
pelo MP.
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NÚCLEO DURO
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Art. 385: Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória,
ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como
reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
Como visto acima, o princípio da obrigatoriedade possui status de lei ordinária. Por isso, é possível
que uma lei ordinária crie exceções ao princípio.
1. Transação Penal (art. 76 da Lei 9.099/95):
148
NÚCLEO DURO
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meio do qual sujeita-se a determinadas condições. Após o cumprimento, o MP irá requerer o arquivamento.
O acordo de não persecução penal, introduzido pelo Pacote Anticrime, também é um exemplo de
exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, haja vista que, presentes os requisitos e as
condições dispostas em lei, o MP pode deixar de oferecer denúncia.
13
Obviamente que o MP, por mandamento constitucional, já que o artigo 129, VIII, 2ª parte, da CR, diz que todas as
manifestações processuais do MP hão de ser fundamentadas – TEM que fundamentar. Por isso que é REGRADA!
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NÚCLEO DURO
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Lei n. 9.430/96, art. 83, § 2º: É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente
aos crimes previstos no caput, durante o período em que a pessoa física ou a pessoa
150
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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2) PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE:
De acordo com o princípio da indisponibilidade, o MP NÃO pode desistir da ação penal após o
oferecimento da denúncia.
TURMA 9
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Cabe em crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior a um ano (não só nos juizados).
Lei n. 9.099/95, art. 89: Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou
inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer
a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde
que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por
outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
3) PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE:
O titular da ação é o órgão oficial do Estado.
4) PRINCÍPIO DA (IN)DIVISIBILIDADE:
Há controvérsia sobre o caráter divisível da ação penal pública.
1ª Corrente (majoritária na doutrina): Entende5700
que a ação penal pública é indivisível.
5700
2ª Corrente (Tribunais Superiores): A ação penal pública admite a divisibilidade. Ou seja: o MP pode
oferecer denúncia em face de alguns investigados, sem prejuízo do prosseguimento das
investigações dos demais autores. Nesse contexto, até a sentença final, o MP pode incluir novas
pessoas no polo passivo, por meio do aditamento da denúncia. (é a corrente que deve ser adotada
em provas objetivas!)
TURMA 9
SEMANA 03/16
Há 2 mecanismos através dos quais a vítima pode optar por NÃO exercer seu direito de ação:
a) Decadência: A vítima dispõe do prazo decadencial de 06 (seis) meses para o exercício da ação
privada, contados do conhecimento do responsável pelo delito, sob pena de extinção da
punibilidade (art. 107, IV, CP)
b) Renúncia: É ato unilateral do ofendido, e ocorre quando a vítima se recusa a tomar providência
contra o seu agressor.
⋅ Se opera até o oferecimento da ação penal;
⋅ É irretratável;
⋅ A renúncia feita para um agressor necessariamente beneficia os demais (art. 49, do CPP);
⋅ Pode ser expressa ou tácita (atos do ofendido incompatíveis com o desejo de processar o
agressor);
⋅ Enseja a extinção da punibilidade.
OBS.1: Tanto a decadência como a renúncia ocorrem antes de iniciada a ação penal com o
oferecimento da queixa crime.
OBS.2: O prazo decadencial para a queixa-crime é improrrogável e NÃO se sujeita a nenhuma forma
de suspensão ou interrupção.
OBS.3: O princípio se aplica também a ação
5700 penal pública condicionada, no que tange à
representação ou à requisição (e APENAS nesse ponto, visto que uma vez presentes as demais elementos
para o oferecimento da ação, o MP é obrigado a agir).
2) PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE:
Após iniciada a queixa crime, o querelante pode dispor do seu direito de dar continuidade à queixa-
crime através de 2 institutos:
a) Perdão: Ato de liberalidade, e requer a aceitação pelo réu (ato bilateral). Trata-se de causa extintiva
de punibilidade e só é admissível até o trânsito em julgado;
5700
RENÚNCIA PERDÃO
Instituto pré-processual. Instituto processual.
Ato unilateral. Ato bilateral.
A renúncia feita a um dos agentes O perdão concedido a apenas um dos
se estende aos demais (art. 49, CP). agentes delitivos não
necessariamente se estende aos
demais.
153
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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b) Perempção: É sanção processual pela desídia do querelante na ação privada (art. 60, CPP)
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á
perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do
processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não
comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60
(sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto
no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer
ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessor.
CONCLUSÃO: Independentemente do momento em que o querelante decide abrir mão do seu direito de
queixa, antes mesmo de oferecida a queixa (através da
5700 decadência ou renúncia), ou após o oferecimento
c) Conciliação nos crimes contra a honra de competência do juiz singular (art. 522, CPP)
5700
Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da
desistência, a queixa será arquivada.
OBS.: Esse princípio NÃO se aplica a ação penal privada subsidiária da pública, pois, eventual
manifestação do querelante no sentido de dispor da ação penal já em curso importa na retomada, pelo
Ministério Público, da titularidade da ação penal. Trata-se da chamada ação penal indireta.
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Vamos esquematizar?
● Antes de iniciada a queixa crime:
(a) Decadência Princípio da Conveniência e Oportunidade
(b) Renúncia
5700
3) PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE:
Proposta ação penal privada, o querelante deve promovê-la contra TODOS os que contribuíram para
o delito, NÃO podendo deixar de processar os que sabidamente concorreram para a prática do crime.
Nesse sentido, a ação penal deve se estender a todos aqueles que praticaram a infração penal.
CPP - Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo
de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
5700
Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que
produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.
TURMA 9
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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A ação penal pública incondicionada é a regra, de modo que, no silêncio da lei, o crime será de ação
penal pública incondicionada.
a) Titular: Ministério Público, cuja atribuição é privativa, conforme a CF (art. 129, I, CF).
5700
b) Peça inicial: A denúncia é a peça privativa do Ministério Público que dá início à ação penal pública.
Súmula 542, STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
2) Todos os crimes contra a dignidade sexual, em virtude da alteração promovida pela Lei nº
13.718/2018:
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
157
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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A ação penal pública condicionada é aquela que depende da manifestação de vontade do legítimo
interessado para que a persecução penal possa se iniciar.
A ação penal pública pode ser condicionada à:
a) Representação do ofendido;
b) Requisição do Ministro da Justiça.
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
o
Art. 5ª, § 4 , CPP O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
Lembrando que pode ser condição de prosseguibilidade (como vimos anteriormente), a exemplo da Lei
9.099/95 quando passou a exigir representação para as lesões corporais leves e culposas.
OBS.: Na sucessão processual, o prazo não é renovado, mas contínuo, de modo que são possíveis duas
situações:
1) Se o sucessor toma conhecimento da autoria no mesmo momento que a vítima, tem direito ao prazo
restante;
2) Se o sucessor não tinha conhecimento da autoria, o prazo restante será contado no momento em
que atingir esse conhecimento.
O prazo é uno para os sucessores, de modo que basta que um deles tenha conhecimento da autoria,
para que tenha início o prazo decadencial para todos.
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NÚCLEO DURO
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OBS.: O mesmo entendimento se aplica ao exercício do direito de queixa (ação penal privada).
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
representá-lo.
§ 1o No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente
ou irmão.
Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência
o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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💣 FIQUE ATENTO!
O STJ (Info 654) estendeu o direito à representação ao companheiro:
● Forma da representação: De acordo com o STJ/STF, ela tem forma livre, podendo ser oral ou por
escrito. Ou seja: NÃO precisa ser através de peça formal.
● Prazo para a representação: 6 (seis) meses contados do conhecimento da autoria. Não interessa a
data do fato.
OBS.: O prazo para oferecimento da representação tem natureza decadencial, não se admite
suspensão, prorrogação ou interrupção.
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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💣 RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO:
Regra: a retratação da representação é possível até antes do oferecimento da denúncia.
Lei 11.340/06. Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da
ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante
o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do
recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
● Eficácia objetiva da representação: A representação é feita para cada crime e abrange todos os
possíveis coautores e participes.
Por eficácia objetiva da representação, entende-se o seguinte: se oferecida a representação contra
um dos partícipes ou coautores do crime, o MP deve oferecer a denúncia contra todos aqueles que
praticaram o delito. Porém a representação só é válida para aquele delito.
Assim, se a vítima representou apenas pelo delito de injúria, NÃO é possível o MP amplie a
representação para abranger os crimes de calúnia e difamação, em face da eficácia objetiva da
representação. Não abrange outros crimes, envolvendo apenas todos os coautores.
STF: HC 98.237/SP. STF, “(...) O fato que constitui objeto da representação oferecida
pelo ofendido (ou, quando for o caso, por seu representante legal) traduz limitação
material ao poder persecutório do Ministério Público, que não poderá, agindo
"ultra vires", proceder a uma indevida ampliação objetiva da "delatio criminis"
postulatória, para, desse modo, incluir, na denúncia, outros delitos cuja
perseguibilidade, embora dependente de representação, não foi nesta pleiteada
por aquele que a formulou. Precedentes. – A existência de divórcio ideológico
resultante da inobservância, pelo Ministério Público, da necessária correlação
entre os termos da representação e o fato dela objeto, de um lado, e o conteúdo
161
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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● Prazo: A lei é omissa. Logo, pode ocorrer a qualquer tempo, enquanto não for extinta a punibilidade. Ao
contrário da representação, que deve ser oferecida no prazo decadencial de 6 meses, contados do
conhecimento da autoria, a lei silenciou acerca de eventual prazo para o oferecimento da requisição.
Entende-se, portanto, que a requisição NÃO está sujeita ao prazo decadencial, podendo ser oferecida a
qualquer tempo, desde que não tenha havido a extinção
5700 da punibilidade pelo advento da prescrição.
● Destinatário: MP (PGJ).
☞ Há discricionariedade do Ministro da Justiça
☞ A requisição NÃO vincula o MP. Ou seja: o MP não está obrigado a oferecer denúncia.
5700
● Hipóteses:
a) Crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil;
b) Crimes contra a honra praticados contra o Presidente ou Chefe de Governo Estrangeiro.
Para alguns doutrinadores, essa subespécie de ação penal pode ser vislumbrada quando ocorre a
atuação de um órgão do MP diante da inércia de outro órgão do MP.
Alguns exemplos dessa espécie “sui generis” de ação penal pública subsidiária da pública podem ser
apresentados:
a) Nos Crimes de Responsabilidade de Prefeitos, em caso de inércia do PGJ (lembrando que os Prefeitos
têm prerrogativa de função e são julgados pelos Tribunais de Justiça), a ação poderá este ser proposta
pelo PGR (art. 2º., § 2º, do Decreto-Lei 201/67)
b) Nos casos de deslocamento de competência como aqueles que ocorrem quando há “grave violação
dos direitos humanos” e inércia dos órgãos estaduais, podendo então o caso, mediante
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representação do PGR perante o STJ, ser deslocado para a Justiça Federal, isso com o fim de “assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais
o Brasil seja parte” (art. 109, § 5º., CF). Também é mencionável a possibilidade de deslocamento de
competência para o Tribunal Penal Internacional (TPI), no caso de inércia dos órgãos internos
brasileiros envolvendo crimes contra a humanidade (artigo 5º., § 4º., CF).
https://youtu.be/h4n0S8kJ-Pw
5700
Ocorre quando o Estado legitima o ofendido ou seu representante legal a ingressar com ação penal,
pleiteando a condenação do agressor, em hipóteses excepcionais.
O particular, portanto, passa a ter o5700
direito de ação, a legitimidade para o oferecimento da ação penal
privada, embora a titularidade da ação penal permaneça com o Estado. Trata-se, como já visto, de hipótese
de legitimação extraordinária.
163
NÚCLEO DURO
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Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais,
devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção
do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências
que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
● Prazo para interpor a queixa crime: 6 meses, contados a partir do conhecimento da autoria.
Lembre-se que se trata de prazo decadencial!
● Espécies: 5700
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCRN 2021): Ao sair de sua casa, em 17/05/2020, Miriam foi surpreendida por faixa anônima
estendida na via pública com diversas ofensas à sua honra. Diante da humilhação sofrida, Miriam deixou o
país e foi morar no exterior sem se interessar em descobrir o responsável pelos fatos. Em 03/01/2021, Miriam
recebeu mensagem de Sandra, sua antiga vizinha, confessando ser ela a autora das ofensas, bem como
esclarecendo que informou os fatos ao delegado de polícia, em razão de seu arrependimento. Miriam entrou
em contato com seu advogado, em 25/01/2021, para esclarecimentos jurídicos, informando que permanece
no exterior. O advogado deverá esclarecer naquela data que o crime praticado seria5700de injúria, de ação penal
privada, logo a queixa-crime poderá ser oferecida por Miriam, mas, se através de procurador, exigem-se
poderes especiais. (item considerado correto).
164
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Somente o ofendido pode ingressar em juízo, ou seja, o direito NÃO é transmitido ao representante
legal e nem haverá sucessão processual.
Aqui, a morte da vítima extingue a punibilidade do autor do delito.
Na atual legislação brasileira, há apenas um exemplo de crime dessa espécie. Vejamos:
É aquela que pode ser proposta pelo ofendido ou seu representante legal. Na hipótese de ser
proposta pelo representante legal, há sucessão processual.
5700
Art. 31. No caso de morte do5700ofendido ou quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.
Art. 145, CP - Nos crimes previstos neste Capítulo (DOS CRIMES CONTRA HONRA)
somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da
violência resulta lesão corporal.
Atenção: A diferença entre a ação penal exclusivamente privada e a ação privada personalíssima é que, na
ação penal exclusivamente privada, admite-se a sucessão processual, ao passo que na ação penal privada
personalíssima, somente o próprio ofendido pode ajuizar queixa crime.
● Conceito:
A ação penal privada subsidiária da pública também é chamada de ação penal acidentalmente
privada/supletiva e será admitida quando estiver caracterizada a inércia do MP.
165
NÚCLEO DURO
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Assim, em havendo inércia do órgão ministerial, a ação penal privada subsidiária da pública será
exercida pela vítima ou por seu representante na condição de substituição processual, já que ela atua em
nome próprio pleiteando a punição que será exercida pelo estado.
CF Art. 5º, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal;
CPP - Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do
processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Trata-se de forma de controle da obrigatoriedade da ação penal pública, bem como da inafastabilidade
da jurisdição.
5700
● Pressupostos:
Há dois requisitos:
i. Só é cabível em face da inércia do MP;
Ex.: Se o promotor recebe o inquérito e em 15 dias (acusado solto) não faz nada, a partir do 16º dia
cabe ação penal privada. Se pedir arquivamento ou diligência não se trata de inércia, nem de ação subsidiária.
OBS: no HC n. 74.276, o STF, considerou procrastinatórias diligências solicitadas pelo MP.
Consequentemente, o Tribunal entendeu ser possível o ajuizamento de uma ação penal privada subsidiária
da pública.
OBS 2. Veja o julgado:
Ementa: Recurso extraordinário com agravo. Repercussão geral. Constitucional.
Penal e processual penal. 2. Habeas corpus. Intervenção de terceiros. Os
querelantes têm legitimidade e interesse para intervir em ação de habeas corpus
buscando o trancamento da ação penal privada
5700
e recorrer da decisão que concede
a ordem. 3. A promoção do arquivamento do inquérito, posterior à propositura da
ação penal privada, não afeta o andamento desta. 4. Os fatos, tal como admitidos
na instância recorrida, são suficientes para análise da questão constitucional.
Provimento do agravo de instrumento, para análise do recurso extraordinário. 5.
Direito a mover ação penal privada subsidiária da pública. Art. 5º, LIX, da
Constituição Federal. Direito da vítima e sua família à aplicação da lei penal,
inclusive tomando as rédeas da ação criminal, se o Ministério Público não agir em
166
NÚCLEO DURO
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Conselho indigenista não pode ajuizar queixa-crime subsidiária por delito contra
índios
Determinado indivíduo teria proferido discurso racista contra
5700
um grupo de índios
que teria invadido uma fazenda em certa região. O Ministério Público não ofereceu
denúncia nem instaurou qualquer procedimento. Em virtude disso, o Conselho dos
Povos Indígenas (organização não-governamental indígena) ajuizou uma queixa-
crime subsidiária (art. 5º, LIX, da CF/88) contra o indivíduo, imputando-lhe a prática
dos crimes de racismo (art. 20 da Lei 9.459/97) e incitação à violência e ódio contra
os povos indígenas (arts. 286 e 287 do CP). Essa queixa-crime deverá ser rejeitada,
porque os conselhos indigenistas não possuem legitimidade ativa em matéria
167
NÚCLEO DURO
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Assim, o MP pode:
(1) Repudiar a queixa, oferecendo denúncia substitutiva
Esclarece o Nestor Távora que quando a vítima “ingressa com a ação penal privada subsidiária, a
petição inicial é a queixa-crime SUBSIDIÁRIA da denúncia que não foi apresentada. Por sua vez, quando o MP
repudia a queixa, por entender que não houve omissão, a denúncia é SUBSTITUTIVA” da queixa repudiada.
Art. 46, § 2o O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data
em que o órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar
dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos
demais termos do processo.
168
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OBS.: Na ação exclusivamente privada, NÃO pode o MP incluir coautor ou fato que o ofendido
não incluiu, sob pena de violação ao princípio da oportunidade. Contudo, em atenção ao princípio da
indivisibilidade, verificada omissão involuntária, o MP poderá oficiar o querelante para que promova o
aditamento.
5700
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser
aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos
subseqüentes do processo.
Para o professor Nestor Távora, seria o litisconsórcio ativo entre o MP (no crime de ação penal
pública) e o querelante (nas hipóteses de ação penal privada).
Ex.: Estupro antes de 2009 (ação penal privada) conexo com tentativa de homicídio (ação penal
pública incondicionada), de modo que o MP oferece denúncia e vítima queixa e as ações correriam juntas
pela conexão.
Para o professor Luiz Flávio Gomes, só existe na Alemanha, onde é possível que MP ingresse com a
ação penal pública e, em seguida, a vítima ingresse de maneira adesiva, porém com objetivos indenizatórios.
Nesse contexto, há uma espécie de intervenção adesiva facultativa, relacionada à satisfação do dano
decorrente do crime.
Para Tourinho Filho/Denilson Feitoza, o instituto verificado na Alemanha, também é possível nos
crimes de ação penal privada, quando o MP promove a ação penal, mediante constatação de um interesse
público. Nesse caso, faculta-se ao ofendido ou seu representante legal intervir no processo como assistente.
169
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OBS: NÃO confundir com a atuação obrigatória adesiva do MP (“interveniente adesivo obrigatório”)
na ação penal privada subsidiária da pública.
Críticas:
● Habeas corpus NÃO se trata de uma ação penal por excelência (ação penal propriamente
dita), mas sim de uma ação libertária, um meio de impugnação autônomo.
● A “denúncia” mencionada no art. 41, Lei 1.079/50, em verdade, compreende com incorreção
técnica do legislador, que confunde o termo “denúncia” com “notícia crime”. Além disso, os
ilícitos da Lei 1.079/50 não são crimes propriamente ditos, uma vez que sequer prevê sanções
penais em razão da prática das condutas
5700 ali previstas, mas sanções político-administrativas.
5700
CONCLUSÃO: Em razão das críticas apresentadas, a doutrina majoritária entende NÃO existir no Brasil ação
penal popular (Noberto Avena). Contudo, há doutrina em sentido contrário (Tourinho Filho).
Ocorre quando as circunstâncias do caso concreto modificam a modalidade de ação penal a ser
ajuizada.
Ex.1: Crimes contra o patrimônio, no contexto do art. 182 do CP (escusas absolutórias relativas),
quando cometidos sem violência ou grave ameaça podem depender de representação (ação penal pública
condicionada), sendo que a regra geral é a ação penal pública incondicionada.
Ex.2: Crimes contra a honra, em regra, são de ação penal privada, contudo, há algumas exceções.
Vejamos:
1. Injúria real mediante vias de fato
· Injúria real mediante lesão corporal GRAVE ou GRAVÍSSIMA: ação penal pública
incondicionada.
· Injúria real mediante lesão corporal LEVE: ação penal pública condicionada à representação
(art. 140, §2º, CP c/c 9.099/95).
170
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· Injúria qualificada / “injúria-preconceito” / “racismo impróprio” (art. 140, §3º, CP após a Lei
12.033/09): antes da nova lei, a ação era privada e, com a alteração, passou a ser de ação penal
pública condicionada à representação.
OBS.: O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é imprescritível. STF. Plenário. HC
154248/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/10/2021 (Info 1036).
2. Crime contra a honra do presidente da república: ação penal pública condicionada à requisição do
Ministro da Justiça.
3. Crime contra a honra de servidor público em razão de suas funções: duas possibilidades → ação
penal pública condicionada à representação OU ação penal privada, sendo hipótese de legitimidade
concorrente ALTERNATIVA (oferece denúncia ou queixa-crime).
Ação a ser proposta contra o inimputável do art. 26, caput, pois é uma denúncia que NÃO pede
condenação, mas medida de segurança, a chamada absolvição imprópria.
Art. 26, CP - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento
5700
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
● Denúncia: É a peça privativa do Ministério Público que dá início à ação penal pública.
● Queixa-crime: É a peça privativa do ofendido, de seu representante legal, seu sucessor ou ainda seu
curador que dá início à ação penal privada.
171
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OBS.: É possível o litisconsórcio ativo entre o MP e o querelante, na hipótese de conexão entre crime de
ação penal pública e outro de ação penal privada. Nesse contexto, uma única ação penal contará com uma
denúncia e uma queixa.
Sendo as duas peças de início da ação penal, serão analisadas em conjunto, com as necessárias distinções
quando necessário.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.
OBS.: Em regra, devem ser feitas por escrito, salvo na hipótese de infração de menor potencial ofensivo
que, nos termos da Lei 9.099/95, admite o oferecimento de denúncia ou queixa oral, desde que
posteriormente seja reduzida a termo. 5700
Consiste na narrativa do fato delituoso, com todas as suas circunstâncias, de maneira clara, precisa,
simples e objetiva, sob a pena de inviabilizar o direito de defesa, pois, no processo penal, o acusado se
defende dos fatos que lhe são imputados.
Salienta-se que a narrativa deve responder questionamentos básicos: Como? Quando? Quem? O
que? Por quê? Contra quem?
Segundo Renato Brasileiro, imputação “é a atribuição a alguém da prática de determinada infração
penal, funcionando como o ato processual por meio do qual se formula a pretensão penal”.
Cuidado! Quando se tratar de crime culposo, é imprescindível que o titular da ação penal (MP ou
querelante) descreva em que consistiu a imprudência, negligência ou imperícia.
A inobservância deste requisito acarreta a inépcia da peça acusatória, pois viola o princípio da ampla
defesa (inépcia formal), razão pela qual a peça deve ser rejeitada pelo juiz.
OBS.: Caso não haja a rejeição da peça acusatória, prevalece o entendimento que deve ser arguida
pela defesa até a sentença. Os tribunais entendem que se não foi arguida essa inépcia até a sentença, o
172
NÚCLEO DURO
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indivíduo conseguiu defender-se, portanto não teria por que alegar isso em esfera recursal (teoricamente
teria ocorrido preclusão).
O que é “CRIPTOIMPUTAÇÃO”?
É a imputação contaminada por grave deficiência na narrativa do fato delituoso. Espécie de denúncia
criptografada, em códigos. Quando NÃO contém os elementos mínimos de sua identificação como crime,
sendo “gravemente inepta”. "(...) Expressão de Scarance, trata-se de uma imputação confusa,
incompreensível, que dificulta o exercício da defesa. O
5700neologismo criptoimputação deriva de criptografia,
técnica de comunicação confidencial, com linguagem inacessível, que bem representa a qualificação de
inépcia que recebe a petição inicial". (TÁVORA, Nestor e Rosmar Rodrigues. Direito processual penal, p. 285).
Para complementar jurisprudência pertinente ao tema;
O Supremo Tribunal Federal compreendeu cabível Habeas Corpus para
trancamento de ação penal por falta ou deficiência na exposição do fato:
HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA. INÉPCIA.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
[…]
4. O Código de Processo Penal, no artigo 41, prescreve que a denúncia deverá
conter a exposição do fato criminoso, com todas as circunstâncias, a qualificação
do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do
crime (indicação de rol de testemunhas, se houver), exigências que encontram
fundamento na necessidade de o representante do Ministério Público precisar os
limites da imputação, possibilitando ao acusado, prima facie, o conhecimento da
alegação de infringência à norma incriminadora e o exercício da ampla defesa.
5. O artigo 41 do Código de Processo Penal é de necessária observância, posto que
a inépcia da denúncia baseada em descrição do fato delituoso, viola as garantias
constitucionais do devido processo legal e do contraditório, integrantes do núcleo
essencial do due process of Law. (STF, HC 110015, Rei. Min. Luiz Fux, Primeira
Turma, julgado em 19/03/2013, DJe 11/04/2013)
173
NÚCLEO DURO
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CPP Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença
condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem
como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
Norberto Avena afirma que ao contrário do que ocorre com as qualificadoras, a inclusão de
agravantes na denúncia é uma faculdade do MP. Esta conclusão, inclusive depreende-se dos próprios termos
do art. 385 do CPP, quando reza que o juiz pode reconhecer agravantes na sentença, “embora nenhuma
tenha sido alegada”.
174
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Caso não se tenha a qualificação do acusado e não seja possível a identificação criminal, a denúncia
ou queixa deve indicar esclarecimentos pelos quais se possa identificar o acusado (art. 259, CPP).
É o enquadramento típico. NÃO é requisito obrigatório. No processo penal, o acusado não se defende
da classificação e sim dos fatos que lhe são imputados. Isto porque o juiz, na hora da sentença, pode realizar
a mutatio libelli ou emendatio libelli. Veja: 5700
● Emendatio libelli: NÃO há alteração em relação ao FATO delituoso, limitando-se o juiz a modificar a
CLASSIFICAÇÃO formulada na peça acusatória, ainda que tenha que aplicar pena mais grave. Ex.: MP
oferece denúncia descrevendo um furto, mas classifica de maneira errada, como estelionato, razão
pela qual na hora da sentença, o juiz a corrige.
● Mutatio libelli: Ocorre quando o FATO que se comprovou pela instrução é diverso daquele narrado
na peça acusatória (surge no curso da instrução prova de ELEMENTAR ou CIRCUNSTÂNCIA não
contida na peça acusatória). O MP deve aditar a denúncia e, em seguida, abre-se prazo para a defesa
se manifestar.
CPP - Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição
jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou
circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público
deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta
houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo
o aditamento, quando feito oralmente.
Segundo entendimento dos Tribunais Superiores, o momento adequado para a emendatio libelli é a
sentença. Contudo, admite-se a correção da capitulação já no recebimento da inicial quando ocorrer em
benefício do réu, permitindo a incidência de instituto despenalizador; quando acarretar a modificação do
175
NÚCLEO DURO
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SEMANA 03/16
juízo competente; quando necessária para determinação do procedimento aplicável; quando repercutir em
matérias de ordem pública, como a prescrição.
STJ: “(...) O limite máximo de 8 (oito) testemunhas descrito no art. 401, do Código
de Processo Penal, deve ser interpretado em consonância com a norma
constitucional que garante a ampla defesa no processo penal (art. 5º, LV, da CF/88).
Para cada fato delituoso imputado ao acusado, não só a defesa, mas também a
acusação, poderá arrolar até 8 (oito) testemunhas, levando-se em conta o princípio
da razoabilidade e proporcionalidade”. (STJ, 5ª Turma, HC 55.702/ES, Rel. Min.
Honildo Amaral de Mello Castro, j. 05/10/2010).
O STJ possui julgado (NÃO é entendimento pacífico) permitindo a intimação do MP para a emenda
da inicial e inclusão do rol de testemunhas, desde que ocorra antes da formação da relação processual, ou
seja, antes da citação do réu (Info 577).
b) Requisitos da Queixa-Crime
176
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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O art. 44, CPP prevê como requisito específico da queixa procuração com poderes especiais.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo
constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato
criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que
devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
O vício na procuração pode ser sanado, sendo que há duas correntes sobre o momento em que pode
ocorrer.
1ª Corrente: prazo decadencial, ou seja, 6 meses do conhecimento da autoria.
2ª Corrente (majoritária): antes da sentença, em observância ao art. 569, CPP, mesmo que escoado
o prazo decadencial.
Se não preenchidos os requisitos formais da denúncia ou da queixa e isso implicar prejuízo à ampla
defesa (vício insanável), deverá ocorrer a rejeição da inicial acusatória (art. 395, I, CPP), bem como se faltar
alguma condição da ação ou pressuposto processual ou
5700se faltar justa causa à ação penal.
Contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa cabe recurso em sentido estrito (prazo de 05
dias).
Trata-se de prazo impróprio, ou seja, caso não seja observado, não enseja a perda do direito de
oferecer a denúncia!
Se queixa crime: Prazo de 6 (seis) meses, contados a partir do conhecimento da autoria (art. 38, CPP).
177
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
A denúncia pode ter cumulação de imputações. Pode tanto trazer mais de um fato, hipótese em que
temos cumulação objetiva, quanto mais de um sujeito, situação que incorre em cumulação subjetiva.
Não é possível, contudo, a imputação alternativa, ou seja, diante da ausência de elementos
suficientes de prova da materialidade, trazer mais de um fato (como na imputação cumulativa), deixando
explícito que apenas um deles ocorreu.
f) Aditamento da denúncia
Ocorre quando, no curso da instrução, são descobertos novos fatos, pessoas ou elementos de prova,
de modo que o MP deverá complementar a peça acusatória, diante das novas informações.
O aditamento se justifica no princípio da correlação entre denúncia e sentença, pois, se o juiz só
pode condenar quem foi denunciado e em relação aos fatos que foram narrados na denúncia, caso surjam
novos elementos no curso da ação, o aditamento será necessário.
Poderá ser feito até o momento imediatamente anterior à sentença.
TURMA 9
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STJ. 6ª Turma. RHC 154.162-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
22/03/2022 (Info 730)
A denúncia contra Prefeito por crime em licitação municipal deve indicar sua
participação ou conhecimento acerca dos fatos. A denúncia contra Prefeito por
crime ocorrido em licitação municipal deve indicar, ao menos minimamente, que o
acusado tenha tido participação ou conhecimento dos fatos supostamente ilícitos.
O Prefeito não pode ser incluído entre os acusados unicamente em razão da função
pública que ocupa, sob pena de violação à responsabilidade penal subjetiva, na qual
179
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Inépcia caso a denúncia se baseie apenas no fato de que o réu era Diretor-
Presidente da empresa. Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do
domínio do fato para dar suporte à imputação penal, sendo necessário, contudo,
que, além disso, ela aponte indícios convergentes no sentido de que o Presidente
da empresa não só teve conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu
finalisticamente a atuação dos demais acusados. Assim, não basta que o acusado
se encontre em posição hierarquicamente superior. Isso porque o próprio estatuto
da empresa prevê que haja divisão de responsabilidades e, em grandes
corporações, empresas ou bancos há controles e auditorias exatamente porque
nem mesmo os sócios têm como saber tudo o que se passa. STF. 2ª Turma. HC
127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/12/2016 (Info 850)
tratar de ação penal privada STJ. Corte Especial. EDcl na Apn 881/DF, julgado em
03/10/2018.
180
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Inicialmente, vale destacar uma crítica à nomenclatura, visto que o mais adequado seria acordo de
não deflagração da ação penal, pois já temos inquérito
5700 instaurado, ou seja, já há persecução penal em
andamento.
Trata-se de instituto de natureza mista (penal e processual) que possibilita uma solução negociada
no processo penal (justiça negociada) ao acusado que confessar a prática do crime e que, a partir disso,
sofrerá as sanções propostas pelo Ministério Público. Ao final, caso cumprido o acordo, há a extinção da
punibilidade.
Por que até o recebimento da denúncia? R.: Estabeleceu o marco temporal do recebimento da denúncia pois
o acordo de não persecução penal é um negócio PRÉ-PROCESSUAL que busca evitar a deflagração da ação
penal. Nesse sentido, caso a denúncia já tenha sido admitida judicialmente, o instituto perde sua razão de
ser.
Ressalta-se que a tese fixada pelo STF modifica a decisão proferida anteriormente pelo STJ (HC 575.395/RN).
181
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei
nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. A Lei nº 13.964/2019
(“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no ordenamento jurídico
pátrio, o instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019,
no ponto em que institui o ANPP, é considerada lei penal de natureza híbrida,
admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica e o tempus regit
actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque a
consequência da sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é
inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento da denúncia. O recebimento da
denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os atos
praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a retroatividade
penal benéfica incide para permitir
5700 que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à
Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se
impossível realizar o ANPP quando já recebida a denúncia em data anterior à
entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607003-SC, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC
191464 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.
Segundo a doutrina14, é a adoção pelo sistema brasileiro do chamado “plea bargaining” Norte-
Americano:
14
(Lima, 2017, p. 260)
182
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
“Na prática, o plea bargainig visa lutar contra o acúmulo de trabalho (e isso, pelo
menos, desde o Século XIX, nos E.U.A.), mas sem deixar de lado os direitos e
garantias individuais, dos quais eles não abririam mão, ainda 5700
que muita gente
reclame e afirme que é justo isso que estão fazendo.
Eis, então, que, fundados em um modelo de pensamento (Francis Bacon como
principal corifeu) utilitarista (Jeremy Bentham e John Stuart Mill), empiricamente
não se incomodam, em tantas passagens, de operar com uma ética na qual os fins
justifiquem os meios, desde que se almeje o bem-estar de todos.
De certa forma, isso justifica, para eles, a negociação de um acordo sobre o crime
e a pena; o próprio acordo ainda
5700 na esfera material ou mesmo naquela processual
em face dos lugares ocupados pelos atores; e o lugar do juiz como aquele de –
quase que – tão só controlar o que se fez, para não permitir que se vilipendiem
direitos e garantias individuais.
[...]
Tudo leva a crer, enfim, que um plea bargaining metido em um processo do sistema
inquisitório como o brasileiro seja um desastre, retirando ainda mais o pouco de
democracia processual que restou depois da americanização à brasileira promovida
nos últimos anos, tudo sem o devido controle por quem de direito, seja lá por qual
motivo for.
Ter plea bargaining é inevitável se o processo penal brasileiro vier a ser acusatório.
Mas para isso é preciso, antes, importar o sistema todo, com ônus e bônus. Do jeito
que se está tentando impor, os ônus ficarão para os cidadãos
investigados/acusados; e os bônus – tudo indica – ficarão para o Estado e seus
órgãos. Em tempos neoliberais, tudo é contra o cidadão, quem sabe em nome
daquela ética utilitarista precitada, embora se saiba que ela é só discurso fácil para
iludir os incautos. Os de sempre serão os beneficiados, como sempre foi. É como se
existissem cidadãos e... cidadãos. O problema em uma sociedade assim é que tudo
15
(Coutinho, 2019)
183
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184
NÚCLEO DURO
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Conforme a previsão legal, poderá o Ministério Público propor ao investigado o acordo de não
persecução penal obedecidos os seguintes REQUISITOS:
a) Confissão formal e circunstancial do investigado;
b) Infração penal sem violência ou grave ameaça;
c) Infração penal com a pena mínima inferior a 4 anos;
d) Acordo necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.
16
(Lima, 2017, p. 234)
185
NÚCLEO DURO
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Nas hipóteses de ação penal privada, recai sobre o querelante a legitimidade para
o oferecimento da proposta de transação penal. Assim, na fase preliminar, deve o
magistrado questionar o ofendido ou seu representante legal acerca do
oferecimento da proposta de transação. Como o juiz não pode conceder o benefício
de ofício, nem tampouco se admite a formulação de proposta pelo MP, a recusa do
querelante em oferecer a proposta inviabiliza por completo a concessão do referido
benefício.”
5700
O raciocínio acima merece ser interpretado à luz do art. 28-A do CPP, incluído pela L.13964/19, que
retirou do juiz a função de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal e retirou de suas mãos
qualquer atividade que, por natureza, pertença à acusação. Portanto, diante da negativa de proposta do
acordo de não persecução penal, poderá o investigado suscitar a manifestação do órgão de revisão
ministerial, em solução próxima à que foi dada no tocante à transação penal.
2ª Corrente: Faculdade do Ministério Público, com base em interpretação literal do art. 28-A, uma
vez que, ainda que preenchidos os requisitos legais, o promotor pode, fundamentadamente, deixar de
oferecer o acordo.
Esse é o entendimento que vem sendo adotado pelo STJ (RHC 161.251, 2021) e STF (HC 191124 AgR,
2022).
Segundo o STJ "O acordo de não persecução penal - ANPP não constitui direito
subjetivo do investigado, assim pode ser proposto pelo Ministério Público
conforme as peculiaridades do caso concreto, quando considerado necessário e
suficiente para reprovar e prevenir infrações penais." (Agravo Regimental no
Recurso Especial nº 1.948.350/RS, STJ, 5ª Turma, unânime, rel. min. Jesuíno Rissato,
julgado em 9/11/2021, publicado no Dj em 17/11/2021)
186
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Importante destacar, que segundo o §1º, para fins de aferição da pena mínima, serão consideradas
as causas de aumento e diminuição de pena.
Cumpridos os requisitos, o acordo será oferecido mediante as seguintes CONDIÇÕES, que poderão
ser ajustadas cumulativamente ou alternativamente:
a) Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
b) Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
c) Prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução,
na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
d) Pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
e) Cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal imputada.
5700
Art. 28-A.
[...]
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado
pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.
187
NÚCLEO DURO
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Caso homologue o acordo (§6º), os autos retornarão para que o Ministério Público inicie sua
execução perante o juízo da execução. ATENÇÃO! Cabe ao Ministério Público fiscalizar o cumprimento das
condições (penas antecipadas) e, caso sejam cumpridas, informará ao juiz para que seja declarada EXTINTA
A PUNIBILIDADE.
No caso de quebra do acordo, o Ministério Público comunicará ao juiz que o RESCINDIRÁ, podendo
o Ministério Público determinar o prosseguimento das investigações ou denunciar o investigado.
Caso o acordo não seja homologado pelo juiz, os autos igualmente retornam ao Ministério Público,
para complementação das investigações ou oferecimento da denúncia.
Em ambas as soluções, a vítima será intimada (§9º).
"Uma vez oferecida denúncia pelo Membro do Ministério Público, com a respectiva
recusa em propor o acordo de não persecução penal, a defesa poderá requerer ao
Juiz a remessa dos autos ao órgão superior de revisão do Ministério Público, para
analisar a negativa do Promotor ou Procurador de 1º Grau. Veja-se que apesar da
vagueza do § 14, do art. 28-A, CPP esse pedido de remessa deverá ser formulado
ao Juiz, pois caso tenha ocorrido a negativa do ANPP, haverá, obviamente,
oferecimento de denúncia (e essa recusa, como já dito, deve ser feita na quota que
acompanha a acusação), estando,
5700 portanto, os autos, sob a responsabilidade do
magistrado, para apreciação. (...) Mas, então, surge a seguinte pergunta: quando
deve ser formulado esse pedido de remessa dos autos ao órgão revisional do MP?
Existe prazo para ele ser formulado? (...) Desse modo, nos parece que a melhor
solução seria entender que o pedido ao juiz de remessa dos autos ao órgão de
revisão do Ministério Público deverá ser feito por ocasião e no prazo da resposta à
acusação, prevista nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal" (CABRAL,
Rodrigo Leite Ferreira, Manual do acordo de não persecução penal. Salvador, ed.
Juspodivm, 2020, p. 167-173).
OBS.: No caso de desclassificação do crime no curso da ação penal, será possível oferecer o acordo
de não persecução penal. Isso porque, embora a finalidade processual do acordo de não persecução penal
já esteja preclusa – tendo em vista que a ação penal foi deflagrada 5700
– a sua finalidade material, qual seja, a
finalidade de preservar o estado de inocência do indivíduo ainda permanece.
Ex.: O indivíduo foi denunciado por um crime de maior gravidade que, a princípio, não caberia acordo
de não persecução penal, caso haja a desclassificação do crime para um crime de menor gravidade, será
possível oferecer o acordo de não persecução penal (da mesma forma que é possível o oferecimento da
transação penal e suspensão condicional do processo).
CAIU EM PROVA
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
(Delegado da PCPR 2021): Sobre o acordo de não persecução penal (ANPP), considere as seguintes
afirmativas:
1. Aplica-se ao acordo de não persecução penal a mesma lógica da transação penal, sendo dispensável a
confissão do crime para a realização do acordo. (item incorreto)
2. Se o agente tiver sido beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da infração com uma transação
penal, tal agente não poderá realizar o acordo de não persecução penal. (item correto)
3. A reincidência genérica não impede a realização do acordo de não persecução penal, mas apenas a
reincidência específica. (item incorreto)
4. Não é cabível a realização do acordo de não persecução penal em favor do agressor nos crimes praticados
no âmbito de violência doméstica e familiar, ou praticados contra a mulher, por razões da condição de sexo
feminino. (item correto)
(Delegado da PCRN 2021): Concluídas investigações de inquérito policial, a autoridade policial indiciou
Francisco, sem envolvimento anterior com o aparato policial ou judicial pela prática de crimes, como incurso
nas sanções penais do delito de lesão corporal de natureza gravíssima (Art. 129, §2º, CP –pena: reclusão de
2 a 8 anos). Tendo Francisco confessado formal e circunstancialmente a prática da infração penal na
delegacia, o acordo de não persecução penal, no caso em tela não poderá ser proposto, diante da natureza
do delito imputado. (item correto). 5700
Destaque: Ocorreu a I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ (10 a 14 de agosto de 2020). Veja
os enunciados atinentes sobre tema em estudo:
TURMA 9
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Jurisprudências pertinentes:
191
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Muito embora seja possível a rescisão do acordo de não persecução penal (§10 do
art. 28-A do CPP), necessário, para preservação dos princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa,
5700 oportunizar à defesa a manifestação acerca do
pedido formulado pelo Ministério Público. (...) Ordem concedida de ofício para
reconhecer a nulidade da decisão que rescindiu o acordo de não persecução penal,
devendo outra ser proferida, intimando-se, previamente, a defesa do paciente, em
respeito aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório” (HC
615.384/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 09/02/2021, DJe 11/02/2021).
O Ordenamento Jurídico Brasileiro adota o sistema da independência acerca da relação entre ação
penal e a ação civil decorrente de uma infração penal.
Por esse sistema, ambas as ações podem ser propostas de maneira independente, pois versam sofre
direitos diferentes (direito privado de cunho patrimonial e direito do Estado de punir).
Renato Brasileiro assevera que há um certo grau de mitigação no Sistema da Independência, haja
vista que o próprio juiz pode fixar, na sentença condenatória, um quantum a título de reparação pelos danos
5700
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São 2 as formas de obter a indenização civil por danos decorrentes da infração penal:
1) Execução civil ex delicto (art. 63, CPP)
2) Ação civil ex delicto (art. 64, CPP)
5700
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a
execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu
representante legal ou seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução
poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso iv do caput do art. 387
deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente
sofrido.
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do
dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso,
contra o responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o
curso desta, até o julgamento5700definitivo daquela.
9.1 Execução Civil ex delicto (art. 63, CPP) X Ação Civil ex delicto (art. 64, CPP)
Fundamento legal: art. 63, CPP Fundamento legal: art. 64, CPP
Exige o trânsito em julgado da sentença penal Pode ser proposta a qualquer momento.
condenatória, visto que a sentença penal Logo, não exige o trânsito em julgado da
funciona como um título executivo judicial. sentença penal condenatória e pode ser
proposta ao mesmo tempo que a ação
penal.
Deve ser proposta exclusivamente em face do Pode ser proposta em face do condenado
condenado. ou do responsável civil (ex.: tutor,
curador, empregador, pais – em caso de
filhos menores).
193
NÚCLEO DURO
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● Ofendido;
● Representante legal;
● Herdeiro;
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e
2o), a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será
promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.
194
NÚCLEO DURO
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O art. 387, IV, CPP, prevê que o juiz deve fixar um VALOR MÍNIMO a título de reparação de danos
5700
Existe divergência sobre a necessidade de haver pedido expresso acerca da indenização na inicial
acusatória (denúncia/queixa crime).
1ª Corrente (doutrina majoritária): NÃO há necessidade de pedido expresso pelo ofendido ou MP,
uma vez que se trata de um EFEITO GENÉRICO da sentença penal condenatória.
2ª Corrente (Tribunais Superiores): SIM. Para que seja fixado um valor mínimo a título de reparação
de dano, deve haver pedido expresso do MP ou do ofendido, sendo necessário oportunizar o contraditório
do réu.
Para descobrirmos quais são os efeitos civis de uma sentença absolutória, devemos conjugar alguns
artigos do CPP com Código Civil. Vejamos:
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento
de dever legal ou no exercício regular de direito
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá
ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência
material do fato
195
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c) Atipicidade material ou formal do fato (decisão no sentido de que o fato não constitui crime,
conforme o art. 67, III).
d) Despacho de arquivamento do inquérito policial ou peças de informação (art. 67, I).
e) Causa excludente da culpabilidade.
f) Se NÃO houver provas suficientes para a condenação.
Ainda em relação aos efeitos cíveis de possíveis decisões proferidas em sede processual penal, há de
se ficar atento às seguintes hipóteses17:
a) Sentença absolutória imprópria: É dominante o entendimento no sentido de que, por mais que haja a
imposição de internação ou de tratamento ambulatorial, como tal sentença não tem natureza
condenatória, é INCAPAZ de gerar o dever de reparação do dano, além de não funcionar como título
executivo. Isso, todavia, não impede o ajuizamento de ação civil contra a pessoa a quem competia a
guarda do inimputável.
b) Sentença absolutória proferida pelo Tribunal do Júri: diante do sigilo das votações e da adoção do
sistema da íntima convicção inerente ao Tribunal do Júri, resta impossível precisar o exato motivo que
deu ensejo à decisão dos jurados. Logo, é de se concluir que eventual sentença absolutória NÃO deve
fazer coisa julgada no cível.
c) Transação penal: esta decisão NÃO repercute no âmbito cível, vez que o art. 76, § 6º, da Lei nº 9.099/95,
dispõe expressamente que a imposição imediata de pena restritiva de direitos ou de multa não terá
efeitos civis, cabendo ao interessado propor a ação cabível no juízo cível;
d) Anistia: tem o condão de extinguir todos os efeitos penais decorrentes da prática do crime, sejam eles
principais, sejam eles secundários, mas não acarreta qualquer repercussão em relação aos efeitos
17
Manual de Processo Penal Volume Único. Renato Brasileiro de Lima. 8ª edição. 2020. Pg. 403
197
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extrapenais. Logo, se concedida após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, nada
impede que o título obtido pelo ofendido seja executado perante o juízo cível.
e) Graça e indulto: Especificamente em relação aos reflexos cíveis, prevalece o entendimento de que
repercutem apenas em relação ao cumprimento da pena, subsistindo todos os efeitos penais
secundários e extrapenais, como a obrigação de reparar
5700 o dano. Logo, nada impede a execução da
sentença condenatória irrecorrível no âmbito cível.
f) Perdão judicial: Embora haja certa controvérsia quanto à natureza jurídica da decisão concessiva do
perdão judicial, prevalece que se trata de uma decisão declaratória que NÃO produz qualquer efeito,
penal ou extrapenal. Veja a súmula nº 18 do STJ:
O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no âmbito do próprio
processo penal, a pagar danos morais coletivos. O ordenamento jurídico tutela, no
âmbito da responsabilidade, o dano moral não apenas na esfera individual como
também na coletiva, conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição
Federal e no art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII do
art. 1º da Lei n.º 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981)
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5700
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META 4
TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 3º do ADCT
⦁ Arts. 1º a 4º da CF/88 → saber na ponta da língua. Despenca em prova;
5700
⦁ Art. 34, CF/88
⦁ Art. 60, CF/88 → saber na ponta da língua. Despenca em prova;
⦁ Arts. 136 e 137, CF/88
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
Conforme Bernardo Gonçalves, “estabelecer o5700conceito de Constituição é, sem dúvida, uma tarefa
árdua, pois, conforme iremos observar, o termo é multifacetado, não havendo uma linearidade e
univocidade em torno de sua base semântica.”
Existem várias concepções ou acepções a serem tomadas para definir o termo “Constituição”. Alguns
autores preferem a ideia da expressão tipologia dos conceitos de Constituição em várias acepções. Embora
existam várias acepções, basicamente os doutrinadores conceituam Constituição como:
DICA: para não esquecer o conceito, lembrem-se dos objetivos das constituições,
começando pela limitação de poderes e estruturação do Estado.
200
NÚCLEO DURO
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garantia; organização do poder político segundo esquemas tendentes a torná-lo um poder limitado e
moderado" (Gomes Canotilho, ob. cit., p. 52 e texto de José Miguel Garcia Medina).
J. J. Canotilho formulou o chamado conceito ideal de constituição. Este conceito ideal identifica-se
fundamentalmente com os postulados político liberais, considerando-se como elementos materiais
caracterizadores e distintivos os seguintes:
A-O conceito moderno de Constituição pressupõe uma norma jurídico-política que prevê direitos
fundamentais e que organiza os poderes políticos.
5700
Não há conceito único que defina o que é a Constituição. Por isso, cada doutrinador toma por base
um sentido com o fim de definir o termo “Constituição”.
a) Concepção SocioLógica (Ferdinand Lassale, em seu livro ¿Qué es una Constitución?): uma Constituição
só seria legítima se representasse o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder,
do contrário seria uma simples “folha de papel”. Portanto, a Constituição, segundo Lassale, seria a somatória
dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade.
b) Concepção PolíTica (Carl SchimiTt): A Constituição seria a decisão política fundamental, emanada do
titular do poder constituinte, enquanto a lei constitucional representaria os demais dispositivos que estão
inseridos no texto constitucional e que não contém matéria de decisão política fundamental. Faz a distinção
entre Constituição (decisão política fundamental) e lei constitucional (lei formalmente constitucional).
Conforme Pedro Lenza, “pode-se afirmar, portanto, em complemento, que, na visão de Carl Schmitt, em
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NÚCLEO DURO
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razão de ser a Constituição produto de certa decisão política, ela seria, nesse sentido, a decisão política do
titular do poder constituinte.”
c) Concepção Jurídica (Hans Kelsen): A Constituição é norma pura, dever-ser, dissociada de qualquer
fundamento sociológico, político ou filosófico (Constituição no mundo do dever-ser, e não no mundo do ser,
caracterizando-a como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais). Kelsen dá dois sentidos
à palavra Constituição:
● SENTIDO LÓGICO-JURÍDICO – a Constituição é a NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL, responsável
por dar sustentação ao sistema posto, e é o fundamento de validade de todas as outras leis.
● SENTIDO JURÍDICO-POSITIVO - é a Constituição positiva, conjunto de normas que regulam a criação
de outras normas, da qual todas as outras normas infraconstitucionais extraem seu fundamento de
validade. Logo, a Constituição é a lei máxima do direito positivo e encontra-se no topo da pirâmide
normativa.
Esquematizando:
PLANO LÓGICO-JURÍDICO:
■ norma fundamental hipotética
■ plano do suposto
■ fundamento lógico transcendental
5700 da validade da Constituição jurídico-positiva
PLANO JURÍDICO-POSITIVO
■ norma posta, positivada
■ norma positivada suprema
d) Concepção Culturalista (Meirelles Teixeira e José Afonso da Silva): A Constituição é produto de um FATO
CULTURAL, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir.
e) Constituição aberta: Para que possa permanecer dentro de seu tempo e, assim, evitar o risco de
desmoronamento de sua “força normativa”.
5700
a) Constituição-lei: A Constituição “não está acima do poder legislativo, mas à disposição dele”. Nesse
sentido, a Constituição é, na verdade, uma lei como qualquer outra.
b) Constituição-fundamento (Constituição-total): Constituição é a lei fundamental, não somente de toda a
atividade estatal e das atividades relacionadas ao Estado, mas também a lei fundamental de toda a vida
social. Nesse sentido, Virgílio Afonso da Silva identifica uma inegável aproximação entre a Constituição
202
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a) Constituição Jusnaturalista: Constituição concebida à luz dos princípios do direito natural, principalmente
no que concerne aos direitos humanos fundamentais.
b) Constituição Positivista: Constituição é o conjunto de normas emanadas do poder do Estado. Para os seus
defensores, basta recorrer ao Direito Constitucional posto pela ação do homem para sabermos o conceito
de constituição. Assim, para a compreensão da constituição, não seriam necessários critérios
metanormativos (fatores sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos.
c) Constituição Marxista: Constituição é o produto da supra estrutura ideológica, condicionada pela
infraestrutura econômica. É o caso da constituição-balanço,
5700 que, conforme a doutrina soviética, prescreve e
registra a organização política estabelecida, ou seja, os estágios das relações de poder. A cada passo da
evolução socialista, existiria uma nova constituição para auscultar as necessidades sociais.
OBS.: Constituição-balanço é o inverso da constituição-garantia ou constituição-quadro. Esta última é aquela
que almeja garantir a liberdade limitando o poder.
d) Constituição Institucionalista: Constituição é a expressão das ideias fortes e duradouras, dos fins políticos,
com vistas a cumprir programas de ordem social.
e) Constituição Estruturalista: Constituição é o resultado das estruturas sociais, servindo para equilibrar as
relações políticas e o processo de transformação da sociedade. Assim, a constituição não seria apenas certo
5700
número de preceitos cristalizados em artigos e parágrafos, e sim uma unidade estrutural, um conjunto
orgânico e sistemático de caráter normativo sob inspiração de um pensamento diretor.
f) Constituição Biomédica/biológica (bioconstituição): É a constituição que consagra normas assecuratórias
da identidade genética do ser humano, visando reger o processo de criação, desenvolvimento e utilização de
novas tecnologias científicas. Visa assegurar a dignidade humana, salvaguardando biodireitos e biobens.
OBS.: A quarta revisão constitucional da Carta portuguesa de 1976, realizada em 1997, consagrou o sentido
biomédico de constituição.
Sobre esse tema, confira a dica da Professora Thaianne:
https://youtu.be/03f0hXZ3R_U
203
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g) Constituição Compromissória: É a constituição que reflete a pluralidade das forças políticas e sociais.
Típica da sociedade plural e complexa em que vivemos, ela é fruto de conflitos profundos. O procedimento
constituinte de elaboração das constituições compromissórias é tumultuado pelas correntes convergentes e
divergentes de pensamento, mas que ao fim encontram o consenso (compromisso constitucional).
OBS.: A Constituição brasileira de 1988 e a portuguesa de 1976 são constituições compromissórias.
h) Constituição Suave: É aquela que não contém exageros. Ao exprimir o pluralismo social, político e
econômico da sociedade, não consagra preceitos impossíveis de realização prática. A constituição suave não
faz promessas baseadas na demagogia política.
5700
Obs.: A Carta dos Estados Unidos de 1787 é exemplo de constituição suave.
i) Constituição em Branco: É a constituição que não consagra limitações explícitas ao poder de reforma
constitucional. O processo de sua mudança subordina-se à discricionariedade dos órgãos revisores, que, por
si próprios, ficam encarregados de estabelecer as regras para a propositura de emendas ou revisões
constitucionais.
j) Constituição Plástica (Raul Machado Horta): É aquela que apresenta uma mobilidade, projetando a sua
forçam normativa na realidade social, política, econômica e cultural do Estado. Qualifica-se de plástica
porquanto revela uma maleabilidade. Maleabilidade porque permite a adequação de suas normas às
situações concretas do cotidiano. Tanto as cartas rígidas como as flexíveis podem ser plásticas. O que
caracteriza a plasticidade é a adaptação das normas constitucionais às oscilações da opinião pública.
Normalmente, as constituições plásticas consagram preceitos de eficácia limitada, porque deixam a cargo do
legislador ordinário a complexa tarefa de preenchimento das normas constitucionais.
As constituições plásticas pretendem fazer coincidir o “dever ser” de seus preceitos com a realidade social.
Nesse particular, interligam-se ao fenômeno da mutação constitucional.
Obs.: A Constituição brasileira de 1988 é rígida e plástica. Já a Carta da Inglaterra é flexível e plástica.
5700
k) Constituição Empresarial: É o conjunto de normas cujo conteúdo estabelece a organização jurídica de uma
dada comunidade, num período histórico determinado. É uma espécie de constituição programática. Quando
os franceses, holandeses e portugueses estiveram no Brasil-colônia, chegaram a vigorar constituições
empresariais, elaboradas por empresas exploradoras da atividade comercial da época.
204
NÚCLEO DURO
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l) Constituição Oral: É aquela em que o chefe supremo de um povo proclama, de viva voz, o conjunto de
normas que deverão reger a vida em sociedade. Exemplifica-a a Carta da Islândia do século IX, quando os
vikings instituíram, solene e oralmente, o primeiro parlamento livre da Europa.
m) Constituição Instrumental: É aquela em que suas normas equivalem a leis processuais. Seu objetivo é
definir competências, para limitar a ação dos Poderes Públicos.
Obs.: Grande parte dos constitucionalistas contemporâneos não aceitam essa ideia de constituição.
n) Constituição como Estatuto do Poder: Constituição que equivale a um mecanismo para legitimar o poder
soberano, segundo certa ideia de direito, prevalecente no seio da sociedade. O texto constitucional,
enquanto estatuto do poder, seria o pressuposto lógico do próprio Estado de Direito, servindo para balizar a
conduta de governantes, verdadeiros prepostos da sociedade política, e a conduta dos governados, os quais
devem se submeter ao poder de direito, juridicizado e racionalizado por meio de normas constitucionais.
a) Constituição Dirigente (J. J. Gomes Canotilho): Constituição que pretende dirigir a ação governamental
do Estado. Propõe que se adote um programa de conformação da sociedade, no sentido de estabelecer uma
direção política permanente. Significa que o texto constitucional seria uma lei material, para preordenar
programas a serem realizados, objetivos e princípios
5700 de transformação econômica e social. A ideia de
constituição dirigente diverge daquela visão tradicional de constituição, que a concebe como lei processual
ou instrumento de governo, definidora de competências e reguladora de processos.
No sentido dirigente, a constituição é o “estatuto jurídico do político”, o plano global normativo de todo o
Estado e de toda a sociedade, que estabelece programas, definindo fins de ação futura.
OBS.: A constituição brasileira de 1988 e a portuguesa de 1976 são exemplos de constituições dirigentes.
b) Constituição como instrumento de realização da atividade estatal: O texto maior é uma ordenação global
do Estado e da sociedade, ao mesmo tempo que é um projeto de determinação de sua identidade. As
5700
constituições são ordens fundamentais que contêm, no âmbito da historicidade que as subjaz, programas de
ação que as identificam com ordenamentos político-sociais tendentes a um processo de realização concreto.
Esse pensamento nutre forte semelhança com a tese da constituição dirigente, pois propõe o
estabelecimento de metas para dirigir a atividade estatal.
c) Constituições subconstitucionais (subconstituições): Conjunto de normas que, mesmo elevadas
formalmente ao patamar constitucional, não o são materialmente, pois que limitadas nos seus objetivos.
Demonstram preocupações momentâneas, interesses esporádicos, próprios do tempo em que foram
elaboradas. Em geral, as subconstituições não servem para o futuro, pois já nascem divorciadas do sentido
de estabilidade e perpetuidade que deve encampar o ato de feitura dos documentos supremos que
pretendem ser duradouros. Revelam uma espécie de constituição de necessidade, algo contrário àqueles
documentos normativos que consagram um poder geral em branco, responsável pela adaptação dos
205
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problemas concretos ao “dever ser” das prescrições supremas do Estado, sem a necessidade de se
explicitarem as autorizações constitucionais.
As subconstituições decorrem da praxe de incluir uma gama infindável de matérias nas constituições
(totalitarismo constitucional), a ponto de se falar em constituição econômica, constituição social etc.
d) Constituição como documento regulador do sistema político (Niklas Luhmann): A Carta Magna é um
instrumento funcional que serve para reduzir a complexidade do sistema político. Nesse contexto, propicia
5700
a reflexão da funcionalidade do Direito, abandonando o exame isolado da relação de hierarquia das normas
constitucionais. Conforme Luhmann, urge banir a mera visão negativa da análise dos problemas
constitucionais. Não basta perquirir o vínculo de conformidade ou desconformidade das leis e atos
normativos com a constituição. É imperioso que se busque a lógica do sistema político. As constituições não
servem, somente, para emitir juízos de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade. Constituem algo
maior, visto que estão inseridas no campo da contingência de auto fixação do sistema político.
e) Constituição como processo público (Peter Haberle): Compreende o texto constitucional como
documento de uma sociedade pluralista e aberta, como obra de vários partícipes, como uma ordem jurídica
fundamental do Estado e da sociedade. Para essa corrente, as constituições não são atos voluntarísticos do
poder constituinte, porque dizem respeito à evolução social da comunidade. Assim, o texto constitucional é
o reflexo de um processo interpretativo aberto e conduzido à luz da força normativa da publicidade.
f) Constituição como meio de resolução de conflitos:
5700É uma constituição processual. Essa constituição não
é um meio de resolver problemas, e sim um simples instrumento pelo qual podemos eliminar conflitos. Isso
porque as constituições consagram processos de decisão que não podem ser impostos, pois servem de
parâmetro de resolução de casos concretos perante circunstâncias particulares, a fim de possibilitar soluções
ótimas.
g) Constituição como garantia do status econômico e social: É um sistema de artifícios técnico-jurídicos,
com vistas à racionalização e garantia do status quo, consistindo num mecanismo formal de garantia,
despojado de qualquer conteúdo social, material ou econômico. Objetiva, apenas, manter o coeficiente de
juridicidade e de estadualidade do ordenamento jurídico.
h) Constituição.com (crowdsourcing): É aquela cujo projeto conta com a opinião maciça dos usuários da
internet, que, por meio de sites de relacionamento, externam seus pensamentos a respeito dos temas a
serem constitucionalizados.
Obs.: Foi a Islândia que, pioneiramente, fez no ano de 2011 uma “constituição.com”.
O doutrinador Marcelo Neves entende que a ideia de legislação ou de constituição simbólicas advém da
hipertrofia da função simbólica da atividade legiferante e do seu produto, a lei, em detrimento da função
jurídico-instrumental, ou seja, é valorizar mais uma construção legislativa sem efetividade do que dar
possibilidade de a legislação se tornar efetiva.
206
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5700
O simbolismo se verifica por três mecanismos:
● A Constituição serve tão-somente para confirmar valores sociais: legislador assume uma posição
em relação a determinado conflito social. Se posiciona de um lado, dando uma vitória legislativa
para um determinado grupo social, em detrimento da eficácia normativa da lei;
● A Constituição apenas demonstra a capacidade de ação do Estado (legislação álibi): busca-se
aparente solução para problemas da sociedade, ainda que mascare a realidade. Só cria a imagem
de um Estado que responde rapidamente aos anseios sociais. Introduz um sentimento de bem-estar
na sociedade.
● Adiamento da solução de conflitos sociais através de compromissos dilatórios: transfere a solução
de conflitos para um futuro indeterminado.
Obs. No Brasil, as Constituições outorgadas foram as de 1824 (Império), 1937 (inspirada em modelo
fascista, extremamente autoritária — Getúlio Vargas), 1967 (ditadura militar), sendo que alguns
chegam inclusive a mencionar como exemplo de outorga a EC n. 1/69 (apesar de tecnicamente
impreciso).
● Promulgada, democrática, votada ou popular: nascem de debates políticos;
● Cesarista ou plebiscitárias (ou bonapartistas) : as constituições outorgadas submetidas a plebiscito
ou referendo na tentativa de aparentarem legitimidade são denominadas de constituições cesaristas
(NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, 2009, 3ª ed. p. 108). Em
outras palavras, cesarista é a constituição em que a participação popular se restringe a ratificar a
vontade do detentor do poder. Veja que a participação popular, nesses casos, não é democrática,
pois visa apenas ratificar a vontade do detentor do poder.
● Pactuada (ou dualistas): é a Constituição elaborada em decorrência de pacto realizado entre os
vários titulares do Poder Constituinte que, em conjunto, elaboram a Constituição.
Conforme Pedro Lenza, qual a diferença entre “Constituição” e “Carta”? De modo geral,
Constituição é o nomen juris que se dá à Lei Fundamental promulgada, democrática ou popular, que teve a
sua origem em uma Assembleia Nacional Constituinte. Já Carta é o nome reservado para aquela Constituição
outorgada, imposta de maneira unilateral pelo agente revolucionário mediante ato arbitrário e ilegítimo.
b) Quanto à forma:
● Escritas ou instrumental: é a Constituição sistematizada por procedimento formal;
207
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c) Quanto à mutabilidade/alterabilidade/estabilidade/consistência:
● Rígidas: o processo de alteração da Constituição é mais difícil e solene do que o processo de
formação das leis;
● Flexíveis ou Plásticas: a Constituição é alterada pelo mesmo processo utilizado para as leis ou até
mais simples; 5700
d) Quanto ao conteúdo:
● Formais: constituição é tudo aquilo que está inserido no texto elaborado pelo Poder Constituinte,
por meio de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene do que o processo
208
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de formação das demais leis que compõem o ordenamento jurídico. Dessa forma, como não importa
o conteúdo da norma, será constitucional tudo que constar do texto da Constituição, mesmo que
não se trate de assunto relevante para o Estado e a sociedade;
Conforme Lenza, “Formal, por seu turno, será aquela Constituição que elege como critério o processo
de sua formação, e não o conteúdo de suas normas. Assim, qualquer regra nela contida terá o caráter de
5700
constitucional. A brasileira de 1988 é formal!”
● Materiais: leva em consideração o conteúdo da norma para defini-la como constitucional, que será
toda aquela que define e trata das regras estruturais da sociedade e de seus alicerces fundamentais.
Assim, podem existir normas constitucionais em textos esparsos, fora da Constituição. Ou seja, o
núcleo ideológico constitutivo do Estado e da Sociedade.
De acordo com Lenza,
Materialmente constitucional será aquele texto que contiver as normas
fundamentais e estruturais do Estado, a organização de seus órgãos, os direitos e
garantias fundamentais. Como exemplo podemos citar a Constituição do Império
do Brasil, de 1824, que, em seu art. 178, prescrevia ser constitucional somente o
que dissesse respeito aos limites e atribuições respectivos dos poderes políticos e
aos direitos políticos e individuais
5700 dos cidadãos; tudo o que não fosse constitucional
poderia ser alterado, sem as formalidades referidas (nos arts. 173 a 177), pelas
legislaturas ordinárias.
Toda constituição escrita é formal? NÃO, porque a constituição formal vai muito além de ser escrita,
exigindo supralegalidade/supremacia e procedimentos especiais para modificação. Logo, é possível uma
constituição escrita (textos constitucionais) que não seja formal (não goza de processo legislativo especial
para sua alteração).
f) Quanto à ideologia:
● Ortodoxas: elaboradas em uma única linha ideológica;
● Ecléticas: elaboradas com várias linhas ideológicas, a exemplo da CF/88.
Nas palavras de Canotilho, “numa sociedade plural e complexa, a Constituição é sempre um produto
do ‘pacto’ entre forças políticas e sociais. Através de ‘barganha’ e de ‘argumentação’, de ‘convergência’ e
‘diferenças’, de cooperação na deliberação mesmo em caso de desacordos persistentes, foi possível
chegar, no procedimento constituinte, a um compromisso constitucional ou, se preferirmos, a vários
‘compromissos constitucionais’.
209
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g) Quanto à eficácia (Karl Lowenstein) – Classificação ontológica/essência, pois analisa o MODO DE SER das
Constituições, conforme adequação à realidade social e política (o critério utilizado é a forma de
correspondência recíproca entre a norma da constituição e o poder político do Estado -processo de poder).
● Normativas (máxima eficácia, regulando todos os aspectos da vida social): são aquelas em que o
poder estatal está de tal forma disciplinado que as relações políticas e os agentes do poder
subordinam-se às determinações do seu conteúdo e do seu controle procedimental. Se5700
adequa à
realidade, eis que pretende e consegue guiar o processo político. O texto se alinha com a realidade
política;
● Nominalistas: visa limitar a atuação dos detentores do poder econômico, político e social, mas essa
limitação NÃO se efetiva. Não corresponde à realidade, já que, apesar de pretender regular o
processo político, NÃO consegue fazê-lo. Não conseguem ser implementadas pois em descompasso
com a realidade política;
● Semânticas (existe só no papel, não sendo adequada à realidade social): a Constituição serve de
manutenção do poder pela classe dominante, mas NÃO objetiva alterar coisa alguma. Não tem por
fim regular a vida política do Estado, busca somente formalizar e manter o poder político vigente.
Caiu na prova Delegado SP/2022! A Constituição normativa é a que logra ser fielmente cumprida por todos
os interessados, limitando, efetivamente o poder, enquanto a semântica é a formalização do poder de quem
o detém no momento.
210
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Caiu na prova Delegado BA/2022! Acerca da classificação das Constituições quanto à correspondência com
a realidade, Karl Loewenstein distinguiu as Constituições normativas, nominalistas e semânticas. Sobre o
assunto, assinale a alternativa que apresenta a definição de Constituições Semânticas.
c) Constituições que são simples reflexo da realidade política, servindo como mero instrumento dos donos
do poder e das elites políticas, sem limitação do seu conteúdo.
h) Quanto à extensão:
● Constituição Sintética (concisas, breves, sumárias, sucintas, básicas): é Constituição reduzida,
sucinta, a exemplo da norte-americana; 5700
Em suma: A Constituição garantia busca garantir a liberdade, limitando o poder; a balanço reflete
um degrau de evolução socialista e a dirigente estabelece um projeto de Estado (ex.: portuguesa).
CLASSIFICAÇÃO DA CF
Origem Promulgada (Popular)
Forma Escrita
Extensão Analítica (Prolixa)
Conteúdo Formal
Modo de elaboração Dogmática (Codificada)
211
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BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE
De acordo com o professor Lenza, a brasileira de 1988, em um primeiro momento, como aponta Pinto
Ferreira, seria reduzida, codificada ou unitária. Contudo, especialmente diante da ideia de “bloco de
constitucionalidade”, parece caminharmos (de maneira muito tímida, ainda) para um critério que se
aproxima de Constituição esparsa (legal ou escrita não formal — escrita e que se apresenta fragmentada em
vários textos), especialmente diante da regra contida no art. 5.º, § 3.º, que admite a constitucionalização dos
tratados ou convenções internacionais de direitos humanos que forem incorporados com o quorum e
procedimento das emendas constitucionais.
Ainda, existem vários artigos de emendas constitucionais que não foram introduzidos no “corpo” da
Constituição e, permanecendo como artigo autônomo das emendas, sem dúvida, têm natureza
constitucional e, portanto, eventual lei que contrarie artigo de emenda constitucional poderá ser declarada
inconstitucional, servindo a emenda como paradigma5700
de confronto. Outro exemplo interessante é a EC n.
91/2016, que, sem introduzir qualquer artigo, seja no corpo ou mesmo no ADCT, alterou regra sobre perda
do mandato eletivo por infidelidade partidária, estabelecendo a possibilidade, excepcional e em período
determinado, de desfiliação, sem prejuízo do mandato.
5700
Cabe alertar, contudo, que apesar dessa percepção, de modo geral, as provas de concursos vêm definindo a
brasileira de 1988 como reduzida.
Resposta: C
212
NÚCLEO DURO
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j) Outras terminologias:
Constituição moldura: para Marcelo Novelino tal concepção é “utilizada metaforicamente para
designar a constituição que serve apenas como limite à atuação legislativa. A lei fundamental atua como
uma espécie de moldura dentro da qual o legislador pode atuar, preenchendo-a conforme a oportunidade
política. À jurisdição constitucional caberia apenas controlar ‘se’ (não ‘como’) o legislador atuou dentro da
moldura estabelecida”.
As Constituições fixas foram exemplos de constituições em branco. Constituições fixas são aquelas
que não estabelecem, expressamente, o procedimento para
5700
sua reforma. Logo, somente podem ser
alteradas por um poder de competência igual àquele que as criou, isto é, poder constituinte originário. Ex.:
Estatuto do Reino da Sardenha de 1848.
Conforme observa Canotilho, entre as novas avançadas sugestões da moderna teoria da Constituição
está a denominada por Zagrebelsky Constituição dúctil ou maleável, suave (Costituzione mite), “para
exprimir a necessidade de a Constituição acompanhar a perda do centro ordenador do estado e refletir o
pluralismo social, político e econômico. Neste sentido, a uma Constituição caberá a tarefa básica de assegurar
apenas as condições possibilitadoras de uma vida em comum, mas já não lhe pertence realizar diretamente
um projeto predeterminado dessa vida comunitária. As Constituições concebem-se, pois, como plataformas
de partida para a realização de políticas constitucionais diferenciadas que utilizem em termos inventivos os
‘vários materiais de construção’ semeados nos textos constitucionais”.
5700 (LENZA, Pedro)
3. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
Conforme classificação elaborada por José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser
diferenciadas em elementos, considerando-se estrutura normativa e conteúdo:
● Elementos orgânicos: regulamentam a estrutura do Estado e do Poder;
● Elementos limitativos: limitam a atuação do poder estatal, a exemplo dos direitos e garantias
fundamentais;
● Elementos socioideológicos: identificam a ideologia adotada pelo constituinte;
● Elementos de estabilização constitucional: asseguram a vigência das normas constitucionais em
situação de conflito, garantem a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas;
● Elementos formais de aplicabilidade: estabelecem regras de aplicação da Constituição. Ex:
Preâmbulo, ADCT.
213
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4.1. Constitucionalismo
FASES:
a) CONSTITUCIONALISMO ANTIGO: é o da Antiguidade Clássica, com a ideia de garantir direitos para limitar
o poder, evitar o arbítrio.
● Hebreus: estabelecimento no estado teocrático de limitações ao poder político através da
legitimidade dos profetas para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites
bíblicos.
● Idade Média: Carta Magna de 1215 – estabelece a proteção a direitos individuais.
do Estado.
● Separação de Poderes.
● CF rígida e supremacia da CF.
● O Poder Judiciário é o principal encarregado de garantir a supremacia da CF Surgem as primeiras
Constituições escritas.
215
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c) CONSTITUCIONALISMO MODERNO (SOCIAL): após o fim da 1ª Guerra Mundial até o início da segunda.
● Exigem atuação positiva do Estado (Estado Social, intervencionista, prestador de serviço público).
● Crise do liberalismo diante das demandas sociais
5700 que abalaram o século XIX. O abstencionismo
estatal não garantia a igualdade essencial para a existência de igualdade de competições.
● Consagração dos direitos fundamentais de 2ª dimensão: gravitam em torno do valor IGUALDADE,
mas não meramente formal e sim a IGUALDADE MATERIAL (direitos sociais, econômicos e culturais).
Possuem um caráter positivo: exigem uma prestação do Estado. Surgem garantias institucionais.
● Adoção do Estado Social: o Estado transforma-se em prestador de serviços, intervindo no âmbito
social, econômico e laboral. 5700
216
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4.2 Neoconstitucionalismo
A doutrina passa a desenvolver, a partir do pós-2ª Guerra Mundial, uma nova perspectiva em relação
ao constitucionalismo, denominada neoconstitucionalismo, ou, segundo alguns, constitucionalismo pós-
moderno, ou, ainda, pós-positivismo. Busca-se, dentro dessa nova realidade, não mais apenas atrelar o
constitucionalismo à ideia de limitação do poder político, mas, buscar a eficácia da Constituição.
“O neoconstitucionalismo tem como uma de suas marcas a concretização
das prestações materiais
5700
prometidas pela sociedade, servindo como ferramenta
para a implantação de um Estado Democrático Social de Direito. Ele pode ser
considerado como um movimento caudatário do pós-modernismo. Dentre suas
principais características podem ser mencionadas: a) positivação e concretização
de um catálogo de direitos fundamentais; b) onipresença dos princípios e das
regras; c) inovações hermenêuticas; d) densificação da força normativa do
Estado; e) desenvolvimento da justiça distributiva". (Lenza, Pedro. Direito
constitucional esquematizado. 23. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019).
5700
CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO:
● BUSCA EFICÁCIA DA CF E CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS;
● PÓS-POSITIVISMO: o positivismo tinha permitido barbáries com base na lei. Veio, então, o pós-
positivismo (o direito deve ter um conteúdo moral, vai além da legalidade estrita. Não basta apenas
respeitar a lei, tem que observar os princípios da moralidade e da finalidade pública);
● NORMATIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO: a Constituição Federal era documento político. Com o
neoconstitucionalismo, passa a ser documento JURÍDICO, com força vinculante;
● FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: as normas constitucionais têm aplicabilidade direta (conforme
sua densidade jurídica), os direitos irradiam da CF;
● CENTRALIDADE DA CONSTITUIÇÃO: a CF é o epicentro do ordenamento jurídico. Tem supremacia formal
e material. Consequências:
217
NÚCLEO DURO
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● REMATERIALIZAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES: surgem Constituições prolixas, com extenso rol de direitos
fundamentais;
● MAIOR ABERTURA NA INTERPRETAÇÃO: os princípios deixam de ser meras diretrizes e passam a ser
espécies de norma;
● FORTALECIMENTO DO JUDICIÁRIO: o Judiciário irá garantir a supremacia da Constituição Federal. É o
ativismo judicial, postura mais ativa do Judiciário na implementação dos direitos. O Judiciário passa a
atuar como legislador positivo.
5700
1) Para a teoria procedimentalista (Jürgen Habermas):
A Constituição deve se limitar à regulação formal do processo democrático, sem estabelecer de
antemão quais as metas ou valores substantivos a serem perseguidos por aquela sociedade. Para esta
concepção, uma vez assegurado um procedimento democrático, caberá à própria sociedade compreender
seus problemas e encontrar soluções, por meio de processos comunicacionais. De fato, para a “teoria do agir
comunicativo” de Habermas, o direito deve ser construído a partir desta interação intersubjetiva entre os
cidadãos na esfera pública, de modo que a legitimidade das normas repousaria no “princípio do discurso”,
isto é, na possibilidade de que todos seus destinatários com elas consintam.
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O mencionado viés liberal guarda estreita relação com a filosofia jus positivista, que encontrou seu
auge nos pensamentos de Hans Kelsen e a sua obra “Teoria Pura do Direito”. Para ele, a ciência do Direito
deve ser pura, isto é, abdicar de reflexões metajurídicas, tais como as relativas à ética, à moral e à justiça,
de modo que o objeto de estudo deve se limitar às normas estatais. A análise da validade de uma norma não
passaria, portanto, pela aferição de sua justiça ou aderência social, mas pela constatação da legitimidade de
seu processo criador e da sua conformidade com as normas hierarquicamente superiores. Isto porque o
ordenamento seguiria um escalonamento na forma de uma pirâmide, no topo da qual estariam as normas
constitucionais e, acima delas, uma norma fundamental hipotética, pressuposta. Seria um sistema fechado
de normas, portanto, e com pretensão à completude. Nesta configuração reducionista do fenômeno jurídico,
o juiz deveria se limitar a realizar um procedimento formal de subsunção do fato à norma, colocando-se em
posição de neutralidade axiológica. Ou seja, exerceria o papel de “boca da lei”, conforme expressão de
Montesquieu.
A História cuidou de mostrar as falhas conceituais do juspositivismo. Fenômenos como o nazismo e
o apartheid, desenrolados sob o manto da estrita legalidade, evidenciaram que a pretensa neutralidade do
discurso jurídico e seu divórcio de reflexões éticas criaram ambiente fértil para a barbárie, a injustiça e a
intolerância.
O fracasso do juspositivismo, tal como concebido originalmente, suscitou reflexões sobre a
necessidade de trazer as discussões sobre ética, moral
5700 e justiça para o interior da ciência jurídica. A este
● Regras: são as normas com conteúdo menos abstrato, que já estabelecem, de antemão, soluções
pré-definidas para cada situação. Sua aplicação se dá, portanto, pelo juízo de “tudo ou nada”
(expressão de Ronald Dworkin): em um caso concreto, ou serão satisfeitas ou não serão. Por isso,
Robert Alexy as reputa “mandados de definição”. Sua aplicação se dá por subsunção.
● Princípios: são os vetores axiológicos que fundamentam o ordenamento jurídico, tendo, por isso,
caráter nomogenético. Têm certa abstração e alta carga axiológica, não precisando estar
positivados para terem força normativa, vinculativa. É por meio deles que a ética e a moral ingressam
no ordenamento. Alexy os reputa “mandados de otimização”, porque, em caso de conflito entre
eles, cada um deverá ser satisfeito no maior grau possível, pela técnica da
ponderação/sopesamento, fundada na proporcionalidade.
219
NÚCLEO DURO
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Superando a antiga visão do discurso jurídico como uma racionalidade neutra, objetiva, imparcial,
asséptica, visão esta que apenas se presta à conformação ao status quo e à manutenção das desigualdades,
cabe ao juiz promover uma interpretação prospectiva da norma, que olhe para o futuro, e dela extrair seu
potencial transformador. Uma interpretação, portanto, que concretize os valores consagrados pelo texto
constitucional, para que não sejam “promessas constitucionais inconsequentes” (feliz expressão do Ministro
do STF Celso de Mello), normas meramente programáticas, retóricas.
Faz-se necessário, portanto, desenvolver uma compreensão crítica do direito e da realidade,
desconstruindo a pretensa neutralidade do discurso jurídico, para reconstruí-lo como ferramenta de
emancipação.
Dessa forma, o Judiciário atenderá à sua missão constitucional de concretização de seus vetores
axiológicos e exercerá papel ativo na construção de uma sociedade tal qual prometida pelo Texto Maior:
fraterna, justa, igualitária. Enfim, uma sociedade que realize a finalidade por excelência de um Estado de
Direito: a dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, em que o Poder Judiciário passa a ser coparticipante do processo constitucional,
questiona-se acerca
5700
da legitimidade do chamado “ativismo judicial” na consecução de políticas públicas,
já que os membros do Poder Judiciário não são eleitos pela vontade da maioria.
Para ser legítimo, o ativismo judicial deve ser
5700 excepcional (observar a separação de poderes) e
condicionado (observar o dever de argumentação). A partir dos requisitos para legitimidade do ativismo
judicial, é possível que o advogado público erija tese em sentido contrário, defendendo que a atuação
judicial, na espécie, é ilegítima, por:
1) violar o postulado da Separação dos Poderes;
2) não se sustentar em norma constitucional ou legal;
3) ser casuística; ou
4) descambar em problema ainda maior do que o veiculado na lide.
Consignadas tais limitações, vê-se, portanto, que o ativismo judicial não pode descambar para o
arbítrio judicial, que, a pretexto de imprimir juridicidade às normas constitucionais, especialmente os
princípios, finda por relegar a um segundo plano a segurança jurídica e a democracia.
Segundo Daniel Sarmento, “no Brasil, uma crítica que tem sido feita à recepção do
neoconstitucionalismo – eu mesmo a fiz em vários textos, bem como outros autores, como Humberto Ávila
e Marcelo Neves – é a de que ele tem dado ensejo ao excessivo arbítrio judicial, através do que chamo de
“carnavalização dos princípios constitucionais” (guarde essas expressões).
Segundo o Doutrinador José Afonso da Silva, as normas Constitucionais podem possuir eficácia plena,
contida ou limitada:
220
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● Normas Constitucionais de eficácia Plena: são as que não necessitam de complementação para que
possam produzir efeitos, tais normas possuem aplicabilidade imediata e integral;
● Normas Constitucionais de eficácia contida (ou prospectiva): são as que também possuem
aplicabilidade imediata e integral, por não necessitarem de complementação, no entanto podem ter
sua abrangência reduzida por norma infraconstitucional. São autoaplicáveis, mas se inserem na
discricionariedade do legislador. Exemplos: os artigos: 5º, incisos XIII (sobre a regulamentação de
profissões) e VIII (escusa de consciência):
Art. 5º, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
Art. 5º, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
● Normas Constitucionais de eficácia Limitada: são as que necessitam de integração por norma
infraconstitucional para que possam produzir efeitos jurídicos.
São normas que têm aplicabilidade apenas indireta ou mediata, pois dependem de complementação
infraconstitucional para possuírem aplicabilidade direta.
5700
No entanto, mesmo sem sua regulamentação, tais normas produzem, mesmo que de forma mínima,
efeitos jurídicos, como o de vincular o legislador.
José Afonso da Silva entende que há dois tipos de normas limitadas:
∘ Normas de princípio institutivo ou organizativo: contém o início ou esquema de
determinado órgão, entidade ou instituição, deixando a efetiva criação e estruturação a
cargo de lei ordinária ou complementar. Exemplos: art. 18, §2º da CF e art. 25, §3º da CF.
221
NÚCLEO DURO
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Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação.
ATENÇÃO - CLASSIFICAÇÃO DE MARIA HELENA DINIZ: a autora incluiu mais uma espécie na classificação
acima apontada, afirmando a existência de normas constitucionais de eficácia absoluta ou super eficazes,
que são as cláusulas pétreas, ou seja, aquelas normas que não podem ser retiradas nem mesmo por emenda
constitucional.
Cláusulas pétreas são normas constitucionais
5700 com proteção adicional além das demais normas de
uma constituição rígida. Caracterizam-se por imutabilidade ou semi-imutabilidade. No caso brasileiro, as
cláusulas pétreas não são imutáveis, mas não podem ser objeto de emenda constitucional que tenda a aboli-
las, como dispõe o art. 60 da Constituição, ou seja, seu núcleo essencial precisa ser preservado. Para ser
classificada como rígida, uma constituição não precisa de cláusulas pétreas, pois basta que tenha processo
especial de reforma para ser considerada dessa espécie. As cláusulas pétreas são uma opção adicional que o
222
NÚCLEO DURO
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constituinte originário adota na proteção de certos tópicos constitucionais. BARCELLOS, Ana Paula de. Curso
de direito constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022. Livro eletrônico, p. 35 e s., item 1.3
[Constituição e classificações].
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Canotilho: leciona que a questão do “método justo” em direito constitucional é um dos problemas
mais controvertidos. Por isso, para ele, NÃO há apenas um método de interpretação constitucional,
podendo-se afirmar que, atualmente, a interpretação das normas constitucionais obtém-se a partir de um
conjunto de métodos distintos, porém complementares.
Parte da consideração de que a Constituição é uma lei, de modo que a interpretação da Constituição
não deixa de ser uma interpretação da lei. => TESE DA IDENTIDADE DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL E
INTERPRETAÇÃO LEGAL.
Com isso, para a interpretação da Constituição, deve o intérprete utilizar os elementos tradicionais
ou clássicos da hermenêutica, que remontam à Escola Histórica do Direito de Savigny:
● Elemento gramatical: também chamado de literal ou semântico, a análise se realiza de modo textual
e literal;
● Elemento histórico: análise o projeto de lei, a sua justificativa, exposição de motivos, pareceres,
discussões, as condições culturais e psicológicas que resultaram na elaboração da norma;
● Elemento sistemático ou lógico: busca a análise do todo;
● Elemento teleológico ou racional: busca a finalidade da norma;
● Elemento genético: busca investigar as origens dos conceitos utilizados pelo legislador;
224
NÚCLEO DURO
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A doutrina, de modo geral, NÃO repele a interpretação de tal método jurídico. No entanto, por outro
lado, a CF traz situações mais complexas cuja interpretação não se realiza com o emprego do método
tradicional. O método jurídico, portanto, é insuficiente e não satisfaz, por si só, a interpretação
constitucional.
Theodor Viehweg – “Tópica e Jurisprudência”. Para o autor, a tópica seria uma técnica de pensar o
problema, ou seja, uma técnica mental que se orienta para a solução do problema. O método segue as
seguintes premissas: 5700
● Preferência pela discussão do problema em razão da abertura das normas constitucionais que não
permitem qualquer subsunção a partir delas próprias.
Conclusão: A interpretação constitucional leva a um processo aberto de argumentação entre os
vários partícipes ou intérpretes para se adaptar a norma constitucional ao problema concreto para, só ao
final, se identificar a norma adequada.
Parte-se do problema para a norma. Para este método, deve a interpretação partir da discussão do
problema concreto que se pretende resolver para, só ao final, se identificar a norma adequada. Parte-se
do problema (caso concreto) para a norma, fazendo caminho inverso dos métodos tradicionais, que
buscam a solução do caso a partir da norma. Canotilho critica esse método, ao fundamento de que a
interpretação NÃO deve partir do problema para a norma, mas desta para os problemas.
#DICADD: Para não esquecer o nome do criador do método na hora da prova, relacionar as iniciais: Theodor
– Tópico.
225
NÚCLEO DURO
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#DICADD: É possível, igualmente, relacionar as iniciais para não esquecer: Hesse – Hermenêutico.
FGV/2019 (Adaptada) – João, professor de Direito Constitucional, explicou aos seus alunos que a norma
constitucional não apresenta
5700
uma relação de sobreposição com o texto da Constituição formal. Em verdade,
resulta de um processo intelectivo conduzido pelo intérprete, que, sensível às peculiaridades do caso
concreto e aos balizamentos do texto, promove a interação deste último com a realidade. Considerando os
métodos de interpretação constitucional, a explicação de João pode ser concebida como expressão do
método concretizador. Item correto.
226
NÚCLEO DURO
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Idealizado por Rudolf Smend, este método dispõe que a interpretação constitucional deve levar em
5700
consideração a compreensão da Constituição como uma ordem de valores e como elemento do processo de
integração. Assim, a interpretação deve aprofundar-se na pesquisa do conteúdo axiológico subjacente ao
texto, pois só o recurso à ordem de valores obriga a uma captação espiritual desse conteúdo axiológico
último da Constituição.
Parte da premissa de que existe uma relação necessária entre o texto e a realidade. Foi idealizado
por Friederich Müller, que afirma que o texto é apenas a ponta do iceberg, não compreendendo a norma
apenas o texto, mas também um pedaço da realidade social. É um método também concretista,
diferenciando-se dele, porém, na medida em que a norma a ser concretizada não está inteiramente no texto,
sendo o resultado entre este e a realidade.
As normas podem revelar-se sob a forma de princípios, regras ou postulados normativos. Normas e
princípios NÃO guardam hierarquia entre si, especialmente
5700 diante do princípio da unidade da Constituição.
Segundo Canotilho, os princípios são fundamento das regras, ou seja, são normas que estão na base
ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma função normogenética
fundamentante.
REGRAS PRINCÍPIOS
Grau de abstração reduzido. Grau de abstração elevado.
Suscetíveis de aplicação direta. Carecem de mediações concretizadoras.
Podem ser normas vinculativas com conteúdo São standards juridicamente vinculantes radicados
meramente funcional. nas exigências de justiça ou na ideia de direito.
Relatos descritivos de condutas a partir dos quais, A previsão dos relatos dá-se de maneira mais
mediante subsunção, chega-se à conclusão. abstrata, sem se determinar a conduta correta, já
que cada caso concreto deverá ser analisado para
que o intérprete dê o exato peso entre os princípios
em choque.
São mandamentos ou mandados de definição: são São mandados de otimização (Alexy): devem ser
sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas (tudo ou realizados na maior medida do possível. Podem ser
nada). satisfeitos em graus variados, a depender das
possibilidades jurídicas.
227
NÚCLEO DURO
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Uma das regras em conflito OU será afastada pelo A colisão resolve-se pela ponderação ou
princípio da especialidade, OU será declarada balanceamento de princípios.
inválida.
a) UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO: a Constituição é una e indivisível. Por isso, deve ser interpretada como um
todo, de modo a evitar conflitos, contradições e antagonismos entre suas normas. Em decorrência, não há
hierarquia entre normas constitucionais e não há normas constitucionais originárias inconstitucionais.
É usado no conflito ABSTRATO de normas constitucionais.
5700
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NÚCLEO DURO
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Em suma, o princípio da concordância prática objetiva, diante da hipótese de colisão entre direitos
fundamentais, impedir o sacrifício total de um em relação ao outro, estabelecendo limites à restrição imposta
ao direito fundamental subjugado, por meio, por exemplo, da proteção do núcleo essencial.
c) EFEITO INTEGRADOR: o intérprete deve preferir a interpretação que gera mais paz social, reforço da
unidade política, integração da sociedade. O princípio do efeito integrador, no bojo da hermenêutica
constitucional, diz respeito ao fato de que na resolução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se
primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade
política. Nesse sentido, extrai-se da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal exemplos notórios desses
tipos de integração.
Um dos exemplos de integração política é a definição pelo Pretório Excelso da competência comum dos
entes federativos para estabelecer ações de combate à pandemia da COVID-19 (2020). Noutro giro, cita-se,
com exemplo de integração social a deliberação a respeito do casamento homoafetivo e sua compatibilidade
com a Constituição Federal de 1988.
d) MÁXIMA EFETIVIDADE: deve preferir a interpretação que dê mais eficácia e aplicabilidade aos direitos
fundamentais.
5700
e) FORÇA NORMATIVA: na aplicação da Constituição, deve ser dada preferência às soluções concretizadoras
de suas normas que as tornem mais eficazes e permanentes. A principal função desse princípio tem sido para
afastar interpretações divergentes. Segundo o STF, quando se tem interpretações divergentes sobre a
Constituição, estas enfraquecem a sua força normativa.
OBS: o da Força Normativa serve para todas as normas constitucionais; já o da Máxima Efetividade,
serve especificamente para os direitos fundamentais.
5700
f) JUSTEZA OU CONFORMIDADE FUNCIONAL: tem por finalidade impedir que os órgãos encarregados da
interpretação constitucional cheguem a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-
funcional estabelecido pela Constituição. É um princípio de competência constitucional. Em outras palavras,
prescreve o referido princípio que, ao intérprete, é defeso modificar a repartição de funções fixadas pela
própria Constituição Federal. Assim, revelam-se incompatíveis, de acordo com essa diretriz interpretativa, as
propostas de mutação constitucional promovidas pelo Supremo Tribunal Federal, uma vez que, com esse
fenômeno, há verdadeira alteração da norma constitucional sem que haja qualquer modificação no seu texto
o que, de certa forma, acaba por usurpar a competência legislativa do Congresso Nacional.
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NÚCLEO DURO
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obtiver uma regra nova e distinta daquela objetivada pelo legislador e com ela
contraditória, em seu sentido literal ou objetivo. Deve-se, portanto, afastar
qualquer interpretação em contradição com os objetivos pretendidos pelo
5700
legislador.
A Lei nº 9.868/1999, que dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal,
dispõe expressamente sobre a interpretação conforme. Veja:
Art. 28, parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a
declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia
contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à
Administração Pública federal, estadual e municipal.
Alguns exemplos da interpretação conforme:
✔ Interpretação conforme e determinação aos cidadãos que se submetam, compulsoriamente, à
vacinação contra a Covid-19. O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação
conforme à Constituição ao art. 3º, III, “d”, da Lei nº 13.979/2020 - ADI 6586.
✔ Interpretação conforme e a competência comum dos entes federativos para estabelecer ações de
combate à pandemia da COVID-19 - ADI 6341.5700
✔ Interpretação conforme e a inconstitucionalidade de norma de Constituição estadual que amplia o
rol de autoridades sujeitas à fiscalização pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de
responsabilidade - ADI 6640/PE e ADI 6645/AM.
✔ Interpretação conforme e as regras do Estatuto da Advocacia que tratam sobre a relação de
emprego, salário, jornada de trabalho e honorários que se aplicam aos advogados de empresas
estatais que atuam no mercado em regime concorrencial - ADI 3396/DF.
✔ Interpretação conforme e a deliberação a respeito do casamento homoafetivo e sua compatibilidade
com a Constituição Federal de 1988 - ADI 4277.
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Em recente julgamento nos autos da ADPF n 132, o Supremo Tribunal Federal, diante da possibilidade de
duas ou mais interpretações razoáveis sobre o art. 1.723 do Código Civil, que trata sobre a união estável
entre homem e mulher, reconheceu a união homoafetiva como família. Nesse caso, é correto afirmar que a
técnica de interpretação utilizada foi:
c) interpretação conforme.
Fundamentação: Como visto, a interpretação conforme a Constituição é aplicável diante de normas que
possuam mais de um significado, como no caso do termo “família”. Nesse contexto, o STF adotou a
interpretação que mais se aproximava da Constituição, ou seja, aquela que reconhece a união homoafetiva
como família.
O movimento doutrinário chamado de moderna hermenêutica constitucional diz que toda a tarefa
de interpretação da CF deve estar voltada para um único objetivo: concretizar os direitos fundamentais.
Dentre essas modernas técnicas, estão previstas:
5700
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c) Interpretação conforme a Constituição: o Órgão Jurisdicional declara qual das possíveis interpretações se
mostra compatível com a Lei Maior. É princípio que se situa no âmbito do controle de constitucionalidade, e
não simples regra de interpretação.
5700
No caso de normas plurissignificativas (vários significados), deve-se preferir aquela que mais se
aproxime da Constituição. Aqui, não há declaração de inconstitucionalidade. Pelo contrário, busca-se
preservar a constitucionalidade da norma de modo a evitar que ela seja expurgada do Ordenamento
Jurídico. Nas palavras do professor Marcelo Novelino: “na interpretação conforme, exclui-se uma
interpretação do dispositivo que seja possível, mas que, se empregada, violaria a Constituição. Seria, no
caso, um tipo de situação constitucional imperfeita (ADI 2415)”.
São, portanto, consequências da interpretação conforme:
● O dispositivo permanece válido no sistema normativo;
● Não há declaração de nulidade da norma (pois, se houvesse, deveria ser declarada
inconstitucional);
● A interpretação escolhida obriga todos a segui-la (pois, afasta todas as demais incompatíveis);
● Faz surgir uma situação constitucional IMPERFEITA.
A decisão do Supremo Tribunal Federal, prolatada na ADPF no 54, que autoriza a realização voluntária do
aborto de feto anencefálico teve como um dos seus expressos fundamentos:
233
NÚCLEO DURO
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https://youtu.be/BCy1LXAFJsc
7. PODER CONSTITUINTE
5700
Segundo Canotilho, o Poder Constituinte se revela como uma questão de “poder”, “força” ou
“autoridade” política que, em uma situação concreta, pode criar, garantir ou eliminar uma Constituição
entendida como lei fundamental da comunidade política. A doutrina aponta a existência de três poderes
constituintes: originário, derivado e difuso.
O Poder Constituinte Originário instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a
ordem jurídica precedente e possui como características:
● Inicial: inaugura toda a normatividade jurídica;
● Autônomo: não convive com nenhum outro poder que tenha a mesma hierarquia;
234
NÚCLEO DURO
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conduta espirituais, culturais, éticos e sociais radicados na consciência jurídica geral da comunidade e, nesta
medida, considerados como ‘vontade do povo’”. Fala, ainda, na necessidade de observância de princípios de
justiça (suprapositivos e supralegais) e, também, dos princípios de direito internacional (princípio da
independência, princípio da autodeterminação, princípio da observância de direitos humanos — neste último
caso de vinculação jurídica, chegando a doutrina a propor uma juridicização e evolução do poder
constituinte)
Caiu na prova Delegado SP/2022! Poder constituinte originário é o que cria uma Constituição. Assinale a
alternativa correta, considerando as características desse importante instituto jurídico.
5700
O princípio da segurança das relações jurídicas não permite a restauração da eficácia de lei que perdeu
vigência com o advento de uma nova Constituição, quando esta é revogada por uma terceira Constituição.
7.1 Espécies de Poder Constituinte Originário (também denominado inicial, inaugural, genuíno ou de 1.º
grau)
Caiu na prova Delegado AM/2022! Maria, destacada estudiosa da interpretação constitucional, defendeu
que a norma não apresenta uma relação de sobreposição com o texto. Em verdade, é o resultado do processo
235
NÚCLEO DURO
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C-as nuances do ambiente sociopolítico podem influir no delineamento de alterações não formais da ordem
constitucional.
HIATO CONSTITUCIONAL
5700 (Ivo Dantas)
O hiato constitucional, também chamado pelo autor de revolução, verifica-se quando há um choque (ou
“divórcio”) entre o conteúdo da Constituição política (uma das formas do direito legislado) e a realidade
social ou sociedade.
Conforme o autor Pedro Lenza, tomando por base essa ideia, qual seja, que o hiato constitucional caracteriza
verdadeira lacuna, intervalo, interrupção de continuidade, entendemos que vários fenômenos poderão ser
verificados, destacando-se:
■ convocação da Assembleia Nacional Constituinte e elaboração de nova Constituição;
■ mutação constitucional;
■ reforma constitucional;
■ hiato autoritário.
A partir da quebra do processo constitucional, vale dizer, diante da não correspondência entre o texto
posto e a realidade social, poderá surgir espaço para o denominado “momento constituinte” democrático
e, assim, diante da manifestação do poder constituinte originário, a elaboração de novo documento que
encontre legitimidade social.
236
NÚCLEO DURO
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Obs.: “O Poder Constituinte Material precede o Formal em dois aspectos: (I) logicamente, porque 'a ideia de
direito precede a regra de direito; o valor comanda a norma; a opção política fundamental, a forma que elege
para agir sobre os fatos; a legitimidade, a legalidade'; e (II) historicamente, pois o triunfo de certa ideia de
direito ou nascimento de certo regime ocorre antes de sua formalização” (NOVELINO, 2017, p. 72).
a) Positivistas (Carl Schmitt): o Poder Constituinte é anterior e se encontra acima de toda e qualquer norma
jurídica, devendo ser considerado um poder político (extrajurídico ou de fato) resultante da força social
responsável por sua criação. Em razão de sua natureza essencialmente revolucionária, o Poder constituinte
estaria liberado de valores referentes à sua legitimidade.
5700 Por ter o seu sentido na existência política, o
sujeito do Poder Constituinte poderia fixar livremente o modo e a forma da existência estatal a ser
consagrada na constituição, sem ter que se justificar em uma norma ética ou jurídica.
Características essenciais sob a óptica positivista: I- inicial, por não existir nenhum outro antes ou acima
dele; II- autônomo, por caber apenas ao seu titular a escolha do conteúdo a ser consagrado na constituição;
e III- incondicionado, por não estar submetido a nenhuma regra de forma ou de conteúdo.
b) Jusnaturalistas (Abade Sieyès): o Poder Constituinte é um poder jurídico (ou de direito). Os defensores
da existência de um direito eterno, universal e imutável, preexistente e superior ao direito positivado,
sustentam que o Poder Constituinte, apesar de não encontrar limites no direito positivo anterior, estaria
subordinado aos princípios do direito natural.
Características essenciais sob a óptica jusnaturalista: I- incondicionado juridicamente pelo direito positivo,
mas submetido aos princípios do direito natural; II- permanente, por não se exaurir com a conclusão de sua
obra; e III- inalienável, devido à impossibilidade de transferência, pela nação, desta titularidade.
A visão positivista de que o Poder Constituinte Originário tem plena liberdade para
definir o conteúdo a ser consagrado no texto constitucional é refutada com base
no argumento de que, fora do direito positivo interno, existem limitações materiais
a serem observadas. (NOVELINO, 2017, p. 74).
237
NÚCLEO DURO
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I- Limites Transcendentes: são aqueles que, advindos de imperativos do direito natural, de valores éticos ou
de uma consciência jurídica coletiva, impõem-se à vontade do Estado, demarcando sua esfera de
intervenção. Nesse sentido, parte da doutrina sustenta o dever de manutenção, imposto ao Poder
Constituinte Originário pelo princípio da proibição de retrocesso, dos direitos fundamentais objeto de
consensos sociais profundos ou diretamente ligados à dignidade da pessoa humana.
II- Limites Imanentes: estão relacionados à configuração do Estado à luz do Poder Constituinte material ou
à própria identidade do Estado de que cada constituição representa apenas um momento da marcha
histórica. Referem-se a aspectos como a soberania ou a forma de Estado.
III- Limites Heterônomos: são provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos como, por
exemplo, as obrigações impostas ao Estado por normas de direito internacional. A globalização e a crescente
preocupação com os direitos humanos são fenômenos que têm contribuído para relativizar a soberania do
Poder Constituinte. Sob essa perspectiva, seria vedado às futuras constituições brasileiras consagrar a pena
de morte para além dos casos de guerra externa, antes
5700o disposto na Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, que veda o restabelecimento da pena de morte nos Estados que a hajam abolido.
Segundo Marcelo Novelino (2017, p. 73), para a doutrina majoritária, a titularidade do poder
constituinte reside sempre na soberania do povo. Essa posição deve ser defendida nas provas.
Obs.: Em sua obra clássica “O que é o Terceiro Estado?”, Joseph Sieyès sustentava que o Terceiro Estado
seria a nação, titular do poder constituinte.
7.1.3 Legitimidade
Segundo Marcelo Novelino (2017, p. 75), a análise da legitimidade do Poder Constituinte Originário
pode ser feita sob dois prismas distintos:
238
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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II- Objetivo: o Poder Constituinte deve consagrar na constituição um conteúdo valorativo em conformidade
com determinadas limitações materiais e/ou correspondente aos anseios de seu titular. Nesse contexto,
Canotilho afirma que o critério da legitimidade do Poder Constituinte não é a mera posse do poder, mas a
conformidade do ato constituinte com a ideia de justiça e com os valores radicados na comunidade em um
determinado momento histórico. A consagração de uma justa ordenação dos interesses e forças sociais das
quais a Constituição se originou é fator indispensável para sua legitimidade.
Ademais, Canotilho afirma que “poder constituinte significa, assim, poder constituinte do povo”, e
que deve ser concebido “como uma ‘grandeza pluralística’ (Peter Häberle), ou seja, como uma pluralidade
de forças culturais, sociais e políticas tais como partidos, grupos, igrejas, associações, personalidades,
decisivamente influenciadoras da formação de ‘opiniões’, ‘vontades’, ‘correntes’ ou ‘sensibilidades’ políticas
nos momentos preconstituintes e nos procedimentos constituintes”. Veja:
Art. 1.º da CF/88: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”
(democracia semidireta ou participativa — cf. cap. 17).
É aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica
precedente. O objetivo fundamental do poder constituinte originário, portanto, é criar um novo Estado,
diverso do que vigorava em decorrência da manifestação do poder constituinte precedente. Em suma: se o
poder constituinte é a expressão da vontade política
5700da nação, não pode ser entendido sem a referência aos
5700
valores éticos, religiosos, culturais que informam essa mesma nação e que motivam as suas ações.
7.2 Poder Constituinte Derivado ( instituído, constituído, secundário, de segundo grau, remanescente)
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NÚCLEO DURO
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7.2.1 Reformador
Tem o poder ou competência para modificar a Constituição por meio de um procedimento específico,
estabelecido pelo Poder Constituinte Originário. Ao contrário deste, que é um poder político, o Poder
Constituinte Derivado Reformador tem natureza jurídica, pois deve obedecer às limitações impostas pelo
Originário.
Em princípio, o Poder Constituinte de Reforma NÃO pode criar cláusulas pétreas: somente o Poder
Constituinte Originário pode fazê-las. No entanto, pode ampliar o catálogo dos direitos fundamentais criados
pelo Poder Constituinte Originário.
Limites ao poder constituinte derivado reformador – art. 60, CF/88:
c) Materiais: excluem determinadas matérias do Poder Constituinte derivado reformador. Os limites podem
ser EXPRESSOS ou IMPLÍCITOS;
● Expressos: são as cláusulas de intangibilidade ou cláusulas pétreas do art. 60, § 4º da CF. Tutela-se
a proposta tendente a ABOLIR. Impede-se que haja a DELIBERAÇÃO da emenda. O STF entende
possível a impetração de MS por parlamentar (controle de constitucionalidade preventivo judicial);
5700
TURMA 9
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Gabarito: B
● Implícitos: limitações que decorrem do núcleo de identidade da CF. Tudo aquilo que formar o núcleo
de identidade da CF é limitação implícita ao poder de reforma,
5700 é intangível.
d) Formais:
● Subjetivos: Iniciativa para a propositura de uma proposta de emenda constitucional (art. 60, I, II e III
da CF):
● Objetivos:
· Art. 60, §2º - procedimento de deliberação e quórum de votação
· Art. 60, §3º - promulgação pelas Mesas
· Art. 60, §5º - irrepetibilidade absoluta do projeto de emenda rejeitado da C
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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O STF não admite a tese das normas constitucionais inconstitucionais, ou seja, de normas
contraditórias advindas do poder constituinte originário. Assim, se o intérprete da Constituição se deparar
com duas ou mais normas aparentemente contraditórias, deverá compatibilizá-las, de modo que ambas
continuem vigentes. Isso porque o princípio da unidade da Constituição afasta a tese de hierarquia entre os
dispositivos da Constituição.
Assim como o reformador, também é jurídico e limitado pelo originário. Possui o objetivo de
estruturar a constituição dos Estados-membros, em decorrência da capacidade de auto-organização
estabelecida pelo originário. Tal capacidade consta artigo 25 da CF/88, o qual dita que “os Estados organizam-
se e regem-se pelas Constituições e Leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição”.
A doutrina aponta que os princípios que devem ser seguidos pelos Estados-membros são:
a) Princípios sensíveis: essência da organização constitucional da Federação brasileira - art. 34, VII da CF - se
violados ensejam intervenção federal;
242
NÚCLEO DURO
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Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS SENSÍVEIS
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento
do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
b) Princípios constitucionais estabelecidos: regras previstas para outros entes que, por consequência, veda
a atuação do Estado naquela matéria e;
Também é condicionado e limitado às regras do originário. Tal manifestação ocorreu cinco anos após
a promulgação da atual Constituição, por determinação do artigo 3º do ADCT.
243
NÚCLEO DURO
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Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da
promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do
Congresso Nacional, em sessão unicameral.
5700
https://youtu.be/fPDIdkxJYzE
5700
7.3 Poder Constituinte Difuso
244
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TURMA 9
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a) repristinação constitucional.
b) mutação constitucional informal.
c) interpretação conforme.
d) interpretação literal.
e) interpretação teleológica.
Resposta: B
Fundamentação: A mutação constitucional é um processo informal de modificação da Constituição, que
ocorre por meio da interpretação das normas. É importante notar que a interpretação conforme a
Constituição não poderia ser aplicada ao caso, pois o seu âmbito de aplicabilidade fica restrito às normas
infraconstitucionais. Portanto, ao adotar um novo sentido para o termo “casa”, o STF promoveu uma
mutação constitucional.
5700
Segundo Marcelo
5700 Novelino (2017, p. 92), a ruptura das tradicionais premissas de organização dos
Estados deu origem à ideia de existência de um Poder Constituinte pautado na cidadania universal, no
pluralismo de ordenamentos jurídicos e em uma visão remodelada de soberania.
Trata-se de um poder destinado a elaborar uma constituição supranacional, apta a vincular os
Estados ajustados sob o seu comando e fundamentada na vontade do povo-cidadão universal, seu verdadeiro
titular. Este poder é considerado constituinte por ter a força de criar uma ordem jurídica de cunho
constitucional, na medida em que reorganiza a estrutura de cada um dos Estados que aderem ao direito
comunitário e submete as constituições nacionais ao seu poder supremo.
246
NÚCLEO DURO
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5700
alçada constitucional. Anistia de infrações disciplinares de servidores estaduais: competência do Estado-
membro respectivo. Só quando se cuidar de anistia de crimes – que se caracteriza como abolitio criminis de
efeito temporário e só retroativo – a competência exclusiva da União se harmoniza com a competência
federal privativa para legislar sobre direito penal; ao contrário, conferir à União – e somente a ela – o poder
de anistiar infrações administrativas de servidores locais constituiria exceção radical e inexplicável ao dogma
fundamental do princípio federativo – qual seja, a autonomia administrativa de Estados e Municípios – que
não é de presumir, mas, ao contrário, reclamaria norma inequívoca da Constituição da República
(precedente: Rp 696, 6-10-1966, rel. p/ o ac. min. Aliomar Baleeiro). Compreende-se na esfera de autonomia
dos Estados a anistia (ou o cancelamento) de infrações disciplinares de seus respectivos servidores, podendo
concedê-la a assembleia constituinte local, mormente quando circunscrita – a exemplo da concedida pela
Constituição da República – às punições impostas no regime decaído por motivos políticos.
[ADI 104, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 4-6-2007, P, DJ de 24-8-2007.]
O poder constituinte outorgado aos Estados-membros sofre as limitações jurídicas impostas pela
Constituição da República. Os Estados-membros organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que
adotarem (CF, art. 25), submetendo-se, no entanto, quanto ao exercício dessa prerrogativa institucional
(essencialmente limitada em sua extensão), aos condicionamentos normativos impostos pela CF, pois é nessa
que reside o núcleo de emanação (e de restrição) que informa e dá substância ao poder constituinte
decorrente que a Lei Fundamental da República confere
5700 a essas unidades regionais da Federação.
247
NÚCLEO DURO
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existente autorizava os Estados a legislar sobre a matéria, assegurando a integralidade remuneratória aos
seus servidores. Contudo, a modificação trazida pela EC 19/1998 suplantou a previsão contida na Carta
estadual, pois passou a determinar, expressamente, que a remuneração do servidor em disponibilidade seria
proporcional ao tempo de serviço.
[ADI 239, rel. min. Dias Toffoli, j. 19-2-2014, P, DJE de 30-10-2014.]
A eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder constituinte (redundantemente chamado de
"originário") não está sujeita a nenhuma limitação normativa, seja de ordem material, seja formal, porque
provém do exercício de um poder de fato ou suprapositivo. Já as normas produzidas pelo poder reformador,
essas têm sua validez e eficácia condicionadas à legitimação que recebam da ordem constitucional. Daí a
necessária obediência das emendas constitucionais às chamadas cláusulas pétreas.
[ADI 2.356 MC e ADI 2.362 MC, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, j. 25-11-2010, P, DJE de 19-5-2011.]
As cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da inconstitucionalidade de normas
constitucionais inferiores em face de normas constitucionais superiores, porquanto a Constituição as prevê
apenas como limites ao poder constituinte derivado ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo
poder constituinte originário, e não como abarcando normas cuja observância se impôs ao próprio poder
constituinte originário com relação às outras que não sejam consideradas como cláusulas pétreas, e,
portanto, possam ser emendadas.
[ADI 815, rel. min. Moreira Alves, j. 28-3-1996, P, DJ de
5700 10-5-1996.]
As cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da inconstitucionalidade de normas
constitucionais inferiores em face de normas constitucionais superiores, porquanto a Constituição as prevê
apenas como limites ao poder constituinte derivado ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo
poder constituinte originário, e não como abarcando normas cuja observância se impôs ao próprio poder
constituinte originário com relação às outras que não sejam consideradas como cláusulas pétreas, e,
portanto, possam ser emendadas.
[ADI 815, rel. min. Moreira Alves, j. 28-3-1996, P, DJ de 10-5-1996.]
O poder constituinte derivado não é ilimitado, visto que se submete ao processo consignado no art. 60, §§
2º e 3º, da CF, bem assim aos limites materiais, circunstanciais e temporais dos §§ 1º, 4º e 5º do aludido
artigo. A anterioridade da norma tributária, quando essa é gravosa, representa uma das garantias
fundamentais do contribuinte, traduzindo uma limitação ao poder impositivo do Estado.
[RE 587.008, rel. min. Dias Toffoli, j. 2-2-2011, P, DJE de 6-5-2011, Tema 107.]
Vide ADI 939,
5700rel. min. Sydney Sanches, j. 15-12-1993, P, DJ de 18-3-1994
Art. 85 da Constituição do Estado de Rondônia, que elevou para treze o número de desembargadores do
Tribunal de Justiça. Ofensa manifesta ao princípio da iniciativa privativa, para o assunto, do Tribunal de
Justiça, consagrada no art. 96, II, b, da CF, de observância imperiosa pelo poder constituinte derivado
estadual, como previsto no art. 11 do ADCT/1988.
[ADI 142, rel. min. Ilmar Galvão, j. 19-6-1996, P, DJ de 6-9-1996.]
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 3.279/1999 do Estado do Rio de Janeiro, que dispõe sobre o
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NÚCLEO DURO
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META 5
TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 2º da Lei 9784/99
⦁ Art. 11 a 17 da Lei 9784/99
⦁ Art. 18 e 19 da Lei 9784/99
⦁ Art. 22 da Lei 9784/99
⦁ Art. 38, §1º da Lei 9784/99
⦁ Art. 50 da Lei 9784/99
⦁ Art. 84, VI, CF/88
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
1. ATOS ADMINISTRATIVOS
a) Fato - É todo e qualquer acontecimento, seja decorrente de condutas humanas ou simples sucessão de
eventos alheios à atuação das pessoas;
b) Fato Jurídico - Quando os fatos interferem nas relações travadas entre pessoas e, por isso, precisam de
regulamentação por meio de normas jurídicas. Podem se subdividir em:
b.1. Fatos da Natureza (fatos jurídicos strictu sensu) – ex: nascimento e morte;
b.2. Fatos de Pessoas (atos jurídicos) – Ato humano que manifesta vontade de forma a interferir no
direito. 5700
FATO – Acontecimento
ATO – Manifestação de Vontade
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NÚCLEO DURO
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II- Corrente Antivoluntarista (Celso Antônio Bandeira de Mello): ato administrativo é enunciado prescritivo,
declaração jurídica que disciplina coisas e situações, enquanto que fato administrativo não possui caráter
prescritivo, sendo simplesmente acontecimento a que a lei atribui consequências jurídicas. Como
consequência, os fatos administrativos não são nem anuláveis, nem revogáveis.
III- Corrente Materialista (Hely Lopes Meirelles): ato administrativo é manifestação volitiva da
Administração, no desempenho das funções de Poder Público, visando produzir algum efeito jurídico,
enquanto que fato administrativo é toda atividade pública material em cumprimento de decisão
administrativa. O fato administrativo sempre resulta do ato administrativo que o determina.
IV- Corrente Dinamicista (José dos Santos Carvalho Filho – Teoria Majoritária): fato administrativo é toda
atividade material da administração, no exercício de função administrativa, que visa a efeitos de ordem
prática para a Administração (alteração dinâmica). O fato pode ser um evento da natureza (fato
administrativo natural) ou comportamento voluntário 5700
(fato administrativo voluntário). O fato administrativo
voluntário deriva de ato administrativo ou de conduta administrativa. Exemplos: apreensão de mercadorias,
raio que destrói bem público, desapropriação e requisição.
Nem todo ato praticado pela Administração Pública é ato administrativo, sendo o ato da
administração mais amplo do que a noção de ato administrativo. 5700
a) Atos Políticos ou de Governo – Quando há exercício da função política e podem exercê-la os membros do
Legislativo, Judiciário e do Executivo. Na prática, não são sequer considerados atos da Administração, pois
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NÚCLEO DURO
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são exercidos pelo Estado no exercício de função política. O controle jurisdicional será admitido somente
quando houver prejuízo específico à esfera individual de particulares. Ex.: declaração de guerra,
intervenção federal, veto ao projeto de lei.
Obs.: JSCF entende que esses atos NÃO seriam propriamente administrativos, mas atos de governo, já que
seu fundamento de encontra na CF/88 e, por isso, inexistiriam parâmetros prévios de controle. Por outro
lado, são esses os atos que permitem a condução das políticas, diretrizes e estratégias do governo,
comportando tais atos maior discricionariedade para os governantes.
b) Atos Privados ou de Gestão – São os atos da Administração Pública regidos pelo direito privado, em que
a Administração atua sem prerrogativas, como se particular fosse. Ex.: locação imobiliária e contrato de
compra e venda.
Obs.: não cabe mandado de segurança contra atos de gestão em razão da ausência de supremacia.
c) Atos Materiais – Também chamados de FATOS ADMINISTRATIVOS, já que não manifestam a vontade do
Estado, sendo atos de mera execução de atividade. Ex.: ato que determina a demolição de um prédio → a
demolição em si é mero ato material. 5700
Obs.: Di Pietro entende que os atos materiais da Administração NÃO contêm manifestação de vontade, mas
envolvem apenas a execução.
d) Atos Administrativos – Atos por meio dos quais a Administração atua por meio da função administrativa,
sob o regime de direito público e ensejando a manifestação do Estado ou de quem lhe faça às vezes. Podem
ser praticados ou não pela Administração Pública, logo, o ato administrativo
5700 pode ser praticado não só pelo
Estado, mas também por quem o represente, o que inclui os órgãos da Administração Direta, entes da
Administração Indireta e até mesmo particulares, como é o caso de concessionárias e permissionárias de
serviços públicos (importante!!!)
Elementos:
● Manifestação unilateral de vontade do Estado ou de quem o represente. Ex.: concessionária.
● Vai criar, modificar ou extinguir direitos, tendo por objetivo satisfazer o interesse público.
● Se submete a regime jurídico público.
● É complementar e inferior à lei (tem como fundamento a legislação infra)
● Sujeito ao controle de legalidade pelo Judiciário.
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NÚCLEO DURO
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Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, tem-se que ato administrativo é a declaração do Estado ou
de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico
de direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário.
Ainda, Alexandre Mazza define ato administrativo como toda manifestação expedida no exercício da
função administrativa, com caráter infralegal, consistente na emissão de comandos complementares à lei,
com a finalidade de produzir efeitos jurídicos.
São atos jurídicos decorrentes da manifestação de vontade humana que repercute na esfera dos
cidadãos, devendo ser emanado por agente público.
Inexistem, na esfera do Direito Administrativo, atuações totalmente discricionárias, haja vista a
5700
definição legal com critérios objetivos de determinados elementos dos atos administrativos, mesmo nos
discricionários. Até mesmo os elementos do ato administrativo que podem ter feição discricionária (como
o motivo e objeto), quando devidamente regulamentados ou discriminados pela Lei, passam a ser
vinculados, perdendo o caráter discricionário.
De acordo com Rafael Carvalho Rezende Oliveira, o mérito pode ser entendido como a liberdade
dada pelo legislador ao agente público para que se exerça o juízo de ponderação dos motivos e se escolha os
objetos dos atos administrativos discricionários, não havendo mérito na edição de atos vinculados.
Destaca-se a jurisprudência sobre o tema:
O Poder Judiciário não pode
5700 fazer a revisão judicial do mérito da decisão
administrativa proferida pelo CADE. (STF. 1ª Turma. RE 1083955/DF, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 28/5/2019 - Info 942).
● Competência
● Finalidade
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NÚCLEO DURO
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● Forma
● Motivo
● Objeto
2.1 Competência
a) Disposições Gerais
Veja: Art. 12. “Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal,
delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole
técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.”
Lembrando que, se a legislação estadual não dispor de forma contrária ou for silente, a legislação a
ser aplicada é a Lei Federal (art. 12, Lei 9784/99)
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
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NÚCLEO DURO
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b) Características da competência
instrumento de delegação.
No ato de delegação, deve se definir o tempo e a matéria delegada de forma específica,
estabelecendo os limites de atuação do agente delegado, já que os atos de delegação genérica são NULOS,
devendo ainda ser publicado.
Cláusula de Reserva – Como regra geral, o agente delegante NÃO transfere a competência, mas
apenas a amplia, mantendo-se competente após a delegação com o agente delegado.
DICA: CE NO RA
● Competência exclusiva, definida em lei – No entanto, é admitida a delegação para a prática
de atos decorrentes de competências privativas de determinado agente público;
● Para a edição de atos normativos – No entanto, o art. 84 CF permite a delegação de algumas
atribuições do Presidente da República aos Ministros de Estado, AGU e PGR.
● Para a decisão de recurso administrativo;
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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AVOCAÇÃO: Ocorre quando o agente chama para si a competência de outro agente, devendo haver
a subordinação, sendo alteração de competência de caráter temporário e restrito, possuindo como objetivo
evitar decisões contraditórias.
Art. 15, Lei 9784/99 Será permitida, em caráter excepcional e por motivos
relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência
atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
a) Por incompetência: ocorre por excesso de poder, usurpação de função ou função de fato.
Ocorre excesso de poder quando o agente atua fora ou além de sua esfera de competências,
estabelecida em lei. Trata-se de espécie do gênero abuso de poder. Assim, abuso de poder é o gênero, do
qual são espécies o excesso de poder (vício de competência) e o desvio de poder (vício no elemento finalidade
dos atos administrativos).
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NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Tanto o excesso como o desvio de poder podem configurar crime de abuso de autoridade, hipótese
em que ficará sujeito à responsabilidade administrativa e à penal, podendo ainda responder civilmente, se
de seu ato resultarem danos patrimoniais e morais.
O vício de competência (excesso de poder) admite convalidação, salvo se se tratar de competência
em razão da matéria ou de competência exclusiva. Nestes dois últimos casos, o excesso de poder gera um
ato nulo.
A usurpação da função é crime (art. 328 do CP) cometido por alguém que não foi por nenhuma forma
investido no cargo, emprego ou função pública. O agente não tem nenhuma espécie de vinculo funcional
com a administração (Di Pietro). Neste caso, a maioria da doutrina considera o ato inexistente.
Ocorre a função de fato quando a pessoa foi investida no cargo, emprego ou função pública, mas há
alguma ilegalidade em sua investidura ou impedimento para a prática do ato. Em função da teoria da
aparência (para os administrados, a situação tem total aparência de legalidade, de regularidade), o ato é
considerado válido, ou pelo menos o são os efeitos dele decorrentes.
b) Por incapacidade: A Lei 9.784/99 prevê, em seu art. 18, os casos de impedimento, e no art. 20, os casos
de suspeição de autoridade ou servidor público, praticamente nos mesmos moldes do CPC. Cumpre salientar,
porém que, no Direito Administrativo, ambas as hipóteses se enquadram como atos anuláveis, 5700
passíveis de
convalidação por autoridade que não esteja na mesma5700situação de impedimento ou suspeição.
2.2 Finalidade
É escopo do ato, sendo tudo aquilo que se busca proteger com a prática do ato. A finalidade é o efeito
jurídico MEDIATO do ato administrativo, isto é, aquilo que o administrador público quer buscar em um
momento posterior à prática do ato, qual seja, a finalidade pública.
Para a doutrina, todo ato administrativo possui DUAS FINALIDADES:
∘ Finalidade Genérica: Presente em todos os atos, é o atendimento ao interesse público;
∘ Finalidade Específica: É definida em lei e estabelece qual a finalidade de cada ato
especificamente.
Em determinadas situações, o ato é praticado no interesse público, mas com desvio da finalidade
específica, a exemplo de quando se exonera um servidor público com a intenção de puni-lo. Assim, sendo
violada a finalidade específica, mesmo que o agente esteja buscando o interesse público, há o desvio de
finalidade.
Ainda que o Administrador Público NÃO atue com a intenção de satisfazer interesses pessoais, a
prática do ato com a intenção de alcançar finalidade diversa da expressamente imposta na regra que a definiu
configura vício, por desvio de poder, SALVO nos casos de tredestinação lícita, na desapropriação.
A finalidade é SEMPRE elemento vinculado do ato quanto à finalidade específica, podendo ser
discricionário se analisada a finalidade genérica que é o interesse público (conceito jurídico indeterminado).
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NÚCLEO DURO
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5700
2.3 Forma
Obs.: Maria Sylvia Zanella di Pietro assevera que é integrante do conceito de forma a motivação do ato
administrativo, ou seja, a exposição dos fatos e do direito que serviram de fundamento para a prática do ato;
a sua ausência impede a verificação de legitimidade do ato.
Por sua vez, o SILÊNCIO ADMINISTRATIVO, diante de determinada situação, NÃO produz qualquer
efeito, salvo as hipóteses previstas no próprio texto legal. A ausência de conduta NÃO configura um ato
administrativo, mas somente um fato da administração.
Sobre o silêncio da Administração Pública, Alexandre Mazza ressalta que, em regra, a inércia
administrativa não tem importância para o Direito, podendo ocorrer, porém, de a lei atribuir-lhe algum
significado específico, ligando efeitos jurídicos à omissão da Administração.
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NÚCLEO DURO
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Caso a omissão da Administração Pública venha a resultar em um dano jurídico, tal omissão poderá
ensejar responsabilização patrimonial do Estado, bem como a do próprio servidor, nos casos de dolo ou culpa
(art. 37, §6° da CF/88).
As hipóteses de responsabilização não se restringem à ausência de resposta pelo exercente da função
administrativa, devendo ser também aplicáveis às situações em que a resposta surja quando já superado o
tempo razoável para aquela manifestação (direito à razoável duração do processo - inciso LXXVIII, do artigo
5º da Carta Magna).
Nas hipóteses de não haver previsão legal específica de prazo para a oferta de resposta pela
Administração, deve-se aplicar, subsidiariamente, o lapso de 30 dias previsto na Lei 9.784/99 (arts. 49 e 59,
§ 1º), responsável pela regulação do processo administrativo no âmbito federal.
5700
Diante de provocação feita pelo particular, a inércia administrativa é ilicitude sanável por meio de
provocação do Poder Judiciário, o qual pode determinar que o agente público pratique o ato, cessando a
ilegalidade que decorria da omissão estatal, não configurando invasão no mérito administrativo, desde que
o Judiciário NÃO interfira no conteúdo da conduta a ser
5700
praticada.
O vício de forma é sanável quando não gerar prejuízo ao interesse público nem a terceiros, devendo
ser mantido o ato viciado. No entanto, em algumas situações, o vício de forma é insanável, por atingir
diretamente o próprio conteúdo do ato.
De modo geral, a forma é sempre elemento vinculado, mesmo nos atos administrativos
discricionários, SALVO se a lei estabelecer mais de uma forma possível para o ato ou for silente quanto à
forma a ser obedecida para a prática de determinado ato, quando então será discricionária.
2.4 Motivo
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NÚCLEO DURO
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I- O ato administrativo foi praticado com a devida motivação, mas os motivos apresentados são falsos
ou não encontram correspondência com a justificativa legal para a prática da conduta. Nesses casos,
pode-se dizer que o ato é viciado, por ilegalidade no elemento motivo.
II- O ato é praticado em decorrência de situação fática verdadeira e prevista em lei, contudo, o
administrador público não apresentou a motivação do ato. Trata-se de ato com vício no elemento
forma.
Obrigatoriedade de Motivação:
O art. 50 da Lei nº 9.784/99 preconiza que a motivação é obrigatória para todos os atos
administrativos que:
I- neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II- imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III- decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV- dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V- decidam recursos administrativos;
VI- decorram de reexame de ofício;
VII- deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de
pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII- importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato
administrativo.
260
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Teoria dos Motivos Determinantes: Essa teoria será aplicada sempre que existir motivação, seja em
atos vinculados ou discricionários: uma vez que o agente
5700 enuncia os motivos de ter decidido ou agido de
determinada maneira, ainda que a lei não o tenha exigido expressamente, o ato só será válido se estes
realmente ocorreram e tiveram o condão de justificar o ato. Caso os motivos do ato sejam falsos, inexistentes
ou incorretamente qualificados isto viciará o ato administrativo. A validade de um ato está vinculada, pela
teoria dos motivos determinantes, à veracidade dos fatos descritos como motivadores da prática desse ato.
O ato discricionário, se for motivado, passa a se vincular aos motivos indicados pela administração. Se esses
motivos se mostrarem insuficientes ou inválidos, o ato administrativo discricionário praticado também será
considerado inválido. Por isso se dá o nome teoria dos motivos determinantes, os quais vão determinar a
validade ou invalidade do ato.
ATENÇÃO! É importante lembrar que o STF não admite a “teoria da transcendência dos motivos
determinantes”. Segundo a teoria restritiva, adotada pelo STF, somente o dispositivo da decisão produz
efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes. Cuidado para não
confundir!!
CAIU EM PROVA (Delegado de PCMG 2021): Maria, Servidora Pública Municipal, em janeiro de 2017 foi
nomeada para ocupar um cargo em comissão junto à Secretaria Municipal de Turismo. Em julho de 2019, ao
retornar das férias, ela tomou conhecimento de que havia sido exonerada e, após consulta ao referido ato
veiculado no Diário Oficial do Município, para sua maior surpresa, constava que sua exoneração ocorrera “a
pedido”.
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NÚCLEO DURO
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Com base na “Teoria dos Motivos Determinantes”, é correto afirmar que havendo comprovação de que o
motivo expresso não guarda compatibilidade com a realidade fática, o ato pode ser anulado pelo Poder
Judiciário (item correto).
O STJ já entendeu que nas situações em que a lei não exige motivação, é possível que excepcionalmente se
admita uma motivação tardia, desde que se observe três requisitos (STJ, MS 40.427/DF):
• O motivo extemporaneamente alegado seja preexistente.
• O motivo seja idôneo para justificar o ato.
• O motivo seja a razão determinante da prática do ato.
É aquilo que o ato dispõe, é o efeito causado pelo ato administrativo no mundo jurídico, em virtude
de sua prática.
O objeto é o efeito jurídico IMEDIATO do ato administrativo, isto é, aquilo que a Administração
Pública quer no momento em que pratica o ato administrativo.
Para a doutrina majoritária, objeto e conteúdo são expressões sinônimas, representando a
disposição do ato administrativo. Todavia, há quem defenda que o conteúdo seria a disposição do ato,
enquanto o objeto seria o bem ou a relação jurídica sobre a qual o ato administrativo incide.
Para que o ato administrativo seja válido, o objeto deve ser lícito, possível e determinável ou
determinado.
Pode possuir feição discricionária nos atos administrativos discricionários.
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NÚCLEO DURO
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Em regra, vinculado
Discricionário sempre que não houver forma
Forma definida em lei para a prática do ato, ou quando o
texto legal estipular mais de uma forma possível.
Motivo Discricionário
Objeto Discricionário
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, seriam ELEMENTOS do ato administrativo, intrínsecos ao
próprio ato e cuja ausência de algum deles implicaria a ausência do próprio ato:
● Conteúdo – Corresponde à disposição do ato;
● Forma do ato – É a exteriorização da vontade do ato administrativo praticado.
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NÚCLEO DURO
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Prerrogativa que prevê que, até prova em contrário, o ato administrativo goza de fé pública e os atos
presumem-se verdadeiros (presunção juris tantum). Diz respeito a fatos e causa a inversão do ônus da prova
dos fatos alegados pelo particular.
5700
Trata-se de presunção jurídica, de modo que, até prova em contrário, presume-se que o ato foi editado
em conformidade com a lei e o ordenamento jurídico (presunção juris tantum). Esse atributo NÃO diz
respeito a fatos, mas à adequação da conduta com a norma jurídica posta.
atributo da legitimidade e veracidade. Ex.: atos privados e atos manifestamente ilegais não
gozam de tal presunção.
Todo ato administrativo que cria obrigação ao particular encerra um poder dados à Administração
de, unilateralmente, estabelecer obrigação aos particulares, desde que dentro dos limites da Lei. Trata-se de
característica presente apenas nos atos que dispõem acerca de obrigações e deveres aos particulares, ao
passo em que os atos que definem direitos e vantagens NÃO são imperativos.
A imperatividade está presente mesmo diante de atos administrativos reputados como inválidos pelo
particular, em decorrência da presunção de legitimidade da qual essa atuação se reveste.
A imperatividade é atributo presente apenas nos atos administrativos que imponham restrições de
direitos, NÃO se aplicando aos atos ampliativos de direito.
Poder Extroverso: seria o atributo a imperatividade nos atos administrativos restritivos, em que as
determinações impostas pelo poder público devem ser cumpridas.
NÃO incide para atos negociáveis e enunciativos.
4.4 Exigibilidade
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NÚCLEO DURO
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Não sendo cumprida a obrigação imposta pelo ato administrativo, o poder público terá que executar
o ato desrespeitado, valendo-se de meios indiretos de coação. O exercício desse atributo não dispensa o
respeito ao devido processo legal, com contraditório e ampla defesa.
Aplicação de meio diretos de execução dos atos administrativos, em que o Estado executa o ato
administrativo diretamente, frente ao descumprimento pelo particular, sem que haja participação deste e
auxílio do Poder Judiciário → contraditório diferido!
A executoriedade afasta o controle judicial prévio dos atos administrativos, sendo possível apenas a
posteriori.
5700
De acordo com José dos Santos Carvalho Filho, “a autoexecutoriedade tem como fundamento
jurídico a necessidade de salvaguardar com rapidez e eficiência o interesse público, o que não ocorreria se a
cada momento tivesse que submeter suas decisões ao crivo do Judiciário”.
Não está presente em todos os atos administrativos, dependendo sempre de previsão legal ou de
uma situação de urgência em que a prática do ato de imponha à garantia do interesse público.
Seria a exigência de que todo ato administrativo esteja previsto em lei. Em verdade, não é
prerrogativa concedida ao ente estatal, mas limitação para a prática de atos não previamente estipulados
por lei. Funciona com sinais trocados no direito penal.
Obs.: Para o autor Rafael Carvalho, “alguns autores mencionam, ainda, a tipicidade como quarto atributo dos
atos administrativos unilaterais, uma vez que a Administração somente pode editar atos que estejam
previamente tipificados na legislação, sendo vedada a edição de atos inominados. Entendemos que a atuação
administrativa deve ser pautada pelo respeito ao ordenamento jurídico, mas isso não pressupõe a tipificação
e a nominação prévias de todos os atos administrativos, mas apenas daqueles
5700
atos que estabeleçam sanção
ao administrado (atos sancionatórios), razão pela qual não destacaremos o referido atributo na presente
obra”, pgs.313/314, Livro “Curso de Direito Administrativo” da Editora Gen.
265
NÚCLEO DURO
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Decorre do cumprimento das etapas previstas em lei, necessárias à formação do ato. Ou seja: é
aquele que completou o processo de formação. Isso ocorre, pois todo ato administrativo é formalizado por
procedimento administrativo prévio.
O ato perfeito NÃO é retratável, mas pode ser revisado ou anulado (princípio da autotutela).
Ato imperfeito é aquele que ainda está em formação.
Segundo a autora Maria Sylvia Zanella di Pietro, não pode se confundir perfeição e validade.
Enquanto a primeira diz respeito às etapas de formação do ato, exigidas por lei para que ele produza efeitos,
a segunda trata da conformidade do ato com a lei.
Aferida quando todas as etapas realizadas estiverem de acordo com a Lei. A validade é a
compatibilidade entre o ato jurídico e o disposto na norma
5700 legal
É o segundo plano de análise dos atos administrativos, só podendo ser analisado se o ato for, ao
menos, existente (perfeito).
5.3 Eficácia
Aptidão para a produção de efeitos concedida ao ato administrativo. Alguns têm eficácia imediata,
logo após a publicação, mas outros podem ter sido editados com previsão de termos iniciais ou condições
suspensivas, sendo atos ineficazes enquanto a situação de pendência não for resolvida. São chamados de
atos pendentes.
Atos Administrativos Pendentes são os atos perfeitos e válidos que ainda não estão aptos a produzir
efeitos em decorrência da pendência de alguma condição ou termo.
5700
Obs.: O autor José dos Santos Carvalho Filho discorda, ao entender que o ato que completou o seu ciclo de
formação é eficaz, ainda que dependente de termo ou condição futuros para ser executado, posto que, no
seu entender, termo e condição podem ser óbices à imperatividade do ato, mas nem por isso
descaracterizariam a sua eficácia → Ocorre que o autor diferencia eficácia de exequibilidade, considerando
que esta pode ser obstada por previsão no próprio ato, opinião da qual discorda a doutrina majoritária.
266
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
a) Próprios (típicos) – Efeitos típicos do ato, configurando o objeto ou conteúdo da conduta estatal. Ex: a
demissão do servidor acarreta o efeito típico de extinção do vínculo funcional com a Administração Pública.
b) Impróprios (atípicos) – Decorrem, de forma indireta, da prática do ato administrativo, embora não esteja
estipulado em sua redação nem seja sua intenção inicial. Podem ser:
I – Efeito Reflexo: atingem uma relação jurídica estranha à tratada no bojo da conduta estatal,
gerando consequências a terceiros não previstos diretamente no ato praticado. Ex: Locatário de um imóvel
desapropriado/ Reintegração de servidor público, para o que será reconduzido.
II – Efeito Prodrômico (efeito preliminar): São os efeitos contemporâneos á edição do ato,
normalmente ocorrem nos atos complexos e compostos. Surgem com a edição do ato e perduram até a
produção dos efeitos típicos do ato.
Alguns atos administrativos somente estarão perfeitos após a manifestação de vontade de mais de
uma autoridade pública (como os atos administrativos compostos e complexos). Logo, quando o primeiro
órgão manifesta a sua vontade, dando início à formação do ato administrativo, esta conduta tem como efeito
impróprio obrigar a manifestação de vontade do segundo órgão. O efeito prodrômico determina a quebra
da inércia administrativa quando, estando o ato em formação, a vontade que dá início à sua perfeição é
manifestada. Ex: Os atos sujeitos ao controle de outro5700órgão, como no caso da aposentadoria, onde surge
efeitos prodrômicos de submeter o ato para apreciação de um órgão controlador.
a) Ato perfeito, válido e eficaz – Quando o ato cumpre todas as etapas de sua formação e a conduta é
5700
praticada dentro dos limites definidos pela lei;
b) Perfeito, válido e ineficaz – O ato cumpriu todas as etapas de formação e foi expedido em conformidade
com a Lei, mas não está apto a produzir efeitos por depender de termo ou condição, ou ainda de publicidade
→ ATOS ADMINISTRATIVOS PENDENTES;
c) Perfeito, inválido e eficaz – Não corresponde às normas legais definidas para a sua prática, no entanto
produzirá efeitos até que seja declarada a irregularidade;
d) Perfeito, inválido e ineficaz – Sempre que a ilegalidade do ato for demonstrada, NÃO poderá produzir
efeitos contrários àqueles definidos na legislação que trata da sua edição.
267
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Atos Vinculados: Definidos em lei que não confere ao agente público qualquer margem de escolha.
A lei já estabelece as condições e requisitos que deve ser realizado obrigatoriamente.
Enunciado 12 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: A decisão
administrativa robótica deve ser suficientemente motivada, sendo a sua opacidade
motivo de invalidação.
Atos Discricionários: Não obstante regulamentados por lei, admitem uma análise de pressupostos
subjetivos pelo ente estatal. A lei confere ao Administrador uma margem de atuação, dentro dos limites
5700
estipulados pela Legislação. (conveniência e oportunidade).
Caiu em prova CESPE! A discricionariedade para a prática de determinado ato administrativo pode decorrer
de disposição expressa ou de omissão de norma legal. (item correto)
A fonte da discricionariedade é a própria lei; aquela só existe nos espaços deixados por esta. Nesses espaços,
a atuação livre da Administração é previamente legitimada pelo legislador. Normalmente essa
discricionariedade existe: 5700
a) quando a lei expressamente a confere à Administração: ocorre no caso da norma que permite a
remoção ex oficio do funcionário, a critério da Administração, para atender à conveniência do serviço;
b) quando a lei é omissa: pois não lhe é possível prever todas as situações supervenientes ao momento de
sua promulgação, hipótese em que a autoridade deverá decidir de acordo com princípios extraídos do
ordenamento jurídico;
c) quando a lei prevê determinada competência: mas não estabelece a conduta a ser adotada; exemplos
dessa hipótese encontram-se em matéria de poder de polícia, em que é impossível à lei traçar todas as
condutas possíveis diante de lesão ou ameaça de lesão à vida, à segurança pública, à saúde.
Ato Simples: Para a sua formação depende de uma única manifestação de vontade;
Ato Composto: Para a sua perfeição depende de mais de uma manifestação de vontade, sendo
compostos por uma vontade principal (ato principal) + vontade que ratifica esta (ato acessório). Composto
de dois atos, geralmente do mesmo órgão público, em mesmo patamar de igualdade. Ato composto é
268
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
formado pela manifestação de vontade de um único órgão, sendo apenas ratificado por outra autoridade.
Ex: Atos administrativos que dependem de visto/ homologação da autoridade revisora.
Ato Complexo: Formado pela soma de vontades de órgãos públicos independentes, em mesmo nível
hierárquico, de forma que tenham a mesma força, não se podendo imaginar a dependência de uma em
relação à outra.
O STF decidiu que o Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade do ato de
concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, prazo esse contado da chegada do processo à Corte:
Nesses termos, por constituir exercício da competência constitucional (CF, art. 71, III), tal ato ocorre
sem a participação dos interessados e, portanto, sem a observância do contraditório e da ampla defesa.
Entretanto, por motivos de segurança jurídica e necessidade da estabilização das relações, é
necessário fixar-se um prazo para que a Corte de Contas exerça seu dever constitucional.
269
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Diante da inexistência de norma que incida diretamente sobre a hipótese, aplica-se ao caso o
disposto no art. 4º do Decreto-lei 4.657/1942, a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB).
Assim, tendo em vista o princípio da isonomia, seria correta a aplicação, por analogia, do Decreto
20.910/1932.
Portanto, se o administrado tem o prazo de cinco anos para buscar qualquer direito contra a Fazenda
Pública, também deve-se considerar que o Poder Público, no exercício do controle externo, tem o mesmo
prazo para rever eventual ato administrativo favorável ao administrado.
Desse modo, a fixação do prazo de cinco anos se afigura razoável para que o TCU proceda ao
registro dos atos de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão
definitivamente registrados.
Por conseguinte, a discussão acerca da observância do contraditório e da ampla defesa após o
transcurso do prazo de cinco anos da chegada do processo ao TCU encontra-se prejudicada. Isso porque,
findo o referido prazo, o ato de aposentação considera-se registrado tacitamente, não havendo mais a
5700
possibilidade de alteração pela Corte de Contas
Resumindo: A jurisprudência do STF, antes do RE 636553/RS (Tema 445), havia construído uma exceção à SV
3: se o Tribunal de Contas tivesse demorado mais do que 5 anos para analisar a concessão inicial da
aposentadoria, ele teria que permitir contraditório e ampla
5700 defesa ao interessado.
Essa exceção deixou de existir com o julgamento do RE 636553/RS.
O STF passou a dizer que, se o Tribunal de Contas demorar mais que 5 anos para julgar a aposentadoria,
reforma ou pensão, o ato é considerado definitivamente registrado.
De acordo com o STJ, também configura ato complexo o preenchimento de lugar destinado ao quinto
constitucional nos Tribunais brasileiros. Para a Corte, a revogação de tais atos depende da manifestação de
todos os órgãos envolvidos, tal qual ocorre com a sua formação.
Ato Gerais: Se referem a quantidade indeterminada de pessoas, com caráter abstrato e impessoal.
Atos Individuais: Se referem a determinados indivíduos, especificados no próprio ato. Se subdividem
em:
● Atos Múltiplos: Se referem a mais de um destinatário;
270
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Atos de Império: Aqueles nos quais a Administração atua com prerrogativa de Poder Público,
valendo-se da supremacia do interesse público sobre o privado;
Atos de Gestão: Executados pelo Poder Público sem as prerrogativas de Estado, atuando a
Administração em situação de igualdade com o particular;
Atos de Expediente: Praticados como forma de dar andamento à atividade administrativa, sem
configurar uma manifestação de vontade do Estado, mas a execução de condutas previamente definidas.
Atos Concretos: Praticados com a finalidade de resolver uma situação específica, exaurindo os seus
efeitos em uma única aplicação, não perdurando após a prática e a execução. Ex: Multa de trânsito, aplicação
de penalidade de demissão a servidor faltoso. 5700
Atos Abstratos: Definem regra genérica que deverá ser aplicada sempre que a situação descrita no
ato ocorrer de fato. 5700
Atos Constitutivos: Criam uma situação jurídica nova, previamente inexistente, mediante a criação
de novos direitos ou a extinção de prerrogativas anteriormente estabelecidas.
Atos Declaratórios: Afirmam um direito preexistente, mediante o reconhecimento de situação
jurídica previamente constituída. Ex: Certidão e atestado.
Ato Modificativo: Altera situação já existente, sem que seja extinta, NÃO retirando direitos e
obrigações. Ex: alterar horário de atendimento.
Atos Ampliativos: Atribuem direitos e vantagens aos seus destinatários, normalmente, concedendo
vantagens previamente requeridas pelo interessado.
Atos Restritivos: Atos que impõem obrigações ou aplica penalidades aos destinatários, sempre
dentro dos limites da lei, como uma multa de trânsito.
Obs.: Atos Ablativos/Ablatórios: são todos os atos que restringem direitos dos administrados.
271
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Atos Internos: Produzem efeito dentro da estrutura da administração pública responsável por sua
edição, não atingindo pessoas estranhas à organização administrativa interna;
Atos Externos: Produzem efeito em relação aos administrados, estranhos à estrutura da
administração pública, dependendo de publicação em órgão oficial, podendo ser divididos em bilaterais e
unilaterais.
Ato administrativo em sentido formal: São aqueles que possuem a forma de ato administrativo,
mas são dotados dos atributos de abstração e generalidade, tais como as instruções normativas e
regulamentos.
Ato administrativo em sentido material: São aqueles voltados para uma situação determinada,
individualizada, ainda que inclua mais de uma pessoa.
São atos gerais e abstratos que geram obrigações para uma quantidade indeterminada de pessoas.
Enseja a produção de normas gerais, sempre inferiores aos comandos legais, NÃO podendo inovar
no ordenamento jurídico.
I – Regulamento: Ato normativo privativo do chefe do poder executivo, apresentado por um DECRETO.
Podem ser:
● Regulamentos Executivos: Editados para a fiel execução da lei. Caso inove, viola o princípio da
legalidade;
● Regulamentos Autônomos:5700
Atuam substituindo a lei e inovam o OJ, determinando normas sobre
matérias não disciplinadas mediante previsão legislativa. São admissíveis apenas para as situações
previstas no art. 84, VI da CF.
II – Aviso: Ato normativo expedido pelos órgãos auxiliares diretos do Poder Executivo (Ministérios ou
Secretarias), a fim de dar conhecimento à sociedade de determinado assunto ligado à atividade fim daquele
Órgão. Para alguns doutrinadores, seria espécie de ato ordinatório.
III – Instruções Normativas: Atos expedidos por quaisquer autoridades públicas ou órgãos públicos com
atribuição legal para a execução de decretos e regulamentos.
272
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
5700
IV – Regimento: Ato normativo para definição de normas internas, estabelecendo as regras para o regular
funcionamento de órgãos colegiados.
V – Deliberações: Ato normativo expedido pelos órgãos colegiados como representação de vontade da
maioria dos agentes que o representam.
VI – Resolução: Atos normativos dos órgãos colegiados, usados pelos Poderes legislativo e Judiciário, e
Agências Reguladoras, para disciplinar matéria de sua competência específica.
Atenção: As agências reguladoras possuem poder normativo que se restringe ao âmbito técnico da prestação
do serviço e expedem os atos por meio de manifestação de seu conselho diretivo.
Atos de ordenação e organização interna que decorrem do poder hierárquico, destinados a produzir
efeitos apenas no âmbito da Administração Pública (não atingem particulares).
I – Portaria: Ato administrativo individual que estipula ordens e determinações internas e estabelece normas
que geram direitos ou obrigações internas a indivíduos específicos.
II – Circular: Expedido para a edição de normas uniformes a todos os servidores subordinados a determinados
órgãos. Define regras gerais dentro da atividade administrativa.
III – Ordem de Serviço: Conduta estatal com a finalidade de distribuir e ordenar o serviço interno do órgão,
escalonando entre os setores e servidores vinculados àquela entidade.
IV – Despacho: Ato administrativo por meio do qual as autoridades públicas proferem decisões acerca de
determinadas situações específicas, de sua responsabilidade funcional.
VI – Ofícios: Ato emanado para garantir a comunicação entre autoridades públicas ou entre estas e
particulares, destinadas a comunicações externas.
273
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
I – Autorização: Ato discricionário e precário por meio do qual a Administração autoriza o uso de bem público
por um particular de forma anormal ou privativa, no interesse eminentemente do beneficiário. Podem ser:
● Autorização de uso de bem público: Para uso anormal e privativo de determinado bem
público por um particular, quando não viola o interesse coletivo de utilização normal deste
bem. Para uso normal, não precisa de autorização.
● Autorização de Polícia: Necessário para que o particular exerça atividades fiscalizadas pelo
Estado.
● Autorização de Serviço Público: Também
5700 consiste em ato administrativo unilateral e
precário, pelo qual a Administração autoriza a prestação de serviço público a particular.
II – Permissão: Ato unilateral, discricionário e precário e é veiculada para conceder ao particular o uso de
determinado bem público de forma anormal ou privativa. É ato que faculta a utilização privativa de bem
público, no qual a administração autolimita o seu poder de revogar unilateralmente o ato.
5700
AUTORIZAÇÃO X PERMISSÃO
A) Doutrina Tradicional:
● Autorização de uso: Ato adequado para o uso de bem público em situações mais transitórias, como
no caso de fechar uma rua para festa ocasional.
● Permissão: Caráter mais permanente ou duradouro que a autorização. Ex: Banca de Revistas a ser
colocada em determinada calçada.
B) Doutrina Moderna:
274
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Em determinadas situações, a permissão de uso é concedida por prazo determinado, situação na qual
estará mitigada a precariedade, sendo impedido o Poder Público de revogar esse ato sem a devida
indenização ao particular beneficiado.
ATENÇÃO!!! Não confundir a permissão aqui estudada com a permissão de serviço público. Esta, de acordo
com o art. 40 da Lei nº 8.987/95, consiste em um CONTRATO DE ADESÃO.
III – Licença: Ato de polícia através do qual o Poder Público permite a realização de determinada atividade
sujeita à fiscalização do Estado.
É ato vinculado, e caso o particular preencha os requisitos legais, adquire o direito subjetivo à
concessão da licença para o exercício de atividade profissional.
A licença é ato vinculado e NÃO pode ser revogada nem pela administração, nem pelo judiciário.
5700
ATENÇÃO:
O alvará é o instrumento da licença ou da autorização, sendo a FORMA (revestimento exterior do
ato), enquanto a licença e autorização são conteúdo do ato.
● Licença: Conteúdo.
● Alvará: Forma.
Se for licença para construção e reforma, a jurisprudência entende ser possível a sua revogação,
desde que justificada por razões de interesse público superveniente, caso em que o ente estatal deverá
indenizar o particular pelos prejuízos comprovados.
IV – Admissão: Ato unilateral e vinculado pelo qual o poder público permite que o particular usufrua de
determinado serviço público, mediante a inclusão em um estabelecimento público. Ex: admissão em
hospitais públicos.
V – Aprovação: Ato administrativo discricionário para o controle da atividade administrativa, com base na
legalidade de ato anterior, além dos critérios de oportunidade e conveniência do agente que executou a
conduta.
275
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
VI – Homologação: Ato vinculado de controle de legalidade de ato anteriormente expedido pela própria
Administração Pública, sendo possível haver o controle de mérito na atuação estatal. É ato vinculado e
unilateral pelo qual a administração reconhece a legalidade de um ato jurídico. Se realiza a posteriori e
examina apenas a legalidade.
NÃO produzem efeitos e NÃO podem ser revogados. Certificam ou atestam uma situação existente,
NÃO contendo manifestação de vontade da Administração. Por isso, NÃO produzem efeitos e NÃO podem
ser revogados.
I – Atestado: Quando o Poder Público tem de comprovar, mediante verificação de determinada situação de
fato, para então proferir ato que ateste aquela ocorrência fática.
II – Certidão: É ato por meio do qual a Administração Pública certifica um determinado fato que já se encontra
previamente registrado no Órgão.
5700
III – Apostila ou Averbação: Ato administrativo pelo qual
5700 o ente estatal acrescenta informações constantes
em registro público.
IV – Parecer: Ato administrativo por meio do qual se emite opinião de órgão consultivo do Poder Público
sobre assunto de sua competência, assuntos técnicos ou de natureza jurídica.
O parecer pode ser facultativo, nas situações em que não é obrigatória a sua emissão para a prática
regular do ato administrativo, ou obrigatório, nas hipóteses em que a apresentação do ato opinativo é
indispensável à regularidade do ato, casos em que a ausência do parecer enseja a nulidade do ato por vício
de forma.
Mesmo quando obrigatório, o parecer NÃO tem natureza vinculante, sendo somente ato que
manifesta opinião técnica sobre determinado assunto de interesse da Administração Pública. A conclusão
NÃO obriga a administração pública.
Segundo a autora Maria Sylvia Zanella di Pietro, apesar do parecer ser, em geral, ato meramente
opinativo - não produz efeitos jurídicos - o Supremo Tribunal Federal tem admitido a responsabilização de
consultores jurídicos quando o parecer for vinculante para a autoridade administrativa, desde que proferido
com má-fé ou culpa.
Art. 28, LINDB. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou
opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
276
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
O Decreto nº 9.830/2019 foi mais enfático que o art. 28 da LINDB e afirmou que o agente
público somente responderá em caso de dolo ou erro grosseiro:
Art. 12. O agente público somente poderá ser responsabilizado por suas decisões
ou opiniões técnicas se agir ou se omitir com dolo, direto ou eventual, ou cometer
erro grosseiro, no desempenho de suas funções.
Decreto nº 9.830/2019
Art. 12 (...)
§ 6º A responsabilização pela opinião técnica não se estende de forma automática
ao decisor que a adotou como fundamento de decidir e somente se configurará se
estiverem presentes elementos suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro
grosseiro da opinião técnica ou se houver conluio entre os agentes.
277
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Segundo a doutrina e o voto do Min. Joaquim Barbosa no MS 24.631/DF (DJ 01/02/2008), existem
três espécies de parecer:
Atos por meio dos quais o Poder Público determina a aplicação de sanções em face do cometimento
de infrações administrativas pelos servidores públicos ou particulares.
278
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Ocorre quando o ato já cumpriu todos os efeitos nele dispostos ou pelo advento do termo final ou
prazo ou ainda mediante o esgotamento do conteúdo jurídica desta conduta.
O cumprimento dos efeitos decorre da execução material da situação apresentada no ato
administrativo, ex: término do prazo da construção, a licença para construir se extingue.
Advento do termo final ou da condição resolutiva extingue os atos sujeitos a prazo determinado ou
que dependam da ocorrência de evento futuro e incerto para que deixe de produzir efeitos. Ex: autorização
por porte de armas concedida por 01 ano que se extingue após expirado esse prazo.
Esgotamento do conteúdo jurídico é a extinção natural.
8.2 Renúncia
É forma de extinção que se aplica somente para atos ampliativos, que geram direitos a particulares,
por não ser possível renunciar a obrigações.
8.4 Retirada
Extinção de uma determinada conduta estatal, mediante a edição de ato concreto que a desfaça. É
forma de extinção precoce do ato administrativo.
Para alguns doutrinadores, é chamada de TEORIA DAS NULIDADES.
8.5 Anulação
2) Direito Administrativo
279
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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a) Teoria Monista: NÃO é possível reconhecer atos anuláveis. Qualquer ilegalidade é causa
de nulidade (Hely Lopes Meireles).
b) Teoria Dualista: Há atos anuláveis e nulos (Oswaldo Aranha Bandeira de Melo).
c) Teoria Ternária: Há atos nulos, anuláveis e irregulares (Miguel Seabra Fagundes).
d) Teoria Quaternária (majoritária): Os atos podem ser inexistentes, nulos, anuláveis e
irregulares (Celso Antônio Bandeira de Melo).
É a retirada do ato administrativo por motivo de ilegalidade, operando efeitos ex-tunc, ressalvados
os direitos adquiridos de terceiros de boa-fé. 5700
Súmula 633, STJ - A Lei n. 9.784/1999, especialmente no que diz respeito ao prazo
decadencial para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração
Pública federal, pode ser aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios,
se inexistente norma local e específica que regule a matéria.
ATENÇÃO! STF decidiu recentemente que, em regra, o prazo decadencial para que a Administração
Pública anule atos administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do
princípio da isonomia. Trata-se, assim, de uma inconstitucionalidade MATERIAL e não formal:
280
NÚCLEO DURO
TURMA 9
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Pública estadual. STF. Plenário. ADI 6019/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12/4/2021 (Info 1012).
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCPR 2021): É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10 anos para
anulação de atos administrativos reputados inválidos pela Administração Pública estadual (item considerado
correto).
NÃO existe direito adquirido à manutenção de ato nulo no ordenamento jurídico, mas tão somente
a manutenção de determinados efeitos deste ato.
TEORIA QUATERNÁRIA
Os atos expedidos em desconformidade à lei podem ser divididos em 04 espécies:
I. Atos Inexistentes: Estão fora do ordenamento jurídico em virtude da violação a princípios
básicos que norteiam a atuação das pessoas dentro de determinada sociedade.
II. Atos Nulos: Decorre do desrespeito à lei em alguns de seus requisitos, ensejando a
impossibilidade de convalidação por não admitir conserto.
281
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
III. Atos Anuláveis: Possuem vícios leves passíveis de convalidação, não obstante editados em
desacordo com a legislação aplicável.
IV. Atos Irregulares: Sofrem vício material irrelevante, não ensejando a nulidade, mas
responsabilizando o agente público que o praticou. Esse vício NÃO atinge a esfera jurídica
dos destinatários do ato.
Para o STF a Administração pode anular seus próprios atos, quando ilegais (autotutela). Porém, se a
invalidação desses atos repercute em interesses individuais, será necessária a instauração de procedimento
administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa.
TEORIA DA APARÊNCIA: A nomeação de servidor sem concurso público é nula, mas os atos
praticados são válidos, em atenção ao princípio da segurança jurídica. Ademais, não há devolução dos
salários, sob pena de enriquecimento ilícito da Administração Pública. Embora o ato administrativo não
produza efeitos, os direitos adquiridos por terceiros de boa-fé são resguardados, não podendo ser atingidos
pela anulação de ato que ensejava benefícios aos seus destinatários. A anulação poderá ser feita pela própria
Administração pública ou pelo Poder Judiciário.
O Poder Judiciário, além da própria Administração, também pode anular os atos administrativos com
vícios de ilegalidade, desde que o faça mediante provocação,
5700 possuindo a administração o prazo decadencial
de 05 (cinco) anos para anular atos administrativos ampliativos, salvo no caso de má-fé do beneficiário.
Fundamenta-se no poder de autotutela e no princípio da legalidade, quando realizada pela
Administração; e decorre do controle externo sobre a atividade administrativa, quando realizada pelo
Judiciário.
Na anulação, NÃO há o efeito repristinatório.
Em regra, NÃO há dever de indenizar, exceto se o particular comprovadamente sofreu dano especial
para a ocorrência do qual não tenha colaborado
5700
Se o interesse público exigir, o ato administrativo pode ser convalidado em razão da oportunidade
e conveniência, desde que:
i. a convalidação NÃO cause prejuízos a terceiros;
ii. o vício for sanável.
282
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Obs.: José dos Santos admite convalidação de ato com vício no objeto, motivo ou finalidade quando se
tratar de ato plúrimo (vontade administrativa se preordenar a mais de uma providência no mesmo ato,
tornando viável suprimir ou alterar alguma providência e aproveitar o ato quanto às demais providências,
não atingidas por qualquer vício).
Os vícios de forma e competência devem ser corrigidos, se for mais interessante ao interesse
público e causar menos prejuízo do que a sua anulação, inclusive para terceiros. Nesses casos, a
convalidação opera efeitos ex tunc, retroagindo à data de edição do ato para que sejam resguardados os
efeitos pretéritos desta conduta.
Obs.: Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a convalidação pode ser realizada pelo administrado quando a
edição do ato dependia da manifestação de sua vontade e a exigência não foi observada. Nesse caso, o
particular pode emiti-la posteriormente, convalidando o ato.
RATIFICAÇÃO: Se a convalidação for feita pela mesma autoridade que havia praticado o ato
originariamente.
CONFIRMAÇÃO: Quando a convalidação é efetivada por ato de outra autoridade.
REFORMA: Edição de um ato que exclui a parte inválida do ato viciado, mantendo a parte válida.
A convalidação NÃO se aplica aos casos de atos discricionários que sofram vício de incompetência,
haja vista que nesses casos a autoridade deva exercer uma margem de escolha acerca da manutenção ou
não do ato.
5700
283
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Obs.: Para o professor Rafael Oliveira, a convalidação se divide em Ratificação, Reforma e Conversão,
conceituadas da seguinte forma: 5700
ATENÇÃO: 5700
8.6 Revogação
TURMA 9
SEMANA 03/16
285
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCPR 2021): Em caso de flagrante ilegalidade do ato administrativo, é dado ao Poder Judiciário
determinar à Administração Pública que proceda à revogação de tal ato (item considerado incorreto).
Ocorre quando o beneficiário do ato deixa de cumprir os requisitos de quando teve o ato deferido. É
hipótese de ilegalidade superveniente por culpa do beneficiário.
8.8 Caducidade
UMA NORMA JURÍDICA PROÍBE O ATO. Trata-se da extinção do ato administrativo por lei
superveniente que impede a manutenção do ato inicialmente válido. Trata-se de ilegalidade superveniente
decorrente de alteração legislativa.
Obs: Não confundir com caducidade do contrato que ocorre pela inadimplência do concessionário dos
serviços públicos.
É UM NOVO ATO CONTRÁRIO, incompatibilidade material com ato administrativo. Ocorre com a
expedição de um segundo ato, fundado em competência diversa, cujos efeitos são contrapostos aos do ato
inicial, produzindo sua extinção. É espécie de revogação praticada por autoridade distinta da que expediu o
ato inicial. Exemplo: ato de nomeação de um funcionário extinto com a exoneração.
286
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
A estabilização é instituto criado para garantir a preservação da boa-fé e segurança jurídica. Nesse
5700
sentido, nenhum princípio poderá ser considerado de forma absoluta, inclusive a legalidade, que deve
admitir ponderação para a garantia dos demais princípios.
Em determinadas situações, a retirada do ato com efeito retroativos, ante a uma ilegalidade, enseja
prejuízos aos cidadãos de boa-fé, razão pela qual em algumas situações devem ser mantidos os efeitos
produzidos pelo ato ou, ainda, o próprio ato deve ser mantido no ordenamento jurídico em que pese a sua
ilegalidade.
No instituto da estabilização dos efeitos, não há convalidação do ato administrativo, não havendo
conserto dos seus vícios. O ato continua com os vícios que levariam à sua invalidação, mas por questão de
segurança jurídica e boa-fé, ele permanece aplicável no ordenamento jurídico e seus efeitos se estabilizam.
O que ocorre com a estabilização é que tais efeitos passam a ser vistos como se decorrentes de ato
legal fossem. Ex: TEORIA DO FUNCIONÁRIO DE FATO (São válidos os efeitos dos atos praticados por agentes
públicos regularmente investidos, por se revestirem de aparência de legalidade) e a MODULAÇÃO DOS
EFEITOS EM ADI.
Em algumas situações, a estabilização de efeitos decorre do decurso do tempo, consolidando uma
legítima expectativa aos destinatários do ato. 5700
Na estabilização é preciso que a retirada do ato comprometa outros princípios de ordem jurídica, causando
prejuízos sérios que justifiquem a manutenção da situação.
287
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Referências bibliográficas:
Rafael Carvalho Rezende Oliveira. Curso de Direito Administrativo
Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo
Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Curso de Direito Administrativo.
José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito Administrativo.
5700
5700
288
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
5700
1. INTRODUÇÃO
289
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Em face disto, os poderes da administração só serão legítimos enquanto busca alcançar o interesse
coletivo, de modo que, se extrapolar o caráter da instrumentalidade, ocorrerá o chamado ABUSO DE PODER.
Segundo Matheus Carvalho, “o abuso de poder pode decorrer de condutas comissivas – quando o
ato administrativo é praticado fora dos limites legalmente impostos – ou de condutas omissivas – situações
nas quais o agente público deixa de exercer uma atividade imposta a ele por lei, ou seja, quando se omite no
exercício de seus deveres. Em ambos os casos, o abuso de poder configura ilicitude que atinge o ato dele
decorrente.” (CARVALHO, 2017, p. 120)
● Excesso de Poder: A autoridade pública atua fora dos limites de sua competência - VÍCIO DE
COMPETÊNCIA.
● Desvio de Poder: O agente público visa interesses individuais OU a autoridade busca o interesse
público, mas NÃO respeita a finalidade da lei para determinado ato - VÍCIO NA FINALIDADE.
Segundo Matheus Carvalho, o desvio de poder pode manifestar-se em duas situações (CARVALHO,
2017, p. 121):
I- O agente público pratica um ato visando interesses individuais, de caráter
pessoal, sem atentar para o interesse público. Nesse caso, há clara violação do
princípio da impessoalidade;
II- A autoridade pública pratica o ato respeitando a busca pelo interesse público,
mas não respeitando a finalidade especificada por lei para aquele determinado ato.
Exemplo: a exoneração é a perda do cargo de um servidor sem finalidade punitiva,
enquanto a demissão tem essa finalidade. Não é lícito ao administrador exonerar
um servidor subordinado que cometeu infração, porque foi desrespeitada a
finalidade legal para a prática do ato.
Assim, seja em decorrência de excesso ou desvio de finalidade, o abuso de poder ensejará a nulidade
do ato administrativo.
Vamos esquematizar?
290
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
ABUSO DE PODER
CAIU EM PROVA: (Delegado de PCMS 2021): A respeito do controle judicial da atividade administrativa,
assinale a alternativa correta.
Tem-se o abuso de poder todas as vezes que a autoridade pública pratica um ato extrapolando a competência
legal ou visando a uma finalidade diversa daquela estipulada pela legislação. Ainda, o abuso de poder pode
decorrer de condutas comissivas ou omissivas, implicando na nulidade do ato administrativo (item
considerado correto). 5700
Está presente quando a lei estabelece uma única solução possível diante de uma situação de fato,
fixando todos os requisitos e não deixando margem
5700 de apreciação subjetiva.
Assim no Poder Vinculado, não há margem de escolha no caso concreto, pois todos os elementos do
ato administrativo são vinculados.
Por exemplo, o agente público que faltar mais 30 dias no serviço ensejará na demissão. Assim, se o
agente público falta 30 dias não será demitido, todavia, se faltar mais de 30 não poderá deixar de ser
demitido, pois o critério definido em lei é objetivo, é vinculado.
291
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Nesse caso, o administrador também está subordinado à lei, porém, há situações nas quais o próprio
texto legal confere margem de opção/discricionariedade ao administrador, e esse tem o encargo de
identificar a solução mais adequada para defender o interesse público.
Denota-se que existe uma margem de escolha, que deverá ocorrer dentro dos limites da lei, tendo
como parâmetro o mérito administrativo – a escolha será feita com base na oportunidade e conveniência.
Em outras palavras: essa margem de escolha conferida ao agente público é denominada de mérito
(conveniência e oportunidade). Deve atender ao princípio da razoabilidade e proporcionalidade.
É possível verificar a atuação discricionária na aplicação de lei que utilize conceitos jurídicos
indeterminados. Se, para a delimitação do conceito, houver necessidade de apreciação subjetiva/valoração,
segundo conceitos de valor, haverá discricionariedade. Por exemplo, a expressão “passeata tumultuosa” é
um conceito jurídico vago. Deste modo, cada administrador no caso concreto deverá observar se aquela
passeata é tumultuosa. Outro exemplo que podemos citar é o poder que a Administração Pública possui de
fechar espetáculos pornográficos. Nessa esteira, o conceito de pornografia é indeterminado.
Obs.1: A redação legal ultrapassada ou insatisfatória não enseja discricionariedade, mas mera interpretação
(CARVALHO, 2017, p. 123).
Obs.2: Diferença entre poder discricionário e poder arbitrário: “discricionariedade é liberdade de ação
administrativa, dentro dos limites permitidos em lei; arbítrio é ação contrária ou excedente da lei. Ato
discricionário, quando autorizado é legal e válido; ato arbitrário é sempre ilegítimo e inválido” (MEIRELLES,
2013, p. 127).
Elementos dos atos administrativos que podem ser discricionários: MOTIVO e CONTEÚDO/OBJETO.
Obs.3: Maria Sylvia Zanella Di Pietro considera que o elemento FORMA também pode ser discricionário no
caso de a lei prever mais de uma forma possível para praticar o mesmo ato. Além disso, também considera
292
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
que a FINALIDADE pode ser discricionária se considerada em sentido amplo (correspondendo ao interesse
público), mas nunca se considerada em sentido restrito (resultado específico do ato que decorre da lei)
(PIETRO, 2018, p. 294).
5700
2.3 Limites da discricionariedade e controle judicial
O controle feito pelo Judiciário sob os atos administrativos limitar-se-á à análise da sua legitimidade,
ou seja, verificar se aquele ato foi praticado dentro dos limites da lei (controle de legalidade).
Assim, em relação aos atos vinculados, o Poder Judiciário poderá examinar, em todos os seus
aspectos, a conformidade do ato com a lei. Por outro lado, quanto aos atos discricionários, o controle judicial
somente é possível quanto aos aspectos da legalidade, de modo que não pode haver interferência no
mérito administrativo. Não pode adentrar na conveniência e oportunidade, mas somente verificar se está
de acordo com a lei.
Obs.: No caso da discricionariedade proveniente dos conceitos jurídicos indeterminados, o limite do mérito
para fins de averiguação de sua legitimidade é o princípio da razoabilidade e proporcionalidade. Isto porque,
o princípio da razoabilidade é princípio constitucional, e se ele viola o referido, ele é ilícito
(ilicitude/ilegitimidade). Atente-te para o fato que, no exercício do controle, o Judiciário deverá restringir-se
à declaração da ilegalidade daquele ato, não devendo/podendo fazer substituir-se pela Administração.
Teorias elaboradas para fixar limites ao exercício do poder discricionário (PIETRO, 2018, p. 300):
293
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
(1) Teoria do desvio de poder: o desvio ocorre quando a autoridade usa do poder discricionário para
atingir fim diferente daquele que a lei fixou. Quando isso ocorre, fica o Judiciário autorizado a
decretar a nulidade do ato;
(2) Teoria dos motivos determinantes: quando a Administração indica os motivos que a levaram a
praticar o ato, este somente será válido se os motivos forem verdadeiros. Para apreciar esse aspecto,
o Judiciário terá que examinar os motivos, ou seja, os pressupostos de fato e as provas de sua
ocorrência.
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCMS 2021): A respeito do controle judicial da atividade administrativa, assinale a alternativa
correta.
A discricionariedade pode estar presente tanto no momento da prática quanto no da revogação do ato
administrativo (item considerado correto).
Na atuação discricionária, o agente público não está subordinado aos limites impostos pela lei, pois lhe é
conferida ampla margem de atuação, sempre em busca da solução que melhor atenda ao interesse público
(item considerado incorreto).
294
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
3. PODERES EM ESPÉCIE
5700
É a prerrogativa reconhecida à Administração Pública para editar atos administrativos gerais para a
fiel execução das leis. Contudo, esse poder vai além da edição de regulamentos, pois abarca outros atos
normativos, como deliberações, instruções, resoluções.
No exercício do poder regulamentar, o Estado não inova no Ordenamento Jurídico, criando direitos
e obrigações, o que a Administração faz é expedir normas que irão assegurar a fiel execução da lei, sendo
esta última inferior.
Seu fundamento para a competência do Presidente encontra-se no art. 84, IV, da CF/88 estende-se,
por simetria, a Governadores e Prefeitos.
O Poder Normativo é uma consequência do caráter relativo do princípio da separação dos poderes
que, segundo a doutrina do checks and balances, permite a cada Poder o exercício de funções atípicas de
forma a controlar o outro Poder.
Segundo Rafael Oliveira, “o poder normativo da Administração Pública pode ser exercido
basicamente por meio da delegação legislativa ou do próprio poder regulamentar. Enquanto a delegação
legislativa possibilita a prática de ato normativo primário, com força de lei (ex.: medidas provisórias e leis
delegadas, previstas, respectivamente, nos arts. 62 e 68 da CRFB), o poder regulamentar encerra uma
atividade administrativa, de cunho secundário.” (OLIVEIRA, 2018, p. 313).
Espécies de Regulamentos:
295
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
a) Regulamentos Executivos:
● O regulamento executivo é norma geral e abstrata. É geral porque não tem destinatários
determinados ou determináveis, atingindo quaisquer pessoas que se ponham nas situações
reguladas; é abstrata porque dispõe sobre hipóteses que, se e quando verificadas no mundo
concreto, gerarão as consequências abstratamente previstas;
5700
b) Regulamentos Autônomos:
● O regulamento executivo não se presta a detalhar a lei, mas sim substituem a Lei;
● Os regulamentos autônomos podem inovar no5700Ordenamento Jurídico;
● São considerados atos normativos primários, pois retiram sua força diretamente da Constituição e
não se submetem à intermediação legislativa.
“Os regulamentos autônomos são regulamentos que atuam substituindo a lei e têm
o condão de inovar o ordenamento jurídico, determinando normas sobre matérias
não disciplinadas em lei. São substitutos da lei e não facilitadores da lei, uma vez
que são expedidos sem contemplar qualquer lei anterior.”
TURMA 9
SEMANA 03/16
Vamos esquematizar?
REGULAMENTOS EXECUTIVOS REGULAMENTOS AUTÔNOMOS
Explicita a lei para a sua fiel execução. Trata de questão ainda não prevista em lei.
Art. 84, IV da CF. Art. 84,VI da CF – alterado com o advento da EC de 32.
297
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Obs.1: Cuidado para não confundir Poder Regulamentar com Poder Regulatório!
PODER REGULAMENTAR PODER REGULATÓRIO
Competência privativa do chefe do executivo; Competência atribuída às entidades
administrativas, com destaque para as agências
reguladoras;
Envolve a edição de normas gerais para fiel Engloba o exercício de atividades normativas,
cumprimento da lei; executivas e judicantes;
Atenção à jurisprudência:
Deslegalização
Consiste na possibilidade do Poder Legislativo, através de lei, transferir para a Administração Pública a
competência para editar normas sobre assuntos cuja complexidade e velocidade de transformação exigem
uma nova dinâmica normativa, que possibilita inclusive, o exercício de discricionariedade técnica. A questão
deixa de ser tratada pela lei e passa a ser tratada pelo ato administrativo.
Com efeito, consiste a deslegalização “na retirada, pelo próprio legislador, de certas matérias, do domínio da
lei (domaine de la loi) passando-as ao domínio do regulamento (domaine de lordonnance)” (MOREIRA NETO,
Diogo de Figueiredo. Agências reguladoras, In: Mutações do direito administrativo, Rio de Janeiro: Ed.
5700
Renovar, 2007, p. 218)
Considerações importantes:
● O STF admite, desde que ocorra dentro dos parâmetros estabelecidos na lei.
● A lei que promove a deslegalização deve definir os parâmetros dentro dos quais a administração
deve atuar.
● A deslegalização surge como instrumento de atuação para as agências reguladoras.
298
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
É poder de estruturação5700
interna da atividade pública (dentro da mesma pessoa jurídica), de modo
que NÃO existe manifestação de hierarquia externa. Não se pode falar em hierarquia entre pessoas jurídicas
de órgãos diferentes.
Trata-se, portanto, de relação de subordinação administrativa entre agentes públicos, que pressupõe
o escalonamento vertical de funções no interior da organização administrativa. Ou seja, é o poder de
distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo
a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal.
Verbos: ordenar, fiscalizar, orientar, avocar, delegar, anular, sustar.
5700
Subordinação e vinculação
No âmbito da organização administrativa, existem relações de subordinação e de vinculação que não
se confundem. A relação de subordinação decorre naturalmente da hierarquia existente no interior dos
órgãos e das entidades administrativas, pois há hierarquia em toda e qualquer desconcentração
administrativa, seja entre órgãos da Administração Direta, seja no interior de determinada entidade da
Administração Indireta. Portanto, a subordinação tem caráter interno, não havendo que falar em
subordinação nas relações interadministrativas.
Por outro lado, a relação de vinculação é encontrada entre entidades da Administração Indireta e os
respectivos entes federados. Entre pessoas jurídicas distintas, em razão da autonomia dessas entidades.
Assim, não existe hierarquia, mas apenas os controles previstos expressamente a legislação (vinculação).
Trata-se de relação externa, envolvendo pessoas jurídicas dotadas de personalidade jurídica própria e
autonomia.
Em resumo: não existe hierarquia entre a Administração Direta e as entidades componentes da
Administração Indireta (existe controle ministerial/finalístico/tutela). O poder hierárquico também não é
exercido sobre os órgãos consultivos.
Caiu em prova CESPE 2022! O controle da administração indireta distingue-se do poder hierárquico pela
natureza dos entes sobre os quais é exercido. (item correto) Controle Hierárquico: Mesma pessoa jurídica.
Controle Finalístico/Tutela Administrativa/Supervisão Ministerial: Administração Direta sobre a Indireta.
299
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Os órgãos administrativos consultivos, embora incluídos na hierarquia administrativa para fins disciplinares,
fogem à relação hierárquica.
O poder hierárquico confere uma série de prerrogativas aos agentes públicos hierarquicamente
superiores em relação aos seus respectivos subordinados, a saber:
● Ordens, a serem cumpridas por todos os subordinados;
● Controle ou fiscalização; verificação do cumprimento por parte dos subordinados das ordens
administrativas e das normas vigentes;
● Alteração de competências via delegação ou avocação;
● Rever atos praticados pelos subordinados para anulá-los, quando ilegais, ou revogá-los por
conveniência e oportunidade, nos termos da respectiva legislação;
● Resolução de conflitos de atribuições: prerrogativa de resolver, na esfera administrativa, conflitos
positivos ou negativos de atribuições
5700 dos órgãos e agentes subordinados;
a) Delegação: A delegação de atribuições, uma das manifestações do poder hierárquico, é o ato de conferir
a outro servidor atribuições que, originalmente, eram de competência da autoridade delegante.
● Extensão de atribuições de um órgão a outro de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior.
● O ato de delegação de competência, revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante, decorre
do poder hierárquico, mas não precisa ser hierarquicamente subordinado.
● Cláusula de Reserva: O agente delegante NÃO perde a competência delegada.
● MS: Autoridade competente → Agente que praticou (Súmula 510 STF).
Com base nessa orientação, no julgamento do MS 24.732 MC/DF, o STF decidiu que
o foro da autoridade delegante não se transmite a autoridade delegada. Assim, se
o ato foi praticado pela autoridade delegada, qualquer medida judicial proposta
contra este ato deverá respeitar o foro da autoridade delegada (Ricardo Alexandre,
2019).
300
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
5700
É importante a leitura dos artigos 11 a 17 da Lei nº 9784/99, pois muitas vezes as provas cobram a
literalidade dos artigos:
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a
que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente
admitidos
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em
razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de
competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial.
301
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
TURMA 9
SEMANA 03/16
Considerações importantes:
● As sanções NÃO podem ser aplicadas a particulares, devendo existir um vínculo de natureza especial.
● É um poder interno, não permanente e discricionário. Na verdade, é vinculado quanto ao dever de
punir e discricionário quanto à seleção da pena aplicável.
ATENÇÃO!!! Súmula 650-STJ: A autoridade administrativa não dispõe de discricionariedade para
aplicar ao servidor pena diversa de demissão quando caracterizadas as hipóteses previstas no art.
132 da Lei nº 8.112/90. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/09/2021.
● A aplicação de qualquer uma dessas penalidades exige instauração de prévio processo administrativo
com garantia de contraditório e ampla defesa, sob pena de nulidade da punição.
● O Poder Disciplinar pode decorrer do Poder Hierárquico, haja vista tratar-se a hierarquia de uma
espécie de vinculação especial, mas também
5700
pode decorrer dos contratos celebrados pela
Administração Pública, sejam regidos pelo direito público ou pelo direito privado.
● É um poder interno, sancionatório, por meio do qual a administração pública pode aplicar sanção às
pessoas a este vinculado.
O poder disciplinar é um poder sancionatório, mas nem toda sanção configura poder disciplinar, visto que o
poder disciplinar decorre da existência de um vínculo especial entre o Estado e o sujeito que está sendo
punido, do contrário estará diante da manifestação do poder de polícia. Logo: Estado punindo pessoas
vinculadas a ele é manifestação do poder disciplinar, por outro lado, já o Estado punindo particulares não
vinculados é manifestação do poder de polícia.
Ex. sanção aplicada ao servidor público (vínculo específico) → poder disciplinar.
Ex. aplicação de multa ao particular → (sem vínculo) manifestação do poder de polícia.
303
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
STF: É impossível substituir o mérito administrativo pelo Poder Judiciário, estando o controle limitado à
legalidade das sanções aplicadas.
ATENÇÃO: É lição comum na doutrina que o poder disciplinar é exercido de forma discricionária. A afirmação
deve ser analisada com bastante cuidado no que concerne ao seu alcance. Caso o indivíduo sob disciplina
administrativa cometa infração, não restará qualquer opção ao gestor senão aplicar-lhe a penalidade
legalmente prevista, ou seja, a aplicação da pena é ato vinculado. A discricionariedade, quando existente, é
relativa à graduação da penalidade ou à escolha entre as sanções legalmente cabíveis, uma vez que no
direito administrativo não predomina o princípio da pena específica (que corresponde à necessidade de
prévia definição em lei da infração funcional e da exata sanção cabível).
Se a conduta praticada pelo servidor se enquadrar em um dos incisos do art. 132 da Lei nº 8.112/90, a
autoridade tem o dever de aplicar a pena de demissão,5700
não havendo discricionaridade (“liberdade”) para que
se comine sanção diversa.
Configurada hipótese do art. 132 da Lei nº 8.112/90, o administrador não tem qualquer margem de
discricionariedade na aplicação da pena, tratando-se de ato plenamente vinculado. O art. 132
é taxativo quanto à incidência da pena de demissão, não podendo ser afastada a penalidade por razões de
proporcionalidade e razoabilidade.
a) Conceito: O poder de polícia consiste na prerrogativa que tem o Estado de restringir, frenar, limitar a
atuação do particular em razão do interesse público. É fruto da compatibilização do interesse público em
face do privado.
Tenha em mente que o poder de polícia não é um poder interno, decorre da supremacia do interesse
público, não dependendo para sua manifestação de nenhum vínculo especial (ao contrário do que exige o
poder disciplinar).
TURMA 9
SEMANA 03/16
CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): No exercício do poder de polícia, o município poderá
estabelecer os horários de funcionamento dos estabelecimentos comerciais situados em seu território –
5700
b) Natureza dos Atos: É poder negativo, mas em alguns casos também é positivo. Ex: Exigência para o
proprietário conferir função social à propriedade.
Podemos citar alguns exemplos que demonstram a dimensão da multiplicidade de situações em que
o poder de polícia é empregado:
✔ Apreensão de mercadoria estragada em depósito alimentício;
✔ Suspensão de atividades lesivas ao meio ambiente;
✔ Fiscalização exercida sobre pessoas físicas ou jurídicas pelos conselhos de fiscalização profissional;
5700
305
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
5700
CAIU EM PROVA: (Delegado de PCRJ 2022): Conforme art. 144, § 4.º, da CF, “às polícias civis, dirigidas
por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”. Em face desse dispositivo e do regime
jurídico do poder de polícia, é correto afirmar que delegados
5700 de Polícia de carreira podem exercer polícia
administrativa (item considerado correto).
(Delegado de PCGO 2022): A Polícia Judiciária, embora seja atividade administrativa, prepara a atuação
da função jurisdicional, enquanto a Polícia Administrativa, de caráter mais fiscalizador, é atividade da
Administração que se exaure em si mesma (item considerado correto).
Vamos esquematizar?
POLÍCIA JUDICIÁRIA X POLÍCIA ADMINISTRATIVA
JUDICIÁRIA ● Não se exaure em si mesma;
Incide sobre as pessoas, trata de infrações ● Incide sobre os próprios indivíduos;
criminais. ● Predominantemente repressiva.
306
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
* Inicialmente, entendia-se que essas relações de sujeição especial ficavam excluídas do Direito, sendo
5700
desnecessário observar o devido processo legal. A doutrina moderna entende que se aplica o princípio da
legalidade a tais relações, mas de forma mais flexível, reconhecendo-se maior liberdade à atuação
administrativa.
* A distinção entre supremacia geral e especial é usada para definir poder de polícia (geral) e disciplinar
(especial).
5700
(1) ORDEM DE POLÍCIA: é o preceito legal básico que dá validade à limitação prevista, para que não se
pratique ato que lesionará o interesse público ou para que não deixe de fazer algo que evitará a lesão
ao interesse público. Ex: Código de Trânsito Brasileiro que contém normas genéricas e abstratas para
a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação.
(2) CONSENTIMENTO DE POLÍCIA: é o ato administrativo que confere anuência ao exercício de atividade
ou ao uso de propriedade.
Pode ser:
⋅ Licença: ato vinculado;
⋅ Autorização: ato discricionário.
307
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
▪ Licença ou autorização por operação: O ato se esgota com a sua emissão, sem estabelecer relação
jurídica permanente entre particular e Estado. Ex: Licença para construir edifício;
▪ Licença ou autorização operativa (ou de funcionamento): estabelece relação jurídica especial e
duradoura entre o particular e o Estado. Ex: Emissão da carteira corporifica a vontade o Poder
Público.
(3) FISCALIZAÇÃO DE POLÍCIA: é a verificação se as ordens de polícia estão sendo cumpridas (se não
está sendo exercida uma atividade vedada ou se uma atividade consentida está sendo executada
dentro dos limites estabelecidos). Ex: Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar
se há respeito à velocidade estabelecida em lei.
(4) SANÇÃO DE POLÍCIA: é a fase em que, verificada afronta à ordem de polícia, é aplicada a pena de
polícia. Ex: aplicação das multas de trânsito.
Obs.: LEGISLAÇÃO (ORDEM DE POLÍCIA) e FISCALIZAÇÃO são as únicas fases que sempre existirão num ciclo
de polícia; O CONSENTIMENTO nem sempre estará presente, pois há atos que, embora sem consentimento,
são aplicados por previsão legal.
5700
5700
O Poder de Polícia é considerado atividade típica de Estado e, portanto, somente pode ser exercido pelas
pessoas jurídicas de direitos público componentes da Administração Direta ou da Administração Indireta.
Nesse sentido, para o STJ e doutrina amplamente majoritária, as atividades de ordem de polícia e de
aplicação de sanções derivam de indiscutível poder coercitivo do Estado e, justamente por isso, NÃO
poderiam ser delegadas a pessoas jurídicas de direito privado. Por outro lado, as atividades de
consentimento e fiscalização (2º e 3º ciclos do Poder de Polícia) seriam compatíveis com a natureza de uma
sociedade de economia mista, sendo, em tese, passíveis de delegação.
No entanto, embora a doutrina seja praticamente uníssona no sentido de que somente os ciclos de
fiscalização e consentimento do Poder de Polícia podem ser delegados às pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública, em entendimento do Plenário do STF, no bojo (RE) 633782, com
repercussão geral reconhecida (Tema 532), a Corte fixou a seguinte tese: “É constitucional a delegação do
poder de polícia, por meio de lei, à pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração
308
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de
atuação própria do Estado e em regime não concorrencial”.
Nesse sentido, para o STF, além da fiscalização e do consentimento, no âmbito do ciclo de polícia, a
sanção também poderia ser delegada!
Fique atento, pois esta decisão vai de encontro ao entendimento consolidado do STJ e da doutrina,
motivo pelo qual certamente será cobrado em prova!
309
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
STF: É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, à pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial, inclusive quanto
à aplicação de SANÇÃO.
Rafael Oliveira entende possível a delegação a particulares, desde que respeitados os seguintes requisitos:
i. Exercida preponderantemente por entidades de direito público e, excepcionalmente, por entidades de
direito privado.
ii. Princípio da5700
legalidade (juridicidade): a delegação deve ser por norma constitucional ou legal, que deve
fixar o exercício e limites para a função delegada;
iii. Conteúdo da delegação: apenas podem ser delegadas atividades instrumentais ou técnicas, sendo
vedada a transferência regular das atividades punitivas ou vinculadas à soberania;
iv. Obediência à razoabilidade e proporcionalidade;
v. Respeitar direitos e garantias dos administrados.
310
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
No julgamento, o STF afastou todos os pilares acima, de modo a permitir a delegação do Poder de Polícia para
as Pessoas Jurídicas de Direito Privado nos moldes fixados na tese de repercussão geral, como se vê a partir de
agora.
(i) ausência de autorização constitucional;
Não se sustenta a lógica da indelegabilidade por ausência de permissivo constitucional. É que o regime jurídico
híbrido das estatais prestadoras de serviço público em regime de monopólio é plenamente compatível com a
delegação, nos mesmos termos em que se admite a constitucionalidade do exercício delegado de atividade de
polícia por entidades de regime jurídico de direito público.
[...] tem-se como possível o exercício de uma função de Estado (poder de polícia) por uma pessoa jurídica
integrante da Administração Pública indireta prestadora de serviço público.
As estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado não exploram atividade econômica em
regime de concorrência. A razão é óbvia: a atuação típica do Estado não se dirige precipuamente ao lucro. É
dizer, se a entidade exerce função pública típica, a obtenção de lucro não é o seu fim principal.
A possibilidade de ocorrem abusos de poder no exercício do poder de polícia delegado. É certo que eventuais
abusos não decorrem, exclusivamente, da atuação de pessoas jurídicas de direito privado, mas também de
pessoas jurídicas de direito público. Fato é que os abusos devem ser, constantemente, apurados e reprimidos
pelo Estado, de modo a diminuir a sua incidência.
ATENÇÃO!!! Cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é absolutamente
indelegável: a ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. Os atos de consentimento, de fiscalização e de
aplicação de sanções podem ser delegados a estatais que, à luz do entendimento desta Corte, possam ter um
regime jurídico próximo daquele aplicável à Fazenda Pública.
311
NÚCLEO DURO
TURMA 9
SEMANA 03/16
CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCRJ 2022): Conforme art. 144, § 4.º, da CF, “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares”. Em face desse dispositivo e do regime jurídico do poder de polícia, é
correto afirmar que a polícia judiciária não se confunde com a polícia administrativa, embora ambas
decorram do exercício do poder de império tipicamente estatal, indelegável a entidades privadas (item
considerado incorreto).
Tema relevante: discricionariedade dos atos administrativos e Doutrina Chenery → Por essa teoria, o
Judiciário não pode anular um ato administrativo sob o argumento de que a AP não se valeu da melhor
metodologia técnica. Surgiu do julgamento do caso SEC (CVM americana) x Chenery Corp. pela Suprema
Corte norte-americana. O fundamento para tanto 5700
é que em temas envolvendo questões técnicas e
complexas, os Tribunais
5700não possuem a qualificação necessária para concluir se os critérios adotados pela
AP são corretos ou não. Somente a própria AP é que tem um corpo técnico competente para tanto. Tal
doutrina foi recentemente usada pelo STJ para deferir pedido de suspensão de segurança contra decisão
judicial que havia suspendido o reajuste de tarifas do transporte público (Ag. Int. na SLS 2.240/SP).
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embora a discricionariedade dos atos de polícia seja a regra, em algumas situações o exercício do poder de
polícia é vinculado, não deixando margem para que a autoridade responsável possa fazer qualquer tipo de
opção. A título de exemplo, comparemos os atos de concessão de alvará de licença e de autorização,
respectivamente. No caso do alvará de licença, o ato é vinculado, o que significa que a licença não poderá
ser negada quando o requerente preencher os requisitos legais para sua obtenção. (Direito Administrativo
Esquematizado).
Obs.: Alguns atos de polícia NÃO possuem o atributo, a exemplo da multa que não é adimplida e a respectiva
cobrança ocorre por execução fiscal.
EXECUTORIEDADE X EXIGIBILIDADE
. Executoriedade (executoriedade propriamente dita ou direta): o Administrador utiliza meios diretos de
coerção para implementar a vontade administrativa. 5700
. Exigibilidade (executoriedade indireta): meios indiretos de coerção.
💣 TEMA RELEVANTE: A administração pública possui interesse de agir para tutelar em juízo atos em
que ela poderia atuar com base em seu poder de polícia
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As sanções decorrentes do poder de polícia devem respeitar um prazo prescricional de 5 (cinco) anos.
Neste sentido, a Lei nº 9.873/99, em seu art. 1°, define que:
"Prescreve em cinco anos a ação5700
punitiva da Administração Pública Federal, direta e
indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em
vigor, contados da data da pratica do ato ou, no caso de infração permanente ou
continuada,
5700 do dia em que tiver cessado".
Verifica-se, portanto, que o ente estatal deve respeitar o prazo quinquenal de prescrição para
aplicação de sanções de polícia, tendo início a contagem do prazo com a prática do ato lesivo pelo particular
ou da cessação da conduta continuada que configure infração de caráter permanente, ressalvadas a situação
de o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, uma vez que, nestes casos, a
prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
Se não houver lei estadual ou municipal prevendo o prazo prescricional da sanção de polícia, este
prazo será de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/32.
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do Decreto 20.910/32. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1409267/PR, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 16/03/2017
Ademais, cumpre ressaltar que a legislação prevê a possibilidade de prescrição intercorrente, trienal,
diante da inércia da Administração Pública no julgamento do processo administrativo. Corroborando ao
exposto, dispõe o art. 1°, §1° da Lei nº 9.873/99.
Obs.: Qual é o prazo para aplicação de sanções administrativas pelo Tribunal de Contas da União? De acordo
com o STF, o prazo é quinquenal:
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Nos dizeres de Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, a doutrina tem dividido os meios de atuação da
polícia administrativa em dois grupos: Poder de Polícia Originário e Poder de Polícia Delegado. Conforme os
autores:
● Poder de Polícia Originário: É aquele exercido pelas pessoas políticas do Estado (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios), alcançando os atos administrativos provenientes de tais pessoas;
5700
● Poder de Polícia Delegado: É aquele executado pelas pessoas administrativas do Estado, integrantes
da chamada Administração Indireta. Diz-se delegado porque esse poder é recebido pela entidade
estatal a qual pertence.
Obs.: Considerações sobre a multa de trânsito (sua aplicação decorre do exercício do Poder de Polícia)
● Aplicação da multa: natureza autoexecutória, podendo a Administração impor penalidade
pecuniária ao administrado, sem a necessidade de recorrer ao Judiciário.
● Cobrança da Multa: Acaso NÃO paga no vencimento, a cobrança da multa NÃO é dotada de
autoexecutoriedade, devendo a Administração valer-se de instrumentos próprios para viabilizar a
cobrança.
EM RESUMO: Requisitos para se exigir o pagamento da multa como condição liberatória do veículo:
1) A sanção aplicada deve ter sido a de apreensão e não a de retenção (mais leve);
2) Liberação condicionada ao pagamento5700
de multas já vencidas e regularmente notificadas – É
vencida quando esgotado prazo de defesa, inerte o particular ou após julgamento do recurso
administrativo;
NÃO há prazo máximo para que o veículo permaneça apreendido, mas o proprietário só será responsável
pelas despesas dos primeiros 30 dias de depósito do veículo.
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A Lei não pode estipular um prazo para que o chefe do Poder Executivo faça a sua
regulamentação. Ofende os5700
arts. 2º e 84, II, da Constituição Federal norma de
legislação estadual que estabelece prazo para o chefe do Poder Executivo
apresentar a regulamentação de disposições legais. Exemplo: Art. 9º O Chefe do
Poder Executivo regulamentará a matéria no âmbito da Administração Pública
Estadual no prazo de 90 dias. Essa previsão é inconstitucional. STF. Plenário. ADI
4728/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2021 (Info 1037).
A guarda municipal, por não estar entre os órgãos de segurança pública previstos
no art. 144 da CF, não pode exercer atribuições das polícias civis e militares; a sua
atuação deve se limitar à proteção de bens, serviços e instalações do município.
As guardas municipais não possuem competência para patrulhar supostos pontos
de tráfico de drogas, realizar abordagens e revistas em indivíduos suspeitos da
prática de tal crime ou ainda investigar denúncias anônimas relacionadas ao tráfico
e outros delitos cuja prática não atinja de maneira clara, direta e imediata os bens,
serviços e instalações municipais. A Constituição Federal de 1988 não atribui à
guarda municipal atividades ostensivas típicas de polícia militar ou investigativas de
polícia civil, como se fossem verdadeiras “polícias municipais”. O papel das guardas
municipais é tão somente o de proteção do patrimônio municipal, nele incluídos os
seus bens, serviços e instalações. STJ. 6ª Turma.REsp 1977119-SP, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 16/08/2022 (Info 746).
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7) O PROCON tem competência para aplicar multa à Caixa Econômica Federal CEF
por infração às normas do Código de Defesa do Consumidor, independentemente
da atuação do Banco Central do Brasil.
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Referências Bibliográficas:
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Direito Penal: Teoria Do Crime – Continuação De Fato Típico, Teoria Do Tipo, Iter Criminis, Consumação E
Tentativa, Desistência Voluntária, Arrependimento Eficaz E Arrependimento Posterior, Crime Impossível
5700
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
⦁ Art. 13, caput e §1º, CP (muito, muito, muito importante! Não vá para a prova sem ter este artigo
decorado na ponta da língua!)
⦁ Art. 15 a 17, CP
5700
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TODOS OS ARTIGOS
⦁ Lei 9296/96
⦁ Art. 5º, XII, CF/88
⦁ Art. 3º-A, CPP
⦁ Art. 13-A e 13-B, CPP
⦁ Art. 15, lei 12850/2013
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
5700
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TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 129, I, CF/88
⦁ Art. 3º-A a Art. 3º-F, CPP
⦁ Art. 10, CPP
⦁ Art. 28-A, CPP
⦁ Art. 282, §3º =, CPP
⦁ Art. 395, CPP
⦁ Art. 396 e 396-A, CPP
⦁ Art. 399, CPP
⦁ Art. 400, CPP
⦁ Art. 20, Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha)
⦁ Art. 30 da Lei 13.869/19 (Lei de Abuso de Autoridade)
⦁ Art. 3º-B, CPP. Principais incisos: II, IV, V, VI, VIII, XI, XIV, XVII E XVIII
⦁ Art. 3º-C, CPP. Principalmente o §3º
⦁ Art. 3º-D, CPP.
⦁ Art. 10, CPP
⦁ Art. 396, CPP
⦁ Art. 399, CPP
5700
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CF/88
⦁ Art. 129, I
⦁ Art. 5º, LIX
CPP
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 5º, §4º
⦁ Art. 24 a 68
⦁ Art. 384 e 385
⦁ Art. 395
CPP:
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 24 e 25
⦁ Art. 28 (cuidado com a nova redação trazida pelo Pacote Anticrime que ainda NÃO está produzindo
efeitos!)
5700
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TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 3º do ADCT
⦁ Arts. 1º a 4º da CF/88 → saber na ponta da língua. Despenca em prova;
⦁ Art. 34, CF/88
⦁ Art. 60, CF/88 → saber na ponta da língua. Despenca em prova;
⦁ Arts. 136 e 137, CF/88
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
5700
5700
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SEMANA 03/16
TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 2º da Lei 9784/99
⦁ Art. 11 a 17 da Lei 9784/99
⦁ Art. 18 e 19 da Lei 9784/99
⦁ Art. 22 da Lei 9784/99
⦁ Art. 38, §1º da Lei 9784/99
⦁ Art. 50 da Lei 9784/99
⦁ Art. 84, VI, CF/88
5700
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
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