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SEMANA06

NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 9
DIREITO PENAL: AÇÃO PENAL E CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE ......................................................... 9
1. AÇÃO PENAL ................................................................................................................................................ 10
1.1. Espécies ................................................................................................................................................ 10
1.2 Condições da Ação Penal ...................................................................................................................... 11
1.2.1. Representação do ofendido.......................................................................................................... 12
1.2.2. Requisição do Ministro da Justiça ................................................................................................. 13
1.3. Princípios da Ação Penal Pública .......................................................................................................... 14
1.4. Ação Penal Privada ............................................................................................................................... 14
1.5. Procedimento ....................................................................................................................................... 18
1.6. Denúncia ou Queixa Crime ................................................................................................................... 19
2. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ....................................................................................................................... 24
2.1 Causas de Extinção da Punibilidade ...................................................................................................... 26
2.1.1 Morte do Agente............................................................................................................................ 26
............................................................................ 27
2.1.2 Anistia ................................................................
2.1.3 Graça e Indulto .............................................................................................................................. 28
2.1.4 Abolitio Criminis ............................................................................................................................. 31
2.1.5 Decadência..................................................................................................................................... 33
2.1.6 Perempção ..................................................................................................................................... 33
2.1.7 Prescrição ....................................................................................................................................... 34
2.1.8 Renúncia ........................................................................................................................................ 54
2.1.9 Perdão Aceito ou Perdão do Ofendido .......................................................................................... 54
2.1.10 Retratação.................................................................................................................................... 54
2.1.11 Perdão Judicial ............................................................................................................................. 54
META 2 ............................................................................................................................................................ 59
DIREITO PROCESSUAL PENAL: PROVAS (PARTE I) ........................................................................................... 59
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 60
................................................................................................................... 60
1.1 Acepções da palavra prova
1.2 Espécies de prova .................................................................................................................................. 61
1.3 Terminologia da Prova .......................................................................................................................... 67
1.4 Indícios .................................................................................................................................................. 68
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2. OBJETO DA PROVA ...................................................................................................................................... 70


3. PROVA EMPRESTADA .................................................................................................................................. 72
4. PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO X TEORIA GERAL DA PROVA ..................................................... 74
4.1 Condução Coercitiva ............................................................................................................................. 84
5. PROVAS INADMISSÍVEIS .............................................................................................................................. 88
5.1 Distinção Entre Prova Ilícita e Prova Ilegítima ...................................................................................... 89
5.2 Teoria da Prova Ilícita por Derivação .................................................................................................... 93
5.2.1 Limitações à Teoria da Prova Ilícita por Derivação ........................................................................ 94
6. ÔNUS DA PROVA ....................................................................................................................................... 106
6.1 Distribuição do Ônus da Prova ............................................................................................................ 106
6.2 Da Iniciativa Probatória do Juiz e o Sistema Acusatório ..................................................................... 107
7. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO (VALORAÇÃO) DA PROVA: ............................................................................... 108
8. CADEIA DE CUSTÓDIA DAS PROVAS .......................................................................................................... 113
8.1 Considerações iniciais ......................................................................................................................... 116
8.2 Princípios da mesmidade e desconfiança ................................
........................................................... 116
8.3 Fases da cadeia de custódia ............................................................................................................ 118
8.4 Quebra da Cadeia de Custódia ............................................................................................................ 126
9. MEIOS DE PROVA EM ESPÉCIE................................................................................................................... 127
9.1 Exame de Corpo de Delito ................................................................................................................... 127
9.2 Interrogatório Judicial ......................................................................................................................... 132
META 3 .......................................................................................................................................................... 142
DIREITO PROCESSUAL PENAL: PROVAS (PARTE II) ........................................................................................ 142
9.3 Confissão ............................................................................................................................................. 142
9.4 Prova Testemunhal ............................................................................................................................. 145
9.5 Reconhecimento de Coisas e Pessoas ................................................................................................. 162
9.6 Busca e Apreensão .............................................................................................................................. 167
9.6.1. Busca Pessoal .............................................................................................................................. 168
9.6.2. Busca Domiciliar.......................................................................................................................... 171
.......................................................................................... 195
META 4 ................................................................
DIREITO CONSTITUCIONAL: PODER EXECUTIVO ........................................................................................... 195
1. SISTEMA DE GOVERNO .............................................................................................................................. 195
2. PODER EXECUTIVO NA CF/88 .................................................................................................................... 196
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2.1. Exercício do Poder Executivo ............................................................................................................. 196


2.2. Atribuições do Presidente da República (art. 84 CF – DECORAR!)..................................................... 196
2.3. Condições De Elegibilidade ................................................................................................................ 198
2.4. Processo Eleitoral ............................................................................................................................... 198
2.5.1. Mandato-Tampão ....................................................................................................................... 199
2.5.2. Ausência do país do Presidente e Vice-Presidente da República e licença do CN ..................... 200
3. MINISTROS DE ESTADO ............................................................................................................................. 201
3.1. Atribuições ......................................................................................................................................... 201
3.2. Crimes de Responsabilidade .............................................................................................................. 201
4. CONSELHO DA REPÚBLICA......................................................................................................................... 202
5. CONSELHO DE DEFESA NACIONAL............................................................................................................. 203
6. CRIMES DE RESPONSABILIDADE ................................................................................................................ 203
6.1. Procedimento ..................................................................................................................................... 204
7. CRIMES COMUNS....................................................................................................................................... 207
7.1. Prefeitos Municipais ................................................................
........................................................... 208
7.2. Vereadores Municipais....................................................................................................................... 209
7.3. Governadores ................................
..................................................................................................... 210
7.4. Foro por prerrogativa de função e desmembramento ...................................................................... 214
DIREITO CONSTITUCIONAL: PODER JUDICIÁRIO ........................................................................................... 218
1. PODER JUDICIÁRIO .................................................................................................................................... 218
2. ESTATUTO DA MAGISTRATURA (reserva de Lei Complementar Federal) ................................................. 219
3. GARANTIAS DO JUDICIÁRIO ....................................................................................................................... 221
3.2. Garantias de Imparcialidade .............................................................................................................. 222
3.3. Prerrogativa de Foro .......................................................................................................................... 223
4. ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO ...................................................................................................................... 224
5. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO: ............................................................ 226
5.1 STF ....................................................................................................................................................... 227
5.2. STJ ....................................................................................................................................................... 227
5.3. Tribunais Regionais Federais (TRF) e Juízes Federais: ........................................................................ 231
5.4. Tribunais e Juízes do Trabalho ........................................................................................................... 231
5.4.1. TST............................................................................................................................................... 231
5.4.2. TRTs ............................................................................................................................................. 232
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5.5. Tribunais e Juízes Eleitorais: ............................................................................................................... 232


5.5.1. TSE............................................................................................................................................... 232
5.5.2. TRE .............................................................................................................................................. 232
5.5.3. Juízes Eleitorais ........................................................................................................................... 233
5.6. Tribunais e Juízes Militares ................................................................................................................ 233
5.6.1.STM .............................................................................................................................................. 233
5.6.2. Justiça Militar da União .............................................................................................................. 234
5.7. Tribunais e Juízes dos Estados............................................................................................................ 234
5.8. Juizados Especiais ............................................................................................................................... 234
5.9. CNJ ...................................................................................................................................................... 235
6. SÚMULAS VINCULANTES ........................................................................................................................... 243
META 5 ................................................................................................................................
.......................... 248
DIREITO ADMINISTRATIVO: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ............................................................. 248
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 249
2. EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................
................................................................ 249
3. AGENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................................................................... 252
4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA .................................................................................................................. 256
4.1 Elementos da responsabilidade civil objetiva ..................................................................................... 256
4.2 Fundamentos da responsabilidade civil objetiva ................................................................................ 259
4.2.1. Teoria do Risco Administrativo ................................................................................................... 259
4.2.2. Teoria do Risco Integral .............................................................................................................. 259
4.2.3. Teoria da Repartição dos Encargos Sociais ................................................................................. 260
4.2.4. Princípio Republicano ................................................................................................................. 260
5. RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO .......................................................................................................... 260
6. RESPONSABILIDADE DO AGENTE............................................................................................................... 269
7. DENUNCIAÇÃO À LIDE DO AGENTE PÚBLICO ............................................................................................ 273
8. PRAZO PRESCRICIONAL ............................................................................................................................. 274
8.1. Para a cobrança do particular em face do Estado ............................................................................. 274
8.2. Para a cobrança do Estado em face do particular ............................................................................. 276
9. RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS .......................................................................................... 277
10. RESPONSABILIDADE POR ATOS JURISDICIONAIS ..................................................................................... 279
11. RESPONSABILIDADE DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES ........................................................................ 280
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12. RESPONSABILIDADE POR ATOS DE MULTIDÕES (ATOS MULTITUDINÁRIOS) .......................................... 281


13. RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS ....................................................................................... 281
14. RESPONSABILIDADE DE AGENTES PÚBLICOS POR ATOS RELACIONADOS COM A PANDEMIA DA COVID-19
....................................................................................................................................................................... 283
15. JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................... 284
META 6 – REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 289
Direito Penal: Causas De Extinção Da Punibilidade .................................................................................. 289
Direito Processual Penal: Provas ............................................................................................................... 291
Direito Constitucional: Poder Executivo ................................................................................................... 293
Direito Constitucional: Poder Judiciário .................................................................................................... 294
Direito Administrativo: Responsabilidade Civil Do Estado ........................................................................ 295
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TURMA 9

SEMANA 06/16

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 06


META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PENAL: Causas Extintivas da Punibilidade
2 TER DIREITO PROCESSUAL PENAL: Provas (Parte I)
3 QUA DIREITO PROCESSUAL PENAL: Provas (Parte II)
DIREITO CONSTITUCIONAL: Poder Executivo
4 QUI
DIREITO CONSTITUCIONAL: Poder Judiciário
5 SEX DIREITO ADMINISTRATIVO: Responsabilidade Civil do Estado
6 SAB/DOM REVISÃO SEMANAL

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TURMA 9

SEMANA 06/16

META 1

DIREITO PENAL: AÇÃO PENAL E CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XLII, XLIII e XLIV
⦁ Art. 21, XVII
⦁ Art. 48, VIII
⦁ Art. 53, §§3º a 5º
⦁ Art. 84, XII

CÓDIGO PENAL:
⦁ Art. 2º (abolitio criminis)
⦁ Arts. 100 a 120
⦁ Art. 121, §5º (perdão judicial no homicídio)
⦁ Art. 129, §8º (perdão judicial na lesão corporal)
⦁ Art. 312, §3º

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


⦁ Art. 25 (retratação no processo penal)
⦁ Art. 28, 30, 36, 41
⦁ Art. 49 e 60
⦁ Art. 92 a 94
⦁ Art. 366 e 386

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 16 da Lei Nº 11.340 (retratação na Lei Maria da Penha)

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 107, CP (importantíssimo)


⦁ Art. 109 a 112, CP
⦁ Art. 116 e 117, CP

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SEMANA 06/16

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 497-STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na
sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação.
Súmula 146-STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há
recurso da acusação.
Súmula 220-STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva.
Súmula 191-STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a
desclassificar o crime.
Súmula 592-STF: Nos crimes falimentares, aplicam-se às causas interruptivas da prescrição, previstas no
Código Penal.
Súmula 438-STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
Súmula 18-STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não
subsistindo qualquer efeito condenatório.

1. AÇÃO PENAL

Embora seja um tema mais afeto ao processo penal, tendo em vista que várias questões relacionadas
à ação penal implicam na extinção de punibilidade, o assunto também foi tratado pelo Código Penal, de modo
que abordaremos aqui de modo breve e objetivo apenas algumas ideias iniciais.

Ação penal x pretensão punitiva:

● Ação penal: É o direito público e subjetivo de exigir do Estado-juiz o exercício da prestação


jurisdicional, aplicando, no caso concreto, o direito penal objetivo ao indivíduo que praticou infração
penal. Há juristas que dizem que a ação seria o instrumento, o mecanismo, e não o direito em si. É
instrumentalmente conexa a uma pretensão punitiva, pois, ao propor a ação penal, o Ministério
Público pede a condenação do réu, o que só será possível quando procedente a pretensão punitiva.
● Pretensão punitiva: Possui o jus puniendi (direito de punir) como seu elemento intersubjetivo,
situado dentro da relação jurídico-penal que se forma após a prática do crime. Sabe-se que o Estado
é titular do direito de punir. Descumprida a norma incriminadora, o direito de punir do Estado passa
ao plano concreto.

1.1. Espécies

O critério utilizado é a titularidade da ação penal.


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A ação penal pode ser:


● Pública, cujo titular é o Ministério Público, subdividindo-se em:
o Incondicionada – sem necessidade de manifestação da vontade de terceiros.
o Condicionada à representação: Depende da manifestação de vontade do legítimo
interessado para que a persecução penal possa se iniciar.
▪ Pode ser representação da vítima ou requisição do Ministro da Justiça.
▪ No entanto, ainda que haja tal manifestação, o MP não é obrigado a oferecer
denúncia, apenas não pode oferecer sem ela.
● Privada: A titularidade da persecução criminal pertence ao particular ofendido.
Pode ser:
o Exclusivamente privada;
o Personalíssima;
o Subsidiária da pública.

Regra: Ação penal pública incondicionada.

* ATENÇÃO: Os crimes de lesões corporais leves e culposas no contexto da Lei Maria da Penha são de ação
penal pública incondicionada.

Súmula 542, STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

1.2 Condições da Ação Penal

São requisitos mínimos indispensáveis ao julgamento da causa.

a) Condições genéricas da ação:


● Possibilidade jurídica do pedido: O fato deve encontrar amparo no direito;
● Interesse de agir:
o Necessidade;
o Adequação;
o Utilidade da ação penal.

* ATENÇÃO: O TAC entre MP e autor de crime contra o meio ambiente de menor potencial ofensivo é causa
suspensiva de punibilidade suspendendo o período de prescrição.

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● Legitimidade: a legitimidade ativa é, via de regra, do MP. Sendo ação privada, a legitimidade é da
vítima. Já a passiva, via de regra, é a pessoa física autora do delito, podendo ser pessoa jurídica em
crimes ambientais.
● Justa causa: É o fumus comissi delicti para o exercício da função penal. É o lastro probatório mínimo.

b) Condições específicas (de procedibilidade):


● Representação do ofendido;
● Requisição do Ministro da Justiça;
● Sentença anulatória de casamento, no crime do art. 236, do CP;
● Ingresso no país do autor do crime praticado no estrangeiro;
● Declaração de procedência da acusação pela Câmara dos Deputados, no julgamento do Presidente
da República;
● Sentença que decreta a falência, nas ações falimentares.

1.2.1. Representação do ofendido

É condição de procedibilidade para o exercício da ação penal pública condicionada à representação,


por meio da qual o ofendido informa a prática do crime e postula que seja instaurada a persecução penal.

a) Prazo: Em regra, deve ser oferecida no prazo decadencial de 6 (seis) meses, contados do conhecimento
da autoria (art. 38 do CPP).
Art. 38, CPP. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante
legal, decairá no direito de queixa (ação penal privada) ou de representação (ação
penal pública condicionada a representação do ofendido), se não o exercer dentro
do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do
crime, ou, no caso do art. 29 (ação penal privada subsidiária), do dia em que se
esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou
representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e
31 (morte do ofendido).
ATENÇÃO: Pessoas jurídicas, se vítimas de infrações penais, podem oferecer representação por quem os
respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-
gerentes.

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SEMANA 06/16

Em que pese estejamos tratando do oferecimento da representação, cumpre destacar que o prazo
decadencial para o exercício do direito de queixa, nos crimes que se processam mediante ação penal privada,
também é de 06 meses.
Na ação penal privada subsidiária da pública, esse prazo é contado do dia em que se esgotar o prazo
para o oferecimento da denúncia por parte do Ministério Público (art. 38, parte final, do CPP).

b) Capacidade Processual: A representação pode ser feita pessoalmente ou por procurador maior de 18
anos, desde que possua poderes especiais.

Súmula 594-STF: Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo
ofendido ou por seu representante legal.

c) Destinatários: Autoridade policial, juiz ou membro do Ministério Público.


Apresentada a representação ao MP, há uma vinculação, não podendo alargá-la para, por exemplo,
incluir crime não mencionado. No entanto, pode enquadrar a conduta em dispositivo legal diverso do
apontado pela vítima.
A representação oferecida contra um dos autores ou partícipes de uma infração penal permite que
o Ministério Público a considere para todos os demais, por força do princípio da obrigatoriedade
da ação
penal, conforme já decidiu o STF.

d) Retratação: É cabível até o oferecimento da denúncia (art. 25, CPP).

Na Lei Maria da Penha, a retratação da vítima demanda audiência especial, com oitiva do juiz e MP,
e é admissível até o recebimento da inicial acusatória.

1.2.2. Requisição do Ministro da Justiça

É ato de conveniência política, autorizando a persecução penal em alguns crimes.

a) Prazo: A lei é omissa. Logo, pode ocorrer desde que não extinta a punibilidade;
b) Destinatário: MP (PGJ);
c) Há discricionariedade do Ministro da Justiça e a requisição NÃO vincula o MP.
d) Hipóteses:
● Crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil;
● Crimes contra a honra praticados contra o Presidente ou Chefe de Governo Estrangeiro.

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1.3. Princípios da Ação Penal Pública

● Obrigatoriedade ou legalidade: O MP, titular da ação penal pública, está obrigado a oferecê-la,
sempre que constatar a presença de prova da materialidade e indícios de autoria ou participação. A
exceção se dá nas infrações de menor potencial ofensivo, em que o MP pode propor transação penal;
● Indisponibilidade: O MP NÃO pode desistir da ação penal;
● Oficialidade: O titular da ação é o órgão oficial do Estado;
● Indivisibilidade ou divisibilidade: Não é pacífico sobre o que prevalece na ação penal pública. A ação
penal deve se estender a todos aqueles que praticaram a infração penal. No entanto, o STF já
entendeu que a ação penal pública estaria regida pelo princípio da divisibilidade, pois o processo
poderia ser desmembrado, com o oferecimento de denúncia contra um ou mais réu, e posterior
aditamento para inclusão de outros;
● Oficiosidade: O MP, titular da ação penal, pode agir de ofício, não dependendo da autorização de
ninguém.
1.4. Ação Penal Privada

Ocorre quando o Estado legitima o ofendido ou seu representante legal a ingressar com ação penal,
pleiteando a condenação do agressor, em hipóteses excepcionais. O particular, portanto, passa a ter o direito
de ação, a legitimidade para o oferecimento da ação penal privada, embora a titularidade do direito de punir
permaneça com o Estado.

a) Princípios:

● Oportunidade e conveniência: Compete à vítima ou ao seu representante analisar a conveniência e


oportunidade para o exercício da ação.
o A vítima dispõe do prazo decadencial de 06 (seis) meses para o exercício da ação privada,
contados do conhecimento do responsável pelo delito, sob pena de extinção da punibilidade
(art. 107, IV, CP).

EXCEÇÃO: No crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236, CP), o prazo
exercício do direito de queixa começa do trânsito em julgado da sentença que anulou o casamento. Além
disso, por se tratar de ação penal privada personalíssima, so
ca haja a morte do ofendido, extingue-se a
punibilidade.

o A renúncia da vítima é ato irretratável, incidindo nesse aspecto de oportunidade e


conveniência, ensejando a extinção da punibilidade.
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SEMANA 06/16

● Disponibilidade: Iniciada a ação penal privada, a vítima pode dispor do direito de ação e desistir do
feito já em curso, pelos seguintes institutos:

o Perdão: Ato de liberalidade, que requer a aceitação pelo réu (ato bilateral).

o Perempção: É sanção processual pela desídia do querelante na ação privada (art. 60, CPP).

● Indivisibilidade: Proposta ação penal privada, o querelante deve promovê-la contra todos os que
contribuíram para o delito, não podendo deixar de processar os que sabidamente concorreram para
a prática do crime. Caso o querelante renuncie, deliberadamente, em relação a um, será reconhecida
a extinção da punibilidade de todos os agentes.

● Intranscendência ou pessoalidade: Os efeitos da ação penal privada são de natureza pessoal, não
podendo atingir outras pessoas que não aquelas que contribuíram para o delito.

b) Legitimidade ativa: É do ofendido ou o seu representante legal (art. 30 do CPP).

Se houver morte ou declaração de ausência do ofendido, passam a ter legitimidade ativa o cônjuge,
ascendentes, descendentes e irmãos, nesta ordem de preferência (art. 31 do CPP), embora qualquer um
possa prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone (art. 36 do CPP).
Relevante julgado do STJ ventilado no informativo 654 (09/2019), estendendo o direito à
representação ao companheiro(a).

A companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo


status de cônjuge para o processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar ação
penal privada.
No caso, trata-se de crime de calúnia contra pessoa morta, o que aponta que os
querelantes – mãe, pai, irmã e companheira em união estável da vítima falecida –
são partes legítimas para ajuizar a ação penal privada, nos termos do art. 24, § 1º,
do CPP. Cumpre anotar que a companheira, em união estável reconhecida, goza
do mesmo status de cônjuge para o processo penal, podendo figurar como legítima
representante da falecida. Vale ressaltar que a interpretação extensiva da norma
processual penal tem autorização expressa do art. 3º do CPP ("a lei processual penal
admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito"). Ademais, o STF, ao apreciar o tema 498 da

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TURMA 9

SEMANA 06/16

repercussão geral, reconheceu a "inexistência de hierarquia ou diferença de


qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e
autonomizado núcleo doméstico, aplicando-se à união estável entre pessoas do
mesmo sexo as mesmas regras e mesmas consequências da união estável
heteroafetiva" (RE 646.721, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Roberto
Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, DJe 11/09/2017).

c) Renúncia: É ato unilateral do ofendido, e ocorre quando a vítima se recusa a tomar providência contra o
seu agressor.
● Opera-se até o oferecimento da ação penal;
● É irretratável;
● A renúncia deliberada feita a um dos autores necessariamente beneficia os demais (art. 49, do CPP);
● Pode ser expressa ou tácita (atos do ofendido incompatíveis com o desejo de processar o autor).

Aqui cabe um alerta, só se pode falar em indivisibilidade da ação penal privada quando todos os agentes são
conhecidos pela vítima ou pelo seu representante legal. Somente se a vítima possuía condições de oferecer
queixa-crime todos os envolvidos e, deliberadamente, não o faz, é que poderemos falar em renúncia tácita.

A não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não configura, por si só,


renúncia tácita ao direito de queixa. Com efeito, o direito de queixa é indivisível, é
dizer, a queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos
(art. 48 do CPP). Dessarte, o ofendido não pode limitar a este ou aquele autor da
conduta tida como delituosa o exercício do jus accusationis, tanto que o art. 49 do
CPP dispõe que a renúncia do direito de queixa em relação a um dos autores do
crime, a todos se estenderá. Portanto, o princípio da indivisibilidade da ação penal
privada torna obrigatória a formulação da queixa-crime em face de todos os
autores, coautores e partícipes do injusto penal, sendo que a inobservância de tal
princípio acarreta renúncia ao direito de queixa, que de acordo com o art. 107, V,
do CP, é causa de extinção da punibilidade. Contudo, para o reconhecimento da
renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a demonstração de que a não inclusão
de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma deliberada
pelo querelante. STJ, RHC 55.142/MG, rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, j.
12.05.2015.

● Cleber Masson ressalta que há três posições quanto à possibilidade de o Ministério Público
aditar a queixa-crime para incluir eventuais coautores e partícipes:
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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1ª Posição: O MP não pode aditar a queixa-crime para incluir coautores e partícipes.

2ª Posição: O aditamento é possível e previsto expressamente no art. 46, § 2º, do CPP.

3ª Posição: O aditamento não é possível e a inicial acusatória deve ser rejeitada, em razão
da renúncia tácita em relação aos não incluídos, vez que referida causa de extinção da
punibilidade se comunica aos demais.

RENÚNCIA PERDÃO
Instituto pré-processual. Instituto processual.
Ato unilateral. Ato bilateral.
A renúncia feita a um dos agentes se estende O perdão concedido a apenas um dos agentes
aos demais (art. 49, CP). delitivos não necessariamente se estende aos
demais.

● Cabe a condenação do querelante em honorários advocatícios quando houver a rejeição da queixa-


crime, por aplicação subsidiária do CPC.

O princípio geral da sucumbência é aplicável no âmbito do processo penal quando


se tratar de ação penal privada. Em outras palavras, é possível haver condenação
em honorários advocatícios em ação penal privada.
Assim, julgada improcedente a queixa-crime, é cabível a condenação do querelante
ao pagamento dos honorários sucumbenciais ao advogado do querelado.
Conclusão que se extrai da incidência dos princípios da sucumbência e da
causalidade, o que permite a aplicação analógica do art. 85 do CPC/2015, conforme
previsão constante no art. 3º do CPP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 992.183/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
07/06/2018.
STJ. Corte Especial. EDcl na APn 881/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
03/10/2018.

Fonte: Dizer o direito.

ATENÇÃO: O MP também pode recorrer da sentença condenatória em ações penais exclusivamente privadas,
seja em favor ou desfavor do acusado, até mesmo pleiteando o aumento da pena fixada. Porém, haja vista
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NÚCLEO DURO

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que a ação penal privada é regida pelo princípio da disponibilidade, o MP não pode recorrer de sentença
absolutória, caso o querelante não recorra.

1.5. Procedimento

Com o inquérito policial ou outras peças de informação, o MP pode adotar as seguintes hipóteses:
● Oferecer denúncia;
● Requisitar novas diligências, com retorno dos autos à DP, indispensáveis à denúncia;
● Requerer/ promover o arquivamento;
● Propor acordo de não persecução penal;

Enunciado 10, CJF: Recomenda-se a realização de práticas restaurativas nos


acordos de não persecução penal, observada a principiologia das Resoluções n. 225
do CNJ e 118/2014 do CNMP.

● Suscitar conflito de atribuição caso entenda não ter atribuição para atuar no feito;
● E, ainda, declinar a atribuição para órgão do MP que entender ter atribuição no feito.

Com a reforma produzida pela Lei 13.964/19, não há mais que se falar em arquivamento indireto ou
arquivamento implícito, tendo em vista que o arquivamento passou a ser providência administrativa no
âmbito do Ministério Público e não mais depende de decisão judicial.
Entretanto, em razão da medida cautelar na ADI 6298, o novo art. 28 do CPP encontra-se com sua eficácia
suspensa.

ARQUIVAMENTO INDIRETO X ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO

Arquivamento indireto: O juiz, não concordando com o pedido de declinação de competência formulado
pelo MP, recebe tal manifestação como se fosse pedido de arquivamento, aplicando o art. 28, do CPP por
analogia.
DICA: INDIRETO = INCOMPETÊNCIA.

Arquivamento implícito: O titular da ação deixa de incluir na denúncia algum fato investigado ou alguns dos
indiciados – NÃO é admitido pela doutrina e jurisprudência, devendo aplicar o art. 28, do CPP.

ATENÇÃO: Delegado não arquiva e nem manda arquivar inquérito.

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NÚCLEO DURO

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1.6. Denúncia ou Queixa Crime

● Denúncia: É a peça privativa do Ministério Público que dá início à ação penal pública.
● Queixa-crime: É a peça privativa do ofendido, de seu representante legal, seu sucessor ou ainda seu
curador que dá início à ação penal privada.

Súmula 714-STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do


Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para ação penal por
crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções1.

Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase


investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o
oferecimento da denúncia.

No momento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societate. STF. 1ª Turma. Inq 4506/DF, rel.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/04/2018 (Info 898).

O princípio do in dubio pro societate significa que, na dúvida, havendo indícios mínimos da autoria, deve
-se
dar prosseguimento à ação penal, ainda que não se tenha certeza de que o réu foi o autor do suposto delito.
Em uma tradução literal, seria algo como “na dúvida, em favor da sociedade”. O princípio do in dubio pro
societate contrapõe-se ao princípio do in dubio pro reo (“na dúvida, em favor do réu”). Fonte: Dizer o direito
– Comentários aos Informativo 898 do STF.

a) Requisitos formais da denúncia ou queixa crime:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas
as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.

● Exposição do fato criminoso e suas circunstâncias;

1
Chamada de “ação penal privada concorrente”. Na visão do STJ (HC 259.870/ES), a opção por uma das vias torna a
outra preclusa. Portanto, se a vítima representa, não poderá, posteriormente, oferecer ela própria a queixa-crime.
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NÚCLEO DURO

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● Qualificação do acusado e demais esclarecimentos de identificação: Se os elementos são incertos


ou incompletos, admite-se a utilização de elementos para a identificação física do acusado, a
exemplo do sexo e estatura;
● Classificação da infração: É o enquadramento típico;
● Rol de testemunhas e demais diligências;
● Nome e assinatura da parte acusadora.

b) Não preenchimento dos requisitos formais: Se não preenchidos os requisitos formais da denúncia ou da
queixa e isso implicar prejuízo à ampla defesa (vício insanável), deverá ocorrer a rejeição da inicial acusatória
(art. 395, I, CPP), bem como se faltar alguma condição da ação ou pressuposto processual ou se faltar justa
causa à ação penal.
- Decisão de rejeição da denúncia ou queixa: Cabe recurso em sentido estrito (prazo de 05 dias).

c) Prazos para oferecer a denúncia:

Regra do CPP ● Réu preso: 05 dias;


● Réu solto: 15 dias.
Crimes eleitorais 10 dias
Tráfico de drogas 10 dias
Crimes contra a economia popular 2 dias
Lei de falências Mesma regra do CPP.

Se queixa crime: Prazo decadencial de 6 (seis) meses, contados a partir do conhecimento da autoria
(art. 38, CPP), via de regra.

Atenção! Art. 42. O Ministério Público NÃO PODERÁ desistir da ação penal.
Art. 576, CPP. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.

JURISPRUDÊNCIAS:
→ Rejeição de queixa-crime desacompanhada de documentos hábeis a
demonstrar, ainda que de modo indiciário, a autoria e a materialidade do crime.
Deve ser rejeitada a queixa-crime que, oferecida antes de qualquer procedimento
prévio, impute a prática de infração de menor potencial ofensivo com base apenas
na versão do autor e na indicação de rol de testemunhas, desacompanhada de
Termo Circunstanciado ou de qualquer outro documento hábil a demonstrar, ainda

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que de modo indiciário, a autoria e a materialidade do crime. STJ. 5ª Turma. RHC


61822-DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/12/2015 (Info 577).

→ Queixa-crime deverá demonstrar o elemento subjetivo do agente.


Deve ser rejeitada a queixa-crime que impute ao querelado a prática de crime
contra a honra, mas que se limite a transcrever algumas frases, escritas pelo
querelado em sua rede social, segundo as quais o querelante seria um litigante
habitual do Poder Judiciário (fato notório, publicado em inúmeros órgãos de
imprensa), sem esclarecimentos que possibilitem uma análise do elemento
subjetivo da conduta do querelado consistente no intento positivo e deliberado de
lesar a honra do ofendido. STJ. Corte Especial. AP 724-DF, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 20/8/2014 (Info 547).

→ Denúncia em crimes de autoria coletiva.


Nos crimes de autoria coletiva, não é necessária a descrição MINUCIOSA e
INDIVIDUALIZADA da ação de cada acusado. Basta que o MP narre as condutas
delituosas e a suposta autoria, com elementos suficientes para garantir o direito à
bora não seja necessária a descrição
ampla defesa e ao contraditório. Em
PORMENORIZADA da conduta de cada denunciado, o Ministério Público deve
narrar qual é o vínculo entre o denunciado e o crime a ele imputado, sob pena de
ser a denúncia inepta. STJ. 5ª Turma. HC 214861-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 28/2/2012.

→ Denúncia formulada com base em inquérito civil.


É possível o oferecimento de ação penal (denúncia) com base em provas colhidas
no âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público. STF.
Plenário. AP 565/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7e 8/8/2013 (Info 714).

→ Denúncia inepta em caso de homicídio na forma omissiva imprópria.


É inepta a denúncia que, ao descrever a conduta do acusado como sendo dolosa, o
faz de forma genérica, a ponto de ser possível enquadrá-la tanto como culpa
consciente quanto como dolo eventual. Com efeito, o elemento psíquico que
caracteriza o injusto penal, em sua forma dolosa ou culposa, deve estar bem
caracterizado, desde a denúncia, pois é tênue a linha entre o dolo eventua
l e a culpa
consciente. Na hipótese em análise, há nítida violação da garantia do contraditório
e da plenitude de defesa, por não despontar da exordial acusatória, com a clareza

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e a precisão exigidas, o dolo, em sua forma eventual, que teria animado o agente,
sendo impossível conhecer no caso em apreço as circunstâncias subjetivas STJ. 6ª
Turma. RHC 39.627-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 8/4/2014 (Info
538).

→ Em caso de norma penal em branco, a denúncia deverá explicitar qual é o


complemento, sob pena de ser considerada inepta.
A denúncia que deixa de mencionar a legislação complementar a que se refere o
tipo penal não atende o disposto no art. 41 do CPP porque não descreve por
completo a conduta delitiva, dificultando a compreensão da acusação e, por
conseguinte, o exercício do direito de defesa. STJ. 5ª Turma. RHC 64430/SP, Rel.
Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/11/2015.

→ Consequências da proposta de composição civil feita apenas para parte dos


querelados.
Se o querelante oferece queixa-crime contra três querelados e propõe a
composição civil dos danos apenas para dois deles, isso significa que ele renunciou
, devendo essa renúncia ser
tacitamente ao direito de ação (art. 104 do CP)
estendida ao terceiro querelado para quem a proposta não foi feita. Na ação penal
privada, vigora o princípio da indivisibilidade segundo o qual se, houver dois ou
mais querelados e o querelante manifestar a sua intenção de não processar uma
parte dos envolvidos, essa manifestação se estenderá aos demais. Assim, a
renúncia em relação ao direito de processar um dos querelados beneficia todos os
envolvidos. STJ. Corte Especial. AP 724-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
20/8/2014 (Info 547).

FACILITANDO:

CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA NO CP:


→ Calúnia, difamação e injúria (arts. 138, 139 e 140 c/c art. 145, caput);
Atenção!!! Segundo o Código Penal, quando da injúria real (ou qualificada) resulta lesão corporal, a ação
penal passa a ser pública incondicionada (art. 140, § 2º CP).
→ Alteração de limites, usurpação de águas e esbulho possessório - quando não houver emprego de
violência e a propriedade for particular (art. 161, § 1º, I e II e § 3º);
→ Dano simples e dano qualificado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima
(art.
163, caput e p. único, IV c/c art. 167);

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→ introdução ou abandono de animais em propriedade alheia, desde que o fato resulte prejuízo (art. 164
c/c art. 167);
→ Fraude à execução (art. 179 e p. único);
→ Violação de direito autoral na forma simples (art. 184, caput c/c art. 186, I);
→ Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236 e p. único); Obs.: Única ação penal
personalíssima. A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão
depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
→ exercício arbitrário das próprias razões - se não houver emprego de violência (art. 345 e p. único).

CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO NO CP


→ Perigo de contágio venéreo (art. 130 e § 2º);
→ Crimes contra a honra de funcionário público e injúria preconceituosa (art. 141, II e § 3º c/c art. 145, p.
único)
→ Ameaça (art. 147 e p. único);
→ Perseguição (art. 147-A, § 3º);
→ Violação de correspondência, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º (art. 151 e § 4º);
→ Correspondência comercial (art. 152 e p. único);
→ Divulgação de segredo (art. 153 e § 1º) Exceção: Incondicionada
se resultar prejuízo para Administração
Pública (§ 2º);
→ Violação de segredo profissional (art. 154 e p. único);
→ Invasão de dispositivo informático (art. 154-A c/c art. 154-B, 1ª parte)
EXCEÇÃO: Ação Penal Pública Incondicionada, se contra a administração pública direta ou indireta ou
empresas concessionárias de serviços públicos (art. 154-B, 2ª parte);
→ Furto de coisa comum (art. 156 e § 1º);
→ Estelionato (art. 171, § 5º)
EXCEÇÃO: Ação Penal Pública Incondicionada (§ 5º, I a IV) se a vítima for: Administração Pública, direta ou
indireta; criança ou adolescente; pessoa com deficiência mental; ou maior de 70 (setenta) anos de idade ou
incapaz.
→ Outras fraudes (art. 176 e p. único);
→ Crimes contra o patrimônio: do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; de irmão, legítimo ou
ilegítimo; ou de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita (art. 182);
EXCEÇÃO: Ação Penal Pública Incondicionada (art. 183), se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,
quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; ao estranho que participa do crime; se o crime
é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.
→ Violação de direito autoral na hipótese do § 3º (art. 184, § 3º c/c 186, IV).

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CAIU EM PROVA:
→ (Delegado PCPB 2022) Considerando o sistema de juizados especiais criminais, previsto na Lei nº
9.099/1995, e a jurisprudência do STJ e STF sobre a matéria: Tratando-se de crime de ação penal privada ou
pública condicionada à representação, a realização de composição civil dos danos entre autor e vítima gera
a extinção da punibilidade. (item correto)
AP. pública condicionada e A. P. Privada: a composição dos danos gera renúncia ao direito de representação
ou queixa; MP não pode propor transação penal.
AP. pública incondicionada: a composição dos danos não impede a transação; MP pode propor transação
penal.

2. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

A punibilidade consiste em consequência da infração penal. Conforme doutrina amplamente


majoritária, não é seu elemento, razão pela qual o crime e a contravenção penal permanecem íntegros com
a superveniência de causa extintiva de punibilidade. Desaparece do mundo jurídico somente o poder de punir
do Estado, embora continue existindo o ilícito penal.
Extinção da punibilidade nos crimes acessórios, complexos e conexos: a extinção da punibilidade
do crime principal não se estende ao crime acessório; a extinção da punibilidade da parte (um dos crimes)
não alcança o todo (crime complexo); a extinção da punibilidade do crime conexo não afasta a qualificadora
da conexão.
Princípio da consunção: nesse caso, a extinção da punibilidade do crime-fim atinge o direito de punir
do Estado em relação ao crime-meio (STJ, RHC 31.321/PR).
As causas de extinção da punibilidade podem recair sobre:

1) A pretensão punitiva: eliminam todos os efeitos penais de eventual sentença condenatória.


Espécies: decadência, perempção, renúncia do direito de queixa, perdão aceito, retratação do
agente e perdão judicial.

2) A pretensão executória: retiram unicamente o efeito principal da condenação (a pena),


subsistindo os efeitos secundários da sentença condenatória, salvo em relação à abolitio criminis
e à anistia. Espécies: graça, sursis e livramento condicional.

3) Ambas as pretensões: os efeitos dependem do momento em que ocorrem. Espécies: morte do


agente, anistia, abolitio criminis e prescrição.

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NÚCLEO DURO

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Podem ser encontradas primordialmente no rol descrito no artigo 107 do Código Penal, embora não
seja este um rol taxativo, havendo outras causas de extinção da punibilidade, como por exemplo:

⦁ Suspensão condicional do processo


⦁ Transação penal
⦁ Composição Civil dos Danos
⦁ Reparação do dano antes da sentença no peculato culposo (art. 312, §3º, CP)
⦁ Cumprimento integral do Acordo de não persecução penal

Condições objetivas de punibilidade: Em alguns casos, para ocorrer a punibilidade, NÃO basta a
prática de um crime e a ausência de alguma causa de extinção da punibilidade, mas devem ser verificadas
situações objetivas exteriores à conduta. Ex.: Crimes contra a ordem tributária.
A condição objetiva de punibilidade é um elemento exterior ao fato delituoso, não integrante do
tipo penal, independente do dolo ou culpa do agente, que deve advir para a formação de um injusto culpável
e punível, ou seja, são condições exigidas por lei para que o fato se torne punível, que estão fora do injusto
penal, vinculadas à superveniência de determinado acontecimento. Trata-se de uma condição incerta e
futura. Relaciona-se ao Direito Penal.

Exemplo1: Sentença declaratória da falência, que concede a recuperação judicial e a que concede a
recuperação extrajudicial (art. 180 da Lei nº 11.101/05);
Exemplo2: Decisão final do procedimento administrativo de lançamento nos crimes materiais contra
a ordem tributária previstos no art. 1º, I a IV da Lei nº 8.137/90 (Súmula Vinculante 24 STF)

Simplificando:

– está ligada ao Direito Penal;


– cuida-se de condição exigida pelo legislador para que o fato se torne punível;
– se a condição objetiva de punibilidade não foi implementada não há fundamento de direito para o
ajuizamento de uma ação penal.

CAIU NA PROVA DELEGADO DE POLÍCIA – GOIÁS AOCP (2022)


O Código Penal prescreve determinadas causas que extinguem o direito de punir titularizado pelo Estado.
Considerando o tema extinção da punibilidade, assinale a alternativa correta: É de se preservar a coisa
julgada quanto à decisão extintiva da punibilidade do acusado, ainda que a sentença haja sido proferida por
juízo incompetente para o feito (item correto).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Vamos aprofundar para uma dissertativa?


Qual a diferença entre condição objetiva de punibilidade e condição de procedibilidade?
Conforme ensinamentos do Professor Luiz Flávio Gomes, a condição objetiva de punibilidade é
aquela situação criada pelo legislador por razões de política criminal destinada a regular o exercício da ação
penal sob a ótica da sua necessidade. Não está contida na noção de tipicidade, antijuridicidade ou
culpabilidade, mas é parte integrante do fato punível. Ex.: constituição definitiva do crédito tributário para
que seja instaurada a ação penal por crime de sonegação. Já a condição de procedibilidade é o requisito que
submete a relação processual à existência ou validez. Ex.: representação do ofendido nas ações públicas
condicionadas.

2.1 Causas de Extinção da Punibilidade

Art. 107, CP - Extingue-se a punibilidade:


I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação
privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

2.1.1 Morte do Agente

Pegadinha de prova: Cuidado para não confundir com morte do ofendido!!!

● Decorre do princípio da intranscendência da pena, segundo o qual a pena não pode passar da pessoa
do condenado. Os efeitos extrapenais subsistem, de sorte que os herdeiros respondem até o limite
da herança;
● Comprovação: Certidão de óbito;

Lembrando que se o inquérito policial for arquivado com base numa certidão
de óbito falsa, não faz coisa julgada material.

● Concurso de pessoas: NÃO se estende aos demais concorrentes;


● NÃO impede ação civil por danos contra os herdeiros;
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NÚCLEO DURO

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● NÃO desautoriza os familiares a ajuizarem revisão criminal.

Art. 62, CPP. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de
óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade

→ Atenção ao Informativo 746 do STJ - Extinção da punibilidade de Pessoas


Jurídicas:
O princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV da Constituição
Federal, tem aplicação às pessoas jurídicas, de modo que, extinta legalmente a
pessoa jurídica - sem nenhum indício de fraude -, aplica-se analogicamente o art.
107, I, do Código Penal, com a consequente extinção de sua punibilidade. STJ, REsp
1.977.172-PR, julgado em 24/08/2022

2.1.2 Anistia

É o esquecimento jurídico da infração, concedido por lei ordinária.


● Atinge fatos e não pessoas;
● Competência do Congresso Nacional;
● Ato do Poder Legislativo de renúncia ao poder-dever de punir em virtude de necessidade ou
conveniência política;

I. Espécies:
● Própria: Concedida ANTES do trânsito em julgado;
● Imprópria: APÓS o trânsito em julgado;
● Especial: Concedida a crimes políticos;
● Comum: Aplicada a crimes comuns;
● Geral ou plena: Aplica-se a todos os agentes;
● Condicionada: É imposta a prática de algum ato como condição para concessão.

II. Efeitos: Ex tunc – Cessam os efeitos penais, mas não os civis. Isso significa que:
● Na anistia, o fato praticado deixa de ser considerado crime. Por esse motivo, na Lei de Lavagem
de Capitais, se o crime antecedente ao delito de lavagem for anistiado, o crime de lavagem não
subsistirá!!!
● Não gera reincidência.

III. Inaplicabilidade: Vedação constitucional prevista no art. 5º, XLIII

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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● Crimes hediondos; (Não esqueça que o rol de crimes hediondos foi alterado pelo pacote
Anticrime!)
● Tortura;
● Tráfico de entorpecentes;
● Terrorismo.

Art. 5º, CR. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

2.1.3 Graça e Indulto

● Indulto: É uma forma de clemência. NÃO diz respeito a fatos, como na anistia, mas sim às pessoas,
no plural. Diz-se que indulto é a graça coletiva;
● Graça: Benefício concedido a pessoa determinada.

I) Competência: Presidente da República (por decreto


), permitida a delegação para Ministros de Estado;
Advogado Geral da União; Procurador Geral da República.

II) Formas:
● Total: Abrange todas as sanções;
● Parcial: Quando houver redução ou substituição da sanção penal
● Condicionados: impõe condições para ser beneficiado. Ex.: ressarcimento do dano.
● Incondicionados: não impõe qualquer requisito.

III) Efeitos: Extingue a pena, mas permanecem os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais.

Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão


executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais.

Obs.: O réu condenado que foi beneficiado com graça ou indulto, se cometer novo crime, será reincidente.

IV) Momento da concessão: Em regra, após o trânsito em julgado da sentença, pois se refere à pena
imposta.

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NÚCLEO DURO

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V) Inaplicabilidade:
● Crimes hediondos;
● Tortura;
● Tráfico de entorpecentes;
● Terrorismo.

STF-HC 123.381/PE: o período de prova do sursis não é computado para o


preenchimento do requisito temporal para a concessão de indulto.
STF-HC 628.658/RS: pode ser concedido indulto aos inimputáveis ou semi-
imputáveis que cumprem medida de segurança.
Súmula 535-STJ: a prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de
comutação de pena ou indulto.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES Nº 139 DO STJ - DO INDULTO E DA COMUTAÇÃO DE PENA

1) O instituto da graça, previsto no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, engloba o


indulto e a comutação de pena, estando a competência privativa do Presidente da
República para a concessão desses benefícios limitada pela vedação estabelecida no
referido dispositivo constitucional.
2) A sentença que concede o indulto ou a comutação de pena tem natureza
declaratória, não havendo como impedir a concessão dos benefícios ao
sentenciado, se cumpridos todos os requisitos exigidos no decreto presidencial.
3) O deferimento do indulto e da comutação das penas deve observar estritamente
os critérios estabelecidos pela Presidência da República no respectivo ato de
concessão, sendo vedada a interpretação ampliativa da norma, sob pena de
usurpação da competência privativa disposta no art. 84, XII, da Constituição e,
ainda, ofensa aos princípios da separação entre os poderes e da legalidade.
4) A análise do preenchimento do requisito objetivo para a concessão dos benefícios
de indulto e de comutação de pena deve considerar todas as condenações com
trânsito em julgado até a data da publicação do decreto presidencial, sendo
indiferente o fato de a juntada da guia de execução penal ter ocorrido em momento
posterior à publicação do referido decreto.
5) A superveniência de condenação, seja por fato anterior ou posterior ao início do
cumprimento da pena, não altera a data-base para a concessão da comutação de
pena e do indulto.
6) O indulto e a comutação de pena incidem sobre as execuções em curso no

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

momento da edição do decreto presidencial, não sendo possível considerar na base


de cálculo dos benefícios as penas já extintas em decorrência do integral
cumprimento.
7) Para a concessão de indulto, deve ser considerada a pena originalmente imposta,
não sendo levada em conta, portanto, a pena remanescente em decorrência de
comutações anteriores.
8) O cumprimento da fração de pena prevista como critério objetivo para a
concessão de indulto deve ser aferido em relação a cada uma das sanções
alternativas impostas, consideradas individualmente.
9) Compete ao Juízo da Execução Fiscal a apreciação do pedido de indulto em
relação à pena de multa convertida em dívida de valor.
Segundo pensa Márcio Cavalcante, do Dizer o Direito, essa tese está superada.
Isso porque o STF, ao julgar a ADI 3150/DF, decidiu que, a Lei nº 9.268/96, ao
considerar a multa penal como dívida de valor, não retirou dela o caráter de
sanção criminal que lhe é inerente por força do art. 5º, XLVI, “c”, da CF/88. Como
consequência, por ser uma sanção criminal, a legitimação prioritária para a
execução da multa penal é do Ministério Público perante a Vara de Execuções
Penais (ADI 3150 e AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 12 e
13/12/2018).
O Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) acolheu esse entendimento e alterou a
redação do art. 51 do CP para dizer expressamente que a competência para
executar a multa é do juízo da vara de execuções penais: Art. 51. Transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da
execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas
à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
interruptivas e suspensivas da prescrição. Logo, se a multa, convertida em dívida
de valor, estiver sendo executada no juízo da execução penal, caberá a ele apreciar
o pedido de indulto.
10) Não dispondo o decreto autorizador de forma contrária, os condenados por
crimes de natureza hedionda têm direito aos benefícios de indulto ou de comutação
de pena, desde que as infrações penais tenham sido praticadas antes da vigência da
Lei n. 8.072/1990 e suas modificadoras.
11) É possível a concessão de comutação de pena aos condenados por crime comum
praticado em concurso com crime hediondo, desde que o apenado tenha cumprido
as frações referentes aos delitos comum e hediondo, exigidas pelo respectivo
decreto presidencial.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

12) É possível a concessão de indulto aos condenados por crime de tráfico de drogas
privilegiado (§4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006), por estar desprovido de natureza
hedionda.
13) O indulto humanitário requer, para sua concessão, a necessária comprovação,
por meio de laudo médico oficial ou por médico designado pelo juízo da execução,
de que a enfermidade que acomete o sentenciado é grave, permanente e exige
cuidados que não podem ser prestados no estabelecimento prisional.
14) O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória),
mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais. (Súmula n. 631/STJ)

2.1.4 Abolitio Criminis

Ocorre quando lei nova deixa de considerar fato como crime, havendo uma supressão formal e
material do fato criminoso do campo de incidência do direito penal.
Efeitos:
● Cessa a execução e efeitos penais da sentença condenatória
● Os efeitos extrapenais permanecem.
● NÃO gera reincidência.

Obs.1: A extinção da punibilidade se dará mesmo após o trânsito em julgado da sentença.


Obs.2: Como fato praticado deixa de ser considerado crime, se houver abolitio criminis
em relação ao crime
antecedente ao delito de lavagem, o crime de lavagem não subsistirá!!!
Obs.3: Cuidado para não confundir abolitio criminis com princípio da continuidade normativo típica. Nesse
caso, há apenas a revogação formal do tipo, de modo que a conduta continua sendo típica, porém abarcada
em tipo penal diverso. O princípio da continuidade normativa ocorre “quando uma norma penal é revogada,
mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua
tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.” (Min.
Gilson Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP).

CAIU EM PROVA! DELEGADO-MS 2021 - A abolitio criminis e a novatio legis in mellius são causas de extinção
da punibilidade aplicáveis para beneficiar o réu, ainda que tenha havido o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória. (Item incorreto).
A lei penal nova que beneficia o réu não respeita a coisa julgada, sendo aplicada mesmo quando o agente já
tenha sido condenado definitivamente, entretanto, ela não é causa de extinção de punibilidade.

ATENÇÃO PARA O JULGADO!


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NÚCLEO DURO

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A revogação da contravenção de perturbação da tranquilidade (art. 65 da LCP) pela Lei nº


14.132/2021 não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação a todos os fatos que estavam
enquadrados na referida infração penal.

A Lei nº 14.132/2021 acrescentou o art. 147-A ao Código Penal, para prever o crime
de perseguição, também conhecido como stalking:

Art. 147-A, CP. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-
lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção
ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade.
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Antes da Lei nº 14.132/2021, a conduta acima explicada era fato atípico? NÃO. Antes da criação do
crime do art. 147-A, a conduta era punida como contravenção penal pelo art. 65 do Decreto-lei 3.688/41,
que tinha a seguinte redação:

-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo


Art. 65. Molestar alguém ou perturbar
reprovável: Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de
duzentos mil réis a dois contos de réis.

A Lei nº 14.132/2021 revogou a contravenção de molestamento (art. 65 do DL 3.688/41), punindo


de forma mais severa essa conduta, que pode trazer graves consequências psicológicas à vítima. A revogação
da contravenção de perturbação da tranquilidade pela Lei nº 14.132/2021 não significa que tenha ocorrido
abolitio criminis em relação a todos os fatos que estavam enquadrados na referida infração penal.
De fato, a parte final do art. 147-A do Código Penal prevê a conduta de perseguir alguém,
reiteradamente, por qualquer meio e “de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade
ou privacidade”, circunstância que, a toda evidência, já estava contida na ação de “molestar alguém ou
perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável”, quando cometida de forma reiterada,
porquanto a tutela da liberdade também abrange a tranquilidade.
No caso concreto apreciado pelo STJ, o acusado, mesmo depoisedprocessado e condenado em
primeira instância pela contravenção penal do art. 65 da LCP, voltou a tentar contato com a mesma vítima
ao lhe enviar três e-mails e um presente. Desse modo, houve reiteração.
Com a entrada em vigor da Lei nº 14.132/2021, ele pediu o reconhecimento de que teria havido
abolitio criminis. O STJ, contudo, não aceitou essa tese. Isso porque houve reiteração, de modo que a sua
conduta se amolda ao que passou a ser punido pelo art. 147-A do CP, inserido pela Lei nº 14.132/2021. Logo,

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NÚCLEO DURO

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houve evidente continuidade normativo-típica. Vale ressaltar, contudo, que o STJ afirmou que esse réu
deveria continuar respondendo pelas sanções da contravenção do art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688/1941 (e
não pelo art. 147-A do CP). Isso porque a lei anterior era mais benéfica. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no
REsp 1863977-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/12/2021 (Info 722).

2.1.5 Decadência

Art. 103, CP. SALVO disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito
de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses,
contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º
(ação privada subsidiária da pública) do art. 100 deste Código, do dia em que se
esgota o prazo para oferecimento da denúncia.

Perda do direito de propor, mediante queixa, ação penal privada ou ação privada subsidiária, ou de
oferecer representação nos crimes de ação penal pública condicionada.

∘ Prazo de 06 meses do dia do conhecimento de quem foi o autor do fato.


∘ Regra: dia em que souber quem é o autor do crime;
∘ Exceção: ação privada subsidiária da pública – dia em que se esgotar o prazo para
oferecimento da denúncia pelo MP.
∘ Caso a vítima seja menor de 18 anos, não haverá o termo inicial da contagem do prazo. Até os 18
anos, a vítima é representada pelo seu representante legal. Caso o representante não ingresse com
a representação, a vítima poderá representar a partir do momento em que completar 18 anos,
correndo a partir desse momento o prazo de 6 meses.

2.1.6 Perempção

PEREMPÇÃO, que é a desídia processual, com consequente extinção da punibilidade;

Art. 60. Nos casos em que SOMENTE se procede mediante QUEIXA, considerar-se-
á PEREMPTA a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não
comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60

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NÚCLEO DURO

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(sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto
no art. 36 (CADI);
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer
ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessor.
Obs.: A Perempção aplica-se única e exclusivamente a ação penal EXCLUSIVAMENTE PRIVADA. Muita
atenção aos prazos na lei, cai muito!

Tal sanção processual, é imposta ao querelante omisso na ação penal exclusivamente privada,
impedindo o seu prosseguimento.
Não são todas as ações penais privadas que comportam perempção. No caso da ação penal privada
subsidiária da pública, o MP retomará a titularidade da ação (ação penal indireta).
Dar-se-á caso ocorra uma das seguintes hipóteses:
● O querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos, salvo se
houver motivo justo;
● Falecimento do querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, e ninguém compareceu para dar
seguimento ao processo, dentro do prazo de 60 dias;
● O querelante deixar de comparecer, injustificadamente, a qualquer ato do processo a que deva estar
presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
● Quando o querelante for pessoa jurídica e se extinguir sem deixar sucessor.
● Quando houver recurso da defesa e o querelante não apresentar contrarrazões recursais
(entendimento jurisprudencial).
Caso haja dois querelantes e um deles seja desidioso, haverá perempção apenas para este, não sendo
o outro prejudicado.

2.1.7 Prescrição

É a perda da pretensão punitiva ou da pretensão executória, ou seja, é a perda do direito de punir


ou de executar a pena. Elimina os efeitos penais do crime.
Por ser matéria de ordem pública, a prescrição deve ser conhecida de ofício pelo magistrado,
podendo ocorrer em qualquer fase do processo.

Decadência x prescrição:

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NÚCLEO DURO

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DECADÊNCIA PRESCRIÇÃO
Atinge diretamente o direito de ação e Atinge diretamente o direito de punir ou de
indiretamente o direito de punir ou executar a executar uma punição e indiretamente o direito
punição. de ação.
Ocorre em ação penal privada ou em ação penal Poderá ocorrer em qualquer ação, seja pública ou
pública condicionada à representação. privada, condicionada ou incondicionada.
Somente ocorre antes da ação penal. Pode ocorrer a qualquer momento.
Não se suspende, nem se interrompe. Admite causas suspensivas e interruptivas.

Conforme a CF, são imprescritíveis: (art. 5º, XLIV)


⦁ Racismo (Lei 7.716);
⦁ Ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional ou contra o estado
democrático de direito.
⦁ Injúria racial (Info 1036).

Modalidades de prescrição:

(1) Prescrição da pretensão punitiva: antes do trânsito em julgado para ambas as partes. Extingue o direito
de punir / de condenar do Estado.
(2) Prescrição da pretensão executória: após o trânsito em julgado para ambas as partes. Extingue o
direito de executar a pena imposta. Os efeitos penais secundários continuam vigentes.

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA:


Os marcos iniciais estão no artigo 112 do CP.

A prescrição da pretensão punitiva poderá se dividir em:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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a.1) PPP propriamente dita (art.109, CP);

Prescrição da Pretensão
Punitiva:
Ocorre antes do trânsito em a.2) PPP retroativa (art. 110, §1º, CP);
julgado e faz desaparecer
todos os efeitos de eventual
condenação – penais e
extrapenais. Esta espécie de a.3) PPP superveniente ou intercorrente (art.
Espécies de prescrição se divide em 4 110, §1º, CP);
Prescrição subespécies:

a.4) PPP virtual ou antecipada ou por


prognose ou em perspectiva - jurisprudência;

Prescrição da Pretensão Executória (art. 110, caput, CP):


Ocorre depois do trânsito em julgado e impede a execução da sanção. Os demais
efeitos da condenação permanecem, pouco importando se penais ou extrapenais.

a. Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita / em abstrato: ocorre enquanto ainda não houver
sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação. Se regula pela pena em abstrato
cominada ao delito;

— Previsão legal: art. 109, CP


— Termo inicial da PPP em abstrato: dia em que se consumou o delito. Adota-se, em regra, a
Teoria do Resultado (art. 111, CP).

Art. 109, CP - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o


disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa
de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a
doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a
oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a
quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Art. 111, CP - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final (PPPA),


começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;

LEVA-SE EM CONSIDERAÇÃO NÃO SE LEVA EM CONSIDERAÇÃO


Qualificadora Circunstâncias judicias (art. 59 CP)
- O valor de uma circunstância judicial não tem
previsão legal.
Causas de aumento e diminuição Agravantes e atenuantes
Atenção: tratando-se de aumento ou diminuição Atenção: A atenuante da menoridade e da
variável (p. ex. 1/3 a 2/3), considerar o maior senilidade reduz o prazo prescricional pela metade
aumento e a menor diminuição. (art. 115 CP).
Concurso de crimes (art. 119 CP)

CAIU NA DISCURSIVA – DELEGADO DE POLÍCIA – GOIÁS (2023)


Sebastião, homem de 19 anos de idade, foi denunciado pelo crime de "sequestro", delito apenado
abstratamente com reclusão, de 1 (um) a 3 três anos, prescritível, em regra, em 8 (oito) anos. Recebida a
denúncia pelo juízo competente em dia útil de outubro de 2011, foi determinada a citação do acusado. Ele,
porém, não foi encontrado pelo oficial de justiça. Posteriormente, foi expedido edital de citação, mas o réu
não compareceu nos autos. Exatos três meses após, em janeiro de 2012, o juízo competente, após
requerimento do Ministério Público, suspendeu o processo e a prescrição nos moldes do artigo 366 do código
de Processo Penal. Somente em outubro de 2022, Sebastião foi encontrado e compareceu nos autos. Sobre
esse caso, responda:
a) por quanto tempo pode ser suspensa a prescrição penal nesse caso específico?
b) Sebastião pode alegar que o crime está prescrito? Fundamente.
R.: A suspensão prescricional prevista na lei processual penal possui prazo máximo, qual seja, o prazo
prescricional da pena máxima abstratamente cominada ao delito denunciado. No caso de Sebastião, o prazo
máximo de suspensão prescricional é de 8 (oito) anos, mas, por ser Sebastião menor de 21 (vinte e um) anos
de idade, o prazo prescricional é diminuído pela metade, conforme regra excepcional do Código Penal. Logo,
a suspensão prescricional máxima do delito de sequestro, neste caso, é de 4 (quatro) anos.
Sim, Sebastião poderá alegar que a pretensão punitiva estatal está prescrita, pois tanto a suspensão
prescricional quando a prescrição da pena máxima abstrata já teriam se esgotado. A suspensão prescricional
teria que se encerrar em janeiro de 2016, quatro anos após sua decretação. Após, o prazo prescricional da
pena máxima voltaria a correr e se findaria aproximadamente em outubro de 2019, considerando que correu

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NÚCLEO DURO

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normalmente entre outubro de 2011 e janeiro de 2012. Ou seja, independente do mês e ano, é lícito dizer
que em 2022, quando Sebastião compareceu nos autos, a imputação já estava prescrita.

Caiu na prova Delegado/RN 2021 – FGV - O termo inicial da prescrição da pretensão punitiva é o do dia em
que cessar a permanência, em crimes desta natureza. (item correto)

Sobre o tema, confira a dica do Professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/9LlSFBtS0fY

b. Prescrição da pretensão punitiva retroativa: Leva esse nome por ser analisada da seguinte maneira:
após a publicação da sentença condenatória, deve-se pegar a pena em concreto fixada, verificar o prazo
prescricional definido para ela no artigo 109, e voltar no tempo para ver se ele foi ultrapassado entre a
data do recebimento da denúncia e a publicação da sentença ou acórdão condenatório, ou seja, é uma
análise retroativa baseada na pena em concreto.
(Por expressa previsão legal, não há aqui o intervalo entre a consumação e o recebimento da
denúncia.)

Art. 110, §1o, CP - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em


julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena
aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à
da denúncia ou queixa.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Características da PPP Retroativa:


✔ Pressupõe sentença ou acórdão penal condenatório;
✔ Leva em conta a pena efetivamente imposta na sentença;
✔ Pressupõe trânsito em julgado para acusação no que se relaciona à pena aplicada;
✔ Os prazos prescricionais são os mesmos do art. 109, do CP;
✔ Conta-se a PPP Retroativa da publicação da sentença condenatória até o recebimento da
inicial;

Sobre o tema, segue a dica do Professor Marcelo:

https://youtu.be/QkKtS-dbtc8

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NÚCLEO DURO

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c. Prescrição da pretensão punitiva superveniente / intercorrente: utiliza o mesmo método da prescrição


retroativa, porém, contada “para frente”. Havendo a publicação da sentença condenatória, pega-se a
pena em concreto fixada e verifica-se o transcurso ou não do lapso temporal previsto no artigo 109 entre
a publicação da sentença ou do acórdão condenatório e a data do trânsito em julgado para ambas as
partes.

Prescrição da pretensão punitiva virtual (antecipada ou em perspectiva ou prognose): Sem previsão legal.
Faz-se uma análise hipotética considerando as circunstâncias que seriam levadas em conta quando o juiz
fosse graduar a pena, para que se chegue a umarovável
p condenação, sendo tal pena virtualmente
considerada como base para se averiguar uma possível prescrição, de modo que, caso presente essa
possibilidade, não haveria interesse do Estado em dar andamento a uma ação penal que levaria à extinção
da punibilidade. Alega-se a ausência do interesse de agir. Não é admitida. Entendimento sumulado pelo STJ,
enunciado 438.
Súmula 438, STJ - É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.

Sobre o tema, mais uma dica do Professor Marcelo:

https://youtu.be/JFtM6Fo8mZY

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NÚCLEO DURO

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● Termo inicial da prescrição da pretensão punitiva: Artigo 111 do CP. Adota-se a teoria do resultado.
- Crime consumado – regra geral: data da consumação;
- Tentativa – regra geral: data da cessação da atividade criminosa;
- Crimes permanentes e habituais: data da cessação da permanência;
- Bigamia e falsificação ou alteração de assentamento do registro civil: Data do conhecimento do
fato.
- Crimes contra a dignidade sexual contra criança e adolescente ou que envolvam violência contra
criança e adolescente, data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se já houver sido
proposta ação penal.
- Crime do artigo 2º, I da Lei nº 8.137/90 praticado com fraude: data em que a fraude é praticada,
e não a data em que ela é descoberta. Trata-se de crime formal e instantâneo de efeitos
permanentes.
- Crime do artigo 1º, I da Lei nº 8.137/90: data da constituição do crédito tributário (lançamento
definitivo). Crime material.

● Causas suspensivas da prescrição da pretensão punitiva: Art. 116 do CP. O lapso temporal anterior é
contabilizado quando cessar a causa.

Causas impeditivas da prescrição


Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o
reconhecimento da existência do crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais
Superiores, quando inadmissíveis; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução
penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a
prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro
motivo.

ANTES DO PACOTE ANTICRIME APÓS O PACOTE ANTICRIME


I - enquanto não resolvida, em outro processo, I - enquanto não resolvida, em outro processo,
questão de que dependa o reconhecimento da questão de que dependa o reconhecimento da

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

existência do crime; existência do crime;


no exterior;
II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. II - enquanto o agente cumpre pena
III - na pendência de embargos de declaração ou de
recursos aos Tribunais Superiores, quando
inadmissíveis; e
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o
acordo de não persecução penal.

Confira a dica:

https://youtu.be/a_FRZGwzfJw

∘ Inciso I – Apesar de o presente inciso referir-se apenas à questão prejudicial obrigatória, prevalece na
doutrina a aplicação dessa causa suspensiva de prescrição também para as questões prejudiciais
facultativas, desde que o Juiz decida atacá-las.

Para relembrar... (arts. 92 a 94 do CPP)

DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS


Art. 92, CPP. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de
controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o
curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia
dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição
das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Parágrafo único. Se for crime de ação pública, o Ministério Público, quando
necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a
citação dos interessados.

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NÚCLEO DURO

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Art. 93, CPP. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de


decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do
juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal
poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja
prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das
testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente.
§ 1o O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente
prorrogado, se a demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o
juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo,
retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da
acusação ou da defesa.
§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
§ 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao
Ministério Público intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-
lhe o rápido andamento.
Art. 94, CPP. A suspensão do curso da ação penal, nos casos dos artigos anteriores,
será decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes.

∘ Inciso II - A prescrição ficará suspensa enquanto o agente cumpre pena no exterior. (Atenção com as
pegadinhas aqui, pois o Pacote Anticrime substituiu a palavra “estrangeiro” por “exterior”)

∘ Inciso III – A terceira causa suspensiva foi inserida pelo Pacote Anticrime e impede o curso do prazo
prescricional na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores,
quando inadmissíveis. Com isso, evita-se que os embargos (no geral, incapazes de modificar
substancialmente a decisão) e os recursos de índole extraordinária sejam utilizados como
instrumentos meramente protelatórios para se alcançar a prescrição por meio do adiamento do
julgamento final.
Trata-se de causa suspensiva irretroativa, aplicando-se somente a fatos cometidos após sua entrada
em vigor!

Caiu na Prova Delegado ES (aplicação 11/09/22) A respeito da extinção da punibilidade, assinale a opção
correta à luz do disposto no Código Penal e da jurisprudência dos tribunais superiores: Não corre prescrição
antes do trânsito em julgado da sentença final de recurso inadmissível nos tribunais superiores e pendente
de julgamento. (item correto).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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∘ Inciso IV – Esta causa suspensiva também foi inserida pelo Pacote Anticrime, e incide enquanto não
cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal (previsto no art. 28-A, CPP).
∘ Parágrafo único – esta causa suspensiva somente é aplicada em relação prescrição da pretensão
executória, no sentido de que, após passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não
corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo.

Obs.: Embora o rol do art. 116 não comporte analogia, não se trata de um rol taxativo, haja vista que existem
outras causas suspensivas em nosso ordenamento jurídico. Como por exemplo:

· Art. 366 do CPP, que regula a citação por edital no processo penal, suspendendo-se o curso
prescricional durante este lapso. Lembrando que o STJ entende, conforme súmula 415, que este
período de suspensão é regulado pelo máximo da pena cominada.
· Art. 386 do CPP, que regula a suspensão do prazo prescricional em caso de carta rogatória, quando
o acusado se encontra no estrangeiro.
· Art. 53, §§ 3º a 5º da CF/88, que disciplina a suspensão do processo contra parlamentares.
· Suspensão condicional da pena:

Durante a suspensão condicional da pena não corre o prazo prescricional. STF. 2ª


Turma. Ext 1254/Romênia, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 29/4/2014 (Info
744).

Facilitando:
Causas suspensivas da prescrição:
- questões prejudiciais
- suspensão condicional do processo parlamentar
- suspensão condicional da pena
- suspensão condicional do processo
- revel citado por edital

Atenção!! STJ: A transação penal não suspende o curso do prazo prescricional.

- Transação Penal: prescrição continua a correr.


- Suspensão condicional da pena e do processo: prescrição NÃO corre.

Impende rememorar, nesse sentido, que, “em observância ao princípio da


legalidade, as causas suspensivas da prescrição demandam expressa previsão legal”
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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(AgRg no REsp n. 1.371.909/SC, relator Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA


TURMA, julgado em 23/8/2018, DJe de 3/9/2018).

Cabe destacar que a Lei n. 9.099/1995, ao tratar da suspensão condicional do processo, instituto
diverso, previu, expressamente, no art. 89, § 6º, que “não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão
do processo”.
Da mesma forma, semelhante previsão consta do art. 366 do Código de Processo Penal, que, ao cuidar da
suspensão do processo, impõe, conjuntamente, a suspensão do curso do prazo prescricional. Assim, a
permissão de suspensão do curso do prazo prescricional sem a existência de determinação legal
consubstancia flagrante violação ao princípio da legalidade”.
● Causas interruptivas da prescrição da pretensão punitiva: Art. 117 do CP. Diante da ocorrência de
uma delas, o prazo prescricional é reiniciado por inteiro e valerá contra todos os autores e partícipes
do delito.

✔ Incisos I a IV – interrompem a prescrição da pretensão punitiva


✔ Incisos V e VI – interrompem a prescrição da pretensão executória (estudaremos adiante)

Causas interruptivas da prescrição


Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
I - Pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - Pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - Pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V - Pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da
prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes
conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a
interrupção relativa a qualquer deles.
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o
prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

CAIU EM PROVA – Vunesp - entre as causas que interrompem a prescrição, estão o início ou a continuação
do cumprimento da pena. (item correto).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Considerações importantes:

● O que vale é o RECEBIMENTO da denúncia ou queixa. Oferecimento ou rejeição não.


● Embora o artigo fale em sentença de pronúncia, entende-se que a desclassificação imprópria nos casos
do tribunal do júri (desclassifica para outro crime, também de competência do júri) também interrompe
a prescrição. A desclassificação própria, impronúncia ou absolvição sumária não interrompem a
prescrição. Cuidado com a interpretação da súmula 191 do STJ.
● No caso de crimes conexos que sejam objeto do mesmo processo, havendo sentença condenatória para
um dos crimes e acórdão condenatório para o outro delito, tem-se que a prescrição da pretensão punitiva
de ambos é interrompida a cada provimento jurisdicional (art. 117, § 1º, do CP). STJ. 5ª Turma. RHC
40.177-PR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/8/2015 (Info 568) (fonte: Dizer o
direito).
● O termo inicial no caso de fuga do preso é da data da recaptura, por ser uma infração disciplinar de
natureza permanente.
● O cumprimento da pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou prisão domiciliar,
impede o curso da prescrição executória (STF, Informativo 670).

● Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição?

SIM. É a posição atual da 1ª Turma do STF, que foi confirmada pelo Plenário do STF
em abril de 2020.
O acórdão confirmatório da sentença implica a interrupção da prescrição.
A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão
executória pela inércia do próprio Estado.

No art. 117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática todas
as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado
não está inerte. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não
faz distinção entre acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório
confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa para tratamentos
díspares.

A ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação


da condenação é a atuação do Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está
inerte, há necessidade de se interromper a prescrição para o cumprimento do
devido processo legal. STF. 1ª Turma. RE 1237572 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio,

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NÚCLEO DURO

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Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/11/2019.STF. 1ª


Turma. RE 1241683 AgR/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório


sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º
grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.
STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/04/2020.

● Prazos prescricionais: fixados no artigo 109 do CP.

● Redução do prazo prescricional:


- Se o agente for menor de 21 na data do fato ou maior de 70 anos na data da sentença, o prazo prescricional
será reduzido pela metade.

● Prescrição dos atos infracionais: a prescrição será regulada pelos mesmos prazos. Porém, há de se
salientar que sempre incidirá a redução do prazo pela metade, prevista no artigo 115 do CP, vez que são
praticados por pessoas inevitavelmente menores de 21 anos.

Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso


era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença,
maior de 70 (setenta) anos

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Para que incida a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP, é
necessário que, no momento da sentença, o condenado possua mais de 70 anos.
Se ele só completou a idade após a sentença, não terá direito ao benefício, mesmo
que isso tenha ocorrido antes do julgamento de apelação interposta contra a
sentença. Existe, no entanto, uma situação em que o condenado será beneficiado
pela redução do art. 115 do CP mesmo tendo completado 70 anos após a
"sentença" (sentença ou acórdão condenatório): isso ocorre quando o condenado
opõe embargos de declaração contra a sentença/acórdão condenatórios e esses
embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional será reduzido pela
metade se o réu completar 70 anos até a data do julgamento dos embargos. Nesse

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NÚCLEO DURO

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sentido: STF. Plenário. AP 516 ED/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão
Min. Luiz Fux, julgado em 5/12/2013 (Info 731). STF. 2ª Turma. HC 129696/SP, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info 822).

Cuidado! O STJ entende que é possível aplicar a redução do art. 115 do CP no momento do acórdão
(ou seja, após a sentença), se a sentença foi absolutória e o primeiro decreto condenatório foi a apelação.
Ex.: João tinha 68 anos quando foi prolatada a sentença; a sentença foi absolutória; o MP apelou e o TJ
reformou a sentença, condenando o réu; ocorre que, no momento do acórdão condenatório, João já tinha
mais de 70 anos; neste caso, será possível aplicar a redução pela metade do prazo prescricional, conforme
previsto no art. 115 do CP. Nesse sentido:
"A redução do prazo prescricional à metade, com base no art. 115 do Código Penal,
aplica-se aos réus que atingirem a idade de 70 anos até a primeira condenação,
tenha ela se dado na sentença ou no acórdão, situação que não ocorreu na
hipótese”. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 491.258/TO, Rel. Min. Antônio
Saldanha Palheiro, julgado em 07/02/2019. Assim, o termo "sentença",
mencionado no art. 115 do CP, deve ser entendido como "primeira decisão
condenatória, seja sentença ou acórdão proferido em apelação" (STJ. 6ª Turma.
HC 316.110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/06/2019).

● Prescrição das medidas de segurança:


- STF: não pode ser superior a 40 anos. (Alteração promovida pelo Pacote Anticrime)
- STJ: A prescrição da medida de segurança imposta em sentença absolutória imprópria é regulada
pela pena máxima abstratamente prevista para o delito. (Info 535/2014)

Em provas objetivas, utilize o entendimento do STF! No entanto, em uma prova


discursiva, é importantíssimo mencionar a divergência jurisprudencial e o
entendimento do STJ!

● Pena de multa:
- Se fixada isoladamente: 2 anos.
- Se fixada cumulada ou alternativamente com pena privativa de liberdade: será regulada pelo prazo
prescricional da pena privativa de liberdade.

Caiu em prova - Vunesp - A prescrição da pena de multa ocorrerá sempre em dois anos. (item incorreto).

● Crime do artigo 28 da lei de drogas: em 2 anos, conforme art. 30 da Lei 11.343/2006.


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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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● Substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos: deve ser analisada a pena privativa
de liberdade fixada antes da conversão para se chegar ao prazo prescricional.

● Causas de aumento ou diminuição para o cálculo em abstrato: utilizar a fração que mais aumente ou
que menos diminua, ou seja, pensar sempre na pior das hipóteses.

● Atenuantes e agravantes: não são consideradas.

● Concurso de crimes: Art. 119 do CP: No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá
sobre a pena de cada um, isoladamente

● Crime continuado: Súmula 497 do STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se
pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação.

● FACILITANDO O ENTENDIMENTO:
A prescrição da pretensão punitiva propriamente dita leva em conta a pena máxima prevista de
forma abstrata para o delito. Como não há pena imposta ao indivíduo, leva-se em consideração a maior pena
que pode ser aplicada no caso, sem análise do mérito, apenas considerando qual a pena mais alta que pode
ser calculada pelo juiz em relação à conduta de que se acusa o indivíduo. Eventual qualificadora deve ser
considerada. A forma qualificada estipula uma pena abstrata diversa para o caso de sua configuração, com
novas balizas máxima e mínima. Deste modo, é o limite máximo próprio do delito qualificado que deve ser
utilizado como parâmetro para o estabelecimento do prazo prescricional daquele caso. As majorantes são
levadas em conta para se fixar o prazo prescricional de cada infração. Quando a lei prevê majorantes, pode
haver uma fixação de um mínimo e máximo para o aumento. Ex.: Nas hipóteses do roubo majorado, previsto
no art. 157, §2º, do CP, o legislador estabeleceu que a pena deve ser aumentada de 1/3 à metade. Nestes
casos, deve-se considerar o maior aumento possível para se obter a maior pena abstratamente cominada
àquele fato. Adota-se a chamada TEORIA DA PIOR DAS HIPÓTESES, já que o cálculo deve encontrar a maior
pena possível abstratamente cominada ao delito. Se o indivíduo é acusado ou investigado em relação à
prática de um delito majorado deve-se considerar o maior aumento possível. No caso de incidir uma
minorante ou uma causa de diminuição de pena considera-se a menor diminuição possível.
Em resumo: a fração de aumento decorrente de concurso formal ou crime continuado deve ser
desconsiderada. O cálculo deve ser só sobre a pena principal.
Via de regra, deve ser feita, basicamente, a seguinte análise:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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a. Verificar a pena em abstrato a depender da hipótese, com as respectivas causas de aumento


(fração que mais aumenta) ou diminuição (fração que mais diminui);
b. Colocar essa pena da “tabela” do artigo 109 do CP e verificar seu prazo prescricional;
c. Verificar se não é caso de prazo especial (pena de multa isolada ou artigo 28 da Lei de Drogas);
d. Verificar se é cabível a redução do art. 115 do CP;
e. Verificar se transcorreu o prazo prescricional obtido pelos passos anteriores dentro de algum dos
intervalos do artigo 117 do CP.

ATENÇÃO À JURISPRUDÊNCIA!
O inadimplemento da pena de multa impede a extinção da punibilidade mesmo que já tenha sido
cumprida a pena privativa de liberdade ou a pena restritiva de direitos?
Regra: SIM. Se o indivíduo for condenado a pena privativa de liberdade e multa, o inadimplemento
da sanção pecuniária obsta (impede) o reconhecimento da extinção da punibilidade. Em outras palavras,
somente haverá a extinção da punibilidade se, além do cumprimento da pena privativa de liberdade, houver
o pagamento da multa.
Exceção: se o condenado comprovar que não tem como pagar a multa. Se o condenado comprovar
a impossibilidade de pagar a sanção pecuniária, neste caso, será possível a extinção da punibilidade mesmo
sem a quitação da multa. Bastará cumprir a pena privativa de liberdade e comprovar que não tem condições
de pagar a multa. O STJ fixou a seguinte tese:

Na hipótese de condenação concomitante a pena privativa de liberdade e multa, o


inadimplemento da sanção pecuniária, pelo condenado que comprovar impossibilidade de
fazê-lo, não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade. STJ. 3ª Seção. REsp
1785861/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 931).

d. Prescrição da Pretensão Executória: A Prescrição da Pretensão Executória é prescrição de pena em


concreto (regula-se pela pena aplicada na sentença) e pressupõe sentença condenatória com trânsito
em julgado para ambas as partes (decisão irrecorrível).

Aqui, SOMENTE AQUI, se o réu for reincidente, aumenta-se o prazo prescricional em 1/3, conforme
o artigo 110 do CP e Súmula 220/STJ.

Súmula 220-STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão


punitiva.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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- A prescrição depois de transitar em julgado a sentença


Art. 110, caput, do CP
condenatória (para acusação e defesa) regula-se pela pena aplicada e verifica-se
nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o
condenado é reincidente.

Obs1: Do mesmo modo que a PPP em abstrato, a PPP retroativa e a PPP superveniente, a prescrição
executória, havendo concurso de crimes, incide sobre cada delito isoladamente (art. 119, do CP).

Art. 119, CP - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá


sobre a pena de cada um, isoladamente.

Obs2: A PPE extingue a pena aplicada, sem rescindir a sentença condenatória (que continua produzindo
efeitos penais e extrapenais).

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA


Rescinde eventual sentença condenatória, não Não rescinde condenação, produzindo efeitos
operando efeitos penais e extrapenais. penais e extrapenais.
Extingue o direito de punir. Extingue o direito de executar a pena imposta.
Não gera reincidência. Gera reincidência.
A sentença não serve como título executivo. A sentença serve como título executivo.

● Termo inicial: art. 112, CP:

Art. 112, CP - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr:
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou
a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção
deva computar-se na pena.

O Estado tem um prazo máximo para fazer com que o réu condenado inicie o cumprimento da
pena. Caso não o faça, ocorre a prescrição executória.
Questiona-se: a partir de que dia começa a correr esse prazo que o Estado tem para fazer com que
o condenado inicie o cumprimento da pena? Dito de outra forma: qual é o termo inicial do prazo da
prescrição da pretensão executória?
Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Art. 112. No caso do art. 110 deste Código [que trata da prescrição executória], a
prescrição começa a correr:
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou
a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;

Desse modo, segundo o art. 112, I do CP, o termo inicial da prescrição executória é a data do
trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação.
E se o MP não recorre, mas a defesa apresenta recurso?
Nesse caso, a sentença condenatória transitou em julgado para a acusação. Logo, segundo a redação
do art. 112, I do CP, inicia-se a contagem do prazo de prescrição executória mesmo ainda estando pendente
a apreciação do recurso interposto pela defesa.
Diante desse paradoxo que pode ser ocasionado pela regra do art. 112, I, do CP, alguns
doutrinadores e membros do Ministério Público idealizaram a seguinte tese:
O início do prazo da prescrição executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito em
julgado para ambas as partes, ou seja, tanto para a acusação como para a defesa. Não se pode dizer que o
prazo prescricional começa com o trânsito em julgado apenas para a acusação, uma vez que, se a defesa
recorreu, o Estado não pode dar início à execução da pena, já que ainda não há uma condenação definitiva.
Se há recurso da defesa, o Estado não inicia o cumprimento da pena não por desinteresse dele, mas sim
porque há uma vedação de ordem constitucional decorrente do princípio da presunção de inocência. Ora, se
não há desídia do Estado, não se pode falar em prescrição. Desse modo, foi uma tese que surgiu para
desconsiderar a interpretação literal do art. 112, I, do CP. (Fonte dizer o direito).

ATENÇÃO!!! Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal. O STF entende que a prescrição da
pretensão executória pressupõe a inércia do titular do direito de punir, razão pela qual não se inicia a
Já o STJ tinha sedimentado
contagem desse prazo até que haja o trânsito em julgado para ambas as partes.
que o termo inicial da contagem do prazo da prescrição executória é a data do trânsito em julgado para
acusação. Entretanto, houve uma mudança de entendimento para se alinhar com o STF, logo, tanto o STJ
quanto o STF agora entendem que o termo inicial da contagem do prazo para a prescrição da pretensão
executória é o trânsito em julgado para ambas as partes:

Atualização conforme entendimento do STJ no informativo 755 (07/11/22):

O Termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão executória é o


trânsito em julgado para ambas as partes. AgRg no REsp 1.983.259-PR, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por maioria, julgado 26/10/2022, DJe
03/11/2022.
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Superior Tribunal de Justiça se alinhou com o posicionamento adotado nas decisões monocráticas
proferidas no âmbito do Supremo Tribunal Federal, bem como nos seus órgãos colegiados:

O Tribunal Pleno fixou a orientação de que "[a] prescrição da pretensão


executória, no que pressupõe quadro a revelar a possibilidade de execução da
pena, tem como marco inicial o trânsito em julgado, para ambas as partes, da
condenação". Logo, "enquanto não proclamada a inadmissão de recurso de
natureza excepcional, tem-se o curso da prescrição da pretensão punitiva, e não
a da pretensão executória" (AI 794.971/RJ-AgR, rel. do ac. Min. Marco Aurélio, DJe
de 28/06/21) (ARE 1.301.223 AgR-ED, Relato Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe
29/04/2022).

Conforme orientação da Sexta Turma do STJ, não há que se falar em prescrição da pretensão
executória, porque, ainda que haja, no STF, reconhecimento de repercussão geral - ARE 848.107/DF (Tema
n. 788) -, pendente de julgamento, "[o] Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do AI 794.971-
AgR/RJ (Rel. para acórdão Ministro Marco Aurélio, DJe 25/06/2021), definiu que o dies a quo para a contagem
para ambas as partes.
da prescrição da pretensão executória é o trânsito em julgado

● Causas Interruptivas da PPE: art. 117, V e VI do CP.

Art. 117, CP - O curso da prescrição interrompe-se:


V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência.
§1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição
produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que
sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a
qualquer deles.
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o
prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção.

Atente-se à jurisprudência sobre o tema:

O cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto


ou em prisão domiciliar, impede o curso da prescrição executória

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

De acordo com o parágrafo único do art. 116 do Código Penal, “depois de passada
em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em
que o condenado está preso por outro motivo”. Ao interpretar o referido
dispositivo legal, o STJ pacificou o entendimento de que o cumprimento de pena
imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar,
impede o curso da prescrição executória. Assim, não há que se falar em fluência do
prazo prescricional, o que impede o reconhecimento da extinção de sua
punibilidade. O fato de o prazo prescricional não correr durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das penas. STJ.
5ª Turma. AgRg no RHC 123523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020
(Info 670).

2.1.8 Renúncia

Ato voluntário do ofendido desistindo do direito de propor a ação penal privada. A renúncia em
relação a um dos autores se estenderá a todos, se houver concurso de pessoas.

2.1.9 Perdão Aceito ou Perdão do Ofendido

● É ato voluntário para obstar o prosseguimento da ação penal privada.


● Pode haver recusa do querelado, tratando-se de ato bilateral. Logo, o que extingue a
punibilidade NÃO é o perdão, mas o perdão aceito.
● Deve ser exercido APÓS a propositura da ação penal privada, mas ANTES do trânsito em
julgado da sentença penal condenatória.
● Se um dos ofendidos conceder o perdão, NÃO prejudicará o direito dos outros, no caso de
haver ofensa a mais de uma pessoa.

2.1.10 Retratação

É ato de retirar o que foi dito.


● Por ser ato pessoal, a retratação por um dos querelados NÃO se aplica aos demais.
● Deve ser irrestrita e incondicional.
● Aplicável nos casos de calúnia, difamação, falso testemunho.

2.1.11 Perdão Judicial

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Possibilidade de o juiz deixar de aplicar a sanção penal ao autor do crime, se evidenciadas certas
circunstâncias que demonstram a desnecessidade de pena.
Requisitos para aplicar o perdão judicial:
1) As consequências podem ser físicas ou morais
2) A gravidade deve ser aferida no caso concreto.

Obs.: Natureza jurídica da sentença concessiva de perdão judicial:

Súmula 18, STJ: a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção


da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

CAIU NA PROVA DELEGADO DE POLÍCIA – GOIÁS AOCP (2022)


Se da prática do fato criminoso surge o direito de punir – jus puniendi –, certo é que, de outro lado, tal direito
pode ser perdido pelo Estado se preenchidas algumas hipóteses legais. Considerando o tema Extinção da
Punibilidade, assinale a alternativa correta: Para efeitos de reincidência, a sentença que conceder perdão
judicial não será considerada. (item correto) Literalidade da lei art. 120 CP - A sentença que conceder
perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência.

RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO CULPOSO NO TRÂNSITO. ART. 302, CAPUT, DA LEI


N. 9.503/1997. PERDÃO JUDICIAL. ART. 121, § 5º, DO CÓDIGO PENAL. VÍNCULO
AFETIVO ENTRE RÉU E VÍTIMA. NECESSIDADE. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. O texto do § 5º do art. 121 do Código Penal não definiu o caráter das
consequências, mas não deixa dúvidas quanto à forma grave com que essas devem
atingir o agente, ao ponto de tornar desnecessária a sanção penal.
2. Não há empecilho a que se aplique o perdão judicial nos casos em que o agente
do homicídio culposo - mais especificamente nas hipóteses de crime de trânsito -
sofra sequelas físicas gravíssimas e permanentes, como, por exemplo, ficar
tetraplégico, em estado vegetativo, ou incapacitado para o trabalho.
3. A análise do grave sofrimento, apto a ensejar, também, a inutilidade da função
retributiva da pena, deve ser aferido de acordo com o estado emocional de que é
acometido o sujeito ativo do crime, em decorrência da sua ação culposa.
4. A melhor doutrina, quando a avaliação está vol
tada para o sofrimento psicológico
do agente, enxerga no § 5º a exigência de um vínculo, de um laço prévio de
conhecimento entre os envolvidos, para que seja "tão grave" a consequência do
crime ao agente. A interpretação dada, na maior parte das vezes, é no sentido de

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que só sofre intensamente o réu que, de forma culposa, matou alguém conhecido
e com quem mantinha laços afetivos.5. Entender pela desnecessidade do vínculo
seria abrir uma fenda na lei, que se entende não haver desejado o legislador, pois,
além de difícil aferição - o tão grave sofrimento -, serviria como argumento de
defesa para todo e qualquer caso de delito de trânsito, com vítima fatal.6. O que
se pretende é conferir à lei interpretação mais razoável e humana, sem jamais
perder de vista o desgaste emocional (talvez perene) que sofrerá o acusado dessa
espécie de delito, que não conhecia a vítima. Solidarizar
-se com o choque
psicológico do agente não pode, por outro lado, conduzir a uma eventual
banalização do instituto, o que seria, no atual cenário de violência no trânsito - que
tanto se tenta combater -, no mínimo, temerário.7. Recurso especial a que se nega
provimento. (REsp 1455178/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 05/06/2014, DJe 06/06/2014)

STJ-Resp 1.455.178/DF: O perdão judicial não pode ser concedido ao agente do


homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB) que, embora
atingido moralmente de forma grave pelas consequências do acidente, não tinha
reu sequelas físicas gravíssimas e
vínculo afetivo com a vítima nem sof
permanentes.

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE O TEMA

→ Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados


os crimes previstos na Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional
limitar o período de suspensão do prazo prescricional ao tempo de prescrição da
pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o processo permanecer
suspenso. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020
(Repercussão Geral – Tema 438) (Info 1001).

→ A comunicabilidade da interrupção do prazo prescricional alcança tão somente


os corréus do mesmo processo. Dessa forma, havendo desmembramento, os feitos
passam a tramitar de forma autônoma, possuindo seus próprios prazos, inclusive
em relação à prescrição.STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 121.697/SP, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 19/10/2021.

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→ O recebimento da denúncia é previsto como causa de interrupção do prazo


prescricional (art. 117, I, do CP). Situação1: se a denúncia foi recebida por juízo
absolutamente incompetente, pode-se dizer que houve interrupção do prazo de
prescrição?
NÃO. Doutrina e jurisprudência são uniformes no sentido de que o recebimento da
denúncia por magistrado absolutamente incompetente não interrompe o curso do
prazo prescricional. Assim, mesmo que, posteriormente, a denúncia seja recebida
pelo juízo competente, aquele primeiro recebimento feito pelo magistrado
absolutamente incompetente não servirá como marco interruptivo da prescrição.
Ex.: se um juiz de 1ª instância recebe denúncia formulada contra réu que detém
foro por prerrogativa de função no Tribunal (STJ. Corte Especial. APn 295-RR, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014).
→ Situação 2: se o vício fosse de incompetência relativa, haveria interrupção da
prescrição? A denúncia recebida por juízo relativamente incompetente
interrompe a prescrição se depois for ratificada pelo juízo competente?
SIM. Pelo princípio da convalidação, o recebimento da denúncia por parte de Juízo
territorialmente incompetente tem o condão de interromper o prazo prescricional.
Se a denúncia foi recebida pelo juízo relativamente incompetente em 2010 e depois
foi ratificada em 2011, considera-se que houve interrupção em 2010. A
convalidação posterior possui natureza declaratória, servindo apenas para
confirmar a validade daquela primeira decisão. Repetindo: o recebimento da
denúncia por parte de Juízo territorialmente incompetente tem o condão de
interromper o prazo prescricional (STJ. 5ª Turma. RHC 40.514/MG, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 08/05/2014). STJ. Corte Especial. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 17/12/2014 (Info 555).

ATENÇÃO!! Conforme o STJ, a queixa-crime apresentada perante juízo incompetente OBSTA (impede) a
decadência, se tiver sido observado o prazo de seis meses previsto no CPP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 16ª edição – Cleber Masson;


- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral
– 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Manual de Direito Penal – Parte geral
– 7ª edição – Rogério Sanches Cunha.
- Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br

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META 2

DIREITO PROCESSUAL PENAL: PROVAS (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XI e XII
⦁ Art. 5º, LV e LVI
⦁ Art. 5º, LXIII
⦁ Art. 93, IX

CP
⦁ Art. 65, III
⦁ Art. 150
⦁ Art. 342

CPP
⦁ Art. 3º-A
⦁ Art. 3º-C, §3º
⦁ Art. 6º, III
⦁ Art. 155 a 250 (engloba teoria geral da prova e provas em espécie)
⦁ Art. 260
⦁ Art. 366 e 367
⦁ Art. 400, 401, 406, §2º, 411, §2º
⦁ Art. 422
⦁ Art. 474
⦁ Art. 532

Outros Diplomas Legais


⦁ Art. 50, §1º, 57 e 54, III, da Lei de Drogas
⦁ Art. 7º, inc. XIX, da Lei 8.906/94
⦁ Lei 9296/96
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

CF/88

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⦁ Art. 5º, XI e XII


⦁ Art. 5º, LV e LVI

CPP
⦁ Art. 3ª-A e 3ª-C, §3º
⦁ Art. 155 a 157
⦁ Ar. 158 a 159
⦁ Art. 167, 168 e 169
⦁ Art. 182 e 184
⦁ Art. 185, caput, §§2º, 5º e 10º
⦁ Art. 187
⦁ Art. 197 e 200
⦁ Art. 203, 206 e 207
⦁ Art. 217 e 221
⦁ Art. 239
⦁ Art. 240 a 245
⦁ Art. 366

Outros Diplomas Legais


⦁ Lei 9296/96

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 74-STJ: Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento
hábil.

1. INTRODUÇÃO

1.1 Acepções da palavra prova

Conforme conceituação apresentada por Renato Brasileiro, o termo “prova” pode ser categorizado
conforme as seguintes acepções:

I- Prova como atividade probatória: conjunto de atividades de verificação e demonstração,


mediante as quais se procura chegar à verdade dos fatos relevantes para o julgamento. Nesse sentido,
identifica-se o conceito de prova com a produção dos meios e atos praticados no processo visando ao
convencimento do juiz sobre a veracidade (ou não) de uma alegação sobre um fato;
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II- Prova como resultado: caracteriza-se pela formação da convicção do órgão julgador no curso do
processo quanto à existência (ou não) de determinada situação fática, de acordo com os fatos alegados pelas
partes;

III- Prova como meio: instrumentos idôneos à formação da convicção do órgão julgador.

Por sua vez, os destinatários da prova, ainda conforme o doutrinador, são todos aqueles que devem
formar uma convicção. Assim, o destinatário é o órgão jurisdicional sobre o qual recai a competência para
julgar o delito (LIMA, 2017, p. 583).

1.2 Espécies de prova

a) Provas Cautelares x Antecipadas x Não Repetíveis

● Provas Cautelares: Aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão


do decurso do tempo, em relação às quais o contraditório será diferido. Podem ser produzidas na
fase investigatória ou na fase judicial e em regra dependem de autorização judicial. Ex.:
interceptação telefônica.

● Provas Não Repetíveis: Uma vez produzidas, não podem ser novamente coletadas ou produzidas,
em virtude do desaparecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória
e na fase judicial e em regra não dependem de autorização judicial. Ex.: exame de corpo de delito.

● Provas Antecipadas: São as produzidas com a observância do contraditório real, perante a


autoridade judicial, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo
antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância. É indispensável prévia
autorização judicial e elas podem ser produzidas na fase investigatória e em juízo. Ex.: depoimento
ad perpetuam rei memoriam (art. 225, CPP).

Obs.: Não se esqueça que as provas cautelares, antecipadas e irrepetíveis são exceções ao desvalor
probatório do inquérito policial, de modo que, quando produzidas em sede de investigação criminal, podem
ser utilizadas para fundamentar uma condenação.

b) Prova Direta x Indireta (LIMA, 2017, p. 591):

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● Prova Direta: Permite conhecer o fato por meio de uma única operação inferencial.

● Prova Indireta: Para alcançar uma conclusão acerca de um fato a provar, o juiz precisa realizar ao
menos duas operações inferenciais. Em um primeiro momento, a partir da prova indireta produzida,
chega à conclusão sobre a ocorrência de um fato, que ainda não é o fato a ser provado. Conhecido
esse fato, por meio de um segundo procedimento inferencial, chega ao fato a ser provado.

c) Prova Nominada x Inominada

● Prova Nominada: É aquela que tem previsão legal (o nomen iuris da prova tem previsão no CPP ou
em legislação especial), com ou sem procedimento probatório previsto em lei. Ex.: hipóteses
previstas nos art. 155 a 250, CPP.

● Prova Inominada: É aquela que não tem previsão legal.

PROVA NOMINADA PROVA INOMINADA


É a prova prevista em lei, pouco É a prova que não possui previsão legal. De
importando se o procedimento estáacordo com a doutrina, vigora no Processo Penal
previsto em lei. o princípio da liberdade quanto aos meios de
prova. Assim, ainda que o meio de prova não
Ex.: exame de corpo de delito (art. 158, tenha previsão legal, será admitido, desde que
CPP). não seja uma prova ilícita, imoral e antiética.
Ex.: reconhecimento fotográfico por e-mail em
casos de estupro.

d) Prova Típica x Atípica

● Prova Típica: É aquela cujo procedimento está previsto no texto da lei.

● Prova Atípica: É aquela que não tem procedimento probatório previsto em lei. Ex.: reconhecimento
de pessoas - é uma prova nominada e típica.

PROVA TÍPICA PROVA ATÍPICA


É a prova que possui seu procedimento É a prova que não possui seu procedimento
probatório previsto em lei. Ex.: previsto em lei. Ex.: reconstituição do crime e

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reconhecimento de pessoas (art. 226 do CPP). interceptação ambiental.

Obs.: o reconhecimento é uma prova nominada Obs.: é prova nominada (prevista em lei) e
(previsto em lei) e típica (procedimento atípica (procedimento não está previsto m lei).
probatório previsto em lei).

A “autópsia psicológica” constitui prova atípica admissível no processo penal,


cabendo ao magistrado controlar a sua utilização no caso concreto. STJ. 6ª Turma.
HC 740.431-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/9/2022 (Info Especial
10).

Conforme informações disponíveis no site “dizerodireito”, a “autópsia psicológica”, raras vezes utilizada na
praxis forense brasileira, consiste em exame retrospectivo que busca compreender os aspectos psicológicos
envolvidos em mortes não esclarecidas. Trata-se de um método “concebido como meio para auxiliar médicos
legistas a esclarecer a natureza de uma morte tida como indeterminada e que poderia estar associada a uma
causa natural, acidental, suicídio ou homicídio. O método também foi utilizado para conhecer as razões que
motivaram mortes autoinfligidas” (CAVALCANTE, Fátima Gonçalves; MINAYO, Maria Cecília de Souza.
Autópsias psicológicas e psicossociais de idosos que morreram por suicídio no Brasil. Revista Ciência e Saúde
Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Volume 17, número 8, 2012, p. 1.944).
Por se tratar de uma estratégia complexa, faz-se imperiosa a observância de critérios epistêmicos para a
redução do viés produzido pela subjetividade inerente a esse instrumento de avaliação. Daí a importância de
fixação de critérios de admissibilidade das provas científicas no processo penal.
Do contrário, o que se tem é um “recurso subjetivo, não fidedigno e com dificuldades para chegar a ser um
instrumento adequadamente validado” (WERLANG, Blanca Susana Guevara. Autópsia Psicológica,
importante estratégia de avaliação retrospectiva. Revista Ciência e Saúde Coletiva da Associação Brasileira
de Saúde Coletiva. Volume 17, número 8, 2012, p. 1.956. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csc/a/9VvMztDcc7MZW6sfcw7YqyS/?lang=pt).
Nesse sentido, “a autópsia psicológica pode ser tão ampla e ilimitada como são os conteúdos possíveis de se
aplicar a ela. E é justamente essa variabilidade que faz com que a autópsia psicológica seja criticada, por se
aplicar a muitos contextos e ainda não possuir um modelo padrão universal e validado pela comunidade
científica” (GOMES, Flavia Nieto. O contributo da autópsia psicológica na investigação de mortes suspeitas.
Dissertação [Mestrado em Ciências Policiais - Criminologia e Investigação Criminal]. Instituto Superior de
Ciências Policiais e Segurança Interna. Lisboa, 2017, p. 21. Disponível em: l1nq.com/EN0wO).

e) Prova Anômala x Irritual:

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PROVA ANÔMALA PROVA IRRITUAL


É aquela utilizada para fins diversos É aquela produzida sem a observância do
daqueles que lhe são próprios, com modelo típico previsto em lei. É prova
características de outra prova típica. Logo, ilegítima.
existe meio de prova legalmente previsto
para a colheita da prova, porém deixa-se de Ex.: reconhecimento em juízo que não
lado esse meio de prova para valer-se de segue o procedimento descrito no art. 226
outro. É prova obtida por meios ilegítimos, do CPP.
podendo caracterizar uma nulidade
absoluta ou relativa, a depender do caso
concreto.

Ex.: a testemunha - seu conhecimento deve


vir aos autos através de um depoimento
prestado em juízo, e não através de uma
mera certidão juntada aos autos, sob pena
de violação aos princípios do contraditório
e da ampla defesa.

Logo, enquanto a prova anômala segue o procedimento previsto em lei, embora não seja o adequado
caso, a prova irritual é típica e desrespeita o modelo legal para a produção da prova.

CAIU EM PROVA: (Delegado do Estado da Bahia 2022):


Prova direta é aquela que demonstra, por si, o fato
probando; que tem por objeto imediato a coisa que se quer verificar; prova indireta, é aquela que trata
reflexamente do fato probando ou fato principal, mas guarda com ele estreita relação, e faz chegar a alguma
conclusão a respeito dele, via raciocínio lógico-dedutivo – item considerado correto.

PROVA DIGITAL (DIGITAL EVIDENCES)


Atenção! Tema cobrado na prova de Delegado do Estado de São Paulo em 2022.

Segundo a International Organization of Computer Evidence (IOCE), provas digitais são “informações
transmitidas ou memorizadas em formato binário que pode ser utilizada na justiça”, abrangendo assim outras
formas de armazenamento de dados. Podem ser classificadas, entre outros, como dados que se localizam
armazenados em determinado suporte físico - computador, HD, pendrive, celular, entre outros -, podendo ser
usados para indicar elementos que demonstrem a ocorrência, ou não, de determinado fato. No processo

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penal, tem-se que as provas digitais podem ser utilizadas como fonte de prova, onde se pode extrair
informações que venham a ser utilizadas na persecução penal.

E qual a diferença para as fontes de provas tradicionais?


Gustavo Badaró, ao tratar do tema, ressalta a existência de 2 diferenças, uma de caráter ontológico, visto que
as provas digitais são caracterizadas pela imaterialidade, isso porque os elementos de provas digitais são
conservados e transmitidos em linguagem não natural, mas digital; outra de cunho metodológico, pois a
ausência de materialidade exige uma metodologia especial de produção, admissão e valoração.

Não há disciplina legal específica. A desmaterizalização e a volatilidade dessas provas, atraem a preocupação
com a possibilidade de destruição e falsificação. Trata-se de fonte de prova que pode ser facilmente
contaminada, apresentando alto grau de vulnerabilidade a erros. Diante disso, é preciso especial atenção em
relação à cadeia de custódia das provas digitais.

Como se dá a cadeia de custódia da prova digital?


Ensina Badaró que a prova digital deve se valer de instrumentos técnicos adequados para os trabalhos de
investigação de dados digitais de modo a constituir uma prova utilizável em processo judicial. O método
empregado tem que garantir a integridade do dado digital e, com isso, a força
probandi do conteúdo
probatório por ele representado. Além disso, todo o processo técnico precisa ser documentado e registrado
em todas as suas etapas, especialmente por envolver dados probatórios voláteis e sujeitos à mutação. A
documentação da cadeia de custódia é essencial no caso de análise de dados digitais, pois permitirá assegurar
a autenticidade e a integralidade dos elementos de prova e submeter tal atividade investigativa à posterior
crítica judiciária das partes, e excluirá que tenha havido alterações indevidas do material digital.
Gustavo Badaró destaca, ainda, que o laudo técnico deve conter uma completa e exaustiva descrição dos
sistemas informáticos utilizados, um elenco dos instrumentos utilizados e um detalhado relatório dos
resultados obtidos.

O que ocorre em caso de quebra da cadeia de custódia da prova digital?


No âmbito da prova tradicional, há divergência na doutrina acerca das consequências da quebra da cadeia de
custódia (conforme será visto adiante). No caso da digital evidence, conforme pontua Badaró, a solução deve
ser diversa da tradicional em razão da desmaterialização dos elementos de prova e a facilidade de mutação
dos elementos de prova, caso sua obtenção e produção não respeitem os procedimentos técnicos. Se o
método for inadequado ou se, embora adequado, não houver comprovação de seu emprego por ausência de
registro da cadeia de custódia, não há como garantir a tutela da genuinidade e não alteração do dado
informático devido a sua natureza frágil e volátil.

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Fonte: BADARÓ, Gustavo. Os Standards Metodológicos de Produção na Prova Digital e a Importância da Cadeia
de Custódia. Disponível em: https://www.ibccrim.org.br/js/pdf-
js/web/viewer.html?file=/media/publicacoes/arquivos_pdf/revista-31-05-2021-10-44-29-869137.pdf

Ainda sobre as provas digitais e a cadeia de custódia, cabe destacar decisão do STJ: São inadmissíveis
as provas digitais sem registro documental acerca dos procedimentos adotados pela polícia para a
preservação da integridade, autenticidade e confiabilidade dos elementos informáticos. (Processo sob
segredo de justiça, Rel. Ministro Messod Azulay Neto, Rel. Acd. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por
maioria, julgado em 7/2/2023)
Segundo a Corte Superior, em que pese a intrínseca volatilidade dos dados armazenados
digitalmente, já são relativamente bem delineados os mecanismos necessários para assegurar sua
integridade, tornando possível verificar se alguma informação foi alterada, suprimida ou adicionada após a
coleta inicial das fontes de prova pela polícia.
Conforme o precedente julgado, a autoridade policial que realiza a apreensão de um computador
(ou outro dispositivo de armazenamento de informações digitais) deve copiar integralmente (bit a bit) o
conteúdo do dispositivo, gerando uma imagem dos dados: um arquivo que espelha e representa fielmente o
conteúdo original. Ato contínuo, aplicando-se uma técnica de algoritmo hash, é possível obter uma
assinatura única para cada arquivo - uma espécie de impressão digital ou DNA, por assim dizer, do
arquivo.
Esse código hash gerado da imagem teria um valor diferente caso um único bit de informação fosse alterado
em alguma etapa da investigação, quando a fonte de prova já estivesse sob a custódia da polícia. Mesmo
alterações pontuais e mínimas no arquivo resultariam numa hash totalmente diferente, pelo que se
denomina em tecnologia da informação de efeito avalanche. Desse modo, comparando as hashes calculadas
nos momentos da coleta e da perícia (ou de sua repetição em juízo), é possível detectar se o conteúdo
extraído do dispositivo foi alterado, minimamente que seja. Não havendo alteração (isto é, permanecendo
íntegro o corpo de delito), as hashes serão idênticas, o que permite atestar com elevadíssimo grau de
confiabilidade que a fonte de prova permaneceu intacta.

Atenção ao Info 765 STJ!

As empresas de tecnologia que operam aplicações de internet no Brasil sujeitam-


se à jurisdição nacional e, como tal, devem cumprir as determinações das
autoridades nacionais do Poder Judiciário — inclusive as requisições feitas
diretamente — quanto ao fornecimento de dados eletrônicos para a elucidação
de investigações criminais, ainda que parte de seus armazenamentos esteja em
servidores localizados em países estrangeiros. ADC 51/DF, relator Ministro Gilmar
Mendes, julgamento finalizado em 23.2.2023

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1.3 Terminologia da Prova

Segundo Renato Brasileiro distingue-se:

● Fontes de prova: Derivam do fato delituoso em si, independentemente da existência do processo,


sendo que sua introdução no feito se dá através dos meios de prova.

● Meios de prova: Dizem respeito a uma atividade endoprocessual que se desenvolve perante o juiz,
com a participação dialética das partes, cujo objetivo precípuo é a fixação de dados probatórios no
processo.

● Meios de obtenção de prova: Referem-se a certos procedimentos extraprocessuais, em regra, que


têm como objetivo precípuo a identificação de fontes de prova.

FONTE DE PROVA MEIO DE PROVA MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA

Cometido o fato delituoso, tudo São os instrumentos através dos Refere-se a certos procedimentos,
aquilo que possa esclarecer quais as fontes de prova são em regra extraprocessuais,
alguém cerca do crime pode ser introduzidas no processo. geralmente realizados por outros
conceituado como fonte de prova agentes que não o juiz, cujo
(ex.: pessoas, coisas). Dizem respeito a uma atividade objetivo é a identificação das
endoprocessual, que se desenvolve fontes de prova. Nesse caso, o
Portanto, a fonte de prova deriva perante o juiz, com a participação contraditório será diferido, ou
do fato delituoso em si, das partes, em fiel observância ao postergado.
independentemente da existência contraditório e à ampla defesa.
do processo, sendo que sua Esse é o trabalho da autoridade
introdução nos autos do processo Ex.: A pessoa que presenciou opolicial. Não se pode dar ciência a
ocorre através dos meios de crime praticado por Renato, ao uma pessoa da investigação,
prova. prestar o depoimento, passará a ser senão ela vai tentar dificultar a
um meio de prova. A arma da investigação.
Ex.: Renato está com uma arma na prática do crime para se tornar um
mão, aponta para alguém, atira e meio de prova, deve ser apreendida Ex.: interceptação telefônica.
a pessoa morre. Após, ele deixa a e periciada.
arma em cima da mesa. As

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pessoas na sala de aula que


presenciaram o crime são fonte
de prova e, futuramente, serão
chamadas a depor em juízo. O
depoimento em juízo será o meio
de prova.

1.4 Indícios

Conceito que apresenta duas acepções:

a) Sinônimo de prova indireta


A prova indireta, conforme já pontuado, é aquela a qual, para chegar a determinada conclusão, o juiz
é obrigado a realizar pelo menos duas operações inferenciais. Por exemplo, gato e rato em uma caixa
fechada, só sai o gato, testemunha só vê o gato saindo. Prova-se que saiu apenas o gato de lá, mas não se
tem a prova direta que ele comeu o rato, é uma prova indireta, pois o rato não está em nenhum lugar.

Art. 239, CPP - Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo
relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou
outras circunstâncias.

É possível condenar alguém com base em indícios (usado como sinônimo de prova indireta)?
R.: SIM, desde que se trate de indícios plurais, coerentes e coesos, e não de um único indício isolado.

Uma nota importante: A jurisprudência entende que a testemunha de “ouvir dizer” (conhecida no direito
norte-americano como hearsay rule) não produz um depoimento confiável e, portanto, não serve como
indício de autoria.

O testemunho por ouvir dizer (hearsay rule), produzido somente na fase


inquisitorial, não serve como fundamento exclusivo da decisão de pronúncia, que
submete o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. STJ. 6ª Turma. REsp 1373356-BA,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 603).

b) Sinônimo de prova semiplena


A prova semiplena possui menor valor persuasivo, razão pela qual não autoriza um juízo de certeza,
mas de mera probabilidade.

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É considerada relevante quando houver decretação de medidas cautelaresfumus


( comissi delicti):

Art. 312, CPP - A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova (juízo de certeza) da
existência do crime e indício (prova semiplena) suficiente de autoria e de perigo
gerado pelo estado de liberdade do imputado.

É possível condenar alguém com base em uma prova semiplena?


R.: NÃO!

ATENÇÃO: Delegado de polícia trabalha com indícios e não com provas no caso concreto.

É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente em indícios derivados do inquérito


policial?
● 1ªC - NÃO. Haverá violação ao art. 155 do CPP. Além disso, muito embora a análise aprofundada
seja feita somente pelo Júri, não se pode admitir, em um Estado Democrático de Direito, a pronúncia
sem qualquer lastro probatório colhido sob o contraditório judicial, fun
dada exclusivamente em
elementos informativos obtidos na fase inquisitorial. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. HC 560.552/RS,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/02/2021. STJ. 6ª Turma. HC 589.270, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 23/02/2021.

É a posição que tem prevalecido, devendo ser adotada em


provas objetivas!

● 2ªC - SIM. É possível admitir a pronúncia do acusado com base em indícios derivados do inquérito
policial, sem que isso represente afronta ao art. 155. Embora a vedação imposta no art. 155 se
aplique a qualquer procedimento penal, inclusive dos do Júri, não se pode perder de vista o objetivo
da decisão de pronúncia não é o de condenar, mas apenas o de encerrar o juízo de admissibilidade
da acusação (iudicium accusationis). Na pronúncia opera o princípio in dubio pro societate, porque é
a favor da sociedade que se resolvem as dúvidas quanto à prova, pelo juízo natural da causa. Constitui
a pronúncia, portanto, juízo fundado de suspeita, que apenas e tão somente admite a acusação. Não
profere juízo de certeza, necessário para a condenação, motivo pelo qual a vedação expressa do art.
155 do CPP não se aplica à referida decisão. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp
1702743/GO, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
1609833/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 06/10/2020.
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NÚCLEO DURO

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ATENÇÃO: Termos importantes referentes às provas que não podem ser confundidos.
Vestígio Todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido,
que se relaciona à infração penal (art. 158-A, §3º, CPP).
Evidência É o vestígio que, após as devidas análises, tem constatada, técnica e
cientificamente, sua relação com o fato periciado
Indício Circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize,
por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias (art.
239 do CPP).

Elementos de informação Colhidos na fase inquisitorial (pré-processual), com a finalidade de embasar a


opinio delicti do órgão acusador. Também viabilizam a decretação de medidas
cautelares. Em geral, não autorizam uma condenação, pois não foram
formados com observância do contraditório e da ampla defesa.
Prova É o meio de se demonstrar a verdade de um fato, destinando-se à formação
do livre convencimento motivado do juiz. É produzida sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa (art. 155, caput do CPP).

2. OBJETO DA PROVA

É tudo o que dever ser demonstrado no processo para comprovar a verdade. Nesse sentido, em
regra, o objeto da prova são os fatos, dispensando-se a prova do Direito que se presume conhecido pelo
julgador, salvo exceções.

Vejamos em um quadro comparativo o que precisa e o que não precisa ser provado no Processo Penal,
para facilitar o aprendizado.

PRECISA SER PROVADO NÃO PRECISA SER PROVADO


Imputação constante da peça acusatória. Fatos axiomáticos ou intuitivos: são evidentes, de
acordo com o estágio atual da ciência.
Obs.: Cabe à acusação provar nexo causal, fato típico, Ex: cocaína causa dependência, não precisa provar.
autoria, participação, dolo e culpa. Cabendo à defesa
provar os fatos modificativos, extintivos e Fatos inúteis: não interessam à causa.
impeditivos.
Presunções legais: afirmação da lei, de que um fato
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Costumes é existente ou verdadeiro, independentemente de


prova.
Ex: furto praticado durante o repouso noturno,
dependerá do lugar onde ocorre - Vigência de Pode ser:
regulamentos e portarias. • Absoluta (iurie et de iure): não admite prova em
contrário.
Obs.: Se a portaria é complemento de uma norma Ex.: inimputabilidade do menor de 18 anos.
penal em branco, presume-se que o juiz a conhece. • Relativa (iuris tantum): admite prova em contrário.
Ex: Portaria 344 da ANVISA, complemento da lei de Inverte o ônus da prova
drogas.
Obs.: A presunção de violência nos crimes sexuais
não mais subsiste. O simples fato de manter uma
Direito estrangeiro, estadual e municipal, salvo em relação sexual com menor de 14 anos configura uma
relação à localidade em que exerce jurisdição. elementar do crime de estupro de vulnerável. Nesse
sentido:
Obs.: O juiz está obrigado a conhecer o direito
estadual e municipal APENAS da localidade em que Súmula 593 STJ: O crime de estupro de vulnerável se
exerce jurisdição. configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante
Fatos não contestados ou incontroversos. eventual consentimento da vítima para a prática do
ato, sua experiência sexual anterior ou existência de
Obs.: Diversamente do que ocorre no Processo Civil, relacionamento amoroso com o agente.
não existe confissão presumida no Processo Penal.
Nesse sentido: Fatos notórios: são aqueles que todo mundo
Art. 197, CPP - O valor da confissão se aferirá pelos conhece ou deveria conhecer.
critérios adotados para os outros elementos de prova, Ex.: datas históricas, como o Natal (25/12).
e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com
as demais provas do processo, verificando se entre ela
e esta existe compatibilidade ou concordância.

ATENÇÃO! Em relação ao acusado revel, os fatos NÃO


se presumem verdadeiros, tendo em vista a regra
probatória que deriva do princípio da presunção de
inocência. Logo, o único efeito da revelia no Processo
Penal é a desnecessidade de intimação do acusado
para os demais atos processuais, salvo em se tratando

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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de sentença condenatória ou absolutória imprópria.

3. PROVA EMPRESTADA

Segundo Renato Brasileiro, “consiste na utilização em um processo de prova que foi produzida em
outro, sendo que esse “transporte” da prova é feito por meio de certidão extraída daquele”.
Nesse sentido, temos que:
A prova deve ter sido produzida em processo com as mesmas partes que figuram no 2ª processo, ou
ao menos, no processo em que foi uma das partes quem suportou os efeitos. Nesse ponto, é preciso distinguir
duas situações, de acordo com quem a prova emprestada beneficia:
1. Como o MP é uno e indivisível, o acusado sempre poderá se valer de prova emprestada, sem que
haja prejuízo ao contraditório.
2. O Ministério Público só poderá se valer da prova emprestada se o acusado figurou como réu no
processo no qual a prova foi originalmente produzida.

Se a prova foi produzida em processo no qual o acusado não teve participação, não há falar em prova
emprestada, e sim em mera prova documental ou compartilhamento de prova.
Cumpre destacar que existem precedentes no âmbito do STJ afirmando que é possível a prova
emprestada proveniente de ação penal que não participaram as partes. No entanto, trata-se de
posicionamento minoritário. Vejamos:
(...) Consolidou-se a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça no sentido da
admissibilidade, uma vez observado o devido contraditório, de prova emprestada
(PROVA DOCUMENTAL) proveniente de ação penal da qual não participaram as
partes do feito para o qual a prova será trasladada. (STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp
1.471.625/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 10/06/2015).

É necessária a observância do devido processo legal na colheita originária da prova que será emprestada
e, igualmente, quanto à produção da prova no novo processo.

Consoante ensina Renato Brasileiro:

“(...) a utilização da prova emprestada só é possível se aquele contra quem ela for
utilizada tiver participado do processo onde essa prova foi produzida, observando-
se, assim, os princípios do contraditório e da ampla defesa. Só se pode considerar
como prova emprestada, portanto, aquela que foi produzida, no primeiro processo,
perante aquele que terá que se sujeitar a seus efeitos no segundo, com a

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NÚCLEO DURO

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possibilidade de ter contado, naquele, com todos os meios possíveis de contrariá-


la. (..) (edição 2020, pagina 669).

O STJ, inclusive, possui entendimento sumulado sobre o tema:

Súmula n. 591 do STJ: É permitida a prova emprestada no processo administrativo


disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados
o contraditório e a ampla defesa.

Cuidado! Existe parcela minoritária da doutrina (Geraldo Prado e Ada Pelegrini) que agrega mais um
requisito: para que seja prova emprestada, a prova transladada do processo originário para o segundo
processo deve ser produzida perante o mesmo juiz natural.
Ensina Renato Brasileiro que:

“(...) há posição minoritária na doutrina que sustenta que, além da produção da prova em
contraditório, também se impõe o respeito ao princípio do juiz natural (CF, art. 5º, inciso LIII).
Na dicção de Grinover, “para o transporte puro e simples de uma prova, de um processo para
outro, seria necessário que o contraditório no processo originário tivesse sido instituído perante
o mesmo juiz, que também seja o juiz da segunda causa (entendendo-se, com o termo ‘juiz’, não
a pessoa física investida na função, mas o órgão jurisdicional constitucionalmente
competente)”. (in Manual de Processo Penal, edição 2020, página 669)

No âmbito constitucional, temos que a interceptação telefônica, conforme o texto da Lei Maior, só
pode ser utilizada em investigação criminal ou no curso da instrução criminal (reserva constitucional
qualificada). Assim, pelo menos em tese, NÃO é possível interceptação telefônica em processo
administrativo e em processo cível. Contudo, é perfeitamente possível ser utilizada em processo cível ou
administrativo a título de prova emprestada, eis que o contraditório já foi exercido no processo criminal.
Este é o entendimento do STF, vejamos:

Compartilhamento no inquérito civil das provas colhidas em investigação criminal


mesmo que acobertadas pelo sigilo
É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para
serem utilizadas, como prova emprestada, em inquérito civil público e em outras
ações decorrentes do fato investigado. Esse empréstimo é permitido mesmo que
as provas tenham sido obtidas por meio do afastamento ("quebra") judicial dos
sigilos financeiro, fiscal e telefônico. STF. 1ª Turma. Inq 3305 AgR/RS, Rel. Min.

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NÚCLEO DURO

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Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 23/2/2016 (Info
815).

CAIU EM PROVA:
Foi questionado na 2ª fase de DPC/MS (Banca FAPEC): Cabe utilização como prova emprestada de elementos
informativos produzidos no inquérito?
R.: Em regra, como os elementos informativos do inquérito são produzidos sem a observância do princípio
do contraditório, eles não podem ser utilizados como prova emprestada, ainda que seja processo contra a
mesma pessoa que figurou como investigada no inquérito. Porém, no caso de provas não repetíveis (ex.:
exames periciais) é perfeitamente possível falar-se em prova emprestada, já que, em relação a elas, o
contraditório será respeitado, ainda que de forma diferida.

Existe precedente do STF nesse sentido. No RE 328.138/MG, a 1ª turma admitiu a validade de prova pericial
produzida em inquérito distinto como prova emprestada.

Por fim, tem-se que, caso tenha sido declarada nula ou ilegal a prova originária, não se pode admitir
a mesma como prova emprestada. Lado outro, caso processo
o original tenha sido anulado por qualquer
outro motivo que não a prova, admite-se a prova emprestada.

4. PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO X TEORIA GERAL DA PROVA

a) Conceito
A garantia da não autoincriminação consiste no direito de não produzir prova contra si próprio, essa
garantia vem sendo muito cobrada em prova no termo em latim “nemo tenetur se detegere”, positivado no
artigo 8º, g, do Pacto de São José da Costa Rica que garante à pessoa o “direito de não ser obrigado a depor
contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.

b) Previsão Normativa
Na CF/88 - art. 5º, LXIII, através da menção ao direito ao silêncio, que é um dos desdobramentos do
princípio do nemo tenetur se detegere.

Art.5º, LXIII, CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Na CADH - art.8º, item 2, alínea “g”:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Artigo 8º, item 2, CADH – (...) Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:(...) g) direito de não ser obrigado
a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada;

c) Desdobramentos do Princípio da Não Autoincriminação:

1 Direito ao silêncio – Consiste no direito de não responder às perguntas formuladas pela autoridade,
funcionando como espécie de manifestação passiva de defesa. É uma forma de se exercer a
autodefesa.

2 Direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal

3 Inexigibilidade de dizer a verdade ou direito de mentir – Cuidado! Mentiras defensivas são toleradas
pelo ordenamento jurídico, porém mentiras agressivas, incriminadoras de 3º não estão sob o manto
do direito de defesa.

4 Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá


-lo – Consiste no direito
de não adotar comportamentos ativos que colaborem com a atividade persecutória do Estado.

5 Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva - A prova invasiva é aquela que
envolve penetração no organismo humano, para extração ou utilização de alguma parte dele. Ou
seja: se a prova for invasiva, a pessoa não precisa fazer. Ex. DNA, esperma, saliva, pele, unha.

Obs.1: A CF/88 prevê que o investigado/acusado seja expressamente informado sobre o direito ao silêncio,
sob pena de nulidade das provas obtidas.

Leading case – Interrogatório sub-reptício: HC 80949


(...) 3. Ilicitude decorrente - quando não da evidência de estar o suspeito, na
ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à
gravação ambiental - de constituir, dita "conversa informal", modalidade de
"interrogatório" sub-reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades
legais do interrogatório no inquérito policial (C.Pr.Pen., art. 6º, V) -, se faz sem que
o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio. 4. O privilégio contra a auto-
incriminação – nemo tenetur se detegere -, erigido em garantia fundamental pela
Constituição -além da inconstitucionalidade superveniente da parte final do art.

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NÚCLEO DURO

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186 C.Pr.Pen. - importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de


advertir o interrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua
documentação formal -faz ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado
ou acusado no interrogatório formal e, com mais razão, em "conversa informal"
gravada, clandestinamente ou não. (...) (STF, HC 80.949/RJ, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, Primeira Turma, j. 30/10/2001).

Obs.2: Testemunhas também são destinatárias da garantia da não autoincriminação? (Questão prova oral
Amapá, Delegado, 2017)
R.: Em regra, as testemunhas são obrigadas a se manifestar, sob pena de praticarem o crime de
desobediência ou falso testemunho. No entanto, quando a resposta a determinada pergunta puder importar
em autoincriminação, elas podem sim se valer do direito ao silêncio. Dessa forma, as testemunhas são
(direito à não autoincriminação), mas seu exercício é
titulares da garantia constitucional ao silêncio
realizado pontualmente em relação a perguntas cujas respostas podem importar autoincriminação.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Inf. 754, STF: Se o indivíduo é convocado para depor como testemunha em uma
investigação e, durante o seu depoimento, acaba confessando um crime, essa
confissão não é válida se a autoridade que presidia o ato não o advertiu
previamente de que ele não era obrigado a produzir prova contra si mesmo, tendo
o direito de permanecer calado. STF. 2ª Turma, 2014.

Inf. 816, STF: Determinada pessoa foi convocada a depor na condição de


testemunha. Antes de iniciar o depoimento, ela assinou termo no qual assumiu o
compromisso de dizer a verdade. O termo dizia que "a depoente compromete-se a
dizer a verdade, ressalvadas as garantias constitucionais aplicáveis".
Posteriormente, descobriu-se que essa pessoa também estaria envolvida no
esquema criminoso, razão pela qual foi denunciada. O STF entendeu que não houve
nulidade neste depoimento porque, embora a denunciada tenha sido ouvida na
condição de testemunha, assumindo o compromisso de dizer a verdade, consta
do termo de depoimento que ela foi informada de que estavam ressalvadas
daquele compromisso “as garantias constitucionais aplicáveis”. Logo, foi a ela
conferido o direito de não responder a perguntas cujas respostas pudessem
eventualmente acarretar sua autoincriminação. STF. Plenário.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Obs.3: O silêncio do indiciado/acusado é uma garantia constitucional e não pode ser explorado em seu
desfavor.

O princípio do nemo tenetur se detegere garante ao acusado o direito de não produzir prova contra
si mesmo sendo inviável que o exercício desse direito lhe resulte em qualquer gravame. Como a Constituição
Federal assegura ao acusado o direito ao silêncio (art. 5º, LXIII), seu exercício não pode ser interpretado como
indício de sua culpabilidade.
Por isso, o art. 186, § único do CPP, após a reforma conferida pela Lei nº 10.792/2003, dispõe que o
silêncio não pode importar confissão e não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da


acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do
seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem
formuladas. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa. (Incluído pela Lei nº 10.792, de
1º.12.2003)

Cumpre destacar que, em que pese a reforma produzida pela Lei 10.791/2003, a redação do art. 198
do CPP ainda dispõe que “o silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento
para a formação do convencimento do juiz”. A doutrina defende a não recepção da parte final deste
dispositivo uma vez que o exercício do direito ao silêncio previsto na Carta Magna (art. 5º, LXIII) não pode
resultar em qualquer prejuízo para o acusado.

Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir
elemento para a formação do convencimento do juiz.

Obs. 4: Direito ao Silêncio Seletivo


Qual é a extensão do direito ao silêncio? No âmbito do interrogatório judicial (aplicável, no que
couber, ao interrogatório em sede policial conforme dispõe o art. 6º, V do CPP), quando incide o direito ao
silêncio e qual é a sua extensão?
O interrogatório judicial é bifásico, pois tem-se a fase relativa à qualificação do réu e fase relativa à
versão dos fatos.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Prevalece na doutrina e jurisprudência brasileira que o direito ao silêncio não alcança a 1ª fase. O
réu não pode se negar a responder às perguntas relativas à sua qualificação.

A primeira parte do interrogatório não se relaciona com o direito de não produzir


prova contra si. O direito a não se autoincriminar diz respeito ao mérito da
pretensão punitiva, não à identificação do investigado/acusado. STJ. 6ª Turma. RHC
126.362/BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe 29/09/2020.

Lado outro, na fase relativa à versão dos fatos (mérito), há plena incidência do direito ao silêncio de
modo que a autodefesa pode ser exercida de forma livre, desimpedida e voluntária. É nessa seara que surge
o denominado “direito ao silêncio seletivo”. No legítimo exercício da autodefesa, acobertado pelo direito
constitucional ao silêncio, ensina Renato Brasileiro que “ao acusado se defere o direito de não responder a
nenhuma pergunta, como responder a algumas delas e silenciar com relação a outras que entenda que
possam expô-lo a risco de autoincriminação” (in Manual de Processo Penal, edição 2020, pág. 750).
Assim, é possível que o acusado (ou investigado) opte por responder, por exemplo, apenas as
perguntas da defesa, silenciando quando as perguntas forem formuladas pela acusação.
Nesse panorama, decidiu o STJ:

É ilegal o encerramento do interrogatório do paciente que se nega a responder


aos questionamentos do juiz instrutor antes de oportunizar as indagações pela
defesa. 1. O artigo 186 do CPP estipula que, depois de devidamente qualificado e
cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas 2. O interrogatório, como meio de defesa,
implica ao imputado a possibilidade de responder a todas, nenhuma ou a apenas
algumas perguntas direcionadas ao acusado, que tem direito de poder escolher a
estratégia que melhor lhe aprouver à sua defesa. 3. Verifica-se a ilegalidade diante
do precoce encerramento do interrogatório do paciente, após manifestação do
desejo de não responder às perguntas do juízo condutor do processo, senão do seu
advogado, sendo excluída a possibilidade de ser questionado pelo seu defensor
técnico (...) (HC n. 703.978/SC, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 5/4/2022, DJe de
7/4/2022.)

Obs.5: Dever legal a interrupção imediata do interrogatório quando o imputado optar pelo exercício do
direito ao silêncio.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Há discussão acerca do procedimento a ser adotado pela autoridade – policial ou judicial – quando
o imputado, ao iniciar o interrogatório, informa que irá exercer o direito ao silêncio ou mesmo responder
exclusivamente às perguntas formuladas pelo seu defensor.
Há o dever de interrupção imediata do ato ou é possível que a autoridade continue formulando as
perguntas que seriam realizadas, consignando-as em ata?
A redação original do art. 191 do CPP previa que deveriam ser consignadas as perguntas que o réu
deixasse de responder e as razões que invocasse para o não fazer. Tal previsão foi suprimida pela reforma
operada pela Lei n. 10.792/03, que deu nova redação ao dispositivo. Todavia, na prática, ainda é
relativamente comum em interrogatórios policiais e judiciais o prosseguimento do interrogatório e a
consignação de todas as perguntas que seriam formuladas ao interrogando.
E é nesse contexto que deve ser compreendido o novo crime de abuso de autoridade previsto no art.
15, inciso I da Lei 13. 869/19. Trata-se de tipo penal que criminaliza a conduta do agente público que
“prossegue com o interrogatório de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio.”
O novo tipo penal esclarece que, uma vez feita a opção livre e voluntária pelo direito ao silêncio, seja
em relação ao todo, seja de maneira seletiva, impõe-se a imediata interrupção do ato, sem a formulação de
mais nenhum questionamento. Toda e qualquer tentativa de dar continuidade ao ato poderá atrair a figura
delituosa em análise, desde que, logicamente, presente o elemento subjetivo especial do art. 1º, §1º, da Lei
n. 13.869/19 (“finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda,
por mero capricho ou satisfação pessoal”).

d) Dever de Advertência quanto ao Direito à Não Auto-Incriminação

A CF, no art.5º, LXIII, diz que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;”.
Desse inciso, ensina a doutrina que a Constituição consagra um dever estatal de informar ao acusado
os seus direitos, sob pena de ilicitude da prova. O objetivo é evitar uma autoincriminação involuntária por
força do desconhecimento da lei, atraindo o dever de prévia e formal advertência.
Esse dever de advertência do direito ao silêncio é chamado pelo direito norte-americano de “Avisos
de Miranda”, “Miranda Rights” ou, ainda, “Miranda Warnings”. Os Avisos de Miranda são três. Assim,
nenhuma validade pode ser dada às declarações feita à polícia sem que antes seja informado ao declarante
que:
1. Tem o direito de não responder;
2. Tudo que disser pode ser usado contra ele;
3. Tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.
Observações:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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(1) No Brasil, só o primeiro aviso está consagrado na CF.


(2) No Brasil, a nota de culpa (nota de ciência das garantias constitucionais) é o documento que informa
à pessoa os seus direitos constitucionais.
(3) Dever de informação do direito de não autoincriminação e a mídia: O dever de informação do direito
de não autoincriminação também se aplica à mídia? A mídia, na hora de entrevistar o acusado, tem
que informá-lo do seu direito ao silêncio?
Conforme expõe o doutrinador Renato Brasileiro:

“Se o preso deve ser prévia e formalmente advertido quanto ao direito ao silêncio,
sob pena de se reputar ilícita a prova que contra si produza, também não podem
ser consideradas válidas entrevistas concedidas por presos à imprensa, antes ou
após a lavratura do flagrante, sem o conhecimento de seu direito constitucional.
Com efeito, não raramente a conversa informal entre indiciados presos e
repórteres, antes ou depois do interrogatório, é gravada sem o conhecimento
daqueles, e, de igual modo, utilizada, judicialmente, em prejuízo da defesa. Ora, a
ausência de advertência quanto ao direito ao silêncio macula da ilicitude eventuais
declarações por ele fornecidas que lhe sejam prejudiciais, porquanto produzidas
ura o direito ao silêncio (CF, art.
com violação ao preceito constitucional que asseg
5º, LXIII).

Não foi essa, todavia, a orientação do Supremo Tribunal Federal. Em HC apreciado


pela 2ª Turma (STF, 2ª Turma, HC 99.558/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, j.
14/12/2010) , em que se alegava a ilicitude da prova juntada aos autos, consistente
em entrevista concedida a jornal, na qual o acusado narrara o modus operandi de
dois homicídios a ele imputados, sem ter sido previamente advertido de seu direito
ao silêncio, reputou-se que a Constituição teria conferido dignidade constitucional
ao direito ao silêncio, dispondo expressamente que o preso deve ser informado
pela autoridade policial ou judicial da faculdade de manter-se calado. Consignou-
se que o dever de advertir os presos e os acusados em geral de seu direito de
permanecerem calados consubstanciar-se-ia em uma garantia processual penal
que teria como destinatário precípuo o Poder Público. Concluiu-se, entretanto, não
haver qualquer nulidade na juntada da prova, entrevista concedida
espontaneamente a veículo de imprensa.

De todo modo, queremos crer que deve se evitar a concessão de entrevistas por
presos à imprensa, salvo se, previamente advertido quanto ao direito ao silêncio, e

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NÚCLEO DURO

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devidamente orientado das consequências jurídicas de suas declarações,


manifestar o cidadão de maneira voluntária seu interesse em apresentar sua versão
acerca dos fatos, abrindo mão do direito de se calar” (edição 2020, página 74).

(4) Momento de observância do dever de advertência

O alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não apenas pelo Delegado, durante o interrogatório
formal, mas também pelos policiais responsáveis pela voz de prisão em flagrante, pois a todos os órgãos
estatais impõe-se o dever de zelar pelos direitos fundamentais.

A Constituição Federal impõe ao Estado a obrigação de informar ao preso seu


direito ao silêncio não apenas no interrogatório formal, mas logo no momento da
abordagem, quando recebe voz de prisão por policial, em situação de flagrante
delito. Ademais, na linha de precedentes da Corte, a falta da advertência ao direito
ao silêncio, no momento em que o dever de informação se impõe, torna ilícita a
prova. Isso porque o privilégio contra a auto-incriminação (nemo tenetur se
detegere), erigido em garantia fundamental pela Constituição, importou compelir
o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado acerca da
possibilidade de permanecer calado. Dessa forma, qualquer suposta confissão
firmada, no momento da abordagem, sem observação ao direito ao silêncio, é
inteiramente imprestável para fins de condenação e, ainda, invalida demais provas
obtidas através de tal interrogatório. No caso, a leitura dos depoimentos dos
policiais responsáveis pela prisão da paciente demonstra que não foi observado o
citado comando constitucional. (RHC 170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 4/5/2021).

e) Repercussões Materiais do Direito à Não Auto-Incriminação


1º) Crime de Denunciação Caluniosa
A garantia da não autoincriminação não abarca a possibilidade de incriminação de terceiros
inocentes, podendo ensejar a responsabilização pelo crime de denunciação caluniosa (art. 339, CP)
Não se tolera que, no exercício da autodefesa, 3º reconhecidamente inocente seja incriminado, de
forma que responderá por denunciação caluniosa o imputado que, procurando se esquivar da
responsabilização penal, venha a praticar a conduta prevista no art. 339 do CP. Quadro diverso se dá em
casos de incriminação exclusiva dos coautores e partícipes, denunciados conjuntamente com o réu. Isso
porque o acusado não satisfaz o núcleo verbal do crime de denunciação caluniosa na medida em que não

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

dá causa a nada, não provoca a instauração de nenhum procedimento investigatório, existindo, apenas, o
exercício do direito de defesa.
Ex.: Em caso de investigação de crime cometido em concurso de agentes, em que os acusados atribuem a
culpa totalmente aos demais.

2º) Crime de Uso de Documento Falso (art. 304 do CP):


A garantia a não autoincriminação não legitima o uso de documento falso porque vulnerada a fé-
pública, extrapolando-se os limites da autodefesa
3º) Crime de Falsa Identidade (307 do CP) e Contravenção pertinente a recusa no fornecimento de dados
qualificativos (68 da LCP):
No crime de atribuir falsa identidade (art. 307 do CP) não há emprego de documento falso, o sujeito
apenas se declara falsamente ou usa documento verdadeiro, mas que não é dele e sim de um irmão ou amigo
muito parecido.
É preciso distinguir as hipóteses conforme a condição do agente que pratica o crime:

a) Testemunha: incorrerá no crime do art. 307 do CP ou no art. 68 da LCP.


b) Acusado: Divergência.
materialmente atípicas porque em verdade
1ªC: Tais condutas quando perpetradas pelo imputado são
traduzem exercício de autodefesa. Alguns autores, como Álvaro da Costa, ainda ponderam a existência
de injusto impossível por absoluta impropriedade do meio, haja vista todos os mecanismos de
identificação criminal hoje à disposição do estado.
2ªC – Majoritária e STF: O fornecimento de dados qualificativos corretos não importa
autoincriminação. Tanto é que, se a qualificação por si só fosse mecanismo de autodefesa, ela seria
chancelada pela CF e não afastada com a sujeição à identificação criminal. Logo, não os ofertar ou
atribuir-se falsa identidade configuram os ilícitos penais previstos no artigo 68 da LCP e artigo 307, do
CP, não se mostrando acobertados pela autodefesa.
Autores como Nucci ainda ponderam o artigo 186, caput, do CPP, alegando que o direito ao silêncio
apenas é anunciado depois de obtido os dados qualificativos, logo o direito ao silêncio não
compreenderia os dados qualificativos.

Súmula 522, STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade


policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

STF firmou a seguinte tese em sede de repercussão geral:


“O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, LXIII, da CF/88) não alcança
aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de

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ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo


agente (art. 307 do CP)” ( RE 640.139)

4º) Crime de Omissão de Socorro no CTB (art. 305):

Art. 305, do CTB - “afastar- se o condutor, do veículo do local do acidente, para fugir
à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída”.

Em que pese existirem posições na doutrina defendendo a incompatibilidade do art. 305 do CTB com
a garantia nemo tenetur se detegere, o STF, em sede de repercussão geral, fixou a seguinte tese:

“A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é
constitucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o
direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da
antijuridicidade.”
STF. Plenário. RE 971959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018
(Repercussão Geral – Tema 907) (Info 923).

5º) Crime de Desobediência (art. 330, CP):


A desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de
policiamento ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui conduta penalmente típica,
prevista no art. 330 do Código Penal Brasileiro. STJ. 3ª Seção. REsp 1.859.933-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha
Palheiro, julgado em 09/03/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1060) (Info 732)
Conforme destaca o informativo 732 do STJ:
O STJ já decidiu que "os direitos ao silêncio e de não produzir prova contra si
mesmo não são absolutos, razão pela qual não podem ser invocados para a
prática de outros delitos. Embora por fatos diversos, aplica-se ao presente caso
a mesma solução jurídica decidida pela Terceira Seção desta Corte Superior
quando do julgamento do REsp n. 1.362.524/MG, submetido à sistemática dos
recursos repetitivos, no qual foi fixada a tese de que 'típica é a conduta de
atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial, ainda que em situação
de alegada autodefesa'" (HC 369.082/SC, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma,
julgado em 27/6/2017, DJe 1º/8/2017).
Conforme apontado pelo Ministério Público Federal em seu parecer, "a
possibilidade de prisão por outro delito não é suficiente para afastar a incidência
da não autoincriminação
da norma penal incriminadora, haja vista que a garantia

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não pode elidir a necessidade de proteção ao bem jurídico tutelado pelo crime
de desobediência. [...] O acusado tem direito constitucional de permanecer
calado, de não produzir prova contra si e, inclusive, de mentir acerca do fato
criminoso. Contudo, a pretexto de exercer tais prerrogativas, não pode praticar
condutas consideradas penalmente relevantes pelo ordenamento jurídico, pois
tal situação caracteriza abuso do direito, desbordando a respectiva esfera
protetiva".
Assim, o entendimento segundo o qual o indivíduo, quando no seu exercício de
defesa, não teria a obrigação de se submeter à ordem legal oriunda de
funcionário público pode acarretar o estímulo à impunidade e dificultar, ou até
mesmo impedir, o exercício da atividade policial e, consequentemente, da
segurança pública. STJ. 3ª Seção. REsp 1.859.933-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha
Palheiro, julgado em 09/03/2022.

4.1 Condução Coercitiva

Art. 260, do CPP - “se o acusado não atender a intimidação para o interrogatório,
reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo a sua presença”.

a) Conceito
Por meio deste mandado de condução coercitiva, o investigado (ou acusado) é PRIVADO de sua
liberdade de locomoção pelo lapso temporal necessário para ser levado à presença da Polícia Judiciária (ou
MP) e participar de ato de investigação preliminar (ou ato processual penal) no qual sua presença seja
considerada imprescindível.

b) Natureza Jurídica: Há divergência na doutrina.

1ª C (Prof. Marcus Paulo): A condução coercitiva é uma MEDIDA ADMINISTRATIVA e, por isso, pode ser
determinada não só pelo juiz (medida judicial e não jurisdicional), mas também pelo delegado bem como
em sede de CPI.

2ª C (Renato Brasileiro): A condução coercitiva MEDIDA CAUTELAR DE NATUREZA PESSOAL DIVERSA DA


PRISÃO. Conquanto não listada no rol das medidas cautelares diversas da prisão previstas nos artigos 319 e
320 do CPP, a condução coercitiva do investigado (ou acusado) também funciona como medida cautelar de
coação pessoal.

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(1) Trata-se de medida de natureza urgente que irá recair sobre a liberdade de locomoção do acusado (ele
não será preso, mas terá sua liberdade de locomoção cerceada por um determinado período).
(2) Há restrição na liberdade de locomoção, porém em grau menor que as prisões cautelares, vez que
adstrita ao tempo necessário para a preservação das fontes de prova.
(3) Não pode durar mais de 24h, sob pena de assumir as vestes de prisão cautelar.

c) Autoridade Competente:
A polícia judiciária e o MP podem expedir os mandados de condução coercitiva de investigado ou
trata-se de medida que desafia prévia autorização judicial?
O mandado de condução coercitiva é muito pouco trabalhado pela doutrina processual penal. O
artigo 260 prevê: “…a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença”. O CPP não diz expressamente
quem é essa autoridade. Por isso, diante dessa redação dúbia do artigo 260, que o tema provoca tantas
controvérsias.

1ª C (Prof. Marcus Paulo + Precedente do STF): Dispensa autorização judicial prévia.


● Por se tratar de medida administrativa, a condução coercitiva pode ser determinada não só pelo
juiz(medida judicial e não jurisdicional), mas também pelo delegado bem como em sede de CPI.
● O STF TEM UM PRECEDENTE DE 2011 QUE PERMITE A CONDUÇÃO COERCITIVA DECRETADA PELA
AUTORIDADE POLICIAL. (HC 107.644/SP: “Legitimidade dos agentes policiais, sob o comando da
autoridade policial competente (artigo 4º do CPP e artigo 6º do mesmo diploma legal), para tomar
todas as previdências necessárias à elucidação de um delito”). Trata-se de um precedente isolado.

2ª C (Renato Brasileiro): Desafia prévia autorização judicial vez que se trata de medida que importa em
restrição à liberdade de locomoção.
● Mandado de condução coercitiva É MATÉRIA SUJEITA À CLÁUSULA DE RESERVA JURISDICIONAL.
● O artigo 260, CPP deve ser interpretado de maneira que a autoridade competente é a judiciária (não
pode o MP e nem a polícia judiciária). Interpretação dos artigos 260 + 282, §2º, ambos do CPP.

d) Mandado de condução coercitiva e o Direito de não produzir prova contra si mesmo


Pela leitura do art. 260 do CPP, cabe condução coercitiva para a PRÁTICA DE ATOS QUE NÃO PODEM
SER REALIZADOS SEM A PRESENÇA do acusado/investigado. Ex.: interrogatório, reconhecimento.
A condução coercitiva é constitucional em face da garantia da não autoincriminação, com assento
constitucional e na CADH?
1ª C: Sim. A condução coercitiva em si é perfeitamente constitucional:
(1) Isoladamente considerada, a condução coercitiva não obriga o imputado a produzir prova contra si
próprio, este ao chegar ao local a que foi conduzido pode se recusar a se sujeitar ao procedimento

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probatório ao qual está a condução coercitiva atrelada. Assim, o que haverá será a inutilidade desta
medida.
(2) Ademais, por vezes a condução coercitiva pode até se mostrar benéfica ao réu, como no caso de
defensor público que solicita a condução coercitiva de seu assistido com o objetivo de viabilizar a
possibilidade de suspensão condicional do processo, ponderando-se que o réu não é obrigado a
conhecer direito processual penal e nem a possibilidade de sursis processual.
2ª C (Renato Brasileiro): É constitucional, desde que interpretado à luz da garantia a não autoincriminação,
com assento constitucional e na CADH.
Pode ser conduzido coercitivamente para a prática de atos processuais que não estejam protegidos
pela garantia a não autoincriminação, ou seja, PROCEDIMENTOS PROBATÓRIOS EVASIVOS PASSIVOS, QUE
EXIGEM APENAS UMA POSTURA PASSIVA, UM TOLERAR do acusado ou investigado. Ex.: reconhecimento
pessoal.
Não poderá ser conduzido coercitivamente para A PRÁTICA DE PROCEDIMENTOS PROBATÓRIOS INVASIVOS
OU EVASIVOS ATIVOS, QUE DEMANDAM UMA COLABORAÇÃO ATIVA, UM AGIR por parte do acusado, pois
nestes casos, há proteção constitucional. Ex.: interrogatório.

Em 2018, o STF declarou a condução coercitiva INCOMPATÍVEL com a CF (não recepção)


QUANDO IMPLEMENTADA PARA FINS DE INTERROGATÓRIO
. O argumento base foi a garantia
da não autoincriminação”.

Na ADPF 444, o Ministro Gilmar Mendes, em 18/12/17, em medida liminar, proibiu a condução coercitiva
para interrogatório, com base nos seguintes argumentos:
i. O STF entendeu que a condução coercitiva viola a liberdade de locomoção;
ii. O STF entendeu que a condução coercitiva viola a dignidade da pessoa humana.

Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório,
tal conduta poderá ensejar:
⦁ Responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade;
⦁ Ilicitude das provas obtidas;
⦁ Responsabilidade civil do Estado.

Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não invalida) os
interrogatórios que foram realizados até a data do julgamento, ainda que os interrogados tenham sido
coercitivamente conduzidos para o referido ato processual. STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906).

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Segundo Renato Brasileiro, a condução coercitiva continua cabível para outras hipóteses que não
sejam o interrogatório.
Insta salientar que, com o advento da Lei 13.869/2019 (Nova Lei de Abuso de Autoridade), conduzir
coercitivamente investigado ou testemunha, quando manifestamente descabida ou sem prévia intimação,
configura crime de abuso de autoridade.

Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado


manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Embora a norma se refira a “comparecimento ao juízo”, é certo que o instituto da condução


coercitiva, tradicionalmente, também se aplica em âmbito policial, mormente quando envolve testemunhas,
ofendidos ou investigados recalcitrantes, tudo isso em analogia aos art. 201, §único, art. 218 e art. 260, o
CPP. Além disso, o próprio tipo penal também fala em “investigado”.
No mais, são dois os comportamentos puníveis: “decretar condução coercitiva manifestamente
descabida” ou “decretar condução coercitiva sem prévia intimação de comparecimento”.
A condução coercitiva, pelo próprio nome, impõe obrigatoriedade de acatamento e, por senso
jurídico, pressupõe que a pessoa foi devidamente cientificada e não atendeu ao chamado da autoridade.
Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou que a condução
coercitiva de réu ou investigado para interrogatório, constante do artigo 260 do CPP, não foi recepcionada
pela CRFB 88. A decisão foi tomada no julgamento das Arguições de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPFs) 395 e 444, ajuizadas, respectivamente, pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pela
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O emprego da medida, segundo o entendimento majoritário,
representa restrição à liberdade de locomoção e viola a presunção de não culpabilidade, sendo, portanto,
incompatível com a Constituição Federal.
O que o art. 10 fez foi apenas tipificar a conduta que já era não recepcionada. Agora conduzir
coercitivamente é crime. Como se não bastasse, foi além do investigado, alcançando a testemunha, pois no
julgado nas ADPF’s nada disseram sobre as testemunhas. Além disso, o mencionado dispositivo não imputa
crime no caso de condução de vítima (cuidado!).

ATENÇÃO: O tipo penal usa as expressões investigado e testemunha, portanto à luz do princípio da
legalidade, nada obsta a condução coercitiva do réu, pois seria analogia in malan partem.

Nesse sentido, o professor Rogério Sanches e Rogério Greco (Abuso de Autoridade, pg. 97):

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“Assim, em virtude da redação legal, entendemos que se for decretada a condução


coercitiva manifestamente descabida do acusado não se poderá falar em abuso de
autoridade por parte do juiz que a decretou, sendo esta, portanto, uma falha que
não poderá ser preenchida via analogia”.

CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): É permitida a condução coercitiva do investigado até a
delegacia de polícia para submetê-lo ao procedimento de reconhecimento de pessoa, não havendo mácula
ao preceito nemo tenetur se detegere- item considerado correto.

5. PROVAS INADMISSÍVEIS

a) Considerações iniciais: A vedação de provas ilícitas está amparada no Estado Democrático de Direito. Não
é admissível que o Estado tenha uma postura delituosa na produção de provas. Agindo assim, o Estado
estaria se nivelando ao próprio criminoso.

b) Fundamento: Proteção aos direitos fundamentais.

De nada adiantaria a CF prever a inviolabilidade das ligações telefônicas, por exemplo, se fosse
permitido ao Estado grampear aparelhos telefônicos sem autorização judicial. Ou, ainda, não faria sentindo
proteger o domicílio e possibilitar a entrada sem mandado ou flagrante para fazer buscas.
Como todo e qualquer direito fundamental, o direito à prova não tem natureza absoluta. Está sujeito
a limitações porque coexiste com outros direitos igualmente protegidos pelo ordenamento jurídico.

● Previsão Legal
A Constituição Federal, em seu art. 5º, LVI, veda a admissibilidade de provas obtidas por meios
ilícitos.

CF, art. 5º, LVI: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;”.

Do mesmo modo, o Código de Processo Penal dispõe no art. 157 acerca da inadmissibilidade das
provas ilícitas.
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas
ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

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§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites
típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de
conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta
será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.
§ 4º (VETADO) (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008)
§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá
proferir a sentença ou acórdão. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

5.1 Distinção Entre Prova Ilícita e Prova Ilegítima

Trata-se de uma distinção doutrinária, trazida para o Brasil por Ada Pellegrini, mas sendo fruto de
uma criação de Pietro Novolone.

PROVA ILÍCITA PROVA ILEGÍTIMA


É a prova produzida com violação à regra de É a prova produzida com violação à regra de
direito material. direito processual.
Ex art. 479, CPP.
Obs.: O art. 157, caput, do CPP conceituou
“provas ilícitas” como: “obtidas em violação a
normas constitucionais ou legais”. No entanto, a
redação não é clara, pois deixa dúvidas se as
“normas legais” seriam somente de direito
material ou de direito material e processual.

Há duas correntes:
1C: Interpretação extensiva - O conceito de prova
ilícita, a partir da reforma processual de 2008,
passou a abranger o conceito de prova ilegítima.
Como a lei não estabeleceu nenhuma distinção,
a prova ilícita violaria tanto uma norma legal de
direito material como também uma norma legal
de direito processual. Assim, a distinção não teria

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mais sentido algum.

2C: Interpretação restritiva - Quando o


dispositivo faz referência às “normas legais” ele
estaria fazendo menção apenas às normas legais
de direito material.
Momento: É produzida, em regra, antes do Momento: É produzida no curso do processo
processo (extraprocessual). (endoprocessual)
Ex: Confissão obtida mediante tortura. Ex: Exame cadavérico feito por apenas um
Obs.: É possível que haja prova ilícita dentro do perito não oficial (deveriam ser dois).
processo, por exemplo, o juiz não adverte o
acusado que possui direito ao silêncio.
Consequências: Por serem inadmissíveis, Consequências: Declaração de nulidade
deverão ser excluídas (desentranhadas) do (absoluta ou relativa), aplicando-se a Teoria
processo, nos termos do art. 157, §3º do CP. das Nulidades.

O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem como
consequência imediata o desentranhamento dos autos e a sua inutilização, para que não se possa
influenciar indevidamente o convencimento do magistrado.
O desentranhamento é o ato que materializa o que a doutrina chama de DIREITO DE EXCLUSÃO, para
que não se possa influenciar indevidamente o convencimento do magistrado.
O artigo 157, §3º, CPP prevê o desentranhamento da prova ilícita:

Art.157, §3º, CPP - Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada


inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes
acompanhar o incidente.

Cuidado! O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os autos processuais que fazem
menção à prova ilícita. Assim já decidiu o STF:

As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem
ser desentranhadas do processo. Se determinada prova é considerada ilícita, ela
deverá ser desentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que
fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser
desentranhadas e substituídas. A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais
peças judiciais não são "provas" do crime e, por essa razão, estão fora da regra que

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determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista no art. 157 do
CPP. Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a
exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma. RHC
137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

STF determinou o desentranhamento do termo de colaboração premiada de


Antônio Palocci do processo penal que tramita contra Lula, cuja juntada aos autos
teria sido promovida indevidamente, de ofício, pelo ex-Juiz Sérgio Moro. A defesa
do ex-Presidente Lula impetrou habeas corpus no STF pedindo o
desentranhamento do “Termo de Colaboração de Antônio Palocci Filho”, cuja
juntada aos autos foi promovida de ofício, pelo então Juiz Federal Sérgio Moro. O
STF entendeu que essa juntada foi ilícita e determinou o seu desentranhamento.
Os Ministros apontaram três circunstâncias envolvendo essa conduta que
revelariam a parcialidade do magistrado na condução do processo: Em primeiro
lugar, o termo de colaboração foi juntado quando a fase de instrução processual
havia sido encerrada, de forma que as declarações sequer estariam aptas a
fundamentar a prolação da sentença. Em segundo, aconteceu cerca de três meses
após a decisão judicial que o homologara. Para os Ministros, essa demora parece
ter sido cuidadosamente planejada para gerar verdadeiro fato político na semana
que antecedia o primeiro turno das eleições presidenciais. Ato contínuo à juntada,
foi determinado o imediato levantamento do sigilo, com clara finalidade de que
fosse dada publicidade às imputações dirigidas ao réu, sem que as circunstâncias
narradas no ajuste fossem relevantes para a ação penal em andamento. Em
terceiro, o fato de a juntada e o levantamento do sigilo terem ocorrido por iniciativa
do próprio juiz, isto é, sem qualquer provocação do órgão acusatório. A
determinação da juntada desse termo de delação, nesses moldes, consubstancia
inequívoca quebra da imparcialidade. STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020
(Info 985).

Contudo, existem hipóteses elencadas pela doutrina em que a prova, em que pese ilícita e, por
conseguinte, desentranhada dos autos, NÃO será inutilizada:

1) Quando a prova PERTENCER LICITAMENTE a alguém


− Pode ser que essa prova ilícita que foi desentranhada do processo seja um objeto qualquer que
pertence de maneira lícita a um terceiro.

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NÚCLEO DURO

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− Ex. alguém viola o domicílio de alguém e pega uma carta. Se essa carta é reconhecida como ilícita
num futuro processo, ela não precisa ser destruída, pois a carta, em si, é um objeto lícito
pertencente a alguém.

2) Quando a PROVA ILÍCITA CONSISTIR NO CORPO DE DELITO em relação àquele que praticou um crime
para obtê-la.
− A prova ilícita pode ser a prova do crime da pessoa que a produziu.
− Ex. Caso dos policiais que foram apurar um crime de corrupção supostamente praticado por uma
escrivã e tiraram a roupa da mulher à força (para pegar o dinheiro de corrupção que ela
supostamente guardava na calcinha). Os policiais, inclusive, gravaram todo o fato. Se, no processo
de apuração da corrupção, essa prova for reconhecida como ilícita, não pode ela ser destruída,
porque ela prova a prática de crime de abuso de autoridade ou constrangimento ilegal por parte dos
policiais.

Com o advento da Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime), foi inserido no CPP o §5º ao art. 157, com a
seguinte redação:

Art. 157. [...] § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível
não poderá proferir a sentença ou acórdão. (NR)

O §5º positivou o que há muito tempo clamava a doutrina 2, que sempre afirmou que o mero
desentranhamento da prova ilícita não era a única solução a ser tomada, pois, o juiz que tem contato com a
prova ilícita, passa a ser impedido para o julgamento.

“Quanto ao problema da contaminação do juiz que teve contato com a prova ilícita
e que deve(ria) ser impedido de julgar, o veto ao § 4º do art. 157 deve ser analisado
a partir de seus próprios “fundamentos”, de que a exclusão desse juiz
comprometeria a “eficácia” do processo penal, gerando tumulto nas comarcas de
juízo único. Logo, a contrário senso, nas varas em que existam dois ou mais juízes,
não se justificaria a manutenção do juiz contaminado! Não havendo o motivo
apontado no veto, não há mais o menor fundamento para – erroneamente –
manter um juiz contaminado no processo, proferindo sentença a partir da
convicção formada com base na prova ilícita. É óbvio que o juiz que conheceu a

2
(Jr, 2016, p. 363)
92
NÚCLEO DURO

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prova ilícita não pode julgar, pois está contaminado. Não basta desentranhar a
prova; deve-se “desentranhar” o juiz!”

Ressalta-se que parte da doutrina afirma que não haveria impedimento se foi o próprio juiz a quo
que identificou a ilicitude. Isso porque, como ele pode ser tido por impedido se ele se limitou a fazer o que
manda a Constituição, ou seja, não admitir provas ilícitas? Se ele agiu em conformidade com a Constituição,
não podemos extrair desse seu comportamento qualquer causa de impedimento. Por outro lado, se o
reconhecimento da ilicitude proveio de uma instância superior, portanto, esse juiz não pode prosseguir,
porque além de o juiz já ter assimilado aquela informação, para ele está tudo certo, ou seja, ele vai
desentranhar aquela prova contra sua vontade, dando cumprimento a uma determinação que proveio de
órgão jurisdicional de instância superior, e aí sim se justifica o seu afastamento, o seu impedimento (Marcos
Dutra).
Cumpre destacar que essa novidade legislativa se encontra com a eficácia suspensa, em sede de
medida cautelar, concedida pelo Min. Fux nas ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305.

5.2 Teoria da Prova Ilícita por Derivação

São meios probatórios que, não obstante lícitos


em sua essência, em seu momento de produção, por
decorrem de uma prova anteriormente obtida por meios ilícitos, são contaminados pela ilicitude originária.
Tal vício da ilicitude originária é transmitida em razão do nexo causal existente entre elas. Ex.: confissão de
homicídio mediante tortura.
A prova ilícita por derivação é uma aplicação da teoria americana da árvore dos frutos envenenados,
segundo a qual o defeito existente no tronco contamina os frutos.
A prova ilícita por derivação surge no Direito Americano, no julgado Silverthorne Lumber Co. X EUA
(1920) e depois outro julgado em 1939 (Caso Nardone x EUA). A partir desse segundo julgado, começa a ser
utilizada a chamada Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada (“fruits of poisonous tree theory”).
No Brasil, ao julgar o HC 80.949, o STF considerou ilícita uma gravação feita por policiais de confissão
do acusado sem que houvesse advertência formal quanto ao direito ao silêncio.
Essa teoria era somente adotada pela jurisprudência, mas com a reforma do CPP em 2008, tornou-
se texto legal (art. 157, §1º):

Art. 157, § 1o São também inadmissíveis AS PROVAS DERIVADAS DAS ILÍCITAS,


salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das
primeiras.

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Veja uma decisão em que o STJ aborda expressamente a teoria (REsp 1.630.097/RJ – 5ª T. STJ):

O Tribunal de origem considerou que, embora nada de ilícito houvesse sido


encontrado em poder do acusado, a prova da traficância foi obtida em flagrante
violação ao direito constitucional à não autoincriminação, uma vez que aquele foi
compelido a reproduzir, contra si, conversa travada com terceira pessoa pelo
sistema viva-voz do celular, que conduziu os policiais à sua residência e culminou
com a arrecadação de todo material estupefaciente em questão. 2. Não se cogita
estar diante de descoberta inevitável, porquanto este fenômeno ocorre quando a
prova derivada seria descoberta de qualquer forma, com ou sem a prova ilícita, o
que não se coaduna com o caso aqui tratado em que a prova do crime dependeu
da informação obtida pela autoridade policial quando da conversa telefônica
travada entre o suspeito e terceira pessoa. 3. O relato dos autos demonstra que a
abordagem feita pelos milicianos foi obtida de forma involuntária e coercitiva, por
má conduta policial, gerando uma verdadeira autoincriminação. Não se pode
perder de vista que qualquer tipo de prova contra o réu que dependa dele mesmo
só vale se o ato for feito de forma voluntária e consciente.4. Está-se diante de
situação onde a prova está contaminada, diante do disposto na essência da teoria
dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree), consagrada no art.
5º, inciso LVI, da Constituição Federal, que proclama a nódoa de provas,
supostamente consideradas lícitas e admissíveis, mas obtidas a partir de outras
declaradas nulas pela forma ilícita de sua colheita.

5.2.1 Limitações à Teoria da Prova Ilícita por Derivação

Com o passar dos anos, a Suprema Corte Americana entendeu que a Teoria da Prova Ilícita por
Derivação não poderia ser aplicada de forma ilimitada. Diante disso, surgiram teorias que visam a licitude da
prova.
São elas: Teoria da Fonte Independente, Descoberta Inevitável, Nexo Atenuado e Teoria do Encontro
Fortuito de Prova.

I. TEORIA DA FONTE INDEPENDENTE

Trata-se da prova obtida de forma independente, não sendo contaminada pelo veneno da prova
ilícita. Assim, de um lado ela tem relação com a prova ilícita, mas por outro lado tem uma fonte independente
que a torna lícita.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Segundo Renato Brasileiro, “se o órgão da persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente,
novos elementos de informação a partir de uma fonte autônoma de prova, que não guarde qualquer relação
de dependência, nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vínculo causal, tais
dados probatórios são admissíveis, porque não contaminados pela mácula da ilicitude originária”.
Essa teoria tem origem no direito americano (The Independent Source Limitation) no caso Bynum X
US, onde o cidadão foi preso ilegalmente e, com essa prisão, fizeram uma identificação datiloscópica. Com a
identificação (ilegal por derivação) acharam suas digitais na cena do crime. Pela ilegalidade, a Corte exclui
essa identificação. No entanto, posteriormente, verificaram que já existia uma identificação no sistema do
FBI, de forma independente, o que possibilitou o processo e a condenação do Bynum.
A Teoria da Fonte Independente já era adotada pelo STF (RHC 90.376, HC 83921), vindo a ser inserida
no art. 157, §1º.

Art. 157, § 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as
derivadas puderem ser obtidas por uma FONTE INDEPENDENTE das primeiras.

ATENÇÃO: Segundo a doutrina, o legislador teria cometido um equívoco na redação do art. 157, §2º, pois na
verdade ele conceituou no § 2º não a limitação da fonte independente, masteoria
a da descoberta inevitável
da prova.

II. TEORIA DA DESCOBERTA INEVITÁVEL

Essa teoria também tem origem no direito norte-americano (The Inevitable Discovery Limitation) no
julgado Nix X Williams II (1984). O cidadão era suspeito de matar alguém, porém o cadáver não era localizado.
Ele foi coagido e confessou onde estava o cadáver, que foi apreendido (prova ilícita por derivação). No
entanto, no caso concreto, 200 voluntários da cidade já estavam fazendo uma varredura atrás do cadáver. A
Suprema Corte então decidiu: Realmente o cadáver foi descoberto por meio ilícito, porém na situação
concreta, como os 200 moradores já estavam nas imediações do cadáver, a descoberta seria inevitável,
portanto, a apreensão do cadáver foi lícita.
Segundo Renato Brasileiro, “se restar demonstrado que a prova derivada da ilícita seria produzida de
qualquer modo, independentemente da prova ilícita originária, tal prova deve ser considerada válida”.
Cuidado: Não é possível se valer dessa teoria com base em dados meramente especulativos, sendo
indispensável a existência de dados concretos, que demonstrem que a descoberta seria inevitável. Em outras
palavras: a descoberta inevitável que conduz à licitude de uma prova colhida de forma irregular está pautada
em um JUÍZO DE INEVITABILIDADE. Assim, as provas ilícitas podem ser aproveitadas desde que seja
cabalmente provado que a prova chegaria nos autos de qualquer maneira (juízo de inevitabilidade),

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NÚCLEO DURO

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considerando-se o rumo regular e lícito das investigações, o que tornaria irrelevante a sua obtenção
primária ilícita.
O STJ (HC 52.995) foi o primeiro Tribunal Superior a adotar a Limitação da Descoberta Inevitável. O
STF possui alguns precedentes adotando a referida teoria (HC 91.867).

STJ: “(...) A inviolabilidade dos sigilos é a regra, e a quebra, a exceção. Sendo


exceção, deve-se observar que a motivação para a quebra dos sigilos seja de tal
ordem necessária que encontre apoio no princípio da proporcionalidade, sob pena
de se considerarem ilícitas as provas decorrentes dessa violação. Assim, a par da
regra da liberdade dos meios de prova, excetua-se a utilização daquelas obtidas por
meios ilegais, conforme dispõe o inciso LVI do art. 5º da Constituição Federal,
inserindo-se, nesse contexto, as oriundas da quebra de sigilo sem autorização
judicial devidamente motivada. Entretanto, no caso, há que se fazer duas
considerações essenciais que afastam, por completo, a proteção que ora é
requerida por meio de reconhecimento de nulidade absoluta do feito. A primeira
diz respeito a própria essência dessa nulidade que, em tese, ter-se-ia originado com
a publicidade dada pelo banco ao sobrinho da vítima, que também era seu
herdeiro. (...) Tratou-se toda a operação bancária demugolpe efetivado por meio
de um engodo. Titularidade solidária que detinha uma das pacientes e que agora é
reclamada para efeitos de autorização legal, decorreu de ilícito efetivado contra
vítima. Pretende-se, na verdade, obter benefício com a própria prática criminosa.
Impossibilidade de se beneficiar da própria torpeza. A segunda consideração, não
menos importante, é que o extrato ou documento de transferência foi obtido por
herdeiro da vítima, circunstância que ocorreria de qualquer maneira após a sua
habilitação em inventário, a ensejar, da mesma maneira, o desenrolar do
processo tal qual como ocorreu na espécie. Acolhimento da teoria da descoberta
inevitável; a prova seria necessariamente descoberta por outros meios legais. No
caso, repita-se, o sobrinho da vítima, na condição de herdeiro, teria,
inarredavelmente, após a habilitação no inventário, o conhecimento das
movimentações financeiras e, certamente, saberia do desfalque que a vítima
havia sofrido; ou seja, a descoberta era inevitável. Ordem denegada” (STJ, 6ª
Turma, HC 52.995/AL, Rel. Min. Og Fernandes, Dje 04/10/2010)

Para muitos doutrinadores, essa teoria teria sido adotada pelo legislador no art. 157, §2º, in verbis:

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Art. 157, §2 o Considera-se fonte independente (descoberta inevitável) aquel


a que
por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou
instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.

Cuidado para não confundir com a teoria da fonte independente vista acima! Com efeito, quando
o referido dispositivo faz menção à fonte independente, quis, na verdade, trazer o conceito da limitação da
descoberta inevitável.

Obs.: Alguns doutrinadores (posição minoritária) afirmam que a adoção desta teoria pelo Brasil seria
inconstitucional, pois ela estaria limitando excessivamente a vedação da prova ilícita constante da CF.

III. LIMITAÇÃO DA MANCHA PURGADA, NEXO ATENUADO OU TINTA DILUÍDA (TEORIA DOS VÍCIOS
SANADOS)

Como todas as demais, essa teoria também tem origem no Direito Americano (Teoria dos Vícios
Sanados ou da Tinta Diluída ou da Mancha Purgada – “Purge Taint Limitation” ou “Atenuated Connection
Limitation”).
Ocorre quando um ato posterior, totalmente independente, afasta a ilicitude originária. O vício da
ilicitude originária é atenuado em virtude do espaço temporal decorrido entre a prova primária e a
secundária, ou por conta de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória ou da vontade de um dos
envolvidos em colaborar com a persecução criminal.
Essa teoria foi adotada no caso Wong Sun v. United States (1963). Nesse caso, policiais da 'delegacia
de entorpecentes' entraram num domicílio sem 'causa provável' (indícios probatórios necessários para tal) e
prenderam ilegalmente 'A', o qual, quase imediatamente depois, acusou 'B' de ter vendido a droga. Os
policiais, em seguida, prenderam ilegalmente 'B', o qual, por sua vez, indicou 'C', que também foi preso
ilegalmente. Vários dias mais tarde, depois de 'C' ter sido libertado, 'C' voluntariamente confessou oralmente
aos policiais da delegacia de entorpecentes, durante seu interrogatório policial. A Suprema Corte excluiu a
apreensão da droga encontrada com 'B' e as declarações de 'B' por terem sido 'frutos' da entrada ilegal na
sua casa e da sua prisão ilegal.
Entretanto, rejeitou que a confissão de 'C' fosse fruto da sua prisão ilegal, pois, embora 'C' pudesse
nunca ter confessado se ele jamais tivesse sido preso ilegalmente, sua ação voluntária de confessar, depois
de ter sido solto e alertado de seus direitos, tinha tornado a conexão entre a prisão e a declaração tão
atenuada que a 'nódoa' da ilegalidade tinha se dissipado.
A prova primária e a secundária, ou por conta de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória
ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar com a persecução criminal.
Segundo Renato Brasileiro, “não se aplica a teoria da prova ilícita por derivação se o nexo causal

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NÚCLEO DURO

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entre a prova primária e a secundária for atenuado em virtude do decurso do tempo, de circunstâncias
supervenientes na cadeia probatória, da menor relevância da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos
em colaborar com a persecução criminal. Nesse caso, apesar de já ter havido a contaminação de um
determinado meio de prova em face da ilicitude ou ilegalidade da situação que o gerou, um acontecimento
futuro expurga, afasta, elide esse vício, permitindo-se, assim, o aproveitamento da prova inicialmente
contaminada”.
Alguns doutrinadores (Andrei Borges de Mendonça e Guilherme Madeira) entendem que essa teoria,
também, foi colocada no art. 157, §1º, in verbis:

Art. 157, § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas (prova
ilícita por derivação), salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre
umas e outras (teoria da tinta diluída), ou quando as derivadas puderem ser obtidas
por uma fonte independente das primeiras (teoria da fonte independente).

No âmbito dos Tribunais, há precedente do STJ reconhecendo a aplicação da teoria:

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL. PROVA


PRODUZIDA NO EXTERIOR. PARÂMETRO DE VALIDADE.ADMISSIBILIDADE NO
PROCESSO. ORDEM PÚBLICA, SOBERANIA NACIONAL E BONS COSTUMES.
VIOLAÇÃO. INOCORRÊNCIA. PROVAS ILÍCITAS DERIVADAS. FRUTOS DA ÁRVORE
ENVENENADA. EXCEÇÕES. TEORIA DA MANCHA PURGADA. NEXO DE
CAUSALIDADE. ATENUAÇÃO.PRERROGATIVA DE FORO. CONEXÃO E CONTINÊNCIA.
COMPETÊNCIA. DESMEMBRAMENTO. FORO PREVALENTE. ART. 78 DO CPP.
PREJUÍZO CONCRETO. DEFESA. AUSÊNCIA. CORRUPÇÃO PASSIVA QUALIFICADA.
APTIDÃO DA DENÚNCIA. LAVAGEM DE DINHEIRO. CONSUNÇÃO. MATÉRIA DE
PROVA. ATIPICIDADE. INOCORRÊNCIA. RECEBIMENTO.
(...)
5. De acordo com a teoria do nexo causal atenuado ou da mancha purgada, i) o
lapso temporal decorrido entre a prova primária e a secundária; ii) as circunstâncias
intervenientes na cadeia probatória; iii) a menor relevância da ilegalidade; ou iv) a
vontade do agente em colaborar com a persecução criminal, entre outros
elementos, atenuam a ilicitude originária, expurgando qualquer vício que possa
recair sobre a prova secundária e afastando a inadmissibilidade de referida prova.6.
Na presente hipótese, as provas encaminhadas ao MP brasileiro são legítimas,
segundo o parâmetro de legalidade suíço, e o meio de sua obtenção não ofende a
ordem pública, a soberania nacional e os bons costumes brasileiros, até porque

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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decorreu de circunstância autônoma interveniente na cadeia causal, a qual


afastaria a mancha da ilegalidade existente no indício primário. Não há, portanto,
razões para a declaração de sua inadmissibilidade no presente processo. (APn
856/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/10/2017,
DJe 06/02/2018; grifou-se).

IV. TEORIA DO ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS

A teoria do encontro fortuito ou casual de provas é utilizada nos casos em que, no cumprimento de
uma diligência relativa a um delito, a autoridade policial casualmente encontra provas pertinentes à outra
infração penal, que não estavam na linha de desdobramento normal da investigação.
Fala-se em encontro fortuito de provas ou serendipidade quando a prova de determinada infração
penal é obtida a partir de diligência regularmente autorizada para a investigação de outro crime. Nesses
casos, a validade da prova inesperadamente obtida está condicionada à forma como foi realizada a diligência:
se houve desvio de finalidade, abuso de autoridade, a prova NÃO deve ser considerada válida; se o encontro
da prova foi casual, fortuito, a prova É válida.
● Se tais elementos forem obtidos de maneira fortuita, são plenamente válidos;
● Se tiver ocorrido desvio de finalidade, deve ser reconhecida a ilicitude da prova.

Ex.: Alguém mantém um tigre em casa e o IBAMA descobre, de modo que se solicita ao juiz um
mandado de busca e apreensão para o tigre. No cumprimento do mandado, a autoridade policial entra na
casa e começa a abrir gavetas, de modo que encontra documentos que comprovam um crime tributário.
Pode usar esse documento como prova? Nesse caso, como a autoridade abre gavetas, ele está
desviando a finalidade de buscar o tigre. Portanto, a prova é ilícita. Se fosse o contrário, ou seja, procurando
documentos e achasse o tigre por acaso, seria lícito.
A teoria do encontro fortuito de provas não deve ser trabalhada única e exclusivamente para as
hipóteses de cumprimento de mandados de busca e apreensão. Sua utilização também se apresenta útil no
tocante ao cumprimento de interceptações telefônicas. Isso porque é comum que, no curso de uma
interceptação telefônica regularmente autorizada pelo juiz competente para investigar crime punido com
pena de reclusão, sejam descobertos elementos probatórios relativos a outros delitos e/ou outros indivíduos.
Em tais hipóteses, verificando-se que não houve desvio de finalidade no cumprimento da diligência, dúvidas
não temos quanto à validade dos elementos assim obtidos.

A serendipidade pode ser classificada conforme o grau:

▪ Serendipidade ou encontro fortuito de 1º grau: Ocorre quando os encontros fortuitos são de fatos
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NÚCLEO DURO

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conexos ou continentes com os fatos sob investigação. Nesse caso, a prova produzida pode ser
valorada pelo juiz.
▪ Serendipidade ou encontro fortuito de 2º grau: Ocorre quando se trata de fatos não conexos ou
quando não exista continência com os fatos sob investigação. Nesse caso, a prova produzida vale
como notitia criminis.

A serendipidade pode, ainda, ser objetiva ou subjetiva:

▪ Serendipidade subjetiva: Ocorre quando, no curso da medida, surgirem indícios do envolvimento


criminoso de outra pessoa que inicialmente não estava sendo investigada. Ex: durante a interceptação
telefônica instaurada para investigar João, descobre-se que um de seus comparsas é Pedro (Deputado
Federal).

▪ Serendipidade objetiva: Ocorre quando, no curso da medida, surgirem indícios da prática de outro
crime que não estava sendo investigado.

Obs.: Segundo entendimento do STF (HC 129.678), o Crime Achado é a infração penal desconhecida e não
investigada até o momento em que se descobre o delito. Em caso concreto apreciado pelo referido órgão,
apesar de ter sido autorizada para investigar um crime de tráfico de drogas, a interceptação telefônica
acabou por revelar a prática de um delito de homicídio. Nesse caso, presentes os requisitos constitucionais
e legais, a prova deve ser considerada lícita.

Obs.: Mandado de busca e apreensão em escritório de advocacia.

De acordo com a Lei 8.906/94, com redação dada pela Lei 11.767/08, o mandado de busca e
apreensão a ser realizado em escritório de advocacia deve ser ESPECÍFICO e PORMENORIZADO, a ser
cumprido na presença de representante da OAB, sendo vedada a utilização de documentos e objetos
pertencentes a clientes do advogado investigado, salvo se tais clientes também estiverem sendo investigados
como partícipes ou coautores do advogado.
Ou seja, no cumprimento de mandado de busca e apreensão em escritório de advocacia NÃO se
aplica a teoria do encontro fortuito quanto a documentos não referentes ao investigado, pois estariam
protegidos pelo sigilo, não fazendo parte do objeto da diligência. Seria, assim, configurado um desvio de
finalidade da diligência, ocasionando a ilicitude das provas.
Ex.: “A” é advogado e seu escritório foi objeto de uma busca e apreensão porque “A” era suspeito de
ter praticado o crime “X”. Durante a busca e apreensão foram apreendidos documentos relacionados com
“B” (cliente de “A”) que não era investigado pelo crime “X” e, por conta desses documentos apreendidos,
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NÚCLEO DURO

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“B” foi denunciado pelo crime “Y”. “B” impetrou habeas corpus no STJ afirmando que a apreensão dos
documentos foi ilegal.

CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado do Rio de Janeiro 2022): Uma operação policial foi deflagrada para coibir a atividade
ilícita de determinados ferros-velhos na região da Baixada Fluminense, onde, segundo as investigações,
carros, produtos de furto e roubos, eram cortados e suas peças eram vendidas no mercado paralelo em todo
o estado. Atuaram na operação 80 agentes de polícia e 10 delegados, que, munidos de mandados de busca
e apreensão e mandados de prisão, prenderam 40 pessoas, recuperaram 120 automóveis furtados e
roubados e centenas de peças diversas de automóveis, além de terem efetuado a prisão em flagrante de 60
pessoas. Na operação, também foram apreendidos telefones celulares, chips, documentos de propriedade
de veículos e diversas placas de identificação veicular. Em um desses ferros-velhos, Orozimbo, advogado,
encontrava-se ao lado de um automóvel produto de crime. Conforme filmagens apreendidas pela polícia, ele
havia chegado ao local nesse automóvel, minutos antes da chegada dos policiais. Ainda, um dos presos em
flagrante disse, no momento da prisão, que grande parte dos documentos dos carros furtados e roubados
apreendidos estava no escritório do advogado Orozimbo, guardados para serem negociados com integrantes
de quadrilha que vendia carros no Paraguai. Os celulares apreendidos com quatro dos presos foram
desbloqueados pelos titulares das linhas, espontânea e consentidamente, e mostravam conversas em grupos
de aplicativos de mensagem com o chefe de quadrilha, nominado de Thief. Fotos e vídeos de integrantes da
quadrilha, agindo nas ruas da cidade, também foram encontrados nos celulares. Os documentos pessoais de
Thief (passaporte, identidade e CPF) ficavam no escritório de Orozimbo, guardados num cofre.

Considerando essa situação hipotética, eventual procedimento de busca e apreensão no escritório do


advogado Orozimbo será protegido pela inviolabilidade relativa, por existirem indícios da sua participação
nos crimes objeto da operação – item considerado correto.

Destaques jurisprudenciais sobre o tema Prova Ilícita:

A determinação judicial para identificação dos usuários que operaram em


determinada área geográfica, suficientemente fundamentada, não ofende a
proteção à privacidade e à intimidade. A quebra do sigilo de dados armazenados
não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as pessoas que estão
sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de
proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a
ordem judicial para quebra do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de
pesquisa em determinada região e por período de tempo, não se mostra medida

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos crimes,


não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários
possivelmente atingidos por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61302-RJ, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678).

Não é lícita a prova obtida por meio de abertura de carta, telegrama ou qualquer
encomenda postada nos Correios, ante a inviolabilidade do sigilo das
correspondências. Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a
prova obtida mediante abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo. STF.
Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1041) (Info 993).

São inválidas as provas obtidas pela guarda municipal em atividade investigativa,


iniciada após denúncia anônima, que extrapola a situação de flagrante. Por
unanimidade, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu que são inválidas
as provas obtidas pela guarda municipal em atividade investigativa, iniciada após
denúncia anônima, que extrapola a situação de flagrante. Com base nesse
entendimento, os ministros negaram provimentorecurso
a do Ministério Público
que pedia o restabelecimento da sentença que condenou um homem por tráfico
de drogas. O MP sustentava a validade das provas obtidas pelos guardas municipais
que efetuaram a prisão em flagrante do acusado. Segundo os autos, após denúncia
anônima, os guardas municipais abordaram o réu e, não encontrando
entorpecentes com ele, seguiram até um terreno nas proximidades, onde teriam
apreendido maconha e filme plástico supostamente utilizado para embalar a droga
(Resp 1.854.065, 6ª T, STJ – 20203).

É ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada com base unicamente
em denúncia anônima. É ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada
com base unicamente em denúncia anônima. Caso concreto: a diretora da unidade
prisional recebeu uma ligação anônima dizendo que Rafaela, que iria visitar seu
marido João, tentaria entrar no presídio com droga. Diante disso, a diretora
ordenou que a agente penitenciária fizesse uma revista minuciosa em Rafaela. Na
revista íntima efetuada, a agente penitenciária encontrou droga escondida na

3
Fonte: Leia mais:
https://delegadoplantonista.webnode.com.br/news/provas-obtidas-por-guarda-municipal-por-meio-de-denuncia-
anonima-sao-invalidas/
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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vagina da visitante. Rafaela confessou que estava levando a droga para seu marido.
A prova colhida é ilícita. STJ. 6ª Turma. REsp 1695349-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 08/10/2019 (Info 659).

A perícia realizada por perito papiloscopista não pode ser considerada prova
ilícita nem deve ser excluída do processo. O exame de corpo de delito deve ser
realizado por perito oficial (art. 159 do CPP). Do ponto de vista estritamente formal,
o perito papiloscopista não se encontra previsto no art. 5º da Lei nº 12.030/2009,
que lista os peritos oficiais de natureza criminal. Apesar disso, a perícia realizada
por perito papiloscopista não pode ser considerada prova ilícita nem deve ser
excluída do processo. Os peritos papiloscopistas são integrantes de órgão público
oficial do Estado com diversas atribuições legais, sendo considerados órgão auxiliar
da Justiça. Não deve ser mantida decisão que determinava que, quando o réu fosse
levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria esclarecer aos jurados que os
papiloscopistas – que realizaram o laudo pericial – não são peritos oficiais. Esse
esclarecimento retiraria a neutralidade do conselho de sentença. Isso porque, para
o jurado leigo, a afirmação, pelo juiz, no sentido de que o laudo não é oficial
equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe às partes, respeitado
o contraditório e a ampla defesa, durante o julgamento pelo tribunal do júri,
defender a validade do documento ou impugná-lo. STF. 1ª Turma. HC 174400
AgR/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 24/9/2019 (Info 953).

É ilícita a prova obtida mediante conduta da autoridade policial que atende, sem
autorização, o telefone móvel do acusado e se passa pela pessoa sob
investigação.Não tendo a autoridade policial permissão do titular da linha
telefônica, ou mesmo da Justiça, para ler mensagens nem para atender ao telefone
móvel da pessoa sob investigação e travar conversa por meio do aparelho com
qualquer interlocutor que seja se passando por seu dono, a prova obtida dessa
maneira arbitrária é ilícita. No caso concreto, o policial atendeu ao telefone do
condutor, sem autorização para tanto, e passou-se por ele para fazer a negociação
de drogas e provocar o flagrante. Esse policial também obteve acesso, sem
autorização pessoal nem judicial, aos dados do aparelho de telefonia móvel em
questão, lendo as mensagens. STJ. 6ª Turma. HC 511484-RS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 15/08/2019 (Info 655).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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É ilícita a prova obtida em revista pessoal feita por agentes de segurança


particular. Caso concreto: o homem passava pela catraca de uma das estações da
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), com uma mochila nas costas,
quando foi abordado por dois agentes de segurança privados da empresa. Os
seguranças acreditavam que se tratava de vendedor ambulante e fizeram uma
revista, tendo encontrado dois tabletes de maconha na mochila do passageiro. O
homem foi condenado pelo TJ/SP por tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº
11.343/2006). O STJ, contudo, entendeu que a prova usada na condenação foi ilícita
considerando que obtida mediante revista pessoal ilegal feita pelos agentes da
CPTM. Segundo a CF/88 e o CPP, somente as autoridades judiciais, policiais ou seus
agentes, estão autorizados a realizarem a busca domiciliar ou pessoal. Diante disso,
a 5ª Turma do STJ concedeu habeas corpus para absolver e mandar soltar um
homem acusado de tráfico de drogas e condenado pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo com base em prova recolhida em revista pessoal feita por agentes de
segurança privada da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). STJ. 5ª
Turma. HC 470.937/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/06/2019.

São ilegais as provas obtidas por policial militar que, designado para coletar dados
nas ruas como agente de inteligência, passa a atuar, sem autorização judicial,
como agente infiltrado em grupo criminoso. Determinado policial militar foi
designado para participar, nas ruas, à paisana, de passeatas e manifestações, a fim
de coletar dados para subsidiar a Força Nacional de Segurança em atuação
estratégica diante dos movimentos sociais e dos protestos ocorridos no Brasil em
2014. Para essa atividade, não se exigia prévia autorização judicial. No curso de sua
atividade originária, o referido policial, percebendo que algumas pessoas estavam
se reunindo para planejar a prática de crimes, aproximou-se desses suspeitos,
ganhou a sua confiança e infiltrou-se no grupo participando das conversas virtuais
e das reuniões presenciais dos envolvidos. Assim, o policial ultrapassou os limites
da sua atribuição original e passou a agir como agente infiltrado. Ocorre que a
infiltração de agentes somente pode acontecer após prévia autorização judicial, o
que não havia no caso. Diante disso, o STF declarou a ilicitude e determinou o
desentranhamento da infiltração realizada pelo policial militar e dos depoimentos
por ele prestados em sede policial e em juízo, nos termos do art. 157, § 3º, do CPP.
STF. 2ª Turma. HC 147837/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/2/2019 (Info
932).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp via Código QR


para acesso no WhatsApp Web. Também são nulas todas as provas e atos que dela
diretamente dependam ou sejam consequência, ressalvadas eventuais fontes
independentes. Não é possível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação
telefônica e o espelhamento, por meio do WhatsApp Web, das conversas realizadas
pelo aplicativo WhatsApp. STJ. 6ª Turma. RHC 99735-SC, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 27/11/2018 (Info 640).

Sem consentimento do réu ou prévia autorização judicial, é ilícita a prova, colhida


de forma coercitiva pela polícia, de conversa travada pelo investigado com
terceira pessoa em telefone celular, por meio do recurso "viva-voz", que conduziu
ao flagrante do crime de tráfico ilícito de entorpecentes. No julgamento do RHC
51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe de 5/9/2016, esta Corte teve
a oportunidade de apreciar matéria semelhante ao caso aqui tratado, considerando
ilícito o acesso aos dados do celular e das conversas de whatsapp extraídas do
aparelho celular da acusada, dada a ausência de ordem judicial para tanto, ao
entendimento de que, no acesso aos dados do aparelho, se tem a devassa de dados
particulares, com violação à intimidade do agente. No caso presente, embora nada
de ilícito houvesse sido encontrado em poder do acusado, a prova da traficância foi
obtida em flagrante violação ao direito constitucional à não autoincriminação, uma
vez que aquele foi compelido a reproduzir, contra si, conversa travada com terceira
pessoa pelo sistema viva-voz do celular, que conduziu os policiais à sua residência
e culminou com a arrecadação de todo material estupefaciente em questão. Desse
modo, está-se diante de situação onde a prova está contaminada, diante do
disposto na essência da teoria dos frutos da árvore envenenada (fruit sof the
poisonous tree), consagrada no art. 5º, inciso LVI, da Constituição Federal, que
proclama a nódoa de provas, supostamente consideradas lícitas e admissíveis, mas
obtidas a partir de outras declaradas nulas pela forma ilícita de sua colheita. 5ª
Turma. REsp 1.630.097-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 18/4/2017

Mesmo sem autorização judicial, polícia pode acessar conversas do Whatsapp da


vítima morta, cujo celular foi entregue pela sua esposa. Não há ilegalidade na
perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia, sem prévia autorização judicial,
na hipótese em que seu proprietário - a vítima - foi morto, tendo o referido telefone
sido entregue à autoridade policial por sua esposa. STJ. 6ª Turma.RHC 86076-MT,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

19/10/2017 (Info 617). Cuidado para não confundir: Sem prévia autorização
judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e
de conversas registradas no Whatsapp presentes no celular do suposto autor de
fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão
em flagrante. STJ. 5ª Turma. RHC 67379-RN, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
20/10/2016 (Info 593). STJ. 6ª Turma. RHC 51531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 19/4/2016 (Info 583).

6. ÔNUS DA PROVA

O ônus da prova é o encargo (faculdade) que recai sobre a parte de provar a veracidade do fato por
ela alegado, resultando de sua inatividade uma situação de desvantagem perante o Direito. O que se prova
na verdade é a afirmativa, porque o fato em si não tem como ser provado.

6.1 Distribuição do Ônus da Prova

O art. 156, CPP, dispõe que a prova da alegação incumbirá a quem a fizer. Nesse contexto, há duas
correntes que tratam sobre a distribuição do ônus da prova no Processo Penal. Vejamos:

1ª C (minoritária): O acusado não possui nenhum ônus da prova do Processo Penal, uma vez que a CF
consagra o princípio da presunção de inocência. Desta forma, o ônus da prova recai, integralmente, sobre a
acusação. Para essa corrente, inclusive, o art. 156, CPP seria inconstitucional, por violação ao art. 5, LVIII, CF.
Nesse sentido Aury Lopes Jr.

2ª C (majoritária): É possível haver distribuição do ônus da prova. Portanto, haverá ônus da prova para
acusação e para a defesa. Nesse sentido, tem-se:

ÔNUS DA ACUSAÇÃO ÔNUS DA DEFESA


⦁ Existência de fato típico (1) ⦁ Causas excludentes de ilicitude
⦁ Autoria/Participação ⦁ Causas excludentes de culpabilidade
⦁ Nexo causal ⦁ Causas extintivas de punibilidade
⦁ Dolo/Culpa (alguns defendem que ⦁ Álibi (3)
seriam presumidos) (2)

Obs. deve haver um juízo de certeza.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

(1) Pela teoria da ratio cognoscendi (ou indiciariedade) se o fato é típico, presume-se que seja ilícito.
Por isso, a acusação só prova a tipicidade, pois quanto ao resto há uma presunção iuris tantum
(relativa) da existência. Diante disso, caso provada a tipicidade, mas havendo dúvida no caso da
excludente da ilicitude, deveria o juiz condenar, pois a tipicidade é indício da ilicitude, mas não foi
esse o entendimento do CPP.
(2) Quanto à culpa, a doutrina é pacífica quanto à necessidade de prova da acusação. Já no que se refere
ao dolo, muitos autores dizem ser presumido, não precisando de prova, ou seja, cabendo à defesa
provar sua ausência. No entanto, tal entendimento não procede, principalmente em um Estado onde
vige o princípio da presunção de inocência do acusado. A prova do dolo é feita a partir da análise dos
elementos objetivos do caso concreto, até porque não é possível provar um elemento intelectivo.
Devem ser observados os elementos objetivos para chegar à conclusão da existência do dolo.
(3) Espécie de prova indireta da defesa.

6.2 Da Iniciativa Probatória do Juiz e o Sistema Acusatório

A principal alteração no capítulo de provas com o advento da Lei 13.964/19, a nosso ver, foi a
reafirmação do sistema acusatório e a vedação imposta ao juiz de substituir as partes na atividade
probatória, conforme Art. 3- A do CPP:

Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedada a iniciativa do juiz na
fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.

Apesar do novo Art. 3-A do CPP, a Lei 13.964/19 NÃO alterou de forma expressa o art. 156 do CPP,
que positiva a iniciativa probatória do juiz. Dispõe o referido artigo que é facultado ao juiz, de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de


provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação
e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização
de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Nesse contexto, parte da doutrina considera que o art. 156 do CPP foi tacitamente revogado.
Entretanto, é preciso aguardar o posicionamento da jurisprudência a respeito do tema.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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7. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO (VALORAÇÃO) DA PROVA:

a) Sistema das Ordálias (Ordálios) / “Juízos de Deus”: Ordálio ou ordália é um tipo de prova judiciária
usada para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da participação de elementos da natureza
e cujo resultado é interpretado como um juízo divino. Também é conhecido como juízo de Deus (judicium
Dei, em latim).
Atribuía-se uma vontade divina na avaliação das provas. Um exemplo era a chamada prova pelo fogo,
hipótese na qual, caso o sujeito caminhasse tantos metros sobre a brasa, seria considerado inocente. Assim,
buscava-se na revelação divina a inocência ou culpabilidade do réu.

b) Sistema da Íntima Convicção / da Certeza Moral do Juiz:

Utiliza duas premissas importantes:


1 O juiz é livre para valorar as provas;
2 O juiz não é obrigado a fundamentar o seu convencimento.
Perceba que, como o juiz não é obrigado a fundamentar seu convencimento, nada impede que se
utilize de provas que não constem dos autos do processo. Além disso, pode empregar conhecimentos
particulares sobre a demanda. Isso porque, não há como analisar o caminho percorrido pelo juiz para chegar
à sua conclusão.

ATENÇÃO: Em regra, não é adotado no Brasil, salvo em relação aos jurados no Tribunal do Júri, que possuem
ampla liberdade para valoração das provas, dispensando-se a fundamentação da decisão, enquanto juízes
leigos. Essa disciplina não se aplica às decisões do juiz da 1ª fase do procedimento, bem como do juiz-
presidente, que devem ser fundamentadas.

c) Sistema da Verdade Legal / Tarifário de Provas / da Certeza Moral do Legislador: Os meios de


prova têm valor probatório fixado em abstrato pelo legislador, cabendo ao juiz fazer tão somente um cálculo
aritmético.
Era o sistema probatório que vigorava no processo inquisitorial (que se opõe ao sistema acusatório
adotado pela CF/88). A confissão, por exemplo, tinha valor absoluto, por isso, muitas vezes, utilizava-se a
tortura para que o suposto acusado confessasse (“rainha das provas”).
Em regra, não é adotado no Brasil. Há algumas exceções. Vejamos:

1) Prova quanto ao estado das pessoas – Está sujeita às restrições estabelecidas na lei civil. Ex.: certidão
de casamento, certidão de óbito e certidão de nascimento.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Art. 155, § único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil.

Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito,
e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.

Súmula. 74 STJ: Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu


(menor de 21 anos – atenuante) requer prova por documento hábil.

2) Crimes que deixam vestígios – Há necessidade de exame de corpo e delito.

CPP, Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

d) Sistema do Livre Convencimento Motivado / da Persuasão Racional do Juiz: Alguns


doutrinadores, sob a ótica do CPC, afirmam que o correto é Sistema do Convencimento Motivado e não mais
utilizado a expressão “livre”.
Sobre o tema, ensina Renato Brasileiro:

“De acordo com o sistema do livre convencimento motivado (persuasão racional


ou livre apreciação judicial da prova), o magistrado tem ampla liberdade na
valoração das provas constantes dos autos, as quais têm, legal e abstratamente, o
mesmo valor, porém se vê obrigado a fundamentar sua decisão”

Logo, possui duas principais características:


1 O juiz possui ampla liberdade na valoração da prova, que tem abstratamente o mesmo valor. Basta
que a prova seja admitida pela lei e submetida a um prévio juízo de credibilidade, não podendo ser
ilícita ou ilegítima
2 O juiz é obrigado a fundamentar. Permite às partes não somente aferir que a convicção foi realmente
extraída do material probatório constante dos autos, como também analisar os motivos legais que
levaram o magistrado a firmar sua conclusão, viabilizando o exercício do direito de defesa.

ATENÇÃO: Em regra, é o sistema adotado pelo Brasil.

Encontra-se previsto no art. 93, IX da CF, art. 155 do CPP e 401, §1º, CPP (conforme informativo 918
do STF)

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Art. 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá
s:
sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípio
(...)
IX- todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
FUNDAMENTADAS TODAS AS DECISÕES, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

Art. 155, CPP. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas
as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil.

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo


de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à
inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem,
ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como os esclarecimentos dos
peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se,
em seguida, o acusado.
§1º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as
consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

Efeitos da adoção do Sistema do Convencimento Motivado pelo ordenamento brasileiro:

✔ Não existe prova de valor absoluto → ausência de hierarquia, toda prova tem valor relativo, inclusive a
confissão (outrora considerada como a rainha das provas) tem valor relativo à luz do art. 197 do CPP.
✔ Ausência de limitação quanto aos meios de prova, sendo admitidas provas inominadas;
✔ O juiz deve valorar todas as provas produzidas no processo, mesmo que para afastá-las (ex.: mesmo que
o juiz não acolha, se ele a afastar, deverá declarar o motivo). Assim, não basta o direito a produzir a
prova, surge o direito de que a prova seja apreciada pelo juiz (garantia do contraditório).
✔ Somente são válidas as provas constantes do processo, conhecimentos privados do juiz não tem
validade.
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

O direito à produção de provas não é absoluto, haja vista que a própria lei
processual penal, em seu artigo 400, § 1º, faculta ao julgador, desde que de forma
fundamentada, indeferir as provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou
protelatórias. STF. 2ª Turma. HC 191858, 628075, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 30/11/2020.

Explicação via Dizer o Direito:


O julgador deve realizar um controle de admissibilidade de provas requeridas pelas
partes, a partir dos critérios de relevância e pertinência.
Assim, é a doutrina de Gustavo Badaró: “nos sistemas probatórios em que às partes
idade devem
é assegurado um verdadeiro direito à prova, os critérios de admissibil
ser concebidos a partir de um regime de inclusão: a regra é que os meios de prova
requeridos pelas partes devem ser admitidos. Somente haverá exclusão nos casos
de manifesta irrelevância ou impertinência do meio probatório requerido pelas
partes”. (Processo Penal. 6ª ed. RT, 2018. p. 409).

A discricionariedade associada ao deferimento da produção probatória decorre


implicitamente do sistema de persuasão racional, em que o Estado-Juiz figura como
destinatário do conjunto probatório e atua, mediante critérios de liberdade
regrada, nas etapas de admissão e valoração da prova (AgR no HC 173.777, Rel.
Min. Edson Fachin, Segunda Turma, DJe 12.12.2019).

e) Teoria racionalista da prova: O STF, em um julgado da 2ª Turma, publicado no Informativo 935,


diante da análise da temática do in dubio pro societate no processo penal, propôs a adoção de um novo
sistema de valoração da prova, o sistema racionalista.
Saindo de um sistema em que os critérios eram totalmente vinculados, passou-se para um modelo
de “livre convencimento”, em que uma pretensa liberdade do julgador ocasionou total abertura à
discricionariedade no juízo de fatos.
Por isso, é importante que adote uma teoria racionalista da prova segundo a qual:
● Não deve haver critérios de valoração das provas rigidamente definidos na lei;
● Por outro lado, o juízo sobre os fatos deve ser pautado por critérios de lógica e racionalidade, podendo
ser controlado em âmbito recursal ordinário.

A valoração racional da prova é uma imposição constitucional decorrente:


● Do direito à prova (art. 5º, LV, CF/88); e
111
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

● Do dever de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX).

Um pressuposto fundamental para a adoção de uma teoria racionalista da prova é a definição de


Standards Probatórios, que são denominados “Modelos de Constatação” (KNIJNIK, Danilo. A prova nos
juízos cível, penal e tributário. Forense, 2007, p. 37).
Os modelos de constatação são níveis de convencimento ou de certeza, que servem de critério para
que seja proferida decisão em determinado sentido. Ex.: O modelo de constatação para se condenar alguém
é baseado em provas concretas produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa no processo
judicial.
Em resumo, a teoria racionalista da prova propõe a criação de parâmetros para a valoração da prova,
já que, segundo a teoria, o livre convencimento motivado poderia dar margem ao decisionismo e a
fundamentações vazias. Como parâmetro de valoração trabalha com a ideia de “standards probatórios” ou
“modelos de constatação”, que são critérios racionais e objetivos.
Sobre o tema, ainda, destaca Renato Brasileiro que:

“Em razão do influxo do direito material em jogo e da regra probatória do in dubio


pro reo, não se pode negar que o processo penal adota um standard de prova
bastante elevado para a desconstituição do estado de inocência do acusado. Esse
grau de convencimento necessário para a prolação de uma sentença condenatória,
baseado em provas além de qualquer dúvida razoável, não é o mesmo standard
necessário, todavia, para outras decisões ao longo da persecução penal. É dizer, os
standards probatórios podem variar de acordo com as diferentes decisões que
são proferidas pelo magistrado ao longo do processo.

A título de exemplo, oferecida uma denúncia anônima perante o Ministério Público,


não se admite, de imediato, a instauração de um inquérito policial. Antes, incumbe
verificar a procedência das informações. Para a decretação de uma medida
cautelar, como, por exemplo, a prisão preventiva, o art. 312 do CPP impõe a
presença de prova da materialidade (juízo de certeza) e indícios de autoria (juízo de
probabilidade). Oferecida a peça acusatória, incumbe ao magistrado aferir se há
justa causa para o processo penal (CPP, art. 395, III). A pronúncia, por sua vez,
demanda não apenas o convencimento quanto à materialidade, mas também a
presença de indícios suficientes de autoria (CPP, art. 413). Por fim, para que alguém
seja condenado, é necessário um juízo de certeza acerca da autoria e da
materialidade além de qualquer dúvida razoável.”

112
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

8. CADEIA DE CUSTÓDIA DAS PROVAS

É preciso conhecer a literalidade dos dispositivos que disciplinam a matéria, cuja regulamentação no
CPP advém da inclusão pela Lei 13.964/19.

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em
locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou
com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de
vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse
para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou
recolhido, que se relaciona à infração penal.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compre


ende o rastreamento do vestígio nas
seguintes etapas:
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse
para a produção da prova pericial;
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e
preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de
crime;
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime
ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada
por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo
pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento;
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial,
respeitando suas características e natureza;
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é
embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas,
químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome
de quem realizou a coleta e o acondicionamento;
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as
condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo

113
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de


sua posse;
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser
documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de
procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de
quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do
vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com
a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim
de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido
por perito;
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas,
do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia,
descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente;
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a
legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.

Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito
oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo
quando for necessária a realização de exames complementares.
§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser
tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de
natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento.
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer
vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável,
sendo tipificada como fraude processual a sua realização.

Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela


natureza do material.
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração
individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio
durante o transporte.
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características,
impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço
para registro de informações sobre seu conteúdo.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e,
motivadamente, por pessoa autorizada.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de
acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local,
a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado.
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.

Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia
destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada
diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para
conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a
seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro
e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do
vestígio.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser
protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a
eles se relacionam.
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser
identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser
registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a
destinação, a data e horário da ação.

Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central
de custódia, devendo nela permanecer.
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de
armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária
determinar as condições de depósito do referido material em local diverso,
mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza
criminal.

CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado de Goiás 2022): Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos
utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de

115
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento atédescarte-
o item considerado
correto.

8.1 Considerações iniciais

“A cadeia de custódia contribui para a validação da prova pericial e o respectivo


laudo gerado”. (Ettore Ferrari Júnior)

A cadeia de custódia é um conceito que já era utilizado em todas as disciplinas que integram as
ciências criminalísticas e consiste, segundo o art. 158-A do CPP, no conjunto de todos os procedimentos
utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas
de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.
A cadeia de custódia possui a função de garantir a integridade da prova. Nesse contexto, assegura
a idoneidade e rastreabilidade dos vestígios com a finalidade de preservar a confiabilidade e transparência
até que o processo seja concluído.
Sobre o tema, ensina Aury Lopes Jr4:

“A prova serve, a um só tempo, para buscar a reconstituição (aproximativa e


parcial) de um fato passado, histórico, para um juiz ‘ignorante’ (pois ignora os
fatos). É a prova que permite a atividade recognitiva (e não cognitiva, pois indireta)
do juiz em relação ao fato histórico (story of the case) narrado pela acusação. Ao
mesmo tempo tem uma função persuasiva, pois é através dela que se permite a
construção do convencimento, da decisão. Por isso, as provas servem para obter a
captura psíquica do julgador, para formar sua convicção. A preservação das fontes
de prova é, portanto, fundamental, principalmente quando se trata de provas cuja
produção ocorre fora do processo, como é o caso da coleta de DNA, interceptação
telefônica, etc. Trata-se de verdadeira condição de validade da prova.”

8.2 Princípios da mesmidade e desconfiança

A discussão acerca da quebra da cadeia de custódia adquire especial relevância nas provas que tem
pretensão de ‘evidência’, ou seja, aquelas obtidas ‘fora do processo’, sob as quais não há o contraditório.
Nestas situações, é crucial que se demonstre de forma documentada a cadeia de custódia e toda a
trajetória feita, da coleta até a inserção no processo e valoração judicial. Isso porque, por exemplo, se um

4
(Jr, A importância da cadeia de custódia para preservar a prova penal, 2015)
116
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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acusado reponde pelo crime de tráfico e o laudo pericial definitivo ainda não foi realizado, é imprescindível
que se tenha a garantia de que a substância apreendida em poder do acusado seja a mesma submetida a
análise.
Geraldo Prado traz essa demonstração como exigência dos princípios da “mesmidade” 5 e da
“desconfiança”.

I. Princípio da Mesmidade
Por “mesmidade” (forma aproximada a empregada na língua espanhola, que não possui
correspondente em português e não pode ser traduzido como ‘mesmice’), entende-se a garantia de que a
prova valorada é exatamente e integralmente aquela que foi colhida, correspondendo, portanto, “a
mesma”. Não raras vezes, por diferentes filtros e manipulações feitas pelas autoridades que
colhem/custodiam a prova, o que é trazido para o processo não obedece a exigência de “mesmidade”, senão
que corresponde ao signo de ‘parte do’, que constitui, em última análise, ‘a outro’ e não ‘ao mesmo’.
Questão recorrente nas interceptações telefônicas está na violação da “mesmidade” e, por via de
consequência, do direito da defesa de ter acesso a integralidade da prova na sua originalidade (manifestação
do contraditório = direito à informação e paridade de armas), na medida em que a prova é ‘filtrada’ pela
autoridade policial ou órgão acusador, que traz para o processo (e submete ao contraditório diferido) apenas
o que lhe interessa. Não é ‘a mesma’ prova colhida, mas apenas aquela que interessa ao acusador, subtraindo
o acesso da defesa. A manipulação (e aqui se emprega no sentido físico do vocábulo, sem juízo de desvalor
ou atribuição de má-fé ao ‘manipulador’) é feita durante a custódia e viola exatamente as regras de
preservação da idoneidade.

II. Princípio da Desconfiança


Já a “desconfiança” (decorrência salutar na democracia, onde se desconfia do poder, que precisa ser
legitimado sempre) consiste na exigência de que as provas (documentos, DNA, áudios etc.) devam ser
‘acreditadas’, submetidas a um procedimento que demonstre que correspondem ao que a parte alega ser.
Como explica Geraldo Prado, o tema de provas exige a intervenção de regras de “acreditação”, pois nem
tudo que ingressa no processo pode ter valor probatório, há que ser “acreditado”, legitimado, valorado desde
sua coleta até a produção em juízo para ter valor probatório.
A exigência de proteção da cadeia de custódia da prova, ao fim e ao cabo, impõe um novo olhar, mais
democrático, que supera a ideia de que a presunção de veracidade dos agentes públicos é verdadeira
panaceia para nossos problemas.
Assim, conclui Aury Lopes Jr, citando Geraldo Prado:

5
(Prado, Ainda sobre a quebra da cadeia de custódia das provas, pp. 16-17)
117
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“A resposta, para além de tudo o que já se disse sobre o valor e imprescindibilidade


de estrito respeito às “regras do jogo”, está na necessidade de incorporar um
“efeito dissuasório” (deterrent effect) que serve de desestímulo às agências
repressivas quanto à tentação de recorrerem a práticas ilegais para obter a
punição” (Geraldo Prado).”

ATENÇÃO: Em provas discursivas e orais, ao tratar dos princípios da mesmidade e da desconfiança é


importante citar o doutrinador Geraldo Prado.

8.3 Fases da cadeia de custódia


Como forma de facilitar a fixação das diversas fases da cadeia de custódia, vamos trabalhar com a
divisão em duas grandes fases: a fase interna e fase externa (não vamos adotar necessariamente a ordem
dos incisos).

a) Fase Externa:
A fase externa compreende todos os passos entre a preservação do local de crime ou apreensões
dos elementos de prova e a chegada do vestígio ao órgão pericial encarregado de processá-lo.
Compreende, portanto, a preservação do local de crime, a busca dotígio,
ves seu reconhecimento,
isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte e recebimento.

I. Do isolamento

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas: [...]
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e
preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de
crime;

Antes mesmo de se realizar o reconhecimento, o local deve ser isolado para que, após uma análise
pelo perito, possa ser identificado o que é relevante ou não na compreensão da cena do crime.
O isolamento do local deve ser um isolamento físico, através de fitas, cordas ou outros meios,
abrangendo o local propriamente dito e as vias de acesso. Quando o tiro ocorreu em local fechado, uma
residência, por exemplo, muitas vezes os familiares da vítima, na tentativa de socorrê-la ou de preservar sua

118
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imagem, alteram o local. Em locais abertos os populares também podem alterar o local6. É o art. 169 do CPP
que determina o isolamento, nos seguintes termos:

Art. 169. Para efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas
até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquema elucidativos.

A atuação da autoridade policial na preservação do local é de vital importância. Essa atuação, por
vezes, deve ser firme, enérgica, evitando a alteração ou a subtração de vestígios materiais importantes,
relacionados com o fato. A própria autoridade policial ou seu agente deve respeitar o local evitando o
deslocamento ou o recolhimento, antes da chegada dos peritos, de qualquer vestígio material. O perito oficial
deve ser a primeira pessoa a adentrar no local.
Cabe ressaltar que, segundo o Art. 158-C do CPP, o ingresso em local isolado pode tipificar o crime
de fraude processual:

Art. 158-C. § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de


quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito
responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização.

II. Do reconhecimento

O reconhecimento da importância de cada elemento deve ser feito pelo perito criminal que analisará
a cena do crime, NÃO devendo ser feito pelo policial militar ou mesmo pela autoridade policial e seus
agentes. O próprio CPP estabelece que cabe à Autoridade Policial preservar o local do crime para que o perito
criminal possa realizar a análise de cada um dos elementos.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas:
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse
para a produção da prova pericial;

III. Da fixação (descrição)

6
(Baldasso)
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A terceira fase do procedimento é a descrição pormenorizada do vestígio e de tudo que o cerca.


Todos aqueles que tiveram contato com o vestígio serão objeto da descrição, bem como eventual alteração.
Na prática, ainda é comum um corpo ser fotografado ao lado de objetos pessoais que não são descritos no
laudo e acabam se perdendo pelos diversos departamentos para os quais são remetidos.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas:
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime
ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada
por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo
pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento;

IV. Da coleta

A coleta ocorre no momento em que o vestígio é retirado do local original. É realizada


preferencialmente por perito oficial (art. 158-C do CPP) e deve preservar as características originais do
vestígio.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas:
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial,
respeitando suas características e natureza;

Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por
perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia,
mesmo quando for necessária a realização de exames complementares.

V. Do acondicionamento

Acondicionar significar “pôr ou guardar em” e, no processo penal, possui o sentido de embalar o
vestígio de modo que não haja contaminação ou desnaturação do mesmo. Sendo assim, o acondicionamento
possui a finalidade de manter íntegras as características físicas, químicas e biológicas do vestígio.
A alteração legislativa é salutar, entretanto esbarra na falta de estrutura do Estado. Isso porque, na
maioria dos entes da federação, sequer há disponibilização de recipientes plásticos adequados para o
acondicionamento de vestígios.

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NÚCLEO DURO

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Importante, ainda, que todo recipiente utilizado para acondicionar o vestígio será selado com lacre
e, sempre que necessário, os lacres violados serão acondicionados em outro recipiente, mantendo o registro
da cadeia de custódia.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas: [...]
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é
embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas,
químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome
de quem realizou a coleta e o acondicionamento;

Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela


natureza do material.
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração
individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio
durante o transporte.
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características,
impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço
para registro de informações sobre seu conteúdo.
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e,
motivadamente, por pessoa autorizada.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de
acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local,
a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado.
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.

Obs.: Em 2017 (Informativo 608), o STJ entendeu que a ausência de lacre em todos os documentos
e bens apreendidos durante uma busca e apreensão, NÃO torna automaticamente ilegítima a prova obtida.

Inicialmente, consigne-se que a disciplina das nulidades, no processo penal é regida


pelo art. 563 do CPP, segundo o qual "nenhum ato será declarado nulo, se da
nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa". É assente, ainda,
na jurisprudência desta Corte e do STF que a demonstração do prejuízo é essencial
à alegação de nulidade, seja ela relativa ou absoluta. Ante a presunção de
validade e legitimidade dos atos praticados por funcionários públicos, compete à
defesa demonstrar de forma concreta o descumprimento das formalidades legais

121
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e essenciais do ato e, especificamente, que o material apreendido e


eventualmente não lacrado foi corrompido ou adulterado, de forma a causar
prejuízo à defesa e modificar o conteúdo da prova colhida. Por fim, à míngua de
exigência legal específica, a ausência de lacre em todos os documentos e bens
apreendidos – que decorreu da grande quantidade de material – desacompanhada
de maiores dados concretos sobre efetiva interferência dos agentes públicos ou da
acusação sobre as provas colhidas –, não tem o condão de nulificar o ato e a ação
penal.

No entanto, diante da introdução da cadeia de custódia pela ei 13.964/19, é possível identificar


julgados dispondo em sentido diverso:

(...) Segundo o disposto no art. 158-A do CPP, "Considera-se cadeia de custódia o


conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a
história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para
rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte".
A autenticação de uma prova é um dos métodos que assegura ser o item
apresentado aquilo que se afirmaleeser, denominado pela doutrina de princípio
da mesmidade.
(...)
Se é certo que, por um lado, o legislador trouxe, nos arts. 158-A a 158-F do CPP,
determinações extremamente detalhadas de como se deve preservar a cadeia de
custódia da prova, também é certo que, por outro, quedou-se silente em relação
aos critérios objetivos para definir quando ocorre a quebra da cadeia de custódia e
quais as consequências jurídicas, para o processo penal, dessa quebra ou do
descumprimento de um desses dispositivos legais. No âmbito da doutrina, as
soluções apresentadas são as mais diversas.
(...)
Mostra-se mais adequada a posição que sustenta que as irregularidades constantes
da cadeia de custódia devem ser sopesadas pelo magistrado com todos os
elementos produzidos na instrução, a fim de aferir se a prova é confiável. Assim, à
míngua de outras provas capazes de dar sustentação à acusação, deve a pretensão
ser julgada improcedente, por insuficiência probatória, e o réu ser absolvido.
O fato de a substância haver chegado para perícia em um saco de supermercado,
fechado por nó e desprovido de lacre, fragiliza, na verdade, a própria pretensão
acusatória, porquanto não permite identificar, com precisão, se a substância

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NÚCLEO DURO

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apreendida no local dos fatos foi a mesma apresentada para fins de realização de
exame pericial e, por conseguinte, a mesma usada pelo Juiz sentenciante para
. Não se garantiu a inviolabilidade e a
lastrear o seu decreto condenatório
idoneidade dos vestígios coletados (art. 158
-D, § 1º, do CPP). A integralidade do
lacre não é uma medida meramente protocolar; é, antes, a segurança de que o
material não foi manipulado, adulterado ou substituído, tanto que somente o
perito poderá realizar seu rompimento para análise, ou outra pessoa autorizada,
quando houver motivos (art. 158-D, § 3º, do CPP). (HC 653515-RJ, 6ª Turma, Rel.
Min. Laurita Vaz, DJe 23/11/2021).

Ressalta-se que, embora o tema ainda não seja uniforme (como será visto detalhadamente adiante),
o STJ tem entendido, conforme o referido julgado, que as “irregularidades da cadeia de custódia devem ser
sopesadas pelo magistrado com todos os elementos produzidos na instrução, a fim de aferir se a prova é
confiável”. Logo, para a Corte Superior, a inobservância dos procedimentos relativos à cadeia de custódia
não implica, por si só, na nulidade dos elementos probatórios produzidos.

VI. Do transporte

Como condição de validade da prova, o vestígio coletado e acondicionado deve ser transportado de
forma adequada. Ganha relevo o transporte dos vestígios biológicos, que devem ser transportados em
veículo que assegure a manutenção das características originais do vestígio, inclusive quanto à temperatura.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas: [...]
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as
condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo
a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de
sua posse;

Por fim, a fase externa se encerra com o recebimento do vestígio no órgão responsável pelo
armazenamento do vestígio. Portanto, a fase de recebimento é, ao mesmo tempo, o momento em que se
encerra a fase interna e que dá início à fase externa.

b) FASE INTERNA

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NÚCLEO DURO

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A fase interna compreende todas as etapas entre a entrada do vestígio no órgão pericial até sua
devolução juntamente com o laudo pericial, ao órgão requisitante da perícia. Compreende, portanto, a
recepção e conferência do vestígio, a classificação, guarda e/ou distribuição do vestígio, análise pericial
propriamente dita, guarda e devolução do vestígio de prova, guarda de vestígios para contraperícia, registro
da cadeia de custódia.

I. Do recebimento

Conforme dito, a fase de recebimento é, ao mesmo tempo, o momento em que se encerra a fase
interna e que dá início a fase externa. É o momento da transferência da posse do vestígio, que também deve
guardar o procedimento adequado.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas: [...]
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser
documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de
procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de
quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do
vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;

II. Do processamento

O processamento do vestígio dá-se durante a manipulação do mesmo para a realização do exame


pelo perito, com a posterior confecção do laudo. É o momento em que se realiza a perícia propriamente.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas: [...]
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com
a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim
de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido
por perito;

III. Do armazenamento

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas: [...]

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NÚCLEO DURO

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SEMANA 06/16

IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas,


do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia,
descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente;

O vestígio que serviu de base à perícia deverá ser disponibilizado no ambiente do órgão oficial para
exame pelo assistente técnico, conforme o CPP:

Art. 159. § 6o. Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu
de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá
sempre sua guarda, e na presença de Perito Oficial, para exame pelos Assistentes,
salvo se for impossível a sua conservação.

Com a Lei 13.964/19, surgiu a imposição aos institutos de criminalística de criar suas respectivas
centrais de custódia, que serão responsáveis pelo armazenamento e registro da manipulação dos vestígios.

Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de


custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser
vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para
conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a
seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro
e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do
vestígio.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser
protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a
eles se relacionam.
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser
identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser
registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a
destinação, a data e horário da ação.’

Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central
de custódia, devendo nela permanecer.
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de
armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

determinar as condições de depósito do referido material em local diverso,


mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza
criminal.

IV. Do descarte

A Lei 13.964/19 chama de “descarte” a fase de liberação do vestígio. É nessa fase que pode ocorrer
a restituição do objeto ao proprietário, a destruição propriamente, como no caso das drogas ou ser dada
outra destinação conforme a lei, dependendo, em alguns casos, de autorização judicial. Perceba que a fase
do descarte é o momento em que o vestígio sai da guarda da central de custódia.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas: [...]
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a
legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.

8.4 Quebra da Cadeia de Custódia

Trata-se de tema que suscita divergência, merecendo destaque duas correntes:

1ªC: Ilicitude da prova (Aury Lopes Jr. e Geraldo Prado) – A quebra da cadeia de custódia leva a
declaração de ilicitude da prova e a sua exclusão dos autos, bem como das demais provas dela
derivadas.
2ª C: Menor valor probatório (Gustavo Badaró e Renato Brasileiro) – A quebra da cadeia de custódia
não leva, obrigatoriamente, à ilicitude ou à ilegitimidade da prova, devendo ser analisado o caso
concreto.

O STJ tem adotado entendimento no sentido da 2ª corrente. Vejamos:

As irregularidades constantes da cadeia de custódia devem ser sopesadas pelo


magistrado com todos os elementos produzidos na instrução, a fim de aferir se a
prova é confiável. STJ. 6ª Turma. HC 653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 720).

CAIU EM PROVA: O tema foi objeto de questionamento na prova discursiva de Delegado de PCMG 2021.

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NÚCLEO DURO

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9. MEIOS DE PROVA EM ESPÉCIE

9.1 Exame de Corpo de Delito

a) Conceitos

● Corpo de delito: trata-se do conjunto de vestígios materiais deixados pela infração penal. A
expressão “corpo de delito” não necessariamente significa o corpo de uma pessoa, mas sim os
vestígios deixados pelo crime, ou seja, diz respeito à materialidade da infração penal. Ex.: Crime de
Latrocínio (art. 157, §3º, CP) em um apartamento. Nesse caso, o corpo de delito não se resume ao
cadáver, abrangendo também todos os vestígios perceptíveis pelos sentidos humanos, tais como
eventuais marcas de sangue deixadas no chão, a arma de fogo utilizada para a prática do delito,
eventuais sinais de arrombamento da porta do apartamento, etc.

● Exame de corpo de delito: é uma análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos ou
científicos sobre os vestígios deixados pela infração penal, seja para f comprovação da
ins de
materialidade do crime, seja para fins de comprovação da autoria.

Renato Brasileiro explica que, como o magistrado não é dotado de conhecimentos enciclopédicos, e
se vê obrigado a julgar causas das mais variadas espécies, afigura-se necessário recorrer a
especialistas, os quais, dotados de conhecimentos específicos acerca do assunto, podem auxiliar o
juiz no esclarecimento do fato delituoso (2017, pág. 654).

Obs.: O exame de corpo de delito NÃO é a única espécie de exame pericial. Ex.: perícia de insanidade mental
(não é exame de corpo de delito).

● Laudo de exame de corpo de delito: refere-se a uma peça técnica elaborada pelos peritos durante
ou após a conclusão do exame pericial.
Estrutura:
. Preâmbulo: qualificação do perito oficial ou dos peritos não oficiais e do objeto da perícia;
. Exposição: narrativa de tudo que é observado pelos experts;
. Fundamentação: motivos que levaram os experts à conclusão final;
. Conclusão técnica: resposta aos quesitos.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

b) Momento para a juntada do laudo pericial

Pergunta-se: O laudo pericial pode ser juntado a qualquer momento?


R.: Em regra, o laudo pericial não funciona como condição de procedibilidade. Ou seja, o laudo é
dispensável quando do oferecimento da denúncia.
Todavia, temos exceções, hipóteses em que o laudo funcionará como condição de procedibilidade:
1) Laudo de Constatação na Lei de Drogas: trata-se do laudo provisório previsto na Lei 11.343/06,
indispensável para o oferecimento da denúncia e a própria lavratura do auto de prisão em flagrante
(posteriormente há a lavratura do laudo definitivo);
2) Crimes contra a propriedade imaterial.

LAUDO DE CONSTATAÇÃO DE DROGAS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL


Lei 11.343/06, art. 50, § 1º: Para efeito da lavratura do CPP, art. 525: No caso de haver o crime deixado vestígio,
auto de prisão em flagrante e estabelecimento da a queixa ou a denúncia não será recebida se não for
materialidade do delito, é suficiente o laudo de instruída com o exame pericial dos objetos que
constatação da natureza e quantidade da droga, constituam o corpo de delito.
firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.

Dessa forma, temos que, em regra, o laudo pericial pode ser juntado durante o curso do processo,
desde que o seja com a antecedência mínima de 10 dias em relação a audiência una de instrução e
julgamento, pois este é o prazo mínimo exigido para pedir os esclarecimentos.

CPP, art. 400: Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo


máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido,
à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem,
ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos
peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se,
em seguida, o acusado.

Na AIJ é possível esclarecimentos dos peritos, contudo, para que esses esclarecimentos ocorram é
necessário que o pedido seja feito com antecedência mínima de 10 dias (CPP, art. 159, § 5º, I).

c) Obrigatoriedade de realização do exame de corpo de delito:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Nos moldes do art. 158 do CPP, “quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”.
A obrigatoriedade da realização do exame pericial é exemplo nítido de resquício do sistema da prova
tarifada, incidindo quando a infração deixar vestígio, ou seja, quando envolver infrações penais não
transeuntes, não passageiras ou delito de fato permanente.

● Infração não transeunte: É aquela que deixou vestígios. Portanto, será obrigatória a realização do
exame de corpo de delito. Ex.: crime de homicídio cujo cadáver foi encontrado.
● Infrações transeuntes: É aquela que NÃO deixa vestígios. Portanto, não será possível o exame de
corpo de delito. Ex.: injúria verbal que não tenha sido objeto de captação.

d) Exame de corpo de delito direto e indireto:

● Exame de corpo de delito direto: É aquele realizado diretamente pelo perito oficial (ou por dois
peritos não oficiais) sobre o próprio corpo de delito.
● Exame de corpo de delito indireto: Há divergência quanto a sua definição.
1ªC (minoritária): Trata-se de exame feito por peritos com base no relato de testemunhas ou com
base na análise de documentos.
2ªC (majoritária): NÃO é um exame propriamente dito, mas apenas a prova testemunhal ou
documental suprindo a ausência do exame direto.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Exame de corpo de delito direto Exame de corpo de delito indireto


O exame de corpo de delito direto é aquele feito por 1ª C: É um exame feito por peritos com base no relato de
perito oficial (ou dois peritos não oficiais) sobre o testemunhas ou com base na análise de documentos.
próprio corpo de delito. 2ª C: É o disposto ao teor do art. 167 do CPP. Não é um
exame propriamente dito, mas apenas uma espécie de
prova testemunhal ou documental suprindo a ausência de
corpo de delito direto. É a posição majoritária.

e) Prioridade na realização do Exame de Corpo de Delito:

A Lei nº 13.721/2018 acrescentou o §único ao art. 158 do CPP afirmando que deverá ser dada
prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

i. Violência doméstica e familiar contra mulher;


ii. Violência contra criança ou adolescente;
iii. Violência contra idoso; ou
iv. Violência contra pessoa com deficiência.

f) Peritos:

Segundo Renato Brasileiro, o perito é um auxiliar do juízo, dotado de conhecimentos técnicos ou


científicos sobre determinada área do conhecimento humano, que tem a função estatal de realizar exames
periciais, fornecendo dados capazes de auxiliar o magistrado por ocasião da sentença. O perito é pessoa de
confiança da autoridade (delegado ou juiz), não sendo permitido às partes intervenção na nomeação.
Contudo as partes podem apresentar quesitos, que são as perguntas a serem respondidas pelos peritos.
Como decorrência lógica do fato de ser auxiliar do juízo, o perito tem a obrigação/dever de ser
imparcial (mesmas características do magistrado), podendo ser arguida as mesmas causas de impedimento
e suspeição do juiz em seu desfavor.
Além disso, cabe destacar que o perito é considerado funcionário público tanto o oficial, que exerce
cargo, quanto o não oficial, que desenvolve sua função pública, transitoriamente e sem remuneração.
Se o perito, no desempenho de seu mister, falsear ou calar a verdade, incorre no crime de falsa
perícia (art. 342, CP). Ademais, o perito (oficial) não poderá recusar o seu encargo injustificadamente, pois
tal recusa, por si só, já constitui infração funcional, passível de responsabilização, conforme art. 277 do CPP.

g) Assistente Técnico:

É pessoa dotada de conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, que traz ao processo


informações especializadas, relacionadas ao objeto da perícia, conforme inclusão pela Lei 11.689/08. O
assistente é auxiliar das partes e por isso tem atuação parcial.
Para fins penais, ele NÃO é considerado funcionário público, pois não exerce cargo, emprego ou
função. É contratado para descredibilizar o laudo oficial (é parcial). A admissão do assistente é deliberada
pelo juiz em ato irrecorrível. Contudo, quem se sentir prejudicado poderá manejar mandado de segurança.
Pergunta-se: O assistente responde por crime de falsa perícia?
R.: Não, apenas o perito pode praticar esse crime (falsa perícia – art. 342 do CP). Trata-se de crime
próprio. Contudo, há quem defenda poder responder por falsidade ideológica se inserir informações falsas.

O assistente técnico diferencia-se do perito nos seguintes aspectos:

ASSISTENTE TÉCNICO PERITO

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

É auxiliar das partes. Logo, a sua atuação é É auxiliar do juízo. Logo, a sua atuação deve ser
parcial. imparcial.
Sua atuação ocorre na fase processual. Sua atuação ocorre na fase investigatória ou
processual.
Não é considerado funcionário público. É considerado funcionário público para fins
penais, tanto o perito oficial quanto o perito
não oficial.
Não responde por falsa perícia. Responde pelo crime de falsa perícia, tipificado
ao teor do art. 342 do Código Penal (crime de
mão própria).

O momento da persecução penal em que o assistente técnico pode atuar é tema que sofreu alteração
pelo Pacote Anticrime (Lei 13. 964/2019).
● Antes da Lei 13. 964/2019: A atuação do assistente técnico estava restrita à fase judicial e
condicionada à previa autorização judicial (art. 159, §3º do CPP). Não se admitia a intervenção do
assistente técnico na fase investigatória.
● Após a Lei 13. 964/2019: O art. 3º-B, inciso XVI passou a prever a competência do juiz de garantias
para deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção de perícia.
Considerando que a atuação do juiz das garantias está restrita à fase investigatória da persecução
penal, a admissão do assistente técnico indicado pelas partes poderá ocorrer desde a fase de investigação,
não se limitando à fase processual.
Obs. 1: Aplica-se subsidiariamente o art. 474 do CPC, de modo que o juiz das garantias deve dar
ciência às partes da data e do local por ele designados (ou indicados pelo perito) para ter início a produção
de prova.
Obs.2: A realização de simples perícia na fase investigatória não está condicionada à previa indicação
de assistente técnico. O inciso XVI autoriza o juiz das garantias a deferir a admissão de assistente técnico para
acompanhar a produção da perícia já na fase investigatória, mas não transforma essa intervenção em
requisito para a realização de exames periciais nesse momento da persecução penal.
Por fim, cumpre destacar que os artigos introduzidos pela Lei 13.964/2019 que dizem respeito ao juiz
das garantias estão com a eficácia suspensa por força de medida cautelar concedida pelo Min. Fux em sede
de ADI.

CAIU EM PROVA:

(Delegado do Estado do Amazonas 2022): O Art. 158 do CPP ilustra a importância do exame de corpo de
delito, necessário nos casos em que a infração deixar vestígios. Sobre o corpo de delito, é correto afirmar
131
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

que o corpo de delito é a base residual do crime e pode corresponder a pessoas ou coisas – item considerado
correto.

(Delegado do Estado do Amazonas 2022): De acordo com o Art. 160 do CPP, os peritos elaborarão o laudo
pericial, no qual deverão descrever minuciosamente o que examinarem e responder aos quesitos formulados
o laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo ser prorrogado, em casos excepcionais,
a requerimento dos peritos – item considerado correto.

(Delegado do Estado do Rio de Janeiro 2022): No que se refere à prova pericial no curso do processo judicial,
é permitido às partes:
I- requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos.
II- demandar esclarecimentos dos peritos desde que os quesitos ou questões sejam encaminhados com
antecedência mínima de 15 dias.
III- arguir o impedimento legal do perito.
Itens considerados corretos: I e III.

9.2 Interrogatório Judicial

É o ato processual por meio do qual o juiz ouve o acusado sobre sua pessoa e sobre a imputação que
lhe é feita.
-se em duas fases: a
Parte da doutrina argumenta que o interrogatório judicial atualmente divide
sobre a pessoa e a segunda fase que é o questionamento
primeira fase correspondente aos questionamentos
sobre a imputação.
Nesse sentido, a legislação:

Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do


acusado e sobre os fatos.
§ 1º Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência, meios
de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida
pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso
afirmativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão condicional ou
condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais.

Além disso, desde 2016, em decorrência de alteração legislativa ocasionada pelo Estatuto da 1ª
Infância, exige-se o questionamento a respeito da existência de filhos da pessoa do interrogado. Nessa
esteira, o art. 185, §10 do CPP.

132
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Art. 185. § 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência de


filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de
eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.

ATENÇÃO: O interrogatório de qualificação NÃO está abrangido pelo nemo tenetur se detegere, podendo
caracterizar, inclusive, o crime de falsa identidade (Súmula 522 do STJ).

A 2ª parte do interrogatório, por sua vez, diz respeito aos fatos imputados.

Art. 187. § 2º Na segunda parte será perguntado sobre:


I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;
II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-
la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e
quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela;
III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta;
IV - as provas já apuradas;
V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde
quando, e se tem o que alegar contra elas;
VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto
que com esta se relacione e tenha sido apreendido;
VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos
antecedentes e circunstâncias da infração;
VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.

a) Natureza Jurídica do Interrogatório Judicial:

Há pelo menos três correntes sobre o tema:


1ªC - MEIO DE PROVA, em decorrência da própria localização topográfica do interrogatório judicial
no CPP entre os “meios de prova”. Ademais, pelo momento em que este era realizado (antes de 2008 era o
1º ato da audiência).
2ªC - MEIO DE DEFESA, visto que consiste na possibilidade de o réu apresentar sua versão dos fatos
como expressão do exercício da autodefesa. Quem alega ser meio de defesa o faz argumentando que há
sobre ele o direito ao silêncio (se fosse meio de prova o acusado estaria obrigado a responder as acusações).
Por fim, a realização do interrogatório que passou a ser o ato final da audiência.
3ªC - MEIO DE PROVA E DE DEFESA, a natureza dúplice do interrogatório decorre da previsão

133
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

constitucional que assegura ao réu o direito ao silêncio e de não produzir provas contra si (meio de defesa),
aliado a possibilidade de que o juiz leve em conta as declarações do acusado em sua sentença, seja
absolutória ou condenatória, estando o ato previsto no capítulo relativo às provas no CPP.

Cumpre recordarmos ainda que, a ampla defesa divide-se na defesa técnica (exercida por meio do advogado)
e autodefesa (exercida pelo acusado), que inclui o direito de presença, direito de audiência e capacidade
postulatória autônoma.

b) Características do interrogatório:

O interrogatório caracteriza-se por ser um:


● Ato personalíssimo: o interrogatório necessita ser exercido pessoalmente pelo acusado e, tratando-
se do interrogatório da pessoa jurídica, na pessoa de seu representante legal.
● Ato assistido tecnicamente: a defesa técnica é obrigatória na realização do interrogatório, sendo a
sua ausência causa de nulidade absoluta, conferindo-se o direito de entrevista reservada.
● Ato contraditório: após o advento da Lei nº 10.792/03 o interrogatório passou a ser reconhecido
como meio de defesa (anteriormente, não havia contraditório e nem ampla defesa no interrogatório
judicial, sendo um ato privativo do juiz).

Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou
algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinente e relevante.

Em regra, o método de realização do interrogatório é o presidencialista, de modo que o juiz pergunta


primeiro e, posteriormente, as partes farão suas perguntas por meio do juiz.
1º) perguntas do juiz
2º) perguntas das partes, por intermédio do juiz.

Exceção na 2ª fase do procedimento do júri: por força do artigo 474, do CPP, na 2ª fase do júri, as
perguntas também começam pelo juiz, mas as partes fazem perguntas diretamente. Além disso, depois é
conferida aos jurados a oportunidade de realizar perguntas por intermédio do juiz.
1º) perguntas do juiz
2º) perguntas das partes, diretamente;
3º) perguntas dos jurados, por intermédio do juiz.

Atente-se à jurisprudência sobre o tema:

134
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Não cabe a pretensão de realizar o interrogatório de forma virtual ao foragido por


considerável período, pois a situação não se amolda ao art. 220 do CPP.
O interrogatório é um ato que concretiza o direito de autodefesa do réu, além de
ser meio de prova. Assim, o juiz deve assegurar ao acusado a possibilidade de ser
ouvido. Ao tratar sobre o depoimento das testemunhas, o art. 220 do CPP, permite
que aquelas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para
depor, sejam inquiridas onde estiverem. Mas, no caso do réu que teve sua prisão
preventiva decretada e se encontra foragido, não é possível que o interrogatório
seja realizado de forma virtual (por videoconferência ou no local onde estiver). Isso
porque não há previsão desta circunstância no art. 220 do CPP. STJ. 6ª Turma. HC
640.770-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/06/2021.

O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade


estrangeira, a fim de que esta proceda diretamente à inquirição da testemunha
ou do investigado, não encontra qualquer tipo de respaldo constitucional, legal
ou jurisprudencial.
Trata-se de ato eivado de nulidade absoluta, por ofensa à soberania nacional, o
qual não pode produzir efeitos dentro de investigações penais que estejam dentro
das atribuições das autoridades brasileiras. STJ. 6ª Turma. RHC 102322-RJ, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

c) Ausência do interrogatório:

Uma vez caracterizado como meio de defesa, a ausência do interrogatório é causa de nulidade
absoluta em decorrência da violação ao exercício do direito de defesa, sem prejuízo da opção do próprio
acusado pelo não exercício do direito de audiência, hipótese em que não haverá nulidade a ser declarada.
É importante lembrar que trabalhar com nulidade é sempre trabalhar com prejuízo, de modo que,
com uma sentença absolutória não existe prejuízo, logo, não existe nulidade. Lado outro, haverá prejuízo
evidente caso haja sentença condenatória.

Ainda que o réu tenha constituído advogado antes do oferecimento da denúncia -


na data da prisão em flagrante - e o patrono tenha atuado, por determinação do
Juiz, durante toda a instrução criminal, é nula a ação penal que tenha condenado o
réu sem a sua presença, o qual não foi citado nem compareceu pessoalmente a

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

qualquer ato do processo, inexistindo prova inequívoca de que tomou


conhecimento da denúncia. (Info 580, STJ, 2016 – 6ª turma)

d) Momento de realização do interrogatório judicial no procedimento comum e no procedimento do Júri:

● Antes de 2008: O interrogatório era o primeiro ato da instrução processual.


● Com o advento a Lei nº 11.719/2008: Trata-se do último ato da instrução (interrogatório judicial).
Dessa forma, temos que desde o advento das Leis n. 11.719/08 e 11.689/08, o interrogatório passou
a ser o último ato da instrução probatória, reforçando a natureza jurídica de meio de defesa. O art.
400, CPP é aplicado ao procedimento comum e ao procedimento do júri:

Inobstante a previsão do CPP, há leis especiais que preveem o interrogatório ainda no início da
instrução probatória. São elas:
⦁ Lei de Drogas: art. 57, Lei 11.343/2006;
⦁ CPPM: art. 302;
⦁ Procedimento originários dos tribunais: Lei nº 8.038/90.

Diante desse cenário, havia questionamento acerca de qual a regra a aplicar, a norma geral do CPP
ou as respectivas leis especiais. Contudo, o STF manifestou-se sobre a problemática e pacificou a questão
entendendo que a mudança introduzida em 2008 não possui somente o status de lei ordinária, mas vem
ao encontro da ampla defesa, afastando, pois, a regra hermenêutica, a qual preceitua que a lei especial
prevalece sobre a lei geral. Assim, sob a ótica da ampla defesa é melhor ao acusado ser interrogado ao final.
Em suma, o STF passou a entender que todas as regras especiais acima perderam a razão de ser:

Decidiu que interrogatório ao final da instrução criminal se aplica a processos


militares. Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF)
decidiu que se aplica ao processo penal militar a exigência de realização do
interrogatório do réu ao final da instrução criminal, conforme previsto no artigo
400 do Código de Processo Penal (CPP). Na sessão desta quinta-feira (3), os
ministros negaram o pedido no caso concreto – Habeas Corpus (HC) 127900 [para
os processos criminais com instrução ainda não encerrada até 10.03.2016 não é
necessário aplicar tal orientação] – tendo em vista o princípio da segurança jurídica.
No entanto, fixaram a orientação no sentido de que, a partir da publicação da ata
do julgamento [10.03.2016], seja aplicável a regra do CPP às instruções não
encerradas nos processos de natureza penal militar e eleitoral e a todos os
procedimentos penais regidos por legislação especial.
136
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

O STJ já tinha decisão nesse sentido a respeito da Lei de Drogas:

O interrogatório, na Lei de Drogas, é o último ato da instrução.


O art. 400 do CPP prevê que o interrogatório deverá ser realizado como último ato
da instrução criminal. Essa regra deve ser aplicada: • nos processos penais militares;
• nos processos penais eleitorais e • em todos os procedimentos penais regidos por
legislação especial (ex: lei de drogas). Essa tese acima exposta (interrogatório como
último ato da instrução em todos os procedimentos penais) só se tornou
obrigatória a partir da data de publicação da ata de julgamento do HC 127900/AM
pelo STF, ou seja, do dia 11/03/2016 em diante. Os interrogatórios realizados nos
processos penais militares, eleitorais e da lei de drogas até o dia 10/03/2016 são
válidos mesmo que tenham sido efetivados como o primeiro ato da instrução. STF.
Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info 816).
STJ. 6ª Turma. HC 397382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
3/8/2017 (Info 609) (Fonte: Dizer o Direito).

Ainda sobre o entendimento jurisprudencial acerca do interrogatório, cabe destacar que o STF
entende que o acusado não pode assistir interrogatório do corréu mesmo que seja advogado.

Se houver mais de um acusado, cada um dos réus não terá direito de acompanhar
o interrogatório dos corréus. Segundo o CPP, havendo mais de um acusado, eles
deverão ser interrogados separadamente (art. 191). Ex.: João e Pedro são réus em
uma ação penal. No momento em que forem ser interrogados, um não poderá ouvir
o depoimento do outro. Logo, quando João for ser interrogado, Pedro terá que sair
da sala, ficando, contudo, seu advogado presente. No instante em que Pedro for
prestar seus esclarecimentos, será a vez de João deixar o recinto, ficando
representado por seu advogado. Se o réu for advogado e estiver atuando em causa
própria, mesmo assim deverá ser aplicada a regra do art. 191 do CPP. Em outras
palavras, quando o corréu for ser interrogado, o acusado (que atua como
advogado) terá que sair da sala de audiência. STF. 2ª Turma. HC 101021/SP, Rel.
Min. Teori Zavascki, julgado em 20/5/2014 (Info 747) (Fonte: Dizer o Direito).

ATENÇÃO! Há exceção quando envolver delação premiada. Nesse caso, de acordo com
entendimento do STF, o advogado do réu delatado deverá, obrigatoriamente, estar presente no
interrogatório do corréu delator.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

O advogado de um réu deverá, obrigatoriamente, estar presente no interrogatório


do corréu que com ele responde o mesmo processo criminal? REGRA: não. A
presença da defesa técnica é imprescindível durante o interrogatório do réu por ela
representado, não quanto aos demais. Assim, é obrigatória a presença do advogado
no interrogatório do seu cliente. No interrogatório dos demais réus, essa presença
é, em regra, facultativa. EXCEÇÃO: se o interrogatório é de um corréu delator, a
presença do advogado dos réus delatados é indispensável. Neste caso, deve-se
exigir a presença dos advogados dos réus delatados, pois, na colaboração
premiada, o delator adere à acusação em troca de um benefício acordado entre as
partes e homologado pelo julgador natural. Normalmente, o delator presta
contribuições à persecução penal incriminando eventuais corréus, razão pela qual
seus advogados devem acompanhar o ato. Se o advogado do corréu não comparece
ao interrogatório do réu delator, haverá nulidade? Depende: • Se o corréu foi
delatado no interrogatório e seu advogado não compareceu: sim, haverá nulidade.
• Se o corréu não foi delatado no interrogatório: não. Isso porque não houve
prejuízo. STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019
(Info 955) (Fonte: Dizer o Direito).

9.2.1. Interrogatório por Videoconferência:

O interrogatório por videoconferência é regulamentado no art. 185, CPP e tem caráter excepcional, ou
seja, só ocorre em casos específicos previstos em lei (art. 185, §2º).

Art. 185, § 2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a


requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema
de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma
das seguintes finalidades:
I – prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o
preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante
o deslocamento;

Não pode ser um risco genérico, que é inerente a qualquer transporte de preso.
Deve ser demonstrada fundada suspeita no sentido de o réu integrar organização
ou que vá fugir.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante


dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra
circunstância pessoal;

Seja por enfermidade ou qualquer circunstância pessoal que dificulte sua presença
na sede do juízo, como localização diversa e longínqua da comarca onde corre a
causa.
OBS: Vale lembrar que a videoconferência não serve apenas para interrogatório,
mas para garantir a presença do acusado em qualquer ato processual.

III – impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que


não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do
art. 217 deste Código;
IV – responder à gravíssima questão de ordem pública.

Quanto ao procedimento, destaca-se que a sua realização depende de decisão fundamentada da


autoridade judiciária, devendo as partes serem intimadas com 10 dias de antecedência (art. 185, §3º) e é
obrigatória a presença de advogados do réu no presídio e no fórum (art. 185, §5º).

Art. 185, §3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório por


videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência.
(...)
§ 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de
entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por
videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados
para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente
na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.

Segundo o STJ, é válida a realização do interrogatório por videoconferência no caso de dificuldade


de deslocamento do acusado até o local da audiência.

Não há ilegalidade ou nulidade na decisão do juiz que opta pela escolha de


realização do interrogatório do réu por meio de videoconferência em razão da
dificuldade de deslocamento do acusado até o local da audiência, bem como pelo
ja vista a insuficiência de agentes para realizar a
risco à segurança pública, ha

139
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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escolta. Em obediência ao princípio pas de nullité sans grief, que vigora plenamente
no processo penal pátrio (art. 563 do CPP), não se declara nulidade de ato se dele
não resulta demonstrado efetivo prejuízo para a parte. STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC
125373/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/08/2020.

A escassez de agentes penitenciários para realizar a escolta de detentos é


argumento válido para justificar a excepcionalidade da audiência por meio remoto.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 587424/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 06/10/2020.

Outros entendimentos jurisprudenciais sobre o interrogatório:

O simples fato de o juiz ser “duro” no interrogatório não implica quebra da


imparcialidade. A condução do interrogatório do réu de forma firme e até um tanto
rude durante o júri não importa, necessariamente, em quebra da imparcialidade do
magistrado e em influência negativa nos jurados. STJ. 6ª Turma. HC 410161-PR, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/04/2018 (Info 625).

Há excesso de prazo em caso de réu preso há mais de quatro anos sem ter sido
sequer realizado seu interrogatório. Em um caso concreto, o réu foi preso
preventivamente pela suposta prática de delitos previstos na Lei nº 11.343/2006
(Lei de Drogas). Ocorre que já se passaram mais de quatro anos desde a prisão
preventiva sem haver, sequer, audiência de interrogatório. Diante disso, o STF
entendeu que havia flagrante excesso de prazo na segregação cautelar e, por essa
razão, concedeu habeas corpus para determinar a soltura do paciente. Embora a
razoável duração do processo não possa ser considerada de maneira isolada e
descontextualizada das peculiaridades do caso concreto, diante da demora no
encerramento da instrução criminal, sem que o paciente, preso preventivamente,
tenha sido interrogado e sem que tenham dado causa à demora, não se sustenta a
manutenção da constrição cautelar. STF. 2ª Turma. HC 141583/RN, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 19/9/2017 (Info 878).

É ilegal o encerramento do interrogatório do paciente que se nega a responder


aos questionamentos do juiz instrutor antes de oportunizar as indagações pela
defesa. 1. O artigo 186 do CPP estipula que, depois de devidamente qualificado e
cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes

140
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder


perguntas que lhe forem formuladas 2. O interrogatório, como meio de defesa,
implica ao imputado a possibilidade de responder a todas, nenhuma ou a apenas
algumas perguntas direcionadas ao acusado, que tem direito de poder escolher a
estratégia que melhor lhe aprouver à sua defesa. 3. Verifica-se a ilegalidade diante
do precoce encerramento do interrogatório do paciente, após manifestação do
desejo de não responder às perguntas do juízo condutor do processo, senão do seu
advogado, sendo excluída a possibilidade de ser questionado pelo seu defensor
técnico (...) (HC n. 703.978/SC, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 5/4/2022, DJe de
7/4/2022.)

141
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

META 3

DIREITO PROCESSUAL PENAL: PROVAS (PARTE II)

9.3 Confissão

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros
elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá
-la com as
demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade
ou concordância.

Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir
elemento para a formação do convencimento do juiz. (não recepcionado)

Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será tomada por termo
nos autos, observado o disposto no art. 195.

a) Conceito:

Ocorre quando o próprio acusado admite a veracidade da imputação, quer perante a autoridade
policial quer perante a autoridade judiciária.
Alguns autores afirmam que a confissão é um testemunho duplamente qualificado, uma vez que:
● Do ponto de vista objetivo, a confissão recai sobre fatos contrários ao interesse de quem confessa;
● Do ponto de vista subjetivo, a confissão provém do próprio acusado e não de terceiros.

b) Natureza Jurídica:

Configura atenuante genérica, à luz do art. 65, III, do CP.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
III - ter o agente
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

142
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Súmula 545/STJ - Quando a confissão for utilizada para a formação do


convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do
Código Penal.

c) Valor Probatório:

Antigamente, a confissão possuía valor absoluto, por isso era chamada de “rainha das provas”. Assim,
diante da confissão do réu (que muitas vezes acontecia mediante tortura) sua condenação era imperativa.
Atualmente, qualquer prova tem valor relativo, inclusive, a confissão, conforme o art. 197:

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros
elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as
demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade
ou concordância.

Vale lembrar que é pacífico na jurisprudência a impossibilidade de condenação baseada SOMENTE


em confissão, sem que seja confrontada com outros meios de prova que a confirmem ou contraditem.

d) Espécies:

I. Confissão extrajudicial: É a confissão feita fora do processo e sem observância do contraditório e da ampla
defesa.

Pergunta-se: Qual o valor dessa confissão (que, em geral, ocorre no APF)?


R.: A doutrina entende que a confissão extrajudicial não tem valor probatório. Já a jurisprudência,
admite sua utilização subsidiária (art. 155).

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, NÃO podendo fundamentar sua decisão EXCLUSIVAMENTE
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.

II. Confissão judicial: É feita no curso do processo penal, perante a autoridade judiciária. Seu valor probatório
é maior do que o da confissão extrajudicial, pois o acusado está perante o juiz, assistido por um advogado e
confrontado pela acusação.

143
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Possui duas espécies, quais sejam:


● Própria: feita perante a autoridade judiciária competente;
● Imprópria: feita perante a autoridade judiciária incompetente.

III. Confissão explícita: Ocorre quando é feita de maneira clara e inequívoca.

IV. Confissão implícita: Ocorre quando o acusado pratica um ato que importe no reconhecimento da culpa,
como pagar a indenização a vítima. Não tem valor probatório, não sendo admitida no processo penal.

ATENÇÃO: No JECRIM a composição civil dá ensejo à renúncia ao direito de queixa ou representação da


vítima.

V. Confissão simples: O acusado confessa a prática do delito sem invocar qualquer tese de defesa.

VI. Confissão qualificada: O acusado confessa a prática do delito, mas opõe algum fato modificativo, impeditivo
ou extintivo do direito de punir. Ex.: excludente da ilicitude ou culpabilidade.

VII. Confissão ficta ou presumida: NÃO existe confissão ficta no processo penal, como no processo civil,
decorrente da revelia. Tal presunção não ocorre, pois vige no processo penal o nemo tenetur se detegere
(direito ao silêncio).

E existe revelia no Processo Penal?


Conforme os art. 366 e 367, se o acusado for citado por edital e não comparecer e nem constituir
advogado, ficam suspensos o processo e o prazo prescricional, não ocorrendo à revelia (art. 366).

Art. 366. Se o acusado, citado por EDITAL, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo
o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for
o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Todavia se o acusado foi citado ou intimado pessoalmente e não compareceu, será decretada sua
revelia (art. 367).

Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado
PESSOALMENTE para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado,
ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.
144
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Ou seja, há a possibilidade de revelia no processo penal, contudo, ela não produz a confissão ficta e
tem como único efeito prático a desnecessidade de intimação do acusado para prática dos atos processuais,
salvo em relação à sentença condenatória, da qual deve ser cientificado.

VIII. Confissão delatória: Também é conhecida como CHAMAMENTO DE CORRÉU ou DELAÇÃO PREMIADA.

● Materialização da delação premiada: Na prática (de lege ferenda) vem sendo lavrado um acordo
sigiloso entre a acusação e a defesa (quase um contrato), a ser submetido à homologação do juiz.
● Valor probatório da delação premiada: Para a jurisprudência do STF, uma delação premiada, por si
só, NÃO é fundamento idôneo para a condenação, devendo estar respaldada por outros elementos
probatórios.

e) Características:

● Ato personalíssimo: Não se pode transmitir o poder de confessar, apenas o acusado pode confessar.
● Ato livre e espontâneo: O acusado possui direito ao silêncio, irá optar por confessar ou não o ato
criminoso.
● Ato retratável: Acusado pode se retratar da confissão a qualquer momento, no todo ou em parte
(art. 200).

Art. 200. A confissão será divisível e RETRATÁVEL, sem prejuízo do livre


convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto.

● Ato divisível: O acusado pode confessar um delito e negar outros. O juiz pode considerar verdadeira
apenas uma parte da confissão, não valorando a parte que considerar inverossímil. Ex.: Juiz aceita a
confissão do ato, mas repudia a alegação de fato impeditivo (excludente de culpabilidade).

Enunciado 13 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ: A inexistência de confissão do


investigado antes da formação da opinio delicti do Ministério Público não pode ser interpretada como
desinteresse em entabular eventual acordo de não persecução penal.

9.4 Prova Testemunhal

a) Conceito de Testemunha:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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É toda pessoa humana capaz de depor e que seja estranha ao processo, chamada a se manifestar
sobre fato percebido por seus sentidos e relativos à causa.
Qualquer pessoa física pode ser testemunha, conforme art. 202 do CPP:

Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha.

b) Deveres da Testemunha:

I. Dever de Depor:

Em regra, toda pessoa possui a obrigação de depor. Percebe-se que a testemunha, ao contrário do
acusado, não tem direito ao silêncio, com exceção das hipóteses em que sua manifestação puder lhe
incriminar (nemo tenetur se detegere).
No entanto, aqui também existem exceções ao dever de depor. Vejamos: O art. 206 enumera alguns
parentes do acusado que PODEM SE RECUSAR a prestação de depoimento, salvo quando não existir outros
meios de comprovar o fato probando. Estão incluídos neste rol o ascendente ou descendente, o afim em
linha reta, o cônjuge, ainda que separado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado (art. 206)

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão,


entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta,
o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do
acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
prova do fato e de suas circunstâncias.

Conforme o art. 207 do CPP, SÃO PROIBIDAS de depor as pessoas que, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
quiserem dar o seu testemunho. São exemplos o advogado, o padre, o psicólogo, o médico etc.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte
interessada, quiserem dar o seu testemunho.

O advogado, mesmo desobrigado pela parte interessada, está proibido de depor (art. 7º, inc. XIX, da
Lei 8.906/94).

EOAB - Art. 7º São direitos do advogado:

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NÚCLEO DURO

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XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva


funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado,
mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato
que constitua sigilo profissional;

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Advogado que teve seus poderes revogados pela cliente, que pediu de volta os
documentos do caso, não pode depor como testemunha no processo porque a
conduta da parte demonstra que ela não liberou o causídico do sigilo profissional
que ele deve respeitar. STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).

II. Dever de Comparecimento:

Uma vez intimada, a testemunha é obrigada a comparecer (na mesma comarca em que reside), sob
a pena de não o fazendo ser conduzida coercitivamente.

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão,


entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta,
o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do
acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
prova do fato e de suas circunstâncias.

Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem


motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação
ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da
força pública.

Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453,
sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao
pagamento das custas da diligência.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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STJ (RHC 133.829): De acordo com precedentes do Superior Tribunal de Justiça e


do Supremo Tribunal Federal, as pessoas convocadas como testemunhas por
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) têm o dever de comparecer aos atos
para os quais foram chamadas, para que prestem esclarecimentos e contribuam
com as investigações. O direito ao não comparecimento está restrito aos
investigados, não se estendendo às testemunhas. O relator lembrou que as CPIs
possuem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, como previsto
pelo artigo 58, parágrafo 3º, da Constituição Federal. Ademais, segundo o ministro,
entre as provas que podem ser produzidas na instrução criminal, está a indagação
de pessoas capazes de contribuir para o esclarecimento dos fatos. "A essas pessoas
dá-se o nome de testemunhas, as quais, nos termos do artigo 206 do Código de
Processo Penal, não podem eximir-se da obrigação de depor, ou seja, trata-se de
um múnus público", explicou o ministro. Fonte: Conjur.

Em alguns casos, no entanto, o dever de comparecimento é mitigado. São eles:

1. Pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou velhice, serão inquiridas onde estiverem (art. 220);

Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de


comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem.

2. Pessoas enumeradas no art. 221 serão inquiridas em dia, hora e local previamente ajustados
entre elas e o juiz.

Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados


federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os
secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os
deputados às Assembleias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário,
os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito
Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora
previamente ajustados entre eles e o juiz.

STF (AP n. 421 - QO) entendeu que a prerrogativa deve ser observada, mas não
significa que o juiz tenha que ficar indefinidamente aguardando a boa vontade das
autoridades listadas.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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ATENÇÃO: o art. 221 está inserido no Capítulo que disciplina a prova testemunhal. Portanto, o dispositivo
NÃO se aplica às hipóteses em que essas autoridades figurarem como acusadas no processo, mas sim
quando forem testemunhas (e o STF admite quando elas forem vítimas). E mais: caso a autoridade não
utilize a prerrogativa do art. 221 no prazo de 30 dias, o STF entende que esse direito se perde.

Inclusive, em 18/08/2020, reiterando sua jurisprudência consolidada, o STF negou ao Presidente da


República (Jair Bolsonaro), na qualidade de investigado, que realizasse seu depoimento por escrito. A decisão
foi tomada no Inquérito 4831/DF, de relatoria do Ministro Celso de Mello, instaurado contra o Presidente da
República, e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública.

As autoridades com prerrogativa de foro previstas no art. 221 do CPP, quando


figurarem na condição de investigados no inquérito policial ou de acusados na ação
penal, não têm o direito de serem inquiridas em local, dia e hora previamente
ajustados com a autoridade policial ou com o juiz. Isso porque não há previsão legal
que assegure essa prerrogativa processual, tendo em vista que o art. 221 do CPP se
restringe às hipóteses em que as autoridades nele elencadas participem do
processo na qualidade de testemunhas, e não como investigados ou acusados. STJ.
5ª Turma. HC 250970-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/9/2014 (Info 547).

3. Pessoas residentes em comarcas diversas da que se desenvolva o processo, caso no qual poderão ser
inquiridas pelo juiz de sua comarca, mediante CARTA PRECATÓRIA, ou pelo meio de
VIDEOCONFERÊNCIA.

Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz
do lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo
razoável, intimadas as partes.
§ 1o A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.
§ 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a
precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.
§ 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser
realizada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e
podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
julgamento.

É indispensável a intimação quanto a expedição da carta precatória, sob pena de nulidade relativa.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Porém, cabe a parte diligenciar junto ao juízo deprecado para saber a data da oitiva no juízo deprecado
(Súmula 155 do STF e Súmula 273 do STJ).

Súmula 155/STF - É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação


da expedição de precatória para inquirição de testemunha.

Súmula 273/STJ - Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se


desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.

Aqui, entra, também, a CARTA ROGATÓRIA, prevista no CPP. O artigo 222-A foi introduzido ao CPP
pela Lei n. 11.900/09. Na AP. n. 470 – QO n. 4, o Supremo entendeu que o dispositivo seria plenamente
constitucional em razão da boa-fé.

Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a


sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 222
deste Código.

Se for expedida carta rogatória para citar um acusado no exterior, o prazo


prescricional ficará suspenso até que ela seja cumprida, ou seja, o prazo
prescricional voltará a correr antes mesmo que a carta seja juntada aos autos. O
CPP afirma que, se for expedida uma carta rogatória para citar um acusado no
exterior, o prazo prescricional ficará suspenso até que ela seja cumprida: Art. 368.
Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
Até quando o prazo prescricional fica suspenso? Até o cumprimento da carta ou até
a sua juntada aos autos? O termo final da suspensão do prazo prescricional pela
expedição de carta rogatória para citação do acusado no exterior é a data da
efetivação da comunicação processual no estrangeiro, ainda que haja demora para
a juntada da carta rogatória cumprida aos autos. STJ. 5ª Turma. REsp 1882330/SP,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/04/2021 (Info 691).

III. Dever de Prestar o Compromisso de Dizer a Verdade:

Toda testemunha tem o dever de prestar o compromisso de dizer a verdade (art. 203 do CPP).

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Lembrando que, quando o depoimento puder lhe incriminar, a testemunha poderá fazer invocar o
direito ao silêncio, desdobramento do princípio da não autoincriminação.

Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade
do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu
estado e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é
parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer
delas, e relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as
circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.

As exceções são:
1. Parentes próximos do réu (art. 206 c/c 208 do CPP);

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão,


entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta,
o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do
acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
prova do fato e de suas circunstâncias.

Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e
deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se
refere o art. 206.

2. Menor de 14 anos;
3. Deficientes mentais (art. 208 do CPP).

OBS: As testemunhas do art. 207 prestam o compromisso.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte
interessada, quiserem dar o seu testemunho.

A ausência do compromisso não dá à testemunha o direito de mentir. A testemunha tem o dever de


dizer a verdade, sob pena de responder por falso testemunho.
O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
retrata ou declara a verdade (art. 342 do CP).

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NÚCLEO DURO

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CP Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu
o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

ATENÇÃO: A doutrina costuma chamar as testemunhas não compromissadas de INFORMANTES.

Pergunta-se: A testemunha que não presta compromisso, chamada de informante, pode praticar o
delito do art. 342 CP?
R.: Há divergência de entendimento.
1ª C: Toda testemunha, compromissada ou não pode ser sujeito ativo do crime do art. 342, a lei não
diferencia, logo não cabe ao intérprete fazê-lo. Não bastasse, a testemunha não compromissada, pode servir
como argumento de condenação ou absolvição. Quem falou que o juiz não pode utilizar o testemunho de
um informante para basear seu julgamento? Em outras palavras: qualquer testemunha poderá praticar o
crime do art. 342 do CP, pois este tipo penal não traz o compromisso de dizer a verdade como uma elementar
do crime de falso testemunho.
2ªC: Se a lei não submete a testemunha informante ao compromisso de dizer a verdade, NÃO pode
cometer o ilícito do art. 342. Ora, se a própria lei não colhe delas o compromisso de dizer a verdade, a lei
não pode cobrar. PREVALECE.

Ao final do depoimento, em se convencendo da existência do crime de falso testemunho (que pode


se configurar até mesmo pelo silêncio da testemunha), o juiz remeterá cópia do depoimento à autoridade
policial para instauração de inquérito. Se o fato se der em julgamento perante o tribunal do júri, prevê o art.
211, §único, que a testemunha deverá ser de imediato apresentada à autoridade policial.

IV. Dever de Comunicar Alteração de Endereço:

As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de 1 (um) ano, qualquer mudança de residência,


sujeitando-se, pela simples omissão, às penas do não comparecimento (art. 224 do CPP).

Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um ano, qualquer


mudança de residência, sujeitando
-se, pela simples omissão, às penas do não
comparecimento.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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c) Espécies de Testemunhas:

● Testemunhas Numerárias: São aquelas arroladas pelas partes e que prestam o compromisso legal, sendo
computadas para efeito de aferição do número máximo de testemunhas legalmente permitido.

Quantidade de testemunhas: Contabilização apenas das testemunhas numerárias.


RITO ORDINÁRIO Até 08 testemunhas (art. 401, caput, e §1º, do CPP)

RITO SUMÁRIO Até 05 testemunhas (art. 532, do CPP)

RITO SUMARÍSSIMO Até 03 testemunhas (art. 34, Lei 9099/95).

LEI DE DROGAS Até 05 testemunhas (art. 54, III, da referida lei)

1ª FASE DO TRIBUNAL DO JÚRI Até 08 testemunhas (art. 406, §2º, do CPP)

2ª FASE DO TRIBUNAL DO JÚRI Até 05 testemunhas (art. 422, do CPP)

● Testemunhas Extranumerárias: São aquelas que não são computadas no número de testemunhas
legalmente permitido, podendo ser ouvidas em número ilimitado. Incluem-se as testemunhas ouvidas
por iniciativa do juiz, testemunhas arroladas pelas partes que não prestam compromisso legal e
testemunhas que nada sabem dos fatos (art. 209 do CPP).

Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes.
§1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas
se referirem.
§2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que interesse
à decisão da causa.

● Testemunhas Diretas: São aquelas que depõem sobre fatos que PRESENCIOU. São as chamadas
testemunhas visuais.

● Testemunhas Indiretas: São aquelas que depõem sobre fatos que OUVIU DIZER (hear say). Seu
depoimento possui menor valor probatório.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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STJ (REsp n. 1.373.356): Apesar do Brasil não ter um regramento proibindo as


testemunhas indiretas, ao contrário de outros Países, o Superior Tribunal de Justiça
concluiu ser intolerável que alguém em juízo se limite tão somente a dizer o que
ela ouviu falar e que isso seja tido como prova robusta para um decreto
condenatório.

● Testemunhas Próprias: São aquelas que prestam declarações sobre a infração penal.

● Testemunhas Laudadoras ou de Beatificação: São aquelas que prestam declarações relacionadas aos
antecedentes do réu.

● Testemunhas Impróprias, Instrumentárias ou Fedatárias: São aquelas que prestam declarações sobre a
regularidade de um ato do processo ou do inquérito policial, e não sobre a própria infração penal. Ex.:
testemunhas de apresentação que são chamadas para presenciar o auto de prisão em flagrante.

Em juízo, se o acusado se recusar a assinar o termo do interrogatório, não há necessidade de


testemunhas fedatárias, como ocorre no auto de prisão em flagrante, previsto no art. 304, §§ 2° e 3°, do CPP.

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e


colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de
entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o
acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade,
afinal, o auto.
2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante;
mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que
hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade.
§ 3o Quando o ACUSADO se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o
auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham
ouvido sua leitura na presença deste.

● Informantes: São aquelas testemunhas que não prestam o compromisso legal, como por exemplo, o filho
ou a mãe do réu, que são chamadas para depor (art. 206 CPP).

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão,


entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta,
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NÚCLEO DURO

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o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do


acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
prova do fato e de suas circunstâncias.

● Testemunhas Referidas: São aquelas mencionadas (referidas) por outras testemunhas já ouvidas, não
entrando no número permitido (art. 209, §1º CPP).

Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes.
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas
se referirem.

CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado de Goiás 2022): As testemunhas referidas não devem ser computadas para fins do
número máximo de testemunhas a serem ouvidas - item considerado correto.

● Testemunhas Anônimas: São aquelas cuja qualificação não é informada ao acusado.

De acordo com o STF, não há nenhuma inconstitucionalidade, tendo em vista que visa à preservação da
integridade da testemunha.

● Testemunhas Ausentes: São aquelas que não comparecem para depor em juízo. Assim, elas podem até
já ter sido ouvidas durante a fase investigatória, mas por algum motivo não compareceram em juízo para
prestar seu depoimento. Ex.: morreram, estão com medo.

● Testemunhas Remotas: São aquelas ouvidas por videoconferência.

● Testemunhas da Coroa: São aqueles depoimentos prestados pelo agente infiltrado. Esta figura foi
prevista em alguns diplomas, como a Lei n. 12.850/2013 e a Lei n. 11.343/2006. O agente infiltrado é o
policial que, mediante autorização judicial, ingressa em uma organização criminosa, colhendo material
probatório acerca das práticas delitivas.

● Testemunhas Vulneráveis e “depoimento sem dano”: Salienta-se que não são apenas as pessoas do art.
217-A do CP. Segundo a doutrina, também podem ser incluídas como testemunhas vulneráveis pessoas
idosas ou em situações de vulnerabilidade, como a de violência doméstica ou familiar contra a mulher.

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NÚCLEO DURO

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Durante muitos anos as pessoas vulneráveis eram ouvidas sem nenhum cuidado. Para contornar as
consequências, como a revitimização, foi construído doutrinariamente o que se chamou de depoimento sem
dano. Posteriormente, foi positivado, sendo denominado de Depoimento Especial.

Lei 13.431/17:
Art. 7º: Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de
violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado
o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade.
Art. 8º: Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente
vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária.
Art. 9º: A criança ou o adolescente será resguardado de qualquer contato, ainda
que visual, com o suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa que represente
ameaça, coação ou constrangimento.
Art. 10: A escuta especializada e o depoimento especial serão realizados em local
apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a
privacidade da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência.
Art. 11: O depoimento especial reger-se-á por protocolos e, sempre que possível,
produção antecipada de prova judicial,
será realizado uma única vez, em sede de
garantida a ampla defesa do investigado.
§ 1º: O depoimento especial seguirá o rito cautelar de antecipação de prova:
I - quando a criança ou o adolescente tiver menos de 7 (sete) anos;
II - em caso de violência sexual.

Veja a jurisprudência sobre o “depoimento sem dano”:

(Info 767 STJ) É justificável a antecipação de prova no caso de depoimento


especial de adolescente vítima de possível crime sexual - na forma da Lei n.
13.431/2017 - pela relevância da palavra da vítima em crimes dessa natureza e na
sua urgência pela falibilidade da memória de crianças e adolescentes. Processo
em segredo de justiça, Rel. Ministro Messod Azulay Neto, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 6/3/2023, DJe 14/3/2023.
O depoimento sem dano consiste na oitiva judicial de crianças e adolescentes que
foram supostamente vítimas de crimes contra a dignidade sexual por meio de um
procedimento especial, que consiste no seguinte: a criança ou o adolescente fica
em uma sala reservada, sendo o depoimento colhido por um técnico (psicólogo ou
assistente social), que faz as perguntas de forma indireta, por meio de uma

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conversa em tom mais informal e gradual, à medida que vai se estabelecendo uma
relação de confiança entre ele e a vítima. O juiz, o Ministério Público, o réu e o
Advogado/Defensor Público acompanham, em tempo real, o depoimento em outra
sala por meio de um sistema audiovisual que está gravando a conversa do técnico
com a vítima. A Lei nº 13.431/2017 trouxe regras para a realização do depoimento
sem dano. No entanto, mesmo antes desta Lei, o STJ já entendia que era válida, nos
crimes sexuais contra criança e adolescente, a inquirição da vítima na modalidade
do “depoimento sem dano”, em respeito à sua condição especial de pessoa em
desenvolvimento, inclusive antes da deflagração da persecução penal, mediante
prova antecipada. Assim, mesmo antes da Lei nº 13.431/2017, não configurava
nulidade por cerceamento de defesa o fato de o defensor e o acusado de crime
sexual praticado contra criança ou adolescente não estarem presentes na oitiva da
vítima devido à utilização do método de inquirição denominado “depoimento sem
dano”. STJ. 5ª Turma. RHC 45.589-MT, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
24/2/2015 (Info 556).

Depoimento ad perpetuam rei memoriam:


Art. 225: Se qualquer testemunha houver de ausentar
-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de
que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

e) Método de Inquirição das Testemunhas

Art. 212, do CPP: As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à


testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não
tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a
inquirição.

O art. 212 estabeleceu o método de inquirição direta das testemunhas (sistema de inquirição direta
ou cross examination). Isso porque, com a reforma do CPP, operada pela Lei nº 11.690/2008, a participação
do juiz na inquirição das testemunhas foi reduzida ao mínimo possível. A ideia é justamente que o
depoimento não seja conduzido pelo juiz e sim pelas partes, podendo o juiz intervir apenas excepcionalmente
a título complementar. Desse modo, as perguntas agora são formuladas diretamente pelas partes (MP e
defesa) às testemunhas.

157
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Pergunta-se: Quem inicia a inquirição?


R.: Pela parte que arrolou a testemunha. Ex.: Na denúncia, o MP arrolou duas testemunhas (Carlos e
Fernando). A defesa, na resposta escrita, também arrolou uma testemunha (André). No momento da
audiência de instrução, inicia-se ouvindo as testemunhas arroladas pelo MP (Carlos e Fernando).

Pergunta-se: Quem primeiro fará perguntas a essas testemunhas?


R.: O Ministério Público. Quando o MP acabar de perguntar, a defesa terá direito de formular seus
questionamentos e, por fim, o juiz poderá complementar a inquirição, se houver pontos não esclarecidos.
Depois de serem ouvidas todas as testemunhas de acusação, serão inquiridas as testemunhas de
defesa (no exemplo dado, apenas André).

Pergunta-se: Quem primeiro fará as perguntas a testemunha de defesa?


R.: A própria defesa. Quando a defesa acabar de perguntar, o Ministério Público terá direito de
formular questionamentos e, por fim, o juiz poderá complementar a inquirição, se houver pontos não
esclarecidos.
Assim, em regra, o juiz deverá apenas ficar calado, ouvindo e valorando, em seu íntimo, as perguntas
e as respostas. O juiz, contudo, deverá intervir e indeferir a pergunta formulada pela parte, antes que a
testemunha responda, caso se verifique uma das seguintes situações:
· Quando a pergunta feita pela parte puder induzir a resposta da testemunha;
· Quando a pergunta não tiver relação com a causa;
· Quando a pergunta for a repetição de outra já respondida.

Pergunta-se: O que acontece se o juiz não obedecer a esta regra? O que ocorre se o juiz iniciar as
perguntas, inquirindo a testemunha antes das partes?
R.: Existem duas correntes sobre o tema.
1ª C: Se o juiz inicia as perguntas há inobservância do art. 212 do CPP, o que gera a nulidade do ato. É
como se fosse uma nulidade absoluta.

Não cabe ao juiz, na audiência de instrução e julgamento de processo penal, iniciar


a inquirição de testemunha, cabendo-lhe, apenas, complementar a inquirição sobre
os pontos não esclarecidos. STF. 1ª Turma. HC 161658/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 2/6/2020 (Info 980). STF. 1ª Turma. HC 187035/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 6/4/2021 (Info 1012).

2ª C: O fato de o juiz iniciar a inquirição das testemunhas pode gerar, quando muito, nulidade
relativa, cujo reconhecimento depende da demonstração do prejuízo para a parte que a suscita. Assim, não
158
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

deve ser acolhida a alegação de nulidade em razão da não observância da ordem de formulação de perguntas
às testemunhas, estabelecida pelo art. 212 do CPP, se a parte não se desincumbiu do ônus de demonstrar o
prejuízo decorrente da inversão da ordem de inquirição das testemunhas. A demonstração de prejuízo, a
teor do art. 563 do CPP, é essencial à alegação de nulidade.

A inobservância do procedimento previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando


muito, nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da demonstração do
prejuízo para a parte que a suscita. A defesa trouxe argumentação genérica, sem
demonstrar qualquer prejuízo concretamente sofrido, capaz de nulificar o julgado.
Nesse contexto, incide a regra segundo a qual não haverá declaração de nulidade
quando não demonstrado o efetivo prejuízo causado à parte (pas de nullité sans
grief). STF. 1ª Turma. HC 177530 AgR, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
20/12/2019.

Jurisprudência em Teses (Ed. 69): Tese 12: A inquirição das testemunhas pelo Juiz
antes que seja oportunizada às partes a formulação das perguntas, com a inversão
da ordem prevista no art. 212 do Código de Processo Penal, constitui nulidade
relativa.

Não é possível anular o processo, por ofensa ao art. 212 do Código de Processo
Penal, quando não verificado prejuízo concreto advindo da forma como foi
realizada a inquirição das testemunhas, sendo certo que, segundo entendimento
consolidado neste Superior Tribunal, o simples advento de sentença condenatória
não tem o condão, por si só, de cristalizar o prejuízo indispensável para o
reconhecimento da nulidade. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1493757/SP, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/04/2020.

A inquirição das testemunhas pelo juiz antes que seja oportunizada a formulação
das perguntas às partes, com a inversão da ordem prevista no art. 212 do Código
de Processo Penal, constitui nulidade relativa. Não havendo demonstração do
prejuízo, nos termos exigidos pelo art. 563 do mesmo estatuto processual, não se
procede à anulação do ato. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 578.934/SP, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 02/06/2020.

Jurisprudências importantes sobre prova testemunhal:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Indeferimento de todas as testemunhas da defesa sob o argumento de que


seriam protelatórias: constrangimento ilegal. Na fase de defesa prévia, o réu
arrolou uma série de testemunhas, mas o juiz negou a oitiva afirmando que o
requerimento seria protelatório, haja vista que as testemunhas não teriam, em
tese, vinculação com os fatos criminosos imputados. O STF entendeu que houve
constrangimento ilegal. O direito à prova é expressão de uma inderrogável
prerrogativa jurídica, que não pode ser, arbitrariamente, negada ao réu. O princípio
do livre convencimento motivado (art. 400, § 1º, do CPP) faculta ao juiz o
indeferimento das provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou
protelatórias. No entanto, no caso concreto houve o indeferimento de todas as
testemunhas de defesa. Dessa forma, houve ofensa ao devido processo legal, visto
que frustrou a possibilidade de o acusado produzir as provas que reputava
necessárias à demonstração de suas alegações. STF. 2ª Turma. HC 155363/RJ, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

Depoimento dos policiais pode fundamentar a sentença condenatória. O


depoimento dos policiais prestado em juízo constitui meio de prova idôneo,
podendo embasar a condenação do réu. Assim, por exemplo, as declarações dos
policiais militares responsáveis pela efetivação da prisão em flagrante constituem
meio válido de prova para condenação, sobretudo quando colhidas no âmbito do
devido processo legal e sob o crivo do contraditório. A defesa pode demonstrar, no
caso concreto, que as testemunhas não gozam de imparcialidade, sendo, contudo,
ônus seu essa prova. STJ. 5ª Turma. HC 395.325/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 18/05/2017.

Antecipação da prova testemunhal pela gravidade do crime e possibilidade


concreta de perecimento. A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366
do CPP pode ser justificada como medida necessária pela gravidade do crime
praticado e possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas
poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência do
decurso do tempo. Além disso, a antecipação da oitiva das testemunhas não traz
nenhum prejuízo às garantias inerentes à defesa. Isso porque quando o processo
retomar seu curso, caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do réu,
basta que seja feita nova inquirição. STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min.
Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2016
(Info 851).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

IMPORTANTE!
(1) Por quanto tempo o prazo prescricional ficaria suspenso?
O tema era alvo de divergência jurisprudencial. No entanto, o STF, aderindo à posição já consolidada e
sumulada do STJ, passou a entender que, no caso do art. 366 do CPP, o prazo prescricional ficará suspenso
pelo tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime. Veja:

Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes previstos na
Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de suspensão do prazo
prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o
processo permanecer suspenso. Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312. STF. Plenário. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 438) (Info 1001).

No mesmo sentido: Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo
da pena cominada.

(2) Existe um argumento no sentido de que se as testemunhas forem policiais, deverá ser autorizada a sua
oitiva como prova antecipada, considerando que os policiais lidam diariamente com inúmeras ocorrências
e, se houvesse o decurso do tempo, eles poderiam esquecer dos fatos. Esse argumento é aceito pela
jurisprudência? A oitiva das testemunhas que são policiais é considerada como prova urgente para os fins
do art. 366 do CPP?
SIM. É a posição do STJ.
O fato de o agente de segurança pública atuar constantemente no combate à criminalidade faz com que ele
presencie crimes diariamente. Em virtude disso, os detalhes de cada uma das ocorrências acabam se
perdendo em sua memória. Essa peculiaridade justifica que os policiais sejam ouvidos como produção
antecipada da prova testemunhal, pois além da proximidade temporal com a ocorrência dos fatos
proporcionar uma maior fidelidade das declarações, possibilita ainda o registro oficial da versão dos fatos
vivenciados por ele, o que terá grande relevância para a garantia da ampla defesa do acusado, caso a defesa
técnica repute necessária a repetição do seu depoimento por ocasião da retomada do curso da ação penal.
Nesse sentido: AgRg no AREsp 1.995.527-SE, Rel. Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 19/12/2022, DJe 21/12/2022.

O STF não tem uma posição consolidada sobre o tema, havendo decisões em ambos os sentidos. Exemplos:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· Não admitindo: STF. 2ª Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/11/2015;
· Admitindo: STF. 2ª Turma. HC 135386, Rel. Ricardo Lewandowski, Relator(a) p/ Acórdão: Gilmar Mendes,
julgado em 13/12/2016.

g) Valor Probatório da Prova Testemunhal

O valor probatório da prova testemunhal é RELATIVO. O juiz deve confiar nos depoimentos, posto
que prestados sob compromisso, desde que não estejam em desacordo evidente com os demais elementos
de prova constante nos autos.
Sempre houve intensa divergência na doutrina e jurisprudência a respeito da credibilidade do
depoimento policial enquanto prova testemunhal. Vejamos:
1ª C (doutrina majoritária / Tribunais Superiores): Não há ressalvas, em princípio, quanto à prova
policial, porque como se dá credibilidade ao depoimento de qualquer cidadão comum, não há de ser
diferente com o policial até porque, enquanto agente da administração pública, goza de fé pública
(presunção relativa de legitimidade dos seus atos).
Jurisprudência em Teses STJ – Ed. 105, nº 6: É válido e revestido de eficácia
probatória o testemunho prestado por policiais envolvidos em ação investigativa
ou responsáveis por prisão em flagrante, quando estiver em harmonia com as
demais provas dos autos e for colhido sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa.
2ª C (Camargo Aranha): Como a investigação foi conduzida pelos policiais é certo que possuem
interesse na condenação do réu, o que legitimaria toda a investigação realizada, não sendo tais depoimentos,
portanto, desinteressados. Entendimento que não tem penetração jurisprudencial.
No informativo 756, a 5ª Turma do STJ trouxe um importante julgado a respeito do tema:

O testemunho prestado em juízo pelo policial deve ser valorado, assim como
acontece com a prova testemunhal em geral, conforme critérios de coerência
interna, coerência externa e sintonia com as demais provas dos autos. (5ª T. STJ,
AREsp 1.936.393-RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 25/10/2022, DJe 08/11/2022.)

9.5 Reconhecimento de Coisas e Pessoas

Trata-se do procedimento disciplinado nos art. 226 a art. 228, do CPP e que merece especial
destaque em razão das diversas discussões jurisprudenciais pelas quais a temática passou nos
últimos anos.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa,


proceder-se-á pela seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a
pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado
de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de
fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por
efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa
que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja
aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela
autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas
testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no III deste artigo não terá aplicação na fase da
instrução criminal ou em plenário de julgamento.

O art. 226 do CPP estabelece formalidades para o reconhecimento de pessoas (reconhecimento


pessoal).
Pergunta-se: O descumprimento dessas formalidades enseja a nulidade do reconhecimento?
1ª C: NÃO, pois o procedimento constitui mera recomendação legal. Era a posição pacífica da 5ª
Turma e que prevalecia na jurisprudência até 2020.

As disposições contidas no art. 226 do CPP configuram uma recomendação legal, e


não uma exigência absoluta. Assim, é válido o ato mesmo que realizado de forma
diversa da prevista em lei. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1665453/SP, Rel. Min. Joel
Ilan Paciornik, julgado em 02/06/2020.

2ª C: SIM, pois o procedimento constitui garantia mínima ao acusado. Nesse sentido, julgado da 6ª
Turma do STJ, que promoveu uma virada jurisprudencial e fixou as seguintes conclusões:
● O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no art. 226 do Código de
Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se encontra na
condição de suspeito da prática de um crime;

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

● À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do procedimento


descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não
poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo;
● Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o
devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do
exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de
reconhecimento;
● O reconhecimento do suspeito por simples exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de
dever seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa
antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em ação
penal, ainda que confirmado em juízo. STJ. 6ª Turma. HC 598886-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 27/10/2020 (Info 684).

Ainda, houve decisão do STF sobre o reconhecimento de pessoas no mesmo sentido da 6ª Turma:

A desconformidade ao regime procedimental determinado no art. 226 do CPP deve


acarretar a nulidade do ato e sua desconsideração para fins decisórios,
justificando-se eventual condenação somente se houver elementos independentes
para superar a presunção de inocência. STF. 2ª Turma. RHC 206846/SP, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 22/2/2022 (Info 1045).

Nesse sentido, tem-se que o reconhecimento (fotográfico ou presencial) efetuado pela vítima, em
sede inquisitorial, não constitui evidência segura da autoria do delito, dada a falibilidade da memória
humana, que se sujeita aos efeitos tanto do esquecimento, quanto de emoções e de sugestões vindas de
outras pessoas que podem gerar “falsas memórias”, além da influência decorrente de fatores, como, por
exemplo, o tempo em que a vítima esteve exposta ao delito e ao agressor; o trauma gerado pela gravidade
do fato; o tempo decorrido entre o contato com o autor do delito e a realização do reconhecimento; as
condições ambientais (tais como visibilidade do local no momento dos fatos); estereótipos culturais (como
cor, classe social, sexo, etnia etc.).
Note que, acerca da temática de reconhecimento fotográfico, ainda, a 6ª Turma do STJ decidiu que
“no caso em que o reconhecimento fotográfico na fase inquisitorial não tenha observado o procedimento
legal, mas a vítima relata o delito de forma que não denota riscos de um reconhecimento falho, dá-se
ensejo a distinguishing quanto ao acórdão do HC 598.886/SC, que invalida qualquer reconhecimento
formal - pessoal ou fotográfico - que não siga estritamente o que determina o art. 226 do CPP.” (STJ. 6a
Turma. REsp 1.969.032-RS, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF da 1ª Região), Sexta
Turma, por unanimidade, julgado em 17/05/2022, DJe 20/05/2022. - Info 739)
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Note, por oportuno, que o Julgado no informativo 739 não supera o entendimento do Info 684 (O
art. 226 do CPP estabelece formalidades para o reconhecimento de pessoas - reconhecimento pessoal - e o
descumprimento dessas formalidades enseja a nulidade do reconhecimento), pois, no julgamento do HC
598.886/SC, da relatoria do Min. Rogério Schietti Cruz, decidiu a Sexta Turma, revendo anterior
interpretação, no sentido de que se "determine, doravante, a invalidade de qualquer reconhecimento formal
- pessoal ou fotográfico - que não siga estritamente o que determina o art. 226 do CPP, sob pena de
continuar-se a gerar uma instabilidade e insegurança de sentenças judiciais que, sob o pretexto de que outras
provas produzidas em apoio a tal ato - todas, porém, derivadas de um reconhecimento desconforme ao
modelo normativo - autorizariam a condenação, potencializando, assim, o concreto risco de graves erros
judiciários".
Além disso, é importante observar que o entendimento do STF (2ª Turma. RHC 206846/SP) conforme
exposto acima também é pela nulidade.
Por fim, a título de complementação, a posição pacífica da 5ª Turma ERA em sentido contrário de
que as disposições contidas no art. 226 do CPP configuram uma recomendação legal, e não uma exigência
absoluta. Assim, entendia que era válido o ato mesmo que realizado de forma diversa da prevista em lei (STJ.
5ª Turma. AgRg no AREsp 1665453/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 02/06/2020). Contudo, a
Turma se ajustou no HC 694.083/PB, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 23/11/2021, DJe 29/11/2021:
O reconhecimento fotográfico serve como prova apenas inicial e deve ser
ratificado por reconhecimento presencial, assim que possível. E, no caso de uma
ou ambas as formas de reconhecimento terem sido efetuadas, em sede inquisitorial,
sem a observância (parcial ou total) dos preceitos do art. 226 do CPP e sem
justificativa idônea para o descumprimento do rito processual, ainda que
confirmado em juízo, o reconhecimento falho se revelará incapaz de permitir a
condenação, como regra objetiva e de critério de prova, sem corroboração do
restante do conjunto probatório, produzido na fase judicial.

O reconhecimento de pessoas que obedece às disposições legais não prepondera


sobre quaisquer outros meios de prova (confissão, testemunha, perícia,
acareação); ao contrário, deve ser valorado como os demais. HC 769.783-RJ, Rel.
Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 10/5/2023.

Ainda que o reconhecimento fotográfico esteja em desacordo com o


procedimento previsto no art. 226 do CPP, deve ser mantida a condenação quando
houver outras provas produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa,
independentes e suficientes o bastante, para lastrear o decreto condenatório.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Se as demais provas que compuseram o acervo fático-probatório amealhado aos


autos foram produzidas por fonte independente da que culminou com o elemento
informativo obtido por meio do reconhecimento fotográfico realizado na fase
inquisitiva, de maneira que, ainda que o reconhecimento haja sido feito em
desacordo com o modelo legal e, assim, não possa ser sopesado, nem mesmo de
forma suplementar, para fundamentar a condenação do réu, aquelas provas,
independentes e suficientes o bastante, produzidas sob o crivo do contraditório e
da ampla defesa, podem lastrear o decreto condenatório. AgRg nos EDcl no HC
656.845-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado
em 04/10/2022, DJe 17/10/2022

É ilícita a prova obtida por meio de reconhecimento fotográfico judicial que não
observou o art. 226 do Código de Processo Penal, sendo devida a absolvição
quando as provas remanescentes são tão somente a confissão extrajudicial,
integralmente retratada em Juízo, e a apreensão de um dos bens subtraídos,
meses após os fatos, efetivada no curso das investigações, o qual estava com um
dos acusados que não foi reconhecido por nenhuma das vítimas. REsp 1.996.268-
GO, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 11/4/2023

CAIU EM PROVA - Delegado - PCAM (2022): Sobre o reconhecimento fotográfico, de acordo com a atual
orientação do STJ, é correto afirmar que o reconhecimento fotográfico realizado na investigação serve
apenas como prova inicial, dependendo de posteriormente haver reconhecimento pessoal (item correto).

Pergunta-se: E se a nulidade do reconhecimento só foi decretada depois de o réu ter sido


condenado? Isso significa que ele deverá ser absolvido? Ex: o réu foi condenado pelo juiz; em apelação, o
TJ decide que o reconhecimento foi nulo porque descumpriu as formalidades. Ele será absolvido?
R:.Depende.
● Se a condenação somente se fundamentou no reconhecimento: SIM. O réu deverá ser
necessariamente absolvido.
● Se a condenação se baseou também em outros elementos de prova independentes e não
contaminados: NÃO. Neste caso, a condenação poderá ser mantida.

Desse modo, se declarada a irregularidade do ato, eventual condenação já proferida poderá ser
mantida, se fundamentada em provas independentes e não contaminadas.

Ainda sobre a temática, cabe destacar a ressalva trazida pelo STJ:


166
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o


procedimento do art. 226 do CPP. 1. Para a jurisprudência desta Corte Superior, o
reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por fotografia, realizado na fase
do inquérito policial, apenas é apto para identificar o réu e fixar a autoria delitiva
quando observadas as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo
Penal (HC n. 598.886/SC, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe
18/12/2020). 2. O art. 226, antes de descrever o procedimento de reconhecimento
de pessoa, diz em seu caput que o rito terá lugar "quando houver necessidade", ou
seja, o reconhecimento de pessoas deve seguir o procedimento previsto quando há
dúvida sobre a identificação do suposto autor. A prova de autoria não é tarifada
pelo Código de Processo Penal. 4. Antes, esta Corte dizia que o procedimento não
era vinculante; agora, evoluiu no sentido de exigir sua observância, o que não
significa que a prova de autoria deverá sempre observar o procedimento do art.
226 do Código de Processo Penal. O reconhecimento de pessoa continua tendo
espaço quando há necessidade, ou seja, dúvida quanto à individualização do
suposto autor do fato. Trata-se do método legalmente previsto para,
oria. Se a vítima é capaz de individualizar
juridicamente, sanar dúvida quanto à aut
o agente, não é necessário instaurar a metodologia legal. 5. A nova orientação
buscou afastar a prática recorrente dos agentes de segurança pública de apresentar
edimento de reconhecimento de
fotografias às vítimas antes da realização do proc
pessoas, induzindo determinada conclusão. 6. A condenação não se amparou,
exclusivamente, no reconhecimento pessoal realizado na fase do inquérito policial,
destacando-se, sobretudo, que uma das vítimas reconheceu o agravante em Juízo,
descrevendo a negociação e a abordagem. A identificação do perfil na rede social
facebook foi apenas uma das circunstâncias do fato, tendo em conta que a
negociação deu-se por essa rede social. 7. Agravo regimental improvido. (AgRg no
AgRg no HC n. 721.963/SP, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma,
julgado em 19/4/2022, DJe de 13/6/2022)

9.6 Busca e Apreensão

● Distinção entre Busca e Apreensão:

A busca é uma diligência cujo objetivo é encontrar pessoas ou coisas. Por outro lado, apreensão é
uma medida de constrição, em que a pessoa ou a coisa será colocada sob a custódia do estado.

167
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

● Objeto: Podem ser objeto tanto pessoas quanto coisas, nos termos do art. 240 do CPP.

Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.


§ 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados
ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.
§ 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém
oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do
parágrafo anterior.

● Espécies de Busca:

9.6.1. Busca Pessoal

● Busca pessoal por razões de segurança: Relacionado ao Poder de Polícia. Cita-se, como exemplo, a
busca pessoal feita antes de entrar em estádios, em parques, em festas. Não há necessidade de
fundada suspeita. A pessoa pode se recusar e, com isso, ser impedida de entrar no local.

● Busca pessoal de natureza processual penal: Prevista no §2º do art. 240 do CPP.

Art. 240, § 2º: Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de
que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f
e letra h do parágrafo anterior.

Perceba que, para haver busca pessoal, é necessária a fundada suspeita. Nesse sentido:
168
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

STF: “(...) A fundada suspeita prevista no art. 244 do CPP não pode fundar-se em
parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a
necessidade da revista, em face do constrangimento que causa. Ausência, no caso,
de elementos dessa natureza, que não se pode ter por configurados na alegação de
que trajava, o paciente, um ‘blusão’ suscetível de esconder uma arma, sob risco de
referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e
caracterizadoras de abuso de poder”. (STF, 1ª Turma, HC 81.305/GO, Rel. Min. Ilmar
Galvão, DJ 22/02/2002 p. 35).

Além disso, a busca pessoal de natureza processual penal não depende de autorização judicial
prévia, nos termos do art. 244 do CPP:

Art. 244: A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando


houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for
determinada no curso de busca domiciliar.

Sobre o tema, dispõe o STF:

Polícia recebeu denúncia anônima contra o suspeito e foi apurar; quando o


suspeito viu a polícia, ficou nervoso e jogou sacola com drogas no chão; tais
circunstâncias justificam a busca pessoal realizada no indivíduo. (...) 2. No caso,
além das informações anônimas recebidas pelos policiais a respeito da traficância
no local onde estava o paciente, os agentes públicos ressaltaram que ele
demonstrou nervosismo e dispensou uma sacola no chão quando avistou a
guarnição. Com efeito, o ato de dispensar uma sacola na rua ao notar a
aproximação da guarnição, somado ao nervosismo demonstrado e à denúncia
anônima pretérita de que o acusado estava praticando o crime de tráfico de drogas
no local, indica a existência de fundada suspeita de que o recipiente contivesse
substâncias entorpecentes e de que o réu estivesse na posse de mais objetos
relacionados ao crime. HC n. 742.815/GO, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, julgado em 23/8/2022, DJe de 31/8/2022.

Em regra, a busca em veículo é equiparada à busca pessoal e não precisa de


mandado judicial para a sua realização. A apreensão de documentos no interior

169
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

de veículo automotor constitui uma espécie de "busca pessoal" e, portanto, não


necessita de autorização judicial quando houver fundada suspeita de que em seu
interior estão escondidos elementos necessários à elucidação dos fatos
investigados. Exceção: será necessária autorização judicial quando o veículo é
destinado à habitação do indivíduo, como no caso de trailers, cabines de caminhão,
barcos, entre outros, quando, então, se inserem no conceito jurídico de domicílio.
STF. 2ª Turma. RHC 117767/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 11/10/2016
(Info 843).

ATENÇÃO: O entendimento do STJ é no sentido de que a realização de busca pessoal só pode ser feita por
forças policiais, não sendo lícita busca por pessoas que não sejam policiais, pois violaria o princípio da
legalidade (art. 5º, II, CF/88), ou seja, deve ser dada uma interpretação restritiva. REsp 2.005.007-TO, Dje
19/09/2022.

Policiais não podem fazer a revista pessoal unicamente pelo fato de acharem que
o suspeito demonstrou nervosismo ao avistá-los. 1. A percepção de nervosismo
do averiguado por parte de agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo
e, por isso, não é suficiente para caracterizar a fundada suspeita para fins de busca
pessoal, medida invasiva que exige mais do que mera desconfiança fundada em
elementos intuitivos. 2. À falta de dados concretos indicativos de fundada suspeita,
deve ser considerada nula a busca pessoal amparada na impressão de nervosismo
do Acusado por parte dos agentes públicos. 3. Recurso especial provido, a fim de
anular as provas obtidas ilicitamente, bem como as provas delas decorrentes e, em
consequência, absolver o Recorrente, nos termos do art. 386, inciso II, do Código
de Processo Penal. (REsp n. 1.961.459/SP, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta
Turma, julgado em 5/4/2022, DJe de 8/4/2022.)

É ilícita a revista pessoal realizada por agente de segurança privada e todas as


provas decorrentes desta. STJ. 5ª Turma. HC 470.937/SP, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 04/06/2019 (Info 651).

Segundo o inciso II do art. 5º da Constituição Federal “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Na hipótese, o agente não tinha a obrigação de se sujeitar à
revista pessoal. Isso porque não existe lei autorizando que esse ato seja feito pelos seguranças privados do
metrô. Vale ressaltar que esses agentes de segurança não podem nem sequer ser equiparados a guardas
municipais, já que são empregados de uma sociedade de economia mista operadora de transporte ferroviário
170
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

– CLT.
no Estado de São Paulo, sendo regidos, portanto, pela Consolidação das Leis do Trabalho

As guardas municipais não possuem competência para patrulhar supostos pontos


de tráfico de drogas, realizar abordagens e revistas em indivíduos suspeitos da
prática de tal crime ou ainda investigar denúncias anônimas relacionadas ao
tráfico e outros delitos cuja prática não atinja de maneira clara, direta e imediata
os bens, serviços e instalações municipais. STJ. 6ª Turma. REsp 1.977.119-SP, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

9.6.2. Busca Domiciliar

Inviolabilidade domiciliar: A CF, em seu art. 5º, XI, prevê que a casa é o asilo inviolável do indivíduo.

Art. 5º, XI: a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem o consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

ATENÇÃO:
O simples fato de o acusado ter antecedente por tráfico de drogas não autoriza a
realização de busca domiciliar, porquanto desacompanhado de outros indícios
concretos e robustos de que, nesse momento específico, ele guarda drogas em
sua residência. Mesmo se ausente coação direta e explícita sobre o acusado, as
circunstâncias de ele já haver sido preso em flagrante pelo porte da arma de fogo
em via pública e estar detido, sozinho - sem a oportunidade de ser assistido por
defesa técnica e sem mínimo esclarecimento sobre seus direitos -, diante de dois
policiais armados, poderiam macular a validade de eventual consentimento para a
realização de busca domiciliar, em virtude da existência de um constrangimento
ambiental/circunstancial (HC 762.932-SP, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, por unanimidade, julgado em 22/11/2022, DJe 30/11/2022).
A confissão do réu, por si só, não autoriza a entrada dos policiais em seu domicílio,
sendo necessário que a permissão conferida de forma livre e voluntária pelo
morador seja registrada pela autoridade policial por escrito ou em áudio e vídeo.
AgRg no AREsp 2.223.319-MS, Rel. Ministro Messod Azulay Neto, Quinta Turma,
por unanimidade, julgado em 9/5/2023, DJe 12/5/2023

a) Conceito de casa:

171
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

O conceito de “casa” pode ser extraído do art. 150 do CP, que prevê o crime de violação de domicílio.

Art. 150: § 4º: A expressão ‘casa’ compreende:


I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade (por exemplo, escritório de advocacia).

§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":


I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta,
salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

ATENÇÃO: Salienta-se que, de acordo com o STJ, a habitação em prédio abandonado de escola municipal
pode caracterizar o conceito de domicílio em que incide a proteção disposta no art. 5º, inciso XI da
Constituição Federal.

A habitação em prédio abandonado de escola municipal pode caracterizar o


conceito de domicílio em que incide a proteção disposta no art. 5º, inciso XI da
Constituição Federal.
Não procede o fundamento de que o fato de o agravante habitar o prédio
abandonado de uma escola municipal descaracterizaria o conceito de domicílio,
para que haja proteção constitucional.
Anota-se, por fim, que o Decreto n. 7.053/2009, que instituiu a Política Nacional
para População em Situação de Rua, reforça a condição de moradia aos habitantes
de logradouros públicos e áreas degradadas.
AgRg no HC 712.529-SE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 25/10/2022, publicado em 04/11/2022 (Info 755).

ATENÇÃO: Salienta
-se que, de acordo com o STF, os estabelecimentos empresariais podem ser considerados
como “casa”, quando não forem abertos ao público.

STF: “(...) Inviolabilidade de domicílio (art. 5º, IX, CF). Busca e apreensão em
estabelecimento empresarial. Estabelecimentos empresariais estão sujeitos à
proteção contra o ingresso não consentido. Não verificação das hipóteses que
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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dispensam o consentimento. Mandado de busca e apreensão perfeitamente


delimitado. Diligência estendida para endereço ulterior sem nova autorização
judicial. Ilicitude do resultado da diligência. Ordem concedida, para determinar a
inutilização das provas”. (STF, 2ª Turma, HC 106.566/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
j. 16/12/2014, DJe 53 18/03/2015).

STJ: A abordagem policial em estabelecimento comercial, ainda que a diligência


tenha ocorrido quando não havia mais clientes, é hipótese de local aberto ao
público, que não recebe a proteção constitucional da inviolabilidade do domicílio.
Consoante decidido no RE 603.616/RO, pelo Supremo Tribunal Federal, "a entrada
forçada em domicílio sem mandado judicial é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que
indiquem que, dentro da casa, ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil, e penal do agente ou da autoridade e de nulidade
dos atos praticados". Todavia, no caso, verifica-se que os policiais afirmaram que
"havia uma investigação em andamento relativa a um roubo de carga, tendo sido
veiculada denúncia anônima dando conta de que parte do carregamento subtraído
estava nas dependências da borracharia pertencente ao réu, diante do que
procederam à diligência local".Desse modo, como se trata de estabelecimento
comercial - em funcionamento e aberto ao público - não pode receber a proteção
que a Constituição Federal confere à casa. Assim, não há violação à garantia
constitucional da inviolabilidade do domicílio, a caracterizar a ocorrência de
constrangimento ilegal (HC 754.789-RS, Rel. Ministro Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 6/12/2022).

ATENÇÃO: Gabinete de Delegado de Polícia e escritório de advocacia são considerados domicílios e se


sujeitam às normas estudadas.

Configura o crime de violação de domicílio (art. 150 do CP) o ingresso e a


permanência, sem autorização, em gabinete de Delegado de Polícia, embora faça
parte de um prédio ou de uma repartição públicos. No caso concreto, dezenas de
manifestantes foram até a Delegacia de Polícia Federal cobrar agilidade na
conclusão de um inquérito policial. Como não foram recebidos, decidiram invadir o
gabinete do Delegado. STJ. 5ª Turma. HC 298.763-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 7/10/2014.
173
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Busca e apreensão em escritório de advocacia. Os §§ 6º e 7º do art. 7º do Estatuto


da OAB preveem que documentos, mídias e objetos pertencentes a clientes do
advogado investigado, bem como demais instrumentos de trabalho que
contenham informações sobre clientes, somente poderão ser utilizados caso estes
clientes estejam sendo formalmente investigados como partícipes ou coautores
pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra de inviolabilidade. STJ. 6ª
Turma. HC 227799-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/4/2012.

ATENÇÃO: NÃO há nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em
apartamento que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a
aparente ausência de residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática
de crime permanente. STJ. 5ª Turma. HC 588445-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
25/08/2020 (Info 678).

CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): Agente de polícia civil não poderá realizar buscas sem
- item considerado correto.
mandado judicial em trailer estacionado onde se domicilia pessoa

IMPORTANTE!
Pergunta-se: Na hipótese de suspeita de flagrância delitiva, qual a exigência, em termos de
standard probatório, para que policiais ingressem no domicílio do suspeito sem mandado judicial?
R.: A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do
suspeito incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que
autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a
operação deve ser registrada em áudio-vídeo e preservada a prova enquanto durar o processo. STJ, 6ª Turma.
HC 598051/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

A partir da jurisprudência mais recente, podem ser extraídas algumas conclusões:


● Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige
-se, em termos de standard probatório para
ingresso no domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa
causa), aferidas de modo objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da
casa ocorre situação de flagrante delito.
● O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza
permanente, nem sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se
encontra a droga. Apenas será permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir
174
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

que do atraso decorrente da obtenção de mandado judicial se possa objetiva e concretamente


inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será destruída ou ocultada.
● O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e
apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer tipo de
constrangimento ou coação.
● A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do
suspeito incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela
pessoa que autorizou o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do
ato. Em todo caso, a operação deve ser registrada em áudio-vídeo e preservada tal prova enquanto
durar o processo.
● A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio alheio
resulta na ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais provas
que dela decorrerem em relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal
do(s) agente(s) público(s) que tenha(m) realizado a diligência.

b) Conceito de dia:

Não há na doutrina consenso acerca do que seria dia em virtude das dimensões continentais do
território brasileiro de modo que o nascer e o pôr do sol ocorrem em horários diversos a depender da região
do país.
Parte da doutrina advoga a utilização de um critério cronológico, por ser mais seguro, considerando
como dia o período compreendido entre às 6h e 18h ou entre às 6h e 20h (pautado no art. 212 do CPC). De
outro lado, há quem defenda a adoção do critério físico-astronômico, considerando como dia o período
compreendido entre a aurora e o crepúsculo (enquanto houver luz solar).
A Lei de Abuso de Autoridade trouxe previsão do prazo de: “III - cumpre mandado de busca e
apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas)”. Positivou, pelo menos
para fins de tipificação de abuso de autoridade, o conceito de “noite” e, a contrário sensu, também o de “dia”
– entre 5h e 21h.
Já existem vozes na doutrina defendendo a inconstitucionalidade do conceito de noite (e de dia)
constante do art. 22, §1º, III, da Lei n. 13.869/19. Se a Constituição Federal autoriza o ingresso em domicílio
alheio exclusivamente durante o dia, é inadmissível que o legislador infraconstitucional venha a afirmar que
um mandado de busca domiciliar possa ser cumprido às 20h59min, quando certamente o sol já terá
desaparecido no horizonte. (AZEVEDO, André Boiani).
Em sentido contrário, defende Renato Brasileiro que:

“(...) de modo a superar controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais, o legislador


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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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optou por positivar o conceito de dia (05h-21h) e o de noite (21h-05h), e não o


condicionou à existência de luminosidade solar. Há de se ter em mente que são
dois os objetivos da proteção constitucional à inviolabilidade do domicílio durante
a noite constante do art. 5º, XI, da Constituição Federal: primeiro, não atrapalhar o
merecido descanso das pessoas; segundo, evitar quaisquer arbitrariedades por
parte dos agentes públicos em um período de maior precariedade de vigilância e
defesa decorrente do recolhimento das pessoas para o repouso durante a noite.
Por mais que se queira argumentar que não há mais luminosidade solar às
20h59min, trata-se de horário em que as pessoas ainda estão acordadas, pelo
menos em regra. Portanto, o fato de o legislador autorizar o cumprimento de um
mandado de busca nesse horário não importa em violação ao núcleo essencial do
dispositivo constitucional. Pelo contrário. Bem ou mal, agiu dentro de uma margem
de razoabilidade e proporcionalidade para definir o conceito de noite e, a contrario
sensu, de dia. A inovação deriva de espaço lídimo de conformação normativa do
tema pelo legislador ordinário. Não se está a interpretar a Constituição à luz da Lei
n. 13.869/19, mas sim o oposto: em um país de dimensões continentais como o
nosso, em que ora se utiliza o denominado horário de verão, ora não, é
perfeitamente possível que o sol já tenha raiado às 5h e que ainda haja certa
luminosidade por volta de 20h, 20h30min, a depender, logicamente, da região do
país e da época do ano em que estivermos. É dizer, à semelhança do art. 2º da Lei
n. 13.869/19 e do art. 150, §4º, do Código Penal, que definiram, respectivamente,
os conceitos de agente público e de casa, para fins de interpretação da Constituição
Federal e aplicação da própria lei penal, por que não se admitir que o legislador
ordinário possa, enfim, definir o conceito de noite (e de dia)? Em conclusão, por
não haver lesão ao núcleo essencial do art. 5º, XI, da Constituição Federal, nem
tampouco violação da finalidade da proteção constitucional, respeitando-se,
ademais, o princípio da proporcionalidade, é tempo de abandonarmos critérios
doutrinários e jurisprudenciais, deixando a sorte ou o azar do agente público
responsável pelo estrito cumprimento do dever legal condicionados à distribuição
de seu futuro habeas corpus a este ou àquele Tribunal, para, enfim, trabalharmos
com um conceito legal, positivo, capaz, portanto, de transmitir maior segurança
jurídica não apenas aos agentes públicos responsáveis pelo cumprimento de
mandados de busca domiciliar, mas também a todos os cidadãos, que, doravante,
saberão antecipadamente o horário em que são obrigados a franquear o acesso ao
seu domicílio diante da exibição de mandado judicial. Destarte, caso a polícia tenha
em mãos mandado de busca domiciliar, expedido pela autoridade judiciária

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

competente, poderá invadir o domicílio entre as 5h (cinco horas) e 21h (vinte e uma
horas), pouco importando se já há, ou ainda perdura, respectivamente, a luz solar,
eis que a lei não fez nenhuma referência ao critério físico-astronômico, hipótese
em que a prova obtida será considerada lícita. Por outro lado, cumprido o mandado
antes das 5h (cinco) horas e depois de 21h (vinte e uma horas), para além da
ilicitude das provas então obtidas, o crime restará caracterizado, mesmo quesol
o
já tenha raiado, naquele caso, ou que ainda perdure a luz do sol, nesta última
hipótese” (in Manual de Processo Penal, edição 2020, páginas 797 e 798)

De todo modo, o importante é que o início do cumprimento do mandado se dê durante o dia, ainda
que eventualmente se prolongue por um período durante a noite.

ATENÇÃO: Não confundir com a BUSCA EXPLORATÓRIA ou a EXPLORAÇÃO DE LOCAL, consubstanciada no


ingresso de agente público em imóvel alheio, ainda que no período noturno, para fins de instalação de
equipamentos destinados à captação de sinais óticos e acústicos, mediante prévia autorização judicial. Há
precedente do STF admitindo o ingresso de autoridade policial, mediante prévia autorização judicial, em
escritório de advocacia no período noturno para instalação de equipamento destinado à captação de sinais
óticos e acústicos, o que seria justificável sob o argumento de que a natu
reza da execução de tais medidas
jamais permitiria que fossem realizadas com publicidade durante o dia, sob pena de absoluta ineficácia: STF,
Pleno, Inq. 2.424/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 26/11/2008, DJe 55 25/03/2010.

Segundo o Professor Leonardo Barreto, a busca exploratória é a permissão conferida, por meio de ordem
judicial, a agentes policiais ou executores para realizarem diligência sem qualquer arrecadação ou apreensão
de elementos informativos considerados pertinentes às investigações. Ela pretende apenas e tão somente
efetuar o registro dos elementos no ambiente ou promover a instalação de equipamentos de captação
ambiental, de forma discreta, para melhor avaliação quanto à deflagração da operação.
O ingresso e a exploração na busca domiciliar exploratória do local deve ser delineado pela ausência de
publicidade e sigilo total, sem incluir o que preconiza o art. 245 do CPP, que disciplina o procedimento de
busca e determina a ciência ao morador ao teor do mandado judicial.
O instituto da busca exploratória, implementada no curso da denominada “Operação Hurricane”, no Inquérito
2.424 (STF), em investigação que visava desarticular organização criminosa envolvendo magistrados (entre
eles um ministro do Superior Tribunal de Justiça), um procurador regional da República e um advogado, na
suposta prática dos crimes de quadrilha, corrupção passiva e prevaricação. Trata-se, portanto, de um meio
(excepcional) de obtenção de prova. Como um meio atípico e oculto de produção de provas consistente na
busca de elementos probatórios em local de acesso restrito e, na hipótese de sua localização, na realização
dos devidos registros sem que os investigados tenham conhecimento da ação realizada. Na hipótese

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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submetida ao crivo do Excelso Pretório houve, ainda, a instalação de equipamento de captação ambiental.
Com relação à realização da busca exploratória em período noturno, pode ser excepcionada, como o fez o
Supremo Tribunal Federal no referido julgamento, a regra do art. 5º, XI, da Constituição da República,
permitindo-se sua realização com fulcro na aplicação do princípio da proporcionalidade, “pois a situação não
se encontrava acobertada pela inviolabilidade constitucional”, considerando-se, ainda, a manifesta
impossibilidade de realização da diligência durante o período diurno, quando o escritório desenvolve
regularmente suas atividades. Vale lembrar que foi autorizado o ingresso sigiloso da autoridade policial,
durante a noite, a fim que procedesse ao registro e análise de sinais obtidos no escritório do investigado,
mediante duas modalidades de diligências: primeiro, a busca exploratória, em que se diligenciou a fim de
identificar elementos de prova no local, efetuando-se os devidos registros; segundo, para instalação de
equipamentos de captação de sinais acústicos.
A partir desse julgado, desde 2010, tem-se uma inovação jurisprudencial no instituto da busca domiciliar: o
agente policial ingressa no local e não efetua arrecadação ou apreensão de elementos considerados
pertinentes, mas apenas efetua o registro deles por fotografias, filmagens ou mesmo scanners portáteis. Em
razão de lógica investigativa, o ingresso e a exploração têm por diretriz a ausência de publicidade e sigilo, sem
a aplicação do artigo 245 do Código de Processo Penal.

O mandado de busca e apreensão só pode ser executado durante o dia. Por outro lado, em havendo
flagrante delito, desastre ou necessidade de prestar socorro, será possível afastar a garantia da
inviolabilidade domiciliar.
Veja um dos exemplos fixados em repercussão geral pelo STF:

A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em


período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas
a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito,
sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade,
e de nulidade dos atos praticados. (Info 806).

O ingresso regular de domicílio alheio depende, para sua validade e regularidade,


da existência de fundadas razões (justa causa) que sinalizem para a possibilidade
de mitigação do direito fundamental em questão. É dizer, somente quando o
contexto fático anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de
crime no interior da residência é que se mostra possível sacrificar o direito à
inviolabilidade do domicílio. Na hipótese sob exame, o acusado estava em local
supostamente conhecido como ponto de venda de drogas, quando, ao avistar a
guarnição de policiais, refugiou-se dentro de sua casa, sendo certo que, após revista

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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em seu domicílio, foram encontradas substâncias entorpecentes (18 pedras de


crack). Havia, consoante se demonstrou, suspeitas vagas sobre eventual tráfico de
drogas perpetrado pelo réu, em razão, única e exclusivamente, do local em que ele
estava no momento em que policiais militares realizavam patrulhamento de rotina
e em virtude de seu comportamento de correr para sua residência, conduta que
pode explicar-se por diversos motivos, não necessariamente o de que o suspeito
cometia, no momento, ação caracterizadora de mercancia ilícita de drogas. 12. A
mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo recorrido, embora
pudesse autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não
configura, por si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o
consentimento do morador – que deve ser mínima e seguramente comprovado –
e sem determinação judicial. (REsp 1.574.681)

Obs.: Destaca-se que o STF entendeu que, excepcionalmente, no caso de Interceptação ambiental,
seria possível o ingresso no período noturno, justamente para garantir a efetividade da medida.

c) Reserva de jurisdição:

Certos direitos e garantias só podem sofrer restrição com base em ordem de autoridade judiciária
competente. É o que acontece com a violação do domicílio, sujeita à cláusula de reserva de jurisdição, de
modo que apenas o juiz pode determinar.

ATENÇÃO!

(1) NÃO podem ser admitidos mandados de busca GENÉRICOS ou COLETIVOS.

Para o STJ, a ausência de individualização das medidas de busca e apreensão contraria diversos
dispositivos legais, como os arts. 240, 242, 244, 245, 248 e 249 do CPP, bem como o art. 5º, XI, da CF/88, que
traz como direito fundamental a inviolabilidade do domicílio. É indispensável que o mandado de busca e
apreensão tenha objetivo certo e pessoa determinada, não se admitindo ordem judicial genérica.

É ilegal a decisão judicial que autoriza busca e apreensão coletiva em residências,


feita de forma genérica e indiscriminada. O STJ concedeu habeas corpus) para
anular decisão que autorizou busca e apreensão em domicílios nas comunidades
de Jacarezinho e no Conjunto Habitacional Morar Carioca, no Rio de Janeiro (RJ),
sem identificar o nome de investigados e os endereços a serem objeto da

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NÚCLEO DURO

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abordagem policial. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro impetrou o habeas


corpus coletivo em benefício dos moradores dessas comunidades pobres,
argumentando que, além de ofender a garantia constitucional que protege o
domicílio, o ato representou a legitimação de uma série de violações gravíssimas,
sistemáticas e generalizadas de direitos humanos. A medida foi tomada, em agosto
de 2017, após a morte de um policial em operação das forças de segurança nas
favelas de Jacarezinho, Manguinhos, Mandela, Bandeira 2 e Morar Carioca, o que
levou à concessão da ordem judicial de busca e apreensão domiciliar generalizada
na região. A ordem era para que a polícia tentasse encontrar armas, documentos,
celulares e outras provas contra facções criminosas. Na decisão que autorizou a
revista indiscriminada de residências nas áreas indicadas pela polícia, a juíza
responsável fez menção à forma desorganizada como as comunidades pobres
ganham novas casas constantemente, sem registro ou numeração que as
individualize. Segundo ela, a revista coletiva seria necessária para a própria
segurança dos moradores da região e dos policiais que ali atuam.. STJ. 6ª Turma.
AgRg no HC 435.934/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/11/2019.

(2) NÃO existe exigência legal de que o mandado de busca e apreensão detalhe o tipo de documento a ser
apreendido, ainda que de natureza sigilosa.

Situação hipotética: João, médico, estava sendo investigado por, supostamente, ter adulterado
prontuários de pacientes internados em clínica psiquiátrica, com o objetivo de camuflar ilicitudes que
ocorriam no local. A autoridade policial formulou representação ao juiz pedindo a busca e apreensão na
clínica psiquiátrica e na residência do investigado. O magistrado deferiu a medida e a polícia apreendeu
diversos prontuários médicos que haviam sido assinados pelo investigado.
João impetrou habeas corpus alegando que a apreensão foi ilícita, considerando que na decisão que
autorizou a medida não existia autorização específica para a apreensão de prontuários médicos. Segundo a
defesa, os prontuários são documentos sigilosos e, portanto, só poderiam ter sido recolhidos com
autorização judicial específica.

Embora os prontuários possam conter dados sigilosos, forampreendidos


a a partir
da imprescindível autorização judicial prévia. O fato de o mandado de busca não
ter feito uma discriminação específica é irrelevante, até porque os prontuários
médicos encontram-se inseridos na categoria de documentos em geral.
STJ. 6ª Turma. RHC 141737/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em
27/04/2021 (Info 694).

180
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

CPP, art. 243: O mandado de busca deverá:


I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e
o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o
nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;

O art. 243 do CPP disciplina os requisitos do mandado de busca e apreensão,


dentre os quais não se encontra o detalhamento do que pode ou não ser
arrecadado. STJ. 5ª Turma. HC 524.581/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 13/2/2020.

Suficiente à delimitação da busca e apreensão é a determinação de que deveriam


ser apreendidos os materiais que pudessem guardar relação estrita com aqueles
fatos. STJ. 6ª Turma. HC 537.017/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe 3/2/2020.

Havendo controvérsia entre as declarações dos policiais e do flagranteado, e


inexistindo a comprovação de que a autorização do morador foi livre e sem vício
de consentimento, impõe-se o reconhecimento da ilegalidade da busca
domiciliar. O ingresso regular em domicílio alheio depende, para sua validade e
regularidade, da existência de fundadas razões que sinalizem a possibilidade de
mitigação do direito fundamental em questão. É dizer, somente quando o contexto
fático anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no
interior da residência é que se mostra possível sacrificar o direito à inviolabilidade
do domicílio. Deve-se frisar, ainda, que "a mera denúncia anônima,
desacompanhada de outros elementos preliminares indicativos de crime, não
legitima o ingresso de policiais no domicílio indicado, estando, ausente, assim,
nessas situações, justa causa para a medida." (HC 512.418/RJ, Relator Ministro Nefi
Cordeiro, Sexta Turma, DJe 3/12/2019) Com efeito, "não se admite que a
autoridade policial, apenas com base em delação anônima, sem a produção de
elementos capazes de evidenciar fundadas suspeitas da prática delitiva, viole o
direito constitucional à inviolabilidade do domicílio, conduzindo à ilicitude da
prova colhida, bem como dela derivadas, nos termos do art. 157 do Código de
Processo Penal (RHC 105.138/MS, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe
10/4/2019)" (AgRg no HC 698.199/RS, Relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta
Turma, DJe de 20/6/2022). Ademais, "havendo controvérsia entre as declarações
dos policiais e do flagranteado e inexistindo a comprovação de
que a autorização do morador foi livre e sem vício de consentimento, impõe-se o

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

reconhecimento da ilegalidade da busca domiciliar e consequentemente de toda a


prova dela decorrente (fruits of the poisonous tree)" (AgRg no HC 703.991/RS,
Relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe de 16/5/2022). AgRg no HC
766.654-SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 13/09/2022, DJe 19/09/2022.(Fonte: Dizer o Direito)

d) Autorização expressa para busca e apreensão:

Além da ordem judicial, a autorização expressa do morador para a busca e apreensão constitui a
outra exceção à garantia da inviolabilidade domiciliar.
Para ser válido, o consentimento tem que ser dado pela pessoa que tem o poder de disposição da
intimidade e da vida privada. Entretanto, em havendo divergência entre os moradores presentes,
prevalecerá sempre o dissenso, pois não se pode dispor da intimidade.
Quanto ao tema, o STJ entendeu ser válida a autorização expressa para busca e apreensão em sede
de empresa investigada dada por pessoa que age como sua representante.
Imagine a seguinte situação hipotética: Foi instaurado inquérito policial para apurar crimes contra a
administração pública que teriam sido praticados pelos sócios de uma sociedade empresária. Após
representação da autoridade policial, o juiz deferiu medida cautelar de busca e apreensão a ser cumprida na
sede da empresa. No mandado de busca e apreensão, constou o seguinte endereço: Rua Um, nº 418, Bairro
Nova Paulista. Os policiais se dirigiram até o local e fizeram o cumprimento do mandado. Ocorre que foram
informados de que naquele imóvel funciona apenas a filial da empresa e que os documentos contábeis
(objeto do mandado) ficavam em outra unidade, situada no Centro, esta sim a sede da empresa. O Delegado
de Polícia foi até a Delegacia para preparar nova representação dirigida ao juiz para estender a autorização
judicial de busca e apreensão para esse outro local. Enquanto isso, uma equipe da Polícia resolveu se dirigir
até a sede da empresa, no Centro, a fim de já localizar o imóvel e se preparar para a chegada da ordem
judicial. Chegando até a sede da empresa no Centro, os policiais foram recebidos por Talita, que se
apresentou como pessoa responsável pela empresa. Talita concedeu autorização por escrito, assinada por
ela e mais duas testemunhas, permitindo a entrada dos policiais e a realização da busca e apreensão no
interior do imóvel.
A medida foi cumprida, tendo sido apreendidos diversos documentos da empresa. Posteriormente,
alegou-se a nulidade da prova considerando que a mulher que concedeu a autorização não seria mais sócia
da empresa, sendo mera funcionária, sem poderes para permitir a entrada dos policiais no imóvel.
Nesse caso, a autorização foi válida? SIM. A mulher que concedeu a autorização, embora tenha
deixado de ser formalmente sócia, continuou assinando documentos como representante da empresa. A
evidência de que ela ainda agia como representante da empresa é reforçada pelo fato de que tinha a chave

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

do escritório sede da empresa e livre acesso a ele, não tendo sido barrada por nenhum dos empregados que
estavam no local, nem mesmo pelo advogado da empresa que acompanhou toda a diligência.

É válida a autorização expressa para busca e apreensão em sede de empresa


investigada dada por pessoa que age como sua representante. STJ. 5ª Turma. RMS
57.740-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/03/2021 (Info
690).

(Fonte: Dizer o Direito)

e) Fishing Expedition (Pescaria Probatória)

● Conceito: Fishing expedition consiste em “uma investigação especulativa indiscriminada, sem objetivo
certo ou declarado, que ‘lança’ suas redes com a esperança de ‘pescar’ qualquer prova, para subsidiar
uma futura acusação. Ou seja, é uma investigação prévia, realizada de maneira muito ampla e genérica
para buscar evidências sobre a prática de futuros crimes. Como consequência, não pode ser aceita no
ordenamento jurídico brasileiro, sob pena de malferimento das balizas de um processo penal
democrático de índole Constitucional.” (MELO SILVA,
E Philipe Benoni. Fishing Expedition: a pesca
predatória por provas por parte dos órgãos de investigação).

Nas palavras do Min. Gilmar Mendes, a prática da fishing expedition consiste em “investigações genéricas
para buscar elementos incriminatórios aleatoriamente, sem qualquer embasamento prévio” (HC 163461).

● (In)admissibilidade do fenômeno do Fishing Expedition

Os indícios de autoria antecedem as medidas invasivas, não se admitindo em um


Estado Democrático de Direito que primeiro sejam violadas as garantias
constitucionais para só então, em um segundo momento, e eventualmente, se
justificar a medida anterior, sob pena de se legitimar verdadeira fishing expedition.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 62.562-MT, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador
Convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em
07/12/2021.

Além de violar prerrogativas da advocacia, a deflagração de amplas, inespecíficas


e desarrazoadas medidas de busca e apreensão em desfavor de advogados pode
evidenciar a prática de “fishing expedition”. STF. 2ª Turma. Rcl 43479/RJ, Rel. Min.
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Gilmar Mendes, julgado em 10/8/2021 (Info 1025).

Jurisprudências importantes sobre busca e apreensão:

O MP pode escolher quais elementos obtidos na busca e apreensão serão


utilizados pela acusação; no entanto, o material restante deve permanecer à livre
consulta do acusado, para o exercício de suas faculdades defensivas. Realizada a
busca e apreensão, apesar de o relatório sobre o resultado da diligência ficar
adstrito aos elementos relacionados com os fatos sob apuração, deve ser
assegurado à defesa acesso à integra dos dados obtidos no cumprimento do
mandado judicial. STJ. 6ª Turma. RHC 114683/RJ, Rel. Rogério Schietti Cruz, julgado
em 13/04/2021 (Info 692).

A determinação de busca e apreensão nas dependências da Câmara dos


Deputados ou do Senado Federal pode ser decretada por juízo de 1ª instância se
o investigado não for congressista. A determinação de busca e apreensão nas
dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal pode ser decretada
por juízo de 1ª instância se o investigado não for congressista A Constituição, ao
disciplinar as imunidades e prerrogativas dos parlamentares, não conferiu
exclusividade ao STF para determinar medidas de busca e apreensão nas
dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. Assim, a
determinação de busca e apreensão nas dependências do Congresso Nacional,
desde que não direcionada a apurar conduta de congressista, não se relaciona com
as imunidades e prerrogativas parlamentares. Isso porque, ao contrário do que
ocorre com as imunidades diplomáticas, as prerrogativas e imunidades
parlamentares não se estendem aos locais onde os parlamentares exercem suas
atividades nem ao corpo auxiliar. O fato de o endereço de cumprimento da medida
coincidir com as dependências do Congresso Nacional não atrai, de modo
automático e necessário, a competência do STF. É necessário examinar, no caso
concreto, se a investigação tinha congressista como alvo. O STF não detém
competência exclusiva para apreciação de pedido de busca e apreensão a ser
cumprida no Congresso Nacional. STF. Plenário. Rcl 25537/DF e AC 4297/DF, Rel.
Min. Edson Fachin, julgados em 26/6/2019 (Info 945).

Busca e apreensão ordenada contra o marido da Senadora, mas cujo


cumprimento ocorreu no imóvel funcional onde ambos residem: deve-se

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

observar as regras de foro privativo. Paulo Bernardo era investigado e o juiz de 1º


grau determinou, contra ele, busca e apreensão. Ocorre que Paulo Bernardo residia
com a sua esposa, a Senadora Gleisi Hoffmann, em um imóvel funcional cedido pelo
Senado. Desse modo, a busca e apreensão foi realizada neste imóvel funcional. O
STF entendeu que esta prova foi ilícita (art. 5º, LVI, da CF/88) e determinou a sua
inutilização e o desentranhamento dos autos de todas as provas obtidas por meio
da referida diligência. O Supremo entendeu que a ordem judicial de busca e
apreensão foi ampla e vaga, sem prévia individualização dos bens que seriam de
titularidade da Senadora e daqueles que pertenciam ao seu marido. Diante disso,
o STF entendeu que o juiz, ao dar essa ordem genérica, acabou por também
determinar medida de investigação contra a própria Senadora. Logo, como ela
tinha foro por prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, da CF/88), somente o
Supremo poderia ter ordenado qualquer medida de investigação contra a
parlamentar federal. Isso significa que o juiz de 1ª instância usurpou uma
competência que era do STF. Reconheceu, por conseguinte, a ilicitude da prova
obtida (art. 5º, LVI, da CF/88) e de outras diretamente dela derivadas. STF. 2ª
Turma. Rcl 24473/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/6/2018 (Info 908).

Policiais militares podem cumprir mandado de busca e apreensão? Embora não


seja atividade típica da Polícia Militar, não consiste em ilegalidade - muito menos
nulidade - eventual cumprimento de mandado de busca e apreensão pela
instituição. Compete à Polícia Federal e à Polícia Civil, com exclusividade,
unicamente o exercício das funções de polícia judiciária (art. 144 da CF/88). Tal
exclusividade não se estende à atividade de polícia investigativa. STF. 2ª Turma. RE
404593, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 18/08/2009. STJ. RHC 66.450/MG, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/09/2016.

A busca e apreensão de bens em interior de veículo é legal e inerente ao dever de


fiscalização regular da Polícia Rodoviária Federal, em se tratando do flagrante de
transporte de vultosa quantia em dinheiro e não tendo o investigado logrado
justificar o motivo de tal conduta.
STJ. 6ª Turma. RHC 142.250-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/09/2021 (Info 711).

A indução do morador a erro na autorização do ingresso em domicílio macula a


validade da manifestação de vontade e, por consequência, contamina toda a

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

busca e apreensão. (HC 674.139/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 15/02/2022, DJe 24/02/2022).

CAIU EM PROVA:

(Delegado do Estado do Rio de Janeiro 2022): De acordo com o entendimento dos tribunais superiores, é
lícita a prova obtida:
a) em revista pessoal feita por agentes de segurança privada que trabalham em estação de metrô.
b) por busca e apreensão de documento no interior de veículo automotor utilizado para passeio, sem prévia
autorização judicial.
c) pela polícia, por meio da extração de conversas do celular apreendido do preso no momento do flagrante,
sendo desnecessária prévia autorização judicial.
d) por meio de revista íntima realizada em visitante de estabelecimento prisional, ainda que motivada por
denúncia anônima.
e) por meio de abertura de cartas, correspondências ou qualquer encomenda postada nos Correios.
Gabarito: letra b.

Sobre o tema de Provas, é importante a leitura ainda de outras decisões:

Não é possível aplicar multa contra o WhatsApp pelo fato de a empresa não
conseguir interceptar as mensagens trocadas pelo aplicativo e que são protegidas
por criptografia de ponta a ponta. Caso concreto: o juiz expediu ordem para que o
WhatsApp interceptasse as mensagens trocadas por determinados investigados,
suspeitos de integrarem uma organização criminosa que estariam ainda praticando
crimes. O WhatsApp respondeu que não consegue cumprir a determinação judicial
por impedimentos de ordem técnica. Isso porque as mensagens trocadas via
aplicativo são criptografadas de ponta a ponta. O magistrado não concordou com
o argumento e aplicou multa contra a empresa. Segundo a opinião dos
especialistas, realmente não é possível a interceptação de mensagens
criptografadas do WhatsApp devido à adoção de criptografia forte pelo aplicativo.
Ao utilizar a criptografia de ponta a ponta, a empresa está criando um mecanismo
de proteção à liberdade de expressão e de comunicação privada, garantia
reconhecida expressamente na Constituição Federal (art. 5º, IX). A criptografia é,
portanto, um meio de se assegurar a proteção de direitos que, em uma sociedade
democrática, são essenciais para a vida pública. A criptografia protege os direitos
dos usuários da internet, garantindo a privacidade de suas comunicações. Logo, é
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

do interesse do Estado brasileiro encorajar as empresas e as pessoas a utilizarem a


criptografia e manter o ambiente digital com a maior segurança possível para os
usuários. Existe, contudo, uma ponderação a ser feita: em alguns casos a
criptografia é utilizada para acobertar a prática de crimes, como, por exemplo, os
casos de pornografia infantil e de condutas antidemocráticas, como manifestações
xenófobas, racistas e intolerantes, que ameaçam o Estado de Direito.

A partir daí, indaga-se: o risco à segurança pública representado pelo uso da


criptografia justifica restringir ou proibir a sua adoção pelas empresas? O tema está
sendo apreciado pelo STF na ADPF 403 e na ADI 5527, que foi iniciado com os votos
dos Ministros Edson Fachin e Rosa Weber, tendo sido suspenso em razão de pedido
de vista. Apesar de o julgamento dessas ações constitucionais ainda não ter sido
concluído, a 3ª Seção do STJ, em harmonia com os votos já proferidos pelos
Ministros do STF, chegou à conclusão de que: O ordenamento jurídico brasileiro
não autoriza, em detrimento da proteção gerada pela criptografia de ponta a
ponta, em benefício da liberdade de expressão e do direito à intimidade, sejam
os desenvolvedores da tecnologia multados por descumprirem ordem judicial
incompatível com encriptação. Os benefícios advindos da criptografia de ponta a
ponta se sobrepõem às eventuais perdas pela impossibilidade de se coletar os
dados das conversas dos usuários da tecnologia. Diante disso, o recurso foi provido
para afastar a multa aplicada pelo magistrado ante a impossibilidade fática, no
caso concreto, de cumprimento da ordem judicial, haja vista o emprego da
criptografia de ponta-a-ponta. STJ. 3ª Seção. RMS 60531-RO, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/12/2020 (Info 684).

Para o acesso a dados telemáticos não é necessário a delimitação temporal para


fins de investigações criminais. Não é necessário especificar a limitação temporal
para os acessos requeridos pelo Ministério Público, por se tratar de dados estáticos,
constantes nas plataformas de dados. Apesar de o art. 22, III, da Lei nº 12.965/2014
(Marco Civil da Internet) determinar que a requisição judicial de registro deve
conter o período ao qual se referem, tal quesito só é necessário para o fluxo de
comunicações, sendo inaplicável nos casos de dados já armazenados que devem
ser obtidos para fins de investigações criminais. STJ. 6ª Turma. HC 587732-RJ, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

Explicação Dizer o Direito:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Não é necessário especificar a limitação temporal para os acessos requeridos pelo


Ministério Público, por se tratar de dados estáticos, constantes nas plataformas
de dados.
Apesar de o art. 22, III, da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) determinar
que a requisição judicial de registro deve conter o período ao qual se referem, tal
quesito só é necessário para o fluxo de comunicações, sendo inaplicável nos casos
de dados já armazenados que devem ser obtidos para fins de investigações
criminais.
No caso, não se trata de guarda e disponibilização dos registros de conexão e de
acesso a aplicações de internet, e, acaso fosse, a autoridade policial ou o
Ministério Público poderia requerer cautelarmente que o provedor de aplicações
de internet, por ordem judicial, guardasse os registros de acesso à aplicação de
internet, para finalidades de investigação criminal.

É lícito o compartilhamento promovido pela Receita Federal dos dados bancários


por ela obtidos a partir de permissivo legal, com a Polícia e com o Ministério
Público, ao término do procedimento administrativo fiscal, quando verificada a
STF. 1ª Turma. RE 1043002 AgR, Rel. Min.
prática, em tese, de infração penal.
Roberto Barroso, julgado em 01/12/2017. STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info 822). STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1601127-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Felix Fischer, julgado em
-SP, Rel. Min. Sebastião Reis
20/09/2018 (Info 634). STJ. 6ª Turma. HC 422473
Júnior, julgado em 20/03/2018 (Info 623).

É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo Ministério


Público. STJ. 3ª Seção. RHC 83.233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
09/02/2022 (Info 724).

Obs.: Uma coisa é órgão de fiscalização financeira, dentro de suas atribuições,


identificar indícios de crime e comunicar suas suspeitas aos órgãos de investigação
para que, dentro da legalidade e de suas atribuições, investiguem a procedência de
tais suspeitas. Outra, é o órgão de investigação, a polícia ou o Ministério Público,
sem qualquer tipo de controle, alegando a possibilidade de ocorrência de algum
crime, solicitar ao COAF ou à Receita Federal informações financeiras sigilosas
detalhadas sobre determinada pessoa, física ou jurídica, sem a prévia autorização
judicial.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

É lícito o compartilhamento de dados bancários feito por órgão de investigação


do país estrangeiro para a polícia brasileira, mesmo que, no Estado de origem,
essas informações não tenham sido obtidas com autorização judicial, já que isso
não é exigido naquele país Respeitadas as garantias processuais do investigado,
não há prejuízo na cooperação direta entre as agências investigativas, sem a
participação das autoridades centrais. A ilicitude da prova ou do meio de sua
obtenção somente poderia ser pronunciada se o réu demonstrasse alguma violação
de suas garantias ou das específicas regras de produção probatória. STJ. 5ª Turma.
AREsp 701.833/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

A perícia realizada por perito papiloscopista não pode ser considerada prova
ilícita nem deve ser excluída do processo. O exame de corpo de delito deve ser
realizado por perito oficial (art. 159 do CPP). Do ponto de vista estritamente formal,
o perito papiloscopista não se encontra previsto no art. 5º da Lei nº 12.030/2009,
que lista os peritos oficiais de natureza criminal. Apesar disso, a perícia realizada
por perito papiloscopista não pode ser considerada prova ilícita nem deve ser
excluída do processo. Os peritos papiloscopistas são integrantes de órgão público
oficial do Estado com diversas atribuições legais, sendo considerados órgão auxiliar
da Justiça. Não deve ser mantida decisão que determinava que, quando o réu fosse
levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria esclarecer aos jurados que os
papiloscopistas – que realizaram o laudo pericial – não são peritos oficiais. Esse
esclarecimento retiraria a neutralidade do conselho de sentença. Isso porque, para
o jurado leigo, a afirmação, pelo juiz, no sentido de que o laudo não é oficial
equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe às partes, respeitado
o contraditório e a ampla defesa, durante o julgamento pelo tribunal do júri,
defender a validade do documento ou impugná-lo. STF. 1ª Turma. HC 174400
AgR/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 24/9/2019 (Info 953).

Não há violação da SV 14 se os elementos de prova estão disponíveis nos autos


para as partes. Não há violação da súmula vinculante 14 no caso em que, ao
contrário do que alega a defesa, os áudios interceptados foram juntados ao
inquérito policial e sempre estiveram disponíveis para as partes, inclusive na forma
digitalizada depois de deflagrada a investigação. Súmula vinculante 14-STF: É
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos

189
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por


órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito
de defesa. Caso concreto: defesa ingressou com reclamação no STF alegando que
o magistrado não permitiu que ela tivesse acesso ao procedimento de
interceptação telefônica que serviu de base ao oferecimento da denúncia. Ficou
provado, no entanto, que o procedimento estava disponível para a defesa, de
forma que não houve violação à SV 14. STF. 1ª Turma. Rcl 27919 AgR/GO, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 27/8/2019 (Info 949).

É cabível o acesso aos elementos de prova já documentados nos autos de


inquérito policial aos familiares das vítimas, por meio de seus advogados ou
defensores públicos, em observância aos limites estabelecidos pela Súmula
Vinculante n. 14. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Rogerio Schietti
Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 18/4/2023, DJe 3/5/2023

Não se admite condenação baseada exclusivamente em declarações informais


prestadas a policiais no momento da prisão em flagrante. A CF/88 determina que
as autoridades estatais informem os presosque eles possuem o direito de
permanecer em silêncio (art. 5º, LXIII). Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve
ser feito não apenas pelo Delegado, durante o interrogatório formal, mas também
pelos policiais responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque a todos os
órgãos estatais impõe-se o dever de zelar pelos direitos fundamentais. A falta da
advertência quanto ao direito ao silêncio torna ilícita a prova obtida a partir dessa
confissão. STF. 2ª Turma. RHC 170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 4/5/2021 (Info 1016).

O requerimento de simples guarda dos registros de acesso a aplicações de


internet ou registros de conexão por prazo superior ao legal, feito por autoridade
policial, administrativa ou Ministério Público, prescinde de prévia autorização
judicial. STJ. 6ª Turma. HC 626.983-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF da 1ª Região), julgado em 08/02/2022 (Info 724).

O MP pode requerer diretamente que a Apple, Google etc guardem os registros de


acesso a aplicações de internet ou registros de conexão de pessoas investigadas
enquanto se aguarda pedido de quebra de sigilo de dados.

190
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Viola o princípio constitucional da ampla defesa o indeferimento de prova nova


sem a demonstração de seu caráter manifestamente protelatório ou meramente
tumultuário, mormente quando esta teve como causa situação processual
superveniente. STJ. 6ª Turma. HC 545.097-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 28/09/2021 (Info 711).

JURISPRUDÊNCIA EM TESES DO STJ


EDIÇÃO N. 105: PROVAS NO PROCESSO PENAL - I

1) As provas inicialmente produzidas na esfera inquisitorial e reexaminadas na


instrução criminal, com observância do contraditório e da ampla defesa, não violam
o art. 155 do Código de Processo Penal - CPP visto que eventuais irregularidades
ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação penal dele decorrente.

2) Perícias e documentos produzidos na fase inquisitorial são revestidos de eficácia


probatória sem a necessidade de serem repetidos no curso da ação penal por se
sujeitarem ao contraditório diferido.

3) A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366
do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o
mero decurso do tempo. (Súmula n. 455/STJ)
Tese mitigada: “2. A Terceira Seção desta Corte, flexibilizando o disposto no verbete
sumular n. 455 do STJ, tem entendido que a fundamentação da decisão que
determina a produção antecipada de provas pode limitar-se a destacar a
probabilidade de que, não havendo outros meios de prova disponíveis, as
testemunhas, pela natureza de sua atuação profissional, marcada pelo contato
diário com os fatos criminosos que apresentam semelhanças em sua dinâmica,
devem ser ouvidas com a possível urgência (...) 3. No caso concreto, a única
testemunha de acusação ouvida (um Agente Fiscal de Rendas) exerce profissão que
lida cotidianamente com uma série de fatos tributários semelhantes que, com o
decurso do tempo, podem se nublar ou esvanecer em sua memória, o que justifica
a sua oitiva com urgência. (...) (STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 101.881/SP, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/05/2020).

191
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

4) A propositura da ação penal exige tão somente a presença de indícios mínimos


de materialidade e de autoria, de modo que a certeza deverá ser comprovada
durante a instrução probatória, prevalecendo o princípio do in dubio pro
societate na fase de oferecimento da denúncia.

5) A incidência da qualificadora rompimento de obstáculo, prevista no art. 155, §


4º, I, do Código Penal, está condicionada à comprovação por laudo pericial, salvo
em caso de desaparecimento dos vestígios, quando a prova testemunhal, a
confissão do acusado ou o exame indireto poderão lhe suprir a falta.

6) É válido e revestido de eficácia probatória o testemunho prestado por policiais


envolvidos em ação investigativa ou responsáveis por prisão em flagrante, quando
estiver em harmonia com as demais provas dos autos e for colhido sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa.

7) O reconhecimento fotográfico do réu, quando ratificado em juízo, sob a garantia


do contraditório e ampla defesa, pode servir como meio idôneo de prova para
fundamentar a condenação.
Atenção com a jurisprudência atual!! O reconhecimento fotográfico serve como
prova apenas inicial e deve ser ratificado por reconhecimento presencial, assim
que possível. E, no caso de uma ou ambas as formas de reconhecimento terem
sido efetuadas, em sede inquisitorial, sem a observância (parcial ou total) dos
preceitos do art. 226 do CPP e sem justificativa idônea para o descumprimento
do rito processual, ainda que confirmado em juízo, o reconhecimento falho se
revelará incapaz de permitir a condenação, como regra objetiva e de critério de
prova, sem corroboração do restante do conjunto probatório, produzido na fase
judicial. STJ. 5ª Turma. HC 652284/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 27/04/2021.

8) A folha de antecedentes criminais é documento hábil e suficiente a comprovar


os maus antecedentes e a reincidência, não sendo necessária a apresentação de
certidão cartorária.

9) Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por


documento hábil. (Súmula n. 74/STJ)

192
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

10) O registro audiovisual de depoimentos colhidos no âmbito do processo penal


dispensa sua degravação ou transcrição, em prol dos princípios da razoável duração
do processo e da celeridade processual, salvo comprovada demonstração de
necessidade.

EDIÇÃO N. 111: PROVAS NO PROCESSO PENAL - II

1) É possível o arrolamento de testemunhas pelo assistente de acusação (art. 271


do Código de Processo Penal), desde que respeitado o limite de 5 (cinco) pessoas,
previsto no art. 422 do CPP.

2) O réu não tem direito subjetivo de acompanhar, por sistema de


videoconferência, audiência de inquirição de testemunhas realizada,
presencialmente, perante o Juízo natural da causa, por ausência de previsão legal,
regulamentar e principiológica.

3) Em delitos sexuais, comumente praticados às ocultas, a palavra da vítima possui


especial relevância, desde que esteja em consonância com as demais provas
acostadas aos autos.

4) Nos delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, geralmente praticados


à clandestinidade, sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima possui
especial relevância, notadamente quando corroborada por outros elementos
probatórios acostados aos autos.

5) É possível a antecipação da colheita da prova testemunhal, com base no art. 366


do CPP, nas hipóteses em que as testemunhas são policiais, tendo em vista a
relevante probabilidade de esvaziamento da prova pela natureza da atuação
profissional, marcada pelo contato diário com fatos criminosos.

6) Não há cerceamento de defesa quando a decisão que indefere oitiva de


testemunhas residentes em outro país for devidamente fundamentada.

7) É ilícita a prova colhida mediante acesso aos dados armazenados no aparelho


celular, relativos a mensagens de texto, SMS, conversas por meio de aplicativos
(WhatsApp), e obtida diretamente pela polícia, sem prévia autorização judicial.

193
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

8) É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas


interceptações telefônicas, salvo quando houver dúvida plausível que justifique a
medida.

9) É necessária a realização do exame de corpo de delito para comprovação da


materialidade do crime quando a conduta deixar vestígios, entretanto, o laudo
pericial será substituído por outros elementos de prova na hipótese em que as
evidências tenham desaparecido ou que o lugar se tenha tornado impróprio ou,
ainda, quando as circunstâncias do crime não permitirem a análise técnica.

10) O laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a configuração do crime


de tráfico ilícito de entorpecentes, sob pena de se ter por incerta a materialidade
do delito e, por conseguinte, ensejar a absolvição do acusado.

11) É possível, em situações excepcionais, a comprovação da materialidade do


crime de tráfico de drogas pelo laudo de constatação provisório, desde que esteja
dotado de certeza idêntica à do laudo definitivo e que tenha sido elaborado por
perito oficial, em procedimento e com conclusões equivalentes.

12) É prescindível a apreensão e a perícia de arma de fogo para a caracterização de


causa de aumento de pena prevista no art. 157, § 2º-A, I, do Código Penal, quando
evidenciado o seu emprego por outros meios de prova.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

META 4

DIREITO CONSTITUCIONAL: PODER EXECUTIVO

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 2º
⦁ Art. 76 ao 91
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
CF/88
⦁ Art. 2°
⦁ Art. 80, 81 e 83
⦁ Art. 84 a 86 (importantíssimos!!!)
⦁ Art. 90

1. SISTEMA DE GOVERNO

O sistema de governo adotado pela CF/88 é o presidencialista, influenciado pelo sistema norte-
americano.
· No sistema presidencialista, as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo encontram-se nas
mãos de uma única pessoa, o Presidente da República.
· No parlamentarismo, a função de Chefe de Estado é exercida pelo Presidente da República
(República parlamentarista) ou Monarca (monarquia parlamentarista), enquanto a função de Chefe
de Governo, pelo Primeiro-Ministro, chefiando o gabinete.

CLASSIFICAÇÃO DO EXECUTIVO (DUVERGER)


a. Executivo monocrático: Rei, imperador, ditador, presidente;
b. Executivo Colegial: Exercido por dois homens com poderes iguais, como os cônsules romanos;
c. Executivo diretorial: Grupo em comitês, como era na URSS e ainda é na Suíça;
d. Executivo Dual: Parlamentarismo.

⇒ O art. 76 da CF/88 consagra a figura de um executivo monocrático.

Confira a dica da Professora Thaianne:

https://youtu.be/LHbjJ9KV5vc
195
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

2. PODER EXECUTIVO NA CF/88

2.1. Exercício do Poder Executivo

a) Âmbito Federal – Exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.
b) Âmbito Estadual – Exercido pelo Governador de Estado, auxiliado pelos Secretários e
substituído pelo vice, com as seguintes regras:

· Mandato de 04 anos;
· Eleição no 1º domingo de outubro, e no último domingo de outubro em segundo turno;
· Perderá o mandato o governador que assumir outro cargo ou função na administração direta ou
indireta, salvo posse em concurso público e o art. 38, I, IV e V;
· Subsídio fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa.

c) Âmbito Distrital: Mandato de 04 anos.

d) Âmbito Municipal:
Eleição para prefeito e vice, para mandato de 04 anos, em um só turno, no primeiro domingo de
outubro, e em segundo turno para Municípios com mais de 200 mil eleitores, permitida a reeleição para um
único período subsequente.

e) Âmbito dos Territórios: Governador nomeado pelo Presidente da República, após aprovação do Senado
Federal.

2.2. Atribuições do Presidente da República (art. 84 CF – DECORAR!)

Atribuições de Chefe de Estado: Incisos VII, VIII e XIX do art. 84.


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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· Atribuições de Chefe de Governo: demais incisos.


· O rol do art. 84 CF é MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO, podendo o Presidente exercer outras
atribuições
· O presidente só pode delegar as atribuições previstas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos
MINISTROS DE ESTADO, PGR, AGU (MESMO RACIOCÍNIO PARA O ÂMBITO ESTADUAL, ANTE O
PRINCÍPIO DA SIMETRIA):

VI - dispor, mediante decreto, sobre:


a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos
instituídos em lei;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei – Abrange
inclusive a atribuição para DESPROVER cargos, praticando-se atos demissionários
de servidores públicos.

Conforme já se manifestou o STF, quem tem competência para nomear também tem competência
para “desnomear”.
STF: Reconhece a existência de decretos autônomos e admite o controle por ADI Genérica, em caso
de decreto autônomo revestido de conteúdo normativo.

ATENÇÃO: NOVIDADE LEGISLATIVA

XXVIII - propor ao Congresso Nacional a decretação do estado de calamidade


pública de âmbito nacional previsto nos arts. 167-B, 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e
167-G desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
CAIU NA PROVA DELEGADO PC-RR (2022) Considerando os princípios e normas constitucionais atinentes à
Administração Pública, na hipótese de o Presidente da República pretender dispor sobre a organização e o
funcionamento da administração federal, é correto afirmar que: poderá fazê-lo por meio de decreto, quando
não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos e também poderá, por decreto,
extinguir funções ou cargos públicos, quando vagos. (item correto)

Jurisprudência sobre o tema:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

É inconstitucional — por violar os princípios da impessoalidade e da moralidade


administrativa (CF/1988, art. 37, “caput”) e por incorrer em desvio de finalidade
— decreto presidencial que, ao conceder indulto individual (graça em sentido
estrito), visa atingir objetivos distintos daqueles autorizados pela Constituição
Federal de 1988, eis que observa interesse pessoal ao invés do público.
ADPF
967/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 10.5.2023

É inconstitucional — por manifesta violação ao art. 84, VI, “b”, da Constituição


Federal — a extinção de cargos e funções que estejam ocupados na data da edição
do decreto do presidente da República.ADI 6.186/DF, relator Ministro Gilmar
Mendes, julgamento virtual finalizado em 17.4.2023 (segunda-feira), às 23:59

2.3. Condições De Elegibilidade

· Ser brasileiro NATO;


· Estar em pleno exercício dos direitos políticos;
· Alistamento Eleitoral;
· Domicílio Eleitoral na circunscrição;
· Filiação partidária;
· Idade Mínima de 35 anos;
· Não ser inalistável nem analfabeto;
· Não ser inelegível nos termos do art. 14, §7º CF.

2.4. Processo Eleitoral

Eleição: 1º domingo de outubro, em primeiro turno, e último domingo de outubro, em segundo


turno, sendo eleito se obtiver a MAIORIA DOS VOTOS VÁLIDOS.
NÃO haverá segundo turno se o candidato obtiver no primeiro a MAIORIA ABSOLUTA de votos, NÃO
computados os em branco e os nulos.
Havendo necessidade de segundo turno, se antes houver morte, desistência ou impedimento,
convocar-se-á dentre os remanescentes, o de maior votação. Havendo empate, o desempate considera a
idade.
Mandato de 04 anos, permitida uma única reeleição, para um único período subsequente.

ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro) anos e terá início em 5 de janeiro
do ano seguinte ao de sua eleição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)

2.5. Impedimento e Vacância dos Cargos

Presidente da República:
· Sucedido pelo Vice – VACÂNCIA (Impossibilidade definitiva para assunção do cargo)
· Substituído – IMPEDIMENTO (Substituição em caráter temporário – Férias, doença, etc.)

O Vice é o sucessor e substituto natural do Presidente, além de possuir outras atribuições conferidas
em LEI COMPLEMENTAR.
Substitutos eventuais ou legais: Segue a seguinte ordem SUCESSIVA, SEMPRE EM CARÁTER
TEMPORÁRIO:
· Presidente da Câmara dos Deputados;
· Presidente do Senado Federal;
· Presidente do STF.
ÂMBITO ESTADUAL:
· Presidente da Assembleia Legislativa;
· Presidente do TJ local.
Âmbito DF:
· Presidente da Câmara Legislativa;
· Presidente TJDFT.
MUNICÍPIOS:
· Presidente da Câmara Municipal;
· Em alguns casos, Vice- Presidente da Câmara Municipal

* Para Lenza, NÃO seria razoável que o Presidente do TJ assumisse em âmbito Municipal, já que NÃO existe
judiciário Municipal!

2.5.1. Mandato-Tampão
VACÂNCIA DE AMBOS OS CARGOS NOS PRIMEIROS 02 ANOS DE MANDATO: Eleição em 90 dias
depois de aberta a última vaga. Será eleição direta, pelo sufrágio universal, e voto direto e secreto;
VACÂNCIA NOS 02 ÚLTIMOS ANOS DE MANDATO: Eleição em 30 dias após a última vaga, pelo
Congresso Nacional, sendo eleição indireta.
Os eleitos deverão apenas completar o período de seus antecessores => MANDATO TAMPÃO!

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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STF: Os Estados podem legislar na hipótese de eleição indireta, definindo o procedimento, mesmo NÃO
havendo lei federal sobre o assunto. Entenderam os Ministros que o modelo federal NÃO é de observância
compulsória e, havendo previsão na CE, poderia a Assembleia Legislativa local disciplinar a matéria, pois no
caso não seria lei materialmente eleitoral (de competência da União), pois apenas regula sucessão
extravagante do Chefe do Executivo.

Obs.: Segundo o STF, réu em processo criminal não pode assumir, como substituto, o cargo de
Presidente da República

Os substitutos eventuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da


CF/88, caso ostentem a posição de réus criminais perante o STF, ficarão
impossibilitados de exercer o ofício de Presidente da República. No entanto,
mesmo sendo réus, podem continuar na chefia do Poder por eles titularizados. Ex:
o Presidente do Senado Renan Calheiros tornou-se réu em um processo criminal;
logo, ele não poderá assumir a Presidência da República na forma do art. 80 da
CF/88; porém, ele pode continuar normalmente como Presidente do Senado, não
precisando ser afastado deste cargo. STF. Plenário. ADPF 402 MC-REF/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 7/12/2016 (Info 850).
2.5.2. Ausência do país do Presidente e Vice-Presidente da República e licença do CN
O Presidente e o Vice NÃO poderão, sem licença do CN, ausentar-se do país por período superior a
15 dias, sob pena de perda do cargo. Durante o período de afastamento, o cargo será ocupado, seja pelo vice
ou na forma do art. 80;
STF: Tanto a previsão de substituição como a necessidade de autorização são normas de reprodução
obrigatória para os demais entes federativos.

Obs.: Constituição Estadual não pode prever que o Governador (ou o Vice) precisará de autorização
para se ausentar do país "em qualquer tempo"; a autorização só pode ser exigida se o período afastamento
for superior a 15 dias

A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o governador e o


vice-governador do Estado ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território
nacional mostra-se incompatível com os postulados da simetria e da separação dos
Poderes. A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é da
competência do Congresso Nacional autorizar o Presidente e o Vice-presidente da
República a se ausentarem do País quando a ausência for por período superior a 15
dias. Logo, afronta os princípios da separação dos Poderes e da simetria a norma

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

da Constituição estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para


que o Governador e o Vice-governador se ausentem do País por qualquer prazo. Os
Estados-membros não podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de
outro que não derivem explícita ou implicitamente de regra ou princípio previsto
na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5373 MC/RR, Rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 9/5/2019 (Info 939).

3. MINISTROS DE ESTADO

São meros auxiliares do Presidente da República no exercício do Poder Executivo e na direção


superior da Administração Federal.
São cargos de provimento em comissão e devem preencher os seguintes requisitos:
✔ Ser brasileiro nato ou naturalizado (Se Ministro da Defesa, brasileiro nato, obrigatoriamente);
✔ Ter mais de 21 anos de idade;
✔ Estar no exercício dos direitos Políticos.

3.1. Atribuições

Exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da Administração Federal e


referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente (É o referendo ministerial, e para Michel Temer, os
atos e decretos presidenciais não referendados pelos Ministros de Estado seriam NULOS).
Expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos (As instruções são inferiores a
lei, decreto e regulamentos, possuindo as funções: (i) de regulamentar as leis - assemelha-se aos decretos
presidenciais regulamentares, com âmbito validade restrito ao Ministério; (ii) Regulamentar decretos; (iii)
Regulamentos.
Apresentar ao Presidente da República o relatório anual de sua gestão no Ministério;
Praticar atos pertinentes às atribuições outorgadas ou delegadas pelo Presidente.

3.2. Crimes de Responsabilidade

Os Ministros de Estado praticam crime de responsabilidade nas seguintes situações:


a) Quando convocados pela Câmara, Senado ou quaisquer de suas comissões para prestar,
pessoalmente, informações sobre assuntos previamente determinados e inerentes às suas
atribuições e deixarem de comparecer, salvo justificação adequada;

201
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

b) Quando as Mesas da Câmara ou do Senado encaminharem pedidos escritos de informação aos


Ministros de Estado e estes se recusarem a fornecê-la ou não atenderem ao pedido no prazo de 30
dias ou prestarem informações falsas;
c) Quando praticarem crime de responsabilidade conexos e da mesma natureza com os crimes de
responsabilidade praticados com o Presidente.

Logo:
· Crimes de responsabilidade praticados SEM conexão com o Presidente e crimes comuns –
julgamento pelo STF (SEM necessidade de autorização da Câmara);
· Crimes de responsabilidade praticados COM conexão ao Presidente – Julgamento pelo SENADO
FEDERAL (COM necessidade de autorização da Câmara).

4. CONSELHO DA REPÚBLICA

Órgão Superior de consulta do Presidente, e suas manifestações NÃO terão caráter vinculatório aos
atos a serem tomados pelo Presidente.
Se reúne quando convocado e é presidido pelo Presidente da República.
Competências - Se pronunciar sobre:
· Intervenção Federal;
· Estado de Defesa;
· Estado de Sítio;
· Questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.

Composição:
· Presidente da República;
· Vice-Presidente;
· Presidente da Câmara;
· Presidente do Senado;
· Líderes da maioria e minoria da Câmara;
· Líderes da Maioria e minoria do Senado;
· Ministro da Justiça;
· 6 cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 anos, para mandato de 03 anos, sendo:
▪ 02 nomeados pelo Presidente;
▪ 02 pelo Senado;
▪ 02 pela Câmara.

202
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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5. CONSELHO DE DEFESA NACIONAL

Órgão de consulta para assuntos relacionados à soberania nacional e defesa do Estado Democrático.
Composição:
· Presidente;
· Vice-Presidente;
· Presidente da Câmara dos Deputados;
· Presidente do Senado;
· Ministro da Justiça;
· Ministro da Defesa;
· Ministro das relações exteriores;
· Ministro do planejamento;
· Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica.

Competência:
▪ Opinar sobre as hipóteses de declaração de guerra e celebração de paz, bem como
decretação de estado de defesa, estado de sítio e intervenção nacional;
▪ Propor os critérios e as condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do
território nacional e opinar sobre o seu efetivo uso, especialmente faixa de fronteira;
▪ Estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias à independência
nacional e defesa do estado democrático.

6. CRIMES DE RESPONSABILIDADE

É infração administrativa, crime de natureza política, submetendo os detentores de altos cargos


públicos ao processo de impeachment.
Obs.: Deputados Federais e Senadores NÃO praticam crime de responsabilidade.
São CRIMES DE RESPONSABILIDADE do Presidente (exemplificativamente) os que atentarem contra
– Vide art. 85 CF:
· Existência da União;
· Livre exercício do poder Legislativo, do Poder Judiciário, do MP e dos Poderes Constitucionais
das unidades da Federação;
· Exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
· Segurança interna do país;
· Probidade na Administração;
· Lei Orçamentária;

203
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· Cumprimento das leis e decisões judiciais.


Os crimes de responsabilidade serão definidos em Lei especial, que estabelecerá normas de processo
e julgamento, devendo ser necessariamente votada pelo CN (art. 22, I CF), competência privativa da União
para a edição da referida Lei.
Poderão ser responsabilizados politicamente e destituídos através de impeachment:
· Presidente da República;
· Vice-Presidente;
· Ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente;
· Ministros do STF;
· Membros do CNJ e CNMP;
· PGR
· AGU;
· Governadores;
· Prefeitos.

6.1. Procedimento

a) Câmara dos Deputados


A acusação poderá ser formalizada por qualquer cidadão em gozo dos direitos políticos, momento a
partir do qual o Presidente será acusado, possuindo garantia ao contraditório e à ampla defesa.
A Câmara dos Deputados, pela maioria qualificada de 2/3, poderá autorizar a instauração do
processo, para que o Presidente seja julgado pelo Senado Federal nos crimes de responsabilidade.
Importante esclarecer que o Presidente da Câmara faz um juízo prévio de admissibilidade da
denúncia e poderia já tê-la rejeitado liminarmente se entendesse que o pedido apresentado era inepto ou
que não tinha justa causa. Assim, seu papel no recebimento dessa denúncia não é meramente burocrático,
havendo um juízo decisório. Nesse sentido, confira precedente do STF:
(...) a competência do Presidente da Câmara dos Deputados e da Mesa do Senado
Federal para recebimento, ou não, de denúncia no processo de impeachment não
se restringe a uma admissão meramente burocrática, cabendo-lhes, inclusive, a
faculdade de rejeitá-la, de plano, acaso entendam ser patentemente inepta ou
despida de justa causa. (...)
STF. Plenário. MS 30672 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
15/09/2011.

Indagações probatórias deverão ser feitas no Senado, órgão que julga e processa o presidente, e não
na Câmara, que apenas verifica a procedibilidade da acusação.

204
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

A Câmara realiza juízo político.


Não há direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da Câmara (ADPF
378).

b) Senado Federal
Aqui, a letra da lei e a doutrina afirmam que, havendo autorização da Câmara dos Deputados, o
Senado deverá instaurar o processo sob a presidência do Presidente do STF, submetendo o presidente ao
julgamento e com garantia do contraditório e ampla defesa, podendo absolve-lo ou condená-lo pelo crime
de responsabilidade.
Assim, - havendo autorização da Câmara dos Deputados, o Senado deverá instaurar o processo. Não
cabe ao Senado decidir se abre ou não o processo. Não cabe mais a esta Casa rejeitar a denúncia. Sua função
agora será apenas a de processar e julgar, podendo absolver o Presidente, mas desde que ao final do processo
(José Afonso da Silva, Pedro Lenza, Bernardo Gonçalves Fernandes, Juliano Taveira Bernardes).
Contudo, o STF entendeu (ADPF 378) que se o processo de impeachment for autorizado pela Câmara,
o Senado é obrigado a processar e julgar a Presidente. Nas palavras do DoD: A CF/88 afirma que compete ao
Senado, privativamente, “processar e julgar” o Presidente (art. 52, I, da CF/88). Segundo entendeu o STF,
esta locução abrange não apenas o julgamento final, mas também a realização de um juízo inicial de
instauração ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia autorizada pela Câmara. No
regime atual, a Câmara não funciona como um “tribunal de pronúncia”, mas apenas implementa ou não uma
condição de procedibilidade para que a acusação prossiga no Senado.- A atuação da Câmara dos Deputados
deve ser entendida como parte de um momento pré-processual, isto é, anterior à instauração do processo
pelo Senado. Nas palavras do Min. Roberto Barroso: "a Câmara apenas autoriza a instauração do processo:
não o instaura por si própria, muito menos determina que o Senado o faça". - Os arts. 23, §§ 1º e 5º; 80 e 81,
da Lei nº 1.079/50 não foram recepcionados por serem incompatíveis com os arts. 51, I; 52, I; e 86, § 1º, II,
da CF/1988.
- Votaram neste sentido: Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo
Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello.

Desta forma, caso a Câmara autorize a instauração do processo de impeachment, esta será ainda
uma autorização "provisória" (mera condição de procedibilidade), considerando que o Senado ainda irá
examinar o pedido nos termos do art. 52, I, da CF/88. Nas exatas palavras do Min. Roberto Barroso (redator
para o acórdão):

"(...) a Câmara dos Deputados somente atua no âmbito pré-processual, não valendo
a sua autorização como um recebimento da denúncia, em sentido técnico. Assim,
a admissão da acusação a que se seguirá o julgamento pressupõe um juízo de

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

viabilidade da denúncia pelo único órgão competente para processá-la e julgá-la: o


Senado."

Resumindo:

O que diz a CF/88 O que diz o STF

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Essa autorização não deve ser entendida como
Deputados: recebimento da denúncia, em sentido técnico.
I - autorizar, por dois terços de seus membros, Caberia à Câmara apenas verificar se há
a instauração de processo contra o Presidente condição de procedibilidade, ou seja, se a
(...) acusação deve ser admitida. Essa decisão da
Câmara não vincula o Senado.
Quem decide se instaura ou não o processo é o
Senado.

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Quando a CF/88 fala em “processar” o


Federal: Presidente, isso significa que cabe ao Senado
I - processar e julgar o Presidente e o Vice- decidir se deve ou não processar (se deve ou
Presidente da República nos crimes de não instaurar o processo).
responsabilidade (...) O recebimento da denúncia no processo de
impeachment ocorre apenas após a decisão do
Plenário do Senado.
A decisão da Câmara não obriga o Senado a
instaurar o processo.

(Tabela DoD)

Instaurado o processo, o Presidente ficará suspenso de suas atividades pelo prazo de 180 dias,
cessando o afastamento se o julgamento não for concluído nesse período.

A CF/88, em seu art. 86, § 1º, II, prevê o seguinte:


§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:
(...)
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado
Federal.
206
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Sentença condenatória: Será sob a forma de RESOLUÇÃO DO SENADO, proferida por 2/3 dos votos,
limitando-se a condenação à perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer função pública por
08 anos, SEM PREJUÍZO DAS DEMAIS SANÇÕES CABÍVEIS.
Pelo art. 15 da Lei nº 1.079/50, a denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver,
por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. No entanto, o STF entendeu que a renúncia ao cargo
NÃO extingue o processo quando já iniciado.

OBS: - Como o julgamento é de natureza POLÍTICA, levando em conta critérios de conveniência e


oportunidade, não seria razoável o controle judicial. No entanto, o STF admite o controle judicial em razão
de lesão ou ameaça a direito (Ex: procedimento que viole a ampla defesa).
O Senado NÃO atua como órgão legislativo, mas como órgão judicial híbrido, pois composto de
senadores e é presidido por membro do Poder Judiciário.
STF: O Poder Judiciário NÃO dispõe de competência para alterar a decisão do senado no processo de
impeachment.

7. CRIMES COMUNS

Da mesma forma que nos crimes de responsabilidade, também haverá controle político de
admissibilidade pela Câmara dos Deputados, que autorizará ou não o recebimento de denúncia pelo STF
através do voto de 2/3 de seus membros.
Admitida a acusação do Presidente da República, por 2/3 dos membros da Câmara, será ele
submetido a julgamento perante o STF.
A denúncia será ofertada pelo PGR.
Recebida a denúncia ou queixa, o Presidente ficará suspenso de suas funções por 180 dias, voltando
a exercê-las, decorrido tal prazo.
O Presidente da República, durante a vigência de mandato, NÃO poderá ser responsabilizado por
atos estranhos ao exercício de suas funções. => Logo, O PRESIDENTE SÓ PODERÁ SER RESPONSABILIZADO
PELA PRÁTICA DE INFRAÇÃO PENAL COMUM NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.
As infrações penais praticadas antes do exercício do mandato, ou que não guarde relação com a
função presidencial NÃO poderão ser objeto da persecutio criminis, acarretando a suspensão da prescrição
=> IRRESPONSABILIDADE PENAL RELATIVA.
Quanto às infrações de natureza civil, política, administrativa, fiscal ou tributária, poderá o
Presidente ser responsabilizado, pois a imunidade só se restringe à persecutio criminis por ilícitos penais.
Oferecida a denúncia no STF, havendo autorização da Câmar
a, julgando-se procedente o pedido
formulado pelo PGR, a condenação aplicada será a prevista no tipo penal e não a perda do cargo, esta se

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

dará pela via reflexa, em virtude da suspensão temporária dos direitos políticos, enquanto durarem os efeitos
da sentença criminal condenatória, transitada em julgado.
Enquanto NÃO sobrevier sentença condenatória, nas infrações penais comuns, o Presidente NÃO
estará sujeito à prisão.

OBSERVAÇÕES
STF: As regras sobre a imunidade formal em relação à prisão e à imunidade penal relativa NÃO podem ser
estendidas a Governadores de Estado, DF e Prefeitos por atos normativos próprios, já que essas regras são
de competência exclusiva da União.
A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 não se estende para os
codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República, Vice-Presidente
da República e Ministro de Estado. A finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses
cargos, razão pela qual não é extensível a codenunciados que não se encontrem ocupando tais funções.
STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgados em
14 e 19/12/2017 (Info 888).

7.1. Prefeitos Municipais

Regras:
· Crime Comum – TJ Local (possui foro por prerrogativa de função fixado pela própria CF/88 – Art.
29, X, CF/88)
o Crimes Dolosos contra a vida;
o Crimes comuns do art.1º, Dec-Lei 201/67;
o Crimes funcionais;
o Abuso de autoridade;
o Ações de natureza civil;
o Crime de prefeito em detrimento de bens, serviços ou interesses do Município.
SÚMULA 209/STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

⮚ Crime de Responsabilidade – Câmara Municipal;


⮚ Crimes Eleitorais – TRE;
⮚ Crimes Federais – TRF.

Súmula 208/STJ: Compete à JF processar e julgar prefeito municipal por desvio de


verba sujeita à prestação de contas perante órgão federal.
208
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· Crimes de Responsabilidade (Julgamento pela Câmara Municipal):


● Art. 4º, Dec-Lei 201/67;
● Caso deixe de efetuar o repasse dos valores ao Poder Legislativo segundo as regras do art. 29-A
CF, ou seja:
o Efetuar repasse que supere os limites do art. 29-A;
o Não enviar o repasse até o dia 20 de cada mês;
o Enviar o repasse a menor em relação à proporção fixada em Lei Orçamentária;

7.2. Vereadores Municipais

Alexandre de Moraes: NÃO há a possibilidade de criação pelas Constituições Estaduais, nem pelas
Leis Orgânicas dos Municípios, de imunidades formais em relação aos vereadores, ou ampliação da
imunidade material, já que a competência para legislar sobre direito civil, penal e processual penas é privativa
da União.
Ressalta-se que, em recente decisão, o STF entendeu que não é possível que as Constituições
Estaduais prevejam foro por prerrogativa de função para agentes políticos que não estejam previstos, direta
ou indiretamente, na Constituição Federal. Dessa forma, não pode mais a Constituição Estadual prever foro
por prerrogativa de função para os chefes do Poder Executivo Municipal, em razão da aplicação do princípio
republicano que exige uma interpretação restrita sobre o tema.

É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado,


Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por
prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado,
Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. A CF/88, apenas
excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais,
estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam,
livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função. STF. Plenário.
ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 15/5/2019 (Info 940). Cuidado. O STF possui julgado afirmando que é
válida a previsão na Constituição Estadual de foro por prerrogativa de função para
o Procurador-Geral do Estado: STF. Plenário. HC 103803/RR, rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).

Como o tema foi cobrado em concursos públicos: CEBRASPE – PCRJ/2021 – Delegado de Polícia:

209
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Em conformidade com a CF e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, uma constituição estadual que
estabelecesse: (i) novas hipóteses de foro por prerrogativa de função para o cargo de delegado, (ii) previsão
de lei orgânica da polícia civil ser veiculada por lei complementar, (iii) determinação ao legislador de
observância de isonomia remuneratória entre policiais civis e policiais militares, seria considerada:

Resposta: constitucional em relação à previsão de lei complementar para regência da polícia civil e
inconstitucional em relação às demais previsões.

7.3. Governadores

Também poderá responder por crimes comuns e crimes de responsabilidade.

⮚ Crimes Comuns: STJ (art.105, I, “a”) – sem necessidade de autorização da Assembleia Legislativa:

Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado
Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ
receba denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por
crime comum. Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da
ALE para que o Governador do Estado seja processado por crime comum. Se a
Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja
processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional. Assim, é
vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração de
ação penal contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa
Legislativa. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele
ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual?
NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O STJ, no ato de
recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há
necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale
ressaltar que, além do afastamento do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma
das medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da
comarca, fiança, monitoração eletrônica etc.). STF. Plenário. ADI 4777/BA, ADI
4674/RS, ADI 4362/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 9/8/2017 (Info 872). STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 3/5/2017 (Info 863). STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI
210
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgados em 4/5/2017 (Info 863).

⮚ Crimes de Responsabilidade: Tribunal Especial Composto por 5 desembargadores do TJ + 5 membros


da assembleia legislativa e quem vai presidir esse tribunal é o presidente do TJ.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento de três Ações


Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 4798, 4764 e 4797), e confirmou o
entendimento de que as unidades federativas não têm competência para editar
normas que exijam autorização da Assembleia Legislativa para que o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) instaure ação penal contra governador e nem para
legislar sobre crimes de responsabilidade. Também foi confirmado que, no caso
de abertura de ação penal, o afastamento do cargo não acontece
automaticamente.

Plenário confirma que não é necessária autorização prévia para STJ julgar
governador
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, na sessão desta quinta-feira
(4), o julgamento de três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 4798, 4764
e 4797), e confirmou o entendimento de que as unidades federativas não têm
competência para editar normas que exijam autorização da Assembleia Legislativa
para que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) instaure ação penal contra governador
e nem para legislar sobre crimes de responsabilidade. Também foi confirmado que,
no caso de abertura de ação penal, o afastamento do cargo não acontece
automaticamente.
Ao pacificar esse entendimento, os ministros aprovaram, por unanimidade, uma
tese segundo a qual “é vedado às unidades federativas instituírem normas que
condicionem a instauração de ação penal contra governador, por crime comum, à
previa autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça
dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais,
inclusive afastamento do cargo”. De acordo com os ministros, o texto será usado
como base para a propositura de uma Súmula Vinculante sobre a matéria.
Quanto aos crimes de responsabilidade, os ministros mantiveram entendimento já
resumido na Súmula Vinculante 46, segundo a qual a definição dos crimes de

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e


julgamento são da competência legislativa privativa da União.

Normas questionadas
As ações questionavam as Constituições do Piauí (ADI 4798), do Acre (ADI 4764) e
de Mato Grosso (ADI 4797), nos trechos em que tratam da definição de crimes de
responsabilidade (infrações político-administrativas), normas sobre processo e
julgamento das acusações populares objetivando a decretação de impeachment de
governador e que condicionam à prévia autorização da Assembleia Legislativa a
instauração, perante o STJ, de ação penal em caso de crime comum supostamente
cometido por governador.
Autor das três ações, o Conselho FederaladOrdem dos Advogados do Brasil (OAB)
sustentava que os dispositivos questionados nas constituições estaduais violariam
o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal, que atribui à União a competência
privativa para legislar sobre direito processual. Além disso, segundo a OAB, as
assembleias legislativas não teriam isenção política para decidir sobre a autorização
necessária para a abertura de processo por crime comum contra governador no STJ
e também para julgá-lo na própria assembleia nos crimes de respo
nsabilidade.
O julgamento das ações no Plenário do STF começou em agosto de 2015, quando o
relator dos três casos, ministro Celso de Mello, alinhou-se à jurisprudência
dominante à época no sentido de que eram válidos artigos de constituições
estaduais que condicionavam a abertura de ação penal contra governador à
autorização prévia da Assembleia Legislativa do respectivo estado. O decano votou,
ainda, no sentido de que as unidades federativas não podem editar normas sobre
crimes de responsabilidade, uma vez que compete privativamente à União legislar
sobre o crime de responsabilidade – entendimento que acabou sendo condensado
na Súmula Vinculante 46. O julgamento foi suspenso por pedido de vista do
ministro Luís Roberto Barroso.
Na sessão desta quinta-feira (4), o ministro Barroso apresentou voto-vista em que
divergiu parcialmente do relator. Ao defender uma mudança na jurisprudência do
Supremo quanto à necessidade de autorização das casas legislativas para a
abertura de ação penal contra governadores, salientou que existem três situações
que legitimam uma mutação constitucional e a superação de uma jurisprudência
consolidada: quando há uma mudança na percepção do direito, quando existem
modificações na realidade fática e por força das consequências práticas negativas

212
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

de uma determinada linha de entendimento. E, para o ministro, no caso concreto,


esses três requisitos estão presentes.
Houve uma mudança na percepção do direito e mudou, também, a realidade fática,
representada por uma “imensa demanda da sociedade por um pouco mais de
decência no mundo político”. Além disso, o ministro salientou as consequências
nefastas produzidas pelo entendimento anterior, que culminou na impossibilidade
da instauração de ações penais contra governadores, mesmo em caso de evidentes
violações à legislação penal.
Quanto ao processamento de ações por crimes de responsabilidade, o ministro
manteve o entendimento já assentado na Súmula Vinculante 46, segundo o qual
“a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da
União”.
Por fim, o ministro Barroso frisou seu ponto de vista contrário ao afastamento
automático do governador no caso de abertura de ação penal. O simples
recebimento de uma denúncia, um ato de baixa densidade decisória, segundo o
ministro, não pode importar em afastamento automático do governador. Esse
-lo. O
afastamento só pode ocorrer se o STJ entender que há elementos a justificá
governador pode ser afastado, mas não como decorrência automática do
recebimento da denúncia, explicou o ministro.
Acompanharam esse entendimento a ministra Rosa Weber e os ministros
Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Gilmar
Mendes, Marco Aurélio e Cármen Lúcia.
O relator, ministro Celso de Mello, que manteve o voto anteriormente proferido,
ficou vencido no ponto referente à necessidade de autorização da casa legislativa
para instauração de ação penal. O decano afirmou, contudo, que a partir desse
julgamento vai observar em seus votos a nova diretriz jurisprudencial.

Atuação individual
Ao final da sessão, os ministros decidiram que os relatores dos demais casos em
tramitação no Supremo sobre a mesma matéria poderão decidir
monocraticamente as ações, aplicando o entendimento registrado na tese
aprovada.

Sobre o tema, veja a dica da Professora Thaianne:

213
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

https://youtu.be/--GY3QysdHE

7.4. Foro por prerrogativa de função e desmembramento

Regra Geral: Desmembramento do processo, devendo cada réu ser julgado pelo eventual Tribunal
competente no caso de ter prerrogativa de foro, ou ser julgado em primeiro grau de jurisdição se não exercer
qualquer função que enseje a prerrogativa.
Exceção: Em circunstâncias especiais, demonstradas e justificadas em cada caso concreto, será
negado o desmembramento, predominando a de maior graduação, com fulcro em alguns fundamentos:
· Devido processo legal e duração razoável do processo;
· Risco de, admitido o desmembramento, serem prolatadas decisões inconciliáveis e contraditórias;
· Em razão da complexidade e volume de informações.

Atente-se às jurisprudências importantes sobre o tema:

Decisão do STF que definiu o rito do processo de impeachment da presidente


Dilma
Principais conclusões do STF na decisão que definiu o rito do processo de
impeachment da Presidente Dilma: 1) Não há direito à defesa prévia antes do
recebimento da denúncia pelo Presidente da Câmara. 2) É possível a aplicação
subsidiária dos Regimentos Internos da Câmara e do Senado que tratam sobre o
impeachment, desde que sejam compatíveis com os preceitos legais e
constitucionais pertinentes. 3) Após o início do processo de impeachment, durante
4)
a instrução probatória, a defesa tem o direito de se manifestar após a acusação.
O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória. 5) O recebimento
da denúncia no processo de “impeachment” ocorre apenas após a decisão do
Plenário do Senado Federal. Assim, a Câmara dos Deputados somente atua no
âmbito pré-processual, não valendo a sua autorização como um recebimento da
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

denúncia, em sentido técnico. Compete ao Senado decidir se deve receber ou não


a denúncia cujo prosseguimento foi autorizado pela Câmara. O Senado não está
vinculado à decisão da Câmara. 6) A decisão do Senado que delibera se instaura ou
não o processo se dá pelo voto da maioria simples, presente a maioria absoluta de
seus membros. 7) É possível a aplicação analógica dos arts. 44, 45, 46, 47, 48 e 49
da Lei 1.079/1950 — os quais determinam o rito do processo de “impeachment”
contra Ministros do STF e o PGR — ao processamento no Senado Federal de crime
de responsabilidade contra o Presidente da República. 8) Não é possível que sejam
aplicadas, para o processo de impeachment, as hipóteses de impedimento do CPP.
Assim, não se pode invocar o impedimento do Presidente da Câmara para participar
do processo de impeachment com base em dispositivos do CPP. 9) A eleição da
comissão especial do impeachment deve ser feita por indicação dos líderes e voto
aberto do Plenário. Os representantes dos partidos políticos ou blocos
parlamentares que irão compor a chapa da comissão especial da Câmara dos
Deputados deverão ser indicados pelos líderes, na forma do Regimento Interno da
Câmara dos Deputados. Assim, não é possível a apresentação de candidaturas ou
chapas avulsas para a formação da comissão especial. STF. Plenário. ADPF 378/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 16, 1718/12/2015
e (Info 812).

Não é possível que o STF examine questões jurídicas formuladas a respeito da


denúncia antes do seu envio à Câmara dos Deputados para o juízo político de que
trata o art. 86 da CF/88
Imagine que foi formulada denúncia contra o Presidente da República por infrações
penais comuns. O STF deverá encaminhar esta denúncia para a Câmara dos
Deputados exercer o seu juízo político. É possível que, antes desse envio, o STF
analise questões jurídicas a respeito desta denúncia, como a validade dos
elementos informativos (“provas”) que a embasaram? NÃO. Não há possibilidade
de o STF conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva suscitada pelo
Presidente antes que a matéria seja examinada pela Câmara dos Deputados. O juízo
político de admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados precede a análise
jurídica pelo STF para conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva
suscitada pelo denunciado. A discussão sobre o valor probatório dos elementos de
convicção (“provas”), ou mesmo a respeito da validade desses elementos que
eventualmente embasarem a denúncia, constitui matéria relacionada com a
chamada “justa causa”, uma das condições da ação penal, cuja constatação ou não
se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito pelo Plenário

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados. STF. Plenário.Inq 4483
QO/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20 e 21/9/2017 (Info 878).

216
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 2º
⦁ Art. 92 ao 126
⦁ Art. 127 ao 135
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
CF/88
⦁ Art. 2°
⦁ Art. 95 e 96
⦁ Art. 101 a 103
⦁ Art. 104 e 105
⦁ Art. 109
⦁ Art. 127 a 129

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 649-STF: É inconstitucional a criação, por Constituição estadual, de órgão de controle
administrativo do Poder Judiciário do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades.
Súmula 627-STF: No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência do
Presidente da República, este é considerado autoridade coatora, ainda que o fundamento da impetração
seja nulidade ocorrida em fase anterior do procedimento.
Súmula 731-STF: Para fim de competência originária do Supremo Tribunal Federal, é de interesse geral da
magistratura a questão de saber se, em face da LOMAN, os juízes têm direito à licença-prêmio.
Súmula 628-STF: Integrante de lista de candidatos a determinada vaga da composição de tribunal é parte
legítima para impugnar a validade da nomeação de concorrente.
Súmula 46-STF: Desmembramento de serventia de justiça não viola o princípio de vitaliciedade do
serventuário.
Súmula 40-STF: A elevação da entrância da comarca não promove automaticamente o juiz, mas não
interrompe o exercício de suas funções na mesma comarca.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

DIREITO CONSTITUCIONAL: PODER JUDICIÁRIO

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⦁ Art. 101 a 103
⦁ Art. 104 e 105
⦁ Art. 109
⦁ Art. 127 a 129

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 649-STF: É inconstitucional a criação, por Constituição estadual, de órgão de controle
administrativo do Poder Judiciário do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades.
Súmula 627-STF: No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência do
Presidente da República, este é considerado autoridade coatora, ainda que o fundamento da impetração
seja nulidade ocorrida em fase anterior do procedimento.
Súmula 731-STF: Para fim de competência originária do Supremo Tribunal Federal, é de interesse geral da
magistratura a questão de saber se, em face da LOMAN, os juízes têm direito à licença-prêmio.
Súmula 628-STF: Integrante de lista de candidatos a determinada vaga da composição de tribunal é parte
legítima para impugnar a validade da nomeação de concorrente.
Súmula 46-STF: Desmembramento de serventia de justiça não viola o princípio de vitaliciedade do
serventuário.
Súmula 40-STF: A elevação da entrância da comarca não promove automaticamente o juiz, mas não
interrompe o exercício de suas funções na mesma comarca.

1. PODER JUDICIÁRIO

Segundo Uadi Lammêgo Bulos, o Judiciário é um poder autônomo, cuja independência e


imparcialidade, asseguradas constitucionalmente, são uma garantia dos cidadãos, porque ao Judiciário

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

incumbe consolidar princípios supremos e direitos fundamentais, imprescindíveis à certeza e segurança das
relações jurídicas.
O Poder Judiciário tem funções típicas e atípicas. A função típica, primária ou própria é simplesmente
julgar, ou seja, dirimir conflitos de interesses, aplicando a lei das hipóteses concretas, produzindo coisa
julgada, formal e material, no que substitui a vontade das partes. É a função jurisdicional ou jurisdição. Já a
função atípica, secundária ou imprópria, ocorre quando o Judiciário desempenha atividades legislativas ou
administrativas. Desempenha função legislativa quando edita normas regimentais, por exemplo, e
desempenha função administrativa quando organiza o quadro de pessoal, provendo cargos, por exemplo.

2. ESTATUTO DA MAGISTRATURA (reserva de Lei Complementar Federal)

Com a EC 45/2004, a reforma do Judiciário previu algumas questões pertinentes ao estatuto da


magistratura:

Ingresso na carreira, no cargo de juiz substituto, exigindo-se do bacharel, no mínimo 03 anos de atividade
jurídica

Para Lenza trata-se de norma constitucional de eficácia limitada, por depender de lei
infraconstitucional.
Segundo a Resolução 75/2009 CNJ, considera-se atividade jurídica:
▪ Aquela exercida por bacharel em Direito;
▪ Efetivo exercício da advocacia, inclusive voluntária, mediante participação anual mínima em
05 atos privativos de advogado em causas ou questões distintas;
▪ Exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior, que exija a
utilização de conhecimento jurídico;
▪ Exercício da função de conciliador junto aos Tribunais Judiciais, juizados, Varas Cíveis, anexos
de juizados ou varas, no mínimo de 16 hrs mensais, durante 01 ano;
▪ Exercício da atividade de mediação ou de arbitragem na composição dos litígios.

A resolução veda a contagem de estágio acadêmico ou qualquer atividade anterior à obtenção do


grau de bacharel em direito.
Além disso, a resolução do CNJ não considera como atividade jurídica – embora reconheça como
título – o curso de pós-graduação. Diferentemente, a Resolução nº 40/2009 do CNMP considera como
atividade jurídica o curso de pós-gradução. A questão foi submetida ao STF que entendeu como
constitucional a disposição do CNMP:

219
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. PRÁTICA FORENSE.


129, §3º DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. ATIVIDADE JURÍDICA. INEXISTÊNCIA DE
HIERARQUIA ENTRE SABERES PRÁTICOS E TEÓRICOS. POSSIBILIDADE DE
COMPROVAÇÃO DO TRIÊNIO CONSTITUCIONAL COM CURSOS DE PÓS-
GRADUAÇÃO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE IMPROCEDENTE. 1. O
sintagma “atividade jurídica”, constante do art. 129, §3º, da Constituição da
República, não estabelece hierarquia entre as formas prática e teórica de
aquisição de conhecimento, exigindo apenas atividade que suceda o curso de
direito e o pressuponha como condição de possibilidade. 2. Em sua função
regulamentadora, o Conselho Nacional do Ministério Público está autorizado a
densificar o comando constitucional de exigência de atividade jurídica com cursos
de pós-graduação. 3. Ação julgada improcedente. (ADI 4219, Relator(a): CÁRMEN
LÚCIA, Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
05/08/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-238 DIVULG 28-09-2020 PUBLIC 29-09-
2020)

A comprovação de atividade jurídica, pode considerar o tempo de exercício em cargo não privativo
de bacharel em Direito, desde que, ausentes dúvidas acerca da natureza eminentemente jurídica das funções
desempenhadas (STF, MS 28.226, j. 4-8-2015).
Excepcionalidade do requisito dos três anos:
- Exercício do cargo de escrivão e de oficial de Justiça;
- STF: Preenchido o requisito da quarentena de entrada, por faltar 45 dias para o candidato do MP comprovar
os 03 anos, e pela demora em conseguir a OAB não ter sido ocasionada pelo candidato.
O STF declarou inconstitucional a Lei Distrital que estabeleceu requisito mínimo (25 anos) e máximo
(50 anos) de idade para ingresso na carreira da magistratura do TJDFT.
O art. 52, V, da Lei 11.697/2008, ao estabelecer como requisito para ingresso na
carreira da magistratura do Distrito Federal ou dos Territórios a idade mínima de
25 anos e máxima de 50, viola o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal. Em
assuntos diretamente relacionados à magistratura nacional, como as condições
para investidura no cargo, a disciplina da matéria deve ser versada pela
Constituição Federal ou pela LOMAN, não podendo lei ordinária federal inovar e
prever norma de caráter restritivo ao ingresso na magistratura que não encontra
pertinência nos citados diplomas normativos. A Constituição Federal não exige
idade mínima para o ingresso na magistratura, mas sim a exigência de ‘três anos de
atividade jurídica’ ao bacharel em direito (CF, art. 93, I). O limite de 50 anos de
idade para ingresso em cargo de magistrado não guarda correlação com a natureza

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

do cargo e destoa do critério a que a Constituição adotou para a composição dos


Tribunais Superiores, Tribunais Regionais Federais e Tribunais Regionais do
Trabalho.
[ADI 5.329, rel. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, j. 15-12-2020, P, DJE de 23-2-
2021.]

Promoção de entrância para entrância, segundo critérios de antiguidade e merecimento:

Segundo dispõe a CF/88, a promoção de entrância para entrância se dará, alternadamente, por
antiguidade e merecimento, atendidas as normas a seguir:
▪ É obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas
em lista de merecimento;
▪ A promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e
integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais
requisitos quem aceite o lugar vago;
▪ Aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de
produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e aproveitamento em cursos
oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento; (Redação da EC 45/2004)
▪ Na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto
fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada
ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação; (Redação da EC 45/2004)
▪ Não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo
legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão; (Incluída pela
EC 45/2004)

Ainda, importante destacar o entendimento do STF:


Súmula 40 do STF: A elevação da entrância da comarca não promove
automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício de suas funções na
mesma comarca.

3. GARANTIAS DO JUDICIÁRIO

· GARANTIAS INSTITUCIONAIS – PROTEGEM O JUDICIÁRIO:

2.1 Garantias de Independência

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

A) VITALICIEDADE:

O magistrado (e o membro do MP) só perderá o cargo por sentença judicial transitada em julgado,
sendo-lhe asseguradas todas as garantias do processo jurisdicional.
Em 1º grau de jurisdição, a vitaliciedade se adquire após 02 anos do efetivo exercício do cargo, desde
que o magistrado supere o estágio probatório. Nos 02 primeiros anos, a perda do cargo dependerá de
deliberação do Tribunal ao qual esteja vinculado.
Membros dos Tribunais têm a garantia independente da forma de acesso, com a posse.
Exceções à regra da vitaliciedade (e perda do cargo por sentença judicial transitada em julgado):
● MINISTROS DO STF – EM CRIME DE RESPONSABILIDADE, QUANDO SERÃO JULGADOS PELO SENADO;
▪ CONSELHEIROS DO CNJ – EM CRIME DE RESPONSABILIDADE, JULGADOS PELO SF.
O CNJ NÃO PODE DECLARAR A PERDA DO CARGO DE MAGISTRADOS VITALÍCIOS, JÁ QUE OS ATOS DO CNJ
SÃO ADMINISTRATIVOS E NÃO JUDICIAIS.

B) INAMOVIBILIDADE:

O juiz NÃO pode ser removido sem o seu consentimento de um local para outro, de uma comarca
para outra, ou mesmo sede, cargo, tribunal, câmara, grau de jurisdição.
Essa regra não é absoluta, pois o magistrado pode ser removido por interesse público, em decisão
por voto da maioria absoluta do respectivo Tribunal ou CNJ, assegurada a ampla defesa.
A inamovibilidade se aplica aos juízes substitutos.

C) IRREDUTIBILIDADE DOS SUBSÍDIOS:

O subsídio dos magistrados NÃO poderá ser reduzido, sendo, segundo o STF, garantia é nominal e não
real, ou seja, os magistrados NÃO estão livres da corrosão de seus subsídios pela inflação.
NÃO serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios as parcelas de caráter indenizatórios
previstas em lei.
O subsídio está sujeito à tributação, devendo ser fixado em parcela única.

3.2. Garantias de Imparcialidade

VEDAÇÕES AOS MAGISTRADOS:

· Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
· Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· Dedicar-se à atividade político-partidária;


· Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas exceções previstas em lei;
· Exercer advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos 03 anos do
afastamento por aposentadoria ou exoneração (quarentena de saída).

3.3. Prerrogativa de Foro

Os magistrados possuem prerrogativa de foro na hipótese de crime comum e de responsabilidade,


durante o exercício da função judicante:
▪ Magistrados – foro no TJ
▪ Desembargadores – foro no STJ
O STF, na Ação Penal (AP) 937, limitou o foro por prerrogativa de função dos parlamentares aos
crimes cometidos no exercício da atividade. Esse entendimento teria sido estendido a qualquer cargo com
previsão de foro especial, de quaisquer dos três Poderes.
As autoridades listadas no art. 105, I, “a”, da CF/88 somente terão foro por
prerrogativa de função no STJ para os crimes cometidos durante o exercício do
cargo e relacionados às funções desempenhadas
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se
àquelas em que o crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou
função. STJ. Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 20/06/2018 (Info 630).

Mas atenção: Os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam sendo julgados pelo STJ mesmo
que o crime não esteja relacionado com as suas funções. Assim, o STJ continua sendo competente para julgar
quaisquer crimes imputados a Desembargadores, não apenas os que tenham relação com o exercício do
cargo.
Quem julga os crimes cometidos por Desembargadores?
O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas
hipóteses em que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da CF/88), o
desembargador acusado houvesse de responder à ação penal perante juiz de
primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal. Assim, mesmo que o crime cometido
pelo Desembargador não esteja relacionado com as suas funções, ele será julgado
pelo STJ se a remessa para a 1ª instância significar que o réu seria julgado por um
juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal que o Desembargador. A
manutenção do julgamento no STJ tem por objetivo preservar a isenção

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

(imparcialidade e independência) do órgão julgador. STJ. Corte Especial. QO na APn


878-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018 (Info 639).

A questão está pendente de julgamento pelo STF que reconheceu a repercussão geral da matéria
(Tema 1147 – Competência do STJ para processar e julgar desembargador de Tribunal de Justiça por crime
comum, ausente relação com o cargo público ocupado.
Lembre-se que os magistrados, juntamente com os membros do Ministério Público, não podem
ser indiciados, em razão de expressa previsão legal:
▪ Magistrados - art. 33, parágrafo único, da LC 35/79
▪ Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/93 e art. 41,
parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).
O STF decidiu que os magistrados que se aposentam perdem a prerrogativa de foro, mesmo em
relação a atos praticados no exercício da função e em virtude desta, pois:

· O foro especial objetiva o resguardo da função pública;


· A prerrogativa de foro é garantia voltada, não à pessoa do juiz, mas aos jurisdicionados;
· O foro especial, ante a inexistência do exercício da função, não deveria perdurar, já que a proteção
aos jurisdicionados não é mais necessária.
Como o tema foi cobrado em concurso público:

CEBRASPE – PCPB/2021 – Delegado de Polícia: Suponha que determinado magistrado esteja sendo
processado e julgado no Superior Tribunal de Justiça, por supostamente ter cometido crime comum.
Suponha, ainda, que, no curso do processo, ele se aposente voluntariamente. Nessa situação, a competência
para processá-lo e julgá-lo será do
d) primeiro grau de jurisdição.

4. ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO

Dentre todas as Justiças, apenas a do trabalho NÃO possui competência penal.

A REGRA DO QUINTO CONSTITUCIONAL: A CF estabelece (art. 94) que 1/5 (20%) dos lugares dos
TRF’s, Tribunais dos Estados e do DFT será composto por membros do MP, com mais de 10 anos de carreira,
e de advogados de notório saber jurídico e reputação ilibada com mais de 10 anos de efetiva atividade
profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das classes – abrange os Tribunais
do Trabalho e orienta o STJ (nesse caso, advogados e MP compõem 1/3 e não 1/5 do Tribunal).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

PROCEDIMENTO: Os órgãos de representação de classe dos advogados e MP elaboram lista sêxtupla


(indicam 06 nomes), e o Tribunal forma lista tríplice (3 dos 6). Nos 20 dias subsequentes, o Chefe do Executivo
escolherá 01 dos 03 para nomeação.

STF: Se não houver membros do MP que preencham os requisitos constitucionais, é possível


complementar a lista sêxtupla com membros que ainda não tenham 10 anos de carreira.

STF: Se a lista sêxtupla apresentada contiver nomes que não preencham os requisitos constitucionais,
o Tribunal pode recusar a lista, desde que fundado em razões objetivas, devendo a lista ser devolvida ao
ente emanado para que refaça, total ou parcialmente. Discordando a entidade, a ela restará questionar em
juízo, na via processual adequada, a rejeição total ou parcial do Tribunal competente as suas indicações.

OBS.: Órgãos de convergência e órgãos de superposição – pode-se afirmar que o STF e os Tribunais
Superiores (STJ, TST, TSE e STM) são órgãos de convergência, têm sede na Capital Federal e exercem
jurisdição sobre todo o território nacional, nos termos do art. 92, § 2º, da CF/88. Denominam-se órgãos ou
centros de convergência visto que, segundo ensina Dinamarco, “cada uma das Justiças especiais da União
(Trabalhista, Eleitoral e Militar, acrescente-se), tem por cúpula seu próprio Tribunal Superior, que é o
cia dessa Justiça — ressalvado o controle de
responsável pela última decisão nas causas de competên
constitucionalidade, que sempre cabe ao Supremo Tribunal Federal. Já os órgãos de superposição, na medida
em que não pertencem a nenhuma Justiça, podemos classificar o STF e o STJ (Tribunais da União) não só
como órgãos de convergência, como já visto, mas, também, como órgãos de superposição. Isso porque,
embora não pertençam a nenhuma Justiça, as suas decisões se sobrepõem às decisões proferidas pelos
órgãos inferiores das Justiças comum e especial. As decisões do STJ se sobrepõem àquelas da Justiça Federal
comum, da Estadual e daquela do Distrito Federal e Territórios, ao passo que as decisões do STF se
sobrepõem a todas as Justiças e Tribunais.

Veja a jurisprudência pertinente sobre o tema:

Não é compatível com a Constituição Federal a regra segundo a qual apenas os


Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos
Tribunais de Justiça
O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos
possíveis candidatos aos órgãos de cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão
especial, é inconstitucional porque desrespeitou a autonomia administrativa dos
tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN
(LC 35/79) não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

com a Constituição Federal a regra segundo a qual apenas os Desembargadores


mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos tribunais. Essa matéria, em
razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser
remetida à disciplina regimental de cada tribunal. STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS
32451/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 25/6/2020 (Info 983).

A readmissão na carreira da Magistratura não encontra amparo na Lei Orgânica


da Magistratura Nacional nem na Constituição Federal de 1988
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor exonerado não
possui o direito de reingresso no cargo. Isso porque o atual ordenamento
constitucional impõe a prévia aprovação em concurso público como condição para
o provimento em cargo efetivo da Administração Pública. O STF já declarou a
inconstitucionalidade de lei estadual que previa a possibilidade de o magistrado
exonerado reingressar nos quadros da magistratura: ADI 2983, Rel. Min. Carlos
Velloso, julgado em 23/02/2005. O CNJ também já expediu orientação normativa
vinculante afirmando que não são possíveis formas de provimentos dos cargos
relacionados à carreira da Magistratura que não estejam explicitamente previstas
na Constituição Federal nem na LOMAN. Assim, o magistrado que pediu
exoneração não tem direito de readmissão no cargo mesmo que essa possibilidade
esteja prevista em lei estadual. STJ. 2ª Turma. RMS 61880-MT, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 03/03/2020 (Info 666).

Competência do Conselho Superior do Ministério Público para elaboração das


listas sêxtuplas
.
Da leitura do art. 94, da Constituição Federal, não se infere hermenêutica que
estabeleça os critérios ou delimite o conceito para caracterização do órgão de
representação de classe. Desta forma, a Constituição delegou esta função ao
legislador infraconstitucional, a quem cabe definir os órgãos de representação das
respectivas classes. Embora sejam elegíveis para integrar o Conselho Superior do
Ministério Público, nos termos do art. 14 da Lei 8.625/1993, apenas os
Procuradores de Justiça, a escolha é realizada por meio de eleição em que votam
membros de toda a classe, o que evidencia a representatividade do órgão. (ADI
4.134, rel. min. Edson Fachin, j. 18-10-2019, P, DJE de 2-12-2019.)

5. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Antes mesmo de adentrarmos nas características dos diferentes órgãos que compõem o Poder
Judiciário, chamo a atenção do aluno para as inovações trazidas pela EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 122, de
17/05/2022 que alterou os artigos 73, §1º, I, 101, 104, 107, 111-A, 115 e 123 da CR/88, aumentando o limite
de idade de 65 para 70 anos de idade para escolha e nom
eação para os cargos de ministro do STF, do STJ,
do TST, do TCU e ministros civis do STM. A alteração do limite etário também abrangeu a nomeação para os
cargos de desembargador dos TRFs e TRTs.

Ressalta-se que a imposição de limite de idade não abrange os Tribunais de Justiça dos Estados.

5.1 STF

Órgão de cúpula do Judiciário;

· COMPOSIÇÃO: 11 Ministros
· INVESTIDURA: Presidente da República escolhe e indica nome, devendo ser aprovado pelo Senado
Federal pela maioria absoluta (sabatina). Aprovado, passa-se à nomeação, sendo o Ministro
vitaliciado.
· REQUISITOS PARA OCUPAR O CARGO:
▪ Ser brasileiro nato;
▪ Ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade (ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA – EC nº
122/2022 – art. 101, caput, CR/88);
▪ Ser cidadão;
▪ Notável conhecimento jurídico e reputação ilibada – desde o parecer de João Barbalho, de
1984, entende-se que o Ministro do STF deverá ser jurista, tendo cursado a faculdade de
Direito.
· COMPETÊNCIAS DO STF: Decorar art. 102 CF!!!
· OBSERVAÇÕES – EC 45/2004:
▪ A competência para homologação de sentenças estrangeiras e concessão de exequatur às
cartas rogatórias passa do STF para o STJ;
▪ Criação da repercussão geral;
▪ Competência do STF para processar e julgar, originariamente, ações do CNJ e CNMP.

5.2. STJ

· COMPOSIÇÃO: 33 ministros, sendo:


▪ 1/3 dentre juízes do TRF, indicados por lista tríplice elaborado pelo STJ;

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

▪ 1/3 dentre desembargadores dos TJs, indicados em lista tríplice elaborada pelo STJ;
▪ 1/3, sendo 1/6 dentre advogados, 1/6 dentre membros do MPF, MPE, MPDFT, alternados,
segundo a regra do Quinto Constitucional.

OBS: O STF decidiu que os membros da magistratura não precisam ser egressos da magistratura de carreira,
podendo ser advogado ou MP posteriormente investido de Desembargador, pelo Quinto Constitucional.
· INVESTIDURA: Escolhidos e nomeados pelo Presidente da República, após sabatina do Senado e voto
da maioria absoluta;
· REQUISITOS PARA O CARGO:
▪ Ser brasileiro nato ou naturalizado;
▪ Ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade (ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA – EC nº
122/2022 – art. 104, p.ú., CR/88);
▪ Ter notável conhecimento jurídico e reputação ilibada.
· COMPETÊNCIA DO STJ: Art. 105 CF (decorar).
· ESCOLA NACIONAL DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE MAGISTRADOS (ENFAM): Criada pela
EC 45/2004, funcionando junto ao STJ para regulamentar cursos oficiais de ingressos e promoção na
carreira.
· CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL: Funcionamento junto ao STJ, segundoCE45/2004, cabendo-lhe
exercer supervisão administrativa e orçamentária da JF de 1º e 2º graus, como órgão central do
sistema e com poderes correcionais, cujas decisões terão caráter vinculante.

PARA FACILITAR A FIXAÇÃO DOS ARTIGOS 102 E 105 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, UTILIZE A SEGUINTE
TABELA:
TABELA DE COMPETÊNCIAS DO STF E DO STJ
STF (ART. 102, CF/88) STJ (ART. 105, CF/88)
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA

ADI (lei/ato normativo federal ou estadual), ADPF Nos crimes COMUNS: Governadores de Estado e
e ADC (lei/ato normativo federal); DF;

Pedido de medida cautelar em ADI e ADPF; Nos crimes COMUNS e de RESPONSABILIDADE:


Desembargadores de TJ dos Estados e do DF,
Nas infrações penais COMUNS: Presidente e Vice da membros do TCE e TCDF, dos TRF, TRE, TRT, dos
R., membros do Congresso N., Ministros do STF e Conselhos/TCM e do MPU que oficiem perante os
PGR; Tribunais;

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Nas infrações penais COMUNS e nos CRIMES DE HC quando coator ou paciente forem pessoas
RESPONSABILIDADE (não conexo com o referidas acima, ou quando coator for Tribunal
Presidente): Ministros de Estados e Comandante do sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou
Exército, Marinha e Aeronáutica; Comandante do Exército, Marinha e Aeronáutica,
salvo a competência da justiça eleitoral;
Nas infrações penais COMUNS e nos crimes de
RESPONSABILIDADE: membros dos Tribunais MS e HD contra ato de Ministro de Estado,
Superiores, do TCU, chefes de missão diplomática Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica,
de caráter permanente; ou Ministros do STJ;

HC quando os pacientes forem as pessoas acima Revisões criminais e ações rescisórias de seus
referidas; julgados;

HC, quando o coator for o Tribunal Superior ou Reclamação para preservação de sua competência
o paciente for autoridade/funcionários cujos atos e garantia da autoridade de suas decisões;
estejam sujeitos à jurisdição do STF, ou crime
sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; Conflitos de competência entre quaisquer
Tribunais (ressalvado art. 102, I, ‘o’ – Tribunal
MS e HD contra atos do: Presidente da R., Mesas da Superior), e entre juízes vinculados a tribunais
Câmara e do Senado, TCU, PGR, STF; diversos;

Revisão criminal e ação rescisória de seus julgados; MI quando a elaboração da norma


regulamentadora for atribuição de órgão, entidade,
Reclamação (preservação de sua competência e autoridade federal (administração direta e
garantia da autoridade de suas decisões); indireta), exceto os casos de competência do STF e
dos órgãos da justiça militar, eleitoral, do trabalho e
Conflitos de competência entre STJ ou Tribunais federal;
Superiores e quaisquer Tribunais, entre Tribunais
Superiores; Conflitos de atribuições entre autoridades
administrativas e judiciárias da União, ou entre
autoridades judiciárias de um Estado e
MI quando a elaboração da norma administrativas de outro ou do DF, ou entre as deste
regulamentadora for atribuição do PR, CN, CD, SF, e da União;
ou suas respectivas mesas, TCU, Tribunais
Superiores, STF; Homologação de sentenças estrangeiras e
concessão de exequatur às cartas rogatórias.

229
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Causas e conflitos entre União e Estados/DF ou


entre uns e outros, incluindo administração
indireta;

Execução de sentença – nas causas de competência


originária, sendo facultada delegação de
atribuições para prática e atos processuais;

Ação: membros da magistratura direta ou


indiretamente interessados, e em que mais da
metade dos membros dos tribunais de origem
impedidos/interessados;

Ações contra o CNJ e o CNMP.

Litígio entre Estado estrangeiro ou organismo


internacional e União, Estado, DF ou Território;

Extradição solicitada por Estado estrangeiro;

COMPETÊNCIA EM RECURSO ORDINÁRIO COMPETÊNCIA EM RECURSO ORDINÁRIO

HC, MS, HD, MI, decididos em única instância pelos HC decidido em única ou última instância e MS em
TRIBUNAIS SUPERIORES, quando DENEGATÓRIA a única instância pelos TRF’s, TJ’s, quando
decisão; DENEGATÓRIA a decisão;

Crime político. Causas em que forem partes Estado estrangeiro ou


organismo internacional, de um lado, e, do outro,
Município ou pessoa residente ou domiciliada no
País.

COMPETÊNCIA EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COMPETÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL


Causas decididas em única/última instância, se Causas decididas em única ou última instância
decisão recorrida: pelos TRF’s ou TJ’s, quando decisão recorrida:

Contrariar/negar vigência a tratado/lei federal;


230
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Contrariar dispositivo da CF, declarar a


inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; Julgar válido ato de Governo LOCAL contestado em
face de lei FEDERAL;
Julgar válida lei ou ato de governo local contestado
em face da CF; Der à lei federal interpretação divergente da que
lhe haja atribuído outro Tribunal.
Julgar válida LEI LOCAL, contestada em face de LEI
FEDERAL (conflito de competências
constitucionais)
5.3. Tribunais Regionais Federais (TRF) e Juízes Federais:

Organizada em dois graus de jurisdição, sendo composta pelos Tribunais Federais e Juízes Federais.

● COMPOSIÇÃO: No mínimo 07 juízes, nomeados pelo Presidente da República e em observância ao


quinto constitucional.

● REQUISITOS PARA O CARGO:


▪ Ser brasileiro nato ou naturalizado;
▪ Ter mais de 30 e menos de 70 anos de idade (ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA – EC nº
122/2022 – art. 107, caput, CR/88);

Os TRFs instalarão a Justiça itinerante, para a realização de audiências e demais atividades, bem como
poderão funcionar descentralizadamente.

● COMPETÊNCIA: Decorar art. 108 e 109 CF.

5.4. Tribunais e Juízes do Trabalho

5.4.1. TST

● COMPOSIÇÃO: 27 ministros, sendo:


▪ 1/5 dentre advogados com mais de 10 anos de efetivo exercício e membros do MP com mais
de 10 anos;
▪ 4/5 escolhidos dentre juízes dos TRTs, oriundos de magistratura de carreira, indicados pelo
próprio Tribunal.

231
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

● REQUISITOS PARA O CARGO – Escolhidos após sabatina no Senado por maioria absoluta:
▪ Ser brasileiro nato ou naturalizado;
▪ Ter mais de 35 e menos de de 70 anos de idade (ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA – EC
nº 122/2022 – art. 111-A, caput, CR/88)
Funcionarão junto ao TST a Escola Nacional de formação e aperfeiçoamento de Magistrados do
Trabalho e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho.

5.4.2. TRTs

● COMPOSIÇÃO: No mínimo 07 juízes, sendo:


▪ 1/5 dentre advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e membros do
MPT com mais de 10 anos;
▪ 4/5 por promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento.

● REQUISITOS PARA O CARGO:


▪ Ser brasileiro nato ou naturalizado;
▪ Ter mais de 35 e menos de 70 anos de idade (ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA – EC nº
122/2022 – art. 115, caput, CR/88).

5.5. Tribunais e Juízes Eleitorais:

5.5.1. TSE

COMPOSIÇÃO: No mínimo 07 membros, sendo:


· 03 Juízes, eleitos dentre os Ministros do STF, pelo voto secreto dos próprios membros da Corte;
· 02 Juízes, eleitos dentre Ministros do STJ, em voto secreto pela própria corte;
· 02 Juízes – o STF elabora lista sêxtupla escolhendo nomes dentre advogados de notável saber jurídico
e idoneidade moral, encaminhando ao Presidente da república, que escolherá 02, nomeando-os,
SEM a necessidade de sabatina pelo STF.
OBS:
O Presidente e vice serão eleitores pelo TSE dentre os Ministros do STF;

O Corregedor eleitoral será um dos ministros do STJ.

5.5.2. TRE

232
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· COMPOSIÇÃO: 07 juízes, sendo:


▪ 02 juízes, dentre os Desembargadores do TJ, eleitos por voto secreto;
▪ 02 juízes, dentre os juízes de direito, eleitos pelo voto secreto pelo TJ;
▪ 01 juiz de TRF com sede na Capital do Estado ou DF, ou, não havendo, de juiz federal
escolhido pelo TRF respectivo;
▪ 02 juízes, por nomeação do Presidente da República, dentre 06 advogados de notável saber
jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça.
Presidente e vide do TRE: eleitos pelo TER dentre os desembargadores.

5.5.3. Juízes Eleitorais

São os próprios juízes de Direito em exercício, e cabe a jurisdição em cada uma das zonas eleitorais,
sendo competente para processar e julgar os pedidos de retificação e dados cadastrais da Justiça Eleitoral
(Súmula 368/STJ).
Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por 02 anos, no mínimo, e nunca
por mais de 02 biênios consecutivos.

5.6. Tribunais e Juízes Militares

5.6.1.STM

Possui atribuição para julgar as apelações e os recursos das decisões dos juízes de 1º grau da Justiça
Militar da União.
● O STM NÃO examina matérias provenientes da Justiça Militar Estadual ou distrital.
● COMPOSIÇÃO: 15 Ministros vitalícios, sendo:
▪ 03 dentre oficiais-generais da Marinha, da ativa e do posto mais elevado da carreira;
▪ 04 dentre Oficiais-generais do exército;
▪ 03 dentre Oficiais-generais da aeronáutica;
▪ 05 dentre civis, sendo 03 escolhidos dentre advogados de notório saber jurídico e conduta
ilibada, com mais de 10 anos de atividade profissional, 01 dentre juízes auditores, 01 dentre
membros do MP da Justiça militar.

Serão nomeados pelo Presidente e sabatinados pelo Senado, após aprovação da maioria absoluta.

● REQUISITOS:
▪ Ser brasileiro nato ou naturalizado;

233
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

▪ Ter mais de 35 anos de idade;


▪ PARA CIVIS, mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e menos de 70 anos de idade
(ATENÇÃO – NOVIDADE LEGISLATIVA - EC nº 122/2022 – art. 123, caput, da CR/88)
▪ Para Oficiais-Generais, ser brasileiro nato.

5.6.2. Justiça Militar da União

Com competência exclusivamente penal, incumbe-lhe processar e julgar os crimes militares definidos
em Lei.
É constituída em primeira instância pelos Conselhos de Justiça Militar e, como órgão recursal e de
jurisdição superior, pelo Superior Tribunal Militar.
São Órgãos da Justiça Militar da União:
· STM;
· AUDITORIA DE CORREIÇÃO;
· CONSELHOS DE JUSTIÇA;
· JUÍZES-AUDITORES;
· JUÍZES-AUDITORES SUBSTITUTOS.

Para efeito de Administração da Justiça Militar em tempos de paz, o território nacional de divide em
12 circunscrições judiciárias militares, existindo em cada as correspondentes auditorias (órgão de primeira
instância da Justiça Militar), com jurisdição mista, cabendo conhecer feitos da Marinha, exército e
aeronáutica.

5.7. Tribunais e Juízes dos Estados

· Competência Residual.
· O TJ pode funcionar descentralizadamente, constituindo Câmara Regionais, e possuindo o dever de
instalar a Justiça itinerante.
· É competente para julgar os crimes comuns entre silvícolas.

5.8. Juizados Especiais

A União, no DF e nos Territórios, e os Estados, criarão juizados especiais, providos por juízes togados,
ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e
sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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de juízes de primeiro grau (art. 98, I, CF). A Lei que regula os Juizados Especiais Cíveis e Criminais é a Lei
9.099/95.
A Lei n. 12.153, de 22.12.2009, dispôs sobre os Juizados da Fazenda Pública. Assim, o sistema dos
Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal passou a ser formado pelos:
· JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS;
· JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS;
· JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA.
Em se tratando de Juizados Especiais, de acordo com a lei, o segundo grau de jurisdição é exercido
pelas Turmas Recursais, compostas por três juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição,
reunidos na sede do Juizado (Colégio Recursal). Mais tecnicamente, poderíamos dizer que as Turmas
Recursais funcionam como segunda instância recursal, podendo ser enquadradas como órgãos colegiados de
primeiro grau. Assim, como não se trata de Tribunal, mas de Turma Recursal, o STJ firmou o seguinte
entendimento na Súmula 203: “não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo
grau dos juizados especiais”.
Apesar de não caber recurso especial para o STJ, o STF editou a Súmula 640, afirmando a possibilidade
do RE: “é cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de
alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal”. O art. 102, III, diferentemente do art.
l”. Assim, englobadas estão as causas
105, III, fala em “causa decidida”, e não em “causa decidida por tribuna
decididas por Turma de Colégio Recursal.
E pacífica é a jurisprudência do STJ, materializada na S. 376, editada pela Corte Especial, em
18.03.2009, e que tem o seguinte teor: “compete a Turma Recursal processar e julgar o mandado de
segurança contra ato de juizado especial”, e, analisando os precedentes, mesmo se o ato coator tiver sido
praticado por Juiz da Turma Recursal (cf., no STJ, CC n. 38.020 ou CC n. 39.950).

5.9. CNJ

· COMPOSIÇÃO: 15 MEMBROS, SENDO:


▪ Presidente do STF –Será o Presidente do CNJ;
▪ 01 Ministro do STJ, indicado pelo respectivo Tribunal – será o corregedor do CNJ;
▪ 01 Ministro do TST, indicado pelo respectivo Tribunal;
▪ 01 Desembargador de TJ, indicado pelo STF;
▪ 01 Juiz Estadual, indicado pelo STF;
▪ 01 Juiz de TRF, indicado pelo STJ;
▪ 01 Juiz Federal, indicado pelo STJ;
▪ 01 Juiz de TRT, indicado pelo TST;
▪ 01 Juiz do Trabalho, indicado pelo TST;

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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▪ 01 membro do MPE, escolhido pelo PGR dentre nomes indicados por órgão competente de
cada instituição estadual;
▪ 02 advogados, indicados pelo CFOAB;
▪ 02 cidadãos, de notável conhecimento jurídico e reputação ilibada.

· Apenas o Ministro do STF será membro nato do STJ, pois todos os demais deverão ser nomeados
pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela Maioria Absoluta do Senado Federal
(Sabatina).
· O Conselho será presidido pelo Presidente do STF e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-
Presidente do STF, e não mais por um Conselheiro por ele indicado.
· O CNJ foi declarado constitucional pelo STF, afinal: (i) integra o Judiciário; (ii) em sua composição, os
integrantes da Magistratura superam a maioria absoluta; (iii) existe a possibilidade de revisão das
decisões do CNJ pelo STF.

· ATRIBUIÇÕES:

✔ Compete ao CNJ o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do


cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhes as medidas do art. 103-B, §4º
CF.

✔ ATENÇÃO: O CNJ NÃO exerce função jurisdicional e seus atos poderão ser revistos pelo STF,
sendo o CNJ órgão meramente administrativo do Judiciário. No entanto, não pode funcionar
o STF como mera sede recursal dos atos do CNJ. Segundo Gilmar Mendes: Não poderia o STF
substituir o CNJ no exame discricionário dos motivos das suas decisões, quando estas NÃO
ultrapassem os limites da legalidade e da razoabilidade. Também decidiu o Supremo que não
cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente
administrativas, o controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário (info 885).

· Importante anotar que a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) para processar e julgar
ações que questionam atos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) limita-se às ações tipicamente constitucionais: mandados de segurança,
mandados de injunção, habeas corpus e habeas data. Isso porque é somente nessas ações que o CNJ
e o CNMP efetivamente figuram no polo passivo, podendo-se afirmar de fato tratar-se de ações
contra o CNJ e o CNMP.

236
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· Os membros do CNJ têm prerrogativa de foro. Assim, juiz estadual ou cidadão podem cometer crime
de responsabilidade, desde que seja membro do CNJ. Para infrações penais comuns, será apurada
seguindo a regra individual de prerrogativa de função de cada membro.

STF: As deliberações negativas do CNJ NÃO estão sujeitas a revisão por meio de mandado de segurança
impetrado diretamente no STF, pois o STF NÃO deve ser considerado mera instância revisora das decisões
do CNJ.

STF: Os Estados Membros carecem de competência para instituir, como órgão interno ou externo do
Judiciário, Conselho destinado ao controle da atividade administrativa, financeira ou disciplinar da respectiva
justiça.

Ainda sobre o CNJ, o STF já decidiu que é regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do
Judiciário estadual ou federal, para a condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de
Justiça, ainda que o investigado seja magistrado federal (MS 28513).
Em outra decisão, o STF afirmou que o CNJ possui jurisdição censória, termo utilizado para designar a
atuação do CNJ em matéria correcional, disciplinar e/ou administrativa, voltada para apurar a
o das sanções devidas.
responsabilidade disciplinar de magistrados (à exceção do próprio STF) e aplicaçã

Veja os informativos relevantes sobre o tema:


Se o Tribunal aplica censura para magistrado que praticou conduta grave, essa
decisão enseja revisão disciplinar do CNJ por ser contrária ao texto expresso da
lei considerando que o art. 44 da LOMAN afirma que a censura será aplicada se a
infração não justificar punição mais grave. O Conselho Nacional de Justiça pode
proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde que
observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1
ano (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a
revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o procedimento. A Constituição
Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para
propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de
terceiros e até mesmo de ofício. As hipóteses de cabimento da revisão estão
elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê que cabe a
revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei. Se o Tribunal aplica
a pena de censura para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão
enseja revisão disciplinar por ser contrária ao texto expresso da lei. Isso porque,
segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se a

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

O STF entende que não é possível a revisão do mérito das decisões do CNJ, cujos
atos e procedimentos estão sujeitos apenas ao controle de legalidade daquela
Corte. O STF entende que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões
do CNJ. Assim, os atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle
de legalidade por parte do STF. O mandado de segurança não se presta ao reexame
de fatos e provas analisados pelo CNJ no processo disciplinar. A LOMAN não
estabelece regras de prescrição da pretensão punitiva por faltas disciplinares
praticadas por magistrados. Diante disso, deve ser feita a aplicação subsidiária da
Lei nº 8.112/90. STF. 2ª Turma. MS 35540/DF e MS 35521/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgados em 12/3/2019 (Info 933).

STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no caso de prisão de
adolescente em cela masculina no Pará
Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponibilidade (art. 42, IV,
da LC 35/79) à magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente
mulher estava presa em uma mesma cela com homens, demora a tomar as
providências necessárias para corrigir essa situação e, além disso, procura se eximir
de responsabilidade produzindo documento falso com data retroativa, na tentativa
de comprovar que teria adotado providências que, na realidade, não adotou. STF.
1ª Turma. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 5/2/2019 (Info 929).

O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes


interessadas não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal
Caso concreto: foi instaurado procedimento de controle administrativo (PCA) no
CNJ para apurar a regularidade de 300 serventias judiciais. O impetrante alega a
nulidade do PCA pelo fato de haver um grande número de interessados no mesmo
processo, defendendo a ideia de que deveria ser um procedimento para cada parte.
O STF não concordou com o mandado de segurança impetrado e manteve a decisão
do CNJ. O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de
partes interessadas não significa, necessariamente, violação ao devido processo
legal, ao contraditório e à ampla defesa. O prejuízo à defesa deve ser analisado
concretamente, à luz das especificidades do caso. No caso concreto, tendo em vista

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

que todos os interessados foram intimados para se manifestarem no processo e o


que CNJ enfrentou de maneira detida as teses jurídicas por eles apresentadas, não
há que se falar em anulação do ato impugnado. Como regra geral, o controle dos
atos do CNJ pelo STF somente se justifica nas hipóteses de: a) inobservância do
devido processo legal; b) exorbitância das competências do Conselho; e c)
injuridicidade ou manifesta irrazoabilidade do ato impugnado. No caso concreto,
não se identifica nenhuma dessas três situações. Logo, não há motivo para a
anulação da decisão do CNJ. STF. 1ª Turma. MS 28495/PR, Rel. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/11/2018 (Info 923).

CNJ pode avocar PAD que tramita no Tribunal se não há quórum suficiente para
se atingir maioria absoluta. O TRF condenou juiz federal à pena de aposentadoria
compulsória. Ocorre que, em virtude de alguns Desembargadores terem se
averbado suspeitos, este juiz foi condenado com um quórum de maioria simples. O
CNJ reconheceu a irregularidade da proclamação do resultado e anulou o
julgamento de mérito realizado pelo TRF. Isso porque o art. 93, VIII e X, da CF/88
exige quórum de maioria absoluta do tribunal. Ocorre que o CNJ, após anular o
idiu avocar o processo administrativo
julgamento de mérito realizado pelo TRF, dec
para que o magistrado fosse julgado diretamente pelo Conselho. O juiz impetrou
MS contra essa avocação, mas o STF afirmou que o CNJ agiu corretamente. A
Constituição, expressamente, confere ao CNJ competência para avocar processos
de natureza disciplinar em curso contra membros do Poder Judiciário. Assim, não
há óbice para que o CNJ anule o julgamento do Tribunal e inicie lá um outro
procedimento. Uma das causas legítimas de avocação de procedimentos
administrativos pelo CNJ é justamente a falta do quórum para proferir decisão
administrativa por maioria absoluta em razão de suspeição, impedimento ou falta
de magistrados. O CNJ poderia ter devolvido o processo ao TRF2, mas optou por
exercer sua competência concorrente, dentro da discricionariedade conferida pela
Constituição, para julgar o processo e evitar novas questões de suspeição e
impedimento. STF. 1ª Turma. MS 35100/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

CNJ não pode examinar controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário
Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são
exclusivamente administrativas, o controle de controvérsia que está submetida à

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

apreciação do Poder Judiciário. STF. 1ª Turma.MS 28845/DF, Rel. Min. Marco


Aurélio, julgado em 21/11/2017 (Info 885).

Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do Conselho


Nacional de Justiça, por não se tratar de ato que importe a substituição ou a revisão
do ato praticado por outro órgão do Judiciário. Assim, o STF não tem competência
para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ.
Como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, o Conselho não decidiu
nada. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato,
não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no STF. Em razão do exposto, não
compete ao STF julgar MS impetrado contra decisão do CNJ que julgou
improcedente pedido de cassação de um ato normativo editado por vara judicial.
STF. 2ª Turma. MS 33085/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/09/2016 (Info
840).
Fonte: Dizer o Direito

4.10 Teto de subsídio x Teto Remuneratório

Art. 37, CR. (...) XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e
empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos
membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito,
e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado
a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
Defensores Públicos; (...)
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos
Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas
Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e


vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos
Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.

O inciso XI e o § 12 do art. 37 da CR instituíram dois “tetos” para os membros do Poder Judiciário:


▪ Membros do Poder Judiciário da União: o teto seria o subsídio dos Ministros do
STF;
▪ Membros do Poder Judiciário dos Estados: o teto seria 90,25% do subsídio dos
Ministros do STF (seria uma espécie de “subteto”)

O CNJ, ao regulamentar a matéria, estabeleceu que nos órgãos do Poder Judiciário dos Estados, o
teto remuneratório constitucional é o valor do subsídio de Desembargador de TJ, que NÃO pode exceder
90,25% do subsídio mensal de Ministro do STF.
Em 2007, a AMB ajuizou ADI questionando essa diferenciação. À época, o Supremo, por maioria,
deferiu a liminar pleiteada, para dar interpretação conforme à Constituição ao art. 37, XI e § 12, , bem como
para suspender a eficácia do art. 2º da Resolução 13/2006 e do art. 1º, parágrafo único, da Resolução 14, do
CNJ, que regulamentavam esse subteto.
Em 2020, o Plenário do STF confirmou a medida cautelar anteriormente deferida e julgou procedente
o pedido formulado para dar interpretação conforme à CF/88 ao art. 37, XI (redação dada pela EC 41/2003)
e § 12 (incluído pela EC 47/2005), da CF/88, a fim de afastar a submissão dos membros da magistratura
estadual da regra do subteto remuneratório e declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Resolução
13/2006 e do art. 1º, parágrafo único, da Resolução 14/2006, ambas do Conselho Nacional de Justiça.
Não é possível o estabelecimento de subteto remuneratório para a magistratura
estadual inferior ao teto remuneratório da magistratura federal. A correta
interpretação do art. 37, XI e § 12, da Constituição Federal exclui a submissão dos
membros da magistratura estadual ao subteto de remuneração. STF. Plenário. ADI
3854/DF e ADI 4014/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 4/12/2020 (Info
1001).

Para o STF, o caráter unitário da magistratura nacional, determinado pela CF/88, sujeita todos os
magistrados — federais e estaduais, da justiça comum e da justiça especializada — a princípios e normas que
devem ser idênticos para todos, de modo a preservar sua unidade sistêmica. O art. 93, V, da CF/88, revela
expressamente o caráter nacional da estrutura judiciária brasileira, inclusive no escalonamento vertical dos
subsídios.

241
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Art. 93, CR. (...) V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá
a noventa e cinco por cento (95%) do subsídio mensal fixado para os Ministros do
Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em
lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias
da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser
superior a dez por cento (10%) ou inferior a cinco por cento (5%), nem exceder a
noventa e cinco por cento (95%) do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais
Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º.

Se a própria Constituição define os mesmos princípios e normas fundamentais para conformar toda
a magistratura, notadamente na disciplina dos subsídios, não há como ela mesma impor tratamento
diferenciado em relação ao teto de vencimentos. Os magistrados federais e estaduais desempenham iguais
funções, submetidos a um só estatuto de âmbito nacional, sem qualquer superioridade de mérito suficiente
a justificar esse tratamento diferenciado.
A fim de facilitar a compreensão das disposições contidas no art. 37, inciso XI e §12, colacionamos
abaixo tabela extraída do site “Dizer o Direito”, nos comentários ao Informativo nº 1001 do STF:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Fonte: Site Dizer o Direito


6. SÚMULAS VINCULANTES

· COMPETÊNCIA: STF, de ofício ou por provocação, para edição, revisão e cancelamento.


· OBJETO: Validade, interpretação e eficácia de normas determinadas.
· REQUISITOS PARA A EDIÇÃO: Existência de reiteradas decisões sobre matéria constitucional, em
que haja controvérsia atual que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos de idêntica questão.
· LEGITIMADOS A PROPOR A EDIÇÃO, REVISÃO OU CANCELAMENTO: Além do STF poder de ofício, é
possível por provocação:

A) LEGITIMADOS AUTÔNOMOS: Os mesmos legitimados para a propositura da ADIN + Defensor Público


Geral da União + Tribunais Superiores + TJs dos Estados ou DFT, TRFs, TRTs, TREs e os Tribunais Militares.

B) LEGITIMADOS INCIDENTAIS: Municípios, que só poderão propor a edição, revisão ou cancelamento de


enunciado incidentalmente no curso do processo em que sejam parte, o que NÃO autoriza a suspensão dos
processos.

PROCEDIMENTO:
· A revisão, edição e cancelamento seguem rito específico, NÃO se admitindo a interposição de recurso
extraordinário para esse fim, o uso da ADI ou ADPF.
· Recebendo a proposta de edição, revisão ou cancelamento, a Secretaria Judiciária autuará e
registrará ao Presidente para apreciação, em 05 dias, quanto à adequação formal da proposta.
· O relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a manifestação de terceiros (amicus curiae).
· Preenchendo os requisitos formais, a Secretaria Judiciária publicará edital no Tribunal e no Diário de
Justiça eletrônico para ciência e manifestação de interessados, no prazo de 05 dias, encaminhando
os autos ao PGR para manifestação, salvo nas propostas em que houver formulado.
· Devolvidos com manifestação do PGR, o Presidente submeterá a proposta e manifestações aos
Ministros da Comissão de Jurisprudência, para que se manifestem no prazo comum de 15 dias.
Decorrido o prazo, com ou sem manifestação, será submetida por meio eletrônico aos demais
Ministros, e depois será ordenada a inclusão em pauta para deliberação do pleno.
· A edição, revisão e cancelamento de enunciado de súmula, com efeito vinculante, dependerá da
decisão tomada por 2/3 dos membros do STF, manifestando-se no mesmo sentido pelo menos 08
dos 11 ministros.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

· Após 10 dias após a sessão em que editar, rever ou cancelar a súmula com efeito vinculante, o STF
fará publicar em seção especial do Diário de Justiça Eletrônico e no Diário Oficial da União o
enunciado respectivo.

OBS: A proposta de edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula vinculante NÃO autoriza a
suspensão dos processos em que se discuta a mesma questão.

· Efeitos da súmula: A partir da publicação terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos
do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual,
distrital e municipal.
· STF: Se determinado Tribunal de segundo grau estiver analisando um recurso, ou o juízo
monocrático decidindo determinada questão em relação a fato praticado em momento anterior
à edição da súmula vinculante, deverá necessariamente aplicar o entendimento firmado na
referida súmula, mesmo que se trate de matéria penal e de interpretação menos benéfica.
· O STF pode modular os efeitos, por decisão de 2/3 de seus membros, tendo em vista razões de
interesse público excepcional ou razões de segurança jurídica.
· Revogada ou modificada a lei em que se fundou a edição de enunciado de súmula vinculante,
o STF, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento.
· Da decisão ou ato administrativo de contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe
vigência ou aplica-la indevidamente, caberá reclamação ao STF, sem prejuízo de outros meios
admissíveis de impugnação. NÃO caberá reclamação se a decisão judicial ou ato administrativo
que se pretende atacar for anterior à edição de súmula vinculante, já que a vinculação ocorre a
partir da publicação em Imprensa Oficial.
· Se for omissão ou ato da Administração Pública, o uso da reclamação só será admitido após o
esgotamento das vias administrativas.
· Acolhida a reclamação, será dada ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para
julgamento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em casos
semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas cível, administrativa e penal.
· A lei não fixou sanção ao magistrado em caso de descumprimento de súmula vinculante, garantindo
a liberdade ao magistrado de apreciar a questão. No entanto, se o desrespeito à sumula vinculante
for infundado, doloso e desproporcional, caracterizando violação dos deveres funcionais, viabiliza-
se a abertura de procedimento administrativo disciplinar, com possibilidade de aplicação de
penalidades legais.

Veja as jurisprudências pertinentes sobre o tema:

244
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

(INFO STF 1086) É inconstitucional — por violar a independência do Poder


Judiciário — norma estadual que permite que a Secretaria de Fazenda do estado
retenha, na fonte, as contribuições previdenciárias devidas pelo Poder Judiciário,
e por seus membros e servidores.
São constitucionais normas estaduais que impõem a participação do Poder
Judiciário no financiamento do sistema previdenciário estadual mediante (i) a
cobertura de déficits e o custeio do regime próprio de previdência social; (ii) o
recolhimento da contribuição patronal relativa a seus servidores inativos e
pensionistas; ou (iii) o custeio do abono de permanência dos seus membros e
servidores. ADI 4.859/PI, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

(INFO STJ 765) A revogação ou modificação do ato normativo em que se fundou


a edição de enunciado de súmula vinculante acarreta, em regra, a necessidade de
sua revisão ou cancelamento pelo Supremo Tribunal Federal, conforme o caso.
RE 1.116.485/RS, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em
28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

Não é compatível com a Constituição Federal a regra segundo a qual apenas os


Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos
Tribunais de Justiça
O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos
possíveis candidatos aos órgãos de cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão
especial, é inconstitucional porque desrespeitou a autonomia administrativa dos
tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN
(LC 35/79) não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível
com a Constituição Federal a regra segundo a qual apenas os Desembargadores
mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos tribunais. Essa matéria, em
razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser
remetida à disciplina regimental de cada tribunal. STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS
32451/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 25/6/2020 (Info 983).

Se o Tribunal aplica censura para magistrado que praticou conduta grave, essa
decisão enseja revisão disciplinar do CNJ por ser contrária ao texto expresso da
lei considerando que o art. 44 da LOMAN afirma que a censura será aplicada se a
infração não justificar punição mais grave

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e


membros de tribunais desde que observado o requisito temporal: processos
disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88). Vale
ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue
o procedimento. A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem
legitimidade universal para propositura da revisão disciplinar, que pode ser
instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício. As hipóteses de
cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O
inciso I prevê que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da
lei. Se o Tribunal aplica a pena de censura para um magistrado que praticou
conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao texto
expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de
censura será aplicada “se a infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª
Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro que restringiu o
ingresso de pessoas portando arma de fogo nas dependências do Fórum
tada pelo Juiz Diretor do Foro da Comarca de
Inexiste ilegalidade em portaria edi
Sete Quedas que restringiu o ingresso de pessoas portando arma de fogo nas
dependências do Fórum. STJ. 1ª Turma. RMS 38090-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 10/03/2020 (Info 667).

Para os fins do art. 102, I, “n”, da CF/88, o impedimento deve ser afirmado nos
autos do processo cujo deslocamento se pretende
Existe uma decisão proferida pelo TJ em processo coletivo que beneficia diversos
servidores do Poder Judiciário. Esses servidores começam a ingressar com
execuções individuais pedindo o pagamento dos valores reconhecidos no acórdão
do TJ. João é um deles e ajuíza pedido de cumprimento de sentença. O TJ remete a
execução individual de João para o STF afirmando que mais da metade dos
Desembargadores possui alguma relação de parentesco com outros servidores
beneficiados pela decisão. Logo, para o TJ, a competência para julgar todas as
execuções individuais seria do STF, com base no art. 102, I, “n”, segunda parte, da
CF/88. O STF, contudo, não concordou com a decisão. O STF não é competente para
julgar originariamente a execução de João, pois não há impedimento dos
Desembargadores. Nenhum deles mantêm relação de parentesco com João,
servidor que figura especificamente no processo de execução individual. STF. 1ª

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Turma. AO 2380 AgR/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 25/6/2019 (Info 945).

O STF entende que não é possível a revisão do mérito das decisões do CNJ, cujos
atos e procedimentos estão sujeitos apenas ao controle de legalidade daquela
Corte
O STF entende que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões do CNJ.
Assim, os atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle de
legalidade por parte do STF. O mandado de segurança não se presta ao reexame de
fatos e provas analisados pelo CNJ no processo disciplinar. A LOMAN não
estabelece regras de prescrição da pretensão punitiva por faltas disciplinares
praticadas por magistrados. Diante disso, deve ser feita a aplicação subsidiária da
Lei nº 8.112/90. STF. 2ª Turma. MS 35540/DF e MS 35521/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgados em 12/3/2019 (Info 933).

STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no caso de prisão de
adolescente em cela masculina no Pará
bilidade (art. 42, IV,
Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponi
da LC 35/79) à magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente
mulher estava presa em uma mesma cela com homens, demora a tomar as
providências necessárias para corrigir essa situação e, além disso, procura se eximir
de responsabilidade produzindo documento falso com data retroativa, na tentativa
de comprovar que teria adotado providências que, na realidade, não adotou. STF.
1ª Turma. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 5/2/2019 (Info 929).

Ainda no tocante ao estudo do Poder Judiciário, cumpre destacar o STF reconheceu ser constitucional a
vedação do exercício da advocacia imposta a servidores do Poder Judiciário e do Ministério Público:

São constitucionais as restrições ao exercício da advocacia aos servidores do


Poder Judiciário e do Ministério Público, previstas nos arts. 28, IV, e 30, I, da Lei
nº 8.906/94, e no art. 21 da Lei nº 11.415/2006 (atual art. 21 da Lei nº
13.316/2015). STF, Plenário, ADI 5235/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
11.06.2021 (Info 1021).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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META 5

DIREITO ADMINISTRATIVO: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XLVII, “e”; XLVIII; XLIX;
⦁ Art. 5º, LXXV
⦁ Art. 21, XXIII, “d”
⦁ Art. 37, §5ºe 6º
⦁ Art. 225, § 3º

Código Civil
⦁ Art. 206, § 3º e §5º, I
⦁ Art. 927
⦁ Art. 929 e 930
⦁ Art. 935
⦁ Art. 944 e 945

Outros Dispositivos Legais


⦁ Dec. 20.910/32
⦁ Art. 1º da Lei 9.494/97
⦁ Art. 25, Lei 8987/95
⦁ Art. 14, CDC
⦁ Art. 92, CP
⦁ Art. 66, CPP
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
CF/88
⦁ Art. 5º, LXXV
⦁ Art. 21, XXIII, “d”
⦁ Art. 37, §6º (ler e reler!! É importantíssimo!!)

Código Civil
⦁ Art. 206, § 3º e §5º, I
⦁ Art. 927 e 935

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NÚCLEO DURO

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SEMANA 06/16

Outros Dispositivos Legais


⦁ Art. 10, Dec. 20.910/32
⦁ Art. 1º da Lei 9.494/97
⦁ Art. 92, I, CP
⦁ Art. 66, CPP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de
atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar.

1. INTRODUÇÃO

A responsabilidade civil do Estado consiste no dever de reparação, ou seja, pagamento de


indenização, em razão dos danos causados pela conduta estatal, seja comissiva, omissiva, lícita ou ilícita.
Trata-se da responsabilidade extracontratual, uma vez que a responsabilidade decorrente do
descumprimento de contrato administrativo é estudada na Lei de Licitações e Contratos Administrativos, que
disciplina as consequências da sua ocorrência.
Ressalta-se que, condutas lícitas, amparadas pelo direito, também acarretam o dever de indenizar se
causarem danos desproporcionais a terceiros.
Iremos aprofundar isso adiante, mas, de início, é importante ter em mente que a responsabilidade
civil estatal é baseada na seguinte fundamentação:
∘ Responsabilidade civil decorrente de conduta ilícita fundamenta-se no princípio da legalidade.
∘ Responsabilidade civil decorrente de conduta lícita fundamenta-se no princípio da isonomia.
A responsabilidade civil do Estado é uma técnica de socialização dos danos, que envolve a repartição
dos riscos à luz da isonomia. Isso porque, se a sociedade se beneficia com uma conduta estatal, não seria
adequado um cidadão suportar sozinho um dano dela decorrente. É por isso que essa responsabilidade, em
regra, é de caráter objetivo, dependendo da demonstração apenas da conduta estatal, dano e nexo causal,
o que será detalhado posteriormente.

2. EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Ao longo da história a responsabilidade civil do Estado foi desenvolvida, partindo-se da completa


irresponsabilidade pelos danos causados até o advento da teoria do risco integral. Nesse contexto, foram
elaboradas teorias para explicar as formas de responsabilização estatal, conforme exposto abaixo.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Cuidado: Fique atento a nomenclatura e os fundamentos de cada teoria, bem como quais e quando
tem incidência no Brasil, pois são pontos frequentemente cobrados em provas.

a) Teoria da Irresponsabilidade do Estado


Incidia no tempo dos Estados absolutistas. Já que o monarca editava as leis, o Estado NÃO falhava
(personificação divina do chefe de Estado), de modo que, nessa fase, não se concebia a responsabilização
estatal, ou seja, o Estado não era responsável pelos danos causados aos seus súditos.
Nesse contexto, qualquer ideia de responsabilidade do Estado importaria em violação da soberania
estatal.
Perdurou até por volta do século XX.
Brasil: NÃO houve a fase da irresponsabilidade.

b) Teoria Civilista (Responsabilidade Subjetiva)


A Teoria da Responsabilidade Civil evoluiu e passou a admitir a sua responsabilidade sem a
necessidade expressa de previsão legal, porém sendo fundamental a demonstração da intenção do agente
público (elemento subjetivo: dolo ou culpa). Assim, era necessário identificar o agente causador do dano.
Considerando que o fundamento é a intenção do agente público, deve se comprovar:
i. Conduta do Estado;
ii. Dano;
iii. Nexo de causalidade;
iv. Dolo / Culpa.

Corroborando ao exposto, preleciona Matheus Carvalho:

“Para que se possa admitir a incidência desta teoria, necessita-se da comprovação


de alguns elementos: a conduta do Estado; o dano; o nexo de causalidade e o
elemento subjetivo, qual seja, a culpa ou o dolo do agente. Esses elementos são
indispensáveis para a caracterização da responsabilidade, pois, quando não
observados, podem gerar a exclusão desta responsabilidade”.

Além disso, era preciso distinguir


atos de império e atos de gestão, sendo que só era admitida a
responsabilidade civil decorrente dos atos de gestão. Atos de império são aqueles em que o Estado atua
valendo-se de sua supremacia sobre o particular, enquanto os atos de gestão são praticados sem supremacia,
quando o Estado atua em patamar de igualdade com o particular.
É fase civilista, pois a responsabilização ocorre nos moldes do Direito Civil.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Verifica-se, portanto, que a responsabilização ficava condicionada à identificação pela vítima do


agente público responsável pelo dano e a comprovação de sua culpa, a chamada culpa individual. Esta
identificação, com o decorrer dos anos, tornou-se extremamente onerosa para o particular, o que acabava
por ocasionar uma verdadeira irresponsabilidade estatal.

c) Teoria Publicista (Responsabilidade com Previsão Legal)


Tem origem na França, em 1873, a partir do Caso Blanco7.
Inicialmente, o Estado passa a ser responsável em casos pontuais, sempre que houvesse previsão
legal específica.
As teorias publicistas se desenvolvem posteriormente na teoria da culpa do serviço e teoria do risco.

d) Culpa do serviço (Faute du servisse = Culpa anônima)


A vítima deve apenas comprovar que o serviço foi mal prestado ou prestado de forma ineficiente
ou ainda com atraso, sem necessariamente apontar o agente causador.
NÃO se baseia na diferença entre atos de gestão e atos de império, tampouco na culpa do agente
(culpa individual), mas sim na culpa do serviço como um todo (também chamada de Culpa Anônima). Houve,
portanto, o fim exigência da culpa individualizada e consagração da culpa anônima (culpa presumida).
3 situações caracterizam a culpa do serviço:
1) Ausência do serviço;
2) Má prestação do serviço (serviço prestado de maneira defeituosa);
3) Prestação tardia, intempestiva do serviço.

e) Teoria do Risco (Responsabilidade Objetiva)


Na fase da responsabilidade civil objetiva, não há preocupação com o elemento subjetivo (dolo ou
culpa), seja por parte do agente ou por parte do serviço da administração, bastando-se comprovar a mera
relação causal entre o comportamento do agente público e o dano.
Assim, são elementos da responsabilidade civil:
i. Conduta lícita ou ilícita do agente;

7
A menina Agnès Blanco, ao atravessar uma rua em Bordeaux, foi colhido por uma vagonete da Cia.
Nacional de Manufatura do Fumo; seu pai promoveu ação civil de indenização, com base no princípio de
que o Estado é civilmente responsável por prejuízos causados a terceiros, em decorrência de ação danosa
de seus agentes. Suscitado conflito de atribuições entre a jurisdição comum e o contencioso administrativo,
o Tribunal de Conflitos decidiu que a controvérsia deveria ser solucionada pelo tribunal administrativo,
porque se tratava de apreciar a responsabilidade decorrente de funcionamento do serviço público.
Entendeu-se que a responsabilidade do Estado não pode reger-se pelos princípios do Código Civil, porque
se sujeita a regras especiais que variam conforme as necessidades do serviço e a imposição de conciliar os
direitos do Estado com os diretos privados.
251
NÚCLEO DURO

TURMA 9

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ii. Dano (usuário ou não do serviço);


iii. Nexo causal.

Note que NÃO precisa comprovar DOLO/CULPA. Esse é o grande diferencial da Responsabilidade
Civil Objetiva. Para comprová-la, basta a mera relação causal entre o comportamento de um agente e o
dano.
Surgiu no ordenamento jurídico brasileiro na Constituição de 1946 e foi consagrada na Constituição
de 1988, no art. 37, § 6º (regra geral da responsabilidade);
Teorias legitimadoras:
a) Teoria do risco administrativo;
b) Teoria da repartição dos encargos sociais.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPR 2021): Em face de dano causado por disparo de arma de fogo de agente policial, caso
este não se encontre em serviço, aplica-se a teoria da faute du service para responsabilização do Estado (item
considerado incorreto).

Veja a jurisprudência do STF (informativo 1089):


No caso de vítima atingida por projétil de arma de fogo durante uma operação
policial, é dever do Estado, em decorrência de sua responsabilidade civil objetiva,
provar a exclusão do nexo causal entre o ato e o dano, pois ele é presumido.
(...)
Na espécie, a perícia foi inconclusiva sobre a origem do disparo. A vítima foi
alvejada por projétil de arma de fogo dentro de sua própria casa, enquanto deitado
na cama com sua mãe, quando ocorria incursão de agentes estatais armados, com
disparos de armas de fogo. Assim, ausente a comprovação pelo Estado de caso
fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro ou outra
circunstância interruptiva do nexo causal, mostra-se inafastável o dever de
indenizar (1). STF. ARE 1.382.159 AgR/RJ, relator Ministro Nunes Marques, redator
do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento em 28.3.2023

3. AGENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de


serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos


casos de dolo ou culpa.

Logo, incide sobre todos os agentes que atuam na prestação de serviços públicos:
⋅ Pessoas jurídicas de direito público da administração direta;
⋅ Autarquias e fundações de direito público;
⋅ Empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público (portanto,
excluídas as estatais que exploram atividade econômica);
⋅ Prestadores de serviço público por delegação (concessionárias e permissionárias do serviço
público), hipótese em que o Estado é responsável subsidiariamente.

Cuidado com a pegadinha de prova!


NÃO se trata de responsabilidade solidária, mas sim SUBSIDIÁRIA. Isso porque são PESSOAS JURÍDICAS
AUTÔNOMAS, de modo que a vítima deve executar diretamente a pessoa jurídica responsável pela prestação
e, apenas na falta de patrimônio suficiente desta, o Estado poderá ser acionado.

Questão de 2ª fase prova de Delegado: Um aluno comeu alimento estragado em restaurante da


Universidade. Quem responde pelo dano? R.: Há uma concessão de uso de bem público ao particular, razão
pela qual quem responde é a empresa e não a Universidade.

Jurisprudência sobre o tema:

Estado responde subsidiariamente caso a prova do concurso público seja


suspensa ou cancelada por indícios de fraude; a responsabilidade direta é da
instituição organizadora. O Estado responde subsidiariamente por danos materiais
causados a candidatos em concurso público organizado por pessoa jurídica de
direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são cancelados por
indícios de fraude. STF. Plenário. RE 662405, Rel. Luiz Fux, julgado em
29/06/2020
(Repercussão Geral – Tema 512) (Info 986 – clipping).

União não tem legitimidade passiva em demanda que envolve erro médico e SUS.
A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos
decorrentes de erro médico ocorrido em hospital da rede privada durante
atendimento custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Lei
8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais credenciados ao SUS é

253
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

do Município, a quem compete responder em tais casos. STJ. 1ª Seção. EREsp


1388822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/5/2015 (Info 563).

Conforme o dispositivo constitucional, é necessário que a conduta seja perpetrada por agente
público atuando nessa qualidade. Isso significa que não é preciso que o agente esteja no exercício da função,
atuação mais restrita que a exigida na Lei Maior. Além disso, a expressão utilizada envolve qualquer pessoa
que exerça função pública, independentemente do vínculo com a Administração. Nesse sentido, até mesmo
um voluntário que auxilia o Poder Público pode ensejar dano pelo qual o Estado será responsabilizado.
Para o STJ, o Estado responde por atos de terceirizados contratados por interposta pessoa para
prestar serviços aos Órgãos Públicos (REsp 904127).
O tabelião e o registrador são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o
exercício da atividade notarial e de registro. Logo, na classificação dos agentes públicos, são considerados
particulares em colaboração. Assim, de acordo com o STF, o Estado possui responsabilidade civil direta e
primária pelos danos que tabeliães e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação,
causem a terceiros.

O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais


que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de
regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de
improbidade administrativa. O Estado possui responsabilidade civil direta, primária
e objetiva pelos danos que notários e oficiais de registro, no exercício de serviço
público por delegação, causem a terceiros. STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão geral) (Info 932).

Pergunta-se: As concessionárias e permissionárias de serviço público respondem civilmente, com


fulcro no art. 37, §6º, em relação aos danos causados a quem? Seus usuários ou terceiros?
R.: Inicialmente, destaca-se que a responsabilidade das concessionárias e permissionárias é sempre
objetiva, independentemente da condição da vítima. A discussão é qual o embasamento jurídico da
responsabilidade, sendo que a doutrina e jurisprudência apresentam dois posicionamentos.
1ª posição: O art. 37, §6º da CF disciplina a responsabilidade civil do Estado extracontratual. Logo,
apenas danos a terceiros podem ensejar a responsabilidade estatal objetiva com fulcro no artigo da CF/88.
Essa corrente subdivide da seguinte forma:
● Usuários de serviço público: Possuem relação contratual, logo há responsabilidade civil
contratual do Estado, com fundamento no art. 25, Lei 8987/95 e art. 14 do CDC. Aqui, não
há fundamentação pelo art. 37, §6º da CF/88!

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

● Terceiros: Não há vínculo contratual, logo há uma responsabilidade civil extracontratual


do Estado, com fundamento no art. 37, §6º da CF e art. 25 da Lei 8987/95.

2ª posição (STF): A natureza da responsabilidade civil é sempre objetiva e, independentemente da


condição da vítima, está amparada no art. 37, §6º da CF/88. Isso porque, se a própria CF/88 NÃO
diferencia, NÃO cabe ao intérprete diferenciar.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCSP 2022): As pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos
somente respondem de forma objetiva a danos causados aos usuários do serviço público. (item
considerado incorreto).

Pergunta-se: Parcerias Público-Privadas (PPP) possuem responsabilidade objetiva?


R.: A PPP patrocinada, presta serviço público e, portanto, se encaixa com precisão no art. 37, §6º da
CF. O problema é a PPP administrativa. Isso porque a PPP administrativa pode prestar serviço público,
enquadrando-se no texto constitucional, ou pode prestar serviços administrativos. Nesse caso, a
responsabilidade civil será subjetiva, pautada nas regras da legislação civil.
Nesse sentido, temos:
● PPP patrocinada prestadora de serviço público: responsabilidade civil objetiva, pautada no art. 37,
§6º da CF.
● PPP administrativa prestadora de serviços administrativos: responsabilidade civil subjetiva,
pautada na legislação civil.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Delegado de polícia de estado da Federação, estimulado por amigos em momento
de descontração, apresentou a carteira funcional para entrar, sem pagar, em sofisticado evento esportivo
a do evento que precisava
internacional organizado pela iniciativa privada. O delegado argumentou na entrad
ingressar com um grupo de pessoas para, em conjunto, apurarem eventual prática de ilícitos. Após o
constrangimento causado, o delegado ingressou com mais dez amigos no referido recinto e assistiu ao evento
sem ser importunado. Alguns dias depois, os organizadores do evento ajuízam ação em face do Estado
pedindo que o ente público pague pelos ingressos e indenize os organizadores por danos morais. Tudo com
base no art. 37, § 6.º da CF, que prevê a responsabilidade civil objetiva do Estado. Considerando-se essa
situação hipotética, é correto afirmar que o referido artigo da CF é inaplicável à hipótese, haja vista que o

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NÚCLEO DURO

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SEMANA 06/16

delegado, a despeito do seu discurso, não estava no exercício de suas funções públicas. Sem embargo, o
servidor pode responder diretamente pelo prejuízo que causou (item considerado correto).

4. RESPONSABILIDADE OBJETIVA

4.1 Elementos da responsabilidade civil objetiva

a) Conduta (fato administrativo): Deve ser praticado por determinado agente público que atue nesta
qualidade ou que dela se aproveite para causar dano (Teoria da Imputação).
A conduta que enseja a responsabilidade objetiva é a conduta comissiva. Em caso de omissão, a
responsabilidade é subjetiva (conforme a doutrina majoritária que será aprofundada adiante).
A conduta pode ser ilícita ou lícita (causadora de danos desproporcionais).
● Para condutas ILÍCITAS: fundamento na legalidade.
● Para condutas LÍCITAS: fundamento na isonomia. A doutrina admite em duas situações:
i. Expressa previsão legal. Ex.: responsabilidade da União por danos provocados por
atentados terroristas contra aeronaves de matrícula brasileira;
ii. Sacrifício desproporcional ao particular. Ex.: determinação estatal de que em uma rua no
centro da cidade não será possível a circulação de carros, de modo que o dono de um
estacionamento rotativo tem sua atividade econômica inviabilizada.

Teoria do duplo efeito dos atos administrativos: ocorre quando um mesmo ato administrativo causa dano
específico, anormal a uma pessoa e para a outra NÃO causa dano passível de indenização.

b) Dano:
É indispensável o dano jurídico, ou seja, dano tutelado pelo direito, ainda que exclusivamente moral.
Na hipótese de danos decorrentes de atos lícitos, é necessário comprovar que os danos são anormais
e específicos. Isso porque, diante do risco social, danos normais e genéricos, que decorram de condutas
lícitas do Poder Público, NÃO ensejam responsabilidade civil do Estado.
O ressarcimento engloba os danos morais e materiais (dano emergente ou lucro cessante). Além
disso, conforme entendimentos sumulados do STJ:

Súmula n. 43: Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data
do efetivo prejuízo.
Súmula n. 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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c) Nexo de causalidade
Em regra, o Brasil adotou a teoria da causalidade adequada, em que o Estado responde desde que
a sua conduta tenha sido determinante para o dano causado ao agente.
A responsabilidade civil do Estado pressupõe:
i. Previsibilidade do evento danoso;
ii. Evitabilidade do evento danoso.

Condutas posteriores, alheias à vontade do Estado, apesar de causar dano a terceiro, implicam na
incidência da teoria da interrupção do nexo causal, a excluir a responsabilidade estatal, quando configurado
caso fortuito, força maior, culpa exclusiva.

Teorias do nexo de causalidade:


a) Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non): Todos os antecedentes que
contribuírem de alguma forma para o resultado são equivalentes, considerados causas do dano. A
eliminação hipotética de uma dessas condições afastaria a ocorrência do resultado. Crítica: regresso
ao infinito do nexo de causalidade.
b) Teoria da causalidade adequada: Considera causa do evento danoso aquela que, em abstrato, seja
a mais adequada para a produção do dano.
c) Teoria da interrupção do nexo causal: Os antecedentes do resultado NÃO se equivalem e apenas o
evento que se vincular direta e imediatamente com o dano será considerado causa necessária do
dano. Adotada no art. 403 do CC.

Interrupção do nexo causal:


1) Fato exclusivo da vítima: A vítima, sozinha, deu causa ao evento danoso sem qualquer colaboração
(ativa ou passiva) por parte do Estado. Ausência de nexo causal.

É objetiva a Responsabilidade Civil do Estado em relação a profissional da


imprensa ferido por agentes policiais durante cobertura jornalística, em
manifestações em que haja tumulto ou conflitos entre policiais e manifestantes.
Cabe a excludente da responsabilidade da culpa exclusiva da vítima, nas
hipóteses em que o profissional de imprensa descumprir ostensiva e clara
advertência sobre acesso a áreas delimitadas, em que haja grave risco à sua
integridade física. STF. Plenário. RE 1209429/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator
do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/6/2021 (Repercussão Geral
– Tema 1055) (Info 1021).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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2) Fato de terceiro que não possui vínculo com o Estado: Quem causou o dano foi terceiro. Ex.:
arremesso de pedras por terceiros contra passageiros.

Concessionária de rodovia não responde por roubo e sequestro ocorridos nas


dependências de estabelecimento por ela mantido para a utilização de usuários.
A segurança que a concessionária deve fornecer aos usuários diz respeito ao bom
estado de conservação e sinalização da rodovia. Não tem, contudo, como a
concessionária garantir segurança privada ao longo da estrada, mesmo que seja
em postos de pedágio ou de atendimento ao usuário. O roubo com emprego de
arma de fogo é considerado um fato de terceiro equiparável a força maior, que
exclui o dever de indenizar. Trata-se de fato inevitável e irresistível e, assim, gera
uma impossibilidade absoluta de não ocorrência do dano. STJ. 3ª Turma. REsp
1749941-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/12/2018 (Info 640).

Cuidado: O STF já reconheceu a responsabilidade civil da concessionária que


administra a rodovia por FURTO ocorrido em seu pátio: STF. 1ª Turma. RE
598356/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

O Estado poderá ser responsabilizado quando configurada a sua omissão.

Reconhecida a responsabilidade estatal por acidente com evento morte em


rodovia, é devida a indenização por danos materiais aos filhos menores e ao
cônjuge do de cujus.
Presentes os elementos necessários para responsabilização do Estado pelo evento
morte, deve-se reconhecer devida a indenização por danos materiais, visto que a
dependência econômica dos cônjuges e filhos menores do de cujus é presumida,
dispensando a demonstração por qualquer outro meio de prova. STJ. 1ª
Turma.REsp 1709727-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2022
(Info 733).

3) Caso fortuito e força maior: Podem decorrer da ação humana ou de eventos da natureza, sendo
imprevisíveis, inevitáveis e estranhos à vontade das partes.
Há autores que diferenciam o caso fortuito da força maior, e só admitem a força maior como causa
excludente. Nesse sentido, Maria Sylvia Di Pietro sustente que força maior decorre de ação da natureza
(ato externo) e o caso fortuito decorre de ato humano ou falha da natureza. Somente a força maior

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

excluiria a responsabilidade do Estado. Contudo, esse entendimento não encontra ressonância no STF,
que afasta a responsabilidade do Estado nas duas hipóteses.
Além disso, a doutrina vem diferenciando o fortuito externo (risco estranho à atividade) do fortuito
interno (risco inerente ao exercício da própria atividade). Para aqueles que fazem essa distinção apenas
no fortuito externo o Estado NÃO será responsabilizado. Ou seja: há exclusão do nexo causal no caso
fortuito externo.
Em caso de omissão do Estado, ainda que verificada situação de caso fortuito ou força maior, o Poder
Público poderá ser responsabilizado. Ex.: chuva forte que causa enchente na cidade, quando o Estado
negligenciou o serviço de limpeza dos bueiros.
4) Causas excludentes e atenuantes: Ocorre quando duas causalidades contribuem para o resultado
danoso. Fala-se em culpa concorrente da vítima e do Estado. Nesse caso, ainda há responsabilidade
estatal, mas que deve ser graduada no caso concreto.

OBS.: Para o STJ a existência de lei específica que rege a atividade militar (Lei n. 6.880/1980) não isenta a
responsabilidade do Estado pelos danos morais causados em decorrência de acidente sofrido durante as
atividades militares.

4.2 Fundamentos da responsabilidade civil objetiva

● Teoria do Risco Administrativo


● Teoria do Risco integral
● Teoria da Repartição dos encargos sociais ou da repartição social dos encargos
● Princípio Republicano

4.2.1. Teoria do Risco Administrativo

É a teoria adotada como regra para os casos de responsabilidade civil objetiva do Estado.
Aquele que desempenha uma atividade de risco responde de forma objetiva. As atividades estatais
possuem um risco inerente, e se o Estado assume esta atividade, na hipótese de sobrevir um dano ou prejuízo
ao particular, havendo um nexo causal entre o dano e a atividade do Estado, ele vai ter que indenizar o
particular.
Responsabiliza o ente público, objetivamente, pelos danos que seus agentes causarem a terceiros,
mas admite a exclusão se ausente um dos elementos dessa responsabilidade.

4.2.2. Teoria do Risco Integral

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Parte da premissa de que o ente público é o garantidor universal e a simples existência do dano e
nexo causal é suficiente para que surja a obrigação de indenizar.
Responsabilização absoluta do Estado por danos ocorridos em seu território, de modo que a teoria
do risco integral NÃO admite as hipóteses de excludentes de nexo causal.
Ex.:
. Atividade nuclear (art. 21, XXIII, “d”, da CF/88);
. Danos ao meio ambiente (art. 225, § 3º da CF/88);
. DPVTA (nesse caso, a seguradora fica no polo passivo);
. Crimes a bordo de aeronaves no espaço aéreo brasileiro e danos decorrentes de ataques terroristas.

4.2.3. Teoria da Repartição dos Encargos Sociais

Em apreço à isonomia, a coletividade que se beneficia com as atividades administrativas


desenvolvidas tem o ônus de ressarcir aqueles que sofreram danos em razão da mesma atividade. Ou seja:
os ônus inevitáveis de benefícios proporcionados à coletividade têm que ser suportados (proporcionalmente)
por todos os beneficiários. Se a distribuição do dano for desproporcional (alcançando um ou apenas um
grupo determinado de indivíduos) nasce o dever de ressarcimento com base na teoria.
É utilizado pela doutrina majoritária para legitimar a responsabilização objetiva do Estado pelos
danos decorrentes de um ato lícito estatal.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCSP 2022): Ainda que a conduta estatal seja lícita, ficará caracterizada a responsabilidade
do Estado quando comprovada a ilicitude do dano. (item considerado correto).

4.2.4. Princípio Republicano

Um dos principais fundamentos da responsabilidade objetiva é o princípio republicano, o qual prevê


que não existem atos pelos quais o Estado não pode ser responsabilizado.
Muitas vezes não é possível identificar o agente público responsável pelo ato danoso. Se um deles
comete um ato ilegal no exercício da operação e causa um dano, como será identificado? É impossível. Essa
impossibilidade de identificação poderia ensejar uma hipótese de irresponsabilidade estatal, voltando às
teorias monarquistas da responsabilidade civil, segundo as quais o rei nunca erra.

5. RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

A doutrina diverge sobre a natureza da responsabilidade civil nos casos de omissão estatal. Também
há oscilação na jurisprudência:
1ª Corrente: responsabilidade objetiva, pois o art. 37 NÃO faz distinção entre condutas comissivas e
omissivas. Assim, para essa corrente, as duas espécies de atos (comissivos e omissivos) estariam sob a égide
a responsabilidade objetiva, independente de culpa. (Hely Lopes Meirelles)
2ª Corrente: responsabilidade subjetiva, com presunção de culpa do poder público, tendo em vista
que na omissão o Estado NÃO é causador do dano (ou seja: a omissão não causa nada), mas atua de forma
ilícita (com culpa) quando descumpre o dever legal de impedir a ocorrência do dano. Para essa corrente,
deve-se demonstrar que o agente que se omite viola o dever objetivo de cuidado. (Di Pietro, Celso Antônio
Bandeira de Melo, Carvalho Filho e precedentes do STJ).

STJ: A responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, devendo


ser comprovados a negligência na atuação estatal, o dano e o nexo de causalidade.

Existência de cadáver em decomposição em reservatório de água. Foi encontrado


um cadáver humano em decomposição em um dos reservatórios de água que
abastece uma cidade. Determinado consumidor ajuizou ação de indenização contra
a empresa pública concessionária do serviço de água e o STJ entendeu que ela
deveria ser condenada a reparar os danos morais sofridos pelo cliente. Ficou
configurada a responsabilidade subjetiva por omissão da concessionária
decorrente de falha do dever de efetiva vigilância do reservatório de água. Além
disso, restou caracterizada a falha na prestação do serviço, indenizável por dano
moral, quando a Companhia não garantiu a qualidade da água distribuída à
população. O dano moral, no caso, é in re ipsa, ou seja, o resultado danoso é
presumido. STJ. 2ª Turma. REsp 1492710-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado
em 16/12/2014 (Info 553).

Importa ressaltar, ainda, que o professor Matheus Carvalho traz uma variação acerca da
responsabilidade subjetiva do Estado por atos omissivos. Para ele, a responsabilidade é subjetiva, mas não
com base na teoria civilista (direito privado), mas sim com base na “culpa do serviço”, de modo que o Estado
responderá pelo dano desde que o serviço público não funcione quando deveria funcionar ou funcione de
forma tardia. Em suas palavras:

“Ressalte-se que a Responsabilidade Subjetiva aplicável, neste caso, não é aquela


apresentada ou defendida pela da teoria civilista, ou seja, não depende da
demonstração de dolo ou culpa do agente público, mas sim da responsabilização

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NÚCLEO DURO

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decorrente da Culpa Anônima. Relembre-se que tal teoria entende que a má


prestação do serviço ou a prestação ineficiente geraria a responsabilidade subjetiva
do estado. Nesse caso, para fins de responsabilização do ente público, não se
precisa comprovar a culpa do agente, bastando a comprovação da má prestação de
serviço ou da prestação ineficiente do serviço ou, ainda, da prestação atrasada do
serviço como ensejadora do dano”.

3ª Corrente: diferencia omissão genérica e especifica. Nos casos de omissão genérica, relacionadas
ao descumprimento do dever genérico de ação (relacionado a um dever geral do Estado), a responsabilidade
é subjetiva. Porém, em casos de omissão específica, quando o Estado descumpre dever jurídico específico,
consubstanciado em um dever concreto e individualizado, a responsabilidade é objetiva (Rafael Carvalho,
Cavalieri, doutrina moderna e precedentes do STF).
Rafael Oliveira entende ser a responsabilidade por omissão é objetiva, pois o art. 37, §6º, CRFB NÃO
faz distinção entre responsabilidade por ação e omissão, bem como a inação do Estado colabora para a
consumação do dano. No entanto, somente será possível responsabilizar o Estado nos casos de omissão
específica, ou seja, nos casos em que o Estado tem a possibilidade de prever e evitar o dano (há
previsibilidade e evitabilidade). Nas omissões genéricas, não há responsabilidade estatal, na medida em que
o Estado NÃO é segurador universal.
Essa corrente tem orientado o entendimento do STF.

Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no artigo


5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte de
detento. STF, RE 841526

Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a


responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime
praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o
nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. Diante de tal
indefinição, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vem se orientando no
sentido de que a responsabilidade civil do Estado por omissão também está
fundamentada no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, ou seja, configurado o
nexo de causalidade entre o dano sofrido pelo particular e a omissão do Poder
Público em impedir a sua ocorrência – quando tinha a obrigação legal específica
de fazê-lo – surge a obrigação de indenizar, independentemente de prova da culpa
na conduta administrativa.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Deveras, é fundamental ressaltar que, não obstante o Estado responda de forma


objetiva também pelas suas omissões, o nexo de causalidade entre essas omissões
e os danos sofridos pelos particulares só restará caracterizado quando o Poder
Público ostentar o dever legal específico de agir para impedir o evento danoso, não
se desincumbindo dessa obrigação legal. (RE 841526, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Tribunal Pleno, j. 30/03/2016, Repercussão geral)

Vamos esquematizar?
OMISSÃO GENÉRICA OMISSÃO ESPECÍFICA
Responsabilidade Subjetiva Responsabilidade Objetiva
⦁ Há o descumprimento de um dever ⦁ São as omissões juridicamente relevantes. O
genérico de agir. Estado tem o dever de agir em relação a
⦁ Casos em que não há previsibilidade e determinadas pessoas ou determinadas
evitabilidade do dano. situações.
⦁ Não há nexo causal, não há ⦁ Há previsibilidade e evitabilidade do dano.
responsabilidade do Estado. ⦁ Surge um dever jurídico de evitar o dano.
⦁ Estado não pode ser segurador ⦁ Há responsabilidade objetiva pautada no
universal – não há previsibilidade e art. 37, §6º.
evitabilidade.
⦁ A regra é a adoção do risco
administrativo e não risco integral.

Omissão Genérica Reiterada (Diogo Figueiredo de Moreira Neto)

Omissão genérica é um dever genérico de ação. Ex.: Dever de prestar um bom serviço de esgoto.
Mas todo ano, sabidamente naquela época do ano, chove a mesma quantidade de água e sempre
alaga. E todo mundo sabe que alaga e que ocasiona inúmeros prejuízos.
Nesse caso, parte da doutrina defende que há responsabilidade objetiva. Isso porque não houve
uma violação ao dever de ação genérico, mas sim uma violação reiterada do dever de ação.
Assim, a violação reiterada do dever de ação, consiste no sucessivo
descumprimento do dever
objetivo de cuidado e de ação. Trata-se de uma violação sistemática que quase aproxima da violação
específica, ensejando, portanto, responsabilidade objetiva do estado.
Trata-se de construção doutrinária que ainda não foi enfrentada pelos Tribunais Superiores.

Vamos analisar alguns casos concretos:

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NÚCLEO DURO

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CASO (1): Responsabilidade por omissão e teoria do risco criado (risco suscitado) quando o Estado cria
situações de risco que levam à ocorrência do dano

Nesse caso, o Estado responde objetivamente, ainda que não se demonstre conduta direta de um
agente público ou que haja situação de caso fortuito, bastando a comprovação de que este fortuito só foi
possível ante a custódia do ente estatal (fortuito interno ou caso fortuito). Se o dano for completamente
alheio e independente da situação de custódia, há o fortuito externo ou força maior, que exclui a
responsabilidade civil do estado.
Ressalta-se que a responsabilização dependerá somente da comprovação de que a custódia é uma
condição sem a qual o dano NÃO teria ocorrido, mesmo que situações supervenientes tenham contribuído
para o dano. Aplicação da teoria da conditio sine qua non para responsabilizar o Estado em caso de custódia.
Ex.: O Estado é responsável pela guarda e segurança das pessoas submetidas a encarceramento,
enquanto ali permanecerem detidas. Assim, é dever do Poder Público mantê-las em condições carcerárias
com mínimos padrões de humanidade estabelecidos em lei, bem como, se for o caso, ressarcir os danos que
daí decorrerem.
O dever do Estado de garantir a segurança pessoal, física e psíquica dos detentos é imposto não
apenas no ordenamento nacional, mas também por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
Observe o fundamento constitucional, legal e convencional:
. Constituição Federal: art. 5º, XLVII, “e”; XLVIII; XLIX;
. Lei 7.210/84 (LEP): arts. 10; 11; 12; 40; 85; 87; 88;
. Lei 9.455/97 (Lei de tortura);
. Lei 12.874/2013 (Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura);
. Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas de 1966: art. 2; 7; 10; e 14;
. Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969: art. 5º; 11; 25;
. Princípios e Boas Práticas para a Proteção de Pessoas Privadas de Liberdade nas Américas –
Resolução 01/08, aprovada em 13 de março de 2008, pela Comissão Interamericana de Direitos
Humanos;
. Convenção da ONU contra Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes de 1984;
. Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros – adotadas no 1º Congresso das Nações Unidas
para a Prevenção ao Crime e Tratamento de Delinquentes de 1955.

A jurisprudência do STF entende que o Estado possui responsabilidade objetiva pela integridade
física e psíquica daqueles que estão sob sua custódia.

Estado deve indenizar preso que se encontre em situação degradante


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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em


seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento
jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a
obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de
encarceramento. STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red.
p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).

A conduta do hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança e, por


conseguinte, despreza o dever de zelar pela incolumidade física dos seus pacientes
contribuiu de forma determinante e específica para o homicídio praticado em suas
dependências, afastando-se a alegação da excludente de ilicitude, qual seja, fato
de terceiro. STJ. 2ª Turma. REsp 1708325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
24/05/2022 (Info 740).

Assim, ocorrido o dano e estabelecido o nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus
agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.

Aprofundando para prova discursiva

NÃO aplicação do princípio da reserva do possível. Segundo esse princípio, os recursos públicos são
limitados e as necessidades ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado atender a
todas as demandas sociais.
Ocorre que só faz sentido considerar este princípio em ações judiciais nas quais está sendo pleiteada
a implementação de direitos fundamentais a prestações, especialmente direitos de natureza social (ex.:
saúde, educação etc.). Em tais casos, discute-se se é possível conceder o direito suscitado mesmo que não
haja, em tese, capacidade financeira do Estado.
Aqui, contudo, a situação é diferente. Neste caso, a matéria jurídica se situa no âmbito da
responsabilidade civil do Estado de responder pelos danos causados por ação ou omissão de seus agentes,
nos termos previstos no art. 37, § 6º, da CF/88. Trata-se de dispositivo autoaplicável (de eficácia plena), que
não depende de lei ou de qualquer outra providência administrativa. Ocorrendo o dano e estabelecido o seu
nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.

CASO (2): Responsabilidade civil do Estado por morte de detento (caso peculiar que depende das
circunstâncias do caso concreto e passou por evolução jurisprudencial)

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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Em um primeiro momento, o STF entendia que a responsabilidade civil do estado em caso de suicídio
de preso era objetiva, por ter ocorrido dentro de estabelecimento prisional mantido pelo Estado, com base
na teoria do risco criado (Info 520 de 2013).
No entanto, em um segundo momento, o STF passou a decidir no sentido de que somente ocorreria
a responsabilização objetiva do Estado em caso de morte de detento quando houvesse a inobservância do
dever específico de proteção, previsto no art. 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal (RE 841526/RS).
Vale ressaltar, no entanto, que a responsabilidade civil neste caso, apesar de ser objetiva, é regrada
pela teoria do risco administrativo. Desse modo, o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ficar
demonstrado que ele não tinha a efetiva possibilidade de evitar a ocorrência do dano. Nas exatas palavras
do Min. Luiz Fux: "sendo inviável a atuação estatal para evitar a morte do preso, é imperioso reconhecer que
se rompe o nexo de causalidade entre essa omissão e o dano. Entendimento em sentido contrário implicaria
a adoção da teoria do risco integral, não acolhida pelo texto constitucional".
Assim, atualmente, de acordo com a jurisprudência dominante, temos que em regra, o Estado é
objetivamente responsável pela morte de detento. Isso porque houve inobservância de seu dever específico
de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da CF/88. Contudo, excepcionalmente, o Estado poderá ser
dispensado de indenizar se ele conseguir provar que a morte do detento não podia ser evitada. Neste caso,
rompe-se o nexo de causalidade entre o resultado morte e a omissão estatal.
Ex.: Imagine que um detento está doente e precisa de tratamento médico. Ocorre que este não lhe
é oferecido de forma adequada pela administração penitenciária. Há claramente uma violação ao art. 14 da
LEP. Neste caso, se o preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado objetivamente, considerando que
houve uma omissão específica e o óbito era plenamente previsível.
Ex.2: Suponha, no entanto, que o preso estivesse bem e saudável e, sem qualquer sinal anterior,
sofre um mal súbito no coração e cai morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda hipótese,
o Poder Público não deverá ser responsabilizado por essa morte, já que não houve omissão estatal e este
previsibilidade e
óbito teria acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade. NÃO havia, nesse caso,
evitabilidade.

O STF fixou a seguinte tese em sede de repercussão geral:

Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º,


inciso XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento. STF. Plenário.
RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral) (Info
819).

Veja a decisão do STJ no mesmo sentido:

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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(...) 2. A decisão monocrática deu provimento ao apelo nobre para reconhecer a


responsabilidade civil do ente estatal pelo suicídio de detento em estabelecimento
prisional, sob o argumento de que esta Corte Superior possui jurisprudência
consolidada no sentido de que seria aplicável a teoria da responsabilização objetiva
ao caso. 3. O acórdão da repercussão geral é claro ao afirmar que a
responsabilização objetiva do Estado em caso de morte de detento somente ocorre
quando houver inobservância do dever específico de proteção previsto no art. 5º,
inciso XLIX, da Constituição Federal. 4. O Tribunal de origem decidiu de forma
fundamentada pela improcedência da pretensão recursal, uma vez que não se
conseguiu comprovar que a morte do detento foi decorrente da omissão do Estado
que não poderia montar vigilância a fim de impedir que ceifasse sua própria vida,
atitude que só a ele competia. 5. Tendo o acórdão recorrido consignado
expressamente que ficou comprovada causa impeditiva da atuação estatal
protetiva do detento, rompeu-se o nexo de causalidade entre a suposta omissão
do Poder Público e o resultado danoso. Com efeito, o Tribunal de origem assentou
que ocorreu a comprovação de suicídio do detento, ficando escorreita a decisão
que afastou a responsabilidade civil do Estado de Santa Catarina.
6. Em juízo de retratação, nos termos do art. 1.030, inciso II, do CPC/2015, nego
provimento ao recurso especial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
08/02/2018.

CASO (3): Acidente em lojas de fogos de artifícios

Para que o Município seja responsável por acidente em loja de fogos de artifício, é necessário
comprovar que ele violou dever jurídico específico de agir. Ou seja, que concedeu licença sem as cautelas
legais ou tinha conhecimento de irregularidades que estavam sendo praticadas pelo particular.

Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos


decorrentes do comércio de fogos de artifício, é necessário que exista a violação de
um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quando for concedida a licença
para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do
poder público eventuais irregularidades praticadas pelo particular.
STF. Plenário. RE 136861/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 11/3/2020 (repercussão geral – Tema 366) (Info
969).

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NÚCLEO DURO

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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPR 2021): O Estado será responsabilizado em caso de acidente em comércio de fogos de
artifício quando forem de conhecimento do poder público eventuais irregularidades praticadas pelo
particular (item considerado correto).

CASO (4): Fuga do preso e prática de crimes

Para o STJ o Estado NÃO responde civilmente por atos ilícitos praticados por foragidos do sistema
penitenciário, SALVO quando os danos decorrem direta ou imediatamente do ato de fuga.
De acordo com a teoria da causalidade direta/imediata, para que haja responsabilidade civil
decorrente da fuga do preso, é necessário que esta esteja imediata e diretamente ligada com o resultado.

Ex.1: A fuga está relacionada ao crime cometido após 2 anos? NÃO. Não há responsabilidade pois não há a
causalidade direta e imediata.
Ex.2: A fuga está relacionada ao crime cometido após 48 horas? SIM. Há responsabilidade objetiva do Estado.

Sobre o tema, a jurisprudência:

Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a


responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado
por pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o nexo causal
direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE 608880,
Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em
– Tema 362) (Info 993).
08/09/2020 (Repercussão Geral

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRN 2021): João cumpria pena em estabelecimento prisional do Estado Alfa quando foi morto
por estrangulamento praticado por outro apenado, sendo certo que, durante o homicídio, praticado no
horário de banho de sol, não interveio qualquer agente penitenciário, presente no local, para tentar impedir
a morte de João. A família do falecido João procurou a Defensoria Pública, que lhe esclareceu que a
Constituição da República de 1988, em seu artigo 5º, inciso XLIX, assegura aos presos o respeito à integridade
física e moral. Assim, seguindo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os filhos de João devem ajuizar
ação indenizatória em face do Estado Alfa, por sua responsabilidade civil objetiva pela inobservância do seu
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NÚCLEO DURO

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dever específico de proteção previsto no citado artigo inciso da Constituição da República de 1988. (item
considerado correto).

CASO (5): Responsabilidade civil do Estado por danos causados em obras públicas

As obras públicas podem ser executadas diretamente ou indiretamente, neste caso, por empresa
contratada. Na execução direta, o Estado responde objetivamente pelos danos causados a terceiros, na
forma do art. 37, § 6°, da CF/88.
Já na execução indireta, a doutrina diverge sobre a responsabilidade civil do Estado:
1ª corrente: O Estado responde diretamente pelos danos causados por empresas por ele
contratadas, uma vez que a obra pública, em última análise, é de sua responsabilidade (Cavalieri Filho).
2ª corrente: É preciso fazer uma distinção entre dano causado pelo simples fato de a obra existir e
o dano oriundo da má execução da obra.
a) No dano pela existência da obra, verifica-se que ela causaria dano mesmo diante da inexistência
de culpa, já que haveria prejuízo independentemente de quem executasse a obra. Por esse
motivo, deve haver responsabilidade direta e objetiva do Estado.
b) No dano pela má execução da obra, é preciso analisar quem executou mal a obra:
⦁ Se a obra não foi bem executada pela Administração Pública: responsabilidade direta e
objetiva do Estado.
⦁ Se a obra não foi bem executada pelo contratado (licitação ou contrato administrativo):
há responsabilidade subjetiva da contratada.

Cuidado: Nessa segunda hipótese, pois, ainda que haja responsabilidade subjetiva da contratada,
poderá haver responsabilidade civil do Estado em 2 hipóteses:
1) Responsabilidade objetiva subsidiária, caso o contratado não tenha subsídio ou patrimônio
para indenizar a vítima.
2) Responsabilidade subjetiva solidária, caso fique demonstrada a omissão do Estado na
fiscalização. Para José Santos Carvalho Filho, a ação deve ser movida apenas contra o empreiteiro,
sem a participação do Estado, nos moldes do direito civil. A responsabilidade do Estado decorre da
omissão na fiscalização (subjetiva).

6. RESPONSABILIDADE DO AGENTE

O art. 37, §6º, CRFB consagra dois regimes jurídicos distintos de responsabilidade:
1) Responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de
direito privado prestadoras de serviços públicos;
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NÚCLEO DURO

TURMA 9

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2) Responsabilidade pessoal e subjetiva dos agentes públicos.

O dano provocado pelo Estado gera para a vítima o direito a indenização que pode ser feita pela via
administrativa ou judicial. Não havendo reparação administrativa, a vítima ingressa com ação judicial em
face do Estado.
Por sua vez, a ação de regresso é a ação do Estado contra o seu agente, causador do dano.
O conceito de agentes públicos, conforme visto, engloba toda e qualquer pessoa no exercício da
função pública, desde que verificada ligação direta entre o dano e o exercício da função pública, ainda que o
servidor esteja fora de sua jornada de trabalho.

OBS.: Se agentes putativos, a responsabilidade funda-se na teoria da aparência. Já se agentes de fato


necessários, a responsabilidade se justifica no funcionamento inadequado do serviço que contribuiu para a
situação emergencial.

Sobre a responsabilidade do agente, há duas correntes:


1ª Corrente (Diogo Moreira, Hely Lopes, STF): Aplica-se a teoria da dupla garantia:
⦁ Primeira garantia: a vítima deve ser ressarcida pelos danos causados pelo Estado,
independentemente de discussão de culpa; e
⦁ Segunda garantia: os agentes públicos só podem ser responsabilizados pelo próprio Estado.

O § 6º do artigo 37 da Magna Carta autoriza a proposição de que somente as


pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que
prestem serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela
reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes,
agindo estes na qualidade
de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Esse mesmo dispositivo
constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do particular,
possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público, ou
de direito privado que preste serviço público, dado que bem maior, praticamente
certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra
garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde
administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se
vincular. Recurso extraordinário a que se nega provimento. RE 327.904 (julgado em
15.08.2006).

270
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização contra o Estado; se este


for condenado, poderá acionar o servidor que causou o dano em caso de dolo ou
culpa; o ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra o agente
público.
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos
causados por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica
de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação
o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de
dolo ou culpa. STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
14/8/2019 (repercussão geral) (Info 947).

2ª Corrente (JSCF, Celso Antônio, Gasparini, Rafael Oliveira): A ação pode ser proposta em face do
Estado, agente público ou ambos, em litisconsórcio passivo. Com isso, haveria a possibilidade de só cobrar
do Estado, só do agente ou do Estado e agente (em litisconsórcio).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022 - adaptada): Maria trafegava em seu carro na Ponte Rio
-Niterói, durante a manhã,
a caminho do trabalho, sentido Rio de Janeiro, quando, em meio ao trânsito lento, foi surpreendida por uma
viatura da polícia civil, que passou de forma brusca e acelerada ao lado de seu veículo, causando um leve
abalroamento, que levou a motorista a colidir contra o veículo à sua frente, o que, afinal, causou graves
danos a esses dois carros. Apesar do acidente e dos danos materiais aos dois veículos, não houve feridos.
Após confeccionar a declaração de acidente de trânsito no site da Polícia Rodoviária Federal, Maria resolveu
comparecer ao plantão da Corregedoria-Geral da Polícia Civil, para noticiar o ocorrido, tendo indicado o
número da unidade policial inscrito na viatura, assim como o horário em que o abalroamento havia
acontecido. Em sua apuração preliminar, a corregedoria identificou os policiais civis que estavam na viatura,
assim como constatou que eles não se dirigiam a nenhuma diligência policial na ocasião, apenas buscavam
fugir do engarrafamento. Após regular sindicância administrativa disciplinar, os policiais foram punidos. Ao
tomar conhecimento do resultado da apuração da Corregedoria-Geral de Polícia Civil, Maria decidiu ajuizar
ação para obter do Estado reparação civil, tendo em vista os danos causados ao seu veículo.
A partir dessa situação hipotética, a ação por danos causados por agente público deve ser ajuizada contra o
Estado ou contra pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para
a ação o autor do ato, em observância ao princípio da dupla garantia, assegurado o direito de regresso contra
o responsável nos casos de dolo ou culpa (item considerado correto).

271
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

(Delegado de PCPR 2021 – Questão Discursiva): Foi questionado, à luz do entendimento do STF, sobre a
possibilidade de ajuizamento de ação contra agente público por danos causados no desempenho de suas
atribuições.

CAIU NA DISCURSIVA – DELEGADO DE POLÍCIA – GOIÁS (2023)


Uma pessoa vinculada à Administração Pública do Município de Goiânia, por meio de contrato de estágio na
Secretaria de Educação, assumiu a direção de um trator de propriedade do Município para utilização em
obras e serviços públicos. Conduzindo esse trator pelas ruas do Município, o estagiário colidiu-o com um
veículo estacionado, veículo este em situação e local regulares, causando graves danos. Considerando esse
caso, responda às questões 1 e 2

Analisando o caso e considerando o tema Ato Administrativo, qual seria o elemento de ato administrativo
que mais se destaca e por quê?
Como se pode classificar o vínculo do estagiário com a administração pública, na qualidade de agente
público? Por quê?
Tendo em vista os fatos apurados, pode-se cogitar de responsabilidade do estagiário? Fundamente.
R.: Os atos administrativos contam com cinco elementos: competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
A competência se refere à atribuição funcional para a prática do ato administrativo; a finalidade é o elemento
de missão institucional do Estado que se pretende atingir com o ato administrativo; a forma corresponde aos
requisitos de composição, procedimento e suporte do ato administrativo; o motivo são as circunstâncias de
fato que levam à prática do ato administrativo; e o objeto constitui-se pelo núcleo de efeitos do ato
administrativo. Certamente, no caso relatado, o elemento de competência se destaca, uma vez que é
evidente que o estagiário não conta com atribuição funcional para a prática dos atos analisados.
Nesse particular, é de se destacar que o estagiário não conta com vínculo de cargo público, reservado aos
agentes estatutários, ou de emprego público, próprio dos agentes celetistas. No entanto, pode-se considerar
que, ao menos para alguns fins –como apuração de responsabilidade –, o estagiário se caracteriza como
agente que exerce função pública, na medida em que, com frequência, exerce atividade própria de agente
público.
Por fim, os fatos tais como descritos permitem sim a caracterização de responsabilidade pessoal do
estagiário. Isto porque o regime jurídico dos agentes públicos, seja em normas específicas ou em previsões
gerais, como o Código Penal e a Lei de Improbidade Administrativa, caracterizam como agente público para
fins de responsabilidade qualquer pessoa que exerça atividade pública por meio de contrato, como é o caso
dos estagiários. Assim, é possível cogitar de responsabilidade civil, penal e administrativa do estagiário no
caso em tela.

272
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Ainda em relação ao caso anteriormente descrito, o proprietário do automóvel e vítima do dano causado
pela colisão pode buscar e obter indenização junto ao Município? Por quê?
Diante das provas presentes e do grau de irregularidade na conduta do estagiário, pode o Município
reconhecer o pleito do proprietário lesado? Por quê?
O eventual direito de o proprietário buscar uma indenização junto ao Município é prejudicado pela condição
de estagiário do condutor do trator? Justifique.

R.: Sem dúvidas, o caso em tela representa hipótese clássica de responsabilidade civil do Estado. Isto porque,
buscando suas raízes no Caso Blancò julgado pelo Conselho de Estado Francês ainda em 1873, o art. 37, § 6º,
da Constituição Federal de 1988, prevê a responsabilidade objetiva do Estado, independente de dolo ou
culpa, bastando que seja demonstrado o nexo causal. Neste particular, os fatos tais como descritos na
questão permitem concluir que há claro nexo causal entre os danos experimentados e a condução em via
pública do trator do Município.
Neste particular, tendo em vista os fatos descritos, em havendo provas suficientes e diante da tamanha
irregularidade consistente em uma máquina ser conduzida em via pública por um estagiário da
Administração e colidir com um veículo estacionado, pode o Município lançar mão do contrato de transação
instituído pelos arts. 840 e seguintes do Código Civil ou de instituto análogo e proceder com a firmatura de
acordo com o proprietário, buscando uma solução consensual e mais econômica para o caso.
Por fim, não há qualquer prejuízo ao direito de indenização do proprietário lesado frente ao Município pelo
fato de o condutor não contar com vínculo de Servidor Público, uma vez que, pelo princípio da aparência, o
ato foi efetivamente praticado pela Administração. Caso assim não fosse, pode-se cogitar ao menos de culpa
in vigilando por parte de agentes municipais, em todos os casos sendo possível ação de regresso pelo
Município em face dos agentes responsáveis.

7. DENUNCIAÇÃO À LIDE DO AGENTE PÚBLICO

Há divergências quanto ao cabimento da denunciação à lide:


1ª Corrente (STJ): É uma faculdade do Estado, de modo que a sua ausência ou o indeferimento NÃO
acarreta a nulidade do processo, nem impede a propositura da ação regressiva em caso de condenação do
Poder Público.

OBS.: O CPC 15 regulamenta a denunciação à lide, prevendo que em nenhum caso será obrigatória
(diferentemente do CPC 73), o que justifica o entendimento do STJ no sentido de que se trata de uma
faculdade.

273
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

2ª Corrente: (Di Pietro): Possibilidade apenas em ação na qual o autor identificar o agente público
causador do dano, imputando-lhe culpa. Assim, não seria cabível quando a responsabilidade for fundada na
culpa anônima, sem individualização do agente causador do dano, pois nesse caso o Estado estaria incluindo
na lide novo fundamento não levantado pelo autor: culpa ou dolo do agente público.
3ª Corrente (JSCF, Diogo Figueiredo, Rafael Oliveira e STF): Impossibilidade de denunciação da lide
pelo Estado, pois a responsabilidade do Estado é objetiva e a do agente público subjetiva, razão pela qual a
denunciação acarretaria a inclusão da discussão de culpa na demanda, prejudicando a celeridade processual.

Doutrina majoritária: NÃO admite, pois geraria ampliação subjetiva do mérito, acarretando ao autor
manifesto prejuízo à celeridade.
STJ: Admite a denunciação, mas o Estado NÃO está obrigado a fazê-la.

8. PRAZO PRESCRICIONAL

8.1. Para a cobrança do particular em face do Estado

Trata-se de outro tema sob o qual pairam divergências:


1ª Corrente (doutrina majoritária e STJ): Tradicionalmente 05 anos (Dec. 20.910/32 + art. 1º da Lei
9.494/97), em razão do critério da especialidade para resolver o conflito normativo. (Di Pietro, Marçal Justen,
Odete Medauar).
É também a posição do STJ (deve ser levada para prova objetiva).

Enunciado 40 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ - Nas ações


indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública aplica-se o prazo prescricional
quinquenal previsto no Decreto nº 20.910/1932 (art. 1º), em detrimento do prazo
trienal estabelecido no Código Civil de 2002 (art. 206, § 3º, V), por se tratar de
norma especial que prevalece sobre a geral.

STJ: O prazo prescricional das ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda


Pública é quinquenal (Decreto n. 20.910/1932), tendo como termo a quo a data do
ato ou fato do qual originou a lesão ao patrimônio material ou imaterial.

Ações contra pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público. É de


5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha
ação de indenização contra concessionária de serviço público de transporte
coletivo (empresa de ônibus). O fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-
274
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

C da Lei 9.494/97 e também no art. 27 do CDC. STJ. 3ª Turma. REsp 1277724


-PR,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/5/2015 (Info 563).

A fundação privada de apoio à universidade pública presta serviço público, razão


pela qual responde objetivamente pelos prejuízos causados a terceiros,
submetendo-se a pretensão indenizatória ao prazo prescricional quinquenal
previsto no art. 1º-C da Lei nº 9.494/97. STJ. 2ª Turma. AREsp 1893472-SP, Rel. Min.
Og Fernandes, julgado em 21/06/2022 (Info 744).

2ª Corrente: 3 anos (previsto no CC), por ser mais benéfico à Fazenda, com base em 2 argumentos:
⋅ Interpretação sistemática e histórica, uma vez que a intenção do legislador ao fixar o prazo
quinquenal era proteger a segurança jurídica e beneficiar o Estado;
⋅ O próprio art. 10 do Decreto 20.910/1932 estabelece que o prazo quinquenal NÃO altera as
prescrições de menor prazo, o que revelaria a aplicação do prazo de 03 anos.

Termo inicial do prazo prescricional

O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização


contra ato do Estado ocorre no momento em que constatada a lesão e os seus
efeitos, conforme o princípio da actio nata. (STJ, Info 507).

Caso o Poder Público tenha reconhecido administrativamente o débito, o termo


inicial do prazo prescricional de 5 anos para que servidor público exija seu direito
será a data desse ato de reconhecimento. Para o STJ, o reconhecimento do débito
implica renúncia, pela Administração, ao prazo prescricional já transcorrido. STJ. 1ª
Turma. AgRg no AgRg no AREsp 51586-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado
em 13/11/2012 (Info 509).

Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e


morte de preso. Ex.: Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi
instaurado inquérito policial para apurar o ocorrido. Qual será o termo de início da
prescrição da ação de indenização por danos morais?
⦁ Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da
prescrição será o trânsito em julgado da sentença penal.

275
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

⦁ Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o
termo inicial da prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento
do IP.
STJ. 2ª Turma. REsp 1443038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em
12/2/2015 (Info 556).

IMPORTANTE: Imprescritibilidade

Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de
atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 10/03/2021.

STJ: As ações indenizatórias decorrentes de


violação a direitos fundamentais ocorridas durante o regime
militar são imprescritíveis, não se aplicando o prazo quinquenal previsto no art. 1o do Decreto n.
20.910/1932.

STJ: São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão
.
de perseguição política praticada na época da ditadura militar
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão de
atos de exceção praticados durante o regime militar. Ex: João era servidor da ALE/PR. Em 1963, João foi
demitido em razão de perseguição política perpetrada na época da ditadura militar. Em 2011, João ajuizou
ação ordinária contra o Estado do Paraná pedindo a sua reintegração ao cargo. Esta pretensão é
considerada imprescritível considerando que envolve a efetivação da dignidade da pessoa humana. Vale
ressaltar, contudo, que a imprescritibilidade da ação que visa reparar danos provocados pelos atos de
exceção não implica no afastamento da prescrição quinquenal sobre as parcelas eventualmente devidas ao
autor. Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de reintegração com imprescritibilidade dos
efeitos patrimoniais e funcionais dela decorrentes, sob pena de prestigiar a inércia do Autor, o qual poderia
ter buscado seu direito desde a publicação da Constituição da República. Em outras palavras, o recebimento
dos “atrasados” ficará restrito aos últimos 5 anos contados do pedido. STJ. 1ª Turma. REsp 1.565.166-PR,
Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/06/2018 (Info 630).

8.2. Para a cobrança do Estado em face do particular

IMPORTANTE: É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil. STF.
Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 3/2/2016 (repercussão geral) (Info 813).

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

As ações propostas pelo Estado buscando o ressarcimento ao erário decorrente de ilícito civil são
prescritíveis. A pergunta que surge em seguida é: Qual o prazo prescricional?
1ª Corrente (Rafael Oliveira, José Santos Carvalho Filho e STF): 3 anos, com base no art. 206, § 3º, V,
do CC (prescreve em três anos a pretensão de reparação civil).

Acórdão mantido pelo STF no (RE 669069/MG). O Tribunal de origem adotou a 1ª corrente
(prazo de 3 anos) e o STF manteve a decisão. Vale ressaltar, no entanto, que o objeto do
recurso extraordinário não era esse, de forma que a questão ainda se encontra em aberto
na Corte. Penso que não é possível afirmar ainda que se trata da posição do STF. No entanto,
como foi trazido no Informativo, poderá ser cobrado nas provas. Fique atento com o
enunciado da questão ("segundo o STF" ou "segundo o STJ").

Rafael Oliveira e José Santos Carvalho Filho: “Entretanto, se o caso é de ilícito civil, a ação é
prescritível, aplicando-se o art. 206, § 3º, V, do Código Civil, que fixa o prazo de três anos. A
regra, pois, é a prescritibilidade da pretensão ressarcitória em nome da segurança jurídica.”

2ª Corrente (Celso Antônio Bandeira de Mello, Maria Sylvia e STJ): 5 anos, aplicando-se, com base
Este dispositivo prevê que o prazo
no princípio da isonomia, o prazo trazido pelo Decreto 20.910/32.
prescricional para ações propostas contra a Fazenda Pública é de cinco anos. Logo, o mesmo prazo deveria
ser aplicado para as ações ajuizadas pela Fazenda Pública.
Posição pacífica do STJ:

4. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a prescrição contra a


Fazenda Pública é quinquenal, mesmo em ações indenizatórias, uma vez que é
regida pelo Decreto 20.910/32, norma especial que prevalece sobre lei geral. (...) 5.
O STJ tem entendimento jurisprudencial no sentido de que o prazo prescricional da
Fazenda Pública deve ser o mesmo prazo previsto no Decreto 20.910/32, em razão
do princípio da isonomia. (...) (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 768.400/DF, Rel. Min.
Humberto Martins, julgado em 03/11/2015)

9. RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS

Em regra, a atuação legislativa NÃO acarreta responsabilidade civil do Estado, já que o caráter
genérico e abstrato das normas jurídicas afasta a configuração dos efeitos (danos) individualizados, principal
óbice à responsabilidade civil. Assim, a responsabilidade civil pode surgir em quatro situações excepcionais:
● Leis com danos desproporcionais;

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

● Leis de efeitos concretos;


● Leis inconstitucionais;
● Omissão legislativa.

1) Lei de caráter geral com dano desproporcional individualizado: Lei de caráter geral que causar dano
desproporcional a determinado indivíduo ou grupo de indivíduos pode configurar responsabilidade
objetiva do Estado, pautada na teoria da repartição dos encargos sociais.

2) Lei de efeitos concretos: Engloba tanto lei em sentido formal, já que a sua produção pelo legislador
observa o processo de criação de normas jurídicas, quanto ato administrativo em sentido material,
em virtude dos efeitos individualizados.
As leis de efeitos concretos podem ocasionar prejuízos a pessoas determinadas, ensejando
responsabilidade objetiva do Estado.
Ex.: lei que determina a transformação de uma rua em travessa de pedestres, impossibilitando o
exercício da atividade econômica de um posto de gasolina lá localizado.

3) Lei declarada inconstitucional: O ato legislativo é ilícito, pois o Estado tem o dever de legislar
conforme a Constituição. No entanto, para que haja responsabilidade civil, o particular deve provar
os danos advindos daquela lei. Deve, portanto, observar 2 requisitos:
i. Comprovação do dano individualizado, do prejuízo concreto pela incidência da norma
inconstitucional;
ii. Declaração de inconstitucionalidade pelo STF, em sede de controle concentrado, em virtude
da presunção de constitucionalidade das leis.

OBS.1: Caso ocorra a modulação dos efeitos em sede de ação de controle de constitucionalidade,
NÃO é possível a responsabilidade civil do Estado, tendo em vista que esta decisão implica no
reconhecimento da legalidade dos efeitos produzidos pela norma inconstitucional.
OBS.2: Parcela da doutrina admite a responsabilização também em caso de inconstitucionalidade
declarada em sede de controle incidental, contudo, nesta hipótese a indenização fica adstrita às partes
atingidas pela decisão.

4) Omissão legislativa: Quando configurada a mora legislativa desproporcional.


Nos casos em que a própria Constituição estabelece prazo para o exercício do dever de legislar, o
descumprimento do referido prazo, independente de decisão judicial anterior, já é suficiente para a
caracterização da mora legislativa inconstitucional a ensejar a responsabilidade estatal. Nos demais casos, a

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

inexistência de prazo impõe a necessidade de reconhecimento judicial da mora legislativa por decisão
proferida em mandado de injunção ou ADI por omissão.

10. RESPONSABILIDADE POR ATOS JURISDICIONAIS

Via de regra, em se tratando de exercício da função jurisdicional, descabe falar em responsabilidade


do Estado por três argumentos:
i. Recorribilidade das decisões judiciais e a coisa julgada;
ii. Soberania;
iii. Independência do magistrado.

OBS.: Quando exerce função administrativa atípica há responsabilidade objetiva.

Contudo, a responsabilidade do Estado por atos judiciais pode ocorrer, de forma excepcional, em
três hipóteses:
● Erro Judiciário: deve ser erro substancial e inescusável.
● Prisão além do tempo fixado na sentença
● Demora na prestação jurisdicional: erro judiciário praticado por omissão, que causa dano
desproporcional.

CF. Art. 5º. LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como
o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

Lembrando que a ação de regresso em face do agente público, em regra, depende da demonstração
-se de juiz, conforme o art. 143, CPC, a responsabilidade da
de dolo ou erro grosseiro. Contudo, tratando
autoridade depende de dolo ou fraude.

1) Erro Judicial: Discute-se se a responsabilidade se restringe ao erro judiciário limitado à esfera penal
ou se é possível a responsabilização do Estado na hipótese de erro judiciário no processo civil:
1ª Corrente (JSCF, Odete Medauar, Diogo Figueiredo Moreira): A responsabilidade restringe-se a
seara penal, inexistindo na área cível.
2ª Corrente (Cavalieri, Rafael Oliveira): A responsabilidade abrange a jurisdição penal e a civil, pois
não teria havido qualquer distinção.

A demora injustificada da Administração em analisar o pedido de aposentadoria do


servidor público gera o dever de indenizá-lo, considerando que, por causa disso, ele

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

foi obrigado a continuar exercendo suas funções por mais tempo do que o
necessário. Exemplo de demora excessiva: mais de 1 ano. STJ. 2ª Turma. AgRg no
REsp 1469301/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 21/10/2014. STJ. 1ª
Turma. AgInt no AREsp 483398/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
11/10/2016.

2) Prisão cautelar e posterior absolvição: Em caso de prisão ilegal, caracteriza-se a atuação ilícita e a
responsabilidade do Estado. Em se tratando de prisão cautelar, há controvérsias:
1ª Corrente (Diogo Moreira, Ruy Rosado de Aguiar): Possibilidade de responsabilização do Estado,
com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana.
2ª Corrente (Cavalieri, Rui Stoco, Rafael Oliveira): Impossibilidade de responsabilidade do Estado,
pois a prisão cautelar, decretada conforme ordenamento jurídico, não configura ato ilícito. Destina-se a
garantir a instrução criminal.

11. RESPONSABILIDADE DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES

Há divergência quanto ao enquadramento da responsabilidade dos notários, ante a dificuldade de


caracterização como agentes públicos do art. 37, da CRFB.
1ª Corrente: Responsabilidade direta e objetiva do Estado, pois notários e registradores exercem
função pública, mediante aprovação em concurso público. A vítima pode acionar o Estado e este tem ação
regressiva em face do titular do cartório.
2ª Corrente (Hely Lopes e Cavalieri): Responsabilidade pessoal e objetiva dos notários e
registradores, em razão da prestação de serviço público delegado, e subsidiária do Estado.
3ª Corrente (Yussef Cahali): Responsabilidade solidária e objetiva dos notários, registradores e
Estado.

STF: Em decisão de 2019 definiu a tese em sede de repercussão geral (posicionamento a ser adotado
em prova objetiva):

O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais


que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de
regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de
improbidade administrativa.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

pelos danos que


O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva
notários e oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação,
causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão
geral) (Info 932).

STJ: Possui decisões conflitantes, ora reconhecendo a responsabilidade pessoal e objetiva do Estado,
ora afirmando a responsabilidade pessoal e objetiva dos notários e registradores e subsidiária do Estado.

12. RESPONSABILIDADE POR ATOS DE MULTIDÕES (ATOS MULTITUDINÁRIOS)

Em regra, os danos causados por atos de multidões NÃO geram a responsabilidade civil do Estado,
ante a ausência do nexo de causalidade, inexistindo omissão estatal causadora do dano.
Excepcionalmente, o Estado será responsabilizado quando comprovada a ciência prévia da
manifestação coletiva e a possibilidade de evitar a ocorrência de danos.

13. RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS

Em sendo o poder público poluidor, por ação ou omissão na fiscalização, caracteriza-se a


responsabilidade civil objetiva e solidária entre poluidores diretos e indiretos.
Discute-se o fundamento dessa responsabilidade:
1ª Corrente (Cahali, Toshio Mukai): Teoria do risco administrativo, admitindo-se a alegação de
causas excludentes do nexo de causalidade pelo poder público, sob pena de transformá-lo em segurador
universal.
2ª Corrente (Paulo Afonso Leme Machado, Cavalieri, STJ): Teoria do risco integral, sendo VEDADA a
alegação de excludentes do nexo causal.

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES
DE VAZAMENTO DE AMÔNIA NO RIO SERGIPE. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO
EM OUTUBRO DE 2008. (...) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva,
informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator
aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida
a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de
responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar.

281
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

REsp 1354536/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 26/03/2014, DJe 05/05/2014.

O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de terceiro capaz de


interromper o nexo causal na reparação por lesão ao meio ambiente
(...) 5. A exoneração da responsabilidade pela interrupção do nexo causal é
admitida na responsabilidade subjetiva e em algumas teorias do risco, que regem
a responsabilidade objetiva, mas não pode ser alegada quando se tratar de dano
subordinado à teoria do risco integral.
6. Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral, colocando-se
aquele que explora a atividade econômica na posição de garantidor da preservação
ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos vinculados à
atividade, descabendo questionar sobre a exclusão da responsabilidade pelo
suposto rompimento do nexo causal (fato exclusivo de terceiro ou força maior).
Precedentes.
7. Na hipótese concreta, mesmo que se considere que a instalação do posto de
combustíveis somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença
ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade da recorrente, que
gera o risco concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade
de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada.
REsp 1612887/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
28/04/2020, DJe 07/05/2020.

Para o STJ, há responsabilidade civil do Estado nas hipóteses em que a omissão de seu dever de
fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento de danos ambientais.

A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva e solidária. E, nos casos em


que o Poder Público concorre para o prejuízo por omissão, a sua responsabilidade
solidária é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência).
O Estado é solidário, objetiva e ilimitadamente responsável, nos termos do art. 14,
§ 1º, da Lei n. 6.938/1981, por danos ambientais decorrentes da omissão do seu
dever de controlar e fiscalizar, nos casos em que contribua, direta ou
indiretamente, tanto para a degradação ambiental em si mesma, como para o seu
agravamento, consolidação ou perpetuação. Em casos tais em que o Poder Público
concorre para o prejuízo por omissão, a sua responsabilidade solidária é de
execução subsidiária (ou com ordem de preferência). AREsp 1.756.656-SP, Rel. Min.

282
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Francisco Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 18/10/2022, DJe


21/10/2022.

14. RESPONSABILIDADE DE AGENTES PÚBLICOS POR ATOS RELACIONADOS COM A PANDEMIA DA COVID-
19

A MP 966/2020 foi publicada no dia 14/05/2020 e dispõe sobre a responsabilização de agentes


públicos por ação e omissão em atos relacionados com a pandemia da covid-19.
O STF foi suscitado a se manifestar sobre o ato normativo e decidiu que a MP é, em princípio,
constitucional, mas deverá ser feita uma interpretação conforme à Constituição.
Desse modo, o Plenário do STF deferiu parcialmente a medida cautelar para:
1) Conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 2º da MP 966/2020, no sentido de estabelecer
que, na caracterização de erro grosseiro, deve-se levar em consideração a observância, pelas
autoridades:
a) de standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por
organizações e entidades internacional e nacionalmente conhecidas;
b) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção;
e, para
2) Conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 1º da MP 966/2020, para explicitar qu
os fins de tal dispositivo, a autoridade à qual compete a decisão deve exigir que a opinião técnica
trate expressamente:
a) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por
organizações e entidades reconhecidas nacional e internacionalmente;
b) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção.

Nesse contexto, foram fixadas as seguintes teses:


1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao
meio ambiente equilibrado ou impactos adversos à economia, por inobservância de normas e critérios
científicos e técnicos ou dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção.
2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que as opiniões técnicas em que baseará sua
decisão tratem expressamente das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como
estabelecidos por organizações e entidades internacional e nacionalmente reconhecidas; e da observância
dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob pena de se tornarem corresponsáveis por
eventuais violações a direitos.

Vale ressaltar que a MP não trata de crime ou de ato ilícito. Assim, qualquer interpretação do texto
impugnado que dê imunidade a agentes públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída.

283
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

STF. Plenário. ADI 6421 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20 e 21/5/2020 (Info 978).

15. JURISPRUDÊNCIA

Jurisprudências relevantes sobre o tema:

Reconhecida a responsabilidade estatal por acidente com evento morte em


rodovia, é devida a indenização por danos materiais aos filhos menores e ao
cônjuge do de cujus
(...) O Tribunal de origem reconheceu a conduta omissiva e culposa do ente público,
relacionada ao dever de sinalização da via pública, sobretudo no ponto onde havia
a cratera que dificultava a livre circulação e segurança dos veículos. Porém, deu
parcial provimento ao apelo dos autores, condenando o demandado tão somente
ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais), sendo R$ 10.000,00 (dez mil reais) para cada recorrente. REsp n.
1.709.727/SE, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em
5/4/2022, DJe de 11/4/2022.

O Estado responde de forma objetiva pelos danos causados a profissional de


imprensa ferido, por policiais, durante cobertura jornalística de manifestação
pública em que ocorra tumulto ou conflito, desde que o jornalista não haja
descumprido ostensiva e clara advertência quanto ao acesso a áreas definidas
como de grave risco à sua integridade física, caso em que poderá ser aplicada a
excludente da responsabilidade por culpa exclusiva da vítima
Tese fixada pelo STF: “É objetiva a Responsabilidade Civil do Estado em relação a
profissional da imprensa ferido por agentes policiais durante cobertura jornalística,
em manifestações em que haja tumulto ou conflitos entre policiais e manifestantes.
Cabe a excludente da responsabilidade da culpa exclusiva da vítima, nas hipóteses
em que o profissional de imprensa descumprir ostensiva e clara advertência sobre
acesso a áreas delimitadas, em que haja grave risco à sua integridade física”. STF.
Plenário. RE 1209429/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 10/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1055)
(Info 1021).

284
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Em regra, o Estado não tem responsabilidade civil por atos praticados por presos
foragidos; exceção: quando demonstrado nexo causal direto
Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a
responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado
por pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o nexo causal
direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE 608880,
Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em
08/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 362) (Info 993).

Para o reconhecimento da responsabilidade do Estado em decorrência da fixação


de preços no setor sucroalcooleiro é indispensável a comprovação de efetivo
prejuízo, mediante perícia
É imprescindível para o reconhecimento da responsabilidade civil do Estado em
decorrência da fixação de preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de
efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica em cada caso concreto. STF.
Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão
Geral - Tema 826).

O art. 927, parágrafo único, do Código Civil pode ser aplicado para a
responsabilidade civil do Estado
Aplica-se igualmente ao estado o que previsto no art. 927, parágrafo único, do
Código Civil, relativo à responsabilidade civil objetiva por atividade naturalmente
perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser comissiva ou omissiva. STJ. 2ª Turma.
REsp 1869046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/06/2020 (Info 674).

Pretensão dos acionistas de serem indenizados pela União e pela Petrobrás pelos
prejuízos causados em decorrência da desvalorização dos ativos da Companhia,
por conta da Lava Jato, deverá ser ajuizada na Justiça Federal de 1ª instância (e
não por arbitragem)
A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não pode ser
submetida à cláusula compromissória arbitral prevista no Estatuto Social da
Companhia, seja em razão da ausência de lei autorizativa, seja em razão do próprio
conteúdo da norma estatutária. Caso concreto: um grupo de acionistas da
Petrobrás formulou requerimento para instauração de procedimento arbitral
perante a Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM-BOVESPA) contra a União e a
Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos decorrentes da

285
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos desgastes oriundos da


Operação Lava Jato. O procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto
Social da Petrobrás, onde consta uma cláusula compromissória dizendo que as
disputas que envolvam a Companhia, seus acionistas, administradores e
conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por meio de arbitragem. A União afirmou
que não estava obrigada a participar dessa arbitragem, argumento que foi acolhido
pelo STJ. STJ. 2ª Seção. CC 151130-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019 (Info 664).

Se a Eletrobrás e a União foram condenadas a pagar valores decorrentes do


empréstimo compulsório sobre consumo de energia elétrica e a Eletrobrás quitou
toda a dívida com o particular, ela não poderá pedir o ressarcimento da União
Não há direito de regresso, portanto, não é cabível a execução regressiva proposta
pela Eletrobrás contra a União em razão da condenação das mesmas ao pagamento
das diferenças na devolução do empréstimo compulsório sobre o consumo de
energia elétrica ao particular contribuinte da exação. STJ. 1ª Seção. REsp 1576254-
RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/06/2019 (recurso repetitivo
– Tema 963) (Info 655).

Servidor obrigado a pedir exoneração por conta de interpretação equivocada de


acumulação ilícita tem direito à indenização
No caso em que o servidor público foi impedido irregularmente de acumular dois
cargos públicos em razão de interpretação equivocada da Administração Pública, o
Estado deverá ser condenado e, na fixação do valor da indenização, não se deve
aplicar o critério referente à teoria da perda da chance, e sim o da efetiva extensão
do dano causado, conforme o art. 944 do CC. STJ. 2ª Turma. REsp 1308719-MG, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/6/2013 (Info 530).

JURISPRUDÊNCIA EM TESES DO STJ:


Edição N. 61: Responsabilidade civil do estado. Os entendimentos foram extraídos de julgados publicados
até 20/05/2016
1) Os danos morais decorrentes da responsabilidade civil do Estado somente podem ser revistos em sede de
recurso especial quando o valor arbitrado é exorbitante ou irrisório, afrontando os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade.

286
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

2) O termo inicial da prescrição para o ajuizamento de ações de responsabilidade civil em face do Estado por
ilícitos praticados por seus agentes é a data do trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
3) As ações indenizatórias decorrentes de violação a direitos fundamentais ocorridas durante o regime militar
são imprescritíveis, não se aplicando o prazo quinquenal previsto no art. 1º do Decreto n. 20.910/1932.
4) O prazo prescricional das ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública é quinquenal (Decreto
n. 20.910/1932), tendo como termo a quo a data do ato ou fato do qual originou a lesão ao patrimônio
material ou imaterial. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 - Tema 553)
5) A responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, devendo ser comprovados a
negligência na atuação estatal, o dano e o nexo de causalidade.
6) Há responsabilidade civil do Estado nas hipóteses em que a omissão de seu dever de fiscalizar for
determinante para a concretização ou o agravamento de danos ambientais.
7) A Administração Pública pode responder civilmente pelos danos causados por seus agentes, ainda que
estes estejam amparados por causa excludente de ilicitude penal.
8) É objetiva a responsabilidade civil do Estado pelas lesões sofridas por vítima baleada em razão de tiroteio
ocorrido entre policiais e assaltantes.
9) O Estado possui responsabilidade objetiva nos casos de morte de custodiado em unidade prisional.
10) O Estado responde objetivamente pelo suicídio de preso ocorrido no interior de estabelecimento
prisional.
11) O Estado não responde civilmente por atos ilícitos praticados por foragidos do sistema penitenciário,
salvo quando os danos decorrem direta ou imediatamente do ato de fuga.
12) A despeito de situações fáticas variadas no tocante ao descumprimento do dever de segurança e vigilância
contínua das vias férreas, a responsabilização da concessionária é uma constante, passível de ser elidida tão
somente quando cabalmente comprovada a culpa exclusiva da vítima. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C
do CPC/73 - Tema 517)
13) No caso de atropelamento de pedestre em via férrea, configura-se a concorrência de causas, impondo a
redução da indenização por dano moral pela metade, quando: (i) a concessionária do transporte ferroviário
descumpre o dever de cercar e fiscalizar os limites da linha férrea, mormente em locais urbanos e populosos,
adotando conduta negligente no tocante às necessárias práticas de cuidado e vigilância tendentes a evitar a
ocorrência de sinistros; e (ii) a vítima adota conduta imprudente, atravessando a via férrea em local
inapropriado. (Tese julgada sob o rito do art. 543
-C do CPC/73 - Tema 518)
14) Não há nexo de causalidade entre o prejuízo sofrido por investidores em decorrência de quebra de
instituição financeira e a suposta ausência ou falha na fiscalização realizada pelo Banco Central no mercado
de capitais.
15) A existência de lei específica que rege a atividade militar (Lei n. 6.880/1980) não isenta a responsabilidade
do Estado pelos danos morais causados em decorrência de acidente sofrido durante as atividades militares.

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

16) Em se tratando de responsabilidade civil do Estado por rompimento de barragem, é possível a


comprovação de prejuízos de ordem material por prova exclusivamente testemunhal, diante da
impossibilidade de produção ou utilização de outro meio probatório.
17) É possível a cumulação de benefício previdenciário com indenização decorrente de responsabilização civil
do Estado por danos oriundos do mesmo ato ilícito.
18) Nas ações de responsabilidade civil do Estado, é desnecessária a denunciação da lide ao suposto agente
público causador do ato lesivo.

Referências Bibliográficas:

Rafael Carvalho Resende Oliveira. Curso de Direito Administrativo


Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo
Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Administrativo descomplicado.
Dizer o Direito

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

META 6 – REVISÃO SEMANAL

Direito Penal: Causas De Extinção Da Punibilidade

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XLII, XLIII e XLIV
⦁ Art. 21, XVII
⦁ Art. 48, VIII
⦁ Art. 53, §§3º a 5º
⦁ Art. 84, XII

CÓDIGO PENAL:
⦁ Art. 2º (abolitio criminis)
⦁ Arts. 100 a 120
⦁ Art. 121, §5º (perdão judicial no homicídio)
⦁ Art. 129, §8º (perdão judicial na lesão corporal)
⦁ Art. 312, §3º

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


⦁ Art. 25 (retratação no processo penal)
⦁ Art. 28, 30, 36, 41
⦁ Art. 49 e 60
⦁ Art. 92 a 94
⦁ Art. 366 e 386

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 16 da Lei Nº 11.340 (retratação na Lei Maria da Penha)

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 107, CP (importantíssimo)


⦁ Art. 109 a 112, CP
⦁ Art. 116 e 117, CP

289
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 497-STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na
sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação.
Súmula 146-STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há
recurso da acusação.
Súmula 220-STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva.
Súmula 191-STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a
desclassificar o crime.
Súmula 592-STF: Nos crimes falimentares, aplicam-se às causas interruptivas da prescrição, previstas no
Código Penal.
Súmula 438-STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
Súmula 18-STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não
subsistindo qualquer efeito condenatório.

290
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Direito Processual Penal: Provas

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XI e XII
⦁ Art. 5º, LV e LVI
⦁ Art. 5º, LXIII
⦁ Art. 93, IX

CP
⦁ Art. 65, III
⦁ Art. 150
⦁ Art. 342

CPP
⦁ Art. 3º-A
⦁ Art. 3º-C, §3º
⦁ Art. 6º, III
⦁ Art. 155 a 250 (engloba teoria geral da prova e provas em espécie)
⦁ Art. 260
⦁ Art. 366 e 367
⦁ Art. 400, 401, 406, §2º, 411, §2º
⦁ Art. 422
⦁ Art. 474
⦁ Art. 532

Outros Diplomas Legais


⦁ Art. 50, §1º, 57 e 54, III, da Lei de Drogas
⦁ Art. 7º, inc. XIX, da Lei 8.906/94
⦁ Lei 9296/96
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

CF/88
⦁ Art. 5º, XI e XII
⦁ Art. 5º, LV e LVI

291
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

CPP
⦁ Art. 3ª-A e 3ª-C, §3º
⦁ Art. 155 a 157
⦁ Ar. 158 a 159
⦁ Art. 167, 168 e 169
⦁ Art. 182 e 184
⦁ Art. 185, caput, §§2º, 5º e 10º
⦁ Art. 187
⦁ Art. 197 e 200
⦁ Art. 203, 206 e 207
⦁ Art. 217 e 221
⦁ Art. 239
⦁ Art. 240 a 245
⦁ Art. 366

Outros Diplomas Legais


⦁ Lei 9296/96

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 74-STJ: Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento
hábil.

292
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Direito Constitucional: Poder Executivo

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 2º
⦁ Art. 76 ao 91
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
CF/88
⦁ Art. 2°
⦁ Art. 80, 81 e 83
⦁ Art. 84 a 86 (importantíssimos!!!)
⦁ Art. 90

293
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Direito Constitucional: Poder Judiciário

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 2º
⦁ Art. 92 ao 126
⦁ Art. 127 ao 135
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
CF/88
⦁ Art. 2°
⦁ Art. 95 e 96
⦁ Art. 101 a 103
⦁ Art. 104 e 105
⦁ Art. 109
⦁ Art. 127 a 129

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 649-STF: É inconstitucional a criação, por Constituição estadual, de órgão de controle
administrativo do Poder Judiciário do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades.
Súmula 627-STF: No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência do
Presidente da República, este é considerado autoridade coatora, ainda que o fundamento da impetração
seja nulidade ocorrida em fase anterior do procedimento.
Súmula 731-STF: Para fim de competência originária do Supremo Tribunal Federal, é de interesse geral da
magistratura a questão de saber se, em face da LOMAN, os juízes têm direito à licença-prêmio.
Súmula 628-STF: Integrante de lista de candidatos a determinada vaga da composição de tribunal é parte
legítima para impugnar a validade da nomeação de concorrente.
Súmula 46-STF: Desmembramento de serventia de justiça não viola o princípio de vitaliciedade do
serventuário.
Súmula 40-STF: A elevação da entrância da comarca não promove automaticamente o juiz, mas não
interrompe o exercício de suas funções na mesma comarca.

294
NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

Direito Administrativo: Responsabilidade Civil Do Estado

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XLVII, “e”; XLVIII; XLIX;
⦁ Art. 5º, LXXV
⦁ Art. 21, XXIII, “d”
⦁ Art. 37, §5ºe 6º
⦁ Art. 225, § 3º

Código Civil
⦁ Art. 206, § 3º e §5º, I
⦁ Art. 927
⦁ Art. 929 e 930
⦁ Art. 935
⦁ Art. 944 e 945

Outros Dispositivos Legais


⦁ Dec. 20.910/32
⦁ Art. 1º da Lei 9.494/97
⦁ Art. 25, Lei 8987/95
⦁ Art. 14, CDC
⦁ Art. 92, CP
⦁ Art. 66, CPP
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
CF/88
⦁ Art. 5º, LXXV
⦁ Art. 21, XXIII, “d”
⦁ Art. 37, §6º (ler e reler!! É importantíssimo!!)

Código Civil
⦁ Art. 206, § 3º e §5º, I
⦁ Art. 927 e 935

Outros Dispositivos Legais

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NÚCLEO DURO

TURMA 9

SEMANA 06/16

⦁ Art. 10, Dec. 20.910/32


⦁ Art. 1º da Lei 9.494/97
⦁ Art. 92, I, CP
⦁ Art. 66, CPP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de
atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar.

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