Você está na página 1de 121

ESTADO DE MATO GROSSO

POLÍCIA MILITAR
CORREGEDORIA GERAL
CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR

APOSTILA
DIREITO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR

2018
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 3
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4
2. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO ....................................................................... 7
3. PRINCÍPIOS ESSENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .......................................... 8
3.1. Princípio da Legalidade ........................................................................................... 9
3.2. O princípio da Impessoalidade .............................................................................. 11
3.3. Princípios da Moralidade ....................................................................................... 12
3.4. Princípio da Publicidade ........................................................................................ 12
3.5. Princípio da Eficiência ........................................................................................... 13
3.6. Princípio da Proporcionalidade .............................................................................. 13
3.7- Princípio da Motivação das Decisões .................................................................... 14
4. PRINCÍPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR .................................. 15
4.1. Princípio da Oficialidade ........................................................................................ 15
4.2- Princípio do Duplo Grau de Jurisdição .................................................................. 16
4.3. Princípio do Informalismo ...................................................................................... 16
4.5. Princípio da Verdade Material ............................................................................... 17
4.6. Princípio da Garantia de Defesa............................................................................ 17
4.7. Princípio da Taxatividade ..................................................................................... 18
5. OS PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................................... 19
5.1. Poder Hierárquico ................................................................................................. 19
5.2. Poder Disciplinar ................................................................................................... 20
5.3. Poder Regulamentar ............................................................................................ 23
5.4 - Poder de Polícia ................................................................................................... 24
6. ATO ADMINISTRATIVO.................................................................................................. 25
6.1 - Requisitos do Ato Administrativo .......................................................................... 25
6.2. Atributos do Ato Administrativo ............................................................................. 26
6.3. Classificação dos Atos Administrativos ................................................................ 27
7. PROCESSO E PROCEDIMENTO ................................................................................... 28
8. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR (PADM)................................. 29
9. FASES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR .......................................... 33
9.1. Instauração ........................................................................................................... 33
9.2. Instrução ............................................................................................................... 33
9.3. Defesa................................................................................................................... 34
9.4. Relatório................................................................................................................ 35
9.5. Julgamento ........................................................................................................... 36
10. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR EM ESPÉCIE ..................................... 36
10.1. Termo Acusatório ............................................................................................... 36
10.2. Sindicância .......................................................................................................... 39
10.3. Conselho de Disciplina ....................................................................................... 76
10.4. Conselho de Justificação..................................................................................... 80
11. NOTIFICAÇÕES E INTIMAÇÕES ................................................................................ 82
11.1 Contagem dos Prazos ......................................................................................... 83
11.2. Formas de Notificação ........................................................................................ 85
11.3. Notificação de Policial Militar de Patente Superior.............................................. 85
11.4. Notificação de Policial Militar Segregado (Preso) ................................................ 86
11.5. Notificação de Funcionário Civil .......................................................................... 87
2

11.6. Notificação de Civil .............................................................................................. 87


11.7. Notificação de Policial Militar da Inativa............................................................... 87
12. INCIDENTES PROCESSUAIS (ART. 12 DA PORTARIA 128/09). ............................... 88
12.1 Incidentes de Notificação ..................................................................................... 88
12.2. Incidente de Citação............................................................................................ 88
12.3. Incidentes de Suspeição e Impedimento ............................................................. 90
12.4. Incidente por Atestado Médico (Portaria 128/09). ............................................... 90
12.5. Incidente por doença ou insanidade Mental – (Portaria 070/12, alterou a Portaria
128/09)......................................................................................................................... 91
12.6 Da Busca e Apreensão ........................................................................................ 93
13 - RECURSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINAR MILITAR . ....................................... 94
13.1. Da Reconsideração de Ato.................................................................................. 95
13.2. Da Queixa ........................................................................................................... 97
13.3 - Da Representação ............................................................................................. 99
14. ATOS OU INSTITUTOS ADMINISTRATIVOS REVISIONAIS .................................... 101
14.1. Revisão de Ato Administrativo (RDPM/PMMT) .................................................. 101
14.2. Revisão de Ato Administrativo (Lei n° 7.692/2002) ............................................ 105
15. NULIDADES NO PROCESSO DISCIPLINAR (ABSOLUTAS E RELATIVAS)............ 106
15.1. Nulidade Absoluta ............................................................................................. 107
15.2. Nulidade Relativa .............................................................................................. 109
15.3. Atos nulos e anuláveis ...................................................................................... 114
15.4. Nulidade do ato e nulidade do processo............................................................ 114
16 - PRESCRIÇÃO ............................................................................................................ 115
16.1 . Prescrição como matéria de Ordem Pública..................................................... 115
16.2. Prescrições para cada Espécie de Processo Administrativas Disciplinares Militar.
................................................................................................................................... 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 117
3

APRESENTAÇÃO

Na sociedade atual, os problemas e desafios a serem enfrentados no


campo da segurança pública são cada vez mais complexos. As diversas formas de
violência presentes na sociedade contemporânea exigem maior qualificação dos
profissionais de segurança pública, de modo a permitir um olhar mais crítico sobre o
contexto das ações de Policia Judiciária Militar frente ao ramo do Direito
Administrativo Disciplinar Militar.

Neste sentido, as instituições de segurança pública, estão inseridas nos


contextos legais da Administração Pública, em particular, as Polícias Militares, que
para bem exercer suas atividades, na busca do bem comum da coletividade
administrada, necessita da utilização de alguns dispositivos de controle
(Procedimentos Administrativos Disciplinares), nos quais repousa a sua eficiência,
ancorada em suas colunas mestras, qual sejam, a Hierarquia e Disciplina, que
organiza a estrutura da Administração Militar.

Entretanto, para que os seus atos administrativos sejam válidos, deverão


ser observados os princípios norteadores da administração Pública, os quais estão
devidamente preconizados na nossa Carta Magna, e nas demais normas em
vigência.

Diante ao exposto, e evidente a devida e necessária, realização de


constantes estágios de qualificação, com o mister direcionado ao treinamento e
aprimoramento dos nossos Oficiais e Graduados, a fim de mitigar futuros transtornos
administrativos, notadamente a possíveis reintegrações judiciais, em conseqüência a
inobservância da processualística administrativa disciplinar, quando da instrução dos
processos administrativos.

Destarte, é oportuno salientar a importância em incentivar e motivar os


detentores das atribuições de Polícia Judiciária Militar (originária ou delegada), a
acompanharem as constantes inovações no âmbito da Administração Pública.
4

1. INTRODUÇÃO

O Direito Administrativo Disciplinar Militar é o ramo do Direito que se


dedica ao estudo da relação entre a Administração Pública Militar e os seus
integrantes e também com os administrados que buscam a prestação de serviços
por parte do serviço público.

O Direito Administrativo Militar adquiriu uma maior importância com o


advento da Constituição Federal de 1998. A partir do novel texto constitucional a
Administração Militar passou por transformações, buscando adequar os seus
regulamentos às disposições constitucionais. Em razão destas transformações,
novos autores1 passaram a se dedicar ao estudo desta disciplina.

Aos poucos o Direito Administrativo Disciplinar Militar, vem ocupando


um lugar de destaque no universo do Direito, que acompanha a evolução da
sociedade. Sendo assim, a Responsabilidade Administrativa do Servidor Público é a
que resulta do descumprimento de normas internas da instituição a que está
vinculado, cabendo a autoridade administrativa competente decidir a providência a
ser adotada, alinhando os atos irregulares praticados pelo servidor, analisando sua
repercussão danosa para a administração, apontando os dispositivos legais
regulamentares violados.

Entretanto, para tal mister deverá a suposta violação de normas


internas, estar devidamente comprovada, sendo condição indispensável para
motivação da aplicação de qualquer medida corretiva, atendendo o que preceitua a
Constituição Federal.
[...]
Art. 37. A administração pública direta, indireta ou funcional, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e, também ao seguinte:
[...]

1
Autores como: Paulo Tadeu Rodrigues Rosa; Eliezer Pereira Martins, Célio Lobão; José da Silva Loureiro
Neto; José Armando da Costa; Álvaro Lazzarini; Getúlio Corrêa; Jorge César de Assis e outros.
5

O Artigo 2º da Portaria n.º 128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de 2009


passa a vigorar com a seguinte redação:

[...]
“Artigo 2º - O policial militar acusado em processo administrativo poderá
constituir advogado para defendê-lo no processo administrativo e, na falta
deste, a autoridade delegada solicitará à autoridade delegante a
designação de Oficial, Sargento ou Subtenente, ou ainda, qualquer
outro policial militar indicado pelo acusado, a fim de promover a sua
defesa no curso processual.‖
[...]

Insta salientar, que em decorrência do Devido Processo Legal, o


ônus da prova no Processo Administrativo Disciplinar pertence à Administração
Pública, e não ao acusado, devendo esta comprovar que o servidor público feriu o
preceito disciplinado nas normas e regulamentos, interna corporis.

Deve-se observar que este princípio não é inteiramente aplicado na


área do Direito Administrativo Militar, uma vez que alguns administradores por falta
de conhecimento ou respeito à Constituição Federal, e mesmo a Convenção
Americana de Direitos Humanos (Art. 5º, § 2º da CF), invertem o princípio, quase
que obrigando o militar a comprovar a sua inocência.

O Processo Administrativo Disciplinar passou a ter especial relevância


com a promulgação da Constituição de 1988, dispondo o art. 5º, incisos LIV e LV, in
verbis:
[...]
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
[...]

Os dispositivos transcritos, garante ao imputado ou indiciado em


processo administrativo disciplinar, o Contraditório e Ampla Defesa, estas
garantias, sem prejuízo dos princípios constitucionais que regulam a Administração
Pública, deverão nortear todo o procedimento.

Ensina a doutrina, que o processo é o recurso usado pelo Estado para


cumprir a sua competência jurisdicional, administrativa ou legislativa, objetivando a
resolução de conflitos de interesses, e, em corolário, das pretensões.
6

Desenvolvendo-se numa série de atos, que seguem uma ordem, tendo em vista um
fim almejado.

O Processo Administrativo Disciplinar é o meio regular de que se vale a


Administração Pública, para apurar infrações disciplinares e punir seus servidores.

A Constituição Federal é a principal fonte do Direito Processual


Disciplinar, submetendo-se a ela todas as demais fontes (lei ordinária, regulamento,
atos normativos internos, pareceres, jurisprudência, analogia, princípios gerais do
direito, praxe administrativa), face ao princípio da supremacia da norma
constitucional.

Neste sentido, e dever do Estado assegurar ou garantir a todo e


qualquer acusado a ampla defesa, diz J.B. DE MENEZES LIMA, "é norma do
princípio do direito natural segundo o qual ninguém pode ser acusado sem ser
ouvido, nem condenado sem se defender".

Por conseguinte, a quem não se der conhecimento do que está sendo


acusado e oportunidade para aduzir circunstâncias justificadoras da falta cometida
ou para defender-se da imputação irrogada, não poderá ser legalmente punido. Se o
for a punição será nula ou anulável.

Ainda que a aplicação sumária e excepcional de sansões disciplinares


possa ter o apoio legal do critério da verdade sabida, os casos inflacionais
ocorrentes (que comportarem sua especial e extraordinária invocação) não podem
dispensar, ao menos, a prévia manifestação do acusado para ilidir, de direito, a
imputação que lhe pesa.

O entendimento novo, decorrente da eficácia imediata dos preceitos


constitucionais assecuratórios dos direitos e garantias fundamentais, veio limitar o
poder discricionário e, por vezes, arbitrário, do Administrador, impedindo a
ocorrência de certas perseguições pessoais, as quais nada se poderia contrapor,
pela inexistência da possível aplicação do mecanismo do contraditório e da ampla
defesa, hoje como foi visto, assegurado pela Constituição. É claro que, com isso, em
7

muitos casos, perde-se a celeridade do procedimento de aplicação da sanção


disciplinar, ganhando-se, em conseqüência, a probabilidade maior de acerto na
decisão, pela aplicação das garantias do contraditório e da ampla defesa. Sem falar
no principal, que é o respeito a Direitos constitucionalmente assegurados.

Neste contexto, o nosso sistema jurídico, vigora o regime de jurisdição


una, significando que o processo disciplinar, não tem força de coisa julgada
administrativa, nos moldes da sentença judicial, ficando, portanto, sujeito ao controle
de legalidade pelo Poder Judiciário. Previsão contida no art. 5º, inciso XXXV da CF:
diz que: ―a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito”.

A denominada coisa julgada administrativa, é na verdade apenas uma


preclusão de efeitos internos, não tem o alcance da coisa julgada judicial, porque o
ato jurisdicional da Administração não deixa de ser um simples ato administrativo
decisório, sem a força conclusiva do ato jurisdicional do Poder Judiciário.

O que ocorre nas decisões administrativas finais é, apenas, preclusão


administrativa, ou a irretratabilidade do ato perante a própria Administração. É sua
imodificabilidade na via administrativa, para estabilidade das relações entre as
partes.
Resumindo, uma vez exauridos os meios de impugnação
administrativa, torna-se irretratável administrativamente, a última decisão
(Comandante Geral da PM), mas nem por isso deixa de ser atacável por via judicial.

2. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

As fontes que informam o Direito Material e o Direito Processual são


idênticas, ou seja, o Direito Administrativo também possui processualidade. Cada
tipo de processo exige, para seu estudo, o correspondente ao rito processual, pois
esta é uma ciência autônoma com regras específicas, condicionadas ao direito
material ou substantivo.
8

Assim, o processo administrativo disciplinar militar também tem fontes de


onde provem preceitos jurídicos, quais sejam: a Constituição Federal, a Constituição
Estadual, as Leis Complementares, como a normativa aplicada aos processos
Administrativo no Estado de Mato Grosso, sendo, a LC Nº 555, de 29 de dezembro
de 2014 – (Estatuto dos Militares do Estado de Mato Grosso), a LC n° 112, de 1º de
julho de 2002 (Código de Ética Funcional do Servidor Público Civil do Estado de
Mato Grosso), a L C n° 386, de 05 de março de 2010 (Lei de Organização Básica –
LOB), L C nº 529, de 31 de março de 2014, (Lei de fixação de Efetivo, Decreto –
Lei nº 1.329 de 21 de Abril de 1978 (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar),
Decreto n° 591 de 26 agosto de 1.980, (Regulamento de Movimentação para Oficiais
e Praças da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso) o Decreto-lei nº 1.002, de 21
de outubro de 1969. (Código de Processo Penal Militar), Lei Ordinária nº 13.105,
de 16 de março de 2015. (Código do Processo Civil), Lei nº 10.076, de 31 de março
de 2014. 31.03.14, (Lei Estadual de promoção de oficiais e praças), Lei nº 3.800 de
19 de outubro de 76 com as alterações da Lei nº 7227/99 (Lei de Conselho de
Disciplina), Lei nº 3.993 de 26 de junho de 1978, (Conselho de Justificação), Portaria
nº 128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de 2009 (padroniza e ressalta ritos e
expedientes usuais nos procedimentos e processos administrativos no âmbito da
Polícia Militar do Estado de Mato Grosso), portaria nº 159/GCG/PMMT/09, de 27 de
julho de 2009. (termo Acusatório), entre outras diversas normas2.

Neste contexto, no ordenamento jurídico/administrativo, é através da


lei, a única fonte formal, que a Administração impõe a sua vontade. Há, assim, a lei
constitucional, a lei complementar, a lei ordinária, os regulamentos, os atos
normativos.
Além de também possuir como fonte do direito administrativo disciplinar
a doutrina, o costume, os princípios gerais de direito e a interpretação
analógica e a jurisprudência, que também são fontes de direito Administrativo
Disciplinar Militar.

3. PRINCÍPIOS ESSENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2
Ordenamento Jurídico aplicado aos Processos Administrativos militares, no Estado de Mato Grosso.
9

Os princípios da Administração Pública são regras que surgem como


parâmetros para a interpretação das demais normas jurídicas. Têm a função de
oferecer coerência e harmonia para o ordenamento jurídico. Quando houver mais de
uma norma, deve-se seguir aquela que mais se compatibiliza com a Constituição
Federal, ou seja, deve ser feita uma interpretação conforme o entendimento
Constitucional.
Os princípios que a Administração deverá seguir estão dispostos no
art. 37, da CF/88. O disposto no referido artigo constitucional é elenco meramente
exemplificativo; logo, existem outros princípios que poderão ser invocados pela
Administração, como o princípio da supremacia do interesse público sobre o
particular, o princípio da isonomia, entre outros.

Os princípios da Administração abrangem a Administração Pública


direta e indireta de quaisquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios (art. 37 da CF/88). Princípios, segundo o professor
Diógenes Gasparini, ―constituem um conjunto de proposições que alicerçam ou
embasam um sistema e lhe garantem a validade‖. Assim vejamos:

3.1. Princípio da Legalidade

Constitui o princípio capital para a formação do regime jurídico-


administrativo. Por isso, merece uma atenção maior em nosso trabalho.

Enquanto alguns dos Princípios Constitucionais do Direito


Administrativo são da essência de qualquer Estado organizado com fins políticos, o
Princípio da Legalidade é específico do Estado de Direito, ou seja, é justamente
aquele que lhe permite qualificação e identidade própria.

Como o Direito Administrativo nasce do Estado Democrático de Direito


o Principio em voga constitui sua base nos estudos de Celso Antonio Bandeira de
Mello, que diz:
[...]
É, em suma, a consagração da idéia de que a Administração pública
só pode ser exercida na conformidade da lei e que, de conseguinte a
atividade administrativa é atividade sub-legal, infra-legal, consiste na
10

expedição de comandos complementares à lei. (Curso de Direito


Administrativo, 2001, p. 71).
[...]

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, uma das principais tendências


do Direito Administrativo atualmente é:
[...]
O alargamento do Princípio da Legalidade, pela adoção dos
princípios do Estado Democrático de Direito, trazendo como conseqüência a
maior limitação à discricionariedade administrativa (em decorrência da
submissão da Administração Pública a princípios e valores) e a ampliação
do controle judicial. (Direito Administrativo, 2007, cit. p.332).
[...]

Em seu sentido mais profundo, o Principio da Legalidade constitui um


propósito político de vincular os detentores do poder administrativo em concreto a
uma situação que impeça abusos ou desmandos e garantir que a atuação do
Executivo seja a representação da vontade geral. Portanto, o Principio da legalidade
representa a absoluta submissão da Administração às leis.

Além de se ajustar na própria estrutura do Estado de Direito e no


sistema constitucional brasileiro em sua totalidade, o Principio da Legalidade está
entranhado principalmente nos arts. 5º, II, 37. caput, e 84, IV da Constituição
Federal. Estes dispositivos atribuem ao principio em questão uma exata e rígida
reserva, não permitindo com isso lacunas que sirvam de escusas para o executivo.
Conforme o art. 5º, II: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei. (CF/88)

Neste contexto, não se diz em virtude de decreto, regulamento,


resolução, portaria. Diz-se em virtude de lei. Logo, a Administração não poderá
proibir ou impor comportamento algum a terceiro, salvo se estiver previamente
embasada em determinada lei que lhe faculte proibir ou impor algo a quem quer que
seja. [Melo, 2001, p. 97]

Só é possível expedir qualquer ato com finalidade de coagir a liberdade


dos administrados se em lei já existir previsão ou imposição que o ato administrativo
venha a detalhar. O art. 37 da Constituição Federal deixa clara a finalidade da
administração ao estatuir:
11

[...]
A Administração Pública, direta e indireta de qualquer um dos
poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência (...). (CF, 1988)
[...]

Do que se extrai que a finalidade do ato administrativo deve ser a de


adicionar à lei grau de execução, ou seja, nunca lhes é permitido, por si só, instaurar
originariamente qualquer óbice que seja direitos de terceiros.

Diante dos relatos acima expostos, verifica-se com toda a nitidez que, a
administração é atividade subordinada à lei; sua função é tão somente fazer cumprir
lei preexistente, e que regulamentos isolados, autônomos ou simplesmente
permitidos são visceralmente conflitantes com o Direito brasileiro.

Isto posto é importante ressaltar que o Princípio da Legalidade atua,


acima de tudo, como uma segurança jurídica oferecida aos cidadãos, de modo que,
ao indivíduo é reconhecido o direito de fazer tudo quanto a Lei não tenha proibido, e
a Administração, além de não poder atuar contra “legem ou praeter legem”, só
poderá agir ―secundum legem”. Desta forma, o Princípio da Legalidade vincula o
Direito Administrativo às disposições constitucionais.

3.2. O princípio da Impessoalidade

O principio da Impessoalidade, significa que a atuação administrativa


se destina a um fim público, não podendo beneficiar pessoas em particular. Os atos
e provimentos administrativos são imputáveis, não ao funcionário que os pratica,
mas ao órgão ou entidade administrativa em nome do qual age o servidor. Sendo
este um mero agente da Administração Pública. Destarte, o administrador não se
confronta com servidor A ou B, mas com a entidade cuja vontade é por ele
manifestada3.

3
Di Pietro. Maria Sylvia Zanella . - 29.ed. Rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2016. 1088
p
12

3.3. Princípios da Moralidade

O principio da Moralidade, Há que se diferenciar Moral Administrativa


de Moral Comum. Maurice Hauriou definiu a Moral Administrativa, como sendo o
―conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração‖,
acrescentando ainda que a Moral Comum seja imposta ao homem para sua conduta
externa.

―A Moral Administrativa é imposta ao agente público para sua conduta


interna, segundo as exigências da Instituição a que serve e a finalidade de sua ação:
o bem comum‖ (Hely Lopes Meirelles).4 O princípio da moralidade acha-se protegido
pelo Artigo 5º, LXXIII (ação popular), da CF.

3.4. Princípio da Publicidade

Em suma, este princípio traduz a transparência que deve a


Administração manter em seus procedimentos.

Diz em sua Lição Celso Bandeira De Mello,que:


[...]
Não pode haver um Estado Democrático de Direito, no qual o poder reside
no povo, (art. 1º, parágrafo único da Constituição), ocultamento aos
administrados dos assuntos que a todos interessam, e muito menos em
relação aos sujeitos individualmente afetados por alguma medida. (Curso de
Direito Administrativo, 2007. p. 110)
[...]
Tal princípio exige extensa divulgação dos atos da Administração
Pública, observadas apenas as hipóteses de sigilo previstas em lei.

Na Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, a publicidade dos atos é


realizada pela Impressa Oficial do Estado, bem como através do Boletim Geral
Eletrônico (BGE), Boletim Restrito (publicação de atos disciplinares das Praças) e
Boletim reservado (publicação de atos disciplinares dos oficiais). Em se tratando de

4
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008,
p.90
13

punição disciplinar administrativa o ato além nos boletim eletrônicos, deverá a


autoridade delegante notificar o disciplinado da punição.

O princípio da publicidade dos atos administrativos, além de assegurar


os seus efeitos externos, visa propiciar o seu conhecimento e controle pelos
interessados das ações do Estado.

3.5. Princípio da Eficiência

O principio da Eficiência, deriva do dever de eficiência que é o que se


impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e
rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já
não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados
positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da
comunidade e de seus membros. Conforme os ensinamentos do mestre Hely Lopes
Meireles (Direito Administrativo Brasileiro, p. 605):
[...]
―Dever de eficiência é o que se impõe a todo agente público de
realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É
o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta
em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados
positivos para serviço público e satisfatório atendimento das necessidades
da comunidade e de seus membros.‖
[...]
3.6. Princípio da Proporcionalidade

Apesar da Lei nº. 9.7846 trazer os princípios da razoabilidade e da


proporcionalidade separadamente, a doutrina entende que este compõe um dos
aspectos daquele. Isto porque, dentre outras coisas, o principio da razoabilidade
exige proporcionalidade entre o meio utilizado e o fim almejado pela Administração.

Continua Celso Bandeira De Mello:


[...]

5
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 10ª ed. São Paulo: Malheiros, 1999.
6
LEI Nº 9.784, DE 29 DE JANEIRO DE 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da.
Administração Pública Federal.
14

Segue-se que os atos cujos conteúdos ultrapassem o necessário


para alcançar o objetivo que justifica o uso da competência ficam maculados
de ilegitimidade, porquanto desbordam do âmbito da competência, ou seja,
superam os limites que naquele caso lhes corresponderiam.(Curso de
Direito Administrativo, 2007, cit., p. 107)
[...]

Desta Forma, como os atos da Administração Pública devem ser


pautados pela a busca do bem comum, a inobservância deste princípio constitui
ofensa inútil aos direitos individuais uma vez que o excesso existente não milita em
favor de ninguém.

O princípio da proporcionalidade, freqüentemente identificado com a


razoabilidade, tem três elementos: a) adequação: o ato administrativo deve ser
efetivamente capaz de atingir os objetivos pretendidos; b) necessidade: o ato
administrativo utilizado deve ser, de todos os meios existentes, o menos ofensivos
aos direitos individuais.

No processo administrativo disciplinar militar e importante para


aplicação das sanções de prisão e detenção, uma vez que não são tipificadas a
conduta e a pena na legislação militar, restando à autoridade delegante punir o
disciplinado conforme a proporção de sua conduta delituosa, com reprimenda de até
trinta dias, conforme, os termos do art. Art. 14 do Decreto nº 1.329 de 21 de Abril de
1978 (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar),

3.7- Princípio da Motivação das Decisões

É um principio fundamentado, com base no art. 93, IX, da CF/1988, e o


que diz a CF/88, com comentário de José Afonso Da Silva:
[...]
Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos,
e fundamentados todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação (Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 431-432,
2002)
[...]
15

Desta Forma, temos que todas as decisões judiciais e administrativas


devem ser claramente fundamentadas. O intuito constitucional para tal garantia é de
assegurar a publicidade das decisões judiciais (já comentado), bem como possibilitar
a sua impugnação e revogação, exercendo-se, assim, o controle de legalidade de tal
decisão.

Portanto, não deve pairar dúvidas, que fundamentar, no direito


constitucional, não é apenas descrever o dispositivo legal e dar a decisão final. É
necessário que o julgador demonstre os fatos de maneira coerente, que exija a base
jurídica e a ligação entre eles, mostrando a motivação de sua posição final. A
decisão que não obedecer tal estrutura conterá vícios que afetarão seus
pressupostos de validade e eficácia.

Isto posto, Motivar significa apresentar e explicar, de maneira clara e


congruente, os elementos que ensejaram o convencimento da autoridade, indicando
os fatos e os fundamentos jurídicos que foram considerados. Faz com que a
Administração Pública indique os fundamentos de fato e de direito de suas decisões.

4. PRINCÍPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

4.1. Princípio da Oficialidade

O Princípio da Oficialidade, dispõem que Independentemente da forma


do procedimento disciplinar: Sindicância, Termo Acusatório, Conselho de Disciplina
ou Conselho de Justificação), deve o mesmo ter impulso oficial, ou seja, uma vez
instaurado, o processo, deve chegar ao seu final por conta e iniciativa da autoridade
processante.

O princípio da oficialidade denota que a iniciativa investigatória é de


responsabilidade da autoridade processante, embora possa ele determinar a
realização de diligências a pedido das partes interessadas. Havendo negligência, na
aplicação deste princípio, poderá caracterizar crime de responsabilidade.
16

4.2- Princípio do Duplo Grau de Jurisdição

Em 1992, o Decreto nº 678 incorporou ao direito positivo nacional o


Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos),
suscitando discussões acerca da inserção em nosso ordenamento do direito a
recurso como garantia fundamental.

Prevê esse tratado internacional, em seu art.8°,nº 2, alínea h, que diz:


toda pessoa acusada de um delito que durante o processo, tem direito a recorrer da
sentença para juiz ou tribunal superior7.

No que concerne a esse tratado, prevalece entendimento de que houve


adoção do princípio do duplo grau de jurisdição como garantia fundamental no
âmbito do processo penal, sendo o processo administrativo disciplinar equiparado a
esse, uma vez que há referência ao direito no art. 25, que tem sido interpretado pela
doutrina como uma garantia a um remédio, a uma ação judicial ou administrativa,
tendo havido, portanto, o emprego da palavra Recurso. Assevera o art. 25, que diz:
[...]
Que toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a
qualquer outro recurso efetivo, perante juízes ou tribunais competentes, que
a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos
pela Constituição, pela lei ou pela referida Convenção, mesmo quando tal
violação seja cometida por pessoas atuando no exercício de suas funções
8
oficiais.
[...]

Desta forma entendemos com fundamento no artigo5°, §2° da


CF/88,que versa sob a aplicação de tratados, toda pessoa tem direito a outras
decisões tanto na esfera administrativa como judicial, no sentido da primeira decisão
ser ratificada ou reformada por uma autoridade superior.

4.3. Princípio do Informalismo

7
PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA, o Decreto nº 678, art.8°, nº 2, alínea h, 1992
8
Idem, Art 25.
17

O Princípio do Informalismo, no âmbito do Direito Disciplinar, a


observância de forma, só é de rigor, quando a sua violação prejudique o consagrado
Direito da Ampla Defesa e do Contraditório. Bastam as formalidades estritamente
necessárias à obtenção da certeza jurídica e à segurança procedimental.

Tal Princípio se apresenta mitigado no Processo Administrativo


Disciplinar, porquanto, o supracitado deve, apesar de atender aos procedimentos
descritos na Lei, ser simples, sem exigências formais abusivas e ilógicas.

4.5. Princípio da Verdade Material

O Princípio da Verdade Material, também denominado da liberdade


da prova, autoriza a Administração a valer-se de qualquer prova lícita de que a
autoridade processante ou julgadora tenha conhecimento, desde que seja
observado o contraditório e a ampla defesa.

É à busca da Verdade Material em contraste com a Verdade Formal.


Enquanto nos processos judiciais o Juiz deve cingir-se às provas indicadas no
devido tempo pelas partes, no processo administrativo a autoridade processante ou
julgadora pode, em qualquer fase do processo, conhecer e produzir novas provas
que consubstancie o direito material das partes.

No Processo Disciplinar Militar, ocorre a supremacia do real sobre o


formal. Essa supremacia impõe maior liberdade ao procedimento disciplinar, tendo
como um dos efeitos, inexistir ao longo do procedimento, momentos que impeçam a
apresentação ou colheita de provas, até mesmo na fase de julgamento, desde que
seja respeitado o direito ao Contraditório e Ampla Defesa.

4.6. Princípio da Garantia de Defesa

Princípio decorrente do “Due Process of Law” (Devido Processo


Legal) existente nos Estados democráticos de Direito, o Princípio da Ampla Defesa e
18

do Contraditório é absoluto, não comportando exceções. Está garantido de forma


expressa pela Legislação Constitucional, em seu artigo 5º, incisos LIV e LV.

Este princípio é inerente a todos os tipos de processos, como o


Processo Administrativo Disciplinar, pois o mesmo não é inquisitivo, mas puramente
acusatório. O Processo Regular, é resultado da garantia constitucional do devido
processo legal, o qual determina que qualquer sanção deve ser precedida da
necessária apuração, em que seja assegurado ao acusado processamento e
julgamento determinado ou realizado pela autoridade competente, rito processual
adequado, ampla defesa, contraditório, e os recursos, que correspondem a um duplo
grau de jurisdição administrativa.

Neste sentido, diz Hely Lopes Meirelles: “Processo Administrativo sem


oportunidade de defesa ou com defesa cerceada é nulo, conforme têm decidido
reiteradamente nossos Tribunais Judiciais, confirmando a aplicabilidade do princípio
constitucional do devido processo legal, ou mais especificadamente, da garantia
de defesa”.

Por garantia de defesa deve-se entender não só a observância do rito


adequado como cientificação do processo ao interessado, a oportunidade para
contestar a acusação, produzir prova de seu direito, acompanhar os atos da
instrução e utilizar-se dos recursos cabíveis. A cientificação (Citação) deve ser
pessoal, sendo admitida a feita mediante publicação oficial (Diário Oficial) nas
hipóteses em que a parte interessada estiver em lugar incerto e não sabido, sob
pena de lesão ao contraditório e à ampla defesa.

4.7. Princípio da Taxatividade

A Taxatividade é um princípio criado para regular a indiscriminada


interposição de recursos, ou seja, não ser possível interpor recurso não previsto na
lei, é um principio também aplicado ao RDPM, que dispõem apenas três recursos na
esfera administrativa militar.

Nas precisas palavras de Nelson Nery Júnior:


19

[...]
Como o legislador federal tem atribuição para regulamentar o direito
processual, integra esta competência a possibilidade de, por intermédio de
leis extravagantes situadas fora do corpo o CPC, criar novos recursos,
complementando o sistema recursal deste, e, até, se for o caso, tirando os
já existentes e previstos naquele código (idem).
[...]

Da mesma forma entendemos que o legislador estadual, poderá fazê-


lo, modificar ou supri os recurso já existente, ou até mesmo criar novos institutos
recursais na Lei do RDPM/PMMT.

5. OS PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os poderes da Administração Pública são instrumentos de sua atuação. O


seu exercício é lícito, obrigatório e imposto por lei. Os poderes são previstos no
ordenamento jurídico, são de cumprimento obrigatório e instrumentos de sua
atuação.

5.1. Poder Hierárquico

O poder hierárquico tem como alvo a organização da Administração


Púbica. No aspecto interno, o agente público deve cumprir e fazer cumprir as
atribuições legais do cargo com eficiência probidade. No aspecto externo, o ato
administrativo elaborado pelo agente deve ser avaliado. É o que nos ensina Hely
Lopes Meirelles:

[...]
Poder hierárquico é o de que dispõe o Poder Executivo para
distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação
de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os
servidores do seu quadro de pessoal. (Direito Administrativo Brasileiro,
2007, p. 121).
[...]
20

O Pode hierárquico, é o de que dispõe o Executivo para organizar e


distribuir as funções de seus órgãos, estabelecendo a relação de subordinação entre
os servidores do seu quadro de pessoal.

É da essência das atribuições de poder das autoridades: ordenar,


fiscalizar, controlar e corrigir. Sendo que os dois últimos estão correlacionados aos
processo administrativo disciplinar militar em espécies, sendo que estes são
instrumentos eficazes para o aprimoramento do serviço público, a fim de regularizar
comportamentos indevidos de servidores públicos em geral, quando estes
cometerem atos de indisciplina.

5.2. Poder Disciplinar

A Administração Pública, em particular a Polícia Militar, para bem


exercer suas atividades, na busca do bem comum da coletividade administrada,
necessita de poderes administrativos, nos quais repousa a sua eficiência, ancorada
em suas colunas mestras, qual sejam, a Hierarquia e a Disciplina.

Tais poderes administrativos são instrumentos que nascem com a


Administração e são classificados, conforme a liberdade para a prática de seus atos,
em Poder vinculado e Poder discricionário.

5.2.1 - Poder vinculado ou regrado é aquele que o Direito Positivo (a


Lei) confere à Administração Pública para a prática de ato de sua competência,
determinando os elementos e requisitos necessários à sua formalização,
significando que, na prática, o agente público fica inteiramente preso ao enunciado
da norma, em todas as suas especificações.

5.2.2 - Poder discricionário é o que o Direito concede à


Administração, de modo explicito ou implícito, para a prática de atos administrativos
com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo, é o
21

chamado princípio da oportunidade e conveniência administrativa. Vale ressaltar que


poder discricionário não se confunde com poder arbitrário9.

O Poder Disciplinar na lição do saudoso Hely Lopes Meirelles (2001, p.


116) é definido como ―a faculdade de punir internamente as infrações funcionais dos
servidores e demais pessoas sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da
Administração‖.

Importante característica do Poder Disciplinar é seu discricionarismo,


no sentido de que a infração funcional e a respectiva sanção não estão vinculados à
prévia definição da Lei. Portanto, não se aplica ao Poder Disciplinar o princípio da
pena específica que domina o Direito Criminal Comum, ao afirmar a inexistência da
infração penal sem prévia Lei que a defina e a apene.

Tomando conhecimento de qualquer irregularidade, é dever da


autoridade detentora do Poder disciplinar apurá-la, mediante o Processo
Administrativo, objetivando definir responsabilidades, assegurando a Ampla Defesa
ao acusado.

Neste sentido, o Estatuto dos Militares do Estado de Mato Grosso 10


prevê em seu Art. 44, 45 e 46: ―A violação dos deveres, vedações e obrigações
previstas nesta Lei Complementar serão apurados através de processo
administrativo previsto em lei específica‖.

Os servidores públicos, no desempenho de suas funções ou a pretexto


de exercê-las, podem cometer infrações de três ordens: Administrativa, Civil e
Criminal. Por essas infrações deverão ser responsabilizados no âmbito interno da
Administração e perante a Justiça Comum, é a chamada Tríplice Responsabilidade.
Nesse particular, cabe ressaltar que os militares estão sujeitos a Justiça Especial
Castrense, podendo ainda haver o concurso de Crime Militar com Crime Comum.

A imposição de sanção disciplinar ao servidor que praticou ilícito


administrativo tem para o superior hierárquico o caráter obrigatório de um poder-
9
Atos ofensivos à legalidade.
10
Lei Complementar nº 555 de 29 de dezembro de 2014.
22

dever, uma vez que a condescendência na punição é considerada crime contra a


Administração Pública, sendo tipificado na legislação pátria como sendo
Condescendência Criminosa (Art. 320 do Código Penal Brasileiro e art. 322 do
Código Penal Militar).

O Poder tem para o agente público o significado de Dever para com a


comunidade e para com os indivíduos, no sentido de que quem o detém está
sempre na obrigação de exercitá-lo. O Poder do administrador público, revestindo ao
mesmo tempo o caráter de Dever para a comunidade, é insuscetível de renúncia
pelo seu titular.11

A respeito da imposição da punição disciplinar, José Armando da


Costa12 tece o seguinte comentário:
[...]
Em linha de regra, deve a punição disciplinar ser infligida tão logo
tenha o detentor do poder hierárquico tomado conhecimento da falta
cometida. Essa contemporaneidade entre transgressão e punição,
constituindo a matéria nuclear do princípio da imediatidade ou da
atualidade, escora-se na idéia de que a reprovação do titular do poder
disciplinar, para funcionar com eficiência e oportuna exemplaridade, deverá
ser manifestada em tempo hábil, inadmitindo-se, pois, maiores interregnos
entre o cometimento da falta e sua efetiva reprovação.
[...]

Com o perpassar do tempo, a reprimenda disciplinar, como toda e


qualquer punição, vai perdendo o sentido, uma vez que o efeito corrosivo
proveniente do envelhecimento das coisas faz desbotar o sentido pedagógico,
retributivo e neutralizador da pena.

O Poder Disciplinar na Polícia Militar do Estado de Mato Grosso vem


inserido especificamente dentro do RDPM/PMMT13, em seu Art. 9º, vejamos:

Art. 9º - A competência para aplicar as prescrições contidas neste


Regulamento é conferida ao cargo e não ao grau hierárquico.
São competentes para aplicá-las:
1) O Governador do Estado, a todos os integrantes da Polícia militar.

11
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26. ed. São Paulo: Malheiros, p. 97-
98.
12
COSTA, José Armando da. Teoria e Prática do Processo Administrativo Disciplinar. 3. ed.
Brasília: Brasília Jurídica, 1999. p. 60.
13
Decreto nº 1.329 de 21 de Abril de 1978 (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar)
23

2) O Secretário de Segurança do Estado, aos elementos à disposição da


sua Secretaria.
3) O Comandante Geral, aos que estiverem sob o seu comando. (...)

Conclui-se assim que o Poder Disciplinar tem como fundamento a


necessidade de aperfeiçoamento progressivo do serviço público, é um poder que
está intimamente ligado ao deveres dos servidores públicos, destacando-se o da
Legalidade, Obediência, Boa conduta, Assiduidade e Pontualidade, Sigilo
Profissional e Urbanidade, todos de observância obrigatória em qualquer função
pública.

5.3. Poder Regulamentar

O poder regulamentar é atribuído privativamente aos Chefes do Poder


Executivo para editar decretos de execução ao fiel cumprimento à lei, art. 84,inc. IV
Constituição Federal, que diz:

[...]
Compete privativamente ao Presidente da República:IV - sancionar,
promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução. (CF/1988).
[...]

Bem como prevê o art. 66, inc III da Constituição do Estado de Mato
Grosso, que diz:

[...]
Compete privativamente ao Governador do Estado:
III - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução.
[...]

Em regra, não tem cabimento, assim, a existência de decreto


autônomo para disciplinar matéria não prevista em lei, em conformidade com o
entendimento majoritário.

Sendo que Poder regulamentar é o poder dos Chefes de Executivo de


explicar, de detalhar a lei para sua correta execução, ou de expedir decretos
autônomos sobre matéria de sua competência ainda não disciplinada por lei.
24

É um poder inerente e privativo do Chefe do Executivo. É, em razão


disto, indelegável a qualquer subordinado. O Chefe do Executivo regulamenta por
meio de decretos. Ele não pode, entretanto, invadir os espaços da lei.

5.4 - Poder de Polícia

O poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração


Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos
individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado.

É a ―atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando


direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à
tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos, art. 78 CTN14.

Nos ensina o Professor José dos Santos Carvalho Filho, em sua obra
MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO, que diz15:

[…]
O Estado deve atuar à sombra do Princípio da Supremacia do
Interesse Público e, na busca incessante pelo atendimento do interesse
coletivo, pode estipular restrições e limitações ao exercício de liberdades
individuais e, até mesmo, ao direito de propriedade do particular. Neste
contexto, nasce o Poder de Polícia, decorrente da supremacia geral da
Administração Pública, ou seja, aplicando-se a todos os particulares, sem a
necessidade de demonstração de qualquer vínculo de natureza especial.
(CARVALHO, “MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO” 2016, p. 124)
[...]

O Poder de Polícia é atribuição da administração pública quando atua


na fiscalização, limitação de direitos do particular e incide sobre bens e pode ser
executado por vários órgãos da Administração Direta ou Indireta, mas, desde
desenvolvido por uma Pessoa Jurídica de Direito Público. Não cabendo, portanto,

14
Código Tributário Nacional
15
CARVALHO FILHO, José dos Santos . “MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO” 2016, p. 124
25

para as pessoas jurídicas de direito privado, mesmo pertencendo à Administração


Pública Indireta.

Insta ressaltar, que não deve-se confundir Poder de Policia com


a função da Polícia, ou poder da Policia, seja investigativa (repressiva),
administrativa (ostensiva) e judiciária (“longa manus” do Poder Judiciário) recai sobre
condutas tipificadas com natureza de infrações penais (crime e contravenção) nas
diversas normas de caráter incriminador e em desfavor de pessoas físicas, em regra,
ou jurídicas, nas formas legais, cabendo seu exercício à Administração Pública
Direta e pelos órgãos previstos no art. 144 da Constituição Federal16.

6. ATO ADMINISTRATIVO

Ato administrativo ―é toda manifestação unilateral de vontade da


Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir,
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigação aos
administrados ou a si própria‖. Ato Administrativo não se confunde com Fato
Administrativo, pois este é toda realização material da administração em
cumprimento de alguma decisão administrativa. Instauração de uma portaria de
sindicância – Ato administrativo. Indícios de Transgressão disciplinar praticada –
Fato Administrativo.

6.1 - Requisitos do Ato Administrativo

Conforme nos Ensina o professor Hely Lopes Meireles17:

I. Competência: É o poder atribuído ao agente da administração para


o desempenho específico de suas funções; é a condição de validade do ato e resulta
de Lei. Se o ato for praticado por agente incompetente será inválido.

16
Brasil. Constituição Federal 1988.
17
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32º edição, editora. Malheiros Editores,
Pag., 149. 2006.
26

II. Finalidade: É o elemento vinculado do ato administrativo, pois todo


ato administrativo objetiva atingir o interesse público, se não for direcionado para
este fim há desvio de finalidade, sendo ato nulo.

III. Forma – O revestimento exteriorizador do ato administrativo


constitui requisito vinculado e imprescindível à sua perfeição. Enquanto a vontade
dos particulares pode manifestar-se livremente, a da administração exige
procedimentos especiais e forma legal para que se expresse validamente. A
inobservância da forma vicia substancialmente o ato, tornando-o passível de
invalidação, desde que necessária à sua perfeição e eficácia.

IV. Motivo – Situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a


realização do ato administrativo. O motivo pode vir expresso em lei (elemento
vinculado), como pode ser deixado a critério do administrador (elemento
discricionário).

V. Objeto – ―Todo ato administrativo tem por objetivo a criação,


modificação ou comprovação de situação jurídica, concernente a pessoas, coisas ou
atividades sujeitas à ação do Poder Público‖. O objeto identifica-se com o seu
conteúdo por meio da qual a administração manifesta o seu poder, a sua vontade,
ou atesta situação preexistentes.

6.2. Atributos do Ato Administrativo

Os atributos possibilitam diferenciar o ato administrativo dos atos de direito


privado, ou seja, define as características que permitem afirmar que ele se submete
a um regime jurídico privado ou de direito público.

6.2.1. Presunção de Legitimidade – Os atos administrativos nascem


com a presunção de legitimidade, essa presunção (relativa) decorre do Princípio da
Legalidade. Presunção relativa (juris tantum) – Transferência do ônus da prova de
invalidade do ato para quem a invoca. Ex.: Art. 156 É da competência do
Governador do Estado os atos de demissão e de exoneração do Oficial.. LC 555 de
29 de dezembro de 2014.
27

6.2.3. Imperatividade – ―É a qualidade pela qual os atos


administrativos se impõem a terceiros, independente de sua concordância‖ (Celso A.
B. Mello). Implica que os atos administrativos tenham força impositiva própria. Ex.
Solução de processo administrativo com punição.

6.2.3. Auto-executoriedade – O ato administrativo pode ser posto em


execução pela própria administração, sem necessidade de intervenção do Poder
Judiciário. O Poder Público pode compelir materialmente o administrativo ao
cumprimento da obrigação por ele imposta. Os atributos imperatividade e auto-
executoriedade não existem em todos os atos; só é possível: a) quando a lei prevê
expressamente – matéria de polícia. Ex: Instauração e Solução de processo
administrativo.

6.3. Classificação dos Atos Administrativos

A classificação é instrumento que facilita o estudo dos atos


administrativos. A principal classificação do ato administrativo, para o nosso estudo,
é quanto ao seu regramento, podendo ser vinculado ou discricionário. (Meirelles,
Hely Lopes18)

6.3.1. Atos vinculados: São aqueles para os quais a lei estabelece os


requisitos e condições de sua realização. O poder público se sujeita às indicações
legais ou regulamentares e delas não se pode afastar ou desviar, sem viciar,
irremediavelmente, a ação administrativa. Ou seja, a Administração não tem
liberdade de escolha.

6.3.2. Atos discricionários: São os que a Administração pode praticar


com liberdade de escolha de seu conteúdo, de seu destinatário, de sua
conveniência, de sua oportunidade e do modo de sua realização. Assim manifesta-
se no poder da Administração em praticá-lo pela maneira e nas condições que
repute mais conveniente.

18
Meirelles, Hely Lopes. "Direito de Construir", 7a ed., São Paulo, Malheiros, 1996, p.
28

7. PROCESSO E PROCEDIMENTO

7.1- Processo

Processo, possui sua origem no latim ―procedere” tem sentido diverso,


relacionando-se com a relação jurídica/Administrativa instrumental que se instaura e
se desenvolve, visando à solução para o conflito de interesses. Também podemos
entender como o conjunto de atos coordenados para a obtenção de decisão sobre
uma controvérsia no âmbito judicial ou administrativo. Ex. Termo Acusatório,
Sindicância, Conselho de disciplina

7.2 - Procedimento

Procedimento, vem do latim ―procedere” que significa ir por diante,


andar a frente, prosseguir. De sua origem visualiza-se seu significado, o modo de
agir processual, a sucessão ordenada de atos à disposição para que se
consubstancie a tutela jurídica. Procedimento configura-se na exteriorização e
materialização do processo, podendo assumir diversos modos de ser, desta forma
entende-se que é o modo de realização do processo, ou seja, o rito processual. Ex.
Inquérito policial militar, juntada de extrato de alterações, juntadas de defesas,
juntadas de designação de defensor dativo.

O Processo, portanto, pode realizar-se por diferentes procedimentos,


consoante a natureza da questão a decidir e os objetivos da decisão. Observa-se
que não há processo sem procedimento, mas há procedimentos administrativos que
não constituem processo, como, por exemplo, os de licitações e concursos. O que
caracteriza o processo é o ordenamento de atos para a solução de uma
controvérsia; o que tipifica o procedimento de um processo é o modo específico do
ordenamento desses atos.19

19
CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de Direito. Administrativo. 10. ed. Rio de Janeiro : Forense,.
1989. p. 565.
29

8. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR (PADM)

O processo administrativo disciplinar militar, fundamentado na doutrina


majoritária, tem por objetivo analisar a conduta, o comportamento, a correção de
atitude do militar federal ou estadual, acusado em tese da prática de uma
transgressão disciplinar previamente estabelecida no regulamento disciplinar, que
deve ser leis elaboradas pelo Poder Legislativo, Federal ou Estadual, em
atendimento a garantia estabelecidos no art. 5 º, LXI, da Constituição Federal, bem
como art. 42,que regula as atividades dos militares estaduais, do Distrito Federal e
Território, remetendo-se ao art. 142 &3º, inciso X, que determina que lei específica
disporá sobre inclusão, direito e deveres dos militares, que diz:.

[...]
A lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de
idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a
inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e
outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de
suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos
internacionais e de guerra.
[...]
O direito administrativo disciplinar militar é um ramo autônomo no
ordenamento jurídico, e não se encontra vinculado ao direito penal. Neste sentido, a
prática de um ilícito poderá ter repercussões tanto no campo penal como no âmbito
administrativo, bem como na seara do de direito civil, possibilitando a abertura de um
processo-crime e também de um processo administrativo.

O Processo Administrativo Disciplinar passou a ter especial relevância


com a promulgação da Constituição Federal de 1988, dispondo o art. 5º, incisos LIV
e LV, in verbis:
[...]
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes.
[...]

Os dispositivos transcritos garantem ao imputado ou indiciado em


processo administrativo disciplinar, o Contraditório e Ampla Defesa, estas garantias,
30

sem prejuízo dos princípios constitucionais que regulam a Administração Pública


(art. 37 da CF), deverão nortear todo o processo.

Ensina a doutrina que o processo é o recurso usado pelo Estado para


cumprir as suas competências jurisdicionais, administrativas ou legislativas,
objetivando a resolução de conflitos de interesses, desenvolvendo-se numa série de
atos, que seguem uma ordem, tendo em vista um fim almejado.

O Processo Administrativo Disciplinar é o meio regular de que se vale a


Administração Pública para apurar infrações disciplinares e punir seus servidores.

Na definição de Hely Lopes Meirelles 20, Processo Administrativo


Disciplinar ―é o meio de apuração e punição de faltas graves dos servidores públicos
e demais pessoas sujeitas ao regime funcional de determinados estabelecimentos
da Administração‖.
[...]
A Constituição Federal é a principal fonte do Direito
Processual Disciplinar, submetendo-se a ela todas as demais fontes
(Lei ordinária, regulamento, atos normativos internos, pareceres,
jurisprudência, analogia, princípios gerais do direito, praxe
administrativa, etc.), face ao princípio da supremacia da norma
constitucional.
[...]

O Processo Disciplinar compõe-se basicamente de cinco fases: a


Instauração; a Instrução; a Defesa; o Relatório e o Julgamento. Processualística
análoga ao Processo Ordinário Comum.

No âmbito da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, temos o


Processo Administrativo Disciplinar Militar, que ―é o meio pelo qual a Instituição
Policial Militar de Mato Grosso oportuniza ao Policial Militar Acusado de cometimento
de transgressão disciplinar a se defender administrativamente‖. No PADM a
apresentação da defesa pode ser feita pessoalmente, por outro militar (bacharel em
direito ou não; defensor dativo ou através de advogado legalmente constituído.
(sumula nº 5 STF; Portaria 128 art. 2 e seus parágrafos e Portaria).

20
MEIRELLES. Op. Cit. p. 654.
31

Súmula Vinculante 5 - A falta de defesa técnica por advogado no


processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de 2009 (padroniza e


ressalta ritos e expedientes usuais nos procedimentos e processos administrativos
no âmbito da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso)
[...]
Artigo 2º - O policial militar acusado em processo administrativo poderá
constituir advogado para defendê-lo no processo administrativo e, na falta
deste, a autoridade delegada solicitará à autoridade competente a
designação de Oficial a fim de promover a sua defesa no curso processual.
Ausência de Procuração
§ 1º - A constituição de defensor independerá de instrumento de mandato,
se o acusado o indicar por ocasião da qualificação e interrogatório ou em
qualquer fase, por termo nos autos.
Réu revel. Nomeação obrigatória.
§ 2º - Nenhum acusado considerado revel será processado ou julgado sem
defensor.
Substituição do dativo
§ 3º - A nomeação de defensor dativo não impede que o acusado, a
qualquer tempo, apresente advogado ou defensor público para substituição,
sem prejuízo dos atos processuais já praticados.
Defesa própria
§ 4º - A nomeação do defensor, atendidas as peculiaridades de cada
processo, não obsta ao policial militar acusado o direito de se defender, mas
o encarregado manterá o defensor, exceto com a recusa expressa do
acusado, a qual constará dos autos.
Substituição por recusa
§ 5º - Na hipótese de recusa do defensor designado por motivo comprovado
deverá ser feita a substituição.
[...]
A Portaria nº 48/DJD/CorregPM/2013, alterara o art. 2º da Port.
128/QCG/PMMT/2009.
Art. 1º - O Artigo 2º da Portaria n.º 128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de
2009 passa a vigorar com a seguinte redação:

[...]

“Artigo 2º - O policial militar acusado em processo administrativo poderá


constituir advogado para defendê-lo no processo administrativo e, na falta
deste, a autoridade delegada solicitará à autoridade delegante a
designação de Oficial, Sargento ou Subtenente, ou ainda, qualquer
outro policial militar indicado pelo acusado, a fim de promover a sua
defesa no curso processual.‖
[...]

As normas determinantes para a elaboração do Processo


Administrativo Disciplinar Militar estão previstas nas Normas de Instrução do
Processo Administrativo Disciplinar Militar. Atualmente no ordenamento jurídico
militar do Estado de Mato Grosso, encontram-se as seguintes espécies de
32

processos disciplinares considerados ordinários ou comuns: a Sindicância


(investigatória ou acusatória), regulada pela portaria nº 218/GCG/PMMT/09, de 16
de outubro de 2009, que dispõe sobre a aprovação do Manual de Sindicância
Policial Militar e o Termo Acusatório, regulado pela portaria nº 159/GCG/PMMT/09,
de 27 de julho de 2009).

Insta ressaltar, que para aplicação, cumprimento e execução das


punições disciplinares, usa subsidiariamente o Decreto nº 1.329 de 21 de Abril de
1978 (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar), bem como outras instruções dos
citados processos aplica-se as regras contidas no Estatuto dos Militares do Estado
de Mato Grosso, (LC Nº 555, de 29 de dezembro de 2014); no manual de
sindicância; na Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de 2009; na Portaria
Nº 160/GCG/PMMT/09, de 27 de julho de 2009, bem como outras normas afetas a
fontes do direito administrativo, fins de estabelecer o cumprimento de todos os ritos
processuais de apurações da infrações disciplinares, assegurando e oportunizando
o direito de defesa.

No caso dos Processos Administrativos Disciplinares especiais ou


demissórios21, a PMMT adota três modalidades: O Conselho de Justificação (para
Oficiais); o Conselho de Disciplina (para praças estáveis, incluindo o Aspirante a
Oficial) e a Sindicância Demissória (para as praças não estáveis), os quais usam os
mesmos dispositivos normativos acima citados

Insta ressaltar que os Processos Administrativos Disciplinares


Demissórios são instaurados em face de fatos graves cometidos pelo militar,
sobretudo àqueles que afetem a honra e o pundonor da Instituição Policial Militar.
Nesse caso, recomenda-se que a defesa deve ser realizada por advogado
devidamente constituído e inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, não
impedindo a aplicabilidade de designação de defensor dativo nos termo do Artigo 2º
Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de 2009.

21
Processos Administrativos com a finalidade de verificar se o militar reúne condições de permanecer nas
fileiras da Corporação.
33

9. FASES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

Os Processos Administrativos Disciplinares Militares, ordinários


compreende cinco fases, a instauração, instrução, defesa, relatório e
julgamento. Se a Autoridade Administrativa não tiver elementos suficientes para
instaurar o Processo Administrativo Disciplinar, quer por dúvidas quanto a autoria do
fato ou por quanto a irregularidade ou não no serviço público, procederá uma
investigação sumária, cujo objetivo e fazer uma apuração preliminar dos fatos sem
rito especifico, sendo formalizado através de uma ocorrência com Pedido de
Previdência, caso não haver elementos suficiente para instauração de qualquer
processo procede-se o arquivamento dos autos após apuração sumária. Contudo
se houver indícios de transgressões disciplinares procede-se a instauração de uma
portaria, que conforme a natureza e a gravidade dos fatos indicará na abertura, qual
vai ser a espécies adequada de Processo Administrativo Disciplinar Militar, o qual
tramitará pelas seguintes fases, a saber:22

9.1. Instauração

A Instauração é a apresentação escrita dos fatos e indigitação do


direito que ensejam o processo. Quando provém da Administração deve
consubstanciar-se em Portaria, representação ou despacho inicial da autoridade
competente; quando provocada pelo administrado ou pelo servidor deve formalizar-
se por requerimento ou petição. O essencial é que a peça inicial descreva os fatos
com suficiente especificidade, de modo a delimitar o objeto da controvérsia e a
permitir a plenitude da defesa.
Processo com instauração imprecisa quanto à qualificação do fato e
sua ocorrência no tempo e no espaço é nulo.

9.2. Instrução

22 Lei nº 9.784 , de 29 de janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração


Pública Federal.
34

A Instrução é a fase de elucidação dos fatos, com a produção de


provas da acusação no processo disciplinar, que vão desde a inquirição de
testemunhas, as perícias técnicas, até a juntada de documentos pertinentes.
Cabendo também, a apresentação direta de provas ou solicitação de sua produção
na forma regulamentar pelas partes interessadas no processo.

Nesta fase, são permitidos todos os meios de provas admitidos no


nosso Direito Positivo, compreendendo também os moralmente legítimos, ainda que
não especificados em Lei.

No âmbito das provas da processualística disciplinar, os meios


apuratórios para se chegar à verdade dos fatos, sofrem tão-somente as restrições no
que dizem respeito à liberdade do cidadão (direitos e garantias constitucionais) e as
decorrentes da moral e do bem comum.

Conseqüentemente, não são admitidas nos procedimentos provas


obtidas por meios ilegais (art. 5º, LV/CF). Assim, são consideradas provas ilícitas,
aquelas obtidas por confissões em que foi utilizada a tortura, utilização de
interceptação telefônica, nos modos não permitidos em Lei.

O Encarregado do procedimento disciplinar no desenvolvimento dos


seus trabalhos apuratórios, "promoverá a tomada de depoimentos, acareações,
investigações e diligências cabíveis, objetivando a coleta de provas recorrendo,
quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir a completa elucidação
dos fatos".

9.3. Defesa

Como já vimos, é garantia constitucional de todo acusado, em


processo judicial ou administrativo (art. 5º, LV), e compreende a ciência da
acusação, a vista dos autos, a oportunidade para oferecimento de contestação e
provas, a inquirição e reperguntas de testemunhas e a observância do devido
processo legal (due process of law).
35

Ampla defesa deve ser entendida como sendo a possibilidade de


contraditar todas as acusações apresentadas, objetando quanto à natureza e
qualidade das provas produzidas, e ter o direito de contra-argumentar e apresentar
contraprovas a fim de, em surgindo o confronto, ser possível chegar à verdade real
dos fatos e da vinculação de sua autoria ao acusado.

É cerceamento de defesa, reconhecido pelos tribunais, qualquer


mecanismo que iniba a possibilidade de produção de provas. Um dos exemplos
clássicos está na negativa do fornecimento de certidão, ou retardá-lo, para impedir o
seu uso em defesa do servidor.

Nesta fase, o Encarregado do processo poderá indeferir provas


impertinentes ou indicadas com intuito protelatório ou tumultuário, mas, para tanto,
deverá justificar objetivamente sua rejeição.

Assim, a defesa terá que informar, de forma clara e objetiva, o motivo


que enseja a produção da prova requerida. É admissível a defesa pelo próprio
acusado ou por advogado regularmente constituído para o processo Artigo 2º
Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de 2009.

É oportuno asseverar, por ser a defesa um Direito indisponível, o


acusado, tem que ser assistido por um defensor, na hipótese de não ter quem
patrocine sua causa, ou não assumindo a sua defesa, é dever da Administração
Pública nomear defensor dativo.

9.4. Relatório

O relatório é a apreciação célere e sucinta do que ocorreu no processo,


é a síntese do apurado, com a análise das provas, dos fatos apurados, do direito
debatido e proposta conclusiva para a decisão da autoridade julgadora competente
(Autoridade Delegante).

O relatório não acarreta efeito vinculativo para a autoridade julgadora,


podendo a mesma concordar (homologar) ou divergir (Avocar) da conclusão
36

apresentada no relatório, desde que fundamente sua decisão em elementos


existentes no processo ou na insuficiência de provas para uma decisão punitiva.

9.5. Julgamento

O julgamento é a decisão proferida pela autoridade delegante sobre o


objeto do processo. O essencial é que a decisão seja motivada com base na
acusação, na defesa e na prova, não sendo lícito à autoridade julgadora argumentar
com fatos estranhos ao processo ou silenciar sobre as razões do acusado, por que
isto equivale a cerceamento de defesa e conduzirá à nulidade do julgamento, o qual
não é discricionário, mas vinculado ao devido procedimento legal.

10. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR EM ESPÉCIE

Atualmente no ordenamento jurídico militar do Estado de Mato Grosso,


encontram-se as seguintes Espécies de Processos Disciplinares: Termo Acusatório
regulado pela portaria nº 159/GCG/PMMT/09, de 27 de julho de 2009); Sindicância
(investigatória acusatória, e demissória) reguladas pela portaria nº
218/GCG/PMMT/09, de 16 de outubro de 2009, que dispõe sobre a aprovação do
Manual de Sindicância Policial Militar; Conselho de Disciplina (Lei nº 3.800 de 19
de outubro de 76, com as alterações da Lei nº 7227/99); Conselho de Justificação
(Lei nº 3.993 de 26 de junho de 1978).

10.1. Termo Acusatório23

O Termo acusatório é uma espécie de Processo Administrativo


Disciplinar Militar Sumário estabelecido pela portaria nº 159/GCG/PMMT/09, de 27
de julho de 2009, fim de processar e julgar aquelas transgressões disciplinares
militares puníveis com as sanções de advertência, repreensão, detenção, prisão e
prisão em separado, previstas respectivamente no artigo 22, itens 1, 2 ,3 e 4, do

23
Regulado pela portaria nº 159/GCG/PMMT/09, de 27 de julho de 2009. Portaria nº
128/GCG/PMMT/09, de 1º de junho de 2009; na Portaria Nº 160/GCG/PMMT/09, de 27 de julho de
2009. Decreto nº 1.329 de 21 de Abril de 1978 (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar) entre
outras normas.
37

Decreto nº 1.329, de 21 de abril de1978, que aprova o Regulamento Disciplinar da


Polícia Militar do Estado de Mato Grosso (RDPM/MT), com fulcro no artigo 5º,
combinado com o artigo 37, caput, todos da CRFB/88.

A finalidade desta Espécie de Processo é apurar e esclarecer os fatos


caracterizados como transgressão disciplinares considerada menos gravosas, nos
termos do Art. 33, itens 2, a), b), c). (RDPM/MT). Ex. Faltar ou serviço, ou chegar
atrasado.
Neste sentido, foi posto em vigência essa espécie de processo
acusatório considerando a norma constitucional contida no artigo 5º, inciso LXXVIII,
da CRFB/88, segundo a qual todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.

Além de se evitar a ―jurisdicionalização‖ do processo administrativo


disciplinar militar, no que o torna demasiadamente prolongado, eis que há
princípios que são próprios da administração pública, e por assim dizer da
administração militar, a exemplo dos supraprincípios: do interesse público sobre
o particular e o da indisponibilidade do interesse público.

Conseqüentemente, é dever do Estado alcançar os objetivos


pretendidos com a aplicação da sanção administrativa através da prevenção
específica, direcionada ao policial militar transgressor da disciplina, e a prevenção
geral, direcionada a todo público interno, algo que não se consegue sem a
imediata punição do acusado, anulando assim a sensação de impunidade
quando a punição se verifica de forma mediata.

Neste contexto, cita-se o entendimento Tribunal de Justiça do Estado


da Bahia TJ-BA - Apelação: APL 00857703620068050001, que diz:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSO


DISCIPLINAR SUMÁRIO. POLICIAL MILITAR. APLICAÇÃO DA
PENALIDADE DE DETENÇÃO. OBEDIÊNCIA AO DEVIDO PROCESSO
LEGAL. PROPORCIONALIDADE DA SANÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO IMPROVIDO.

Rejeita-se a arguição de nulidade do Processo Disciplinar Sumário,


quando comprovada a obediência ao devido processo legal e
38

suficientemente fundamentada a decisão administrativa que culminou


em sanção de detenção por 12 a 15 dias, inclusive no que pertine à
autoria e materialidade da conduta ilícita. No que pertine ao exame da
proporcionalidade da penalidade aplicada, registre-se que o STJ possui
firme entendimento no sentido de que "é cabível ao Poder Judiciário
perquirir acerca da motivação do ato à luz dos princípios norteadores
da Administração Pública, máxime quanto à proporcionalidade da
pena." (STJ - MS 14.453/DF) Neste sentido, considerados descumpridos
os deveres funcionais descritos nos artigos 51, I e XIII e 57, I, todos do
Estatuto dos Policiais Militares, mostra-se proporcional a imposição
da sanção de detenção, não se vislumbrando qualquer ilegalidade na
atuação do Estado. RECURSO IMPROVIDO. (Classe: Apelação, Número
do Processo: 0085770-36.2006.8.05.0001, Relator (a): Ruy Eduardo
Almeida Britto, Terceira Câmara Cível, Publicado em: 19/08/2015) Tribunal
de Justiça do Estado da Bahia TJ-BA - Apelação: APL
00857703620068050001

Lição também aplicada pelo Tribunal de Justiça TJMT - MS


147795/2013, que diz:

MANDADO DE SEGURANÇA - PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR – ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA – NÃO DEMONSTRAÇÃO -
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO – SEM NULIDADE – PRECEDENTES DO STJ -
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS CAPAZES DE MACULAR O PROCEDIMENTO
– SEGURANÇA DENEGADA. É pacífica a jurisprudência do STJ, no
sentido de que não há que se falar em nulidade do processo
administrativo disciplinar, quando não demonstrado qualquer vício
capaz de maculá-lo ou prejuízo ao servidor. (MS 147795/2013, DES.
JOSÉ ZUQUIM NOGUEIRA, TURMA DE CÂMARAS CÍVEIS REUNIDAS
DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO, Julgado em 24/11/2014, Publicado no
DJE 01/12/2014)

É prudente esclarecer os preceitos do art. 3º, da portaria nº


159/GCG/PMMT/09, de 27 de julho de 2009, que diz antes da instauração da
portaria de T.A, deverá existir uma analise preliminar, fins de subsidiar a instauração
dessa espécie de processo, podendo ser uma peças informativa, ou até mesmo,
indícios de transgressões consideradas menos gravosas vislumbrado em outras
espécie de processos, como sindicância e conselhos ou até mesmo em
procedimentos de Inquéritos policiais comuns e militares, que ainda não foi objeto de
apuração, ou ofertado os meios de defesa.

Ressalta-se ainda, que as fases dessa espécie de processo é


diferenciada dos demais processos regulares, suprimindo a fase do relatório, bem
como preferencialmente evitando atos processuais que protela o julgamento,
atendendo o principio da celeridade e razoável duração do processo.
39

Conforme art. 4º da portaria nº 159/GCG/PMMT/09, a peça inicia


impreterivelmente devera conter:

I – A identificação do Acusado, mencionando-se: nome completo, grau


hierárquico, número RG, Unidade Policial Militar ou Subunidade serve, etc.;
II – Relato do fato, com tipificação da transgressão disciplinar praticada e rol
de testemunhas;
III – Ciente do policial militar Acusado;
IV – Justificativa / Razões de Defesa, que pode feita de próprio punho no
Termo Acusatório ou digitado em folhas apartadas;
V – Decisão da autoridade Policial Militar, que deverá ser fundamentada e
podendo ser feita de próprio punho no Termo Acusatório.
Parágrafo único: os documentos escritos de próprio punho deverão ser
confeccionados com tinta azul ou preta, com letra legível e sem rasuras;

Outro aspecto importante, é que o Termo Acusatório, não possui


nomeação direta de encarregado, sendo os atos processuais realizados pelas SJD e
DJDs, das Unidades Militares, nos termos da Portaria nº 219/GCG/PMMT/09, DE 16
DE OUTUBRO DE 2009.

Com relação aos prazos aplica-se o art. 5º (ciência do Policial) da


Portaria nº159/GCG/PMMT/09, bem como art. 20 (julgamento) e 23 (prescrição) do
Manual de Sindicância.

10.2. Sindicância24

10.2.1. Conceitos Diversos

É o caso da sindicância, conceituado pelos Estudiosos que dizem:

Na lição de Eliezer Pereira Martins, que diz:


[...]
Têm a Sindicância a finalidade de colher elementos de autoria e
materialidade de transgressão disciplinar. Na Sindicância não há que se
falar em defesa já que até que nela se formula acusação, a mesma
apresenta natureza inquisitiva.(DADM, 1996, p. 124).
[...]
No ensinamento de José Cretella Júnior, diz:

24
Regulada pela Portaria nº 218/GCG/PMMT/09, de 16 de outubro de 2009, que dispõe sobre a
aprovação do Manual de Sindicância Policial Militar Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, 1º de junho de
2009, (Padronização dos atos disciplinares). Portaria nº 160/GCG/PMMT/09, de 27 de julho de
2009 (Sindicância Disciplinar). Decreto nº 1.329 de 21 de Abril de 1978 (Regulamento Disciplinar da
Polícia Militar) entre outras normas.
40

[...]
A sindicância é o meio sumário de que utiliza a administração do
Brasil para, sigilosa ou publicamente, com indiciados ou não, proceder à
apuração de decorrência anômala no serviço público, as quais confirmadas,
fornecerão elementos concretos para a imediata abertura do processo
administrativo contra o funcionário responsável. (Curso de Direito. Adm.
Disc., 1993 cit. p. 91)
[...]

No entendimento de Hely Lopes Meirelles, diz:


[...]
Sindicância é o meio sumário de elucidação de irregularidade no
serviço para subseqüente instauração do Processo e punição do infrator.
A Sindicância tem sido desvirtuada e promovida com instrumento de
punição de pequenas faltas de servidores, caso em que deverá haver
oportunidade de defesa para validade da sanção aplicada.(DAB, 33ª,
2007, cit. p.698)
[...]

O STF já se posicionou sobre esta possibilidade, conforme entende:

SERVIDOR PÚBLICO. APLICAÇÃO DA PENA DE ADVERTÊNCIA


SEM A INSTAURAÇÃO DE SINDICÂNCIA NA QUAL SE DARIA O
EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA DOS QUE VIERAM A SER
PUNIDOS. NULIDADE. Do sistema da Lei 8.112/90 resulta que, sendo a
apuração de irregularidade no serviço público feita mediante sindicância ou
processo administrativo, assegurada ao acusado ampla defesa (art.143), um
desses dois processos terá de ser adotado para essa apuração, o que implica
dizer que o processo administrativo não pressupõe necessariamente a existência de
uma sindicância, mas, se o instaurado for a sindicância, é preciso distinguir: se
dela resultar a instauração do processo administrativo disciplinar, é ela mero
processo preparatório deste, e neste é que será imprescindível se dê a ampla
defesa do servidor; se, porém, da sindicância decorrer a possibilidade de
aplicação de penalidade de advertência ou de suspensão de até 30 dias, essa
aplicação só poderá ser feita se for assegurado ao servidor, nesse processo, sua
ampla defesa. No caso, não se instaurou nem sindicância, nem processo
administrativo, e sem se dar, por isso mesmo, qualquer oportunidade de defesa aos
impetrantes, foi-lhes aplicada a pena de advertência, por decisão que foi tomada,
como se vê da cópia a fls. 10, em processo administrativo contra terceiro e no qual
os impetrantes constituíam a comissão de inquérito. Recurso ordinário a que se dá
provimento.(RMS-22789 / RJ RECURSO DE MANDADO DE SEGURANCA –
Publicação DJ DATA-25-06-99 PP-00045 EMENT VOL-01956-02 PP-00245 –
Relator Ministro MOREIRA ALVES – Julgamento 04/05/1999 - Primeira Turma -
Unânime.

Neste conceito entende que a sindicância e um instrumento processual


inquisitivo, que reuni elemento preparatório para a peça acusatória. Todavia, no
conjunto normativo no Estado de Mato Grosso, a sindicância pode apresentar tanto
o caráter investigatório, acusatório ou híbrido, como veremos a seguir.
41

10.2.2 Conceito Especifico

No ordenamento jurídico militar do Estado de Mato Grosso, a


Sindicância é o instrumento pelo qual a administração pública militar utiliza para
colher elementos de autoria e materialidade de irregularidades praticadas por
militares estaduais, visando apurar o cometimento de transgressões disciplinares, as
que se referem nos artigos 12 e 13, do Regulamento Disciplinar da PMMT, instituído
pelo Decreto nº 1.329, de 21 de abril de 1978. Art. 1 do Manual de Sindicância,
portaria nº 218/GCG/PMMT/09, de 16 de outubro de 2009.

10.2.3. Fases da Sindicância

A sindicância pode apresentar as seguintes fases: investigatória;


acusatória e investigatória/acusatória (mista).

Deve se ressaltado que não necessariamente a sindicância vai passar


pela instrução processual mista (investigatória/acusatória), visto que pode ser
conclusa na fase investigatória, ou já iniciar na fase acusatória, efeito que vai
depender de cada fato visto ao caso concreto.

Na fase investigatória a sindicância assemelha-se ao inquérito policial,


por ser essencialmente inquisitório. Isso quer dizer que não há contraditório, tendo
em vista que o encarregado de sindicância apura a ocorrência de materialidade e
indícios de autoria.

Na fase acusatória, a sindicância já possui elementos suficiente para


indícios de autoria e materialidade, subsidiando o encarregado a proceder a
acusação por meio da citação direta ao servidor acusado.

10.2.4 Sindicância Investigatória


42

Como acima descrito, é uma espécie de processo de rito investigativo


que visa apurar um fato, em tese, irregular praticado pelo policial militar, busca a
autoria e materialidade (elementos de convicção) de transgressão disciplinar.

Nesta Sindicância não se observa o contraditório e a ampla defesa, de


modo que o encarregado não precisa se preocupar com a presença do advogado
constituído do policial militar investigado nos atos de instrução.Todavia, apesar de
ser inquisitória, não dispensa o acompanhamento por parte da defesa.

No rito investigativo da sindicância, regra geral, não se fala em prova,


mas em elementos de informações coletados pelo encarregado.

10.2.5. Documentos Básicos da Sindicância Investigatória - (Autônoma- Uma


fase)

1º – AUTUAÇÃO- Art. 4º, I. – (Manual de Sindicância - MASIN)

Autuação é a capa da sindicância, é confeccionada em papel cartolina


de cor verde claro e ou amarelo. O encarregado deve observar que a data da
autuação tem que coincidir com a data da abertura dos trabalhos (Termo de
abertura). E isso se faz às 48horas após o recebimento da Portaria inaugural. Visa
essa data dar início a contagem de prazo para conclusão da Sindicância.

Regra geral o prazo de conclusão da sindicância é de 20 dias corridos,


prorrogável por mais 10. Ainda se houver necessidade devidamente demonstrada, o
encarregado poderá solicitar a dilação de prazo, o qual não poderá ultrapassar o
prazo de prorrogação de 10 dias. A prorrogação e a dilação devem ser solicitadas
com no mínimo 02 dias de antecedência do final do prazo regulamentar.

A contagem do prazo se inicia depois da elaboração da autuação e do


termo de abertura, 48horas após o recebimento da sindicância. Se ocorrer
imprevisto que retarde o início da instrução da sindicância o encarregado deverá
43

informar a autoridade delegante, para que esta possa registrar os fatos e controlar o
devido prazo.

Deveis observar que para solicitar a dilação de prazo nos processos e


procedimentos oriundos da Corregedoria-Geral os encarregados devem levar os
autos da sindicância para ser examinado e depois de confirmada à necessidade, o
Corregedor autoriza a dilação.

2º– PORTARIA/ANEXOS–Pág-11 (Manual de Sindicância - MASIN)

A portaria de instauração é a forma oficial de iniciar uma sindicância,


na Portaria conterá nome da autoridade delegante (Oficial que determinou a
instauração), a autoridade delegada (Oficial que foi designado para realizar
apuração dos fatos da sindicância).

É neste documento que o encarregado juntamente com seus anexos,


que irá identificar qual rito deve ser aplicado na sindicância, pois, se os fatos trazidos
na sindicância forem derivados de uma prévia investigação (pedido providencia) , ou
seja, já ouve um procedimento investigativo anterior que apontam a autoria e a
materialidade da infração disciplinar, o encarregado suprirá a fase investigativa,
inaugurando assim, a fase acusatória, com o documento de Citação,Ex: Inquérito
Policial Militar, Inquérito Policial Civil, Sindicância investigativa, Auto de Prisão em
flagrante delito militar ou civil. E ainda cópia de Processo Criminal etc.

3º – TERMO DE ABERTURA- Pág- 12 MASIN

O Termo de Abertura é também uma peça formal, o último


procedimento a ser realizado na fase de autuação, motivo pelo qual sua data tem de
coincidir com a da autuação, devendo especificar as atividades que estão dando
início aos trabalhos, podendo ser: realização de diligências, solicitações, anexação
de provas, documentos e outros provimentos.

4º – OFÍCIO DE RECEBIMENTO/INFORMAÇÃO DE INÍCIO DOS TRABALHOS


44

O oficio de recebimento é um documento oficial que pode ser


substituído pelo Termo de Recebimento previsto no Manual de Sindicância, mas
geralmente os encarregados optam em utilizá-lo.

É um documento de garantia do encarregado, visto que se receber a


Portaria e não iniciar os trabalhos dentro do prazo regulamentar de 48horas em
razão de casos de força maior. Ex: cumprimento de reintegração de posse, onde o
encarregado irá permanecer ausente por 10 (dez) dias da cidade. Para justificar
esse prazo que não realizou instrução da sindicância, portanto, é indispensável que
informe a autoridade delegante. Podendo esta decidir pela substituição do
encarregado, ou então sobrestar o prazo até que o encarregado retorne da missão.
Em suma não é obrigatório, mas optar em não fazê-lo a autoridade delegante
iniciará a contagem de prazo da sindicância com base na data da Autuação e ou
Termo de abertura.

Os ofícios solicitando qualquer documento ou procedimento extra-autos


não serão obrigatórios serem inseridos nos autos da sindicância, salvo os ofícios
que não foram atendidos.

5º – TERMO DE PERGUNTA AO OFENDIDO

6º – TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA

7º – TERMO DE PERGUNTA AO SINDICADO

Na fase investigatória não há obrigatoriedade de realizar oitivas das


pessoas envolvidas, na seqüência rígida determinada pelo MASIN. Ocorre que
nessa fase o encarregado tem liberdade de produzir os elementos de informações
que indiquem autoria e materialidade de infração disciplinar. Portanto, a fase
investigativa é flexível, e não rígida. Assim sendo, o encarregado poderá optar por
qual caminho deverá trilhar durante a investigação que o levará a elucidação dos
fatos mais próximo da verdade.
45

Nesta fase, não há contraditório e ampla defesa, o sindicado e ou


advogado não podem interferir na investigação, no entanto, se desejarem
acompanhar a instrução, o encarregado poderá autorizar desde que comportem de
forma adequada e não prejudiquem a investigação.

Poderá o encarregado Iniciar ouvindo em primeiro lugar o Ofendido,


depois as Testemunhas e por último os policiais investigados. Isso decorre da lógica,
pois nem toda sindicância investigativa nasce com autoria pré-definida, bem como, o
encarregado depois de ouvir o ofendido e as testemunhas terá uma visão geral dos
fatos, podendo assim, com tranqüilidade elaborar as perguntas a serem feitas aos
policiais envolvidos.

Na fase investigatória o DOCUMENTO adequado para tomar


declaração do SINDICADO/ou INVESTIGADO é o TERMO DE PERGUNTA AO
SINDICADO. Não importa a ordem de realização das inquirições, nesta fase. O que
importa é chegar à autoria e materialidade da infração disciplinar

8º – EXTRATOS DE ALTERAÇÃO- Art.5º, XI- MASIN. Art.10 da Portaria Nº.


219/2009.

Encarregado deverá solicitar os extratos de alterações atualizados dos


Policiais Militares investigados e ou Sindicados/acusados. Isso decorre da previsão
do RDPMMT nos artigos 14, 15, 16, 17 e 18, normas de aplicação de penalidade
disciplinar ao policial militar infrator. Obrigatório à análise desses artigos pela
autoridade julgadora, antes de solucionar a sindicância, pois, o policial poderá ter a
punição agravada, atenuada ou ainda justificada.

Na prática: Extratos de alterações dos Oficiais e Praças do 1º


Comando Regional deverão ser solicitados ao Diretor da DGP no QCG. As Praças
do 2º Comando Regional, o encarregado deverá solicitar àquele Comando.As
Praças do interior do Estado o encarregado solicitará aos seus respectivos
Comandantes.

9º – JUNTADA-Pág. 15 do MASIN
46

Documento utilizado tanto na fase investigatória quanto na fase


acusatória, tendo a finalidade de juntar/acostar/inserir nos autos documentos que
não foram produzidos pelo encarregado. Ex: Extrato de alteração, laudo pericial,
escala de serviço, cópia de cautela de arma de fogo, boletim de ocorrência, carta
precatória (oitiva de testemunha) etc. procede da seguinte forma: confecciona o
Termo de Juntada, logo em seguida os documentos a serem juntados, devidamente
identificados.

10º – ASSENTADA-Pág. 25 do MASIN

Documento elaborado pelo encarregado quando for ouvir mais de uma


testemunha no mesmo dia. Na prática não é muito observado pelos encarregados,
por não gerar qualquer prejuízo para investigação, não sendo obrigatório. O
encarregado pode então ouvir as testemunhas em termo de inquirição
separadamente.

11º – CERTIDÃO-Pág. 14, do MASIN

Documento elaborado pelo encarregado todas as vezes que ao realizar


diligência fins de elucidar os fatos, não consiga êxito na sua efetivação. Devendo
registrar os fatos ocorridos na Certidão. E quando se tratar de diligência para
localizar e notificar testemunha, o encarregado deverá atentar para que 02 ou 01
testemunha acompanhe a r. diligência, as quais irão assinar a r. certidão, juntamente
com o encarregado. O Termo de Juntada, Assentada e Certidão poderão aparecer
na fase investigativa ou na fase acusatória, vice-versa.

12º – RELATÓRIO-Art.5º, XIV-MASIN- MODELO – Pág- 33 MASIN

No relatório o encarregado deverá expor detalhadamente todas as


diligências realizadas. Observar o Modelo previsto no MASIN. Registrar todos os
47

documentos e requisições feitas. Apontar os elementos de informação que contribuiu


para formar a convicção de que o investigado não cometeu qualquer irregularidade
(infração disciplinar/crime militar ou comum).

10.2.6 Sindicância Investigatória - Acusatória (Híbrida - Duas Fases)

É uma espécie de processo disciplinar que visa inicialmente coletar


elementos de autoria e materialidade da infração disciplinar (1º FASE), em segundo
momento o encarregado estando convicto da infração disciplinar com base nos
elementos coletados, expedirá a CITAÇÃO ao militar, inaugurando assim o rito
acusatório (2º FASE), momento em que o policial militar deixará de ser investigado e
passará a ser acusado no processo. É nesta fase que se observa o contraditório e a
ampla defesa.

10.2.7. Documentos Básicos da Sindicância Investigatória e Acusatória (Duas


fases)

1º – AUTUAÇÃO
2º – PORTARIA/ANEXOS
3º – TERMO DE ABERTURA
4º–OFÍCIO DE RECEBIMENTO/INFORMAÇÃO DE INÍCIO DOS TRABALHOS

OBS: Os documentos dos itens 1, 2, 3 e 4, não podem sofrer


alterações na sua seqüência, independente da espécie da sindicância.

5º – TERMO DE PERGUNTA AO OFENDIDO


6º – TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA
7º – TERMO DE PERGUNTA AO SINDICADO

Os Itens1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, são atos da 1º fase da sindicância (rito


investigativo), nesta etapa o encarregado busca autoria e materialidade da infração
disciplinar. Somente depois por livre convicção com base nos elementos coletados é
que deverá transformar a sindicância de rito investigativa para acusatória. Nota-se
que o comentaria acerca dessa fase já forma mencionados no item 11.4.

8º – CITAÇÃO –art.4, VIII, c/c art. 6º MASIN, c/c art. 7º da Portaria nº 160/2009.
c/c ainda com art. 1º da Portaria nº.128/2009.
48

A Citação é um documento formal da sindicância que inaugura a 2º


fase, portanto a sindicância deixa de ser rito investigativo e passa a ser de rito
acusatório.

No rito investigativo não se observa o contraditório e a ampla defesa.


No rito acusatório, em razão do direito de defesa estatuído no art. 5º, LV da CF, e
que ao final poderá o policial militar acusado sofrer uma penalidade disciplinar, de
modo que nesta fase é obrigatório observar o contraditório e a ampla defesa. Assim
vejamos:
[...]
LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes; (grifo nosso)
[...]

A Citação é pessoal, devendo o encarregado entregar o r documento


diretamente ao militar acusado. Registrar que quando o Militar for da mesma
unidade do encarregado não terá muita dificuldade em citá-lo. Agora quando for de
UPM distinta do encarregado, este poderá ser citado mediante solicitação ao
Comandante do militar acusado. Art. 1º §1º da Portaria 128/2009, c/c Art.293
CPPM.

A Citação é composta de 07 (sete) itens, sendo o 1º resume os fatos


imputados ao militar acusado, 2º o encarregado deverá amoldar os fatos com os
dispositivos em tese, infringidos. Itens do RDPMMT e do Estatuto dos Militares,
conforme Modelo 3 no rol dos documentos repassados pelo instrutor.

Depois de Citado o militar, deixa de ser investigado/sindicado, passa a


ser chamado de acusado, pois é nessa fase que será oportunizado o direito de
ampla defesa e do contraditório. Depois de citado deverá comparecer no local, data
e horário, conforme item 6 da citação, no prazo de 48horas, sob pena de ser
decretado sua revelia pelo não comparecimento.

Se ocorrer à revelia, o sindicante deverá solicitar à autoridade


delegante a nomeação de um Oficial PM ou Graduado para exercer a função de
defensor dativo. Este será notificado para se assim quiser apresentar no prazo de
72horas as alegações iniciais de defesa. Não se esquecer de conceder vistas dos
49

autos ao defensor dativo, e ainda encaminhar cópia da citação junto com a


Notificação.

9º – TERMO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO

1º Qualificação - Trata-se de informação sobre a pessoa do acusado,


NOME, RGPMT, LOTAÇÃO, NACIONALIDADE, ESTADO CIVIL, DATA DE
NASCIMENTO, NATURALIDADE, NOME DO PAI E MÃE, LOCAL ONDE RESIDE.
Em seguida lhe dará ciência do teor da acusação, fazendo a leitura da Portaria e da
peça acusatória (CITAÇÃO), bem como lhe garantirá o direito de permanecer em
silêncio em razão do princípio da negativa da autoincriminação (Nemo tenetur se
detegere) o acusado não é obrigado a produzir provas contra si mesmo.

TERMO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO


Aos ....... dias do mês de ..................... do ano de dois mil e
................, nesta cidade de ....................., Estado de Mato
Grosso, no Quartel do (local onde se procede), onde eu,
........................................, Sindicante, me encontrava,
compareceu o Acusado, ...............(nome), RG ..................,
lotado ..............(UPM do Acusado), brasileiro, ............(estado
civil), nascido em ..............(data de nascimento do Acusado),
no município .................... (nome do município e Estado onde
nasceu o Acusado), filho de ...................................... (nome do
pai e da mãe), residente ...................................(endereço
residencial do Acusado. Acompanhado de seu defensor
legalmente constituído Sr. Juliano de Souza Pinheiro- OAB
nº.4544. Sabendo ler e escrever. Após ter sido informado de
que, embora não esteja obrigado a responder as perguntas que
lhe forem formuladas, o seu silêncio não poderá ser
interpretado em prejuízo da sua própria defesa;
[...]

2º Interrogatório- Segunda parte diz respeito à acusação que lhe é feita.


Conforme artigo 187, §2º do CPP e 302 do CPPM. Página 21 do MASIN.

TERMO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO


perguntando sobre os fatos narrados nos documentos que
deram origem à instauração da presente Sindicância cuja
Portaria nº ....../Sind/........../..........., de fls. ............. lhe foi
lida,, respondeu que:xxxxxxxxxx deixando-o falar livremente,
[...]

Depois de o acusado falar livremente, o encarregado realizará as


perguntas visando esclarecer os fatos, não sendo obrigado a respondê-las, porém
50

deverão constar as perguntas não respondidas. Superada essa etapa, o


encarregado ao final passará à palavra a defesa fins de exercer o contraditório.
[...]
Passada a palavra à Defesa. PERGUNTADO: ...;
RESPONDEU: ... (descrever as perguntas e respostas
correspondentes). E, como nada mais disse nem lhe foi
perguntado, deu-se por findo o presente, às ...horas, o qual,
após lido e achado conforme, vai assinado pelo Sindicado, pelo
defensor, e por mim, Sindicante, que o digitei.
[...]
Na sindicância, o encarregado deverá tomar cuidado, pois há duas
previsões na norma processual disciplinar, quanto o momento exato de realizar a
Qualificação e o Interrogatório.

1º- Na primeira aduz que o Interrogatório é realizado após a citação


válida, coforme artigo 15 do MASIN, c\c artigo 302 do CPPM.

2º- Na segunda aduz que o Interrogatório é o último ato do processo,


depois das oitivas do ofendido e testemunhas de acusação e defesa, conforme
artigo 38 da Portaria nº.128\09.

Resolve-se a divergência pelo princípio da especialidade, haverá a


prevalência da norma especial sobre a geral, sendo certo que a comparação entre
as normas será estabelecida in abstracto.

No caso em concreto temos duas normas processuais, a primeira trata-


se do MANUAL DE SINDICÂNCIA (norma especial), e segunda Portaria 128/09
(norma geral), assim sendo, aplicando o princípio supracitado, prevalecerá à norma
especial que regula a matéria. Então o encarregado deverá proceder ao
interrogatório no início processo disciplinar, após a citação válida.

Mas, se a defesa solicitar formalmente que o interrogatório seja feito ao


final do processo, neste caso, o encarregado poderá tomar duas atitudes:

a). Indeferir o pedido com base no artigo 15 do MASIN;


b). Deferir o pedido, porém alertar o acusado e seu defensor que não poderá
suscitar prejuízo que deu causa, conforme artigo 501, do CPPM.
51

[...]
CPPM
Art. 501. Nenhuma das partes poderá argüir a nulidade a que
tenha dado causa ou para que tenha concorrido, ou referente à
formalidade cuja observância só à parte contrária interessa.
[...]

f). Em caso de revelia do acusado, venha comparecer no decorrer da


instrução ou ao final do processo disciplinar, o encarregado deverá proceder da
forma prevista no artigo 413 do CPPM.
[...]
Acompanhamento posterior do processo
Art. 413. O revel que comparecer após o início do processo
acompanhá-lo-á nos termos em que este estiver não tendo
direito à repetição de qualquer ato.
[...]

10º – NOTIFICAÇÃO PARA APRESENTAR A DEFESA PRÉVIA

Esse documento poderá ser elaborado no próprio Termo de


Qualificação e Interrogatório, depois das perguntas da defesa. Ou ainda se preferir
poderá elaborar um Ofício de Notificação, separado do Termo, o qual terá a mesma
finalidade, dar ciência ao advogado constituído ou dativo e ao acusado, de que
poderá dentro do prazo legal de 72horas apresentar suas alegações iniciais de
defesa (defesa prévia). Art. 15 §1º, MASIN.

Nesta defesa inicial o Acusado poderá arrolar testemunhas (no máximo


03), solicitar exames e periciais, juntada de documentos, suspeição e impedimento
do encarregado, e outras provas ligadas ao fato.

No prazo da defesa previa (72 horas) o encarregado não deverá


realizar nenhum ato processual. Tendo em vista que nas alegações de defesa prévia
o acusado poderá arguir suspeição e impedimento contra o encarregado. Se isso
ocorrer todos os atos do encarregado estarão passivos de nulidade, conforme Art.
19 §Único da Portaria Nº.128/2009.

Se o defensor constituído não apresentar a defesa prévia dentro do


prazo legal de (72horas) depois da Qualificação e Interrogação, o encarregado
52

deverá confeccionar uma certidão fins de registrar que o direito foi oportunizado,
porém o acusado e o defensor não manifestaram. Nesta situação o prazo foi atingido
pelo instituto da preclusão.

Entende – se por preclusão é a perda de um poder jurídico processual.


Sempre que se perde um poder jurídico no processo, fala-se que houve preclusão.
Lapso temporal para prática de um determinado ato dentro processo. A preclusão
exerce dois relevantes papeis no processo acusatório: 1) dar segurança jurídica; 2)
acelerar o processo, para impedir que o processo retroceda. 3) indispensável para
organização dos autos.

Contudo, se o advogado apresentar defesa prévia depois do prazo


legal (72horas) o encarregado receberá a defesa, e decidirá sobre os pedidos. Se for
de caráter procrastinatório deverá indeferir e intimar a defesa referente o prazo fatal
da preclusão da defesa prévia. Todavia, será juntado nos autos sindicância para
análise na solução final, conforme Art. 497, §Único do CPPM.

Utilizando da Praxe administrativa, se o defensor e ou acusado não


apresentar a defesa prévia, o encarregado com objetivo de tumultuar a situação,
poderá manter contato com o acusado e ou defensor, os questionará sobre a não
apresentação da defesa prévia (verificando se vai ou não apresentá-la),
independente da resposta, faça uma certidão para registrar os fatos. Assim, se na
sequência dos atos a defesa vier alegar que não foi oportunizado o direito de defesa
prévia, o encarregado terá prova suficiente para assegurar o processo contra
medidas judiciais.

11º – ANÁLISE DA DEFESA

O encarregado ao receber a defesa prévia, deverá analisar o pedido,


podendo então DEFERIR OU INDEFERIR total ou em parte. Independente da
decisão do encarregado, impreterivelmente os indeferimentos dos pedidos
impertinentes devem ser fundamentados e informados ao advogado (ofício de
Intimação). Caso não informe a decisão ao advogado, poderá ocasionar vício em
não respeitar a ampla defesa (informação, manifestação e consideração).
53

Na análise da defesa prévia o encarregado se tiver dúvida sobre os


pedidos da defesa, este deverá oportunizar a defesa para que no prazo de 48horas
apresente os fundamentos do pedido, frisando ao mesmo o que se pretende provar
com o pedido. Caso não responda dentro do prazo estipulado o pedido deverá ser
indeferido.

As diligências procrastinatórias apresentadas pela defesa prévia


(alegações iniciais), o encarregado deverá indeferir devidamente fundamentado, em
seguida intimar ao Advogado da r. decisão.

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 12.821 - DF (2007/0104947-2)


EMENTA
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. OFENSA AO DEVIDO
PROCESSO LEGAL POR AUSÊNCIA DE IDENTIDADE ENTRE OS
FATOS QUE CONSTARAM DO INDICIAMENTO E DO ATO
DEMISSÓRIO. NAO OCORRÊNCIA. PEDIDO DE OITIVA DE
TESTEMUNHAS E DE FORMULAÇAO DE PERGUNTAS
CONSIDERADAS PROTELATÓRIAS, IMPERTINENTES OU DE
NENHUM INTERESSE PARA O ESCLARECIMENTO DOS FATOS.
INDEFERIMENTO MOTIVADO. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE
DEFESA. VIOLAÇAO AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.
NAO OCORRÊNCIA.
1. Tendo o indiciamento da impetrante e o ato demissório se
reportado às mesmas infrações disciplinares, não prospera a
alegação de ofensa ao devido processo legal por ausência de
identidade entre os fatos que constaram do termo de indiciamento e
os fatos que embasaram a pena de demissão.
2. Não ocorre cerceamento de defesa o indeferimento
devidamente motivado de produção de prova testemunhal e de
formulação de perguntas consideradas protelatórias,
impertinentes ou de nenhum interesse para o esclarecimento
dos fatos. Aplicação do disposto no 1º do art. 156 da Lei
8.112/90.
3. Diante da conclusão da Administração, com base nas provas do
processo disciplinar, que a impetrante valia-se das atribuições do seu
cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da
dignidade da função pública, não há falar, considerada a gravidade
dos fatos, em ofensa ao princípio da proporcionalidade.
4. Segurança denegada.

ACÓRDAO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Terceira Seção do Superior
Tribunal de Justiça: A Seção, por unanimidade, denegou a
segurança, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Votaram
com a Relatora os Srs. Ministros Jorge Mussi, Og Fernandes, Celso
Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), Haroldo Rodrigues
(Desembargador convocado do TJ/CE), Adilson Vieira Macabu
(Desembargador convocado do TJ/RJ) e Gilson Dipp. Ausente,
justificadamente, o Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia F ilho. Presidiu
o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz. Brasília, 09 de fevereiro de
2011 (Data do Julgamento) Ministra Relatora Maria Thereza de
Assis Moura.
54

12º – TERMO DE PERGUNTA AO OFENDIDO

Ofendido não é testemunha, pois não está inserido no capitulo que


regula a testemunha em qualquer norma processual. Ofendido é a pessoa que sofre
uma lesão no seu direito, conhecido também como vítima. (Termo de Pergunta ao
Ofendido- art. 5º, VIII MASIN, c\c artigo 368 do CPPM)

 Não presta compromisso de dizer a verdade;


 Não está sujeito ao crime de falso testemunho;
 Não é obrigado a responder as perguntas que possa
incriminá-lo- art.311 CPPM;
 Responderá pelo crime de denunciação caluniosa ou falsa
imputação de crime se por ventura vier ser provado que a denúncia
feita seja inverídica. art. 343 e 344 do CPM (se for militar), e artigo
339 e 340 do CP (se for civil).
.

13º – TERMO DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS: ACUSAÇÃO e DEFESA

Testemunha é pessoa que perante a autoridade militar declara o que


sabe acerca dos fatos sobre os quais se apura no processo disciplinar. É todo
homem, estranho ao feito e equidistante às partes, capaz de depor. Somente o
homem pode servir como testemunha, restrito assim à pessoa física. Testemunhas
– Pág. 17 MASIN, c\c artigo 347 SS. CPPM

Não se admite pessoa Jurídica como testemunha, esta apenas


prestará informações sobre fato apurado através das escritas que será mera prova
documental.

I - Capacidade para ser testemunha

Em regra no processo disciplinar, adota a mesma do processo penal


militar, sendo assim qualquer pessoa poderá ser testemunha, conforme artigo 351
do CPPM e artigo 202 do CPP; ―Qualquer pessoa poderá ser testemunha‖.
55

II - Classificação das testemunhas

a) Testemunha Própria- Presenciou os fatos ou ouviu dizer, divide-se em:

Direta – presenciou os fatos

Indireta- ouviu dizer, essa testemunha é mais frágil.

b) Testemunha Imprópria – Não presenciou os fatos, apenas é utilizada para


legalizar um ato procedimental, é conhecida também como testemunha
instrumentária. Certos atos exigem a presença de testemunha para assistirem a sua
realização, dando-lhes força de veracidade e autenticidade.

Cito os exemplos dos artigos 245 §2º e 368 do CPPM, primeiro APFD
quando não há testemunha presencial dos fatos, a lei obriga que para lavrar o
flagrante a autoridade militar deve efetuar a prisão na presença de uma testemunha
que presencia a apresentação do preso, e o segundo versa sobre o reconhecimento
de pessoa, a lei determina que esse procedimento tem que ser realizado na
presença de 02 (duas) testemunhas.

c) Testemunha Numerária -(art. 352, CPPM) – testemunhas arroladas pela


administração, bem como pelo acusado.

Número máximo de testemunha na sindicância acusatória:

 03(três) testemunhas de acusação


 03(três) testemunhas de defesa

Se a administração militar arrolar mais de 03(três) testemunhas, de igual


forma deverá dar o direito à defesa apresentar também a mesma quantidade, em
razão da simetria processual.

Em sede de Conselho de Disciplina e de Justificação, a quantidade de


testemunha são 05(cinco).
56

d) Testemunha Referida - (art. 354, §2º do CPPM) – testemunha citada no


depoimento da testemunha numerária.

e) Testemunhas Não Compromissadas- (art. 352, §2º do CPPM- páginas 23


e 24 MASIN) – São testemunhas que não prestam compromisso de dizer a verdade,
portanto são chamados de informantes:

 Doentes mentais;
 Menores de 14 anos.

As pessoas previstas no artigo 354 do CPPM se forem necessário


colher seus depoimentos também não prestaram compromisso de dizer a verdade,
pois podem recusar-se a depor, são elas:

 o ascendente;
 o a fim em linha reta;
 o cônjuge, ainda que desquitado;
 o irmão do acusado;
 o adotivo

CPPM
Art. 352. (....)
Não deferimento de compromisso
2º Não se deferirá o compromisso aos doentes e deficientes mentais, aos
menores de quatorze anos, nem às pessoas a que se refere o art. 354.
Obrigação e recusa de depor
Art. 354. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor.
Excetuam-se o ascendente, o descendente, o afim em linha reta, o cônjuge,
ainda que desquitado, e o irmão de acusado, bem como pessoa que, com
êle, tenha vínculo de adoção, salvo quando não fôr possível, por outro
modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Ocorre que em nome de um interesse maior, qual seja a solidariedade


e o amor que devem estar presentes em todas as relações familiares, a lei
processual disciplinar e penal dispensa a oitiva de testemunhas quando houver
relação de parentesco.

No entanto, na parte final do artigo 354 CPPM, essa recusa não é


absoluta, pois quando não houver outro meio de se provar os fatos a lei autoriza a
oitiva dos familiares. O Professor Adalberto José, assevera que embora a exceção
seja ampla, a interpretação deve ser bem restrita, observando apenas na hipótese
57

quando a vítima igualmente for outro parente ou quando o delito for cometido dentro
do âmbito doméstico e assim mesmo quando único meio probatório 25.

Em razão da relação de parentesco é que o encarregado deverá


perguntar a testemunha antes de iniciar seu depoimento, ―AOS COSTUMES
DISSE”. A testemunha irá responder: SER IRMÃO, CONJUGE, ou outras situações
que demonstra amizade profunda, intimidade ou qualquer impedimento que possa
tornar o depoimento suspeito e inconsistente. Caso não tenha qualquer objeção de
suspeição e impedimento, o encarregado deverá registrar no termo de inquirição os
seguintes dizeres: “AOS COSTUMES DISSE NADA”, isso quer dizer que não há
qualquer objeção, quanto à idoneidade da testemunha.Veja o Exemplo abaixo:

TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA

Aos xxxx dias do mês de xxxxx. do ano de dois mil e xxxx., nesta
Cidade de.... Estado de Mato Grosso, no.....(local do procedimento),
onde eu Reginaldo Azizes Ferreira- Cap PM - Sindicante, estando
presente o Acusado Sd PM Jeovane de Souza Pinto, acompanhado
do seu defensor legalmente constituído Sr. Juliano de Pinho –OAB
nº.3435 (dados fictícios), compareceu a testemunha o Sr.
xxxxxxxxxxxx.(nome, se militar posto/graduação) portador da cédula
de identidade RG nº. ___ , nacionalidade____, estado civil ____,
natural de ____, nascido em _____, no município de ______ (nome do
município e Estado onde nasceu a testemunha), filho de...(pai e mãe),
com a profissão de ....(se militar constar posto ou graduação, número
de polícia, unidade, fração e local onde serve), residente à Rua
(Avenida, Praça, etc.) nº..... cidade ..... UF ......sabendo ler e escrever,
“AOS COSTUMES DISSE”: (se for o caso), após prestar o
compromisso legal de dizer a verdade, inquirido sobre os fatos
narrados nos documentos que deram origem à presente Sindicância,
cuja Portaria nº ....../Sind/........../..........., de fls. ............. lhe foi lida,
respondeu que:.
[...]

f) Testemunha Dispensada de Comparecimento – art. 350 alínea a e b, c\c


artigo 221,§1º do CPP.

São testemunhas em virtude da prerrogativa de função estão


dispensadas de comparecimento, devendo o encarregado entrar em contato com a
mesma, e agendar o dia, horário e local, onde será realizado o ato, são elas:

 presidente e o vice-presidente da República


 os governadores e interventores dos Estados
 os ministros de Estado

25
Camargo Aranha, Adalberto José. Da prova no processo penal. ed.7, Saraiva,São Paulo, 2006, p. 164-165.
58

 os senadores, os deputados federais e estaduais


 os membros do Poder Judiciário
 do Ministério Público,
 o prefeito do Distrito Federal e dos Municípios,
 os secretários dos Estados,
 os membros dos Tribunais de Contas da União e dos
Estados,
 o presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros
 os presidentes do Conselho Federal e dos Conselhos
Secionais da Ordem dos Advogados do Brasil.

Insta salientar que no artigo 221, §1º da lei processual penal comum,
aduz que as autoridades abaixo descritas poderão optar em apresentar seus
depoimentos por escritos. Neste caso, o encarregado deverá enviar às perguntas da
administração e da parte acusada, as quais serão transmitidas via Ofício, as
testemunhas irão responder os questionamentos e enviar ao encarregado, são elas:

 o Presidente e o Vice-Presidente da República;


 o Presidentes do Senado Federal;
 o Presidente da Câmara dos Deputados;
 o Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Art.221, CPP
o
§ 1 O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do
Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal
poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão
transmitidas por ofício. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

As testemunhas impossibilitadas de comparecer em razão de


enfermidade ou por velhice, poderão ser ouvidas onde estiverem, conforme o artigo
350, alínea ―b‖ do CPPM.

g) Testemunhas proibidas de depor- art. 355 do CPPM

Estão proibidas de depor as testemunhas que devam guardar segredo


profissional, Aranha26 diz que: ―é necessário que o fato seja conhecido e confiado
em razão de um relacionamento profissional”. Quase todos os códigos de ética
profissional aduz a regulamentação da vedação quanto à prestação de depoimento

26
Camargo Aranha, Adalberto José. Da prova no processo penal. ed.7, Saraiva,São Paulo, 2006, p. 164.
59

como testemunha contra seu cliente. A exemplo cito o artigo 7º, XIX, da Lei nº.
8.906/94 (Estatuto da OAB), assim vejamos:

[...]
XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no
qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado
com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando
autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato
27
que constitua sigilo profissional.
[...]

Assim, o psicólogo, médico, advogado, psiquiatra, padre, são exemplos


de pessoas que em razão da profissão devem guardar segredo em relação ao seu
cliente. Na parte final do artigo 355, aduz “salvo, se desobrigadas pela parte
interessada, quiserem dar seu testemunho”, neste caso, a lei faculta ao cliente, se
este autorizar o depoimento a testemunha poderá prestar seu depoimento. Se bem
que essa autorização, por última análise fica a critério da testemunha, pois se optar
em não prestar o depoimento à lei o ampara em ser testemunha, sem sofrer
qualquer tipo de sanção, veja o artigo 7º do Estatuto da OAB“XIX –(.....) mesmo
quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que
constitua sigilo profissional”.28

h)Testemunha não computada- artigo 352 §3º, do CPPM, pág, 23-24


MASIN.

São testemunhas que nada sabem sobre o fato apurado, neste caso, o
encarregado poderá dispensá-la, ou se ouvida não será computado como
testemunha numeraria.

III. Contradita de Testemunha – artigo 352 § 3º do CPPM

Está relacionada com a testemunha inidônea, suspeita ou defeituosa, e


isso decorre dos antecedentes justificadores de má personalidade (ébrio, criminoso
e outros), suspeita de parcialidade laços de amizade intima ou relação de
parentescos (art.354 do CPPM).

27
Lei Nº. 8906\94. Estatuto da OAB.
28
Lei Nº. 8906\94. Estatuto da OAB.
60

Em suma, contradita é a forma processual adequada para argumentar


defeito ou suspeição de testemunha. Cabe essa atribuição ao defensor do acusado,
que antes de iniciada o depoimento deverá contestar a testemunhar, devendo o
encarregado registrar o fato no termo, em seguida analisará se a situação enquadra-
se em suspeição, impedimento dentre outras.

Se o encarregado concordar com a suspeição, deverá verificar se é


caso de exclusão da testemunha ou apenas não deferirá o compromisso legal de
dizer a verdade. A lei processual penal militar estabelece que o encarregado poderá
excluir ou não compromissar a testemunhas, nos casos de menores 14 anos,
débeis mentais e as pessoas que devam guardar segredo.

O encarregado deverá ficar atento, pois essa alegação tem momento


processual exato de ser realizado. De modo que cabe a defesa manifestar antes do
início do depoimento da testemunha, caso não o faça, o direito que lhe assiste será
atingido pelo instituto da preclusão processual.

V. Constrangimento da testemunha – artigo 358 e 388 do CPPM

Se o encarregado perceber que a presença do acusado poderá causar


humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo
que prejudique a verdade do depoimento, determinará a saída do acusado da sala
de audiência, prosseguindo a inquirição na presença do defensor constituído, dativo
ou ad hoc. Adotando essa medida, o encarregado deverá registrar os fatos no termo
de inquirição, bem como os motivos que determinaram.

Renato Brasileiro ensina que essa retirada da sala de audiência não


pode ser determinada tão somente com base em mero juízo de suspeita pelo
encarregado acerca da possível intimidação futura.Pelo contrário, a adoção dessa
medida pressupõe a efetiva prática de atos comissivos que demonstrem o propósito
do acusado no sentido de influenciar a testemunha29.

29
Brasileiro Lima. Renato. Processo Penal Militar.2ºed- vol I, Impetus, Rio de Janeiro, 2012, p. 985.
61

Poderá ocorrer que o defensor constituído do acusado, não aceite a


medida tomada pelo encarregado, e também resolva sair da sala(abandonar o ato),
com objetivo de procrastinar o andamento processual. Nesta hipótese, o
encarregado deverá nomear um defensor ad hoc, que recaíra na pessoa de um
Oficial e dará sequência no ato. Mas de igual forma também registrará os fatos no
termo de inquirição, bem como os motivos que levaram a tomar essa decisão. Veja o
artigo 388 do CPPM:
[...]
Conduta inconveniente do acusado

Art 389. Se o acusado, durante a sessão, se portar de modo


inconveniente, será advertido pelo presidente do Conselho; e,
se persistir, poderá ser mandado retirar da sessão, que
prosseguirá sem a sua presença, perante, porém, o seu
advogado ou curador. Se qualquer dêstes se recusar a
permanecer no recinto, o presidente nomeará defensor ou
curador ad hoc ao acusado, para funcionar até o fim da sessão.
Da mesma forma procederá ao auditor, em se tratando de ato
da sua competência.
[...]

VI. Carta precatória de testemunha – artigo 7º do MASIN- Pág 25 MASIN, artigo


359 do CPPM

Esse procedimento é utilizado quando a testemunha do processo, ou


arrolada pela defesa do acusado, não residir na localidade onde funciona o
processo. Nessa hipótese o encarregado deverá Oficiar o Comando da localidade
onde reside a testemunha, enviando as perguntas da administração militar, bem
como as perguntas da defesa, fins de serem respondidas.

No pese a Carta Precatória ser um Ofício redigido pelo encarregado,


contendo as ações a ser desencadeada por aquela autoridade militar, este por sua
vez, deverá designar um encarregado sob seu Comando, o qual diligenciará e
notificará a testemunha a ser ouvida, com dia, hora e local para realização do ato. O
depoimento será reduzido a termo de inquirição, conforme modelo do MASIN.
Concluído o ato, será assinado pelo encarregado e a testemunha, em seguida a
autoridade militar enviará o Termo de Inquirição via Ofício ao encarregado do
processo. Veja o artigo 7º do MASIN:
[...]
62

Art. 7º Se no curso da Sindicância ocorrer necessidade de ouvir


testemunha que se encontre em local diverso daquele onde
estão sendo realizados os trabalhos e o deslocamento seja
inviável, o Encarregado poderá expedir Carta Precatória à
Autoridade Militar Estadual da circunscrição onde se
encontra a testemunha, solicitando a inquirição da mesma.
Parágrafo único. O sindicante deverá oportunizar ao acusado
e ou seu defensor para que elabore por escrito quesitos e
ou perguntas a serem formuladas à testemunha, e que
devem se fazer constar na Carta Precatória.
[...]
Deveis salientar que essa obrigatoriedade de dar ciência ao acusado e
seu defensor oportunidade de apresentar perguntas, não se aplica na fase da
Sindicância de rito investigativo, pois aqui não há contraditório, e o militar
investigado ainda não é acusado no processo.

Em regra, a expedição de Carta Precatória não impede o andamento


do processo, exceto, se o encarregado estiver ao final da instrução e necessite da
prova testemunhal requisitada por Carta Precatória, fins de formar seu juízo de
convicção sobre os fatos. Para tanto deverá motivar o pedido de sobrestamento ou
dilação de prazo, previsto no artigo 5º, III da Portaria nº. 160\09.

[...]
Dos prazos
Artigo 5º-(....)
III – em casos imprescindíveis de suspensão da contagem de
prazo, provocados pelo sindicado e ou pela Administração
Pública Militar, quer sejam nos casos de necessidade de
juntada de laudo pericial, laudo técnico e ou demais provas
materiais, a autoridade delegante ou competente poderá
conceder sobrestamento, não superior a 30 (trinta) dias.
[...]

Esclarecer que a Carta Precatória, não serve apenas para produzir


prova testemunhal, mas também para realizar CITAÇÃO e Interrogatório do
acusado, e ainda oitiva de Ofendido, e outras diligências que possa redundar em
prova indispensável para elucidação dos fatos, basta que o encarregado necessite
produzi-la em outra localidade (cidade) diferente e distante do local onde funciona o
processo.

VII - Características da Prova Testemunhal


63

Oralidade - O depoimento da Testemunha deve ser prestado


oralmente, não sendo permitido trazê-lo por escrito. Isso não quer dizer que a
testemunha não tenha direito de fazer um prévio consulta e apontamento sobre os
fatos a serem declarados.
Na norma processual penal comum, no seu artigo 221,§1º, prevê
algumas exceções, quais sejam:

 o Presidente e o Vice-Presidente da República;


 o Presidentes do Senado Federal;
 o Presidente da Câmara dos Deputados;
 o Presidente do Supremo Tribunal Federal.

[...]
Art.221, CPP
§ 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar
pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas
pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício. (Redação dada
pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
[...]

Neste caso, para garantir o contraditório no processo acusatório, o


encarregado deverá formular as perguntas do processo e do acusado, as quais
serão enviadas via Ofício às autoridades mencionadas.

No caso da testemunha deficiência na fala ou escuta, surdo ou mudo, o


procedimento será realizado, conforme artigo 299 do CPPM, assim vejamos:

[...]
Art. 299. O interrogatório ou inquirição do mudo, do surdo, ou do surdo-
mudo será feito pela forma seguinte:
a) ao surdo, serão apresentadas por escrito as perguntas, que êle
responderá oralmente;
b) ao mudo, as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as êle por
escrito;
c) ao surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por escrito, e por escrito
dará êle as respostas.
1º Caso o interrogado ou inquirido não saiba ler ou escrever, intervirá no
ato, como intérprete, pessoa habilitada a entendê-lo.
[...]

Nestes casos, se o depoente não souber ler ou escrever, intervirá no


ato, como interprete e sob compromisso legal, pessoa habilitada a entendê-lo.
64

Objetividade - Como a testemunha depõe sobre fatos, deve evitar


emitir juízo de valor. Deve se restringir a relatar fatos que tem conhecimento a partir
de suas percepções sensórias.

Retrospectiva- A testemunha é chamada no processo para depor


sobre fatos passados e não sobre fatos futuros.

Individualidade - As testemunhas são inquiridas separadamente,


devendo o encarregado evitar que aqueles que ainda não foram ouvidas tenham
contato com as testemunhas que já foram ouvidas, conforme artigo 353 do CPPM,
“As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que uma não possa
ouvir o depoimento da outra”.

VIII - Deveres da Testemunha

 Dever de comparecimento

Na seara criminal a testemunha quando regularmente notificada, tem o


dever de comparecer no Juízo para prestar seu depoimento no local, dia e hora
designados. Se deixar de comparecer sem motivo justificado, o Juiz poderá
requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar que seja conduzida
por Oficial de Justiça, que poderá também solicitar apoio da policia militar. Além da
condução coercitiva a testemunha estará sujeita a multa de 1 a 10 salários-mínimos,
sem prejuízo da eventual processo criminal pelo crime de desobediência e do
pagamento das custas das diligências decorrente da condução coercitiva (art. 347,
§1º e §2º, c\c art.458 c\c art.436, §2º e art. 219 do CPP).

No âmbito disciplinar militar, não existe lei específica que obrigue a


testemunha civil comparecer perante o encarregado do processo. Entretanto, nada
obsta do encarregado solicitar sua condução coercitiva à autoridade judiciária da
Justiça Militar.Em relação à testemunha militar, o não comparecimento, poderá
configurar ilícito penal militar previsto no art. 163 (recusa de obediência), bem como
infração disciplinar.
65

No dia 20 de junho de 2103 foi publicada a INSTRUÇÃO NORMATIVA


Nº 02/CORREGPM (Publicada no BGE nº 792, de 20 de Junho de 2013) que versa o
assunto em comento, estabelece nessa norma que em sede de inquérito policial a
testemunha civil que não atender ao chamado do encarregado poderá ser conduzida
coercitivamente mediante determinação autorização judicial.

De igual modo em sede de processo disciplinar, a r. norma regula que o


encarregado poderá solicitar à autoridade judiciária a condução coercitiva de
testemunha civil que regularmente notificada não atender o chamamento para
realização do ato do processo.

 Dever de prestar compromisso de dizer a verdade

Em regra a testemunha presta o compromisso de dizer a verdade, sob pena


de ser indiciada por crime de falso testemunho se militar (art.346 do CPM) e civil (art.
342 do CP), vejamos:

[...]
Código Penal Militar
Art.346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como
testemunha, perito, tradutor ou intérprete, em inquérito policial, processo
administrativo ou judicial, militar:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
[...]
Código Penal
Falso testemunho ou falsa perícia
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela
Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
[...]

Insta salientar como já outrora dito as pessoas do artigo 354 do CPPM,


ascendente, o descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, e
o irmão de acusado, bem como pessoa que, com ele, tenha vínculo de adoção, se
for necessário suas oitivas como testemunha não serão compromissadas, de igual
modo os menores de 14 anos e os alienados mentais.

Já as pessoas proibidas de depor do artigo 355 do CPPM, se


desobrigadas pelo acusado em guardar segredo, poderão ser inquiridas como
testemunhas, mas estas deverão prestar o devido compromisso.
66

Observa-se que o crime de falso testemunho previsto na norma penal


comum e militar, considera delito a conduta de fazer afirmação falsa, e ainda se a
testemunha negar o fato que sabe ou calar a verdade, estando passivo de ser
responsabilizado por esse crime, além da testemunha, o perito, contador, tradutor ou
interprete, em Processo Judicial, Administrativo e ou Inquérito Policial.

Exemplo:

TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA


Aos xxxx dias do mês de xxxxx. do ano de dois mil e xxxx., nesta Cidade
de.... Estado de Mato Grosso, no.....(local do procedimento), onde eu
Reginaldo Azizes Ferreira- Cap PM - Sindicante, estando presente o
Acusado Sd PM Jeovane de Souza Pinto, acompanhado do seu defensor
legalmente constituído Sr. Juliano de Pinho –OAB nº.3435 (dados fictícios),
compareceu a testemunha o Sr. xxxxxxxxxxxx.(nome, se militar
posto/graduação) portador da cédula de identidade RG nº. ___ ,
nacionalidade____, estado civil ____, natural de ____, nascido em _____,
no município de ______ (nome do município e Estado onde nasceu a
testemunha), filho de...(pai e mãe), com a profissão de ....(se militar constar
posto ou graduação, número de polícia, unidade, fração e local onde serve),
residente à Rua (Avenida, Praça, etc.) nº..... cidade ..... UF ......sabendo ler
e escrever, a qual aos costumes disse xxxxxxxxxxxx, (se for o caso), após
prestar o compromisso legal de dizer a verdade, inquirido sobre os fatos
narrados nos documentos que deram origem à presente Sindicância, cuja
Portaria nº ....../Sind/........../..........., de fls. ............. lhe foi lida, respondeu
que:.
[...]

Caso o encarregado depare com o crime de falso testemunho, durante


a inquirição da testemunha, este deverá expor os fatos no relatório final do processo,
que a autoridade julgadora na solução do processo extrairá cópia dos depoimentos
ou do processo e remeterá à autoridade competente para apuração do crime através
de Inquérito Policial Militar se a testemunha for policial militar, Inquérito Policial se
testemunha for civil ou ainda diretamente para Ministério Público.

Não é aconselhável efetuar a Prisão em Flagrante Delito por crime de


falso testemunho, pois a lei processual prevê a retratação, até sentença final do
processo. Segundo Norberto Avena, há controvérsia na doutrina e jurisprudência
com relação à prisão em flagrante em crime de falso testemunho, uma porque a lei
viabiliza a retratação da testemunha até a sentença final, elidindo assim o crime.
Dois, existe a possibilidade de alteração, em grau de recurso, da sentença que
67

reconheceu o crime de falso testemunho considerando-se como verdadeira a versão


antes tida como falsa30.

IX - Horário de Inquirição da Testemunha- art.19 do CPPM

A Testemunha será inquirida das 07 as 18h00min, caso necessite


ultrapassar esse horário deverá justificar no próprio termo. A cada 04 horas de
inquirição a testemunha terá um descanso de 30 minutos ou meia hora.

X - Tomada de Depoimento de Testemunha - Ver Modelo repassado pelo


Instrutor em sala de aula.

1º Fase Qualificação- A testemunha prestará informação sobre sua


identidade pessoal, endereço residencial, cidade em que nasceu etc. O encarregado
antes de iniciar a inquirição propriamente dita, deverá advertir a testemunha
referente ao crime de falso testemunho, em seguida deferirá o compromisso legal de
dizer a verdade.Veja o exemplo:

TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA


Aos xxxx dias do mês de xxxxx. do ano de dois mil e xxxx., nesta Cidade
de.... Estado de Mato Grosso, no.....(local do procedimento), onde eu
Reginaldo Azizes Ferreira- Cap PM - Sindicante, estando presente o
Acusado Sd PM Jeovane de Souza Pinto, acompanhado do seu defensor
legalmente constituído Sr. Juliano de Pinho –OAB nº.3435 (dados fictícios),
compareceu a testemunha o Sr. xxxxxxxxxxxx.(nome, se militar
posto/graduação) portador da cédula de identidade RG nº. ___ ,
nacionalidade____, estado civil ____, natural de ____, nascido em
_____, no município de ______ (nome do município e Estado onde
nasceu a testemunha), filho de...(pai e mãe), com a profissão de ....(se
militar constar posto ou graduação, número de polícia, unidade, fração
e local onde serve), residente à Rua (Avenida, Praça, etc.) nº..... cidade
..... UF ......sabendo ler e escrever, a qual aos costumes disse xxxxxxxxxxxx,
(se for o caso), após prestar o compromisso legal de dizer a verdade,
inquirido sobre os fatos narrados nos documentos que deram origem à
presente Sindicância, cuja Portaria nº ....../Sind/........../..........., de fls.
............. lhe foi lida, respondeu que:.
[...]

2º Fase Inquirição - Nesta fase a testemunha irá falar livremente sobre o que
sabe dos fatos.

30
Avena. Norberto. Processo Penal Esquematizado. 5ed.Metodo, RS, 2012, p. 569.
68

TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA


(......), inquirido sobre os fatos narrados nos documentos que deram origem
à presente Sindicância, cuja Portaria nº ....../Sind/........../..........., de fls.
............. lhe foi lida, respondeu, falar livremente........
[...]

3º Fase Perguntas do encarregado-Após a testemunha relatar o que sabe


sobre os fatos, o encarregado se entender necessário poderá realizar perguntas
com a finalidade de esclarecer pontos controvertidos.

4º Fase Perguntas da Defesa - E por fim, em razão do contraditório e da


ampla defesa, será oportunizado ao defensor legalmente constituído ou dativo, a
realizar perguntas a testemunha, por intermédio do encarregado, que antes de
repassar as perguntas a testemunha verificará se são pertinentes ou não, podendo
indeferir perguntas irrelevantes ou seja nada ajudará no esclarecimento dos fatos.
Veja o exemplo:

TERMO DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA

Aos(....)Passada a palavra à Defesa. PERGUNTADO: .RESPONDEU: ...


(descrever as perguntas e respostas correspondentes). Como nada
mais disse, nem lhe foi perguntado, dou por encerrado o presente termo,
que iniciado às .....horas e encerrado às ...... do mesmo dia, e depois de lido
e achado conforme, é assinado pela testemunha, pelo Acusado e seu
defensor e por mim Reginaldo Azizes Ferreira- Cap PM - Sindicante, que o
digitei.
[...]

Deveis observar que na fase investigativa da sindicância, não há


contraditório, logo a presença do defensor não é obrigatória na inquirição de
testemunha, bem como não está obrigado o encarregado passar a palavra à
defesa, pois nesta fase não existe acusado.

XI - Sequência das oitivas das Testemunhas\ quantidade – MASIN

Pelo art.6º, §1º do MASIN, o encarregado deverá ouvir em primeiro


lugar as testemunhas de acusação(do processo), as quais foram arroladas no item 7
da CITAÇÃO. Posterior será ouvida a testemunha de defesa arrolada pelo acusado
em sede de defesa prévia, após a qualificação e Interrogatório.

[...]
69

Art. 6º (....) § 1º Serão inquiridas inicialmente as testemunhas de acusação


e posteriormente as testemunhas de defesa, abrindo a palavra ao acusado
e ou seu defensor para formularem perguntas, exercendo o contraditório,
conforme prescrito na Portaria nº 128/GCG/PMMT/09;
[...]

Com relação à quantidade de testemunhas na Sindicância o MASIN


estabeleceu o máximo de 03(três) testemunhas de acusação e 03 (três)
testemunhas de defesa. Caso A administração aumente esse número, deverá dar
oportunidade à defesa apresentar a mesma quantidade, estabelecendo assim a
simetria processual entre as partes.

Em sede de Conselho de Disciplina e de Justificação, o número de


testemunha aumenta, isto é, a acusação pode arrolar 05(cinco) testemunhas, a
defesa poderá arrolar até o número de 05 (cinco) testemunhas, conforme art. 9º § 5º
da Lei 3800, que alterada pela Lei 7227.

XII. Termo de Acareação–art.5º, XVII MASIN, ver modelo 11 - Pág.27, c\c


artigo 365 do CPPM.

O encarregado deverá realizar a acareação quando houver divergência


ou pontos controvertidos a serem esclarecidos sobre os fatos. Isso ser realizado com
as seguintes pessoas.

 entre acusados;
 entre testemunhas;
 entre acusado e testemunha;
 entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida;
 entre as pessoas ofendidas.

XIII - Termo de Reconhecimento Pessoa ou Coisa – art. 5º, XVIII do


MASIN, ver modelo 14 - Pág. 29, c\c artigo 368 do CPPM.

Trata-se meio de prova, onde alguém identifica uma pessoa ou coisa


que lhe é mostrada com pessoa ou coisa que já havia visto ou que já
conhecia.Quando houver a necessidade de realizar o procedimento, o encarregado
deverá observar o disposto no artigo 368 do CPPM, assim vejamos:
70

 a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a


descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
 a pessoa cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se
possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança,
convidando-se a apontá-la quem houver de fazer o reconhecimento; (mínimo
05 policiais)
 se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a
verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade
providenciará para que esta não seja vista por aquela.
 do ato de reconhecimento lavrar-se-á têrmo pormenorizado, subscrito
pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e
por duas testemunhas presenciais.

O reconhecimento de coisa procederá da mesma forma do


reconhecimento de pessoa naquilo que for possível. Se existir várias pessoas para
efetuar o reconhecimento, cada uma fará em separado, o encarregado deverá evitar
qualquer contato entre elas. Se forem varias pessoas a serem reconhecidas, o
encarregado providenciará que seja feito individualmente.

Segundo Renato Brasileiro, afirma que ―como o reconhecimento não


demanda qualquer comportamento ativo do investigado ou acusado, este na estará
protegido pelo princípio ―nemotenetur se detegere‖, princípio da não auto
incriminação‖.31

Com relação ao Reconhecimento Fotográfico, temos a esclarecer que


não há lei que regule esse assunto, no entanto, a doutrina e a jurisprudência, em
especial o STF, têm sedimentado o entendimento de que terá validade desde que
existam outros elementos nos autos que indiquem a conduta irregular. Observando o
reconhecimento fotográfico de forma isolada, difícil será imputabilidade do acusado.

Renato Brasileiro afirma que o reconhecimento fotográfico tem sido


aceito pelo STF, em razão do princípio da verdade real e princípio da liberdade da
prova que vigoram no processo penal comum e militar, por consequência nos

31
Brasileiro Lima. Renato. Processo Penal Militar. 2ºed- vol I, Impetus, Rio de Janeiro, 2012, p. 1001.
71

processos disciplinares militares, pois aqui também se observam a aplicação dos


princípios citados.32

15º – JUNTADA- Pág 15 MASIN

Documento elaborado pelo encarregado da sindicância para inserir nos


autos documentos não produzido pelo sindicante, ou seja, documentos extra-autos.
Ex: laudo pericial, escala de serviço, extrato de alterações, carta precatória, entre
outros.

16º – CERTIDÃO- Pág. 14 MASIN

A certidão é o documento comprobatório da realização de diligências


que foram realizadas e não foram logrados êxitos nas suas conclusões. Visa
principalmente resguardar a autoridade delegada e a Administração Pública Militar
de todos os esforços foram tentados para a elucidação dos fatos.

17º – ASSENTADA- Pág. 25 MASIN

Em havendo mais de uma testemunha a ser inquirida no mesmo dia, o


Sindicante deverá fazer uma assentada para atender a todos, conforme modelo
acima, enumerando as testemunhas subsequentemente.

18 º– VISTAS DOS AUTOS (DEFESA FINAL)- Pág.30 MASIN

O encarregado ao concluir todas as diligências de acusação e da


defesa, deverá realizar um exame saneador no processo, fins de verificar se ficou
faltando alguma diligência por fazer. Concluído o exame deverá dar vistas dos autos
ao Advogado do militar acusado para que no prazo legal de 05 dias corridos
entregue as alegações finais(por escrito) essa defesa é obrigatória.

32
Idem op. Cit. 1003.
72

O Termo de Vistas dos Autos é um documento em que o encarregado


OPORTUNIZA ao acusado e seu defensor acesso nos autos, conclusos ou não, se
estiver concluso, a defesa depois de vistas e extração de cópia terá o prazo de 05
dias corridos para apresentar a defesa final (por escrito- obrigatório).

Se Caso o acusado, que por qualquer meio, não tenha condições de


constituir defensor, ou que não tenha condições de promover sua defesa, poderá
autoridade delegante nomear um defensor dativo, para suprir essa falta.

Se o advogado ou acusado deixar de apresentar a defesa final por


escrito no prazo regulamentar de 05 dias, o encarregado poderá adotar as seguintes
medidas:
(1º). Se o encarregado optar em realizar o previsto no Manual de
Sindicância, deverá informar a situação a autoridade delegante, e ao mesmo tampo
solicitar a nomeação do defensor dativo (Oficial ou Graduado)Art. 2º da Portaria
Nº.128/2009. Este depois de nomeado deverá realizar a defesa final escrita do
militar acusado, no prazo de 05 dias corridos.

(2º). Ou o encarregado na omissão na defesa final,já esgotado o prazo


legal, o encarregado poderá fazer um contato com o Advogado ou ao próprio
acusado, perguntado sobre a defesa final escrita, perguntar ainda se irão entregar
ou não à defesa. Diante da resposta, se positivo, o encarregado estipulará um prazo
a mais ao Advogado (1, 2 ou 3 dias) para que apresente a defesa final. Esse prazo
estendido é discricionário do encarregado, devendo para tanto registrar os fatos em
uma certidão ou então no relatório final.

Com relação à defesa final, se o acusado e ou defensor apresentá-la


fora do prazo legal depois da nomeação do defensor dativo, o encarregado deverá
junta-lá nos autos para análise final da autoridade julgadora. A defesa final por
escrito é indispensável para a finalização do processo.

19º – JUNTADA DEFESA FINAL


73

Encerradas as diligências o Sindicante oportunizará vista dos autos ao


acusado e ou seu defensor, lavrando a certidão de vistas de autos. O acusado e ou
seu defensor, tendo vista dos autos, apresentará, por escrito, no prazo de 05 (cinco)
dias corridos as alegações finais de defesa, que serão devidamente juntadas aos
autos pelo Sindicante.

20 º– TERMO DE ENCERRAMENTO (não é obrigatório)

21º – RELATÓRIO

10.2.8. Sindicância-Acusatória (Autônoma- Uma fase)

É uma espécie de Sindicância, precedida de uma prévia investigação


por outro procedimento administrativo ou processo judicial, que aduz autoria e
materialidade definida da infração disciplinar, devendo assim, iniciar a instrução
obedecendo à ampla defesa e o contraditório.

10.2.9. Subespécies da Sindicância

I - Sindicância de Rito Acusatória Regular- MASIN

Utilizada para oportunizar o direito de defesa ao militar acusado. Não


enseja licenciamento à bem da disciplina. É aplicada para todos os policiais
militares, podendo ao final redundar em punição disciplinar de advertência até
30(trinta) dias de Prisão.

II - Sindicância de Rito Acusatória Especial (Sind- Demissória)

Previsão legal –Art.1º §Único c/c art.2º §2º do MASIN, c/c art.154 da
Lei 555/2014.

Utilizada para oportunizar o direito de defesa ao militar acusado.


Acarreta licenciamento à bem da disciplina. É aplicada para os policiais militares
74

(praças) e alunos de formação sem estabilidades assegurada. Sua penalidade vai


de advertência até ao licenciamento a bem da disciplina.

O encarregado deverá observar o anexo da Portaria desta sindicância,


e no anexo que o encarregado identificará a fase investigativa. Nesta sindicância
fase investigativa foi suprimida por outro processo ou procedimento. Ex: IPM
(inquérito policial militar), IP (inquérito Policial civil), APFD (auto de prisão em
flagrante delito militar ou comum), IPD (instrução provisória de deserção), Processo
Criminal (militar ou comum).

E por fim, a sindicância-investigativa. Esta hipótese ocorrerá quando


houver avocação da sindicância pela autoridade delegante por discordar do relatório
do encarregado, bem como pelo fato apurado ser também considerado crime militar
ou comum.
A autoridade delegante irá solucionar a sindicância investigativa. Em
seguida determinará a instauração de NOVA sindicância, AGORA DE RITO
ACUSATÓRIA, tendo como anexo à sindicância- investigativa.

Não esquecer que a sindicância original deverá ser encaminhada para


Justiça Militar, caso haja indícios de crime militar, por intermédio da Corregedoria
Geral.

1º – AUTUAÇÃO
2º– PORTARIA/ANEXOS
3º – TERMO DE ABERTURA
4º–OFÍCIO DE RECEBIMENTO/INFORMAÇÃO DE INÍCIO DOS
TRABALHOS
5º- CITAÇÃO (48 horas – marca a transformação de sindicância
investigativa para acusatória).
6º– TERMO QUALIFICAÇÃO INTERROGATÓRIO
7º – NOTIFICAÇÃO PARA APRESENTAR A DEFESA PRÉVIA
8º– ANÁLISE DA DEFESA
9º – TERMO DE PERGUNTA AO OFENDIDO
10º – TERMO DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS (ACUSAÇÃO)
11º– TERMO DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS (DEFESA)
12º – JUNTADA
13º – CERTIDÃO
14º – ASSENTADA
15º – VISTAS DOS AUTOS (DEFESA FINAL)
16º – JUNTADA DEFESA FINAL
75

17º – TERMO DE ENCERRAMENTO (não é obrigatório)


18º– RELATÓRIO

Poderão aparecer durante a instrução outros documentos, tanto na


fase investigativa quanto na fase acusatório da sindicância. Ex: Quebra de sigilo
telefônico, prova emprestada, quebra de sigilo bancário, provas documentais, carta
precatória etc.

10.2.9. Observações Gerais da Sindicância de Rito Acusatório

Ao ser transformada a sindicância para o rito acusatório,encarregado


deverá atentar para formalidade do processo (sequência dos ritos), caso não
observe, poderá ensejara vicio de forma.

O encarregado em razão da fase investigativa não contemplar o direito


ao contraditório e a ampla defesa, na fase acusatória deverá obrigatoriamente ouvir
todas as pessoas já inquiridas na fase investigativa (sindicado, testemunha e
ofendido).

É na fase acusatória que o acusado irá exercer o contraditório, através


do seu advogado constituído ou por ele próprio (autodefesa), ou ainda por defensor
dativo nomeado pela autoridade delegante ou por defensor AD HOC nomeado pelo
encarregado.

Ao final do interrogatório (acusado), o encarregado deverá notificar a


defesa para que no prazo de 72 horas apresente as alegações iniciais de defesa ou
defesa prévia. Essa notificação poderá ser realizada de duas formas:

a) Ao final do Termo de Qualificação e Interrogatório, depois


de passada palavra a defesa.

b) Ou expedir um ofício de notificação separado do Termo


de Qualificação Interrogatório, cientificando a defesa que a partir daquele
momento poderá apresentar as alegações iniciais de defesa no prazo de 72
horas.
76

O encarregado deverá atentar-se que o acusado/defensor tem direito a


vista e cópias dos autos, se solicitado, tanto na fase acusatória quanto na fase
investigativa.

Contraditório: é o momento em que o encarregado passa a palavra


para o defensor e ou acusado, a fim de possam realizarem as perguntas ao ofendido
e testemunha.
As testemunhas de acusação são aquelas arroladas no processo pelo
encarregado constantes no item 7 da Citação. Já as testemunhas de defesa são
arroladas pelo acusado e seu defensor em sede da defesa prévia.

O acusado tem o direito de arrolar no máximo 03 testemunhas de


defesa, a mesma quantidade deverá ser observada pelo encarregado.

Atenção quando as testemunhas da defesa forem às mesmas


testemunhas de acusação, o encarregado deverá inquirir as testemunhas apenas
uma vez, porém em termo separado, onde uma não poderá ouvir o depoimento da
outra.Art. 353 CPPM.

Na fase acusatória o encarregado deverá ouvir as pessoas (ofendido,


testemunhas, acusado) dentro do crivo do contraditório e a ampla defesa.

Exceção: as provas não repetíveis (Ex: exame de lesão corporal),


provas cautelares (Ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário, quebra de
sigilo telefônico).

10.3. Conselho de Disciplina33

O conselho de disciplina – CD, é uma espécie de processo


administrativo, disciplinar militar, regulamentado pela Lei n. 3.800 de 19 de Outubro
de 1.976 com as alterações da Lei nº 7.227/99), quem tem a finalidade de proceder

33
Regulado pela Lei n. 3.800 de 19 de Outubro de 1.976 com as alterações da Lei nº 7.227/99. LC Nº
555, de 29 de dezembro de 2014 – Estatuto dos Militares do Estado de Mato Grosso. Decreto nº
1.329 de 21 de Abril de 1978 (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar). Resolução nº 016/PM-
1/EMG/PMMT de 27 de junho de 1994 (Instrução de CD e CJ). Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, 1º de
junho de 2009, (Padronização dos atos disciplinares), e demais normas em vigor.
77

a apuração de transgressões disciplinares classificadas como graves, bem como a


aplicação da sansão administrativa de Demissão, da praça que cometeu a conduta
faltosa.
O Conselho de Disciplina é destinado a julgar da incapacidade do
Aspirante-a-Oficial PM e das demais praças da Polícia Militar com estabilidade
assegurada, , inclusive da reserva remunerada para permanecerem na ativa,
criando ao mesmo tempo, condições para se defenderem. Art. 1º e Parágrafo Único.

Deverá ser submetido ao Conselho de Disciplina, ―ex-officio‖, a praça


referida no artigo 1º e seu parágrafo único: Art. 2º, Parágrafo Único
I - acusada oficialmente, ou por qualquer meio lícito de comunicação social,
de ter:
a - procedido incorretamente no desempenho do cargo;
b - tido conduta irregular; ou
c - praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor policial-militar ou o
decoro da classe;
II - afastada do cargo, na forma da legislação policial-militar, por se tornar
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de
funções policiais-militares a ela inerentes, salvo se o afastamento é
decorrência de fatos que motivem sua submissão a processo;
III - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação
especial concernente à Segurança Nacional, em Tribunal Civil ou Militar.‖ ou
pertencente a partido ou associação a que se refere este artigo, a praça da
Polícia Militar que, ostensiva ou clandestinamente:
a - estiver inscrita como seu membro;
b - prestar serviços ou angariar valores em seu benefício;
c - realizar propaganda de suas doutrinas; ou
d - colaborar, por qualquer forma, mas sempre de modo inequívoco ou
doloso, em suas atividades.
[...]

Neste mesmo sentido, diz a lei 555 de dezembro de 2014, que diz

[...]
Art. 154 A demissão consiste no desligamento ex officio do militar estadual
da instituição com caráter de penalidade aplicada após o devido processo
legal, conforme dispuser legislação peculiar.
Art. 155 É da competência do Comandante-Geral da instituição os atos de
demissão e de exoneração das praças especiais, das praças e das praças
em situação especial.
Art. 156 É da competência do Governador do Estado os atos de demissão e
de exoneração do Oficial.
Art. 157 O militar estadual demitido ou exonerado não terá direito a qualquer
remuneração, sendo a sua situação militar definida pela Lei do Serviço
Militar.
[...]

A nomeação do Conselho de Disciplina é da competência do


Comandante-Geral da Corporação. O Conselho de Disciplina é composto de 3 (três)
oficiais da Corporação a que pertença a praça a ser julgada. O membro mais antigo
78

do Conselho de Disciplina, no mínimo um Oficial intermediário, é o presidente; o que


se lhe segue em antiguidade é o interrogante e relator, e o mais moderno, o
escrivão. Não podem fazer parte do Conselho de Disciplina. (Art. 4º - Art. 5º§ 1º, §
2º).

Ao acusado é assegurada ampla defesa, tendo ele, após o


interrogatório, prazo de 5 (cinco) dias para oferecer suas razões, por escrito,
devendo o Conselho de Disciplina fornecer-lhe o libelo acusatório, onde se
contenham, com minúcias, o relato dos fatos e a descrição dos atos que lhe são
imputados. Art. 9º. O acusado será notificado de todas as sessões do Conselho,
exceto a sessão de deliberação do relatório. (§ 1º) Em sua defesa, pode o acusado
requerer a produção, perante o Conselho de Disciplina, de todas as provas
permitidas no Código de Processo Penal Militar. (§ 2º). As provas a serem realizadas
mediante carta precatória serão efetuadas por intermédio da autoridade policial
militar do local. § 3º

Os prazos do Conselho de Disciplina dispõem de 40 (quarenta) dias


para a conclusão dos trabalhos, inclusive remessa do relatório, a contar da data de
sua instalação, que deverá ocorrer no prazo máximo de 05 (cinco) dias do
recebimento da portaria de nomeação. O Comandante-Geral da Corporação, por
motivos justificados e em casos excepcionais, poderá prorrogar o prazo por mais 30
(trinta) dias. Art. 11 § 1º § 2º. Os prazos concedidos à defesa para manifestação,
bem como aqueles decorrentes de atos protelatórios da mesma, não serão
contados dentro do prazo dos 40 dias.

Realizadas todas as diligências, o Conselho de Disciplina deverá ser


deliberar, em sessão aberta, sobre o relatório a ser redigido. O relatório, elaborado
pelo escrivão e assinado por todos os membros do Conselho de Disciplina, deve
decidir se a praça é, ou não, culpada da acusação que lhe foram feita; e se está ,
ou não incapaz de permanecer na ativa ou na situação em que se encontra na
inatividade.

A decisão do Conselho de Disciplina é tomada por maioria de votos de


seus membros. Quando houver voto vencido, é facultada sua justificação por escrito.
79

Elaborado o relatório, com um termo de encerramento, o Conselho de Disciplina


remete o processo ao Comandante-Geral da Corporação.

Recebidos os autos do processo do Conselho de Disciplina, o


Comandante-geral, dentro do prazo de 20 (vinte) dias, aceitando, ou não, seu
julgamento e, neste último caso, justificando os motivos de seu despacho, determina
os incisos do Art. 13, que diz

I - o arquivamento do processo, se não julga a praça culpada ou incapaz de


permanecer na ativa ou na inatividade;
II - a aplicação de pena disciplinar, se considera contravenção ou
transgressão disciplinar a razão pela qual a praça foi julgada culpada;
III - a remessa do processo à Auditoria de Justiça de Polícia Militar, se
considera crime a razäo pela qual a praça foi julgada culpada; ou
IV - a efetivação da reforma ou exclusão a bem da disciplina, se considera
que:
a - a razão, pela qual a praça foi julgada, está prevista nos ítens I, II ou IV
do artigo 2º, ou
b - se, pelo crime cometido, previsto no ítem III do artigo 2º, a praça foi
julgada incapaz de permanecer na ativa ou na inatividade.

Deverá ser observado o despacho, que determinar o arquivamento do


processo, deve ser publicado oficialmente e transcrito nos assentamentos da praça,
se esta é da ativa. A reforma da praça é efetuada no grau hierárquico que possui na
ativa, com proventos proporcionais ao tempo de serviço.

O acusado ou, no caso de revelia, o oficial que acompanhou o


processo, pode interpor recurso da decisão do Conselho de Disciplina ou da solução
posterior do Comandante-Geral da Corporação.

O prazo, para interposição de recurso é de 10 (dez) dias, contados da


data na qual o acusado tem ciência da decisão do Conselho de Disciplina, ou da
publicação da solução do Comandante-Geral da Corporação. Art. 14 e Parágrafo
Único.

Caberá ao Comandante-Geral da Corporação, em última instância, no


prazo de 20 (vinte) dias, contados da data do recebimento do processo, julgar os
recursos que forem interpostos nos processos oriundos dos Conselhos de Disciplina.
(Art. 15)
80

O prazo prescricional é de 6 (seis) anos, computados da data em que


forem praticados.

10.4. Conselho de Justificação34

O conselho de justificação – CJ, é uma espécie de processo


administrativo disciplinar militar, regulamentado pela Lei nº 3.993 de 26 de junho de
1978, que tem a finalidade de proceder a apuração de transgressões disciplinares
classificadas como graves, bem como a aplicação da sansão administrativa de
Demissão, ao Oficial que cometeu a conduta faltosa.

O Conselho de Justificação é destinado a julgar, através de processo


especial, da incapacidade do Oficial da polícia Militar do Estado de Mato Grosso
para permanecer na ativa, criando-lhe, ao mesmo tempo, condições para se
justificar. Além disso, pode também ser aplicado ao oficial da reserva remunerada
ou reformado, presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade
em que se encontra. (Art. 1º - Parágrafo Único)

Deverá ser submetido ao Conselho de Justificação, a pedido ou ―ex-officio”,


o oficial da Polícia Militar, conforme os temos dos incisos do Art. 2º, que diz:

I - acusado oficialmente, ou por qualquer meio lícito de comunicação social,


de ter:
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo;
b) tido conduta irregular; ou
c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor policial-militar ou o
decoro da classe;
II - considerado não habilitado para o acesso, em caráter provisório, no
momento em que venha a ser objeto de apreciação para ingresso em
Quadro de Acesso;
III - afastado do cargo, na forma da legislação policial-militar, por se tornar
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de
funções policiais-militares a ele inerentes, salvo se o afastamento é
decorrente de fatos que motivem sua submissão a processo;

34
Regulado pela Lei nº 3.993 de 26 de junho de 1978. LC Nº 555, de 29 de dezembro de 2014 –
Estatuto dos Militares do Estado de Mato Grosso. Resolução nº 016/PM-1/EMG/PMMT de 27 de
junho de 1994 (Instrução de CD e CJ).Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, 1º de junho de 2009,
(Padronização dos atos disciplinares). Decreto nº 1.329 de 21 de Abril de 1978 (Regulamento
Disciplinar da Polícia Militar) entre outras normas em vigor.
81

IV - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação


especial concernente à Segurança Nacional, em tribunal civil ou militar, à
pena restritiva de liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em
julgado a sentença; ou
V - pertencente a partido político ou associação, suspenso ou dissolvido por
força de disposição legal ou decisão judicial ou que exerça atividades
prejudiciais ou perigosas à Segurança Nacional.
Parágrafo Único - É considerado, entre outros, para os efeitos desta lei,
pertencentes a partidos ou associação a que se refere este artigo, o oficial
da Polícia Militar que, ostensiva ou clandestinamente:
a) estiver inscrito como seu membro;
b) prestar serviços ou angariar valores em seu benefício;
c) realizar propaganda de suas doutrinas;
d) colaborar, por qualquer forma, mas sempre de modo inequívoco ou
doloso, em suas atividades.

O Conselho de Justificação é composto de 3 (três) oficiais da ativa, de


posto superior ao justificante. O membro mais antigo do Conselho de Justificação,
no mínimo um oficial superior da ativa, é o presidente; o que se lhe segue em
antiguidade é o interrogante e relator; e o mais novo, o escrivão. Conforme Art. 5º, §
1º.

Quando o justificante é oficial superior do último posto, os membros do


Conselho de Justificação serão nomeados dentre os oficiais daquele posto, da ativa
ou na inatividade, mais antigo que o justificante. Quando o justificante é oficial da
reserva remunerada ou reformado, um dos membros do Conselho de Justificação
pode ser da reserva remunerada. (Art. 5º § 3º, § 4º).

O Conselho de Justificação dispõe de prazo de 30 (trinta) dias, a contar


da data de sua nomeação, para a conclusão de seus trabalhos, inclusive remessa
do relatório. A autoridade delegante, por motivos excepcionais, pode prorrogar até
20 (vinte) dias o prazo de conclusão dos trabalhos. Conforme Art. 11 Parágrafo
Único.

Após realizadas todas as diligências, o Conselho de Justificação passa


a deliberar em sessão aberta, sobre o relatório a ser redigido- O relatório, elaborado
pelo escrivão e assinado por todos os membros do Conselho de Justificação, deve
julgar se o acusado é, ou não, culpado da acusação que lhe foi feita ou não; ou
incapaz de permanecer na ativa ou na situação em que se encontra na inatividade.
Art 12 § 1º.
82

Após Elaborado o relatório, com um termo de encerramento, o


Conselho de Justificação remete o processo ao Governador do Estado, por
intermédio do Comandante-Geral da Corporação. (Art. 12§ 4º)

O Governador do Estado, após recebidos autos do processo do


Conselho de Justificação, dentro do prazo de 20 (vinte) dias aceitando,ou não, seu
julgamento e, neste último caso, justificando os motivos de seu despacho,
determina, conforme incisos do Art. 13, que diz:

I - o arquivamento do processo, se considera procedente a


justificação;
II - a aplicação de pena disciplinar, se considera contravenção ou
transgressão disciplinar a razão pela qual o oficial foi julgado;
III - na forma da legislação policial-militar, a adoção das providências
necessárias à transferência para a reserva remunerada, se o oficial
for considerado não habilitado para o acesso em caráter definitivo.
IV - a remessa do processo à Auditoria de Justiça da Polícia Militar,
se considera crime a razão pela qual o oficial foi culpado;
V - a remessa do processo do Tribunal de Justiça do Estado;
a) se a razão pela qual o oficial foi julgado culpado está prevista nos
ítens I, III e V do artigo 2º;
b) se, pelo crime cometido, previsto no ítem IV do artigo 2º, o oficial
foi julgado incapaz de permanecer na ativa ou na inatividade.

Insta ressaltar que é da competência do Tribunal de Justiça do Estado,


julgar, em instância única, os processos oriundos do Conselho de Justificação, a ele
remetido pelo Governador do Estado.

No Tribunal de Justiça do Estado, distribuído o processo, é o mesmo


relatado por um dos seus membros que, antes, deve abrir prazo de 5 (cinco) dias,
para a defesa se manifestar, por escrito, sobre a decisão do Conselho de
Justificação, concluída esta fase, é o processo submetido a julgamento. Art. 14 Art.
15 Parágrafo Único.

Por fim, a prescrição punitiva é de 6 (seis) anos, computados da data


em que foram praticados dos casos previstos como transgressão disciplinares. (Art.
18)

11. NOTIFICAÇÕES E INTIMAÇÕES


83

NOTIFICAÇÃO – Documento elaborado pelo encarregado para


convocar uma pessoa para participar do ato processual que será realizado. Ex.1-
Ouvir uma testemunha- Art. 347, CPPM.

INTIMAÇÃO – Documento elaborado pelo encarregado com a


finalidade de cientificar ao acusado e ou defensor de um ou mais atos do processo,
os quais já foram praticados. ex: Informar o defensor da decisão do Juiz de sentença
terminativa, Art. 445, CPPM.

Tema que esta previsto no art. 7º da Portaria 128 da PMMT.

[...]
Das intimações e notificações
Conceito
Artigo 7º - A intimação é o ato de dar ciência a pessoa sobre determinado
ato processual já praticado, ao passo queé o ato de cientificar a pessoa de
que deve comparecer para a realização de determinado ato processual.
[...]

Na norma administrativa disciplinar da PMMT não há previsão de prazo


para notificação, porém, utiliza-se subsidiariamente o Art. 291, CPPM (24hrs). No
entanto, por conveniência e oportunidade, e ainda em respeito ao contraditório e a
ampla defesa estipulou-se o prazo de 48horas.

11.1 Contagem dos Prazos

Não há previsão na norma disciplinar, nem tampouco no CPPM, em razão


dessa omissão a administração militar com fulcro no art.3º alínea ―a‖ do CPPM,
utiliza-se com parâmetro a legislação processual penal comum (art. 798, §1º e §3 do
CPP).

Prazo Processual Penal


a). Dia“a quo‖(de início) – será excluído da contagem
b). Dia ―a quem‖ (dia final) – será incluída na contagem

Atento aos exemplos:


84

Exemplo (1):
Quarta Qui Sex Sáb Dom Seg Ter Qua
10 11 12 13 14 15 16 17

Notificação 1º dia 2º dia Dia de


realização do
ato

Neste exemplo, observe que a NOTIFICAÇÃO foi realizada na SEXTA-


FEIRA, neste caso, irá iniciar a CONTAGEM no 1º dia ÚTIL. Portanto, SEGUNDA-
FEIRA será o 1º Dia, TERÇA-FEIRA o 2º Dia, então o ATO deverá ser realizado na
QUARTA-FEIRA.

Exemplo (2):
Qua Qui Sex Sáb Dom Seg Ter Qua
10 11 12 13 14 15 16 17

Notificação 1º dia 2º dia Dia da realização do ato

Neste exemplo, observe que a NOTIFICAÇÃO foi realizada na


QUINTA-FEIRA, neste caso aplicando-se a regra, temos que a CONTAGEM iniciará
na SEXTA-FEIRA - 1º Dia, o 2º Dia recairá no SÁBADO, mas como não funciona o
expediente forense no DOMINGO, logo o prazo fatal para realizar o ato será na
SEGUNDA-FEIRA.
Exemplo (3):

Qua Qui Sex Sáb Dom Seg Ter Qua


10 11 12 13 14 15 16 17

Notificação Feriado 1º dia 2º Dia de realização


dia do ato
85

Neste exemplo, observe que a NOTIFICAÇÃO foi realizada na


QUINTA-FEIRA, porém SEXTA-FEIRA é feriado, então iniciará a CONTAGEM na
SEGUNDA-FEIRA 1º dia ÚTIL, TERÇA-FEIRA 2º Dia, QUARTA-FEIRA prazo fatal
para realizar o ato.

11.2. Formas de Notificação

I - Notificação de Policial Militar da Ativa Solto

Em regra geral, o comparecimento de militar, assemelhado, ou


funcionário público será requisitado ao respectivo chefe, pela autoridade que
ordenar a notificação, conforme art. 349 do CPPM.

O encarregado deverá redigir o Ofício solicitando à apresentação do


policial militar diretamente ao seu Comandante, este irá fazer a devida apresentação
através de Ofício ao encarregado, no dia, hora e local solicitado.

Outra forma:

Em caso prático na instrução de uma Sindicância Investigativa, que o


policial militar na condição de investigado/testemunha e ofendido estiver lotado na
mesma UPM do encarregado, este poderá ouvi-lo no dia em estiver de serviço,
porém, dará ciência ao Comandante, bem como ao policial militar do referido
procedimento (solicitar ao P-1 constar na escala de serviço, o dia, hora e local do
ato). Neste caso, dispensa-se o Ofício de solicitação de apresentação, pois na
sindicância investigativa não há contraditório e a ampla defesa.

O encarregado deverá atentar-se na Sindicância de Rito Acusatório,


pois esta se observa o contraditório e a ampla defesa, sendo necessário realizar as
formalidades previstas no caput do art.349 do CPPM.

11.3. Notificação de Policial Militar de Patente Superior


86

O encarregado deverá proceder conforme Instrução Normativa nº. 07.


CorregPM de 27MAI13.

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 07/CORREGPM


Normatiza os procedimentos a serem adotados quando da oitiva de superior
hierárquico, como testemunha, por encarregados de processos e
procedimentos.
Artigo 1º - Determinar a todos os policiais militares encarregados de
processos e procedimentos, em geral, que façam a inquirição de
testemunhas na forma de depoimento presencial, seguindo as normas
vigentes, mesmo que a testemunha seja de posto ou graduação superior.
Artigo 2º - Caso a testemunha de posto ou graduação superior ao do
encarregado residir fora da circunscrição deste, será admitida a inquirição
da testemunha por carta precatória, devendo o encarregado oportunizar ao
acusado/defesa a formulação de quesitos informando ainda os quesitos do
encarregado.

Artigo 3º - Os encarregados deverão observar o disposto no Artigo 349, do


CPPM, que trata da requisição de militar ou funcionário público, os quais
deverão ser requisitados ao respectivo chefe, enquanto que o Parágrafo
único, trata da testemunha militar de patente superior.
Artigo 4º - Caso a testemunha notificada para ser inquirida não compareça
sem que apresente uma justificativa plausível, deverá o encarregado lavrar
certidão do não comparecimento, remetendo copia à autoridade delegante,
que adotará as medidas para responsabilização de quem descumprir a
presente instrução normativa.
Artigo 5º - Estão dispensadas de comparecer para depor as autoridades
elencadas no Artigo 350 do CPPM, as quais serão inquiridas em local, dia e
hora previamente ajustados entre elas e o encarregado do
processo/procedimento.
Artigo 6º - Revogam-se as disposições em contrário, em especial o
Provimento nº 03, de 15 de fevereiro de 2012.
Artigo 7º- Esta instrução normativa entra em vigor na data de sua
publicação.
[...]

11.4. Notificação de Policial Militar Segregado (Preso)

O policial militar quando preso em estabelecimento penal (Presídio


Santo Antônio) o encarregado deverá notificá-lo pessoalmente, com autorização do
Diretor do Estabelecimento.

[...]
Citação inicial do acusado
Art. 293. A citação feita no início do processo é pessoal,
bastando, para os demais têrmos, a intimação ou notificação do
seu defensor, salvo se o acusado estiver prêso, caso em que
será, da mesma forma, intimado ou notificado.
[...]
87

Se preso provisoriamente na UPM de lotação deverá ser realizado por


intermédio da autoridade militar (Comandante da UPM), conforme artigo 349 do
CPPM.

11.5. Notificação de Funcionário Civil

A notificação de servidor público civil, deverá ser


realizado, conforme caput artigo 349 do CPPM.

[...]
Requisição de militar ou funcionário
Art. 349. O comparecimento de militar, assemelhado, ou
funcionário públicoserá requisitado ao respectivo chefe, pela
autoridade que ordenar a notificação.
[...]

De igual forma está prevista na Portaria nº.128/09, §4º, assim vejamos:


[...]
§ 4º - Os agentes públicos deverão comparecer por meio de
solicitação ou requisição à autoridade competente, devendo o
ofício conter os requisitos previstos no § 1° deste artigo.
[...]

11.6. Notificação de Civil

E o civil será notificado pessoalmente, onde dará visto no Ofício de


Notificação se comprometendo a comparecer no ato processual. Não sendo
encontrado em sua residência poderá o encarregado Notificar seu parente ou
cônjuge.
[...]
Art. 7º, §2º, da Portaria 128/2009.
Formas
§ 2º - A pessoa será intimada ou notificada pessoalmente, por preposto,
parente ou cônjuge, a quem será entregue o documento, mediante recibo
aposto na contrafé.
[...]

11.7. Notificação de Policial Militar da Inativa

O Estatuto dos Militares Estaduais do Estado de Mato Grosso, Lei


Complementar nº 555/014, no seu artigo 4º, inciso, II aduz a definição de militar da
88

inativa.
[...]
Art. 4º O militar estadual encontra-se em uma das seguintes situações:
(....)

II - na inatividade:
a) na reserva remunerada, quando, tendo prestado serviço na ativa, passa à
reserva da instituição e percebe subsídio do Estado de Mato Grosso;
b) reformado, quando, tendo passado por uma das situações anteriores,
está dispensado, definitivamente, da prestação de serviço e continua a
perceber subsídio do Estado de Mato Grosso. perceber remuneração do
Estado.
[...]
O policial Militar na condição acima exposto deverá ser notificado
pessoalmente, conforme se faz com a notificação do civil, conforme Art. 7º, §2º,
da Portaria nº. 128/2009.

12. INCIDENTES PROCESSUAIS (art. 12 da Portaria 128/09).

É incidente toda questão geradora de obstáculo ao desenvolvimento


normal e válido do curso processual-administrativo.

12.1 Incidentes de Notificação

Se caso o policial militar acusado ou seu defensor, devidamente


notificado, não compareça à audiência, o ato será realizado na presença de um
defensor “ad hoc” nomeado pelo encarregado. Na hipótese do policial militar
acusado ou seu defensor recusarem a receber a notificação, o encarregado
procederá da forma quando da recusa da citação ou intimação.

Se caso o policial militar acusado não seja encontrado ou esteja em


local incerto e não sabido, esteja na condição de ausente ou desertor ou coloque
obstáculo para ser intimado, o encarregado deverá publicar em boletim da
instituição e o ato será realizado na presença de um defensor ad hoc nomeado
pelo encarregado.

12.2. Incidente de Citação


89

A citação é o documento formal que tem por finalidade dar ciência ao


militar estadual de que está sendo acusado em processo administrativo disciplinar
(Sind. Acus. – CD, CJ– Sind Demissória, T.A.) de ter praticado transgressão
disciplinar capitulada no anexo do Regulamento Disciplinar da Polícia Militar
(RDPM-MT) Estatuto dos servidores militares estaduais (Lei nº 555, 29Dez2014).

A citação é pessoal, intransferível e deve ser feita diretamente ao


acusado, de modo que a partir desse momento passe a exercer seus direitos ao
contraditório e ampla defesa, dentro dos autos.

 Situações de Incidentes de citação:

1º Caso: feita a citação, o acusado comparece sem o defensor.

Deverá o encarregado nomear de Defensor ―Ad-Hoc” para o Termo de


Qualificação e Interrogatório. Durante a Qualificação e Interrogatório, indagar se o
acusado irá constituir Defensor. Se o acusado não constitua defensor, o
encarregado solicitar a autoridade delegante a nomeação de defensor Dativo;

2º Caso: feita a citação, o acusado não comparece e não justifica a


ausência.
Se o acusado justificar a falta, notificar-lo para nova data. Se não
justificar, decreta-se a revelia do acusado.

3º Caso: Recusa de recebimento da Citação;

Efetuar a leitura da citação na presença de duas testemunhas. Indagar


se o acusado quer receber sua via. Elaborar Certidão das providências tomadas,
com assinaturas Se na Data da oitiva – Acusado não comparece, solicita a
nomeação de Defensor Dativo, decreta a Revelia através de certidão.

4º Caso: O Acusado não é encontrado para ser citado.

O encarregado deverá diligenciar na residência do acusado por 2


(duas) vezes, em dias e horários diferentes, elaborar uma certidão para cada dia,
com assinatura de duas testemunhas. Proceder a Citação por Edital – Publicando 3
90

vezes seguidas, sendo que após a ultima aguardar 20 (vinte dias); Se o acusado
não comparecer, solicitar a nomeação de defensor Dativo e decretar a Revelia

12.3. Incidentes de Suspeição e Impedimento

O impedimento tem caráter objetivo, enquanto que a suspeição tem relação


com o subjetivismo do encarregado. A imparcialidade do encarregado é um dos
pressupostos processuais subjetivos do processo. No Manual de Sindicância
podemos citar alguns exemplos para esclarecer:

[...]
Art. 14. A Sindicância terá rito próprio e atenderá aos princípios legais do
contraditório e ampla defesa.
SUPEIÇÃO E IMPEDIMENTO
Parágrafo único. Não podem ser encarregados de Sindicância:
a) O Oficial que formulou a acusação (IMPEDIMENTO);
b) O Oficial que tenham entre si, com o acusador ou com o acusado,
parentesco consanguíneo ou afim, na linha reta ou até quarto grau de
consanguinidade colateral ou de natureza civil (SUSPEIÇÃO);
c) Oficial que tenha particular interesse na solução da Sindicância
(IMPEDIMENTO);
d) O Oficial que foi parte em qualquer procedimento que serviu de base para
a acusação (IMPEDIMENTO).
[...]

Logo, a suspeição é vinculo do encarregado com as partes do


processo (subjetivo), coforme alínea A, do artigo 14 acima.

Impedimento é vinculo do encarregado com o processo e seus fatos


apurados (objetivo), exemplo alínea ―c‖ do artigo 14 acima.

12.4. Incidente por Atestado Médico (Portaria 128/09).

Com relação a atestado médico, o essencial ter ciência é que


apresentação de atestado médico não interrompe o curso regular do processo,
exceto, se for verificado a necessidade de exame de insanidade mental. Portaria
128.
[...]
Do atestado médico
Artigo 30 – A apresentação de atestado médico pelo acusado no curso
processual, não determinará a sua paralisação.
91

[...]

12.5. Incidente por doença ou insanidade Mental – (Portaria 070/12, alterou a


Portaria 128/09)

Conforme artigo 21, Havendo dúvida a respeito da imputabilidade


disciplinar do acusado, em virtude de doença ou deficiência mental, o encarregado
do processo, de ofício ou a requerimento do defensor, deverá:

I - Providenciará a apresentação do acusado ao Centro Médico da


Corporação ou órgão oficial similar, para fins de perícia médica,
apresentando os quesitos necessários à realização do exame;
II - Suspenderá o prazo de instrução do processo (sobrestamento), na fase
que se encontre, até a apresentação do laudo, mandando certificar nos
autos tal medida; e
III - Comunicará a decisão à autoridade instauradora que dará ciência à
Corregedoria PM, para fins de controle.

Em caso de Enfermidade física, deverá apresentar o atestado médico


original no órgão de pessoal da UPM em que estiver lotado para as providências
legais, bem como uma cópia ao encarregado do processo. [Neste caso o processo
seguirá normalmente.]

Em caso de Enfermidade mental, o policial militar acusado deverá fazer


a entrega do atestado médico original diretamente ao encarregado do processo,
acompanhado de requerimento que indique se a finalidade pretendida é apenas o
afastamento do serviço ou se deseja também suscitar incidente de insanidade
mental.

O encarregado deverá encaminhar à Perícia Técnica (SAD/IML), com


formulação dos quesitos previstos no art. 28C da Portaria nº 128/GCG/PMMT/2009.,
bem como, os quesitos apresentados pela defesa e outros que a acusação entender
conveniente:

I - se o policial militar acusado sofre de doença mental, desenvolvimento


mental incompleto ou retardado;
II - se ele tem condições de responder ao processo disciplinar em
andamento;
III - se no momento em que ocorreu o fato motivador do processo, o policial
militar acusado se achava no estado referido no inciso I;
IV - se em virtude das circunstâncias referidas no inciso I, possuía o policial
militar acusado, na época dos fatos, capacidade de entender o caráter ilícito
do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento;
92

V - se a doença ou deficiência mental do policial militar acusado, não lhe


suprimindo, diminuiu-lhe, entretanto, consideravelmente, a capacidade de
entendimento da ilicitude do fato ou a auto-determinação, quando o
praticou;
VI - se o policial militar acusado deve ou não ser considerado apto para o
serviço policial militar e se é ou não necessária a internação hospitalar para
tratamento médico-psiquiátrico;
VII - outros quesitos que o encarregado entender necessário.

Se o militar, em razão da enfermidade, tem capacidade de responder o


processo e era ao tempo do fato inteiramente CAPAZ de entender o caráter ilícito de
sua conduta e se também homologou os dias não trabalhados em conformidade
com o atestado, o encarregado deverá: (Art. 28 F)

a) informar ao Comandante da Unidade, Setor de Pessoal e autoridade


delegante;
b) intimar o acusado e seu defensor, se houver, da juntada do laudo pericial;
c) dar andamento ao processo.

Se o militar, em razão da enfermidade, tem ou não (na data atual)


capacidade de responder o processo e era ao tempo do fato inteiramente INCAPAZ
de entender o caráter ilícito de sua conduta e se também homologa os dias não
trabalhados em conformidade com o atestado, e ainda menciona que o militar está
apto para o serviço policial, o encarregado deverá:

a) informar ao Comandante da Unidade, DGP e autoridade delegante;


b) intimar o acusado e seu defensor, se houver, da juntada do laudo
pericial;
c) elaborar relatório circunstanciado e remeter os autos a autoridade
delegante sugerindo o devido arquivamento em face da inimputabilidade.

Se o militar, em razão da enfermidade, tem ou não capacidade de


responder o processo e era ao tempo do fato inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito de sua conduta e se também homologa os dias não trabalhados em
conformidade com o atestado, e ainda menciona que o militar não está apto para o
serviço policial, o encarregado deverá:

a) informar ao Comandante da Unidade, DGP e autoridade delegante;


b) intimar o acusado e seu defensor, se houver, da juntada do laudo pericial;
c) elaborar relatório circunstanciado e remeter os autos a autoridade
delegante sugerindo o devido arquivamento, com possibilidade, conforme o
caso, de reforma e internação em hospital psiquiátrico.
93

Durante o Pedido de Insanidade Mental, o processo será suspenso até


a juntada do laudo, que deverá ser assinado por um perito oficial, devendo o
encarregado provocar a autoridade delegante para a publicação do sobrestamento.

Quando o policial militar estiver respondendo a mais de um processo


disciplinar, o atestado médico que suscite enfermidade mental deverá ser
protocolado a todos os encarregados, sendo que o original deverá ser entregue
àquele que possa redundar em sanção mais gravosa. Só é válido laudo pericial
expedido por perícia oficial do estado.

Curador Especial, é o ―encargo atribuído a certas pessoas para


cuidarem de interesses de alguns outros: declarados incapazes‖. [no processo
administrativo disciplinar recairá, sobre o advogado constituído nos autos em
primeiro lugar, ou na falta deste, ao cônjuge ou companheiro (a), parente
consanguíneo ou afim, até o terceiro grau.

12.6 Da Busca e Apreensão

Apesar de parecer uma coisa só busca não se confunde com


apreensão. A busca consiste na diligência cujo objetivo é o de encontrar objetos ou
coisas. A apreensão deve ser tida como medida de constrição, colocando sob
custódia determinado objeto ou pessoa. É um meio de obtenção de prova.

Referente à busca e apreensão domiciliar, somente a autoridade


judiciária competente poderá expedir o respectivo mandado. De fato a casa é asilo
inviolável, conforme artigo 5º, inc.XI. da CF. Em razão do domicilio ser protegido
pela CF, sendo um direito individual, o cumprimento de busca domiciliar somente
será realizada mediante autorização judicial em sede de investigação ou processo
criminal.

Assim inexiste no direito processual disciplinar a previsão expressa da


diligência de busca e apreensão. Não sendo crível aplicar por analogia das normas
processuais penais, visto que normas de proteção à inviolabilidade de domicilio só
comporta interpretação restritiva e não analógica.
94

13 - RECURSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINAR MILITAR .

Após o encerramento da fase de cognição dos fatos transgressionais,


com alegações de defesa final, relatório do encarregado e solução da autoridade
delegante, tudo apurado e autuado por meio das espécies dos Processos
Administrativos Disciplinar Militar - PADM, haverá a possibilidade de interposição de
Recursos tipificado no Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado de Mato
Grosso – RDPM/PMMT.

O recurso administrativo disciplinar militar, na sua essência geral, nada


diferencia do recurso comum ao direito civil ou penal, contudo, apresentam algumas
peculiaridades diferentes, como nomenclatura, prazos, a quantidade, entre outras,
porém o sentido da palavra é o mesmo, vem do vocábulo latino ―recursus‖, que
significa corrida para trás, caminho para voltar, volta. Tal expressão, pois, dá a idéia
de um novo curso daquilo que estava em curso. No seu sentido estrito, recurso nada
mais é do que o meio, o remédio jurídico-processual pelo qual se provoca o reexame
de uma decisão.

Jorge César de Assis, descreve o conceito de Recurso Administrativo


Disciplinar:
[...]
O recurso administrativo disciplinar pode ser conceituado como a
insurreição contra ato, advinda de parte legitima, com o escopo de alterar
decisão proferida, em sede administrativa, provocando a autotutela da
administração pública. (Curso de Direito Disciplinar Militar, 2008,Cit., p. 36)
[...]

O sistema recursal instituído na PMMT não foge do padrão adotado


pelos demais Regulamentos Disciplinares Militares do Brasil, onde todos têm em
vista assegurar, pelo menos, um duplo grau de apreciação das razões apresentadas
pelo recorrente. O primeiro grau realiza-se perante a própria autoridade que praticou
o ato e implica em simples reconsideração do ato praticado, enquanto que o
segundo grau faz com que a apreciação do recurso vá, no mínimo, até a autoridade
imediatamente superior àquela que aplicou a sanção.
95

Além dos recursos disciplinares previstos no RDPM/MT, ainda temos a


Revisão, prevista no Art. 3º da Norma de Instrução do Processo Administrativo
Disciplinar Militar, a qual cabe somente nos processos findos, ou seja, com decisão
administrativa transitada e julgada. Mas, mesmo assim, deve ser evidenciado que tal
decisão tenha sido contrária ao texto expresso em lei ou evidência dos autos,
quando ela se fundar em depoimento, exame ou documento, comprovadamente,
falsos e errados e que, após a sua prolação, se descobrirem novas provas de
inocência do punido ou de circunstâncias que autorize pena mais branda.

Pedido de Revisão que não se enquadre em qualquer uma dessas


hipóteses é incabível e autoriza o seu liminar indeferimento. Em qualquer das
hipóteses, será do requerente o ônus da prova.

Deve ser respeitado o prazo prescricional, o qual é de 05 (cinco) anos,


a contar da data da publicação do ato, compete ao Comandante Geral da PMMT, em
última instância administrativa, para a decisão sobre a Revisão no Processo
Administrativo Disciplinar Militar.

Os Recursos previstos no RDPM/PMMT são de três ordens,e estão


discriminados conforme conceito do artigo 54 e parágrafo único:
[...]
Art. 54. Interpor recursos disciplinares é o direito concedido a policial-
militar que se julgue, ou julgue subordinado seu, prejudicado, ofendido
ou injustiçado por superior hierárquico, na esfera disciplinar.

Parágrafo Único - São recursos disciplinares:


1) O pedido de reconsideração de ato;
2) A queixa;
3) A representação.
(grifo nosso)
[...]

Desta forma estão ordenados no Título V, Capitulo XI do RDPM/MT:

13.1. Da Reconsideração de Ato

O Pedido de Reconsideração de Ato, esta presente no artigo 55, do


RDPM/PMMT, que diz:
96

[...]
Art 55 Interposto mediante requerimento, por meio do qual o policial militar
que se julgue, ou julgue subordinado seu, prejudicado, ofendido ou
injustiçado, solicita a autoridade que praticou o ato, que reexamine sua
decisão e reconsidere seu ato.
§ 1º - O pedido de reconsideração de ato deve ser encaminhado através da
autoridade a quem o requerente estiver diretamente subordinado.
§ 2º - O pedido de reconsideração de ato deve ser apresentado no prazo
máximo de dois dias úteis, a contar da data em que o policial-militar tomar
oficialmente conhecimento dos fatos que o motivaram.
§ 3º - A autoridade, a quem é dirigido o pedido de reconsideração de ato,
deve dar despacho ao mesmo no prazo máximo de quatro dias úteis.
[...]

Importante salientar, que esse Recurso é um ato, instituto ou


procedimento administrativo de primeiro grau, que o disciplinado ora já considerado
culpado tem direito que a decisão final em seu PADM, seja reavaliada pelo
comandante que instaurou a portaria e que homologou a solução com punição.

Desta forma, não satisfeito com a decisão proferida, o recorrente, o


defensor legal ou representante, que pode ser um oficial da ativa ou uma praça
bacharel em direito, com fundamentos em novos fatos, ou com interpretação diversa
dos mesmos fatos, vem ao comandante de batalhão tentar convencê-lo, que sua
decisão e equivocada ou injusta.

Para que seja possível interposição de tal ato recursal, e importante


disserta-se do direito de notificação da punição aplicada. Para que o ato da
homologação da punição seja válido, é necessário que o disciplinado ou seu
defensor constituído, ou representante, esteja ciente da sua punição, e para que isso
aconteça e necessário que o ato esteja publicado em Boletim Geral Eletrônico,
posteriormente enviado a intimação aos interessados.

Desta forma, a partir dessa publicação, esta apto a correr a contagem


do prazo que estabelece o parágrafo 2º, ou seja, 02 (dois) dias úteis. Destarte, se
não notificar, não tem que se falar em esgotamento de prazo, e a decisão não terá
efeito jurídico, por não cumpri o princípio da ampla defesa e o contraditório,
cerceando direito de defesa, assim compreendendo ato imperfeito da administração.
97

Nota-se conforme parágrafo terceiro, que assim que a autoridade


receber o recurso deve no prazo máximo de 04 (quatro) dias dar o despacho,
decidindo sobre os fatos, se acatou ou não tal recurso, se caso decidido em
desfavor do disciplinado, o ato deverá ser motivado, bem como notificar os
recorrentes para se desejar recorrer em segundo grau, ou seja, interpor um novo
recurso a autoridade imediatamente superior a que proferiu a primeira decisão, ato
este nomeado de queixa.

13.2. Da Queixa

A Queixa, esta previsto no artigo 56, do RDPM/PMMT, que diz:


[...]
Art. 56 - É o recurso disciplinar, normalmente redigido sob a forma de ofício
ou parte, interposto pelo policial-militar que se julgue injustiçado, dirigido
diretamente ao superior imediato da autoridade contra quem é apresentada
a queixa.
§ 1º - A apresentação da queixa, só é cabível após o pedido de
reconsideração de ato ter sido solucionado e publicado em Boletim da OPM
onde serve o queixoso.
§ 2º - A apresentação da queixa deve ser feita dentro de um prazo de cinco
dias úteis, a contar da publicação em Boletim da solução de que trata o
parágrafo anterior.
§ 3º - O queixoso deve informar, por escrito, à autoridade de quem vai se
queixar, do objeto do recurso disciplinar que irá apresentar.
§ 4º - O queixoso deve ser afastado da subordinação direta da autoridade
contra quem formulou o recurso, até que o mesmo seja julgado. Deve, no
entanto, permanecer na localidade onde serve, salvo a existência de fatos
que contra-indiquem a sua permanência na mesma.
[...]

A Queixa é um recurso administrativo na esfera da polícia milita


estadual considerado de segundo grau, esse recurso pode ser interposto pelo
disciplinado, seu advogado, um oficial da ativa ou uma praça bacharel em direito,
que se julgue interessado no processo.

Esse Recurso é endereçado diretamente à autoridade superior a que


proferiu o Recurso de Reconsideração de Ato, ou seja, comandante Regional, que é
um oficial com a patente de Coronel. Esse comandante Regional é superior
hierárquico do comandante de batalhão que regulamente é um Tenente Coronel.
98

Neste sentido o queixoso informará mediante parte (documento de


comunicação interna) o seu comandante de batalhão que negou provimento do
primeiro recurso, que estará interpondo as razões de queixa ao comandante
Regional, onde os interessados do recurso, tem 05 (cinco) dias a partir da ciência do
recurso de primeira instância, publicado em Boletim Interno, com a redação
dissertando que não foi acatado pelo comandante de batalhão o Recurso de
Reconsideração Ato.

Desta forma, como a queixa é contra decisão do comandante de


batalhão, o queixoso deverá ser afastado da subordinação desse comando,
distanciamento este, com a finalidade de evitar qualquer tipo de perseguição ou
retalhamento, como o de evitar, que o disciplinado produza toda é qualquer prova,
que possa lhe beneficiar no decorrer do Recurso.

Porém recomenda a legislação em analise, que o disciplinado


permaneça na localidade que serve, ou seja, no comando regional que envolve
outros batalhões na mesma região, (cidade ou município) ficando afastado até o
resultado do julgamento do Recurso pelo comandante de regional.

Julgado o Recurso de Queixa pelo comandante Regional, e se for, em


desfavor do disciplinado, esse terá o direito de interpor um novo recurso, agora
dirigir-se até o comandante geral, que é a Representação.

Há de se observar que para existir o Recurso de Queixa e necessário


da instauração de uma das espécie de PADM. Costumeiramente na corporação
PMMT, a expressão queixa também é utilizada para o subordinado leva
conhecimento de quaisquer atos ilícitos cometido por superior imediato (autoridade
coatora) ao comandante superior, deque crime ou transcrição disciplinar, aconteceu
ou esta ocorrendo, devendo tal comunicação ser apurando pela autoridade que
recebeu a denúncia.

Esta comunicação pode considerar uma informação, denúncia em


desfavor ao superior imediato do subordinado, e que equivocadamente é conhecida
99

na corporação como queixa, que na verdade é uma analogia ao Recurso de Queixa


que é aplicado somente em caso de PADM já devidamente em trâmite.

13.3 - Da Representação

Representação, esta previsto no artigo 57 e parágrafo do RPPM/PMMT,


que diz:
[...]
Art. 57 - É o recurso disciplinar, normalmente redigido sob a forma de ofício
ou parte, interposto por autoridade que julgue subordinado seu estar sendo
vítima de injustiça ou prejudicado em seus direitos, por ato de autoridade
superior.
Parágrafo Único - A apresentação deste recurso disciplinar deve seguir os
mesmos procedimentos prescritos no Art. 56 e seus parágrafos.
Art. 58 - A apresentação do recurso disciplinar mencionado no parágrafo
único do Art. 54 deve ser feita individualmente; tratar de caso específico;
cingir-se aos fatos que o motivaram; fundamentar-se em novos argumentos,
provas ou documentos comprobatórios e elucidativos e não apresentar
comentários.
§ 1º - O prazo para a apresentação de recurso disciplinar, pelo policial-militar
que se encontre cumprindo punição disciplinar, executando serviço ou ordem
que motive a apresentação do mesmo, começa a ser contado, cessadas as
situações citadas.
§ 2º - O recurso disciplinar que contrarie o prescrito neste Capítulo é
considerado prejudicado pela autoridade a quem foi destinado, cabendo a
esta mandar arquivá-lo e publicar sua decisão em Boletim,
fundamentadamente.
§ 3º A tramitação de recurso deve ter tratamento de urgência em todos os
escalões.
[...]

A Representação é um Recuso Disciplinar Militar considerado de


terceiro grau, ou seja, último recurso na esfera administrativa, é um ato, oficial
comandante do disciplinado, possa interpor endereçado ao oficial comandante
geral, que é um coronel de polícia da ativa, na esperança que possa ser mudadas as
decisões de primeiro e segundo grau, já negadas anteriormente pelo comandante de
batalhão e comandante regional, respectivamente.

Os procedimentos desse Recurso e idêntico ao do Recurso de


Reconsideração de atos, já mencionado, que deve ser apresentado
individualmente, ou seja, para cada disciplinado, deverá ser apresentados recursos
em separados, assim mencionando nas razões, motivos e objeto do ato, que possui
a finalidade de revogar a punição aplicada em primeiro grau pelo comandante de
100

batalhão e ratificada em segundo grau pelo comandante regional. Para interpor tal
recurso o disciplinado deverá informar às autoridades que negaram provimento nas
instancias anteriores que interpolara novo Recurso.

Cabe a nós mencionar que a Reconsideração é o derradeiro recurso na


esfera administrativa, desta forma sendo possível a quaisquer dos interessados
recorrerem ao Poder Judiciário, principalmente em se tratando de decisão sobre
restrição de liberdade, isto com fundamento do princípio do controle do poder judicial
sobre os atos administrativo, devendo o juiz anular tais quando viciados de qualquer
forma.

Importante observar-se que as interposições são interdependentes,


seguindo a uma ordenação disposta pelo próprio RDPM/PMMT, devendo ser
interposto primeiramente o pedido de reconsideração de ato para depois, na
seqüência, interpor-se o Recurso hierárquico, que é a Queixa e, após, o Recurso de
Representação.

Contudo a que se reportar o Princípio da Fungibilidade, que nos


retrata, se o Recurso for interposto equivocadamente, por exemplo: o disciplinado
interpõe a Representação em primeiro grau, em lugar do pedido de Reconsideração
de Ato, ele deverá ser recebido normalmente pela autoridade competente, ou seja,
comandante de batalhão que instaurou a portaria, ao lugar do comandante geral que
é a autoridade para decidir sobre a representação.

Neste contesto, concluímos a importância dos recursos, que são


institutos, atos ou procedimentos que são aplicados tanto para se evitar o
cumprimento inicial da punição no sentido de absolvição do disciplinado ou abrandar
punição já impostas, conforme os atos revisionais.

Os recursos citados são os mesmo aplicados nos processos de


disciplina decreto Lei N. 3.800 de 19 de Outubro de 1.976, que possui características
diferentes, por se tratar de exclusão de praças, porém com a obrigatoriedade do
defensor legal, com ritos e prazos diferenciados. Conforme artigo 71 do
RDPM/PMMT, que diz:
[...]
101

Art. 71 - Os julgamentos a que forem submetidos os policiais-militares,


perante o Conselho de Justificação ou Conselho de Disciplina, serão
conduzidos segundo normas próprias ao funcionamento dos referidos
Conselhos.
[...]

14. ATOS OU INSTITUTOS ADMINISTRATIVOS REVISIONAIS

14.1. Revisão de Ato Administrativo (RDPM/PMMT)

A competência revisional está vinculada ao artigo 41, do RDPM/PMMT,


determinando quais são as autoridades disciplinares competentes para a revisão
dos atos disciplinares em sede Recursal ou de Ofício, as quais mencionam o referido
artigo.

A modalidade da aplicação de punição pode ser realizada pela autoridade


que a aplicou ou por outra, superior e competente, quando tiver
conhecimento de fatos que recomendem tal procedimento.
As modificações da aplicação de punição são:
1) anulação;
2) relevação;
3) atenuação;
4) agravação.
(grifo nosso)

I - A Anulação

A anulação é uma modalidade de revisão de ato disciplinar prevista nos


artigos e incisos do RDPM, que diz:
[...]
Art. 42 - A anulação da punição consiste em tornar sem efeito a aplicação
da mesma.
§ 1º - Deve ser concedida quando for comprovado ter ocorrido injustiças ou
ilegalidade na sua aplicação.
§ 2º - Far-se-á em obediência as prazos seguintes:
1) em qualquer tempo e em qualquer circunstância, pelas autoridades
especificados nos itens 1), 2) e 3) do Art. 9º;
2) no prazo de 60 dias, pelas demais autoridades.
§ 3º - A anulação sendo concedida ainda durante o cumprimento de
punição, importa em ser o punido posto em liberdade imediatamente.
Art. 43 - A anulação de punição deve eliminar toda e qualquer anotação
e/ou registro nas alterações do militar relativos à sua aplicação.
[...]
102

Anulação é um ato administrativo aplicado contra uma decisão


desfavorável a disciplinado, pode ocorrer em virtude da interposição de um Recurso,
ou até mesmo de oficio pela autoridade que aplicou a punição ou superior a esta,
sendo tal ato motivado por visualização de qualquer espécie de vícios que
transcorreu nos autos do PADM. O seu efeito é imediato, devendo o disciplinado se
encontra preso ou detido ser libertado imediatamente, bem como ser excluído de
sua ficha qualquer ato referente a punição anulada.

II - Revelação

A Revelação é uma modalidade revisão de ato disciplinar prevista no


artigo 45, do RDPM, que diz:

[...]
Art. 45 - A relevação de punição consiste na suspensão de cumprimento da
punição imposta.
Parágrafo Único - A relevação da punição pode ser concedida:
1) quando ficar comprovado que foram atingidos os objetivos visados com a
aplicação da mesma, independente do tempo de punição a cumprir;
2) por motivo de passagem de comando, data de aniversário da PM, ou data
nacional quando já tiver sido cumprida pelo menos metade da punição.
[...]

A revelação é um ato administrativo que suspende a punição aplicada


ao disciplinado, fica perdoado da punição por ser suspendida pela autoridade que a
homologou ou por autoridade superior a esta. Para se ter esse benefício é
necessário o administrador observar que os objetivos foram cumpridos ou que em
datas especiais conforme item 2 (dois), tenha o disciplinado cumprido ao menos
metade da pena.

Nestes casos, entendemos que a defesa fundamentada no princípio


constitucional da Proporcionalidade possa ingressar novamente com o recurso de
reconsideração de ato e seguintes. Há de se observar a essência da palavra
suspensão:

Na lição de Julio Mirabete, a saber:


[...]
Suspensão Condicional da Pena (que pode também ser chamada
de Sursis, adotada pela legislação brasileira): é um instituto de Direito
103

Penal com a finalidade de permitir que o condenado não se sujeite à


execução de pena privativa de liberdade de pequena duração, ou seja,
permite que, mesmo condenada, uma pessoa não fique na cadeia. Sursis
quer dizer suspensão, derivado de surseoir, que significa
suspender.(Manual de Direito Penal - Parte Geral, 2003, Comentário, Art. 1º
a 120 do CP)
[...]
Utilizando o princípio da analogia pode a administração aplicar esse
conceito pertinente ao Direito Penal, onde disciplinado é condenado, mas é
perdoada a execução do resto da punição, porém com ressalvas(ex.: não reincidir
em transgressões em até o final da punição) feitas pelo comandante, caso
descumprida deverá o punido continuar o cumprimento da punição, bem como
responder pelas novas transgressões cometidas.

III - Atenuação

Atenuação é uma modalidade de Revisão de Ato Disciplinar prevista no


artigo 46 do RDPM, que diz:
[...]
Art. 46 - A atenuação da punição consiste na transformação da punição
proposta ou aplicada em uma menos rigorosas, se assim o exigir o interesse
da disciplina e da ação educativa do punido.
[...]

Atenuação é o abrandamento da punição, quando o comandante que


aplicou ou superior a este, verificar no decorrer do cumprimento, se o disciplinado já
reavaliou sua conduta e que não mais,esta disposto a prática-lá novamente. Desta
forma a punição mais rigorosa vai ser transformada em outra mais simples. Por
exemplo: uma prisão em regime fechado em presídio militar, transformada em uma
detenção cumprida no próprio batalhão. O Instituto também poderá ser provocado
pelos três recursos acima estudados. Também é utilizada no enquadramento
disciplina, para fundamentar os dias de punição a ser cumprido.

Conforme art. 17 do RDPM/PMMT são causas atenuantes de punições


disciplinares:
[...]
Art. 17 - São circunstâncias atenuantes:
1) bom comportamento;
2) relevância de serviços prestados;
104

3) ter sido cometida a transgressão para evitar mal maior;


4) ter sido cometida a transgressão em defesa própria, de seus direitos
ou de outrem, desde que não constitua causa de justificação;
5) falta de prática no serviço.
[...]

Desta forma, a legislação trás de forma taxativa as circunstância de


atenuação, que podem ser utilizada a qualquer tempo na fase ordinária da
defesa com as Razões Preliminares de defesa, Alegações Finais, bem como em
qualquer instância dos recursos.

IV- Agravação

Agravação é uma modalidade de Revisão de Ato Disciplinar prevista no


artigo 47 do RDPM, que diz:

[...]
Art. 47. A agravação de punição consiste na transformação da punição
proposta ou aplicada em uma mais rigorosa, se assim o exigir o
interesse da disciplina e da ação educativa do punido.
[...]

A Agravação é o ato contrario a Atenuação, ou seja, o disciplinado teve


sua punição atenuada pela autoridade competente, porém não se mostrou
merecedor de tal benefício, assim a punição volta ao ―estatus quo”estado inicial. Há
de se observar que esse instituto é aplicado somente no caso da concessão da
atenuação, não sendo possível a agravação da punição inicial, com fulcro do
principio da Proibição de reformatio in pejus, ou seja, não é possível reformar a
punição para piorar a condição da punição do disciplinado.

Todos esses institutos administrativos são aplicados tanto de ofícios


pelas autoridades competentes, bem como através dos Recursos Estudados, que
poderá ser interpostos a qualquer tempo, após cumprir dos requisitos que a lei do
RDPM (acima disposta) permitir, no sentido do disciplinado ser contemplado com a
reforma, para livrar ou abrandar a decisão inicial disposto na solução do PADM.
105

Neste sentido, o RDPM também prevê as forma taxativa o rol das


circunstâncias de agravamento das punições, a saber:
[...]
Art. 18 - São circunstâncias agravantes:
1) mal comportamento;
2) prática simultânea ou conexão de duas ou mais transgressões;
3) reincidência da transgressão mesmo punida verbalmente;
4) conluio de duas ou mais pessoas;
5) ser praticada a transgressão durante a execução de serviço;
6) ser cometida a falta em presença de subordinado;
7) ter abusado o transgressor de sua autoridade hierárquica;
8) ser praticada a transgressão com premeditação;
9) ter sido praticada a transgressão em presença de tropa;
10) ter sido praticada a transgressão em presença de público.
[...]

Igualmente as atenuações são circunstancias que fundamenta a


quantidade de dias de Detenção ou Prisão, para estabelecer a punição, de 01 (um) a
30 (trinta) dias.

14.2. Revisão de Ato Administrativo (Lei n° 7.692/2002)

A revisão de ato administrativo esta previsto na Lei n° 7.692, de 1º de


julho de 2002, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração
Pública Estadual. Assim diz:
[...]
Art. 84 Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser
revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de oficio, quando surgirem fatos
novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a
inadequação da sanção aplicada.

Parágrafo único Da revisão do processo não poderá resultar agravamento


da sanção.
[...]
Para ser reconhecida a revisão de ato administrativo deve a defesa
apresenta fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a
inadequação da sanção aplicada.

A Revisão poderá verificar-se em qualquer tempo e não autoriza a


agravação da sanção, isto é, a condenação Reformatio in Pejus. Tal situação
também inclui os demais Recursos Administrativos Disciplinares.
106

Reformatio in Pejus é a reforma de decisão contra o requerente,


prejudicando-o em relação à primeira sanção, o que não é admitido pelo nosso
direito positivo.

15. NULIDADES NO PROCESSO DISCIPLINAR (Absolutas e Relativas)

O que é nulidade?

Nulidade, no magistério de Tourinho Filho, "é a sanção decretada pelo


órgão Jurisdicional, em relação a ato praticado com a inobservância das prescrições
legais. É a decretação da ineficácia do ato atípico, imperfeito, defeituoso". (Processo
Penal, Ed. saraiva, SP, 1990, vol. II pág. 117).

As expressões de comando devem ser retiradas desse conceito,


desmembradas, para melhor estudo da matéria. Vejamos:

 É sanção;
 Decretada pelo órgão jurisdicional;
 Em relação a ato praticado com a inobservância das prescrições
legais.

Disso, concluímos que:

I. É SANÇÃO

A nulidade é uma espécie de penalidade aplicada pelo ato não ter sido
perfeito.

II. A NULIDADE PRECISA SER DECRETADA

O conceito refere-se à decretação da nulidade pelo órgão Judiciário,


porque o autor está voltado ao foco do processo penal. No processo disciplinar, a
nulidade pode ser declarada, por provocação ou de ofício, pela autoridade
administrativa.
107

III. NÃO OBSERVÂNCIA DE FORMALIDADE LEGAL

A inobservância de formalidade legal é o pressuposto. Logo, não se


pode falar em nulidade de processo quando não existir violação a uma prescrição
legal.

É de todo prudente que, tanto a autoridade instauradora, quanto a


Processante (Encarregado) e, finalmente, o julgador do processo, tome o máximo de
cuidado para evitar a incursão em atos nulos ou anuláveis, capazes de prejudicar
todo o andamento do serviço, com prejuízo para a instituição e para o Serviço
Público que, afinal, verá o processo ser anulado sem que se possa realizar a
indispensável justiça e a correção das irregularidades.

Como diz bem JOSÉ ARMANDO DA COSTA, "O Estatuto dos


Funcionários Públicos Civis da União não faz qualquer menção ao assunto das
nulidades processuais disciplinares, o mesmo ocorrendo com o Regime Jurídico do
Policial Federal e com a quase totalidade dos Estatutos dos Estados e dos
Municípios", pelo que "deixaram essa questão para ser, naturalmente, deslindada
pela doutrina e pela jurisprudência administrativa e judicial".

Tais nulidades podem ser absolutas ou relativas. As primeiras "são


aquelas que, afrontando o rito de concretização do ato processual, traduzem patente
prejuízo para o acusado, ou trazem, por força de lei ou regulamento, a presunção
jure et de jure35 dessa ofensa. Em razão de tais proeminências, carecem essas
nulidades de demonstração de prejuízo por parte do interessado" Neste ponto há de
se destacar a ausência de direito de defesa, hoje garantia constitucional plena, que
não pode ser, em caso algum, desprezada independentemente do regime jurídico a
que se submeta o servidor, conforme entende o Pretório Máximo.

Na teoria das nulidades processuais, as nulidades são classificadas,


como absolutas e relativas.

15.1. Nulidade Absoluta

35
de direito e por direito
108

a) Interessa ao próprio processo, podendo ser declarada de ofício


pelo juiz/administrador público, em qualquer tempo ou grau de jurisdição,
independente de qualquer provocação das partes;
b) É insanável;
c) Atinge atos imprescindíveis ou estruturais do processo.

A ausência de atos estruturais gera nulidade absoluta e podem e,


devem ser atacados de ofício, em nome da obediência ao princípio da legalidade ao
qual a Administração Pública está vinculada (art. 37, caput, da Constituição Federal).
Os atos acidentais, por outro lado, como já foi visto, são suscetíveis de nulidade
quando provocados pela parte e atendidos outros elementos, como, por exemplo, a
ocorrência de real prejuízo.

As aludidas regras, no que couber, servem de parâmetros, para que se


possa determinar alguns atos tidos como estruturais e acidentais no processo
disciplinar, cuja inexistência ou comissão provocará a nulidade absoluta, ou a
nulidade relativa, observados os princípios do prejuízo, interesse e irrelevância.
Senão vejamos:

 Inexistência de Portaria instaurando o processo disciplinar,


indicando os possíveis ilícitos a serem apurados, ausência de
peça de instrução e acusação (estrutural);
 Citação do acusado não conter especificamente todas as
irregularidades (estrutural);
 Notificação para acompanhar o processo (estrutural);
 Interrogatório (acidental);
 Diligências (eventuais e extemporâneas) – (acidental);
 Diligências (desde que efetivamente desnecessária ao
esclarecimento do fato) – (acidental);
 Defesa (estrutural);
 Decisão administrativa (punindo ou absolvendo) – (estrutural).

Ato inexistente
109

A teoria dos atos inexistentes, vem sendo admitida sem que exista
texto legal específico a positivá-la. Podemos dizer, recolhendo a essência dos
doutrinadores da matéria, como Aubry et Rau e Baudry-Lacantinerie, que atos
inexistentes podem ser considerados os que:

 São inexistentes pela sua própria ausência material;


 Ou pela sua situação no processo.

Os primeiros, obviamente, não existem no plano fático. É a ausência,


por exemplo, da Portaria ou do Despacho de instrução e Indiciação. Já os segundos
existem materialmente, mas não juridicamente. Quer dizer, a falta de elemento
essencial faz com esses atos não sejam considerados no mundo jurídico. Eles
existem no papel, mas a forma como se encontram no processo, não pode confere
existência legal. Assim se encontra a Portaria firmada por autoridade incompetente.

Os autores, em regra, como Aroldo Plínio Gonçalves (Nulidades no


processo, Aide Editora, RJ, 2000, 2ª edição, pág. 75) costumam estabelecer a
diferença entre ato defeituoso, que gera nulidade, com ato inexistente. Aquele tanto
pode ser anulado, tendo os seus efeitos suprimidos, como pode ser considerado
válido, apesar do vício. Já o ato inexistente não terá efeitos suprimidos, porque
nunca os possuiu, e não será nunca considerado válido.

15.2. Nulidade Relativa

a) Interessa somente às partes, não é declarada de ofício;


b) Considera-se sanada se não for argüida no momento oportuno;
c) Considera-se sanada se praticado o ato por outra forma, que
tenha atingido seus efeitos;
d) Atinge os atos prescindíveis ou acidentais.

Uma nulidade relativa é aquela que, mesmo existente, não cause,


necessariamente, prejuízo para as partes. Por isso, "para invalidarem o processo,
requerem tais nulidades que o interessado prove a restrição substancial sofrida em
decorrência delas", uma vez que, por princípio, a despeito do arrepio às
110

formalidades, não causam qualquer arranhão à veracidade dos fatos a que, por lei
ou princípio, buscam os procedimentos disciplinares.

No processo judicial, a nulidade se caracteriza, quando um ato é


considerado ineficaz, por ser atípico, imperfeito ou defeituoso.

O citado autor teve a feliz lembrança de relacionar, com base na


doutrina e na jurisprudência administrativa e judicial, as nulidades absolutas, as que
agridem frontalmente a veracidade dos fatos e afrontam o direito de defesa do
acusado num rol que não considera exaustivo e é o seguinte:

I - Vícios de competência:

 Instauração do processo por autoridade hierárquica totalmente


incompetente;
 Incompetência funcional dos membros da comissão de
processo;
 Incompetência da autoridade julgadora;

II - Vícios relacionados com a composição da comissão:

 Comissão composta por membros ocupantes de função de


confiança demissível ―ad nutum36”;
 Comissão integrada por servidores instáveis;
 Comissão composta por servidores que sejam notória e
declaradamente inimigos do funcionário imputado;

III - Vícios relativos à citação do acusado:

 Falta de citação;
 Citação encaminhada para endereço diverso do que consta dos
autos do processo;
 Citação por edital do acusado que se encontre preso;

36
livre nomeação e exoneração
111

 Citação por edital do acusado que tinha endereço certo;


 Citação por edital do acusado que esteja asilado em país
estrangeiro;
 Citação por edital do acusado que esteja internado em
estabelecimento hospitalar para tratamento de saúde;
 Citação feita, de pronto, por edital, quando inexiste nos autos do
processo qualquer indicação que traduza o empenho da
localização do acusado ;

IV - Vícios relacionados diretamente com o direito de defesa do acusado:

 Ausência de alegações escritas de defesa;


 Inexistência de notificação ao servidor acusado para
acompanhar os atos apuratórios do processo, notadamente a
audição de testemunhas, que poderão ser inquiridas ou
reinquiridas pelo acusado;
 Indeferimento de certidão, sobre aspecto relevante, por parte da
Administração interessada no processo;
 Negação de vista dos autos do processo ao servidor acusado;
 Negação de vista dos autos do processo, fora da repartição, ao
advogado legalmente constituído defensor do indiciado, desde
que não se trate de processo com vários acusados ;
 Juntada de elementos comprobatórios aos autos do processo,
depois de haver o indiciado apresentado a sua defesa escrita
final, a menos que tais peças em nada influam sobre a verdade
dos fatos que agravem a situação daquele;

V - Vícios pertinentes à negativa de realização de diligências essenciais


ao direito de defesa:

 Indeferimento de perícias técnicas solicitadas pelo acusado;


 Não audição de testemunhas que foram arroladas pelo servidor
acusado;
112

 Negativa de outras diligências, tais como acareações,


reconhecimento de pessoas ou coisas, etc.;

VI - Vícios relacionados com o julgamento do processo:

 Julgamento estruturado com base em fatos ou alegativas


inexistentes na explanação sucinta da peça instrutória do
processo;
 Julgamento feito de modo frontalmente contrário às provas
existentes no processo;
 Julgamento discordante das conclusões factuais da comissão
e/ou encarregado do processo, quando as provas dos autos não
autorizem tal discrepância;
 Julgamento feito por autoridade administrativa que se tenha
revelado, em qualquer circunstância do cotidiano, como inimiga
figadal do servidor acusado;
 Falta de indicação, na portaria punitiva da autoridade julgadora,
do fato ensejador da sanção disciplinar;
 Falta de capitulação da transgressão, em tese, atribuída ao
acusado.

Continua o citado JOSÉ ARMANDO DA COSTA37 elencando, agora,


as nulidades relativas que, para ele, são as seguintes:

 Suspeição da autoridade instauradora do processo;


 Suspeição dos membros da comissão de disciplina;
 Suspeição da autoridade julgadora, quando não seja a mesma
que instaurou o processo;
 Existência originária ou superveniente de impedimentos
funcionais em desfavor de algum dos membros da comissão do
processo disciplinar;

37
COSTA, José Armando da. Teoria e Prática do Processo Administrativo Disciplinar. 3. ed. Brasília:
Brasília Jurídica, 1999.
113

 Desenvolvimento dos trabalhos apuratórios da comissão em


constante subordinação à autoridade instauradora, revelando a
prática de um trabalho teleguiado;
 Exclusão de algumas das testemunhas arroladas pelo servidor
acusado;
 Elaboração de diligência de reconhecimento por meio de
fotografia, quando inexista impossibilidade de tal diligência ser
efetivada de forma direta, com a presença da pessoa ou coisa
suspeitas.

Na classificação de nulidades processuais apresentadas por Sebastião


José Lessa, na sua obra Processo Administrativo Disciplinar e da Sindicância, existe
no processo judicial penal, atos considerados imprescindíveis ou estruturais e
atos considerados prescindíveis ou acidentais.

Os atos praticados no processo tidos como imprescindíveis ou


estruturais quando ausentes, ou quando contaminados de vício insanável,
acarretam a nulidade Absoluta. Por sua vez, os atos classificados como
prescindíveis ou acidentais, quando viciados, provoca a nulidade relativa,
devendo nesta hipótese ser observados os princípios do prejuízo, interesse e
irrelevância.

Na nulidade do ato estrutural, é necessário distinguir a inexistência


material do ato, da mera deficiência, ou seja, por exemplo, à inexistência da peça de
defesa (nulidade absoluta) e a sua deficiência (nulidade relativa).

Portanto, a inexistência material do ato estrutural acarreta nulidade


absoluta, independentemente de se cogitar do efetivo prejuízo. Já deficiência desse
mesmo ato estrutural poderá ou não acarretar a nulidade, dependendo da
demonstração do dano acarretado ao interessado.

No que diz respeito ao ato acidental, independentemente da


inexistência ou deficiência, dependerá sempre da prova de efetivo prejuízo ao
interessado para decretação da nulidade.
114

15.3. Atos nulos e anuláveis

Ato nulo é o que não produz efeito até que seja convalidado. O ato
anulável é aquele que produz efeitos até que seja invalidado.

Uma Portaria sem as formalidades essenciais é nula. Logo, todos os


atos praticados pela comissão processante (encarregado) estão fulminados pela
ilegalidade, enquanto a causa ensejadora da nulidade não for corrigida. Anulável
será o compromisso do cônjuge do servidor acusado, que, em vez de declarações,
foi compromissado e compelido a prestar depoimento.

Neste sentido, temos o principio da auto tutela Administrativa, que foi


sumulado pelo STF, através da Súmula nº 473, que diz:

A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados


de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos;
ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial

15.4. Nulidade do ato e nulidade do processo

O Código de Processo Penal em seu artigo 573 estabelece que a


nulidade de um ato causará a nulidade dos atos subseqüentes que daquele tiveram
dependência. Nesse efeito em cadeia, podemos ter a nulidade de todo o processo.
Assim será, por exemplo, quando a comissão for composta por servidores que não
atendam os requisitos legais. Todos os atos por eles praticados estão atingidos pela
situação ilegal.
Em outro plano estará o ato em si, atacado de pronto e, a tempo,
sanado. É o caso da citação feita por edital sem que fossem verificados os
pressupostos. Nenhuma diligência foi procedida; a comissão não procurou
elementos que atestassem que o servidor se encontrava, com efeito, em lugar
incerto e não sabido. Dessa forma citado, o servidor não acostou defesa e restou
declarado revel. Observada a tempo a impropriedade, o ato de revelia foi tornado
sem efeito e nova citação foi procedida, atendendo as cautelas legais. Não há, aqui,
que se falar em nulidade do processo.
115

16 - PRESCRIÇÃO

A prescrição na esfera disciplinar pode ser assim definida como a


extinção do direito de punir que a lei impõe à autoridade administrativa, no
caso de não usar ela, no momento adequado e durante certo lapso de tempo
(Romeu F. Bacellar Filho38)

16.1 . Prescrição como matéria de Ordem Pública

 Deve ser reconhecida pela Administração Pública a qualquer tempo;


 Prescrição é preliminar de mérito, portanto dispensa exame do mérito.

16.2. Prescrições para cada Espécie de Processo Administrativas Disciplinares


Militar.

I - Sindicância (Inves./Acus./Demissória) e Termo Acusatório

Art. 23. É de 5 (cinco) anos, computados da data em que foram


praticados, a prescrição dos casos previstos nesta portaria.
Parágrafo único. Os casos também previstos no Código Penal Militar
como crimes, prescrevem nos prazos nele estabelecidos.

Obs. Nos processos de Termo Acusatório, usa os mesmos prazos


prescricionais do Manual de Sindicância

II - Conselho de Disciplina (LEI Nº 3.800 DE 19 DE OUT. DE 76 , com as


alterações da Lei nº 7227/99)

Art. 17 - É de 6 (seis) anos, computados da data em que forem


praticados, a prescrição dos casos previstos nesta lei.
Parágrafo Único - Os casos, também previstos no Código Penal Militar
como crimes, prescrevem nos prazos nele estabelecidos.

38
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2004.
116

III - Conselho de justificação (LEI Nº 3.993 DE 26 DE JUNHO DE 1978

Art. 18 - É de 6 (seis) anos, computados da data em que foram


praticados, a prescrição dos casos previstos nesta lei.

Conforme entendimento da jurisprudência, é prudente afirmar que


qualquer peça acusatória no transcorrer de qualquer espécie de processo
administrativo militar, interrompe o prazo prescricional,

HABEAS CORPUS – PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR –


POLICIAL MILITAR – CRIME DE TORTURA COM RESULTADO MORTE –
– SANÇÃO DISCIPLINAR – DISCUSSÃO QUE SE LIMITA AO EXAME
DOS PRESSUPOSTOS DE LEGALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO –
CABIMENTO – ALEGADA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE – PRESCRIÇÃO
– NÃO OCORRÊNCIA – INTELIGÊNCIA DO ART. 169, § 3º, DA LEI
COMPLEMENTAR N. 4/90 – INFRAÇÃO DISCIPLINAR QUE CONFIGURA
CRIME – PRAZO PRESCRICIONAL ESTABELECIDO NO ART. 109 DO CP
– ORDEM DENEGADA. Não há falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF,
se o o writ impetrado contra punição disciplinar de militar volta-se contra os
pressupostos de sua legalidade, excluindo a apreciação de questões
referentes ao mérito. A instauração da sindicância acusatória,
submetida ao contraditório, interrompe a prescrição até a decisão final
da autoridade competente, nos termos do artigo 169, § 3º, da Lei
Complementar do Estado de Mato Grosso nº 4, de 15 de outubro de
1990, aplicado na ausência de previsão específica na Lei nº 3.800, de
19 de outubro de 1976. Quando a infração que dá ensejo à instauração do
processo disciplinar também é capitulada como crime, o prazo prescricional
para apuração administrativa será o mesmo estabelecido no art. 109 do CP,
para apuração da infração penal.

(HC 45619/2016, DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, TURMA DE


CÂMARAS CRIMINAIS REUNIDAS, Julgado em 07/07/2016, Publicado no
DJE 12/07/2016)

MANDADO DE SEGURANÇA — EXCLUSÃO DE MILITAR A BEM DA


DISCIPLINA — PRESCRIÇÃO — NÃO OCORRÊNCIA — INSTAURAÇÃO
DO CONSELHO DE DISCIPLINA — INTERRUPÇÃO DO PRAZO
PRESCRICIONAL — LEI COMPLEMENTAR Nº 4, DE 15 DE OUTUBRO
DE 1990 — APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA — DIREITO LÍQUIDO E CERTO —
INEXISTÊNCIA. A instauração de processo administrativo disciplinar
interrompe a prescrição até a decisão final da autoridade competente,
nos termos do artigo 169, § 3º, da Lei Complementar do Estado de
Mato Grosso nº 4, de 15 de outubro de 1990, que, na ausência de
previsão específica na Lei nº 3.800, de 19 de outubro de 1976, que
“dispõe, na Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, sobre o
Conselho de Disciplina”, ou no Estatuto dos Militares do Estado de
Mato Grosso (Lei Complementar nº 231, de 15 de dezembro de 2005),
se aplica em caráter subsidiário, já que contém disposições gerais a
respeito de processo administrativo disciplinar. Dessa forma, uma vez
que entre a data da instauração do Conselho de Disciplina e da decisão
117

final proferida pela autoridade não transcorreu lapso suficiente a determinar


a prescrição da pretensão punitiva administrativa, não há direito líquido e
certo a ser amparado em sede de mandado de segurança. Segurança
indeferida.

(MS 139792/2014, DES. LUIZ CARLOS DA COSTA, TURMA DE


CÂMARAS CÍVEIS REUNIDAS DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO,
Julgado em 06/08/2015, Publicado no DJE 18/08/2015)

Conforme jurisprudência, os casos também previstos como crime,


prescrevem no prazo estabelecido pelo respectivo código penal, ou Código Penal
Militar.

MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL - SERVIDOR PÚBLICO -


POLICIAL MILITAR - PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR -
AVOCAÇÃO DOS AUTOS DO CONSELHO DE DISCIPLINA PELO
COMANDANTE GERAL DA PMMT E EXCLUSÃO DO POLICIAL MILITAR,
A BEM DA DISCIPLINA, DAS FILEIRAS DA CORPORAÇÃO MILITAR -
ILEGALIDADE - INEXISTÊNCIA - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA DISCIPLINAR - INOCORRÊNCIA - EXCLUSÃO DO POLICIAL
MILITAR, A BEM DA DISCIPLINA, DAS FILEIRAS DA PMMT - CONDUTA
INFRACIONAL ADMINISTRATIVA DE NATUREZA GRAVE -
DESPROPORCIONALIDADE OU IRRAZOABILIDADE - INOCORRÊNCIA -
ORDEM DENEGADA. 1. Conforme inteligência do art. 13 da Lei n°
3.800/76, não é ilegal a avocação dos autos do Conselho de Disciplina pelo
Comandante Geral da Polícia Militar que, discordando do relatório elaborado
pelos membros daquele, pode, em decisão fundamentada, excluir o policial
militar, a bem da disciplina, se entender que este não reúne mais condições
de permanecer nas fileiras da corporação militar. 2. Quando a infração que
dá ensejo à instauração do processo administrativo disciplinar
também é capitulada como crime, o prazo prescricional para apuração
administrativa será o mesmo estabelecido para apuração da infração
penal; logo, se não transcorrido a prescrição prevista na legislação
penal, não há falar-se na ocorrência da prescrição punitiva disciplinar.
3. Não é desproporcional ou irrazoável a sanção disciplinar de exclusão do
policial militar, a bem da disciplina, das fileiras da corporação castrense se
este praticou conduta infracional administrativa de natureza grave. 4. Ordem
denegada.

(MS 33998/2008, DES. JOSÉ FERREIRA LEITE, SEGUNDA TURMA DE


CÂMARAS CÍVEIS REUNIDAS DE DIREITO PRIVADO, Julgado em
19/05/2009, Publicado no DJE 27/05/2009)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, Jorge César de. Curso de Direito Disciplinar Militar: Da Simples


Transgressão ao Processo Administrativo. Curitiba: Juruá, 2008, p. 36.

_________, Jorge César de. Curso de Direito Disciplinar Militar. Curitiba: Juruá,
2008, p. 147.
118

AVENA. Norberto. Processo Penal Esquematizado. 5ª ed. Método, RS, 2012, p.


569.

BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Direito administrativo. São Paulo: Saraiva,


2004;

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 13ª. ed.


São Paulo: Malheiros, pp. 383-385, 2001.

__________, Celso Antonio. Curso de Direito Administrativo. 23ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2007.

__________, Celso Antonio. Curso de Direito Administrativo. 31. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014.

BARROS JUNIOR, Carlos Shimidt de. Do Poder Disciplinar da Administração


pública. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1963, p. 158.

BRASIL, Constituição federal, código civil, comercial, de processo civil, penal, de


processo penal, de processo penal militar, tributário, estatuto da OAB, CTN
legislação complementar, súmulas, índices. Darlan Barroso e Marco Antonio Araujo
Junior. 8º ed. Revista, ampliada e atualizada até 05.02.2016. São Paulo: Revista dos
Tribunais LTDA, 2016, (Vade Mecum Forense).

BRASILEIRO LIMA. Renato. Processo Penal Militar. 2º ed- vol I, Impetus, Rio de
Janeiro, 2012, p. 985.

_________. Renato. Processo Penal Militar. 2º ed- vol I, Impetus, Rio de Janeiro,
2012, p. 1001.

COMANDO GERAL DA PMMT. Portaria nº 128/GCG/PMMT/09, de 01 de junho de


2009 (Padronização dos atos disciplinares). Portaria nº 159/GCG/PMMT/09, de
27 de julho de 2009 (Termo Acusatório). Portaria nº 160/GCG/PMMT/09, de 27 de
julho de 2009 (Sindicância Disciplinar). (portaria nº 218/GCG/PMMT/09, de 16 de
outubro de 2009, que dispõe sobre a aprovação do Manual de Sindicância Policial
Militar. Resolução nº 016/PM-1/EMG/PMMT de 27 de junho de 1994 (Instrução de
CD e CJ).

CORREGEDORIA GERAL DA PMMT – Instrução Normativa nº


07/CorregPM/2013, Publicada no BGE nº 792, de 20 de Junho de 2013, Cuiabá-MT.

CRETELLA JUNIOR, José. Curso de direito administrativo; BACELLAR FILHO,


Romeu. Felipe. Princípio constitucional da eficiência administrativa Leitura e
construção real: o lugar da poesia e da ficção. 1º.ed. Porto Alegre: Artmed, 1993,
p. 91.

CARVALHO FILHO, Jose dos Santos Manual de Direito Administrativo. Rio de


Janeiro: Lúmen Júris, pp. 788, 2005.

___________, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27º, ed, São
Paulo: Atlas, 2014.
119

___________, José dos Santos , Manual de Direito Administrativo, 30º Ed. São
Paulo, Atlas, 2016, p. 124.

CAMARGO ARANHA, Adalberto José. Da prova no processo penal. 7º ed.,


Saraiva,São Paulo, 2006, p. 164-165.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20º ed. São Paulo: Atlas,
2007, cit p 332.

_________, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27ª ed. São Paulo: Atlas,
2014.

ESPÍNOLA FILHO, Eduardo. Código de Processo Penal anotado, 2008, cit., v6,
p.10.

FERREIRA, Eliezer Pinto. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva,


1998.

FILHO, Tourinho. Processo Penal, Ed. saraiva, SP, 1990, vol. II pág. 117.

GASPARINI, diógenes. Direito Administrativo. 8ª Edição Editora Saraiva. 2003.

GONÇALVES, Aroldo Plínio. Nulidades no processo, Aide Editora, RJ, 2000, 2ª


edição, pág. 75

MATO GROSSO. Constituição do Estado de Mato Grosso. Disponível em:


https://www.al.mt.gov.br/arquivos/legislacao/constituicao_estadual.pdf. Acessado em
30.11.2017.

________. Decreto nº. 1.329 de 21 de abril de 1978 – Regulamento Disciplinar da


PMMT. Disponível em: http://cabosesoldadosmt.com.br/site/wp-
content/uploads/2016/08/Decreto-1.329-Regulamento-Disciplinar-da-PMMT-e-
CBMMT.pdfComplementar%20231%20-%20Estatuto% 20dos%20Militares. pdf.
Acessado em 30.11.2017.

________. Lei Complementar nº. 555 de 29.12.2014. Estatuto dos Militares de


Mato Grosso. Disponível em: http://www.pm.mt.gov.br/-/7711459-lei-complementar-
n-555-de-29-de-dezembro-de-2014. Acessado em 30.11.2017.

________; CONSELHO DE DISCIPLINA Lei nº. 3.800 de 19 de Outubro de 1.976,


pg 01,

________;CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO, Lei nº 3.993 de 26 de Junho de 1.978,


pg 01.

_________LEI N° 7.692, de 1º de Julho de 2002. Regula o processo administrativo


no âmbito da Administração Pública Estadual.
120

MEIRELLES hely lopes - Direito Administrativo Brasileiro, 14ª edição, Ed.


Malheiros, SP. pg 140, 1989.

__________, Hely Lopes.Direito Administrativo Brasileiro, 17ª Ed. Editora


Malheiros p. 135, 1992.

__________, Hely Lopes.Direito Administrativo Brasileiro; 18ª Ed; Malheiros;


SP/SP; cit Pg 594,1993.

__________, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 19ª ed. Ed. Malheiros,
São Paulo, 1994, pg 84.

__________, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 23ª ed., São Paulo:
Malheiros, pg 105, 1998.

__________, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª ed., São Paulo:
Malheiros, 2007.

__________, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 40ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2014.

MENEZES LIMA. J.b. de. Sindicância & verdade sabida: teoria, legislação,
jurisprudência, prática. Imprenta: São Paulo, Saraiva, 1994.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal - Parte Geral, arts. 1º a 120 do
CP. Vol. 1. 19 ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 2. ed. rev. e atual. São Paulo:
RT, pg 204,1998.

MARTINS, Eliezer Pereira. Direito administrativo disciplinar militar e sua


processualidade: doutrina, prática, legislação: São Paulo, Led, 1996, p124.

NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos.


São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 171.1990.

PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA, o Decreto nº 678, art. 8°, nº 2, alínea h,
1992.

ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Direito Administrativo Disciplinar Militar - Teoria


e Pratica. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20ª ed., São
Paulo: Malheiros, 2002

Você também pode gostar