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SEMANA 04

PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 7
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE III ................................................................................................. 7
1. ILICITUDE ....................................................................................................................................................... 7
1.1 Terminologias ........................................................................................................................................................... 8
1.2 Relação entre a Tipicidade e a Ilicitude .................................................................................................................... 8
1.3. Causas de Exclusão da Ilicitude ............................................................................................................................. 10
1.3.1. Causas Legais de Exclusão da Ilicitude ............................................................................................................ 11
1.3.2. Causas Supralegais de Exclusão da Ilicitude ................................................................................................... 29
1.4. Excesso na Justificante .......................................................................................................................................... 30
1.5. Excludente de Ilicitude e Indenização no Cível...................................................................................................... 31
2. CULPABILIDADE ........................................................................................................................................... 32
2.3. Funções da Culpabilidade ...................................................................................................................................... 34
2.2. Elementos da Culpabilidade .................................................................................................................................. 34
2.1.1. Imputabilidade ................................................................................................................................................ 36
2.1.2. Potencial Consciência de Ilicitude................................................................................................................... 39
2.1.3. Exigibilidade de Conduta Diversa.................................................................................................................... 40
3. TEORIA DO ERRO ......................................................................................................................................... 43
3.1. Erro de Tipo (art. 20, CP) ....................................................................................................................................... 44
3.2. Erro de Proibição ................................................................................................................................................... 50
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................... 56
META 2 ............................................................................................................................................................ 65
DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE I).......................................................... 65
1. MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS................................................................................................ 67
1.1 Autotutela .............................................................................................................................................................. 68
1.2 Autocomposição ..................................................................................................................................................... 68
1.3 Jurisdição ................................................................................................................................................................ 68
2. COMPETÊNCIA ............................................................................................................................................. 70
2.1 Critérios de fixação da competência ...................................................................................................................... 71
2.2 Competência Absoluta x Competência Relativa ..................................................................................................... 72
2.3 Regras de fixação de competência ......................................................................................................................... 74
3. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO (JMU) E DOS ESTADOS (JME) ......................... 74
4. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL ......................................................................................... 82
4.1 Crimes Políticos ...................................................................................................................................................... 84
4.2 Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da união ou de suas entidades
autárquicas ou empresa pública .................................................................................................................................. 85
4.3 Crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o resultado tenha
ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente ...................................................................................... 94
4.3.1 As causas relativas a Direitos Humanos a que se refere o § 5º deste artigo .............................................. 95
4.4 Crimes contra a Organização do Trabalho ...................................................................................................... 96
4.5 Crimes contra o Sistema Financeiro e a Ordem Econômico-Financeira................................................................. 97
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4.6 Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves ................................................................................................. 98


4.7 Crimes relativos à disputa sobre direitos indígenas ............................................................................................... 99
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 101
META 3 .......................................................................................................................................................... 106
DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE II)....................................................... 106
5. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ESTADUAL .................................................................................... 106
6. COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (RATIONE PERSONAE/RATIONE FUNCIONAE) ............ 107
6.1 Reflexos da nova decisão do STF acerca da investigação criminal ....................................................................... 115
6.2 Crimes Dolosos Contra Vida X Foro por Prerrogativa de Função ......................................................................... 118
6.3 Concurso de Agentes e Foro por Prerrogativa ..................................................................................................... 119
7. COMPETÊNCIA TERRITORIAL ..................................................................................................................... 119
7.1 Regras de competência específicas para algumas espécies de crimes: ............................................................... 120
7.2 Competência territorial com base no domicílio do acusado: ............................................................................... 130
7.3 Competência em Razão da Matéria ou Natureza da Infração.............................................................................. 131
7.4 Competência por Distribuição .............................................................................................................................. 136
7.5 Competência por Conexão ou Continência .......................................................................................................... 136
7.6 Regras na determinação da competência ............................................................................................................ 137
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 145
META 4 .......................................................................................................................................................... 150
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I) .......................................................... 150
1. HABEAS CORPUS ........................................................................................................................................ 151
2. MANDADO DE SEGURANÇA ...................................................................................................................... 164
3. MANDADO DE INJUNÇÃO .......................................................................................................................... 188
4. HABEAS DATA ............................................................................................................................................ 200
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 205
META 5 .......................................................................................................................................................... 209
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE II) ......................................................... 209
5. AÇÃO POPULAR (LEI Nº 4.717/65) ............................................................................................................. 209
6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI 7.347/85) .......................................................................................................... 216
7. INQUÉRITO CIVIL........................................................................................................................................ 228
8. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC)........................................................................................ 230
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 233
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS ......................................................................................... 236
1. DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................................................................. 236
1.1 Direitos Políticos Positivos.................................................................................................................................... 237
1.2 Direitos Eleitorais Negativos ................................................................................................................................ 239
Ementa Oficial ............................................................................................................................................................ 240
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1.3 Privação de Direitos Políticos ............................................................................................................................... 241


1.4. Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo: De Acordo com o Art. 38 da CF/88 ....................................... 242
2. PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................................................................. 243
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 247
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE ......................................................................... 255
1. NACIONALIDADE ........................................................................................................................................ 255
1.1 Espécies de Nacionalidade ................................................................................................................................... 255
1.2 Perda de Nacionalidade ....................................................................................................................................... 256
1.3 Brasileiros Natos X Naturalizados ......................................................................................................................... 257
1.4 Perda da Nacionalidade........................................................................................................................................ 258
QUESTÕES PROPOSTAS ................................................................................................................................. 261
META 6 – REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 268
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE III ............................................................................................. 268
DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE I)........................................................ 269
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I) .......................................................... 272
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS ......................................................................................... 274
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE ......................................................................... 275
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SEMANA 04/18

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 04


META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PENAL: Teoria do Crime – Parte III
2 TER DIREITO PROCESSUAL PENAL: Jurisdição e Competência (Parte I)
3 QUA DIREITO PROCESSUAL PENAL: Jurisdição e Competência (Parte II)
4 QUI DIREITO CONSTITUCIONAL: Remédios Constitucionais (Parte I)
DIREITO CONSTITUCIONAL: Remédios Constitucionais (Parte II)
5 SEX DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos Políticos
DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos da Nacionalidade
6 SÁB REVISÃO SEMANAL

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SEMANA 04/18

META 1

DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE III

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CP:
⦁ Art. 20 a 25
⦁ Art. 26 a 28
⦁ Art. 65
⦁ Art. 73 e 74
⦁ Art. 163
⦁ Art. 213
⦁ Art. 228

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Art. 37, Lei 9605/98
⦁ Art. 45 e 46, Lei de Drogas

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

CP:
⦁ Art. 20 e 21 (importantíssimos!)
⦁ Art. 25, §único (introduzido pelo Pacote Anticrime)
⦁ Art. 26
⦁ Art. 28, II e §1º
⦁ Art. 73 e 74 (importantíssimos!)

1. ILICITUDE

É o segundo substrato do conceito analítico de crime, e consiste na relação de contrariedade entre


o fato típico praticado por alguém e o ordenamento jurídico. Este é o conceito conferido segundo a
finalismo.
Para Fernando Capez, é a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual ação ou
omissão típicas tornam-se ilícitas.
Ex.: Embora a conduta do oficial de justiça quando apreende determinado bem contra a vontade do
dono em razão de mandado judicial consista em subtrair coisa alheia móvel, o que seria um fato típico, sua
conduta não é contrária ao ordenamento jurídico por estar abarcada pelo estrito cumprimento do dever
legal, causa excludente de ilicitude, de modo que não haverá crime.
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É possível dividir a ilicitude em:


● Ilicitude formal: É a mera contradição entre o fato e o direito. A ilicitude é analisada diante de todo
o ordenamento jurídico, não somente no âmbito penal.
● Ilicitude material (substancial): É o conteúdo material do fato, ou seja, a violação de valores
necessários para a manutenção da paz social. A contrariedade do fato em relação ao sentimento
comum de justiça (injusto). É esse viés que permite a criação de causas supralegais de exclusão da
ilicitude.
Segundo Mirabete a ilicitude consiste na lesão de determinado interesse vital aferido perante as
normas de cultura reconhecidas pelo Estado. A ilicitude material se fundamenta em valores sociais, morais e
políticos, sem um conceito específico, constituindo-se em ofensa às normas de cultura reconhecidas e aceitas
pelo Estado, um comportamento antissocial.

1.1 Terminologias

a) Antijuridicidade x Ilicitude
Alguns doutrinadores utilizam o termo ANTIJURIDICIDADE como sinônimo de ilicitude (ou até em sua
preferência). Contudo, segundo Francisco Assis de Toledo o termo é tecnicamente incorreto, vez que o crime
é, na verdade, um fato jurídico.
Fato jurídico pode ser natural ou voluntário. Os voluntários se dividem em lícito e ilícito. Dentre os
ilícitos, temos os ilícitos penais, que se dividem em crime ou contravenção.
Portanto, melhor utilizar ILICITUDE, que foi o termo adotado pelo CP.

b) Injusto x Ilicitude
A ilicitude e a tipicidade formam o INJUSTO. Dessa forma, ilicitude é uma parte do injusto. Mirabete
ensina que o injusto é a ação valorada como antijurídica.

c) Justificantes x Exculpantes
A JUSTIFICANTE corresponde a uma circunstância, legal ou supralegal, que exclui a ilicitude. Pode ser
denominada ainda de excludentes da ilicitude, excludentes da criminalidade, causas justificativas, eximentes
ou descriminantes.
Por sua vez, a EXCULPANTE trata da hipótese, legal ou supralegal, de exclusão da culpabilidade.
Também é conhecida como causa dirimentes, de exculpação, de inculpabilidade.

1.2 Relação entre a Tipicidade e a Ilicitude

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a) Teoria da Absoluta Independência do Tipo / do Tipo Avalorado / Tipo Meramente Descritivo (Von Liszt
e Beling): o fato típico NÃO possui qualquer relação com a ilicitude.
● O tipo é a mera descrição objetiva do fato em lei (tipo penal acromático).
● Acaso a ilicitude deixe de existir, a tipicidade permanece.
● Para André Stefan (Direito Penal. Vol.1), trata-se de elemento valorativamente neutro.
● Sua concepção NÃO admitia o reconhecimento de elementos normativos ou subjetivos do tipo.

b) Teoria Indiciária do Tipo / da Ratio Cognoscendi (Max Ernst Mayer): O fato típico é presumidamente
ilícito, é um indício da ilicitude.
● A tipicidade deixa de ter função meramente descritiva, vindo a representar um indício da
antijuridicidade.
● Praticando-se um fato típico, ele se presume ilícito. Essa presunção é relativa, pois admite prova em
contrário, podendo ser afastada por uma excludente de ilicitude.
● A tipicidade NÃO é valorativamente neutra ou descritiva, de modo que se torna cabível o
reconhecimento de elementos normativos e subjetivos do tipo penal.

Essa teoria acarreta a inversão do ônus da prova no tocante às excludentes da ilicitude. Assim, para a
acusação, basta provar que o fato é típico, cabendo à defesa alegar e provar as excludentes.
Atenção! A adequação do fato típico e ilícito ocorrem de forma provisória até que possa ocorrer a
apresentação de uma excludente de ilicitude.
→ Teoria majoritária e adotada pelo CP.

Aprofundando para uma prova discursiva / oral:

A doutrina garantista critica essa inversão do ônus da prova. Segundo Aury Lopes Jr, não se pode ter uma
presunção contrária ao réu em razão do princípio da presunção de inocência, de modo que cabe à acusação
demonstrar, não só o fato típico, mas a própria existência do crime. Ou seja: cabe à acusação demonstrar
fato típico, ilicitude e culpabilidade.

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c) Teoria da Absoluta Dependência / da Ratio Essendi / da Identidade (Edmundo Mezger): O fato típico e
ilícito seria um só elemento. A tipicidade não é só indício, é a essência da ilicitude, de modo que todo fato
típico NECESSARIAMENTE é ilícito.
● Origina-se, aqui, o “injusto penal”, que é o fato típico + ilícito, analisados em uma única ocasião.
● O tipo possui função constitutiva da ilicitude, de tal forma que se o fato for lícito, será atípico.
● A ilicitude faz parte da tipicidade, ou seja, é a fusão entre os dois substratos.

Ex.: O tipo penal do homicídio não seria matar alguém, mas matar alguém fora das hipóteses de legítima
defesa, estado de necessidade etc.

d) Teoria dos Elementos Negativos do Tipo: O tipo penal é composto por elementos positivos e elementos
negativos. Os positivos são explícitos (tipo penal), enquanto os elementos negativos estão implícitos (causas
excludentes de ilicitude). Para que o comportamento do agente seja típico, não podem estar configurados
os elementos negativos.
● Face positiva: é chamada de tipicidade provisória (o que nós conhecemos como tipicidade).
● Face negativa: é a ausência dos elementos negativos do tipo (o que nós conhecemos como causas
excludentes da ilicitude).
Há aqui uma absoluta relação de dependência entre o fato típico e a ilicitude, pois, para que seja típico,
não pode ser lícito, ou seja, deve também ser ilícito. Ex.: “matar alguém” = elemento positivo. No entanto,
matar alguém só será crime se o agente não estiver amparado em uma excludente da ilicitude, pois, caso
estivesse, incidiria um elemento negativo do tipo.

Como dito, no Brasil adota-se a teoria indiciária, porém, mitigada a partir da reforma de 2008, em
razão de dispositivos que privilegiam o “in dubio pro reo”, uma vez que, mesmo a defesa não provando
cabalmente a excludente, em caso de dúvida, deve o magistrado decidir em favor do réu.

1.3. Causas de Exclusão da Ilicitude

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1.3.1. Causas Legais de Exclusão da Ilicitude

a) Parte Geral do CP:


→ Estado de necessidade
→ Legítima defesa
→ Estrito cumprimento de dever legal
→ Exercício regular do direito

Art. 23, CP - Não há crime quando o agente pratica o fato:


I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

b) Parte Especial do CP:


Exemplos:
→ Art. 128, I, CP
→ Art. 146, §3º, I e II, CP

c) Legislação Especial:
Exemplos:
→ Art. 303, Lei 7.565/86

1. ESTADO DE NECESSIDADE (art. 24, CP)

Art. 24, CP - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar
de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar
o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá
ser reduzida de um a dois terços.

a) Conceito:
É a prática de um fato típico, sacrificando bem jurídico, para salvar de perigo atual direito próprio ou
alheio cujo sacrifício não era razoável exigir-se nessas circunstâncias.
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Se há dois bens em perigo de lesão, o estado permite que seja sacrificado um deles, pois, diante do
caso concreto, a tutela penal não pode salvaguardar a ambos. Nesse caso, há sopesamento de bens diante
de uma situação adversa.
Ex. (Fernando Capez): Um pedestre joga-se na frente de um motorista, que, para preservar a vida
humana, opta por desviar do seu veículo e colidir com outro que se encontrava estacionado nas
proximidades. Entre sacrificar uma vida e um bem material, o agente fez a opção claramente mais razoável.
Não pratica crime de dano, pois o fato embora típico, não é ilícito.

b) Requisitos:

(1) SITUAÇÃO DE PERIGO ATUAL:

Perigo atual.
→ Pode advir da natureza, do homem, de comportamento animal.
→ Possui destinatário indeterminado.
→ Há discussão se perigo iminente também poderia ser englobado aqui.
Masson diz que sim, valendo-se de analogia in bonan partem do art. 25. Sanches sustenta que não,
haja vista o silêncio eloquente do legislador.
Se a questão pedir conforme letra de lei, atual ou iminente é só na legítima defesa, sendo que estado
de necessidade é atual.
→ Para determinar se há uma situação de perigo ou não, leva-se em consideração uma pessoa do
mesmo círculo social do autor (observador inteligente), sendo que os conhecimentos e informações
dessa pessoa devem ser agregados ao juízo de um especialista em perigo.

Quanto à existência do perigo, a doutrina classifica o estado de necessidade em:


a) Estado de necessidade real: a situação de perigo existe efetivamente (exclui a ilicitude);
b) Estado de necessidade putativo: a situação de perigo não existe, é imaginária (não exclui a ilicitude).
Se o perigo não existe (é imaginário), o agente está diante de uma discriminante putativa (estado
de necessidade putativo). Isso é importante porque o estado de necessidade putativo não exclui
ilicitude.

(2) PERIGO NÃO CAUSADO VOLUNTARIAMENTE PELO AGENTE

O provocador do perigo NÃO pode beneficiar-se da excludente, salvo no caso em que tenha gerado
involuntariamente. Em outras palavras, aquele que por sua vontade produz o perigo não poderá agir em
estado de necessidade.
Há divergência no que tange a voluntariedade da provocação do perigo:

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1ª posição (Damásio): Somente o perigo causado dolosamente impede que seu autor alegue o estado
de necessidade.
2ª posição (Frederico Marques, Mirabete, Masson): Não apenas o perigo doloso, mas também o
provocado por culpa impede a alegação do estado de necessidade, uma vez que a conduta culposa
também é voluntária em sua origem.

(3) INEVITABILIDADE DO DANO

“Que não podia, de outro modo, evitar”


A inevitabilidade do dano é inerente ao estado de necessidade. Ou seja: o agente não tem como
evitar o dano sem que pratique a conduta abrangida pelo estado de necessidade.

ATENÇÃO: Para que essa conduta esteja amparada pelo estado de necessidade, o indivíduo tem que,
necessariamente, escolher a opção menos danosa, sob pena que agir em excesso. Ocorre que, normalmente,
a opção menos danosa é simplesmente a FUGA do perigo, justamente para evitar a lesão a outro bem jurídico
legítimo.

Isso porque, no estado de necessidade, há a exigência do commodus discessus (saída mais cômoda;
saída mais fácil, fuga).
→ No estado de necessidade, o objetivo é a eliminação da situação de perigo, e não a necessária
afirmação da prevalência do meu direito. Assim, ao contrário da legítima defesa, em que o indivíduo
sofre uma injusta agressão, no estado de necessidade há 2 bens jurídicos lícitos/devidos em conflito,
de modo que não é possível preservar ambos. Por isso, é necessário buscar a saída mais cômoda
para os dois bens jurídicos em risco.
→ Portanto, o commodus discessus é inerente à inevitabilidade do dano. Isso porque, se é possível
evitar o dano fugindo/se afastando da fonte de perigo, é um dever fazê-lo.

Ex. (Fernando Capez): O homicídio não é amparado pelo estado de necessidade quando é possível a
lesão corporal. Configura-se, nesse caso, o excesso doloso, culposo ou escusável, dependendo das
circunstâncias.

(4) INEXISTÊNCIA DE DEVER LEGAL DE ENFRENTAR O PERIGO

Há divergência acerca da configuração do dever legal. A discussão perpassa sobre o alcance (ou não)
do dever jurídico. Nesse contexto, para doutrina majoritária, em sentido amplo, se for o garantidor, mesmo
que por relação contratual, NÃO pode alegar estado de necessidade (a depender da situação poderia até
alegar inexigibilidade de conduta diversa, que afasta a culpabilidade).

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O sacrifício somente será inevitável quando, mesmo correndo risco pessoal, for impossível a
preservação do bem. Em contrapartida, para quem não tem a obrigação de se arriscar, a inevitabilidade
significa que, se houver algum perigo para o agente, já lhe será possível o commodus discessus.
Ex.: Um bombeiro não pode alegar estado de necessidade como maneira de eximir-se do dever de
enfrentar o perigo.

(5) SALVAR DIREITO PRÓPRIO OU ALHEIO

→ Quando a ameaça for a direito próprio, haverá o estado de necessidade próprio. É o que ocorre
quando o agente, por exemplo, subtrai pequena quantia de alimento para não morrer de fome (furto
famélico) ou quando há um naufrágio e existem menos coletes salva-vidas do que o necessário e
uma pessoa mata outra para ficar com um colete e se salvar.
→ Quando a ameaça for a direito de terceiro, haverá estado de necessidade de terceiro. É o caso, por
exemplo, da subtração de pequena quantidade de alimento para alimentar e salvar a vida do filho
pequeno; o motorista que desvia o veículo em direção ao muro de uma casa, para evitar o
atropelamento de uma criança que atravessou a rua correndo.

Saliente-se que, no caso de defesa do direito de terceiro, é desnecessária a prévia autorização deste,
já que a lei não exige esse requisito. Não precisa também haver ratificação posterior pelo terceiro.
No que concerne ao estado de necessidade, ensina Flávio Monteiro:

O estado de necessidade de terceiro inspira-se no princípio da solidariedade


humana. Tratando-se, porém, de bens disponíveis, alguns autores sustentam a
necessidade da aquiescência do titular do direito exposto a perigo de lesão. Não
procede o raciocínio, pois a vontade do terceiro em perigo, como dizia La Medica,
não é tomada em consideração; é substituída pela vontade do agente,
juridicamente superior. Sobremais, em muitos casos não há nem tempo para pedir
a concordância do terceiro. (Direito Penal – Parte Geral. São Paulo: Editora Saraiva,
2003, p. 315-6).

(6) INEXIGIBILIDADE DO SACRIFÍCIO DO INTERESSE AMEAÇADO

É verificada a proporcionalidade entre o direito protegido e o sacrificado.


A partir dessa ideia se desenvolvem duas teorias:

● Teoria Diferenciadora: Se o bem jurídico sacrificado tiver um valor menor que o bem jurídico protegido,
haverá estado de necessidade com excludente da ilicitude, denominado de estado de necessidade
justificante. Por outro lado, se o bem sacrificado tiver o valor igual ou maior do que o bem protegido, a
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doutrina denominará esta situação de estado de necessidade exculpante, ou seja, haveria a exclusão da
culpabilidade. Teoria adotada pelo Código Penal Militar (art. 39 e art. 45, §único).

BJ sacrificado tem menor valor que o BJ preservado – estado de necessidade justificante – exclui a ilicitude.
BJ sacrificado tem maior valor que o BJ preservado – estado de necessidade exculpante – exclui a
culpabilidade.

● Teoria Unitária: NÃO há estado de necessidade exculpante, mas apenas o estado de necessidade
justificante, que é excludente da ilicitude e incidirá sempre que o bem sacrificado tiver valor igual ou
menor que o bem jurídico protegido. Teoria adotada pelo CP.

Sendo o bem sacrificado mais valioso do que o bem protegido, deverá o indivíduo responder pelo
crime, mas haverá uma causa de redução de pena de 1/3 a 2/3, conforme o §2º do art. 24 estabelece. O
dispositivo diz que embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.

BJ sacrificado tem igual ou menor valor que o BJ preservado - estado de necessidade justificante.
BJ sacrificado tem maior valor que o BJ preservado – hipótese de redução da pena.

Vamos esquematizar?

TEORIA ESTADO DE EXCLUDENTE BEM BEM


NECESSIDADE PROTEGIDO SACRIFICADO
TEORIA Justificante Exclui a ilicitude Vale Mais Vale Menos
DIFERENCIADORA Exculpante Exclui a Vale Igual Vale Igual
culpabilidade Vale Menos Vale Mais
TEORIA UNITÁRIA Justificante Exclui a ilicitude Vale Mais Vale Menos
Vale Igual Vale Igual

(7) CONHECIMENTO DA SITUAÇÃO JUSTIFICANTE

→ Trata-se de requisito subjetivo.


→ Exige do agente conhecimento da situação de fato justificante.
→ A ação de estado de necessidade deve ser objetivamente necessária e subjetivamente conduzida
pela vontade de salvamento.
→ Exige a consciência e vontade de salvar de perigo atual direito próprio ou alheio

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FURTO FAMÉLICO
Requisitos:
● Que o fato seja praticado para matar a fome;
● Que seja o único e derradeiro recurso do agente;
● Que haja a subtração de coisa capaz de diretamente mitigar a fome;
● A insuficiência dos recursos adquiridos pelo agente ou incapacidade/
impossibilidade de trabalho.

c) Espécies:
→ Quanto à titularidade:
. Próprio;
. De terceiro.
→ Quanto aos elementos subjetivos do agente:
. Real: existe efetivamente a situação de perigo;
. Putativo: a situação de perigo foi fantasiada pelo agente (NÃO exclui a ilicitude) –
descriminante putativa (art. 20, §1º do CP).
→ Quanto ao terceiro que sofre a ofensa:
. Defensivo: sacrifica-se direito do próprio causado do perigo;
. Agressivo: sacrifica-se direito de pessoa alheia à provocação do perigo. Gera
responsabilidade civil, embora não seja ilícito penal.

(1) ATENÇÃO: O estado de necessidade comunica-se no concurso de pessoas.

Caiu na Prova Delegado-BA (aplicação 11/09/22) Ainda no que se refere à Teoria do Crime, assinale a
alternativa incorreta.
a) Se o fato é cometido sob coação irresistível, só é punível o autor da coação
b) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se
evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço
c) Se o fato é cometido em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico,
só é punível o autor da ordem
d) Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente os meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem
e) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo iminente, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, era razoável exigir-se
GAB E - NÃO era razoável exigir-se

2. LEGÍTIMA DEFESA
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Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele
agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de
crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Inicialmente, é importante ressaltar que a legítima defesa é inerente à própria condição humana,
enquanto decorrência do instinto defensivo do homem. Desse modo, o ordenamento jurídico não poderia
criminalizar condutas praticadas nesse contexto, restando as legislações estabelecer condições, requisitos,
limitações e efeitos jurídicos a esse instituto.
Vejamos as lições do professor Galdino Siqueira nesse sentido:

“Tão visceralmente ligada â pessoa se manifesta a defesa, isto é, a faculdade de


repelir pela força o ataque no momento em que se produz, que CÍCERO, na sua
oração —Pro Milone, a reputa como um direito natural derivado da necessidade —
non scnpta sed nata lex, proposição verdadeira, se considerarmos o substratum
fisiológico e psicológico da defesa, como reação do instinto de conservação que
brota e se desenvolve independente de qualquer regulamentação. ”

É importante também observarmos que a autotutela (defesa de direitos com as próprias forças) é,
em regra, VEDADA em nosso ordenamento jurídico. Contudo, em hipóteses excepcionais, considerando que
o Estado não estará presente em todos os momentos para tutelar os direitos protegidos, admite-se a
autotutela. Desse modo, veja que a legítima defesa nada mais é do que maneira específica e autorizada de
exercer a defesa de direitos próprios ou de terceiros diante de injustas agressões.

Segundo a doutrina, a legítima defesa possui dois elementos estruturantes:


I. Ponderação de interesses protegidos pela norma: Na fórmula geral do interesse preponderante que
fundamenta todas as causas de justificação, o interesse legítimo de proteger o bem jurídico do
agredido se revela preponderante em relação ao interesse ilegítimo de ataque do agressor, desde
que a defesa seja necessária e proporcional ao agravo sofrido.
II. Reafirmação da norma perante o injusto (princípio da afirmação do direito)1: Também chamada de
princípio da prevalência do direito, posto ser desejável que o direito se afirme em face de agressões
contra interesses individuais.

1
ROXIN, Strafrecht, 1997, § 15, n. 106-109, p. 602-603.
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Nesse contexto, pergunta-se: Qual é a natureza jurídica da legítima defesa?


R.: Em nosso ordenamento jurídico, com previsão no artigo 25, Código Penal Brasileiro, é tratada
como causa genérica de exclusão da ilicitude.
Pergunta-se: Quais são os requisitos para a aplicação da legítima defesa?
R.: A legítima defesa se desenvolve sob o binômio agressão / reação. Desse modo, pressupõe:

Agressão Reação
. Injusta; . Uso dos meios necessários;
. Atual ou iminente; . Uso moderado desses meios.
. Contra direito próprio ou de terceiro.

Assim, passamos a analisar cada um dos requisitos exigidos para a configuração da legítima defesa.

(1) AGRESSÃO INJUSTA

Nos dizeres do professor Cléber Masson, agressão é toda ação ou omissão humana, consciente e
voluntária, que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem ou interesse consagrado pelo ordenamento jurídico.
O termo agressão somente é utilizado para agressões humanas, afastando, portanto, ações
praticadas institivamente por animais, salvo se o animal for utilizado como instrumento de ataques humanos.
Ademais, possui destinatário certo.
Pergunta-se: É possível a legítima defesa contra inimputáveis?
R.: SIM, conforme posicionamento da doutrina majoritária. Veja que a conduta do inimputável,
apesar de não haver culpabilidade, é típica e ilícita e, portanto, apta a ser repelida por legítima defesa.
Registramos posicionamento em sentido contrário exarado pelo professor Nelson Hungria para quem os
inimputáveis se equiparam a ataques realizados por animais e, quando repelidos, configurariam estado de
necessidade e não legítima defesa.
Pergunta-se: Seria possível a prática da legítima defesa contra uma omissão ilícita?
R.: SIM, Mezger fornece o exemplo do carcereiro que tem o dever de liberar o recluso cuja pena já
foi integralmente cumprida. Com a sua omissão ilícita, inevitavelmente agride um bem jurídico do preso,
autorizando a reação em legítima defesa.2
Ainda se exige que a agressão seja injusta. O conceito de injustiça se coaduna com a ideia de
contrariedade ao direito. Assim, NÃO é necessário que a conduta se configure especificamente como crime,
basta que ela seja praticada em desacordo com as normas jurídicas.

2
MEZGER, Edniund. Tratado de derecho penal. Trad, espanhola Josè Arturo Rodrigues Mufloz. Madrid: Revista de
Derecho Privado, 1955. t 1, p. 453
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A doutrina admite a legítima defesa contra condutas culposas e até mesmo contra condutas despidas
de culpa, desde que revestidas de injustiça. Ex.: aquele que está sentado no banco de um ônibus e nota uma
pessoa que acabara de escorregar caindo em sua direção, pode, se necessário, empurrá-la contra o chão para
não ser atingido, exemplo citado na obra do professor Cleber Masson.
Pergunta-se: Admite-se legítima defesa da honra?
R.: NÃO! O STF entendeu, no bojo do julgamento da ADPF 779, que a tese da legítima defesa da honra
é inconstitucional! Assim, o STF entende que o acusado de feminicídio não pode ser absolvido, na forma do
art. 483, III, § 2º, do CPP, com base na tese da “legítima defesa da honra”, de modo que é proibido que a
defesa, a acusação, a autoridade policial ou o magistrado utilizem, direta ou indiretamente, a tese de legítima
defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases pré-processual ou processual penais,
bem como durante julgamento perante o tribunal do júri.
Nesse contexto, ao apreciar medida cautelar em ADPF, o STF decidiu que:
a) A tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88), da proteção à vida e
da igualdade de gênero (art. 5º, da CF/88);
b) Deve ser conferida interpretação conforme à Constituição ao art. 23, II e art. 25, do CP e ao
art. 65 do CPP, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da
legítima defesa; e
c) A defesa, a acusação, a autoridade policial e o juízo são proibidos de utilizar, direta ou
indiretamente, a tese de legítima defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à
tese) nas fases pré-processual ou processual penais, bem como durante julgamento
perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do ato e do julgamento. STF. Plenário. ADPF
779, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/03/2021.

(2) AGRESSÃO ATUAL OU IMINENTE

Diferentemente do que ocorre em relação ao estado de necessidade, a legítima defesa autoriza que
a agressão seja atual ou iminente. Não seria razoável exigir que o agente tivesse sua integridade ofendida
para só então poder repeli-la.
De outro modo, a agressão passada ou a agressão futura e remota NÃO autorizam a incidência da
legítima defesa. No primeiro caso, justamente em razão de se configurar na verdade como vingança e, no
segundo, por se configurar como fórmula que desestimularia as pessoas a buscarem auxílio das autoridades
públicas quando sofrerem ameaças.
Vejamos conceito de agressão atual ou iminente apresentada pelo professor Cleber Masson:
→ Atual é a agressão presente, isto é, já se iniciou e ainda não se encerrou a lesão ao bem jurídico. Ex.:
a vítima é atacada com golpes de faca.

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→ Iminente é a agressão prestes a acontecer, ou seja, aquela que se torna atual em um futuro imediato.
Ex.: o agressor anuncia â vítima a intenção de matá-la, vindo à sua direção com uma faca em uma
das mãos.
Em caso de agressão futura, porém certa, configurando legítima defesa antecipada, a doutrina
admite a configuração de excludente de culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa.

(3) AGRESSÃO CONTRA DIREITO PRÓPRIO OU DE TERCEIRO

Observe que a legislação não exige que o bem defendido seja de propriedade do defensor
autorizando que a defesa ocorre em relação a bens jurídicos de terceiros. Em relação aos bens jurídicos, é
importante fazermos algumas observações:
a) Bem jurídico.
. Próprio ou de terceiros.
. Não só a vida ou a integridade física são passíveis de proteção em legítima defesa. Toda a
ordem de bens jurídicos pode ser tutelada e protegida pela legítima defesa.
. É possível a legítima defesa contra ataques a bens de pessoas jurídicas ou mesmo contra
bens jurídicos do Estado.
. É possível ainda a defesa, por meio de legítima defesa, inclusive contra ataques atuais ou
iminentes a fetos (nascituros).

Pergunta-se: A conduta do sniper (atirador de elite) que atira no agressor que tem a vítima na
condição de refém, é abrangida por excludente de ilicitude?
R.: SIM. Veja que se enquadra perfeitamente nos requisitos que estamos analisando. Trata-se de
agressão atual ou iminente contra direito de terceiro. Desse modo, majoritariamente a conduta do sniper
que dispara contra o agressor que tem refém em sua posse sempre foi, doutrinariamente, tratada como
legítima defesa. É justamente nesse sentido que a alteração legislativa milita, vejamos:

“Art.25. [...]
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele
agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.
” (NR)

Desse modo, agora, expressamente o legislador optou por tratar a condição do agente de segurança
pública que repele agressão atual ou iminente praticada por agressor que mantém a vítima na condição de
refém.

(4) MEIOS NECESSÁRIOS


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A repulsa a agressão deverá ser praticada se valendo dos meios necessários. Contudo, pergunta-se:
O que são meios necessários?
Os meios necessários são aqueles menos lesivos colocados à disposição do agente e que sejam
capazes de repelir a agressão atual ou iminente. Observe assim os requisitos:

Meio menos lesivo:


. à disposição do agente que reage;
. capaz de repelir a injusta agressão (deve ser eficiente).

Desse modo, a análise deve ser feita a partir da situação concreta, pois a reação até pode ser
desproporcional, quando o agente não possui outro meio menos lesivo apto a repelir a agressão que sofre.
Acerca desse tema, curial a leitura de Bento de Faria:

O homem que é subitamente agredido, não pode, na perturbação e na


impetuosidade da sua defesa, proceder a operação de medir a sangue frio e com
exatidão se há algum outro recurso para o qual possa apelar, que não o de infligir
um mal ao seu agressor; se há algum meio menos violento a empregar na defesa,
se o mal que inflige excede ou não o que seria necessário à mesma defesa. E preciso
considerar os fatos como eles ordinariamente se apresentam, e reconhecer as
fraquezas inerentes à natureza humana, não se exigindo dela o que ela não pode
dar, reconhecer mesmo as exigências sociais, que podem justificar o emprego de
certos meios de defesa, suposto não seja absoluta a necessidade desse emprego.3

Ex.: Rodolfo vai agredir Hugo com uma espada. Hugo tem à sua disposição, para repelir essa injusta
agressão, uma metralhadora, um revólver, uma faca e suas habilidades físicas. Qual é o meio necessário?
Deve ser o meio menos lesivo, dentre os capazes de repelir a injusta agressão. No exemplo, o meio menos
lesivo está nas habilidades físicas de Hugo. Mas elas não são capazes de repelir a injusta a agressão. A faca
também não é apta a repelir a injusta a agressão. Então, o meio necessário é o revólver, pois, embora é o
meio menos lesivo entre os capazes de repelir a injusta agressão.
OBS.: Inexistência do requisito “commodus discessus”.
Observe que, ainda que o agente possa fugir da injusta agressão, essa conduta NÃO é exigida dele. A
ordem jurídica não pode abranger situações ilícitas e não pode exigir de quem atacado a conduta de fugir.
Desse modo, a doutrina se posiciona no sentido de não se exigir o que se convencionou chamar de commodus
discessus.

3
FARIA, Bento, Código penal brasileiro comentado. Rio de Janeiro: Dísíríbuidora Reoord, 1S61. v. II, p. 192
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Em outras palavras: uma vez constatada a injusta agressão, o agredido pode rebatê-la, não se lhe
exigindo a fuga do local, pois a lei não exige. Assim, na legítima defesa, o agredido não está obrigado a fugir
ou mesmo a pedir socorro às autoridades. A lei penal apenas exige a utilização moderada do meio necessário
para repelir a injusta agressão.

COMMODUS DISCESSUS
Não é requisito para a É requisito para o ESTADO
LEGÍTIMA DEFESA. DE NECESSIDADE.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPR 2021): A exigência do meio necessário para configurar a legítima defesa não corresponde
à exigência de ‘paridade de armas’ como meio para repelir uma agressão injusta (item considerado correto).

(5) USO MODERADO DOS MEIOS NECESSÁRIOS

O uso dos meios necessários deve ocorrer na estrita necessidade de repelir a injusta agressão,
qualquer conduta que exceda o necessário para a defesa poderá ser tratada como excesso. Assim, o agente
será responsabilizado caso aja com excesso, o qual poderá ser doloso ou culposo.
Logicamente, não se exige que para essa análise cálculo matemático, até porque não é factível que
se exija essa exatidão de pessoas que estarão submetidas a situação de estresse e nervosismo. Exige-se, no
entanto, proporcionalidade no uso dos meios necessários de forma que não se desconstitua a ideia do
instituto que é defender bens jurídicos da situação de risco.
OBS.: Existia previsão no texto originário do pacote anticrime a esse respeito, contudo essa disposição
não foi incluída no projeto aprovado.

Legítima defesa x Estado de necessidade


ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESA
Conflito entre vários bens jurídicos Ameaça ou ataque a um bem jurídico.
diante da mesma situação de perigo.
NÃO tem destinatário certo. Possui destinatário certo.
O perigo decorre de fato humano, Há uma agressão humana e injusta.
animal ou natureza.

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Os interesses em conflito são legítimos Os interesses do agressor são ilegítimos


(é possível estado de necessidade x (não é possível legítima defesa real de
estado de necessidade). legítima defesa real).
Ex: Náufragos disputando coletes salva-
vidas.

CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCRN 2021): Durante uma partida de futebol, Rogério agrediu Jonas com um soco, que lhe
causou um leve ferimento no olho direito. No dia seguinte, Jonas vai tirar satisfação com Rogério e, no meio
da discussão, saca uma arma de fogo e parte na direção de Rogério, que, então, retira de sua mochila um
revólver que carregava legalmente e dispara contra Jonas, causando sua morte.
Considerando a situação apresentada, com relação à morte de Jonas, Rogério não responderá por homicídio,
pois agiu em legítima defesa, o que afasta a ilicitude de sua conduta (item considerado correto).

ATENÇÃO! ATAQUE DE ANIMAL:


→ Espontâneo: Configura perigo atual e estado de necessidade;
→ Provocado por terceiro: Há agressão injusta, pois o animal foi usado como instrumento, sendo o
revide legítima defesa.

Espécies:
→ Quanto à forma de reação:
. Agressiva ou ativa: aquela em que a reação, contra a agressão injusta, configura um fato
previsto em lei como infração penal;
. Defensiva ou passiva: aquela em que a reação consiste em conter agressão, sem caracterizar
fato típico.

→ Quanto à titularidade do bem jurídico protegido:


. Própria: o agente defende um bem jurídico de sua titularidade;
. De terceiro: o agente defende um bem jurídico de outra pessoa.

→ Quanto ao aspecto subjetivo de quem se defende:


. Real: aquela em que estão presentes todos os requisitos do art. 25, CP. Exclui a ilicitude e, em
consequência, o crime;
. Putativa ou imaginária: o agente, equivocadamente, supõe presentes os requisitos da legítima
defesa;

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. Subjetiva ou excessiva: aquela em que o agente, por erro escusável na apreciação da situação
fática, excede os limites da legítima defesa. O agente poderá ou não responder pelo excesso,
a depender do caso concreto;
. Sucessiva: é o caso em que o sujeito que sofreu a agressão injusta, reage em legítima defesa,
porém, com excesso na agressão. Como esse excesso é uma agressão injusta, o que
inicialmente era agressor fará jus à legitima defesa, sendo possível, portanto, a legítima defesa
sucessiva.

PONTOS IMPORTANTES:
(1) Estado de necessidade contra estado de necessidade
É possível falar em estado de necessidade contra estado de necessidade – lembre-se da “tábua de
salvação” em naufrágio para duas pessoas. Ambas podem lutar pela tábua para a sua sobrevivência, tirando,
por exemplo, a vida da outra pessoa para proteger a sua – desde que não sejam causadoras dolosas do perigo,
é claro, vez que possuem o mesmo interesse jurídico e direito de se proteger.

(2) Erro na execução (art. 73, CP) x Estado de necessidade e legítima defesa
São compatíveis. Havendo erro na execução em razão de estado de necessidade ou legítima defesa,
a vítima que foi acertada será considerada como se fosse a vítima virtual (pretendida do agente), incidindo
as excludentes no caso.

(3) Legítima defesa recíproca


Diferentemente do estado de necessidade, NÃO é possível legítima defesa contra legítima defesa de
uma pessoa para outra, vez que um dos requisitos é a agressão injusta, de modo que uma delas
inevitavelmente estará agindo ilegitimamente. Excepcionalmente seria possível legítima defesa real x
legítima defesa putativa, legítima defesa sucessiva ou legitima defesa putativa recíproca. Mas duas legítimas
defesas reais, não.
Na verdade, NÃO cabe legítima defesa real contra nenhuma outra causa excludente de ilicitude real
(vez que não será agressão injusta).
OBS.: Contudo, conforme já visto, é possível o estado de necessidade bilateral.

(4) Legítima defesa putativa recíproca


É possível que haja uma legítima defesa putativa de uma legítima defesa putativa. Pode ser por
exemplo, que ambos os indivíduos que já se ameaçaram mutuamente, suponham estar em uma situação de
perigo atual ou iminente na presença do outro por um gesto como abrir a bolsa ou movimentos bruscos, e
reagem como se estivessem em legítima defesa.

(5) Legítima defesa culposa

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Não importa a postura subjetiva do agente em relação ao fato, mas somente a injustiça objetiva da
agressão. É o caso, por exemplo, da legítima defesa real contra a legítima defesa putativa por erro de tipo
evitável. Ex.: A confundindo B com um seu desafeto e sem qualquer cuidado de certificar-se disso, efetua
diversos disparos em sua direção. Há uma agressão injusta decorrente de culpa na apreciação da situação de
fato. Contra esse ataque culposo cabe legítima defesa real.

(6) Legítima defesa contra quem age amparado por excludente de culpabilidade
É possível a ocorrência da legítima defesa pois, ainda que não haja culpabilidade, ocorre um fato
típico e ilícito. Ex.: um inimputável por doença mental agride alguém sem tem capacidade de entender o
caráter ilícito do fato. Independentemente de sua capacidade de entendimento da ilicitude, sua agressão é
injusta, ensejando a legítima defesa.

(7) Legítima defesa em face de bens coletivos


Em regra, NÃO admitem legitima defesa. É dever do Estado tutelar, não podendo o particular se sub-
rogar no lugar daquele.
Claus Roxin: bens vitais ao funcionamento do Estado permitem a legítima defesa.

(8) Legítima defesa contra multidão


1ª posição: É possível. A agressão é injusta, sendo irrelevante se destinada a alguém individualizado
ou não.
2ª posição: Não é possível. Configura estado de necessidade, visto que a agressão na legitima defesa
tem que ter destinatário certo.

OBS.1: A defesa contra agressão produzida em caso de um ataque epiléptico NÃO pode ser
justificada pela legítima defesa, mas seria caso de estado de necessidade.
OBS.2: É possível legítima defesa contra pessoa jurídica.
OBS.3: Se alguém desafia outrem e a pessoa aceita, nenhum dos dois estará em legítima defesa.
OBS.4: Os bens jurídicos supraindividuais NÃO são suscetíveis de legítima defesa.

Hipóteses de NÃO cabimento de legítima defesa:


• Legítima defesa real contra legítima defesa real;
• Legítima defesa real contra estado de necessidade real;
• Legítima defesa real contra exercício regular de direito;
• Legítima defesa real contra estrito cumprimento do dever legal.
É que em nenhuma dessas hipóteses possui agressão injusta!!

Espécies de excesso:

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a) Doloso ou consciente: Quando o agente, ao se defender de uma injusta agressão, emprega meio que
sabe ser desnecessário ou, mesmo sabendo da desproporção, atua com imoderação.
Ex.: para se defender de um tapa, o sujeito mata a tiros seu agressor, caracterizando excesso doloso.
Se constatado o excesso doloso, a consequência é a responsabilidade do agente pelo resultado, no
exemplo citado o agente responderá pelo homicídio doloso.

b) Culposo ou inconsciente: Não houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se ainda
sofrendo o ataque, tendo o seu excesso decorrido de uma equivocada apreciação da realidade.

c) Exculpante: Não deriva nem de dolo, nem de culpa, mas de um erro plenamente justificado pelas
circunstâncias (legitima defesa subjetiva).

3. ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL

Diz respeito à agressão a bens jurídicos pelos agentes públicos no exercício de suas atribuições (art.
23, III, CP). Haveria incoerência caso o ordenamento jurídico impusesse um dever a alguém e o punisse
criminalmente por isso.
Trata-se, portanto, de uma causa de exclusão da ilicitude que consiste na pratica de um fato típico
em razão de o agente cumprir uma obrigação imposta por lei, de natureza penal ou não.
Ex.: o policial que priva o fugitivo de sua liberdade, ao prendê-lo em cumprimento de ordem judicial.

→ O estrito cumprimento do dever legal beneficia os agentes públicos em geral, mas é possível que o
particular também seja amparado pela excludente, desde que esteja cumprindo estritamente um
dever legal. Ex.: advogado que omite informações, recusando-se a depor, em razão do segredo
profissional estabelecido no EOAB.
→ O dever legal abarca a lei em sentido amplo, ou seja, qualquer ordem ou comando advindos do
Estado.
→ Se o agente se exceder, responderá pelo excesso. Caberia, por exemplo, legítima defesa diante desse
excesso.
→ NÃO é compatível com os crimes culposos¸ uma vez que a lei não obriga ninguém a ser imprudente,
negligente ou imperito.
→ No concurso de pessoas, o estrito cumprimento do dever legal para um dos agentes se comunica
aos demais que concorreram para o fato.
→ O agente deve ter consciência que está agindo acobertado por excludente (elemento subjetivo).

A teoria da tipicidade conglobante de Zaffaroni promove o esvaziamento do instituto. Isso porque, o estrito
cumprimento do dever legal é analisado na tipicidade, uma vez que não se verifica a antinormatividade da
conduta.
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Para a teoria da imputação objetiva de Roxin, o estrito cumprimento do dever legal também pode ser
analisado na tipicidade, estando dentro do risco permitido.

ATENÇÃO!
O policial que mata o criminoso em uma troca de tiros NÃO age em estrito cumprimento do dever
legal. Não é dever de ninguém matar alguém. Nesse caso, o agente de segurança pública age em LEGÍTIMA
DEFESA, própria ou de terceiros.
Não ocorre estrito cumprimento do dever legal na hipótese de policial matar criminoso em fuga. De
acordo com o STJ, a lei proíbe a autoridade, seus agentes ou quem quer que seja, desfechar tiros contra
pessoas em fuga (REsp 402.419/RO). Se esta fuga, contudo, estiver acoplada a uma agressão injusta,
contudo, poderá a atuação do agente configurar legítima defesa.

Excesso no estrito cumprimento do dever legal: Tanto no excesso doloso como no excesso culposo
na atuação em estrito cumprimento do dever legal, temos a ruptura dos limites do dever.
Nessas hipóteses, o agente deixa de estar amparado pelo estrito cumprimento do dever legal porque
ele se excede, ou seja, ele ultrapassa os limites impostos pela norma.
Pergunta-se: Quais seriam as consequências imediatas dessa ruptura dos limites, ou seja, desse
excesso praticado pelo agente?
R.: Exclui a licitude da conduta, ou seja, se ele se excedeu, ele deixa de estar em estrito cumprimento
do dever legal, deixando de estar amparado uma causa excludente da ilicitude.
Além disso, se ele deixa de agir em estrito cumprimento do dever legal, o excesso acaba permitindo
a legítima defesa da pessoa agredida em seu direito (da pessoa que sofreu o excesso).
Ex.: A atuando em estrito cumprimento do dever legal, configura uma conduta lícita, de modo que B
(pessoa que está sofrendo os efeitos desse ato), não pode fazer nada, não pode repelir pois a conduta de A
é lícita. Se A se excede nos limites do estrito cumprimento do dever legal, sua conduta se torna ilícita, o que
abre a possibilidade para B repelir essa injusta agressão, repelir esse excesso. Assim, B pode atuar em legítima
defesa, pois ele está tendo seu direito agredido na medida em que a pessoa não está agindo em estrito
cumprimento do dever legal (por causa do excesso).

4. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

São as ações do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido em lei e
condicionadas à regularidade do exercício desse direito.
Exercício REGULAR de direito, ou seja, com proporcionalidade e observância de limites. Se houver
excesso o agente deve ser responsabilizado. Ademais, deve, de fato, ser um “direito”, estando previsto direta
ou indiretamente em lei. Conforme doutrina majoritária, NÃO pode ser baseado em costume (parte
minoritária entende que seria possível).
Também é necessário que o agente tenha consciência que está agindo acobertado por excludente.
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Ex.:
. Lesões em práticas esportivas;
. Prisão em flagrante realizada por particular (flagrante facultativo);
. Intervenções médicas ou cirúrgicas (que também podem caracterizar estado de necessidade
a depender da situação, quando a intervenção médica não foi autorizada pelo paciente, por
exemplo);
. Direito de castigo dos pais em relação aos filhos.

A teoria da tipicidade conglobante de Zaffaroni promove o esvaziamento do instituto. Isso porque, o


exercício regular do direito é analisado na tipicidade quando envolver atividades fomentadas pelo Estado,
uma vez que não se verifica a antinormatividade da conduta.
Assim, cabe a distinção:
. Exercício regular do direito incentivado (pelo ordenamento jurídico): exclui a tipicidade (ex.: cirurgia
médica emergencial).
. Exercício regular do direito permitido (pelo ordenamento jurídico): é antinormativo, porém tolerado, razão
pela qual exclui a ilicitude (ex.: cirurgia médica estética).

Estrito cumprimento de dever legal x Exercício regular de direito


ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

Compulsório: o agente é obrigado a Facultativo: o agente é autorizado a atuar


cumprir o dever legal. pelo ordenamento jurídico, mas a ele
pertence a opção entre exercer ou não o
direito assegurado.

Aprofundando para provas discursivas / orais:


O estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito são considerados DESCRIMINANTES
PENAIS EM BRANCO, vez que o conteúdo da norma permissiva (que impõe o dever ou permite a conduta
como direito) precisa ser complementado por outra norma jurídica. Não está pré-definido no CP quais são
os deveres legais ou os direitos que podem regularmente ser exercidos. Virão de outra fonte normativa. (Caiu
na prova oral de Delegado SP)

ATENÇÃO: OFENDÍCULOS

a) Nomenclatura:
Doutrina MAJORITÁRIA: ofendÍculos = ofensáculos = defesas pré-dispostas.
Doutrina minoritária: diferencia ofendículos e ofensáculos de defesas pré-dispostas:

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- Defesas mecânicas pré-dispostas: Estariam ocultas e seriam ignoradas pelo agressor. Seriam
engenhos, armadilhas ocultas, com o intuito de que o engenho funcionasse de forma oculta
sem que o agressor tivesse conhecimento. Nesse sentido, se ela estiver oculta, ela não estaria
abrangida pela causa de justificação.
- Ofendículos: Estão aparentes e podem ser percebidos facilmente.

b) Conceito: Os ofendículos são aparatos pré-ordenados para defesa do patrimônio. Meio que as pessoas
utilizam para defender principalmente a propriedade e a inviolabilidade domiciliar (ex.: cacos de vidros
nos muros, cerca elétrica, pontas de lanças no portão etc).
→ Devem ser visíveis, caso contrário, estará configurado excesso.

c) Natureza jurídica:
Doutrina MAJORITÁRIA: Enquanto o ofendículo não é acionado, o indivíduo age em exercício regular
de um direito. Porém, quando é acionado o aparato protetor, a fim de repelir a injusta agressão, o indivíduo
agirá em legítima defesa preordenada.
Doutrina minoritária: Diferencia objetos visíveis, que para esta são ofendículos e configuram
exercício regular do direito, e objetos ocultos, que seriam “defesas mecânicas predispostas”, configurando
legítima defesa.
Nessa hipótese de ofendículo oculto, caso venha a agredir pessoa inocente, estaria configurada a
descriminante putativa da legítima defesa putativa (exclui dolo e permite punição por culpa caso haja
previsão legal).

1.3.2. Causas Supralegais de Exclusão da Ilicitude

(1) CONSENTIMENTO DO OFENDIDO


a) Natureza jurídica: É uma causa supralegal de exclusão da ilicitude.

b) Requisitos:
i. Único titular / bem próprio;
ii. Agente capaz de consentir;
iii. Consentimento moral e que respeita os bons costumes;
iv. A doutrina tradicional diz que deve ser expresso, mas não precisa ser formal (pode ter qualquer
forma). A doutrina moderna admite também a tácita;
v. Prévio ou simultâneo à conduta, não admitindo que seja posterior (caso seja, pode ser causa extintiva
da punibilidade, como por exemplo a renúncia ou o perdão nas ações privadas);
vi. Bem disponível;
vii. O agente que comete o fato típico deve ter ciência desse consentimento (elemento subjetivo).

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OBS.1: É cabível em crimes culposos. Ex.: vítima de lesão corporal de trânsito concordou com o excesso
de velocidade.
OBS.2: Se a falta de consentimento da vítima for elemento do fato típico, o consentimento excluirá a
própria tipicidade.
Exemplo:
Artigo 213 do CP (Estupro) Artigo 163 do CP (Dano)
O não consentimento do ofendido é O não consentimento do ofendido não é
elementar do tipo elementar do tipo.

Conclusão: se o ofendido consente o Conclusão: se o ofendido consente o fato


fato deixa de ser típico. típico deixa de ser ilícito.

(2) ABORTO NECESSÁRIO OU TERAPÊUTICO (art. 128, I):

. Quando há risco de vida para a gestante;


. Doutrina majoritária entende que a natureza jurídica do aborto necessário é uma causa especial de
estado de necessidade (Greco e Busatto).

(3) ABORTO SENTIMENTAL OU NECESSÁRIO (art. 128, II):

. Quando resulta de estupro.

(4) Art. 37, Lei 9605/98:

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:


I - Em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;
II - Para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora
de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade
competente;
III – (VETADO)
IV - Por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

1.4. Excesso na Justificante

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Conforme previsão do art. 23, mesmo que esteja inicialmente acobertado pelas justificantes, o
agente responderá pelo excesso doloso ou culposo. O excesso pode incidir em qualquer uma das
excludentes de ilicitude.
De acordo com a doutrina, esse excesso poderá ser:
● Doloso: O sujeito, propositalmente, se propõe a ultrapassar os limites da justificante. Responderá
dolosamente pelo crime, ainda que o inicio da reação tenha sido legítimo. Será observado o
resultado.
● Culposo: O sujeito reage à uma agressão injusta, e, ao se defender, extrapola os limites sem que esta
fosse a sua intenção. Falta com seu dever objetivo de cuidado, agindo com imprudência, imperícia
ou negligência.
Responderá culposamente pelo crime, caso haja previsão legal da modalidade culposa.

● Acidental: Não decorre de um fato realizado pelo sujeito, e sim de caso fortuito ou força maior, de
modo que do ponto de vista penal, é irrelevante. O código penal diz que o sujeito só responderá se
agir com excesso doloso ou culposo, não abarcando acidental e nem podendo o agente responder
por este, vez que não há dolo ou culpa.

● Exculpante: Decorre de uma perturbação do estado anímico do agente, que lhe retira a capacidade
de atuar racionalmente, geralmente pelo medo ou susto. Como não foi tratado pelo código penal e
a doutrina diverge sobre sua consequência. Parte entende que o agente poderá responder se agiu
culposamente. Outra parte, por sua vez, entende que, embora a conduta não esteja amparada pela
excludente de ilicitude, é possível que sua culpabilidade seja afastada por inexigibilidade de conduta
diversa, tendo em vista que o indivíduo está fora de si.

● Extensivo (Impróprio): é o excesso que ocorre em razão do uso imoderado de meios necessários.
Nesse caso, há o prolongamento da ação por tempo superior ao estritamente necessário (ou seja: a
reação persiste mesmo depois de cessada injusta agressão).
● Intensivo (Próprio): É a utilização de meios desproporcionais ou desnecessários durante a injusta
agressão. Nesse caso, ao contrário do excesso extensivo, agressão ainda não cessou.

1.5. Excludente de Ilicitude e Indenização no Cível

A justificante reconhecida na esfera penal, geralmente, faz coisa julgada no cível, ou seja, afasta o
direito à indenização para quem sofreu conduta típica e lícita.
Nesse sentido, estabelece o Código de Processo Penal:

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Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento
de dever legal ou no exercício regular de direito.

Contudo, há exceções. O direito à indenização subsiste nas hipóteses de:


i. Estado de necessidade agressivo (sacrifício de bem pertencente a quem não causou o
perigo);
ii. Erro na execução quando da ação justificante que resulta em ofensa a bem jurídico de
terceiro;
iii. Justificante putativa (casos de erros sobre as causas de justificação: erro de tipo permissivo
e erro de proibição indireto).

2. CULPABILIDADE

É o terceiro substrato do conceito analítico de crime e consiste no juízo de reprovação indispensável


para configurar infração penal.
Segundo Pacelli, é “a valoração negativa dos princípios orientadores pelos quais o autor se deixou
levar na formação de sua vontade e por isso o fato cometido por ele deve ser reprovado. Assim, culpabilidade
é a reprovação da formação da vontade”.
É possível dividir a culpabilidade em:
● Culpabilidade formal: É o juízo abstrato de reprovabilidade realizado em relação ao provável autor
de um fato típico e ilícito, se presentes os elementos da culpabilidade, no momento em que o
legislador incrimina a conduta. Portanto, a culpabilidade formal serve para o legislador fixar os limites
da pena atribuída a determinada infração penal.
● Culpabilidade material: É o juízo realizado no caso concreto sobre um agente culpável que cometeu
um fato típico e ilícito, destinado à aplicação pelo magistrado na fixação da pena concreta.

Pergunta-se: A culpabilidade é do autor ou é do fato?


R.: Prevalece, na doutrina, que o direito penal brasileiro adotou a culpabilidade do fato. O objeto da
censura, de fato, é o agente, mas ele é censurado pelo que ele fez, e não pelo que ele é. Assim, a culpabilidade
é do fato.

Um pouquinho de doutrina para aprofundarmos


COCULPABILIDADE:
Conforme a teoria da coculpabilidade, criada por Zaffaroni, o Estado teria parcela de responsabilidade
nos fatos realizados por criminosos que não tiveram acesso aos direitos fundamentais mínimos que
deveria, como escola, saúde, afeto, oportunidades e assim terem trilhado o caminho do crime.

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NÃO há na legislação pátria previsão expressa dessa teoria, tratando-se de construção doutrinária. No
entanto, segundo a doutrina, é possível aplicá-la por meio da atenuante genérica inominada do art. 66 do
CP.
Porém, é possível notar que tal preocupação vem sendo inserida de modo abstrato nos diplomas
legais, como no art. 2º da lei 12.288/10, art. 227 da CF, art. 19, IV da Lei de Drogas, dentre outros.
No STJ há uma divergência entre as turmas:
6ª Turma:
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CONDENAÇÃO. APELAÇÃO JULGADA. PRETENSÕES DE ABSOLVIÇÃO
E DESCLASSIFICAÇÃO. VIA INADEQUADA. EXAME APROFUNDADO DAS PROVAS. TEORIA DA CO-
CULPABILIDADE DO ESTADO. NÃO CONFIGURAÇÃO. ORDEM DENEGADA.1. Hipótese em que as instâncias
originárias examinaram, com profundidade, os elementos de convicção produzidos nos autos da ação penal,
concluindo pela condenação do paciente. Inviável atender a pretensão defensiva, de absolvição ou
desclassificação da conduta, nesta via estreita do mandamus, em que vedado o revolvimento fático-
probatório.2. O Superior Tribunal de Justiça não tem admitido a aplicação da teoria da co-culpabilidade do
Estado como justificativa para a prática de delitos. Ademais, conforme ressaltou a Corte estadual, sequer
restou demonstrado ter sido o paciente prejudicado por suas condições sociais. 3. Habeas corpus denegado
(HC 187.132/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 18/02/2013).
5ª Turma:
HABEAS CORPUS. ATENUANTE GENÉRICA. ART. 66 DO CÓDIGO PENAL. COCULPABILIDADE. NECESSIDADE DE
REEXAME DE FATOS E PROVAS. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. A atenuante genérica prevista no art. 66 do
Código Penal pode se valer da teoria da coculpabilidade como embasamento, pois trata-se de previsão
genérica, que permite ao magistrado considerar qualquer fato relevante - anterior ou posterior à prática
da conduta delitiva - mesmo que não expressamente previsto em lei, para reduzir a sanção imposta ao réu;
2. No caso destes autos não há elementos pré-constituídos que permitam afirmar que a conduta criminosa
decorreu, ao menos em parte, de negligência estatal, de modo que a aplicação do benefício pleiteado
depende de aprofundado exame dos fatos e provas coligidos ao longo da instrução para que se modifique o
entendimento da Corte de origem acerca da inaplicabilidade da atenuante. Tal providência, porém, não se
coaduna com os estreitos limites do habeas corpus.
3. Habeas corpus não conhecido. (HC 411.243/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
07/12/2017, DJe 19/12/2017).

COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS:
Enquanto a coculpabilidade entende ser menos reprovável a conduta de quem não teve
oportunidades, a coculpabilidade às avessas atribui uma maior reprovabilidade do comportamento do
sujeito que teve todas as oportunidades e faz uma crítica a impunidade destes e à seletividade do sistema
penal.
Não foi criada por Zaffaroni, e sim desenvolvida no Brasil por Gregori Moura.
Possui duas críticas basilares.
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Primeiro, critica o abrandamento das penas no tocante aos delitos praticados por pessoas com alto
poder econômico social. Ex.: extinção da punibilidade pelo pagamento do crédito tributário.
Segundo, critica o fato de o Estado tratar de forma mais gravosa as condutas passíveis de serem
cometidas principalmente ou até exclusivamente por parte de pessoas com menores condições. Ex.: Lei de
Contravenções Penais: revogada mendicância.
Assim, além de o Estado não fornecer a todos condições mínimas de ensino, saúde e educação de
qualidade, criminaliza condutas decorrentes de tal exclusão social.
Por isso, há uma coculpabilidade às avessas ao indivíduo que, a par de todas as oportunidades, decidiu
ingressar no mundo do crime.
Também não possui previsão legal, mas parte da doutrina entende que poderia ser considerada na
fixação da pena base, como um maior grau de reprovabilidade na conduta do agente, de forma
fundamentada, nas condições do art. 59 (mas como agravante não).

2.3. Funções da Culpabilidade

A culpabilidade possui três sentidos, conforme aponta a doutrina:


● Elemento da estrutura analítica do crime: Culpabilidade constitui um juízo de reprovação, de
censura, que incide sobre o agente por ter atuado de forma contrária ao direito. A culpabilidade é
estabelecida segundo a teoria normativa pura do finalismo e é formada por imputabilidade; potencial
consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. (trata-se do sentido estudado nesse ponto
do material).
● Exigência da responsabilidade penal subjetiva no Estado Democrático de Direito: Impede a
responsabilidade penal objetiva, uma vez que a responsabilidade do agente deve ser fundada em
uma conduta dolosa ou culposa devidamente demonstrada, afastando-se qualquer possibilidade de
“dolo presumido”. Trata-se da análise do dolo na conduta (primeiro elemento do conceito analítico).
● Medida da individualização da pena. Trata-se de elemento expressamente previsto no art. 59, CP, a
ser aferido na primeira fase de dosimetria da pena, escolha do regime inicial (art. 33, §3º, CP),
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44), entre outros momentos
da fixação da pena.

2.2. Elementos da Culpabilidade

1. Imputabilidade;
2. Exigibilidade de conduta diversa;
3. Potencial consciência da ilicitude.

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Vimos na primeira etapa da teoria do crime que esse conceito e esses elementos sofreram mudanças
ao longo do tempo, certo? Aqui traremos apenas um resumo de revisão da parte mais afeta à culpabilidade,
e dicas, em vídeo, do Professor Marcelo Veiga:

SISTEMA PENAL CARACTERÍSTICAS

CLÁSSICO
(Franz von Liszt e Ernst von
Beling) Teoria da culpabilidade: psicológica

https://youtu.be/fznzJouOa5M A culpabilidade seria o vínculo psicológico entre o sujeito e o


fato típico e ilícito. Esse vínculo pode ser representado tanto
pelo dolo como pela culpa.

Culpabilidade formada por: Imputabilidade (pressuposto) e


dolo e culpa (espécies).

Dolo: normativo (consciência atual da ilicitude)

NEOCLÁSSICO Teoria da culpabilidade: psicológico-normativa


(Reinhart Frank)
A culpabilidade seria o juízo de reprovabilidade que recai
https://youtu.be/cQilh0qcOLE sobre o autor de um fato típico e ilícito que poderia ter sido
evitado.

Entra exigibilidade de conduta diversa.


Reinhart Frank: Teoria da normalidade das circunstâncias
concomitantes

Elementos da culpabilidade: Imputabilidade, dolo e culpa e


inexigibilidade de conduta diversa.

Dolo: normativo (consciência atual da ilicitude).

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FINALISTA
Adotado pelo CP.
Teoria da culpabilidade: NORMATIVA PURA*.
(Hans Welzel)

Entra “potencial consciência da ilicitude” (que antes integrava


https://youtu.be/cdVEeqdE_6U
similarmente o dolo, mas era ATUAL).

Elementos da culpabilidade: Imputabilidade, inexigibilidade


de conduta diversa e POTENCIAL consciência da ilicitude.

Dolo: natural (só tem como elementos “vontade e


consciência” e SAI da culpabilidade, passando a integrar a
CONDUTA, no fato típico).

*A TEORIA NORMATIVA PURA da culpabilidade se subdivide em duas: extremada/estrita e limitada. Os


elementos e as ideias em geral são as mesmas, mudando APENAS o tratamento no tocante às descriminantes
putativas.
● Para a extremada, elas serão sempre excludentes da culpabilidade.
● Para a limitada, podem excluir culpabilidade ou tipicidade. Teoria adotada pelo CP.

Aprofundando a temática (Cobrada em DPC BA e DPC GO)

Os partidários da TEORIA FUNCIONALISTA da culpabilidade entendem que a culpabilidade é limitada pela


finalidade preventiva da pena. Isso porque, constatada a desnecessidade da pena, o agente não será punido.
Os defensores da prevenção geral positiva como fim independente da pena, em geral, não questionam a
função limitadora da pena que desempenha o princípio da culpabilidade, mas sim negam a sua função
fundamentadora da pena. Ou seja, aceitam que a culpabilidade constitua o limite máximo da medida da pena
- efeito limitador da culpabilidade -, atribuindo à prevenção a função de fundamentar e ao mesmo tempo
limitar a pena.
De acordo com essa tendência, não é a culpabilidade individual, mas sim exclusivamente a necessidade de
obter determinados fins com a imposição de uma pena o que justifica a sua aplicação.

2.1.1. Imputabilidade
É o conjunto de condições pessoais que conferem ao sujeito ativo a capacidade de discernir e
compreender os seus atos.

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A inimputabilidade exclui a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente, enquanto


que a semi-imputabilidade a reduz.
Momento para análise: ação ou omissão. Teoria da atividade.

a) Sistemas de imputabilidade:

● Biológico: Considera apenas o desenvolvimento mental ou idade, independente da capacidade de


entendimento e autodeterminação.
● Psicológica: Considera apenas a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente no
momento da conduta, independentemente de sua condição mental.
● Biopsicológico: Considera o desenvolvimento mental do agente e sua capacidade de entendimento
no momento da conduta. Para esta teoria, considera-se inimputável aquele que, em razão da sua
condição mental (doente mental, ou desenvolvimento mental incompleto), vai ser ao tempo da
conduta inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com
esse entendimento.

O inimputável, salvo se for menor de idade (procedimento específico), será denunciado e processado
penalmente, mas não será condenado, e sim absolvido. Essa absolvição pode ser própria (sem imposição de
sanção), caso faça jus a ela, ou imprópria, quando todos os demais elementos forem preenchidos, mas o
agente for inimputável (exceto pela idade), que acarretará na aplicação de uma sanção penal, denominada
de MEDIDA DE SEGURANÇA, com natureza de tratamento.
Já o semi-imputável, será condenado, mas a sua pena será REDUZIDA DE 1/3 A 2/3, podendo ser
substituída, se necessário, por medida de segurança.
Atenção! Jamais cumprirá as duas. Antes, isso até era possível, vez que o sistema adotado era o Duplo
Binário, em que o semi-imputável cumpria inicialmente a pena diminuída e depois medida de segurança.
Hoje, o Código adota o sistema VICARIANTE/UNITÁRIO, em que o agente deve cumprir ou uma, ou outra.

b) Excludentes da imputabilidade:

● Em razão de anomalia psíquica (art. 26, CP): Sistema biopsicológico.


O agente pode ser inimputável ou semi-imputável, como vimos.
● Em razão da idade do agente (art. 27, CP e 228 da CP): Sistema biológico. Se é menor de 18 anos é
inimputável. Há, nesse caso, presunção absoluta de inimputabilidade. Não podem ser submetidos à
justiça penal. Responderão pela prática de ato infracional análogo a crime perante o Juizado da
Infância e Juventude.

Súmula 74 STJ – Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu


requer prova por documento hábil. (Qualquer documento hábil).
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Emancipação civil NÃO altera em nada a inimputabilidade penal do menor de 18 anos.


Não esquecer da Súmula 711 do STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Ou seja, se
o agente iniciou a conduta menor, mas já era maior quando cessou, será considerado imputável, de modo
que lhe será aplicada a justiça penal comum.

● Embriaguez completa acidental: Sistema psicológico.


A prova da inimputabilidade do maior de 18 anos ocorre mediante perícia médica. Trata-se do
incidente de insanidade mental (processo penal), sendo analisada caso a caso, ou seja, em cada processo
contra o agente deve haver uma nova perícia para verificar a imputabilidade.

EMBRIAGUEZ
ORIGEM GRAU

Acidental: . Completa: Exclui a imputabilidade.


. Caso fortuito: agente ignora o efeito. . Incompleta: Diminui pena.
. Força maior: agente é obrigado a ingerir
substância de que conhece o efeito.

Não acidental: . Completa


. Voluntária: agente quer se embriagar . Incompleta
(mas não quer cometer o crime). NENHUMA exclui a imputabilidade!
. Culposa: negligente (não queria nem se
embriagar e nem cometer o crime).

Patológica: doentia. Pode se enquadrar no art. 26, sendo


analisada com base nele.

Preordenada: agente se embriaga para . Completa


cometer crime. . Incompleta
Teoria da actio libera in causa. NÃO exclui a imputabilidade e é agravante
de pena.

Caiu na Prova Delegado-BA (aplicação 11/09/22) No que diz respeito à imputabilidade penal, assinale a
alternativa incorreta.
a) A paixão e a emoção não excluem a imputabilidade penal

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b) A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito
ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento
c) É isento de pena o agente que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento
d) A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos, não exclui a
imputabilidade penal
e) Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas
na legislação especial
GAB C

TEORIA DA ACTIO LIBERA IN CAUSA (teoria da ação livre da causa): Serve para justificar a punição de ato
transitório revestido de inconsciência, decorrente de ato antecedente que foi livre na vontade,
transferindo-se para este momento anterior a constatação da imputabilidade. A teoria busca analisar a
vontade no momento em que o agente ainda estava sóbrio, vez que “bebeu porque quis”. E até aqui tudo
bem.

Porém, o CP também a utiliza para a embriaguez voluntária ou culposa, em que o agente não tinha a
intenção prévia de cometer crime e, sobre isso, temos três correntes:
1ª Corrente: É responsabilidade penal objetiva, sendo inaceitável;
2ª Corrente: É responsabilidade penal objetiva, mas necessária para proteger o interesse público;
3ª Corrente: Não se trata de responsabilidade penal objetiva e seria até desnecessária sua utilização,
vez que na embriaguez existe uma vontade residual, que fundamenta a responsabilidade penal.

OBS.: Ainda que sejam de elevada intensidade, a emoção e a paixão NÃO excluem a imputabilidade penal.
Contudo, o Código Penal, implicitamente, permite duas exceções a essa regra: I – coação moral irresistível,
em face da inexigibilidade de conduta diversa; e II – estado patológico, no qual se constituem autênticas
formas de doença mental.

CAIU EM PROVA:(Delegado da PF 2021): A imputabilidade é a possibilidade de se atribuir a alguém a


responsabilidade pela prática de uma infração penal. (item considerado correto).

2.1.2. Potencial Consciência de Ilicitude


Aferição se o sujeito possui condições de compreender que a sua conduta é reprovável. Conforme
doutrina majoritária (Geraldo Prado e Masson), isso é feito com base na “valoração da esfera do profano”.

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Ainda que o agente desconheça o dispositivo em si, basta que na sua condição de leigo (profano) saiba
identificar que sua conduta é ilícita.
Enquanto na análise do fato típico ou da ilicitude se utiliza da figura do “homem médio”, para aferir
culpabilidade se avalia a partir das condições do próprio agente.
O que vai excluir a potencial consciência da ilicitude e, por ela, a culpabilidade, é o erro de proibição,
se inevitável. Quando for evitável, haverá diminuição de pena.

AUSÊNCIA
Consciência da Ilicitude Potencial Consciência da Ilicitude
ATENUANTE ERRO DE PROIBIÇÃO INEVITÁVEL
(art. 65 do CP – desconhecimento da
ilicitude da conduta)

2.1.3. Exigibilidade de Conduta Diversa

De acordo com Masson, a exigibilidade de conduta diversa “é o elemento da culpabilidade


consistente na expectativa da sociedade acerca da prática de uma conduta diversa daquela que foi
deliberadamente adotada pelo autor de um fato típico e ilícito”. Em suma, trata-se de situação em que o
delito foi cometido em circunstâncias normais, em que o agente poderia se comportar em conformidade
com o Direito, mas optou por transgredir a lei penal.
Decorre da teoria desenvolvida por Reinhart Frank: Teoria da Normalidade das Circunstâncias
Concomitantes.
Situações em que é INEXIGÍVEL conduta diversa:
(1) Coação moral irresistível;
(2) Obediência hierárquica.
OBS.: Se for coação física irresistível leva a exclusão da conduta e, consequentemente, do fato
atípico.

a) Coação Moral Irresistível (art. 22, CP)

O Código Penal não faz a diferenciação sobre o tipo de coação, embora existam duas com
consequências jurídicas diversas: moral e física. A coação MORAL exclui a exigibilidade de conduta diversa (e
consequentemente a culpabilidade). No caso de coação FÍSICA, não haverá conduta por falta de vontade, de
modo que o fato sequer será típico.

● Requisitos:
o Ameaça do coator, ou seja, promessa de mal grave e iminente que o coagido não é obrigado
a suportar e deve ser direcionada ao coagido ou alguém próximo a ele (se for um
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desconhecido, em que pese não incida a coação moral irresistível, pode ser reconhecida
causa supralegal de inexigibilidade de conduta diversa);
o Inevitabilidade do perigo na posição em que se encontra o coagido;
o Caráter irresistível da ameaça.

● Consequência: Afasta a culpabilidade do coagido, mas NÃO gera impunidade, vez que será punível
o autor da coação por autoria mediata do crime. Não há concurso de pessoas, vez que falta liame
subjetivo.

Se a coação for RESISTÍVEL, o coagido será culpável e responderá com o coator em concurso de
agentes e apenas terá direito a uma atenuante genérica, sendo que para o coator incidirá agravante genérica
(arts. 62 e 65 do CP).

OBS.: O temor reverencial consiste no receio de decepcionar pessoa a quem se deve elevado
respeito. NÃO se equipara à coação moral. NÃO há ameaça, apenas receio.

b) Obediência Hierárquica (art. 22, CP)

● Requisitos:
o Ordem não seja manifestamente ilegal. A ordem é ilegal, mas com aparência de legalidade.
o Oriunda de superior hierárquico;
o Autoridade competente para emanar a ordem;
o Decorrente de relação de Direito Público. A posição de hierarquia que autoriza o
reconhecimento da excludente da culpabilidade somente existe no Direito Público;
o Cumprimento estrito da ordem. O executor não pode ultrapassar, por conta própria, os limites
da ordem que lhe foi endereçada, sob pena de afastamento da excludente.

● Consequência: Exclui a culpabilidade do executor subalterno. O fato permanece punível em relação


ao autor da ordem.

Ex. (Cleber Masson): “Imagine a hipótese de um Delegado de Polícia, com larga experiência em sua
atividade, que determina a um Investigador de Polícia de sua equipe, recém ingressado na instituição, a
prisão em flagrante de um desafeto, autor de um crime de roubo ocorrido há mais de uma semana, em
relação ao qual não houve perseguição, fato desconhecido pelo subordinado. O subalterno, no caso, seja em
face do restrito conhecimento do caso concreto, seja em respeito ao superior hierárquico, em quem muito
confia, não pode ser responsabilizado, devendo o crime ser atribuído exclusivamente ao autor da ordem.

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Caso a ordem seja MANIFESTAMENTE ILEGAL, responderão em concurso de pessoas e o subalterno terá
direito a uma atenuante genérica e para o superior incidirá agravante genérica (arts. 62 e 65 do CP). Por
outro lado, se a ordem for LEGAL, nenhum dos dois cometerá crime, mas agirão em estrito cumprimento do
dever legal.

d) Causas Supralegais de Exclusão da Culpabilidade:

Ainda que não seja situação de coação moral irresistível ou obediência hierárquica, admite-se no
Brasil, tanto em sede doutrinária como jurisprudencial, o reconhecimento de causas supralegais excludentes
da culpabilidade, sempre baseadas na inexigibilidade de conduta diversa, quando ficar demonstrado que,
em determinada situação, não era razoável exigir do agente que se portasse de outra maneira.
Vejamos algumas hipóteses apontadas pela doutrina e jurisprudência:

● Estado de necessidade exculpante: Situações razoáveis de sacrifício de bem de maior valor para
proteger bem jurídico de menor valor. Isso porque, conforme visto, o CP adotou a teoria unitária.
● Excesso intensivo exculpante: Em eventual excludente de ilicitude, que decorre de medo, susto,
perturbação do ânimo.

Ex.: mulher que, estando sozinha, tem sua casa invadida de madrugada em tentativa de roubo e utiliza arma
do marido para atirar contra os invasores e, assustada efetua o primeiro disparo, sendo que após atingir um
deles, o outro foge e, ainda assustada, ela dispara novamente contra o atingido que já estava no chão; o
sujeito morre e perícia constata que o óbito decorreu do primeiro disparo.

● Legítima defesa preordenada: Como regra, não é admitida a legítima defesa futura, visto que a agressão
deve ser atual. Todavia, a doutrina aponta a possibilidade do reconhecimento de inexigibilidade de
conduta diversa.

Ex. (Rogério Greco): um preso, que convive em um mesmo espaço na penitenciária com outro preso,
é ameaçado de morte, sendo a referida ameaça concreta, uma vez que o ameaçador já matou outros presos;
se o preso ameaçado, apesar de vários pedidos, não consegue trocar de prisão, sabendo que morrerá em
algum dia por homicídio cometido pelo ameaçador, conforme, inclusive, lhe afirmou outros presos durante
o banho de sol, vier a matar o inimigo que lhe ameaçou.

● Cláusula de consciência: Situação em que alguém, por motivo de consciência ou de crença, pratica fato
criminoso, não violando direitos fundamentais individuais. Fica isento de pena.

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SEMANA 04/18

Ex.: pai testemunha de Jeová que não permite a transfusão de sangue do filho → parte da doutrina entende
que, nesse exemplo, só isenta de pena se o filho permanecer vivo, pois se morrer há conflito e ele responde:
liberdade de crença x vida. (É um tema divergente e complexo).

A CEBRASPE a definiu da seguinte forma no espelho da prova de Delegado de Polícia Federal (DPF -
2021) : “A cláusula de consciência é uma causa supralegal de exclusão de culpabilidade, vinculada à
inexigibilidade de conduta diversa, sendo corolário da liberdade de crença e da liberdade de consciência,
asseguradas constitucionalmente, e manifesta-se em razão da prática de um ato ou omissão penalmente
relevante, que não seria reprovável em razão do preceito constitucional.”

● Desobediência civil: Ato de insubordinação, fundado na proteção de direitos fundamentais, desde que
o dano causado não seja relevante.

Ex.: invasões do MST, manifestações de presidiários visando à proteção de direitos humanos, etc.

● Conflito de deveres: Tem como fundamento a escolha do mal menor.

Ex.: empresário que, visando a manter o funcionamento da empresa, deixa de recolher as contribuições
previdenciárias em virtude da precária situação financeira → somente haverá a exclusão da culpabilidade se
preenchidos dois requisitos4:
o Graves dificuldades econômico-financeiras da empresa;
o Extremo esforço de salvação da empresa por parte dos controladores, inclusive com sacrifício
de bens e direitos particulares.

3. TEORIA DO ERRO

Erro consiste na ausência de consciência acerca de um objeto juridicamente relevante. Ou seja: está
em erro quem desconhece “algo” que é relevante para o Direito.
Essa ausência de consciência pode aparecer em dois momentos distintos: fato típico e culpabilidade.
● Fato típico: consciência enquanto elemento cognitivo do dolo (lembrando que o dolo é formado
pelo elemento cognitivo “saber” e elemento volitivo “querer”) → incide no ERRO DE TIPO.
● Culpabilidade: exige a potencial consciência da ilicitude → incide NO ERRO DE PROIBIÇÃO.

Atenção! Esse tema é de extrema importância e confunde muitos alunos, então, sempre que puder,
revise.

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8ª T. ACR 200472050023548. J. 02.06.2006
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3.1. Erro de Tipo (art. 20, CP)

Erro sobre elementos do tipo


Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

O ERRO DE TIPO recai sobre os elementos constitutivos do tipo, podendo recair sobre as
elementares, circunstâncias, justificantes ou qualquer dado agregado a determinada figura típica. Em regra,
no erro de tipo, há a falsa percepção da realidade.
O erro de tipo pode ser essencial ou acidental.

a) ESSENCIAL:

Trata-se de falsa percepção da realidade que recai sobre dados principais do tipo, ou seja, sobre
elemento fático ou normativo que corresponda a elementar do tipo.

O erro de tipo essencial subdivide-se em erro de tipo incriminador e erro de tipo permissivo.
● Erro de tipo incriminador: a falsa percepção da realidade incide sobre situação fática prevista como
elementar ou circunstância de tipo penal incriminador (daí o nome).
Ex: O agente, em uma mesa de bar, subtrai o aparelho celular de outra pessoa acreditando ser o seu,
por serem idênticos. Aqui, o agente incorreu em erro sobre o elemento “coisa alheia”, que é uma elementar
do tipo penal.
● Erro de tipo permissivo: o erro recai sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, isto
é, situação de fato descrita como requisito objetivo de uma excludente de ilicitude (tipo penal
permissivo).
Ex.: Antônio se depara com um sósia de seu inimigo que leva a mão à cintura, como se fosse sacar
algum objeto; Antônio, ao ver essa atitude, pensa estar prestes a ser atingido por um revólver e, por esse
motivo, saca de sua arma atirando contra a vítima, que nada possuía nas mãos ou cintura. No caso, Antônio,
apreciando mal a realidade, acreditava estar diante de uma injusta e iminente agressão, o que configuraria
legítima defesa.

O erro de tipo essencial pode ser:


● Inevitável / Escusável / Invencível: Desculpável, imprevisível, qualquer pessoa erraria nas
mesmas circunstâncias (com base na ideia de “homem médio”). Exclui dolo e culpa.
● Evitável / Inescusável / Vencível: Indesculpável, imprevisível e inescusável. Faltou cuidado
do agente na análise da situação. Exclui dolo, mas admite a punição por culpa, se prevista
em lei.

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OBS.: O erro de tipo evitável ou inevitável NÃO pode recair sobre elementos subjetivos especiais
diversos do dolo, integrantes do tipo subjetivo, mas só dos elementos descritivos ou normativos do tipo
objetivo.

Note que o erro de tipo essencial sempre excluirá o dolo. Isso porque falta ao agente o elemento
cognitivo do dolo, qual seja, o “saber”. No erro de tipo essencial, não há esse saber, essa consciência por
parte do agente.

ERRO INEVITÁVEL (ESCUSÁVEL / INVENCÍVEL) ERRO EVITÁVEL (INESCUSÁVEL / VENCÍVEL)

Exclui o dolo – o agente não tem consciência do que faz Exclui o dolo – o agente continua não tendo
(a consciência é um dos elementos do dolo; sem consciência.
consciência não há dolo).
Pune a culpa, se prevista em lei - o resultado era
Exclui Culpa – o resultado é imprevisível (a previsível, caso em que se pode punir a culpa.
previsibilidade é elemento da culpa).

EM REGRA: impunibilidade total do fato (fato atípico.)

EXCEÇÃO: desclassificação para outro crime no qual se


resta presente o dolo.

OBS.1: É possível haver erro de tipo em relação aos crimes omissivos impróprios, em que o dever
de agir é um elemento constitutivo do tipo penal. Portanto, quando a falsa percepção da realidade recair
sobre a existência do dever de agir para evitar o resultado, haverá erro de tipo. Ex.: o salva vidas avista
banhista se afogando em águas rasas de uma praia e acredita que este está brincando.

OBS2.: Ocorre delito putativo por erro de tipo quando o delito é imaginário ou erroneamente
suposto, tendo em vista que só existe na cabeça do agente. No delito putativo por erro de tipo, a pessoa sabe
que a conduta é criminosa e quer praticar o crime, mas, por erro nas circunstâncias fáticas, pratica um fato
penalmente irrelevante. Ex.: Jovem acredita verdadeiramente que está grávida pois sua menstruação atrasou
e, por ser uma gravidez indesejada, decide comprar remédios abortivos para praticar o autoaborto (art. 124,
CP). Ocorre que, posteriormente, descobre que não havia gravidez alguma.
Existem três espécies de delito putativo:
• Delito putativo por erro de tipo;
• Delito putativo por erro de proibição;
• Delito putativo por obra do agente provocador (também conhecido por delito de ensaio, de
experiência ou crime de flagrante preparado).
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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPR 2021): Z.Z. é um simplório dono de uma pequena e antiga padaria no bairro onde vive.
De longa data, Z.Z. faz bolos enfeitados com escudos de times de futebol a pedido de alguns clientes mais
conhecidos dele. Em certa ocasião, o departamento jurídico de um desses clubes propôs uma queixa-crime
contra Z.Z., acusando-o de cometer crime contra registro de marca, conforme art. 189, inc. I, da Lei
9.279/1996 (Comete crime contra registro de marca quem: I - reproduz, sem autorização do titular, no todo
ou em parte, marca registrada, ou imita-a de modo que possa induzir confusão), pois o escudo do time em
questão era marca registrada. Como argumento de defesa adequado segundo a teoria do delito, Z.Z. poderia
alegar que não cometeu crime porque sua conduta não seria culpável pelo erro sobre a ilicitude do fato.
(item considerado correto).

b) ACIDENTAL:

Recai sobre dados periféricos/secundários do tipo. São desvios causais previsíveis que não afastam
a responsabilidade penal, pois, diferentemente do erro essencial, são irrelevantes para a configuração do
dolo.
Se o agente fosse avisado, ele apenas “corrigiria” o problema e continua agindo ilicitamente.

Dica para diferenciar erro essencial e acidental:


No ERRO ESSENCIAL, se o agente for avisado sobre erro, ele faz o certo e NÃO COMETE
CRIME.
No ERRO ACIDENTAL, o agente, mesmo sabendo que está em erro, PRATICARIA O CRIME.

O erro acidental pode recair:


● Quanto à coisa / sobre o objeto: O agente representa equivocadamente a coisa visada. O alvo era
um objeto específico e, por erro, acaba atingindo outro objeto.
. NÃO exclui dolo e culpa;
. NÃO isenta o agente de pena;
. Adota a teoria da concretização;
. Agente responde pelo crime praticado, ou seja, pelo objeto lesado, e não o visado.

Ex.: quer furtar um relógio de ouro e acaba furtando um relógio falsificado.


Pergunta-se: Como fica o princípio da insignificância quando o agente subtrai objeto de pequeno
valor, visando bem de valor maior? Não é só o valor do bem que é avaliado na análise do princípio da
insignificância. É preciso preencher todos os requisitos objetivos e subjetivos.

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● Quanto à pessoa / error in personae (art. 20 §3º do CP): O agente representa equivocadamente a
pessoa visada. Constitui um erro de identidade. NÃO há erro na execução, não há falha operacional,
mas sim falha na representação da vítima. Há uma confusão quanto à pessoa certa.
. NÃO exclui dolo e culpa;
. NÃO isenta o agente de pena;
. Adota a teoria da equivalência dos bens jurídicos;
. Agente responde pelas qualidades da vítima pretendida (vítima virtual), e não da vítima real.

Ex.: queria matar o pai, mas matou o tio que é muito parecido acreditando ser ele (assim, é possível
parricídio de pai vivo).

Erro sobre a pessoa


§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena.
Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Caiu na Prova Cespe Delegado Espírito Santo (aplicação 11/09/22) Em caso de erro sobre a pessoa, são
consideradas as características da vítima real, e não as da pessoa que seria o alvo da ação. (item incorreto)
Considera-se a vítima virtual, isto é, aquela que o agente almejava atingir.

● Na execução / aberratio ictus (art. 73 do CP): O agente representa corretamente a vítima, mas atinge
pessoa diversa da pretendida por ACIDENTE ou ERRO no uso dos meios de execução. Normalmente,
ocorre por erro de pontaria na hora de atirar.
. NÃO exclui dolo e culpa;
. NÃO isenta o agente de pena;
. Adota-se a teoria da equivalência da equivalência dos bens jurídicos (responde com base na vítima
virtual)
Pode possuir:
o Resultado único / unidade simples: atinge só a pessoa diversa, razão pela qual o agente
responde pelas qualidades da vítima pretendida (vítima virtual).
o Resultado duplo / unidade complexa: o agente atinge a pessoa desejada e também pessoa
diversa por culpa no segundo, razão pela qual responde pelos dois crimes (doloso e
culposo) em concurso formal próprio. Ex.: Quer matar A, mas, por erro de execução, além
de matar A, atinge também B, causando-lhe lesões corporais. Nesse caso, responderá pelo
homicídio de A em concurso com lesão corporal culposa de B.

Erro na execução
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Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao
invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º
do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente
pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

ERRO SOBRE A PESSOA ERRO NA EXECUÇÃO


Erro na representação da vítima Representa-se corretamente a vítima
pretendida pretendida
A execução do crime é correta – não há A execução do crime é errada – existe falha
falha operacional operacional
A pessoa visada não corre perigo (porque A pessoa visada corre perigo
foi confundida com outra)
Nos dois casos o agente responde pelo crime, considerando as qualidades da vítima
virtual (teoria da equivalência dos bens jurídicos).

ATENÇÃO: Embora, para fins penais, seja considerada a vítima pretendida, denominada vítima virtual, ela é
irrelevante para fins processuais penais, que levará em consideração a vítima efetiva ou seja a vítima real.

● Resultado diverso do pretendido / aberratio criminis (art. 74 do CP): O agente, por acidente ou
erro na execução, provoca lesão em bem jurídico diverso do pretendido.
. NÃO exclui dolo e culpa
. NÃO isenta o agente de pena;
Pode possuir:
o Resultado único / unidade simples: Responde pelo crime efetivamente ocorrido a título de
culpa, se houver previsão legal da modalidade culposa. Segundo Zaffaroni, só vai responder
pela modalidade culposa do que efetivamente ocorreu se for menos grave que o resultado.
Caso contrário, responderá por tentativa do outro. Ex.: queria matar alguém e, ao jogar
uma pedra, acertou uma janela. Nesse caso, não vai responder pelo crime de dano (que,
inclusive, sequer comporta a modalidade culposa), mas por tentativa de homicídio.
o Resultado duplo / unidade complexa: o agente atinge lesiona os dois bens jurídicos, razão
pela qual responde pelos dois crimes em concurso formal.

Resultado diverso do pretendido


Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde

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por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado
pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código

Diferença entre Aberratio Ictus e Aberratio Criminis:


No primeiro, apesar do erro, o agente atinge o mesmo bem jurídico pretendido (pessoa x pessoa), enquanto,
no segundo, o agente atinge só o bem jurídico diverso ou também bem jurídico diverso do pretendido
(pessoa x coisa).

Art.73, do CP “aberratio ictus” Art.74, CP “aberratio criminis”

Ambos são modalidades de ERRO NA EXECUÇÃO.

O agente atinge o MESMO bem jurídico O agente atinge bem jurídico DIVERSO do
visado. pretendido.
O resultado provocado é o MESMO que o O resultado provocado (danificar patrimônio)
pretendido, mas atinge PESSOA DIVERSA. é DIVERSO do pretendido (ceifar vida).

Aqui, há relação pessoa x pessoa. Aqui, há relação coisa pretendida x pessoa


atingida.

● Sobre o nexo causal / dolo geral / erro sucessivo / aberratio causae: O agente provoca o resultado
pretendido, com nexo causal diverso. Não há erro de execução, mas o resultado pretendido é
alcançado por um nexo causal diverso do planejado (há desvio no curso causal). Ex: A jogou B da
ponte, pensando que este morreria afogado, mas morreu de traumatismo craniano por bater a
cabeça em uma pedra.

NÃO se pode confundir o dolo geral com o erro sobre o nexo causal (aberratio causae). No erro sobre
o nexo causal realiza-se UMA só conduta pretendendo o resultado, o qual é alcançado em virtude de um
processo causal diverso daquele imaginado. No dolo geral, todavia, o sujeito realiza DUAS condutas.

. NÃO exclui dolo e culpa;


. NÃO isenta o agente de pena;

Pergunta-se: Como ficará a responsabilização do agente se o resultado provocado pelo nexo real
incidir qualificadora? Como no caso do erro sucessivo, em que a asfixia é uma qualificadora do crime de
homicídio? Nesse caso temos duas posições na doutrina:

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1ª Corrente: O agente responde pelo nexo pretendido, sob pena de caracterizar responsabilidade
objetiva do agente. No exemplo acima, responderia por homicídio simples.
2ª Corrente: O agente responde pelo nexo efetivamente produzido (aquele que produziu o
resultado). No exemplo acima, responderia pelo homicídio qualificado pela asfixia.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMS 2021): Influenciada pelo sistema finalista de Hans Welzel, a reforma da parte geral do
Código Penal brasileiro, realizada em 1984, rompeu com a tradição jurídico-penal estabelecida até então,
que trabalhava com a teoria limitada da culpabilidade, e passou a adotar a teoria extremada da culpabilidade,
defendida pelo renomado professor da Escola de Bonn, deixando expresso tal opção no item 19 da Exposição
de Motivo (item considerado incorreto).

3.2. Erro de Proibição

Causa excludente da potencial consciência da ilicitude (elemento da culpabilidade).

Espécies de erro de proibição:

a) Direto x Indireto x Mandamental:


● Direto: O erro recai sobre o conteúdo da norma proibitiva, o agente acredita que a sua conduta é
lícita/atípica (art. 21 do CP).
● Indireto: O erro recai sobre uma causa excludente de ilicitude. Ou seja, o agente supõe que seu
comportamento, ainda que típico/ilícito, é amparado por alguma causa excludente de ilicitude
(descriminante putativa – art. 20, §1º do CP).
● Mandamental: O erro recai sobre o conhecimento uma norma mandamental (que impõe um
determinado comportamento). Pode ocorrer nos crimes omissivos próprios ou impróprios (o agente
conhece a situação fática, mas acha que não está obrigado, por lei, a agir).

b) Evitável x Inevitável:
● Inevitável: O erro era imprevisível. Analisa-se o perfil subjetivo do agente no caso concreto
(diferente do erro de tipo que é “homem médio”. Isenta o agente de pena, desaparecendo com a
potencial consciência da ilicitude e, consequentemente, a culpabilidade.
● Evitável: O erro do agente decorre de culpa, pois lhe era previsível. NÃO isenta de pena, mas pode
servir como causa de diminuição. Permanece a potencial consciência de ilicitude. O quantum da
diminuição é medido pelo grau de reprovabilidade.

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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPA 2021): Mário, comerciante, emprestou determinada quantia para Eliseu. Um dia após a
data ajustada para o pagamento, após ser informado por telefone de que Eliseu não teria o montante para
quitar o empréstimo, Mário se dirige à casa do devedor e, clandestinamente, subtrai um notebook no valor
da dívida, acreditando estar amparado por uma causa de justificação que tornaria a sua conduta lícita, qual
seja, a dívida vencida. Considerando os fatos hipotéticos narrados, pode-se afirmar que Mário incorreu em
erro de proibição indireto que, se escusável, exclui a culpabilidade do agente. (item considerado correto).

Inevitável - exclui dolo


e culpa

Essencial
evitável - só exclui o
ERRO DE TIPO dolo, pune por crime
(interfere do dolo) culposo, se previsto
Acidental - não em lei
excluem dolo ou
erro jurídico-penal culpa
falsa percepção da
realidade
inevitável (exclui a
culpabilidade)
ERRO DE PROIBIÇÃO
(interfere na
culpabilidade
evitável (reduz a
pena de 1/6 a 1/3

ERRO DE TIPO (art. 20, caput) ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO (art. 21)

O agente possui falsa percepção da O agente sabe o que faz, mas acredita ser
realidade/dos fatos. Não sabe o que faz. lícito o seu comportamento, enquanto, na
verdade, é proibido.
Ex.: Alguém em uma reunião atrasado para Ex.: Holandês que faz uso de maconha no
outro compromisso, desatento, pega o celular Brasil e imagina ser permitido aqui, como lá
de outra pessoa que era igual ao seu e leva é.
consigo. Em tese, subtraiu para si, coisa alheia
móvel, mas tinha falsa percepção sobre o
elemento “coisa alheia”, pois pensava que era
sua.

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Se o erro é INEVITÁVEL/ESCUSÁVEL/ Se o erro é INEVITÁVEL/ESCUSÁVEL/


INVENCÍVEL/ DESCULPÁVEL: Exclui dolo e culpa. INVENCÍVEL/ DESCULPÁVEL: Exclui
Não há fato típico. Exclui o CRIME. potencial consciência da ilicitude. Afasta a
culpabilidade. Exclui a PENA.
Se o erro é EVITÁVEL/INESCUSÁVEL/
VENCÍVEL/INDESCULPÁVEL: Exclui dolo e Se o erro é EVITÁVEL/INESCUSÁVEL/
permite a punição por culpa quando previsto VENCÍVEL/INDESCULPÁVEL: Diminui a pena
em lei. (quantum com base na reprovabilidade).

ATENÇÃO: Descriminantes Putativas (erro de proibição indireto é uma espécie das descriminantes
putativas).

Descriminantes putativas
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato
é punível como crime culposo [CULPA IMPRÓPRIA, POR EXTENSÃO OU
EQUIPARAÇÃO].

Caiu na Prova Delegado-BA (aplicação 11/09/22) No que diz respeito a aspectos relacionados à Teoria do
Crime, assinale a alternativa incorreta.
a) Responde pelo crime o terceiro que determina o erro
b) O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei
c) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime
d) Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando
lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência
e) É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Há igualmente isenção de pena quando o erro deriva de culpa,
ainda que o fato seja punível como crime culposo
GAB E

As descriminantes putativas são excludentes de ilicitude imaginárias. Ou seja, ocorre quando a causa
de exclusão da ilicitude existe apenas na MENTE do autor de um fato típico, NÃO existindo concretamente.
Há 3 formas de o agente errar quanto às excludentes de ilicitude:

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(1) Erro relativo aos pressupostos de fato / à situação fática de uma causa de exclusão de
ilicitude: O agente avalia mal a situação fática e acredita estar diante de um acontecimento
que, se existisse, admitiria uma causa excludente de ilicitude (tornando sua ação legítima).

Ex.: Homem chega em casa encontra outro homem mantendo conjunção carnal com sua esposa, a
qual confiava muito e que começou a gritar na hora que o viu. Acreditando que fosse um estuprador, o
marido atira e mata o outro, em uma situação de legítima defesa que não existia, que só existiu na cabeça
dele, pois ele interpretou erroneamente a situação fática. Leva as mesmas consequências do erro de tipo.
Já que a descriminante putativa por erro de tipo não é outra coisa se não erro de tipo essencial incidente
sobre tipo permissivo. Assim, se o erro for evitável, o agente responderá por crime culposo, já que o dolo
será excluído, se o erro for inevitável, excluirá dolo e culpa e não haverá crime.

(2) Erro relativo à existência de causa de exclusão de ilicitude: O agente acredita que existe uma
excludente de ilicitude quando, na realidade, não existe. Assim, aqui, ao contrário do erro
quanto aos pressupostos fáticos, o indivíduo não avalia mal a realidade, mas acredita estar
diante de uma situação que autorizaria a excludente de ilicitude.

Ex.: Indivíduo que acha que pode matar a esposa que o traiu alegando a legítima defesa da honra (o
que não existe no ordenamento jurídico pátrio). Essa discriminante é considerada um erro de proibição
indireto e leva as mesmas consequências do erro de proibição.

(3) Erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude

Ex.: indivíduo acredita que pode atirar 10 vezes em legítima defesa, quando apenas 1 tiro era, na
situação, suficiente para repelir a injusta agressão. Essa discriminante é considerada um erro de proibição
indireto e leva as mesmas consequências do erro de proibição.

Natureza jurídica: Depende da teoria da culpabilidade adotada.


O Código Penal é finalista, sendo que o finalismo adota a teoria normativa pura da culpabilidade.
Esta, é dividida por outras duas: teoria extremada ou limitada da culpabilidade. Estruturalmente, para elas,
a culpabilidade possui os mesmos elementos. A única diferença está no tratamento das descriminantes.

▪ Para a teoria extremada (ou estrita) da culpabilidade: O erro quanto às descriminantes putativas
deverão sempre receber a mesma consequência jurídica do erro de proibição. É o que a doutrina
chama de erro de proibição indireto (o agente sabe que a conduta é proibida, mas acredita estar
acobertado por causa excludente de ilicitude).

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▪ Para a teoria limitada da culpabilidade: O erro quanto às descriminantes putativas poderão receber
o tratamento de erro de tipo, chamado pela doutrina de erro de tipo permissivo (excluindo o fato
típico) ou erro de proibição (excluindo a culpabilidade), a depender da “espécie”:
(i) Se o erro é sobre a situação fática: erro de tipo permissivo;
(ii) Se o erro é sobre a existência ou limites de uma justificante: erro de proibição indireto.

Para a doutrina majoritária, o Código Penal adotou a Teoria Limitada da


Culpabilidade, conforme o item 19 da exposição de motivos do Código Penal.

Vamos complicar um pouquinho mais?

Caso fossem adotados os sistemas clássico ou neoclássico, tanto o erro de proibição inevitável quanto
EVITÁVEL, SEMPRE excluiriam a culpabilidade. Isso porque lá, a exigência era a consciência ATUAL da ilicitude
(que integrava o dolo), então o agente DEVERIA ter consciência concreta da ilicitude da conduta no momento
da prática para que fosse reconhecida sua culpabilidade. Com o finalismo é que se deixou de exigir a
consciência atual para passar a exigir apenas a POTÊNCIAL consciência da ilicitude, possibilitando agora essa
divisão em evitável ou inevitável.

Além das modalidades de erro já citadas, é possível falar em:


● Erro de subsunção: O agente conhece a ilicitude do fato, ou, nas circunstâncias podia conhecê-la,
porém, supõe que seu fato se amolda a um tipo diverso. Recai sobre valorações jurídicas
equivocadas. O agente interpreta equivocadamente o sentido jurídico do seu comportamento.
. NÃO exclui dolo e culpa;
. NÃO isenta o agente de pena;
. Agente responde pelo crime, podendo o erro servir como atenuante.

☠ Questão da prova oral do MPMG 2022.

● Erro provocado por terceiro (art. 20, §2º, CP): No erro de tipo, o agente erra por conta própria. No
erro determinado por terceiro, há terceira pessoa que induz o agente em erro. Consequência:
. Quem determina o erro dolosamente responde por crime doloso; quem determina
culposamente, crime culposo;
. Se foi previsto ou previsível, o agente será responsabilizado por culpa.

● Erro de tipo psiquicamente condicionado (Zaffaroni): Sujeito que, embora capaz, pratica fato típico
sem a capacidade psíquica necessária para conhecer os elementos exigidos pelo tipo objetivo no

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SEMANA 04/18

momento da conduta, por estar em um estado de erro de tipo psiquicamente condicionado, em razão
de fenômenos psicopatológicos (como alucinações ou ilusões).

Ex: Lenhador muito cansado após incessantes horas de trabalho, sofre uma ilusão ótica que lhe faça
perceber uma árvore em lugar de um homem e, ao decidir cortá-la, causa lesões ou morte. Mesmo realizando
conduta típica, não se poderá falar de dolo, já que não se trata de uma conduta final de lesionar ou de matar
e sim de cortar uma árvore. Neste caso estaremos diante de uma incapacidade de conhecer os elementos
requeridos pelo tipo objetivo, proveniente de uma CAUSA PSICOPATOLÓGICA, que não deve ser confundida
com a incapacidade de culpabilidade (inimputabilidade).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;


- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Manual de Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Rogério Sanches Cunha.
- Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto


Alfredo, no dia 01 de abril de 2020, quando andava pelas ruas da região central do pequeno município em
que vivia, cruzou o caminho de Luana, que também era moradora daquele lugar. Luana, por simples picardia
– até porque o fato de Alfredo ser pessoa com deficiência, paciente de saúde mental, era de todos conhecido,
inclusive dela - passou a agredi-lo com tapas violentos e empurrões, momento em que Alfredo, revidando,
bateu em Luana, até fazer com que ela cessasse seus atos. À vista da confusão que se formou, a polícia foi
chamada ao local e conduziu Alfredo à delegacia local. Diante da situação hipotética narrada e, assumindo
que a condição de saúde mental de Alfredo era capaz de afastar totalmente sua capacidade de
discernimento, é CORRETO afirmar que deve ser

A-aplicada a Alfredo medida de segurança detentiva, considerando sua condição de saúde mental e a sanção
cabível para a conduta por ele praticada.
B-aplicada a Alfredo medida de segurança restritiva, em razão da condição de Alfredo e da sanção cabível
para a conduta por ele praticada.
C-reconhecida a ausência de culpabilidade da conduta de Alfredo, em razão de sua condição de pessoa com
deficiência, que lhe afasta a responsabilidade penal, sem aplicação de qualquer sanção jurídico-penal.
D-reconhecida a falta das condições para a imposição de qualquer resposta penal a Alfredo, inexistindo
injusto penal em seu comportamento.

2 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia


Sobre a teoria do erro, analise as afirmações a seguir.
I - Para a teoria extremada do dolo, tanto o erro de tipo quanto o erro de proibição, quando inevitáveis,
sempre excluirão o dolo.
II - A teoria extremada da culpabilidade, empreendida pela doutrina finalista, com a qual surgiu e cujos
maiores representantes foram Welzel, Maurach e Kaufmann, separa o dolo da consciência da ilicitude. Assim,
o dolo, em seu aspecto puramente psicológico (dolo natural), é transferido para o injusto, enquanto a
consciência da ilicitude passa a fazer parte da culpabilidade, num puro juízo de valor. Dolo e consciência da
ilicitude são, portanto, para a teoria extremada da culpabilidade, conceitos completamente distintos e com
diferentes funções dogmáticas.
III - Influenciada pelo sistema finalista de Hans Welzel, a reforma da parte geral do Código Penal brasileiro,
realizada em 1984, rompeu com a tradição jurídico-penal estabelecida até então, que trabalhava com a teoria
limitada da culpabilidade, e passou a adotar a teoria extremada da culpabilidade, defendida pelo renomado
professor da Escola de Bonn, deixando expresso tal opção no item 19 da Exposição de Motivos.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

IV - No erro de tipo, o erro recai sobre o elemento intelectual do dolo – a consciência –, impedindo que a
conduta do autor atinja corretamente todos os elementos essenciais do tipo. É essa a razão pela qual essa
forma de erro sempre exclui o dolo, que, no finalismo, encontra-se no fato típico e não na culpabilidade.
V - A teoria limitada da culpabilidade situa o dolo como elemento do fato típico e a potencial consciência da
ilicitude como elemento da culpabilidade; adota o erro de tipo como excludente do dolo e admite, quando
for o caso, a responsabilização por crime culposo.
Assinale a alternativa correta.

A-Apenas I, II e V estão corretos.


B-Apenas II, III e V estão corretos.
C-Apenas II e V estão corretos.
D-Apenas I, II, IV e V estão corretos.
E-Todos os itens estão corretos.

3 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia


Sobre a legítima defesa, é INCORRETO afirmar:

A-A legítima defesa putativa ocorre quando o sujeito supõe, por um erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, a existência de uma agressão injusta, atual ou iminente, contra bem jurídico (direito) próprio
ou de terceiro.
B-A exigência do meio necessário para configurar a legítima defesa não corresponde à exigência de ‘paridade
de armas’ como meio para repelir uma agressão injusta.
C-Mesmo uma agressão lícita a um bem jurídico (direito) próprio ou de terceiro pode ser repelida mediante
legítima defesa, desde que haja o emprego moderado dos meios necessários.
D-Após quem se defende conseguir cessar a agressão injusta, não é lícito continuar agindo de forma típica,
pois a legítima defesa pressupõe o uso moderado dos meios necessários.
E-Segundo parte da doutrina, mesmo o excesso de legítima defesa pode ser considerado não culpável,
quando for determinado por medo, susto ou perturbação.

4 - 2021 - NC-UFPR - PC-PR - NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia


Assinale a alternativa que contém três excludentes de ilicitude (causas de exclusão ou excludentes de
antijuridicidade).

A-Estrito cumprimento do dever legal, legítima defesa e estado de necessidade.


B-Erro sobre a ilicitude do fato, estado de necessidade e estrito cumprimento do dever legal.
C-Coação irresistível, legítima defesa e consentimento do ofendido.
D-Erro de proibição direto, inimputabilidade por doença mental e obediência hierárquica.

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DELEGADO SÃO PAULO

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E-Obediência hierárquica, estado de necessidade e coação irresistível.

5 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de Polícia Civil Substituto
Durante uma partida de futebol, Rogério agrediu Jonas com um soco, que lhe causou um leve ferimento no
olho direito. No dia seguinte, Jonas vai tirar satisfação com Rogério e, no meio da discussão, saca uma arma
de fogo e parte na direção de Rogério, que, então, retira de sua mochila um revólver que carregava
legalmente e dispara contra Jonas, causando sua morte.
Considerando a situação apresentada, com relação à morte de Jonas, Rogério:

A-responderá por homicídio, ficando, porém, isento de pena por ter atuado no exercício regular de direito;
B-responderá por homicídio, pois provocou a situação em que se encontrava, afastando eventual excludente
de ilicitude;
C-não responderá por homicídio, considerando que agiu em legítima defesa, que é causa de exclusão da
culpabilidade;
D-responderá por homicídio culposo, pois agiu em excesso de legítima defesa;
E-não responderá por homicídio, pois agiu em legítima defesa, o que afasta a ilicitude de sua conduta.

6 - 2021 - INSTITUTO AOCP - PC-PA - INSTITUTO AOCP - 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil
Mário, comerciante, emprestou determinada quantia para Eliseu. Um dia após a data ajustada para o
pagamento, após ser informado por telefone de que Eliseu não teria o montante para quitar o empréstimo,
Mário se dirige à casa do devedor e, clandestinamente, subtrai um notebook no valor da dívida, acreditando
estar amparado por uma causa de justificação que tornaria a sua conduta lícita, qual seja, a dívida vencida.
Considerando os fatos hipotéticos narrados, pode-se afirmar que Mário incorreu em

A-erro de proibição direto que, se escusável, exclui a ilicitude do fato.


B-erro de proibição direto que, caso inescusável, subsiste a culpabilidade, mas a pena deve ser diminuída de
um sexto a um terço.
C-erro de proibição indireto que, se escusável, exclui a culpabilidade do agente.
D-erro de proibição indireto que, caso inescusável, subsiste a culpabilidade, mas a pena deve ser diminuída
de um sexto a dois terços.
E-erro de tipo que, se escusável, exclui o dolo e a culpa, tornando o fato atípico.

7 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Com relação à teoria geral do direito penal, julgue o item seguinte.

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A imputabilidade é a possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração


penal.

Certo
Errado

8 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
Considere os sete critérios enumerados abaixo:

I - Clamor público e relevância social;


II - Determinação objetiva com previsão legal;
III - Residência fixa e comprovante de registro de trabalho;
IV- Contexto social do autor e antecedentes criminais;
V - Critério psicológico;
VI - Fator personalíssimo, psicossocial e natural;
VII - Critério biológico.

Marque a alternativa correta que relacione apenas os critérios que devem ser adotados para a avaliação da
inimputabilidade e/ou imputabilidade em esfera penal, para aquele que praticar uma conduta prevista no
Código Penal.

A-I, II e III.
B-I, IV e V.
C-III, V e VII.
D-II, IV e VII.
E-II, V e VII.

9 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
A legítima defesa e o estado de necessidade possuem similitudes que as os enquadram como excludentes de
ilicitude. Não obstante, suas diferenças implicam em modalidades diversas com conceitos distintos. Em
relação à comparação da legítima defesa e do estado de necessidade, marque a alternativa correta.

A-De acordo com o conceito analítico de crime, para a verificação da atipicidade da conduta, a legitima defesa
e o estado de necessidade devem ser observados para confirmar se a conduta é ou não típica.
B-Na legítima defesa, assim como no estado de necessidade, somente é admitido o excesso culposo.

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C-Em relação ao estado de necessidade, diferentemente da legitima defesa, qualquer excesso será punível,
já que nos casos em que ocorre a legitima defesa não há punição para eventuais excessos na tutela do bem
jurídico do agredido injustamente.
D-No caso do estado de necessidade, é cabível uma agressão injusta na defesa de bem jurídico menos
relevante. Já no caso da legítima defesa, a preservação de bens jurídicos de mesmos valores é promovida
pelo uso da força de quem inicia agressão.
E-A legitima defesa é uma garantia que permite a defesa de interesse legítimo por parte de quem sofre a
agressão injusta a um bem jurídico. Não obstante os interesses em conflito no caso de estado de necessidade,
todos os interesses são considerados legítimos ao se tratar de oposição de bens jurídicos de mesmo valor.

10 - 2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - Delegado de Polícia - Anulado
O Código Penal (CP) trouxe, em seu conjunto de leis, a previsão das excludentes de ilicitude, a saber: o estado
de necessidade, a legítima defesa e o estrito cumprimento de dever legal, além do exercício regular do
direito.
Em relação ao estrito cumprimento do dever legal, seguem-se seis afirmações:

I - Para seu cumprimento, é indispensável o cumprimento do dever legal;


II - Para seu cumprimento, é indispensável o cumprimento do dever ético;
III - A prática da conduta deve ser promovida nos exatos termos da lei;
IV - A ordem da autoridade subsome a lei no cumprimento da ordem emanada por funcionário público;
V - A boa-fé permite a extrapolação da lei para o cumprimento do dever;
VI - Hierarquia e autoridade pública são diplomas supralegais;

Marque a alternativa que contenha somente as afirmações corretas acerca dos elementos caracterizadores
do estrito cumprimento do dever legal.

A-V e VI.
B-II e III.
C-I e III.
D-I e VI.
E-I e IV.

11 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - PC-SE - CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia


Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz,
na frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de
seu pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube
depois de quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos

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amigos, Carlos fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser
socorrida.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.

A culpabilidade de Carlos poderá ser afastada por inexigibilidade de conduta diversa.

Certo
Errado

12 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - PC-SE - CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia


Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz,
na frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de
seu pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube
depois de quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos
amigos, Carlos fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser
socorrida.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.

Carlos agiu sob o pálio da legítima defesa putativa.

Certo
Errado

13 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - PC-SE - CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia


Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz,
na frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de
seu pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube
depois de quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos
amigos, Carlos fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser
socorrida.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.

Carlos agiu sob o pálio da excludente de legítima defesa justificante.

Certo
Errado

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14 - 2018 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal
Em cada item seguinte, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada com
base na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de exclusão da
culpabilidade, concurso de agentes, prescrição e crime contra o patrimônio.
Arnaldo, gerente de banco, estava dentro de seu veículo juntamente com familiares quando foi abordado
por dois indivíduos fortemente armados, que ameaçaram os ocupantes do veículo e exigiram de Arnaldo o
fornecimento de determinada senha para a realização de uma operação bancária, o que foi por ele
prontamente atendido. Nessa situação, o uso da senha pelos indivíduos para eventual prática criminosa
excluirá a culpabilidade de Arnaldo.

Certo
Errado

15 - 2018 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia


O Direito Penal trabalha com a necessidade de se apurar a responsabilidade subjetiva para punir o autor do
crime. No que concerne à responsabilidade objetiva, o Direito Penal

A-admite-a excepcionalmente, quando pune aquele que agiu em estado de completa embriaguez culposa.
B-não a admite, em hipótese alguma.
C-admite-a excepcionalmente, quando determina a punição do coautor particular nos crimes cometidos por
funcionários públicos.
D-admite-a excepcionalmente, quando estabelece a figura dos garantes nos crimes comissivos por omissão.
E-admite-a excepcionalmente, quando estabelece os crimes omissivos próprios.

16 - 2018 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto


Com relação ao erro no Direito Penal, é CORRETO afirmar:

A-Quando, por erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, considerando-se
as qualidades da vítima que almejava. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
ofender, aplica-se a regra do concurso formal: estamos diante da figura conhecida como aberratio criminis.
B-O agente que, objetivando determinado resultado, termina atingindo resultado diverso do pretendido,
responde pelo resultado diverso do pretendido somente por culpa, se for previsto como delito culposo.
Quando o agente alcançar o resultado almejado e também resultado diverso do pretendido, responderá pela
regra do concurso formal, restando configurada a aberratio causae.
C-Mãe que, a fim de cuidar do machucado de seu filho, aplica sobre o ferimento ácido, pensando tratar-se
de pomada cicatrizante, age em erro de proibição.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

D-Fazendeiro que, para defender sua propriedade, mata posseiro que a invade, pensando estar nos limites
de seu direito, atua em erro de proibição indireto.

17 - 2018 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto


Com relação à culpabilidade e suas teorias, é INCORRETO afirmar:

A-A teoria normativa pura, a fim de tipificar uma conduta, desloca a análise do dolo ou da culpa para o fato
típico, transformando a culpabilidade em um juízo de reprovação social incidente sobre o fato típico e
antijurídico e sobre seu autor.
B-O Código Penal vigente adota a teoria limitada da culpabilidade, pela qual as descriminantes putativas
incidentes sobre a existência ou os limites de uma causa de justificação sempre são consideradas erro de
proibição.
C-São elementos da culpabilidade, tanto para a teoria normativa quanto a limitada, a imputabilidade, a
consciência potencial da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.
D-Segundo a teoria psicológica idealizada por Von Liszt e Beling, a imputabilidade é pressuposto da
culpabilidade, fazendo o dolo e a culpa parte de sua análise. Por sua vez, as teorias normativas, seja a
extremada seja a limitada, excluem o dolo e a culpa de sua apreciação.

18 - 2018 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto


Com relação às causas de exclusão da ilicitude, é CORRETO afirmar:

A-Astrogildo colocou cacos de vidro, visíveis, em cima do muro de sua casa, para evitar a ação de ladrões.
Certo dia, uma criança neles se lesionou ao pular o muro da casa de Astrogildo para pegar uma bola que ali
havia caído. Nessa situação, ainda que se tratando da defesa de um perigo incerto e ou remoto, a conduta
de Astrogildo restaria acobertada por excludente da ilicitude.
B-No caso de legítima defesa ou estado de necessidade de terceiros, é imprescindível a prévia autorização
destes para que a conduta do agente não seja ilícita.
C-Caio, lutador de boxe, durante uma luta em que seguia as regras desportivas, atinge região vital de Tício,
causando-lhe a morte. Ante a gravidade da situação fática, a violência não encontra amparo em nenhuma
causa de exclusão da ilicitude, devendo Caio responder pela morte causada.
D-Nos moldes do finalismo penal, pode a inexigibilidade de conduta diversa ser considerada causa supralegal
de exclusão de ilicitude.

19 - 2017 - FCC - PC-AP - FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de Polícia


De acordo com os dispositivos da parte geral do Código Penal, é correto afirmar:

A-Na hipótese de abolitio criminis a reincidência permanece como efeito secundário da prática do crime.

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SEMANA 04/18

B-O território nacional estende-se a embarcações e aeronaves brasileira de natureza pública, desde que se
encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em alto-mar.
C-Crimes à distância são aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um país e o resultado, em outro.
D-O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, isenta de pena; se
inevitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
E-É isento de pena o agente que pratica crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, desde que,
voluntariamente, repare o dano ou restitua a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa.

20 - 2017 - IBADE - PC-AC - IBADE - 2017 - PC-AC - Delegado de Polícia Civil


Acerca do consentimento real do ofendido, é correto afirmar que:

A-o consentimento, para ser válido, pressupõe que o titular do bem jurídico atingido possua capacidade de
entendimento quanto ao caráter e à extensão da autorização.
B-invariável e indiscutivelmente, a vida humana é um bem jurídico indisponível, de sorte que não pode ser
objeto de consentimento para sua extinção.
C-se uma pessoa autoriza que médico aplique determinado medicamento em seu corpo, suportando efeitos
severamente prejudiciais à saúde inerentes ao uso da substância, os quais desconhecia, o consentimento
real se mantém válido, pois é a vítima quem deve buscar todas as informações sobre as consequências de
sua autorização.
D-De acordo com a doutrina de Claus Roxin. o consentimento do ofendido exclui a antijuridicidade da
conduta praticada, jamais recaindo sobre a esfera da tipicidade.
E-em regra, o consentimento deve ser anterior à ação consentida, mas nada impede seu reconhecimento
mesmo quando posterior, como no caso de ausência de representação do ofendido no crime de lesão
corporal leve, hipótese em que o crime deixa de existir.

Respostas5

5
1: D 2: D 3: C 4: A 5: E 6: C 7: C 8: E 9: E 10: C 11: E 12: E 13: E 14: C 15: A 16: D 17: B 18: A 19: C 20: A
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SEMANA 04/18

META 2

DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XXXVII
⦁ Art. 5º, XXXVIII
⦁ Art. 5º, LIII
⦁ Art. 102, I
⦁ Art. 105, I, “a”
⦁ Art. 109, inc. IV a XI
⦁ Art. 124 e 125, §§1º, 4º e 5º
⦁ Art. 144, §1º

CPP:
⦁ Art. 1º a 3º
⦁ Art. 3º-A a 3º-F
⦁ Art. 70 a 91
⦁ Art. 95, II e 108
⦁ Art. 113
⦁ Art. 383, §2
⦁ Art. 394, §3º
⦁ Art. 399, §2º
⦁ Art. 567

CP:
⦁ Art. 5º
⦁ Art. 6º, CP
⦁ Art. 149-A, §1º, IV, do CP

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Art. 9º, Código Penal Militar
⦁ Art. 70, Lei 11.343/06
⦁ Art. 2º, III, Lei 9613/98
⦁ Art. 239, 241-A e 241-B, ECA

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SEMANA 04/18

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XXXVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXVIII, CF/88
⦁ Art. 5º, LIII, CF/88
⦁ Art. 109, IV a XI, CF/88 (alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 3º-B, XIV, CPP
⦁ Art. 3º-C e 3º-D (importantíssimo!)
⦁ Art. 70 a 73 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 76 a 82 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 6º, CP (análise comparativa com o art. 70 do CPP)
⦁ Art. 9º do Código Penal Militar

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio
de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vitima.
Súmula 522-STF: Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência
será da Justiça Federal, compete a justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes
relativos a entorpecentes.
Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é
firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não
importando a qualificação do órgão expedidor.
Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.
Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que
é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula 62-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
carteira de trabalho e previdência social, atribuído à empresa privada.
Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de

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SEMANA 04/18

falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.


Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato
praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias,
quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
Súmula 498-STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o
julgamento dos crimes contra a economia popular.
Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil
denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de
falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de
Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.
Súmula 122-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a do Código
de Processo Penal.
Súmula 147-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Súmula 200-STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso
de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
Súmula 165-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho
cometido no processo trabalhista.
Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre
o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 721-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 451-STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime
cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.
Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados.
Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos
crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência
originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.
Súmula 555-STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de jurisdição entre
juiz de direito do estado e a justiça militar local.

1. MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

Os mecanismos de solução de conflitos são:

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a) Autotutela;
b) Autocomposição;
c) Jurisdição.

1.1 Autotutela

Caracteriza-se pelo emprego da força bruta para a satisfação de interesses.


Em regra, NÃO é admitida, sob pena de configurar o crime de exercício arbitrário das próprias
razões, previsto no art. 345, CP.

CP, art. 345: Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora
legítima, salvo quando a lei o permite.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente
à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante
queixa.

Pergunta-se: Há permissão legal ao exercício da autotutela? R.: SIM. No Direito Penal podemos citar
a previsão da legítima defesa e o estado de necessidade. Já no Direito Processual Penal, temos a prisão em
flagrante.

1.2 Autocomposição

Baseia-se na busca do consenso entre as partes.


Está prevista na Lei n. 9.099/95, a partir dos institutos da composição civil dos danos, transação
penal e suspensão condicional do processo.
A autocomposição NÃO viola o princípio do devido processo legal. Isso porque:
a) os acordos previstos na Lei dos Juizados jamais poderão trazer como consequência uma pena
privativa de liberdade, sendo que, o máximo que a lei autoriza é a celebração de acordos para a
imposição de condições ou de penas não privativas de liberdade (restritivas de direito ou multa);
b) a própria CF (art. 98, I) autoriza e incentiva a criação de Juizados Especiais;
c) não haveria um conflito de interesses propriamente dito, tendo em vista que o Ministério Público
não tem interesse na persecução penal.

1.3 Jurisdição

Juris + Dictio = Direito + Dizer


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A jurisdição é uma das funções do Estado, exercida prioritariamente pelo Poder Judiciário, mediante
a qual o juiz se substitui aos titulares dos interesses em conflito, para aplicar o direito objetivo ao caso
concreto. Em outras palavras: é a tutela imediata de interesses através da aplicação do direito objetivo ao
caso concreto. Trata-se do poder-dever estatal de resolver conflitos, em substituição à vontade das partes.
Nos dizeres de Fernando Capez (2018, p. 252):

“(...) jurisdição é a função estatal exercida com preponderância de pelo Poder


judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um caso
concreto, com a consequente solução do litígio. É o poder de julgar um caso
concreto, de acordo com o ordenamento jurídico, por meio do processo”.

OBS.: Não é exercida exclusivamente pelo Poder Judiciário. Em determinadas situações excepcionais outros
poderes irão exercer, a exemplo do crime de responsabilidade praticado pelo Presidente da República, o qual
compete ao Senado Federal apurar e julgar (art. 52, I, CF).

a) Características:

• Substitutividade: o Estado-juiz atua substituindo a atividade das partes.

A grande exceção que existe à substitutividade é justamente nos procedimentos de jurisdição


voluntária, porque nestes a vontade do Estado-juiz não substitui a das partes, ela na verdade vai integrar,
conferir eficácia jurídica ao desiderato das partes. Então, longe de a jurisdição cumprir aqui um papel
substitutivo, ela cumpriria um papel integrativo. E essa exceção no processo penal está bem pronunciada
quando pensamos na justiça penal negocial, porque quando o juiz homologa um ANPP, uma suspensão
condicional do processo, transação penal, composição civil dos danos no âmbito do JECRIM, a vontade do
juiz não está se sobrepondo a dos pactuantes. Está, na realidade, aderindo à vontade dos pactuantes,
integrando-a, justamente para lhes conferir eficácia jurídica.

• Inércia: os órgãos jurisdicionais, em regra, para atuarem, precisam ser provocados.


• Existência de lide: o exercício da jurisdição pressupõe-se a existência da lide, ou seja, o conflito de
interesses qualificado pela pretensão resistida.
• Imutabilidade: o exercício da jurisdição concluído em uma sentença, que possui caráter definitivo,
exceto previsões legais, a exemplo da revisão criminal pro reo.

b) Princípios:
• Investidura: o exercício da jurisdição exige um juiz regularmente investido no cargo, o que ocorre,
em regra, mediante concurso público de provas e títulos (art. 93, I, CF).
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• Inevitabilidade: a jurisdição não se submete à vontade das partes, ou seja, as partes não podem
escolher se irão ou não se submeter à jurisdição, pois ela se impõe.
• Improrrogabilidade: a prorrogação da competência somente será permitida quando houver previsão
na lei (ex.: casos de conexão e continência).
• Indelegabilidade: não se pode atribuir a outro órgão o poder de julgar, inerente ao Poder Judiciário,
salvo exceções legalmente previstas (ex.: competência do SF para julgar os crimes de
responsabilidade competidos pelo PR – art. 52, I, CF)
• Juiz Natural: o juiz é definido previamente à prática da infração penal, sendo vedada a existência de
juízo ou tribunal de exceção (art. 5, LIII e XXXVII, CF).
• Inafastabilidade: a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito, isso
porque o acesso à justiça também é direito fundamental.
• Unidade: a jurisdição, exercida e manifestada por meio do Poder Judiciário, é única, diferenciando-
se apenas no que diz respeito à sua aplicação e grau de especialização (ex.: civil, penal, federal,
estadual, militar, trabalhista).

Pergunta-se: Diante do princípio do Juiz Natural, como fica a mudança de competência promovida por
lei posterior?
R.: Lei posterior que modifica a competência tem aplicação imediata aos processos em andamento na
primeira instância (art.2º CPP). No entanto, caso já haja sentença de mérito, a causa prosseguirá na jurisdição
em que foi prolatada, salvo se suprimido o Tribunal que deveria julgar o recurso. (STF – HC 76.510).

Pergunta-se: Convocação de juízes de 1ª instancia para atuar nos Tribunais viola o princípio do juiz
natural?
R.: De acordo com o entendimento dos Tribunais Superiores, a convocação de juízes de 1º grau para
substituir desembargadores não viola o princípio do juiz natural, desde que a convocação seja feita na forma
da lei, haja critérios objetivos pré-determinados para a escolha do juiz, e o órgão competente para o
julgamento do recurso seja composto em sua maioria por desembargadores efetivos.

2. COMPETÊNCIA

É o poder conferido pela Constituição ou pela lei a cada juiz para conhecer e julgar determinados
litígios. São regras que vão fixar os limites dentro do quais a jurisdição será validamente exercida. É a medida
da jurisdição, visto que todo juiz possui jurisdição, mas nem todo juiz possui competência.
Nesse sentido, Renato Brasileiro:

(...) é a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá
aplicar o direito objeto ao caso concreto. (LIMA, 2017, p. 329).

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Percebe-se, portanto, que o juiz deve ser natural e imparcial, observando a definição nas leis e
regras de organização judiciária.

2.1 Critérios de fixação da competência

• Competência ratione materiae: fixada em virtude da natureza da infração penal. Ex.: crimes militares
e crimes eleitorais.
• Competência ratione personae: fixada em virtude do sujeito ativo do crime, em virtude do cargo que
exerce ou função que desempenha.
• Competência territorial ou ratione loci: fixada em virtude do local da consumação do delito.
• Competência funcional: fixada em virtude com a função do órgão jurisdicional.

A competência funcional pode ser:


(a) Competência funcional por fase do processo: De acordo com a fase em que o feito estiver,
um órgão jurisdicional diverso exercerá a competência em relação a ele. Ex.: Tribunal do Júri
é um procedimento bifásico.
➢ 1ª fase: indicium accusationis/sumário da culpa – quem atua é o juiz sumariante;
➢ 2ª fase: indicium causae – quem atua é o juiz presidente juntamente com o
conselho de sentença (7 jurados).

OBS.: Recentemente, o Pacote Anticrime introduziu no CPP (arts. 3º-A a 3º-F) uma nova espécie de
competência funcional por fase do processo, qual seja, a divisão funcional entre o juiz das garantias, cuja
competência tem início com a deflagração da investigação criminal e se estende até o recebimento da peça
acusatória, e o juiz da instrução e julgamento, cuja competência tem início tão logo recebida a denúncia (ou
queixa) e se estende, pelo menos em tese, até o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória ou
absolutória.

(b) Competência funcional por objeto do juízo: É aquela em que cada órgão jurisdicional exerce
a competência sobre determinadas questões a serem decididas no processo. Ex.: no Tribunal
do Júri os jurados no conselho de sentença decidem sobre autoria e materialidade; já o juiz
presidente, em regra, é responsável pelas questões de direito, dosimetria da pena,
nulidades, etc.

(c) Competência funcional por grau de jurisdição: É aquela que divide a competência entre
órgãos jurisdicionais superiores e inferiores. Alguns autores classificam:
➢ Competência funcional HORIZONTAL: Os órgãos jurisdicionais estão no mesmo
plano hierárquico. Ex.: Tribunal do Júri.

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➢ Competência funcional VERTICAL: Os órgãos jurisdicionais estão em planos


hierárquicos distintos. Ex.: julgamento de apelação e recursos em geral.

2.2 Competência Absoluta x Competência Relativa

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA INCOMPETÊNCIA RELATIVA


Interesse público (regras previstas na CF). Interesse preponderante das partes (regras
previstas na legislação infraconstitucional).
Improrrogável ou imodificável. Desta forma, Prorrogável ou derrogável. Assim, a conexão e
não pode ser alterada pela conexão e/ou pela a continência poderão modificá-la.
continência.
Inobservância produz nulidade absoluta. Inobservância produz nulidade relativa.

Ada Pellegrini entende que é uma decisão


inexistente (doutrina minoritária).
Pode ser arguida a qualquer momento, Deve ser arguida em momento oportuno, sob
inclusive após o trânsito em julgado de pena de preclusão.
sentença condenatória ou absolutória
imprópria. Portanto, não está sujeita a
preclusão.
Prejuízo é presumido. Prejuízo precisa ser comprovado.
Pode ser declarada de ofício, enquanto não Pode ser declarada de ofício.
houver o esgotamento da jurisdição (art. 494
do CPC/2015: até publicação da sentença). Obs.: A Súmula 33 do STJ (a incompetência
relativa não pode ser declarada de ofício) NÃO
se aplica ao Processo Penal.

Antes da Lei 11.719/08, a incompetência


relativa podia ser declarada de ofício até o
momento da sentença.

Com a adoção do PRINCÍPIO DA IDENTIDADE


FÍSICA DO JUIZ (art. 399, §2º) a incompetência
relativa só pode ser declarada até o início da
instrução processual. Isso porque, se o juiz
realizar a audiencia e a instrução, ele não
poderá enviar para o outro, por conta do

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supracitado princípio, visto que o juiz que faz a


instrução deve ser o mesmo que profere a
sentença.
Induzem incompetência absoluta: Induzem incompetência relativa:
• Ratione materiae • Ratione Loci
• Ratione personae (funcionae) • Por distribuição
• Funcional (é fixada de acordo com a • Por prevenção (Súmula 706 STF)
função que cada um dos órgãos • Conexão/continência
jurisdicionais exerce no processo)

DICA DD: matéria, pessoa e função = MPF


(mnemônico)

Pergunta-se: Quais são as consequências da incompetência absoluta e relativa?


R.: De acordo com o art. 567 do CPP, tem-se que “a incompetência do juízo anula somente os atos
decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente”. Diante
da redação do dispositivo em questão, grande parte da doutrina entende que o art. 567 do CPP, aplica-se
apenas às hipóteses de incompetência relativa, na medida em que, nas hipóteses de incompetência absoluta,
teríamos a anulação dos atos decisórios e também dos atos probatórios.
Não obstante o entendimento doutrinário, a jurisprudência sempre entendeu que, mesmo para os
casos de incompetência absoluta no processo penal, somente os atos decisórios seriam nulos, enquanto os
atos probatórios poderiam ser ratificados, remetendo-se os autos ao juiz competente. No entanto, a partir
do julgamento do HC nº 83.006/SP, o STF passou a admitir a possibilidade de ratificação pelo juízo
competente inclusive dos atos decisórios.
Obs.: O recebimento da denúncia (STF e STJ) é um ato decisório, porque interrompe a prescrição,
então não podemos encarar o recebimento da denúncia como um mero despacho, de impulso processual.
Explica o doutrinador Renato Brasileiro:

“Na dicção do Supremo, tanto a denúncia quanto o seu recebimento emanados de


autoridades incompetentes rationae materiae são ratificáveis no juízo
competente. Como se percebe, prevalece nos Tribunais o entendimento de que os
atos probatórios não devem ser anulados no caso de reconhecimento de
incompetência, sendo possível que até mesmo os atos decisórios sejam ratificados
perante o juízo competente. A questão, a nosso ver, está a merecer nova reflexão
por parte da jurisprudência a partir da inserção do princípio da identidade física do
juiz no processo penal – vide nova redação dada ao art. 399, § 2º, do CPP, por força
da Lei nº 11.719/08 (o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença). Ora,
se doravante o juiz que presidir a instrução deve proferir a sentença, como se pode,
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então, admitir que a prova colhida perante juízo incompetente seja reaproveitada
perante seu juízo natural?”

Súmula 706-STF: É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência


penal por prevenção.

2.3 Regras de fixação de competência

• 1º Regra: Fixar a competência internacional ou nacional.


• 2ª Regra: Fixada a nacional, verificar se a competência é especial (Militar ou Eleitoral) ou comum
(Federal ou Estadual).
• 3ª Regra: Verificar o órgão hierarquicamente competente e se o acusado tem foro por prerrogativa
de função.
• 4ª Regra: Verificar o foro territorialmente competente.
• 5ª Regra: Verificar o juízo competente, se vara comum ou Júri, por exemplo.

3. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO (JMU) E DOS ESTADOS (JME)

Embora a competência da Justiça Militar da União não seja objeto de nosso estudo, alguns pontos
são relevantes abordarmos alguns aspectos, pois houve uma mudança significativa em 2017 e tem efeitos
práticos.

A competência da Justiça Militar deve ser estudada com cautela, principalmente pela intervenção
das Forças Armadas e pelas alterações feitas pela Lei 13.491/17.
Inicialmente, observe o art. 124 da CF, que trata da JMU, e o art. 125, §4º da CF, que trata da JME:

Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.

Art. 125, § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos
Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente,
os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de
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direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda


Constitucional nº 45, de 2004).

a) Justiça Militar da União:


• Responsável por julgar:
⦁ Militares da União (ativos das Forças Armadas);
⦁ Civis (civis, militares estaduais, militares da reserva e reformados das forças armadas).
Obs.: STF e STJ adotam interpretação restritiva para o julgamento de civis.
• A Justiça Militar da União NÃO TEM competência cível.
• A Justiça Militar da União é composta por apenas 01 órgão: Conselho de Justiça (composto por 01
juiz auditor + 04 oficiais).
TODOS os crimes são julgados pelo Conselho. O juiz-auditor não tem competência
singular para julgar crimes (não pode julgar sozinho).

b) Justiça Militar dos Estados


• Responsável por julgar Militares dos Estados (PM, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária Estadual).
• NÃO julga civil. Nesse sentido a Súmula 53 STJ.

Cuidado: Esse entendimento se aplica apenas para a Justiça Militar dos Estados. Isso porque, em tese, a
Justiça Militar da União pode julgar tanto militares quanto civis, posto que a Constituição Federal não fez
nenhuma ressalva.

Súmula 53 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil


acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais.

• A condição deve ser aferida no momento do delito.


• Tem competência cível. Julga as ações judiciais contra atos disciplinares militares.
• Caso de um crime conexo, praticado por um militar e um civil, deve haver a cisão processual. Nesse
sentido a Súmula 90 STJ.

Súmula 90 STJ: Compete a justiça estadual militar processar e julgar o policial militar
pela pratica do crime militar, e a comum pela pratica do crime comum simultâneo
aquele

Vamos esquematizar?

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS

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Tem como critério para fixação de Possui dois critérios para fixação sua competência:
competência apenas a matéria (ratione ratione materiae e ratione personae.
materiae). Julgando os crimes militares
definidos em lei. A condição de militar estadual deve ser aferida com
base em sua condição no “momento do delito”, e
não no processo criminal.
Não tem competência civil. Tem competência civil.

Como saber se a competência será da Justiça Militar?


Para a definição da competência da justiça militar, faz-se necessária a observância do:
a) Critério subjetivo: delito praticado por militar em atividade, em serviço ou não.
b) Critério objetivo: vulneração de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a ser analisado
no caso concreto. O art. 124 da CF/88 adotou, portanto, a tipificação do delito como critério
objetivo para definir se a competência é, ou não, da Justiça Militar. Desse modo, a
competência para julgar o fato será da Justiça militar sempre que a lei considerar determinado
crime como sendo militar.

A lei que define quais são os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/1969).
⦁ No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares em tempo de paz.
⦁ No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra.

Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência
da Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos art. 9º e art. 10 do CPM.

Crimes militares em tempo de paz

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


I - Os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei
penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição
especial;

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando


praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado,
ou civil;
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de


natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração
militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada
pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob
a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra
as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no
inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar,
no exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em
função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e
preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente
requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.

§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação
dada pela Lei nº 13.491, de 2017)

§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça
Militar da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº 13.491, de
2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente
da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº
13.491, de 2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar,
mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da


ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto
no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas
legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
o
a) Lei n 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº
13.491, de 2017)
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal
Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
o
d) Lei n 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº
13.491, de 2017)

Crimes militares em tempo de guerra


Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:
I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra;
II - os crimes militares previstos para o tempo de paz;
III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual
definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o
agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a
eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra
a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo;

IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos


neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em
território estrangeiro, militarmente ocupado

A Lei 13.491/2017 alterou o Código Penal Militar em dois dispositivos:


1) Art. 9º, II: autoriza a Justiça Militar a julgar crimes previstos na legislação penal;
2) Art. 9º, §2º: prevê a competência da Justiça Militar da União para julgar crimes dolosos contra vida,
ainda que praticados contra civil, atendidas as condições previstas em lei (incisos I a III).

Obs.: crimes dolosos contra vida contra civil, cometidos por militares do ESTADO serão de competência
do Tribunal do Júri (art. 9, §1º).

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


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SEMANA 04/18

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando


praticados:

O art. 9º, inciso II prevê que serão considerados crimes militares os crimes previstos no Código Penal
Militar e os previstos na legislação penal, quando praticados em determinadas situações.
Primeiramente, cabe estabelecer quais são os crimes previstos no Código Penal Militar e previstos
na legislação penal.
Em segundo lugar, note que, em diversas hipóteses, o CPM utiliza a expressão “em situação de
atividade ou assemelhado”. Essa expressão traduz um elemento subjetivo, qual seja, a condição de militar.
Ou seja: o inciso II do art. 9º do CPM fornece definição de crime militar que traz consigo um elemento
subjetivo, qual seja a condição de militar.
No entanto, o que significa “militar em situação de atividade”? O Código Penal Militar traz um norte
para a definição. Em interpretação autêntica, ele diz:

Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer
pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas,
para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar.

A Constituição Federal também parece caminhar no mesmo sentido:

Art. 142. (...) § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes
disposições:

II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil


permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será
transferido para a reserva, nos termos da lei;
II - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou
função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta,
ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará agregado ao
respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser
promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para
aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos de
afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei;
(...)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;

Militar da ativa é o mesmo que militar em serviço? Em outras palavras: Para os fins do art. 9º, II,
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

do CPM, quando se fala em “militar em situação de atividade” exige-se que ele esteja em exercício efetivo?
Exige-se que o militar esteja trabalhando no momento dos fatos?
O tema é polêmico.
1ª C: NÃO.
∘ Militar em serviço: Exige-se que, no momento da conduta, o agente esteja no exercício efetivo
de atividade militar. Ex.: art. 202 do CPM - Embriaguez em serviço.
∘ Militar em situação de atividade (militar da ativa): São os militares que estão em atividade, ou
seja, aqueles que não estão na reserva. Não importa para esse conceito saber se o militar estava
ou não de folga.

Não há incompetência da Justiça Militar, uma vez que tanto o recorrente quanto
as vítimas eram policiais militares da ativa, embora o acusado estivesse de folga
durante a prática delitiva. STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 91.473/RJ, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 15/03/2018.

2ª C: SIM.
∘ Para que seja considerado crime militar e, portanto, de competência da Justiça Militar, exige-se
que, além da qualidade de militar da ativa, a prática da conduta tenha ocorrido durante o
exercício efetivo do serviço militar. Assim, compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e
vítima sejam militares, desde que ambos estejam em serviço e em local sujeito à administração
militar.

O mero fato de a vítima e de o agressor serem militares não faz com que a
competência seja obrigatoriamente da Justiça Militar. O cometimento de delito por
militar contra vítima militar somente será de competência da Justiça Castrense nos
casos em que houver vínculo direto com o desempenho da atividade militar. STF.
1ª Turma. HC 135019/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/09/2016 (Info 840).

O crime imputado foi praticado por militar contra militares, porém fora de situação
de atividade e de local sujeito à administração militar, o que atrai a competência
da Justiça comum. STF. 2ª Turma. HC 131076, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
01/12/2015

3ª C: INTERMEDIÁRIA
∘ Para a definição da competência da justiça militar, faz-se necessária a observância do critério
subjetivo (delito praticado por militar em atividade, em serviço ou não), aliado ao critério
objetivo (vulneração de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a ser analisada no caso
concreto). STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2020 (Info
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

675)

Ex.: João, policial militar, estava em sua casa, de folga. Ele e a esposa começaram a discutir por
ciúmes e João, embriagado, ameaçou matar a esposa. Com medo, a mulher se trancou no
banheiro e ligou para a polícia. Rapidamente foi deslocada uma viatura com dois policiais
militares para atender a ocorrência. Quando os policiais chegaram ao local, o agressor fugiu,
mas antes atirou contra eles e contra a viatura. Um dos policiais foi, inclusive, atingido pelos
disparos. João foi acusado de tentativa de homicídio. Quem será competente para julgar essa
tentativa de homicídio? R.: Justiça Militar.

∘ A fuga e a resistência do policial militar, contextualizada com disparos de arma de fogo contra
colegas e contra viatura da corporação, são suficientes para configurar a vulneração da
regularidade da Polícia Militar, cujo primado se pauta pela hierarquia e disciplina.

Na definição da competência da Justiça Militar, considera-se o critério subjetivo do


militar em atividade, em serviço ou não, aliado ao critério objetivo, do bem ou
serviço militar juridicamente tutelado Para a definição da competência da justiça
militar, faz-se necessária a observância do: • critério subjetivo (delito praticado por
militar em atividade, em serviço ou não), • aliado ao critério objetivo (vulneração
de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a ser analisada no caso concreto).
STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2020
(Info 675)

ATENÇÃO AO JULGADO:
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro
quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime Compete à Justiça comum
(Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro quando ambos estejam fora
do serviço ou da função no momento do crime. Caso concreto: Francisco era soldado da Polícia Militar do
Estado do Maranhão. Samuel era cabo da Polícia Militar do Estado do Piauí. Determinado dia, Francisco, que
se encontrava de férias, passeava em Teresina (PI). Samuel percebeu que Francisco estava armado e, mesmo
estando de folga, abordou o soldado indagando sobre a arma. Iniciou-se uma discussão e Francisco atirou
três vezes contra Samuel, que faleceu em razão dos disparos. A vítima e o réu - ambos policiais militares à
época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a discussão. Logo, não se pode falar que houve
crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela Justiça Comum estadual (Tribunal do Júri). STJ. 3ª
Seção. CC 170201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

ATENÇÃO:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Com as mudanças produzidas pela Lei 13.491/2017 algumas súmulas foram superadas ou perderam a razão
de ser:

Súmula 172 STJ – Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade,
ainda que praticado em serviço. [Agora o abuso de autoridade será julgado pela JM].

Súmula 6 STJ – Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de
trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de
atividade. [Se o militar da PM estiver em serviço, resultando do acidente lesão ou morte culposa de um civil,
trata-se de crime militar].

Súmula 75 do STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de
promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal. [Poderá ser julgado pela JME].

Súmula 90 do STJ – Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do
crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele. [Fala-se que a súmula está
superada pois, após a Lei 13.491/2017, todos os crimes praticados por militar no exercício da função, estejam
eles no Código Penal Militar ou no Código Penal, serão considerados crimes militares a serem julgados pela
Justiça Militar].

Súmula 47 do STJ – Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com
emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço. [Com a Lei 9.299/96 revogando
a alínea “f” do art. 9, esta súmula restou superada].

Importante consignar que as contravenções penais, ainda que praticadas por militar em serviço, não
serão julgadas pela JM.

4. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL

A Justiça Federal é considerada uma justiça comum, mas seu status é constitucional, já que as
hipóteses estão previstas no art. 109 da CF.
Ressalta-se que se trata de ROL TAXATIVO. Veja a jurisprudência sobre o tema:

O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai
a competência da Justiça Federal. Em regra, compete à Justiça Estadual julgar o
crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o
agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição para o
Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso se
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE


1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936).

Aqui, analisaremos:

Art. 109, IV Crimes políticos, infrações em detrimento de bens, serviços ou


interesse da união ou suas entidades autárquicas e empresas públicas;

Art. 109, V Crimes previstos em tratado ou convenção internacional desde que


iniciada a execução no país o resultado tenha ou devesse ter ocorrido
no estrangeiro ou reciprocamente;
Art. 109, V-A Crimes relativos a direitos humanos;

Art. 109, VI Crimes contra a organização do trabalho e quando a lei dispuser,


contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

Art. 109, IX Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves;

Art. 109, XI Crimes relativos à disputa de direitos indígenas.

OBS.1: Cuidado para não confundir competência da Justiça Federal com atribuições investigatórias
da Polícia Federal. As atribuições da Polícia Federal são mais amplas, conforme o §1º do art. 144 da CF. Ex.:
tráfico interestadual e roubo de cargas podem ser investigados pela PF e julgados pela JE.

CF Art. 144, §1º. A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar
infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual
ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

CAIU EM PROVA:

(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): Havendo repercussão interestadual que exija repressão
uniforme, o delegado da Polícia Federal poderá apurar crimes cuja apuração seja de competência da justiça
estadual, não havendo mácula apta a invalidar a produção de prova- item considerado correto.

OBS.2: A Justiça do Distrito Federal é a competente para julgar o crime de falso testemunho
praticado em processos sob sua jurisdição
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

O TJDFT faz parte do Poder Judiciário da União. Mesmo assim, se for praticado falso
testemunho em processo que ali tramita, a competência será da Justiça do Distrito
Federal (e não da Justiça Federal comum). Isso porque a Justiça do Distrito Federal
possui competência para julgar crimes, não havendo interesse direto e específico
da União a atrair o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 166732-DF, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 681).

4.1 Crimes Políticos

• Antes da CF/88 – competência da Justiça Militar (art. 30, Lei 7170/83).


• Com da CF/88 – competência da Justiça Federal.

 O art. 30 da Lei nº 7.170/83 afirma que os crimes contra a Segurança Nacional são de competência
da Justiça Militar. Este dispositivo não foi recepcionado pelo art. 109, IV, da CF/88, ou seja, a regra
ali exposta não é mais válida. Assim, com a CF/88, os crimes previstos na Lei de Segurança Nacional
passaram a ser de competência da Justiça Federal Comum (Juiz Federal de 1ª instância).
 A Lei nº 7.170/83 foi revogada pela Lei 14.197/21.

Requisitos para ser crime político:


1. Estar previsto no Título XII do Código Penal “DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO” [Com o advento da Lei 14.197/21 que inseriu o novo título ao CP e revogou a Lei 7.170/83
- Lei de Segurança Nacional];
2. Ter motivação política [conforme entendimento da jurisprudência ainda à luz da Lei 7.170/83].

Inf. 885, 1ª T. STF (2017): O réu ingressou clandestinamente em uma Usina


Hidrelétrica e alterou a posição da chave da bomba de alta pressão de óleo. O MPF
denunciou o agente pela prática do delito de sabotagem, previsto no art. 15 de Lei
de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83), que consiste em crime político.

O STF entendeu que não houve crime político considerando que:


1) Não houve lesão real ou potencial a um dos bens jurídicos listados no art. 1º da Lei nº 7.170/83
(requisito objetivo); e
2) O agente não tinha motivação política (requisito subjetivo).

Além disso, o Tribunal entendeu que se tratava de crime impossível, considerando que essa alteração
da posição da chave não tinha condão de provocar qualquer embaraço ao funcionamento da Usina. STF. 1ª
Turma. RC 1473/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2017 (Info 885).
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Para que se configure crime político, além de a conduta estar enquadrada em um dos tipos previstos
no Título XII do Código Penal (após a Lei 14.197/21), exige-se também que fique comprovada a motivação
política do agente. Assim, para que seja crime político, exige-se um especial fim de agir do réu (“dolo
específico”), que é a motivação política do agente.
Cabe destacar, ainda, o disposto no art. 359-T, que configura uma causa de atipicidade da conduta,
quando o ato for praticado em manifestação crítica, atividade jornalística ou qualquer manifestação política
com propósitos sociais.

Art. 359-T. Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos
poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos
e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de
aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos
sociais.

4.2 Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da união ou de suas
entidades autárquicas ou empresa pública

Salienta-se que a lesão deve ser direta e imediata. Assim, tratando-se de uma lesão indireta/reflexa,
a competência será da Justiça Comum Estadual. Nesse sentido a Súmula 107 do STJ.

Súmula 107 STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de
estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das
contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal.

Algumas hipóteses:

1) Por vislumbrar malferimento a bens, serviços e interesses da União e da ANEEL, compete à Justiça
Federal julgar crime relacionado ao apagão ocorrido no Estado do Amapá (STJ. CC 177.048, 3ª
Seção, julgado em 12.03.2021).

2) Fraude eletrônica em detrimento de correntista da Caixa Econômica Federal, cuja agência está
localizada em São Paulo e os saques fraudulentos são realizados em Curitiba: Competência da
Justiça Federal
Vamos analisar o caso em detalhes!
Inicialmente, cabe destacar que o emprego de fraude eletrônica para obtenção de valores de conta
de terceiro pode caracterizar um furto qualificado pelo emprego de fraude (art. 155, §4º, II do CP) ou um
estelionato (art. 171 do CP). No estelionato, a vítima é enganada e ela mesma entrega a vantagem para o

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

agente. No furto mediante fraude, geralmente através de um vírus, o agente consegue captar a senha da
vítima e passa a movimentar a conta.
No caso acima, trata-se um furto qualificado mediante fraude. Para a jurisprudência, como a fraude
foi usada para burlar o sistema de vigilância do banco, quem suportará o prejuízo financeiro é a instituição
bancária.
Logo, o sujeito passivo do crime é a instituição bancária, pois ela que teve o sistema de segurança
violado e, por isso, a competência é da Justiça Federal.
Pergunta-se: Nesse caso, qual foro competente? R.: O delito de furto consuma-se no local em que a
coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima, ou seja, a competência territorial será determinada
em virtude do local onde mantida a conta corrente. (Art. 70 CPP). Portanto, no exemplo, será julgado em São
Paulo.

OBS.: O mero FINANCIAMENTO da Caixa Econômica Federal NÃO atrai a competência para a Justiça Federal.
Diferente seria se a CEF atuasse como EXECUTORA ou FISCALIZADORA das obras, hipótese em que atrairia a
competência para a Justiça Federal.

Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa


Minha Vida pelo simples fato de a CEF ter atuado como agente financiador da
obra
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de
construção de moradias de programa habitacional popular, nas hipóteses em que
a Caixa Econômica Federal atue, tão somente, na qualidade de agente financiador
da obra. O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de
atrair, por si só, a competência da Justiça Federal. Isto porque para sua
responsabilização não basta que a entidade figure como financeira. É necessário
que ela tenha atuado na elaboração do projeto ou na fiscalização da segurança e
da higidez da obra. STJ. 3ª Seção.CC 139197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado
em 25/10/2017 (Info 615).

3) Roubo contra Casa Lotérica: Competência da Justiça Estadual, pois se trata de uma pessoa jurídica
de direito privado. Trata-se de uma permissionária de serviço público.

4) Roubo contra agência dos Correios:


Se o crime for praticado em detrimento de uma FRANQUIA dos Correios, a competência será da
Justiça Estadual. Lado outro, se o crime for cometido contra o próprio ente da Administração Indireta Federal
ou um carteiro, a competência será da Justiça Federal (STJ HC 39200).

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Fique atento à jurisprudência:

Compete à Justiça Federal julgar crime contra a vida em desfavor de policiais


militares, consumado ou tentado, praticado no contexto de crime de roubo
armado contra órgãos, autarquias ou empresas públicas da União.
Compete à Justiça Estadual julgar o crime de homicídio praticado contra policiais
militares estaduais, ainda que no contexto do delito federal de contrabando (STJ.
3ª Seção. CC 153.306/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 22/11/2017). Ex: o sujeito ativo trazia cigarros importados em seu
veículo e, para fugir de uma blitz, atirou e matou um dos policiais militares. Situação
diversa, entretanto, é aquela em que o crime contra a vida em desfavor de
agentes estatais, consumado ou tentado, é praticado no contexto de crime de
roubo armado contra órgãos, autarquias ou empresas públicas da União. Isso
porque, nesta hipótese, a íntima relação entre a violência, elementar do crime de
roubo, e o crime federal (roubo armado) atrai a conexão. Ex: o sujeito ativo
cometeu roubo contra os Correios; depois de consumado, passou a ser perseguido
por policiais militares e atirou contra eles, matando um e ferindo o outro. O roubo
e os delitos de homicídio serão julgados conjuntamente pela Justiça Federal. STJ.
3ª Seção. CC 165117-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/10/2019 (Info
659).

5) Crime cometido em detrimento da FUNASA: Competência da Justiça Federal, uma vez que a
FUNASA é uma Fundação Pública Federal que, de acordo com o STF, é uma espécie de autarquia
federal.

6) Crime cometido em detrimento da OAB: Competência da Justiça Federal, uma vez que o STF
entende que a OAB possui natureza jurídica sui generis.

7) Crime contra o Banco do Brasil: Competência da Justiça Estadual, tendo em vista que o Banco do
Brasil é uma sociedade de economia mista.
Nesse sentindo, a Súmula 42 do STJ:

Súmula 42 - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis


em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu
detrimento.

CAIU EM PROVA:
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

(Delegado de PCMG 2021) Num crime de estelionato praticado em Belo Horizonte contra uma agência
bancária do Banco do Brasil S.A, no qual o agente obteve vantagem financeira, é CORRETO afirmar que a
competência para a ação penal é da Justiça Estadual (item considerado correto).

8) Crimes contra bens tombados: Deve-se analisar o responsável pelo tombamento do bem.
Quando o bem tiver sido tombado pela União a competência será da Justiça Federal. Por outro lado,
a competência será da Justiça Estadual quando o bem tiver sido tombado pelo Município, pelo Estado ou
pelo DF.

9) Crime cometido contra consulado estrangeiro: Competência da Justiça Estadual.

10) Desvio de verba federal:


Se as verbas federais ainda estiverem sujeitas à prestação de contas, a competência será da Justiça
Federal.

Súmula 208 do STJ - Compete à Justiça Federal processar e julgar Prefeito Municipal
por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal (TRF).

Por outro lado, quando não há mais prestação de contas, estando a verba incorporada, a
competência será da Justiça Estadual.

Súmula 209/STJ - Compete à Justiça Estadual processar e julgar Prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

11) Falsificação de moeda estrangeira: Competência da Justiça Federal, tendo em vista que atinge o
Banco Central do Brasil (autarquia federal) a quem incumbe fiscalizar a circulação de moeda
estrangeira no Brasil.
Cuidado com a jurisprudência do STJ:

Os crimes relacionados com pirâmide financeira envolvendo criptomoedas são,


em princípio, de competência da Justiça Estadual. Ausentes os elementos que
revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de
interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes
relacionados a pirâmide financeira em investimento de grupo em criptomoeda. A
captação de recursos decorrente de “pirâmide financeira” não se enquadra no
conceito de atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a
Justiça Federal se justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

de lavagem de dinheiro em detrimento de bens e serviços ou interesse da União.


STJ. 3ª Seção. CC 170392-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020
(Info 673).

12) Crime cometido contra (ou por) funcionário público federal:


Quando o crime tiver sido praticado em razão da função, a competência será da Justiça Federal.

Súmula 147/STJ - Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados


CONTRA (E POR) funcionário público federal, quando relacionados com o exercício
da função.

Atente-se que é indispensável o nexo funcional entre o crime e as funções exercidas pelo funcionário
público. Inclusive, o STJ tem jurisprudência nesse sentido:

Compete à Justiça Estadual julgar homicídio praticado por Policial Rodoviário


Federal após desavença no trânsito ocorrida no seu deslocamento de casa para o
trabalho
Policial Rodoviário Federal, durante o trajeto de sua casa para o trabalho, envolveu-
se em uma desavença no trânsito com o condutor de um veículo que dirigia sem
respeitar a sinalização e em alta velocidade. O Policial efetuou disparos que
resultaram na morte do condutor. A competência para julgar essa acusação de
homicídio é da Justiça Estadual. A competência da Justiça Federal pressupõe a
demonstração concreta das situações veiculadas no art. 109 da CF/88. A mera
condição de servidor público não basta para atraí-la, na medida em que o interesse
da União há de sobressair das funções institucionais, não da pessoa do agente. A
infração penal cometida pelo réu no deslocamento até o local de trabalho não
guarda qualquer vinculação com o exercício das funções de Policial Rodoviário
Federal. STF. 1ª Turma. HC 157012/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/12/2019 (Info 963).

13) Crime contra o meio ambiente: Em regra, são crimes de competência da Justiça Estadual.
OBS.: Por muitos anos, vigorou a Súmula 90 do STJ, cujo teor era: “Compete a Justiça Federal
processar e julgar os crimes praticados contra a fauna”. Contudo, a Súmula foi cancelada, pois com a CF/88
e Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), firmou-se o entendimento de que a preservação do meio ambiente
é de interesse de toda a coletividade e não apenas da União.

Exceções que configuram competência da Justiça Federal:

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

a) Crimes ambientais e contra a vida decorrentes do rompimento da barragem em Brumadinho/MG


(RHC 151.405-MG, 6ª Turma, julgado em 19/10/2021)

Em 2021, o STJ firmou a competência da JF no caso, ao argumento foi o de que haveria ofensa a bem
e interesse direto e específico de órgão regulador federal e da União pelas seguintes razões: 1) as Declarações
de Estabilidade da Barragem, apresentadas ao antigo DNPM (autarquia federal), seriam ideologicamente
falsas; 2) os acusados teriam omitido informações essenciais à fiscalização da segurança da barragem, ao não
fazê-las constar do SIGBM, sistema de dados acessado pela Agência Nacional de Mineração - ANM; e 3) com
o rompimento da barragem, houve supostamente danos a sítios arqueológicos, que são classificados como
bens da União (art. 20, X, da CF/88). STJ. 6ª Turma. RHC 151405-MG, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 19/10/2021 (Info 714).

Cuidado: O Ministro Edson Fachin, em decisão monocrática, reformou o acórdão do STJ e decidiu
que cabe à Justiça ESTADUAL de Minas Gerais processar e julgar a ação penal.
O Ministro Fachin citou jurisprudência do STF no sentido de que, para que ocorra a competência da
Justiça Federal, é necessário que reste demonstrado o interesse direto e específico, não bastando o interesse
genérico de coletividade. Do mesmo modo, o STF entende que a competência da Justiça Federal para julgar
o crime de falsificação de documentos somente se dá quando for comprovada a intenção do agente em
causar lesão a bens, interesse ou patrimônio da União. No caso de Brumadinho, o ministro ressaltou que a
emissão de declarações falsas sobre as condições de estabilidade foi apenas uma conduta para amparar as
decisões corporativas que, deliberadamente, desconsideravam o risco qualificado. Para ele, as condutas
atribuídas aos denunciados (diversos homicídios e crimes ambientais ocasionados pelo rompimento da
barragem) não tinham por objetivo final atingir interesse direto e específico da União, cujo prejuízo foi
apenas indireto. STF. Decisão monocrática. RE 1378054-MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 06/06/2022.
Fonte: Dizer O Direito.

b) Pesca proibida (período) em mar territorial. Mar territorial é bem da União.

c) Crime praticado no Rio Real, na divisa de Sergipe e Bahia. Rio que faz divisa ou fronteira é bem da
União.

d) Extração ilegal de recursos minerais, ainda que realizada em propriedade particular. Recursos
minerais são bens da União.

e) Cativeiro de animais da fauna exótica. Segundo o STF e STF, atenta contra um serviço de fiscalização
do IBAMA, que configura uma autarquia federal.

Para ser crime da competência da JC Federal (STF, Plenário. RE/RG 835558-SP – 2017):
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

• Tem que envolver animais silvestres, ameaçados de extinção, espécies exóticas, ou


protegidos por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
• Tem que ter caráter transnacional.

f) Crimes ambientais relacionados com organismos geneticamente modificados. Ex.: Cultivo de soja
transgênica em desacordo com a legislação vigente. STJ CC 41301.

g) Crimes praticados em Unidade de Conservação Federal. Veja a jurisprudência sobre o tema:

Se o crime ambiental for cometido em unidade de conservação criada por decreto


federal, a competência para julgamento será da Justiça Federal tendo em vista que
existe interesse federal na manutenção e preservação da região. Logo, este delito
gera possível lesão a bens, serviços ou interesses da União, atraindo a regra do art.
109, IV, da Constituição Federal. STJ. 3ª Seção. CC 142.016/SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 26/08/2015. Por outro lado, não haverá
competência da Justiça Federal se o crime foi praticado dentro de área de proteção
ambiental criada por decreto federal, mas cuja fiscalização e administração foi
delegada para outro ente federativo: No caso, embora o local do dano ambiental
esteja inserido na Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São Bartolomeu,
criada pelo Decreto Federal n. 88.940/1993, não há falar em interesse da União no
crime ambiental sob apuração, já que lei federal subsequente delegou a fiscalização
e administração da APA para o Distrito Federal (art. 1º da Lei n. 9.262/1996). 3.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara Criminal
e Tribunal do Júri de São Sebastião/DF, o suscitado. STJ. 3ª Seção. CC 158.747/DF,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/06/2018.

OBS.: Floresta Amazônica, Serra do Mar, Pantanal Mato-grossense, Zona Costeira e Mata Atlântica fazem
parte do Patrimônio Nacional, o que NÃO se confunde com o patrimônio da União. Por isso, os crimes
praticados nos locais citados serão julgados e processados pela Justiça Estadual.

14) Crimes de Contrabando e Descaminho: Competência da Justiça Federal, pois atraem o interesse
direto da União, motivo pelo qual são julgados pela justiça Federal.
Fique atento à jurisprudência:

Justiça Federal é competente para julgar venda de cigarro importado, permitido


pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento
do imposto de importação

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento


do delito previsto no art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de
mercadoria estrangeira, permitida pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e
sem comprovação de pagamento de imposto de importação. STJ. Plenário. CC
159680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info
631). Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de
descaminho, ainda que inexistentes indícios de transnacionalidade na conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 160748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
26/09/2018 (Info 635).

15) Crimes contra a fé pública: Há algumas regras específicas para determinar a competência nos crimes
contra a fé pública. A seguir veremos cada uma delas.

• FALSIFICAÇÃO: competência fixada de acordo com O ÓRGÃO RESPONSÁVEL PELA EMISSÃO DO


DOCUMENTO.

 CNH: Justiça Estadual, uma vez que é emitida pelo DETRAN.


 CPF: Justiça Federal, uma vez que é emitido pela Receita Federal.
 Diploma de curso superior de estabelecimento de ensino particular: Justiça Federal, uma vez
que envolve o Ministério da Educação.
 Documento relativo a estabelecimento particular de ensino: Justiça Estadual, conforme Súmula
104, STJ.
 Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Arrais-Amador (CHA),
emitidos pela Marinha do Brasil para que se possa pilotar pequenas embarcações: Justiça
Federal (e não Justiça Militar), conforme a SV 36.

• USO DE DOCUMENTO FALSO: competência será determinada com base na PESSOA PREJUDICADA
PELO USO, pouco importando o órgão emissor do documento.
Imagine, por exemplo, que João, em uma blitz do órgão municipal de trânsito, apresentou sua
Carteira de Habilitação falsificada. O agente de trânsito, percebendo a falsificação, chamou um PM e João foi
preso em flagrante por uso de documento falso (art. 304 do CP). Trata-se de competência da Justiça Estadual.
Isso porque o uso do documento falso foi utilizado para iludir o serviço de segurança viária realizado pelo
Município. Logo, não há nenhum interesse federal no crime praticado, não sendo competência da Justiça
Federal por não se enquadrar em nenhuma das hipóteses do art. 109 da CF/88. Diferentemente seria se João
apresentasse documento falso numa blitz realizada pela Polícia Rodoviária Federal, hipótese em que atrairia
a competência da Justiça Federal.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de


documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado
o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.

• USO DE DOCUMENTO FALSO PELO MESMO AUTOR DA FALSIFICAÇÃO: aplicação do Princípio da


Consunção, tendo em vista que o crime de uso de documento falso é mero exaurimento da
falsificação anterior. Assim, a competência será determinada de acordo com o ÓRGÃO QUE EXPEDE
O DOCUMENTO, independentemente da pessoa prejudicada pelo seu uso.

• FALSIFICAÇÃO OU USO DE DOCUMENTO FALSO COMO CRIME MEIO PARA A PRÁTICA DE UM CRIME
FIM: também se aplica o Princípio da Consunção, tendo em vista que que o crime de falso é apenas
um meio para a prática de outro crime posterior (crime fim). Nesse sentido, a competência será
determinada de acordo com o SUJEITO PASSIVO DO CRIME FIM.

ATENÇÃO:
1) Contravenções Penais:
Pergunta-se: Quem processa e julga as contravenções praticadas contra a União, Autarquia e
Empresa Pública Federal? R.: Serão julgadas pela Justiça Estadual em todas as hipóteses, mesmo que
conexas com crime de competência da federal, conforme art. 109, IV da CF.
Exceção: Contravenção praticada por agente com foro por prerrogativa de função. A contravenção
então poderá ser julgada na justiça federal → só há julgamento de contravenção penal pela JF em 2ª
instância.

CF Art. 109, IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento


de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Súmula: 38/STJ - Compete a justiça estadual comum, na vigência da Constituição


de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento
de bens, serviços ou interesse da união ou de suas entidades.

2) Execução Penal: Competência é fixada com base na natureza do estabelecimento prisional. É


irrelevante saber de qual Justiça proveio a condenação.
• Condenado federal cumprindo pena em estabelecimento prisional estadual: Justiça Estadual.
• Condenado estadual cumprindo pena em estabelecimento prisional federal: Justiça Federal.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Súmula 192, STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das
penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.

4.3 Crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente

Requisitos cumulativos:
1. Crimes com previsão em Tratados ou Convenções Internacionais;
2. Crime à distância (iter criminis com origem ou destino no Brasil);
3. Internacionalidade do resultado.

Exemplos de crimes possíveis:

a) Tráfico transnacional de drogas (art. 70, da Lei nº 11.343/2006);


Há dispensa da efetiva transposição de fronteira: basta o intuito de transferência da droga para outro
país. Exige a dupla imputação: a droga tem que ser ilícita nos 2 países envolvidos.
Ex.: flagrante no embarque de aeroporto internacional com bilhete de voo para outro país (crime
internacional).
b) Tráfico internacional de arma de fogo (art. 18 da Lei nº 10.826/2003);
c) Tráfico internacional de pessoas (art. 149-A, §1º, IV, do CP);
d) Envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (art. 239 do ECA).

OBS.: Pornografia infantil praticada por meio da internet (art. 241-A e art. 241-B, do ECA)

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou


divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a
6 (seis) anos, e multa.

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou
outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.

Segundo entendimento pacífico da jurisprudência, o fato de o delito ter sido cometido pela rede
mundial de computadores NÃO atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. Para que o delito
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

cometido por meio da internet seja julgado pela Justiça Federal, é necessário que se amolde em umas das
hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF/88. Logo, é preciso analisar se houve internacionalidade da
conduta, possibilidade de transposição de fronteiras.
Ex.1: Justiça Estadual - troca de e-mails entre dois brasileiros, no Brasil.
Ex.2: Justiça Federal - colocar fotos em site aberto.

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em


disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente
(arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da rede mundial de
computadores (internet). STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco
Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015
(repercussão geral) (Info 805).

O STJ, interpretando a decisão do STF, afirmou que, quando se fala em “praticados por meio da rede
mundial de computadores (internet)”, o que o STF quer dizer é que a postagem de conteúdo pedófilo-
pornográfico deve ter sido feita em um ambiente virtual propício ao livre acesso. Por outro lado, se a troca
de material pedófilo ocorreu entre destinatários certos no Brasil, em ambiente privado, não há relação de
internacionalidade e, portanto, a competência é da Justiça Estadual. Ex.: conversas via Whatsapp ou por
meio de chat na rede social Facebook (comunicação se dá entre destinatários escolhidos pelo emissor da
mensagem). STJ. 3ª Seção. CC 150.564-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/4/2017.

Com base no mesmo raciocínio, a 3ª Seção do STJ decidiu (em 13.05.2020), que o crime de racismo
contra o povo judeu, praticado através rede social de grande alcance (Facebook), deve ser julgado pela
Justiça Federal (C.C. 163.420). Isso porque, considerando que as mensagens de cunho discriminatório
veiculadas em rede social são perfeitamente acessíveis no exterior, tem-se configurada a potencial
transnacionalidade do crime, ainda que o conteúdo NÃO tenha sido efetivamente visualizado fora do
território nacional. Além disso, também compete à Justiça Federal conceder medida protetiva em favor de
mulher ameaçada por ex-namorado que mora nos EUA e faz as ameaças por meio do Facebook. STJ. 3ª
Seção.CC 150712-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/10/2018 (Info 636).

4.3.1 As causas relativas a Direitos Humanos a que se refere o § 5º deste artigo

É o chamado de IDC (Incidente de Deslocamento de Competência), que consiste na federalização dos


crimes contra direitos humanos.
O crime, em regra, é da Justiça Estadual, mas a competência é deslocada para a Justiça Federal.
Tem como objetivo evitar uma possível responsabilização do Estado brasileiro no plano internacional
diante do risco concreto de sanção internacional.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

A legitimidade é conferida ao PGR (Procurador Geral da República) que, deve suscitar perante o STJ,
a quem cabe deferir (ou não) o pedido.

Requisitos:
1. Crime com grave violação a DH (com dimensão metaindividual);
2. Negligência do Estado-membro em promover a persecução penal;
3. Risco concreto de imposição de sanção internacional pelo descumprimento dos compromissos
assumidos.

4.4 Crimes contra a Organização do Trabalho

Crimes com dimensão meta individual, que possui uma multiplicidade de vítimas.
Tem que haver violação aos direitos dos trabalhadores coletivamente considerados.

OBS.: Crime de redução a condição análoga de escravo (art. 149, CP) para o STJ e STF a competência é da
Justiça Federal.

Tese com repercussão geral – Inf. 809, STF (2015): Compete à justiça federal
processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de escravo (art. 149
do CP). O tipo previsto no art. 149 do CP caracteriza-se como crime contra a
organização do trabalho e, portanto, atrai a competência da justiça federal (art.
109, VI, da CF/88).

Pergunta-se: De quem é a competência para julgar o crime de omissão de anotação de vínculo


empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP)?
R.: Justiça Federal (STJ). O sujeito passivo primário do crime omissivo do art. 297, § 4.º, do Diploma
Penal, é o Estado, e, eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado, com a omissão
das informações, referentes ao vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se, portanto de
delito que ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a competência da Justiça Federal, nos
termos do art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 145567/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
27/04/2016.
1ª Turma do STF: Justiça Estadual. Nesse sentido: 1ª Turma. Ag.Reg. na Pet 5084, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 24/11/2015.

Pergunta-se: O Título IV do Código Penal, que engloba os art. 197 a art. 207, possui a seguinte
rubrica: “Dos crimes contra a organização do trabalho”. Diante disso, os crimes contra a organização do
trabalho previstos neste Título IV do CP serão sempre julgados pela Justiça Federal?
R.: NÃO (STJ). Os crimes previstos nos art. 197 a art. 207 do CP somente serão de competência da
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Justiça Federal quando ficar demonstrado, no caso concreto, que o delito provocou lesão a: i) direito dos
trabalhadores coletivamente considerados; ou ii) organização geral do trabalho.

4.5 Crimes contra o Sistema Financeiro e a Ordem Econômico-Financeira

CF Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
Para que esse crime seja da competência federal, a lei deve assim dizer. Se a lei
não dispuser, não há o que falar nesses crimes na JF. Leis:

Primeiro ponto que se deve ter atenção é que, os crimes praticados contra o Sistema Financeiro e
Ordem Econômico Financeira somente serão de competência da Justiça Federal se houver previsão legal.
Portanto, a regra é a competência da Justiça Estadual e, excepcionalmente, nos casos expressamente
previstos em lei, será de competência da Justiça Federal.

Vejamos alguns casos:


1) Lei 1.521/51 (Crimes Contra a Economia Popular): não há nada disposto na Lei, razão pela qual
competência será da Justiça Estadual.

Súmula 498/STF - compete à justiça dos estados, em ambas as instâncias, o


processo e o julgamento dos crimes contra a economia popular.

2) Lei 4.594/64 (Crimes de Concessão Ilegal de Empréstimos): Competência da Justiça Estadual.


3) Crimes previstos na Lei 8.137/90:
• Crimes Contra a Ordem Tributária: a competência será definida pela natureza do tributo. Ex.:
crimes tributários envolvendo tributos federais, a competência será da Justiça Federal.
• Crimes Contra A Ordem Econômica: Justiça Estadual.
• Crimes Contra As Relações De Consumo: Justiça Estadual.

Jurisprudência em Teses do STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar os


crimes contra a ordem econômica previstos na Lei n. 8.137/1990, salvo se
praticados em detrimento do art. 109, IV e VI, da Constituição Federal de 1988.

4) Lei 8.176/91 (Adulteração de Combustíveis): A lei silencia, então é da Justiça Estadual. Pouco
importa o fato de a ANP fazer a fiscalização.
5) Lei 9.613/98 (Lavagem de Capitais): Em regra, é da Justiça Estadual.
Exceções:
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

a) Quando o crime for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União,


suas autarquias ou EP.
b) Quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.

Lei n. 9.613/98 - art. 2º: “O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
III – são da competência da Justiça Federal:
a) Quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira,
ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas;
b) Quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal”.

4.6 Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves

CF Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência
da Justiça Militar;

Devemos estudar em conjunto com o CP. Vide art. 5º.

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de


direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional
as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas
em porto ou mar territorial do Brasil.

• “Navio”: embarcação de grande porte, de modo que, se o delito for cometido a bordo de um pequeno
barco (lancha, veleiro etc.), a competência será da Justiça Estadual.

ATENÇÃO: Navio em situação de deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento.


Para que o crime cometido a bordo de navio seja de competência da Justiça Federal, é necessário
que o navio esteja em deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (ex.: parado
provisoriamente no porto, mas já seguirá rumo a outro país).
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Se o navio estiver atracado e não se encontrar em potencial situação de deslocamento, a


competência será da Justiça Estadual.
Pergunta-se: O que é situação de potencial deslocamento? R.: Trata-se de conceito que deverá ser
avaliado no caso concreto.
 Ex1: se o navio (um transatlântico) se encontrava parado no porto para reabastecimento e, após
este ser concluído, quando estava preparado para sair, ocorreu um delito em seu interior, pode-
se entender que ele está em situação de potencial deslocamento internacional, sendo este
delito de competência da Justiça Federal.
 Ex2: se o navio estiver no estaleiro, para conserto, sem previsão de nova viagem, não se pode
dizer que está em potencial deslocamento, sendo de competência da Justiça Estadual o
julgamento de eventual delito ali cometido.

Conclusão: A embarcação deve estar apta, portanto, a realizar viagens internacionais.

• “Aeronave voando ou parada”: a competência será da Justiça Federal mesmo que o crime seja
cometido a bordo de uma aeronave pousada e mesmo que se trate de aeronave de pequeno porte.
Assim, não é necessário que a aeronave esteja em movimento para a competência ser da Justiça
Federal.

Cuidado para não confundir:

AERONAVE pousada: competência da JC Federal.


NAVIO ancorado: competência da JC ESTADUAL, SALVO se estiver em situação de potencial
deslocamento.

ATENÇÃO: Balão NÃO se confunde com Aeronave.

Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes ocorridos a bordo de balões de


ar quente tripulados. Os balões de ar quente tripulados não se enquadram no
conceito de “aeronave” (art. 106 da Lei nº 7.565/86), razão pela qual não se aplica
a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IX, da CF/88). STJ. 3ª Seção.
CC 143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/04/2019 (Info 648).

4.7 Crimes relativos à disputa sobre direitos indígenas

CF Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


XI - a disputa sobre direitos indígenas

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SEMANA 04/18

Em regra, crime praticado por e contra índio será julgado e processado pela Justiça Estadual.
A competência será da Justiça Federal quando os direitos indígenas forem violados.

Súmula: 140/STJ - Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime em


que o indígena figure como autor ou vítima.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Indígenas agredidos por produtores rurais em disputa por terras pertencentes à


comunidade indígena: competência da Justiça Federal. Os indígenas abordaram
produtores rurais que estavam trabalhando nas terras pertencentes à comunidade
indígena, pedindo a paralisação das atividades. Os produtores rurais reagiram
agredindo os indígenas com socos e chutes. A competência para julgar o fato é da
Justiça Federal. Isso porque a motivação dos delitos gira em torno de disputa por
terras indígenas, situação na qual a jurisprudência entende que há interesse de
toda a comunidade indígena, a justificar o deslocamento da competência para a
Justiça Federal (art. 109, XI, CF/88). Não se aplica a Súmula 140 do STJ quando o
crime envolve interesses coletivos da comunidade indígena. Um dos produtores
rurais agressores era cunhado de um indígena, circunstância que foi considerada
irrelevante pelo STJ para a definição da competência da Justiça Federal tendo em
vista que a desavença entre eles não estava ligada a seu convívio familiar. STJ. 3ª
Seção. CC 156.502/RR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
22/02/2018.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01


Luiz, vereador na cidade de Natal/RN, incorreu na prática do Art. 1º, incisos I, II e IV, c/c. os artigos 11 e 12,
inciso I, todos da Lei nº 8.137/90, consubstanciada em fraude tributária consistente na redução de ICMS
devido ao Estado do Amazonas, praticado no âmbito de filial da sucursal da Refinaria de Petróleo de
Manguinhos, situada em Comarca de Careiro da Várzea/AM.
Quando do comportamento delitivo do Luiz, havia pedido de recuperação judicial da Refinaria de Petróleo
de Manguinhos processado na Comarca de Careiro da Várzea/AM. Posteriormente o TJAM, em sede de
exceção de incompetência, acolheu o pedido defensivo e determinou que o processamento da recuperação
judicial da Refinaria de Petróleo de Manguinhos passasse para a competência da Comarca do Rio de
Janeiro/RJ, em razão deste ser o local da sede do principal estabelecimento comercial da referida empresa.

A competência para o processo e o julgamento do crime tributário será

A-da Vara Única da Comarca de Careiro da Várzea/AM.


B-do Tribunal de Justiça do Amazonas.
C-de uma das Varas Criminais da Comarca do Rio de Janeiro/RJ.
D-do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
E-do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.

2 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-RJ - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia
Passando-se por funcionária de certa instituição financeira, Helena usou um aplicativo de mensagens para
fazer contato com a idosa Abigail, informando-lhe falsamente que o cartão bancário desta fora clonado e
pediu que a idosa fornecesse seus dados qualificativos e senha do cartão para cancelamento. Abigail,
confiando na suposta funcionária, repassou os dados. Em seguida, Helena disse para Abigail cortar seu cartão
ao meio e entregar ambas as partes a outra funcionária, que iria até sua casa para buscá-las. A própria Helena,
então, usando camiseta da instituição financeira e um crachá falso, foi até a casa de Abigail, em Niterói, e
pegou as duas partes do cartão. Como o chip se encontrava preservado, Helena o utilizou para a confecção
de um novo cartão, com o qual transferiu dinheiro da conta de Abigail, sediada em uma agência de São
Gonçalo, para conta diversa, com agência em Rio Bonito. Além disso, Helena fez compras em uma loja virtual,
tendo recebido as mercadorias adquiridas em sua casa, em Maricá.
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção que indica o local em que se consumaram os crimes
patrimoniais decorrentes da transferência bancária e da aquisição de mercadorias, respectivamente.

A-São Gonçalo e Niterói


B-Rio Bonito e São Gonçalo

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

C-São Gonçalo e Maricá


D-Ambos em Niterói
E-Rio Bonito e Maricá

3 - 2021 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2021 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto


Num crime de estelionato praticado em Belo Horizonte contra uma agência bancária do Banco do Brasil S.A,
no qual o agente obteve vantagem financeira, é CORRETO afirmar que a competência para a ação penal é da

A-Justiça Estadual ou da Justiça Federal, a depender da regra de prevenção.


B-Justiça Estadual ou da Justiça Federal, o que será definido a partir da autoridade policial responsável pela
condução do inquérito, respectivamente, Polícia Civil ou Polícia Federal.
C-Justiça Estadual.
D-Justiça Federal.

4 - 2021 - FAPEC - PC-MS - FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia


Considerando as duas situações descritas abaixo, assinale a alternativa correta.
1ª situação: Tício, que estava na cidade de Douradina – MS, efetuou uma ligação para a vítima, Isadora, que
naquele momento se encontrava em sua residência, na cidade de Terenos – MS. Na ligação, passando-se
falsamente por um sequestrador, Tício afirmou ter sequestrado Vicente, filho de Isadora, e exigiu que ela lhe
transferisse a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) como preço de resgate, do contrário Vicente iria
morrer. Temendo pela vida de seu filho, Isadora deslocouse até Campo Grande – MS e transferiu o valor
exigido para a conta bancária de Mévio, comparsa de Tício, que mantinha uma conta na agência bancária de
Itaporã – MS.
2ª situação: Caio, estelionatário contumaz, anunciou na internet a venda de um aparelho de telefone celular.
Seduzido pelo preço anunciado, Jaime realizou a compra do telefone e transferiu o valor indicado no anúncio
para a conta bancária fornecida por Caio. Entretanto, tudo não passava de um “golpe”, e Jaime nunca
recebeu o produto. Apurou-se que no momento do anúncio Caio se encontrava na cidade de Laguna Carapã
– MS; Jaime, que reside na cidade de Fátima do Sul – MS, encontrava-se em Dourados – MS quando fez a
compra pela internet; e a conta bancária para a qual Jaime transferiu o valor pertencia a uma agência situada
na cidade de Caarapó – MS.
Os juízos competentes para julgar as ações penais, são, respectivamente,

A-a vara criminal da comarca de Douradina – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Caarapó – MS
(2ª situação).
B-a vara criminal da comarca de Campo Grande – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Dourados
– MS (2ª situação).

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

C-a vara criminal da comarca de Terenos – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Fátima do Sul –
MS (2ª situação).
D-a vara criminal da comarca de Itaporã – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Laguna Carapã –
MS (2ª situação).
E-a vara criminal da comarca de Terenos – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Dourados – MS
(2ª situação).

5 - 2021 – NC UFPR – PC-PR – Delegado de Polícia


Versa a Súmula 704 do STF que não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. Nesse
contexto, quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração, a competência será
determinada pelo(a):

a) distinção.
b) prevenção.
c) domicílio da vítima.
d) conjugação de autores.
e) continência.

6 - 2021 - FGV - PC-RN - FGV - 2021 - PC-RN - Delegado de Polícia Civil Substituto
Lucas foi preso em flagrante na cidade de Parnamirim após intensa perseguição policial. De acordo com o
que consta do procedimento, Lucas praticou um crime de extorsão qualificada (pena: reclusão, de 6 a 12
anos, e multa) em Natal e, depois, utilizando-se dos mesmos instrumentos do crime, enquanto fugia dos
agentes da lei em perseguição, realizou mais dois crimes de furto simples (pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e
multa)e um de dano qualificado (pena: detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa)em Parnamirim, onde veio a
ser preso. Considerando apenas a situação narrada, será competente para julgamento o juízo criminal de:

A-Natal em relação a todos os crimes, em razão da conexão e pelo fato de a pena da extorsão ser mais alta;
B-Parnamirim em relação a todos os delitos, pois, diante da conexão, prevalece o local da prisão em flagrante;
C-Natal em relação ao crime de roubo e Parnamirim em relação aos demais delitos, pois não há conexão na
situação narrada;
D-Parnamirim em relação a todos os delitos, pois, diante da conexão, prevalece o local da prática do maior
número de infrações penais;
E-Natal em relação ao crime de roubo e Parnamirim em relação aos demais delitos, pois, apesar da conexão,
deve ocorrer separação pela diferença territorial dos fatos.

7 – 2018 – CESPE - Polícia Federal - Delegado de Polícia

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Acerca da disciplina constitucional da segurança pública, do Poder Judiciário, do MP e das atribuições da PF,
julgue o seguinte item.

Compete à justiça estadual o julgamento de crimes relativos à difusão ou aquisição, em determinado estado
da Federação, de material pornográfico envolvendo crianças e adolescentes por meio da rede mundial de
computadores.

Certo ( ) / Errado ( )

8 – 2018 – CESPE - Polícia Federal - Delegado de Polícia


Em cada item seguinte , é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada de
acordo com o entendimento dos tribunais superiores acerca das atribuições da PF na persecução criminal e
da competência para o processamento e o julgamento de ação penal.

Uma investigação iniciada no âmbito da polícia judiciária de determinado estado da Federação buscava
apurar crime de tortura praticado no interior de uma penitenciária estadual, com violação a direitos
humanos. O crime ganhou repercussão internacional e, em razão disso, o IP foi encaminhado à apuração da
PF. Nessa situação, a competência para processar e julgar o crime será deslocada para a justiça federal, já
que, de regra, a atuação da PF produz tal efeito processual.

Certo ( ) / Errado ( )

9 – 2018 – CESPE - Polícia Federal - Delegado de Polícia


Em cada item seguinte , é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada de
acordo com o entendimento dos tribunais superiores acerca das atribuições da PF na persecução criminal e
da competência para o processamento e o julgamento de ação penal.
O prefeito de determinado município desviou, em proveito próprio, verba federal transferida e incorporada
ao patrimônio municipal. Instaurado o competente IP, os autos foram relatados e encaminhados, pela
autoridade policial, à justiça estadual. Nessa situação, agiu corretamente a autoridade policial ao encaminhar
os autos à justiça comum estadual, a quem compete o processamento e o julgamento de casos como o
relatado.

Certo ( ) / Errado ( )

10 – 2018 – CESPE - Polícia Federal - Delegado de Polícia


Em cada item seguinte , é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada de
acordo com o entendimento dos tribunais superiores acerca das atribuições da PF na persecução criminal e

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

da competência para o processamento e o julgamento de ação penal.

Em fiscalização aeroportuária, apreendeu-se grande quantidade de produtos oriundos de país estrangeiro,


cuja comercialização é proibida no território nacional. Apurou-se que a entrada, no Brasil, dos produtos
contrabandeados ocorreu em local diverso do de sua apreensão. Nessa situação, a competência para o
processamento e o julgamento da ação, definida territorialmente, será a do local de entrada dos produtos
ilegais no país.

Certo ( ) / Errado ( )

Respostas6

6
1: A 2: C 3: C 4: C 5: E 6: A 7:E 8: E 9:C 10:E
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META 3

DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE II)

5. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ESTADUAL

É residual, ou seja, tudo que não se encaixar no que vimos acima, será de competência da Justiça
Estadual.

Vamos ver algumas hipóteses que já foram decididas pelos Tribunais Superiores:

1. Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins
medicinais, o cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em
outra unidade da federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. (Info 673).

2. Compete à Justiça Estadual a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado (Info
626).

3. Compete à Justiça Estadual apurar suposto crime de estelionato, em que foi obtida vantagem ilícita
em prejuízo de vítimas particulares mantidas em erro mediante a criação de falso Tribunal
Internacional de Justiça e Conciliação para solução de controvérsias. STJ. 3ª Seção. CC 146726-SP,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/12/2016 (Info 597).

4. Declarações de particular que ofendem a honra de outro particular deverão ser julgadas na Justiça
Estadual, mesmo que feitas perante órgão federal (Info 593)

5. Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação penal na qual se apurem infrações penais
decorrentes da tentativa de abertura de conta corrente mediante a apresentação de documento
falso em agência do Banco do Brasil (BB) localizada nas dependências de agência da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que funcione como Banco Postal. STJ. 3ª Seção. CC 129804-
PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/10/2015 (Info 572).

6. Compete à Justiça Estadual o processamento e julgamento de ação penal que apura supostas fraudes
praticadas por administrador na gestão de operadora de plano de saúde não caracterizada como
seguradora. STJ. 3ª Seção. CC 148110-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para acórdão
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (Info 595).

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6. COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (RATIONE PERSONAE/RATIONE FUNCIONAE)

Trata-se de uma prerrogativa prevista pela Constituição segundo a qual as pessoas ocupantes de
alguns cargos ou funções, somente serão processadas e julgadas criminalmente (não engloba processos
cíveis) por determinados Tribunais (TJ, TRF, STJ, STF).
Salienta-se que, tecnicamente, NÃO deve ser utilizada a expressão “foro privilegiado”,
principalmente, em provas discursivas e orais. Isso porque a competência por prerrogativa de função foi
criada para proteger o exercício funcional, de modo que NÃO constitui um privilégio ao indivíduo.
Além disso, a terminologia ratione personae também NÃO é adequada, pois ele não visa proteger
a pessoa, mas sim a função ocupada. Desta forma, o correto é usar a expressão ratione funcionae.

DICA: Aqui, é importante a leitura da CF, pois, algumas provas, cobram sua literalidade.

Previsão legal:
• Regra: somente a Constituição Federal pode prever casos de foro por prerrogativa de função. Ex.:
art. 102, I, “b” e “c”; art. 105, I, “a”.
• Exceção: o art. 125, caput e § 1º, da CF/88 autorizam que as Constituições Estaduais prevejam
hipóteses de foro por prerrogativa de função nos Tribunais de Justiça, ou seja, situações nas quais
determinadas autoridades serão julgadas originalmente pelo TJ:

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos


nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a
lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Vale ressaltar, no entanto, que a previsão da Constituição Estadual somente será válida se respeitar
o princípio da simetria com a Constituição Federal. Isso significa que a autoridade estadual a qual for
conferido o foro por prerrogativa na Constituição Estadual deve ser equivalente a uma autoridade federal
que tenha foro por prerrogativa de função na Constituição Federal.

 Ex.1: A Constituição Estadual poderá prever que o Vice-Governador será julgado pelo TJ. Isso porque
a autoridade “equivalente” em âmbito federal (Vice-Presidente da República) possui foro por
prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, da CF/88). Logo, foi respeitado o princípio da simetria.
 Ex.2: A Constituição Estadual NÃO pode prever foro por prerrogativa de função para os Delegados
de Polícia considerando que não há previsão semelhante para os Delegados Federais na Constituição
Federal (STF ADI 2587).

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por


prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para o Delegado Geral da Polícia
Civil
Extrapola a autonomia do estado previsão, em constituição estadual, que confere
foro privilegiado a Delegado Geral da Polícia Civil. A autonomia dos estados para
dispor sobre autoridades submetidas a foro privilegiado não é ilimitada, não pode
ficar ao arbítrio político do constituinte estadual e deve seguir, por simetria, o
modelo federal. STF. Plenário. ADI 5591/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
20/3/2021 (Info 1010).

Hipóteses de foro por prerrogativa de função previstas na CF/88:

AUTORIDADE FORO COMPETENTE

• Presidente e Vice-Presidente da República


• Deputados Federais e Senadores
• Ministros do STF
• Procurador-Geral da República
• Ministros de Estado
• Advogado-Geral da União
STF
• Comandantes da Marinha, Exército e
Aeronáutica
• Ministros do STJ, STM, TST, TSE
• Ministros do TCU
• Chefes de missão diplomática de caráter
permanente

• Governadores
• Desembargadores (TJ, TRF, TRT)
• Membros dos TRE
• Conselheiros dos Tribunais de Contas STJ
• Membros do MPU que oficiem perante
tribunais

• Juízes Federais, Juízes Militares e Juízes do


Trabalho
TRF ou TRE
• Membros do MPU que atuam na 1ª
instância

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

• Juízes de Direito
TJ
• Promotores e Procuradores de Justiça

• Prefeitos TJ, TRF ou TRE

Exemplos de autoridades que dependem de previsão na Constituição Estadual (sendo frequente na


CE a previsão de competência do Tribunal de Justiça para julgar os crimes por elas praticados):
• Vice-governadores;
• Vereadores.

Se a Constituição estadual não trouxer nenhuma regra, tais autoridades serão julgadas em 1ª
instância.

Foro privativo no STF e ausência de duplo grau de jurisdição: as autoridades com foro por
prerrogativa de função no STF ficam sujeitas a julgamento por uma única instância, de forma que não gozam
de duplo grau de jurisdição.
Esse modelo vai de encontro com tratados internacionais sobre direitos humanos de que o Brasil é
signatário. Tanto a Convenção Americana de Direitos Humanos, quanto o Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos asseguram o “direito de recorrer da sentença para juiz ou Tribunal Superior”. Isso não ocorre
com quem tem foro privilegiado no STF. Após o julgamento pela Corte, não há recurso para outro Tribunal.

DICA: Não significa que ele não possa recorrer (pode opor embargos e alguns recursos), o que não pode é
revisão de toda matéria de fato, sobre o julgamento.

O direito ao foro por prerrogativa de função se inicia com a diplomação do Deputado Federal ou
Senador e somente se encerra com o término do mandato. Assim, pelo entendimento que era
tradicionalmente adotado pelo STF, se determinado indivíduo estivesse respondendo a uma ação penal em
1ª instância, caso ele fosse eleito Deputado Federal, no mesmo dia da sua diplomação, cessaria a
competência do juízo de 1ª instância e o processo criminal deveria ser remetido ao STF para ali ser julgado.

A diplomação é o ato pelo qual a Justiça Eleitoral atesta quem são os candidatos eleitos e os respectivos
suplentes.

No entanto, o STF entendeu que as normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses
de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes
que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado
Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

o cargo de parlamentar federal.


Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não
apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.

Vamos compreender os principais argumentos para uma prova discursiva?


(1) CF prevê um sistema de foro extremamente ampliado que alcança inúmeros agentes públicos, tão
alargado que gera consequências graves e indesejáveis para a justiça: a) afasta os Tribunais
Superiores, em especial o STF enquanto Suprema Corte, do seu verdadeiro papel de tribunais de
teses jurídicas, e não de julgamento de provas e fatos. Tal atribuição é melhor desempenhada pelo
juízo de 1º grau que tem melhores condições de conduzir a instrução processual. Isso contribui para
a ineficiência do sistema de justiça criminal.
(2) O modelo de foro por prerrogativa tal qual delineado impede o gozo de garantias importantes como
o direito ao duplo grau de jurisdição, previsto em alguns diplomas internacionais de que o Brasil é
signatário como CADH.
(3) Foro por prerrogativa de função é garantia para resguardar a função exercida e não, o agente
público nela investido de forma que sua incidência deve ficar adstrita as infrações comuns
praticadas após a diplomação e em razão do cargo.

Foi fixada, portanto, a seguinte tese:

O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado


Federal não se relacionam ao exercício do mandato, a competência para julgá-los
não é do STF, mas sim do juízo de 1ª instância. Isso porque o foro por prerrogativa
de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 03/05/2018). A apropriação indébita se consuma no ato da
inversão da propriedade do bem. Se a inversão da propriedade ocorreu com a
transferência dos recursos da conta bancária da empresa vítima, com sede em
Brasília/DF, efetuada pelo Diretor da entidade, tem-se que a competência para
apurar este delito é do juiz de direito de 1ª instância do TJDFT. STF. 1ª Turma. Inq
4619 AgR-segundo/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/2/2019 (Info 931).

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

CRIMES COMETIDOS POR DEPUTADO FEDERAL OU SENADOR


SITUAÇÃO COMPETÊNCIA
Crime cometido antes da diplomação como Juízo de 1ª instância
Deputado ou Senador
Crime cometido depois da diplomação
(durante o exercício do cargo), mas o delito não
tem relação com as funções desempenhadas. Juízo de 1ª instância
Ex.: embriaguez ao volante.
Crime cometido depois da diplomação
(durante o exercício do cargo) e o delito está
relacionado com as funções desempenhadas. STF
Ex.: corrupção passiva.

Pergunta-se: Se o parlamentar federal está respondendo a uma ação penal no STF e, antes de ser
julgado, ele deixar de ocupar o cargo (ex.: renunciou ou não se reelegeu), cessa o foro por prerrogativa de
função e o processo deverá ser remetido para julgamento em 1ª instância?
R.: O STF decidiu estabelecer uma regra para situações como essa:
• Se o réu deixou de ocupar o cargo antes de a instrução terminar: cessa a competência do STF e o
processo deve ser remetido para a 1ª instância.
• Se o réu deixou de ocupar o cargo depois de a instrução se encerrar: o STF permanece sendo
competente para julgar a ação penal.

Assim, o STF estabeleceu um marco temporal, fim da instrução, a partir do qual a competência para
processar e julgar ações penais – seja do STF ou de qualquer outro órgão jurisdicional – não será mais afetada
em razão de o agente deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo (ex.: renúncia, não reeleição,
eleição para cargo diverso). Ou seja: trata-se de um marco temporal para a perpetuação da jurisdição.

Pergunta-se: Quando se considera encerrada a instrução, para os fins acima explicados?


R.: Com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais. Nesse
momento fica prorrogada a competência do juízo para julgar a ação penal mesmo que ocorra alguma
mudança no cargo ocupado pelo réu.
Desse modo, mesmo que o agente público venha a ocupar outro cargo ou deixe o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo, isso não acarretará modificação de competência.
Ex.: Pedro, Deputado Federal, respondia ação penal no STF; foi publicado despacho intimando o MP
para apresentação de alegações finais; uma semana depois, o réu foi diplomado Prefeito; mesmo Pedro
tendo deixado de ser Deputado Federal, o STF continuará sendo competente para julgar o processo criminal

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

contra ele.

A escolha desse momento tem como fundamento três razões:


1ª. Trata-se de um marco temporal objetivo, de fácil aferição, e que deixa pouca margem de
manipulação para os investigados e réus e afasta a discricionariedade da decisão dos tribunais de
declínio de competência;
2ª. Este critério privilegia o princípio da identidade física do juiz, ao valorizar o contato do magistrado
julgador com as provas produzidas na ação penal;
3ª. Já existia precedente do STF adotando este marco temporal.

Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação


para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações
penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo
ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

Assim, se o Deputado Federal ou Senador estiver respondendo um processo criminal no STF e chegar
ao fim o seu mandato, cessa a competência do STF para julgar esta ação penal, salvo se a instrução
processual já estiver concluída, hipótese na qual haverá a perpetuação da competência e o STF deverá
julgar o réu mesmo ele não sendo mais um parlamentar federal.
Veja a jurisprudência sobre o tema:

Depois de anos sendo investigado em inquérito que tramitava no STF, o Ministro


Relator declinou a competência para apurar os crimes porque os fatos ocorreram
antes de o investigado ser Deputado Federal; logo, aplica-se o entendimento
firmado na AP 937 QOO fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem
demorado anos não servem como argumento jurídico válido para prorrogar a
competência do STF. Apesar da efetiva evolução das investigações, sob a
supervisão do STF, não houve oferecimento de denúncia contra o agravante nem
encerramento da instrução processual penal. Logo, o marco temporal relativo à
data de apresentação das razões finais não foi alcançado. Além disso, quanto ao
segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é possível a imediata remessa
dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou
do trânsito em julgado, quando constatado o risco de prescrição. STF. 2ª Turma.
Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Pergunta-se: Como fica no caso de agente político que perdeu o foro em razão do fim do mandato,
mas foi reeleito?
112
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

R.: Nessa hipótese, temos que analisar se houve intervalo entre os mandatos. Isso porque, segundo
o STF, o intervalo entre dois mandatos afasta foro por prerrogativa de função em relação à fato praticado
no período anterior, de modo que só é possível que o foro por prerrogativa de função seja mantido se a
reeleição para o 2º mandato seja consecutiva e imediata.
Vejamos decisão relativa ao tema:

Na hipótese em que o delito seja praticado em um mandato e o réu seja reeleito


para o mesmo cargo, a continuidade do foro por prerrogativa de função restringe-
se às hipóteses em que os diferentes mandatos sejam exercidos em ordem
sequencial e ininterrupta. No caso concreto, os fatos atribuídos ao paciente, então
Prefeito de Buritizal/SP, datam do ano de 2011, ou seja, teriam supostamente
ocorrido durante o mandato 2008-2012. Não eleito para o mandato subsequente,
o réu apenas veio a ocupar novo cargo de Prefeito em 2017-2020. Diante desse
quadro fático, constata-se que houve a quebra da necessária e indispensável
continuidade do exercício do mandato político para fins de prorrogação da
competência. Logo, ele será julgado pelo juízo de 1ª instância. STJ. 5ª Turma. HC
539002/SP, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do
TJ/PE), julgado em 21/11/2019.

OBS.: Se o crime for cometido durante a campanha para a reeleição, e o agente for efetivamente
reeleito, a competência permanecerá sendo a do STF/STJ. Veja:

STF é competente para julgar crime eleitoral praticado por Deputado Federal
durante a sua campanha à reeleição caso ele tenha sido reeleito. Pedro, Deputado
Federal, recebeu doação ilegal de uma empresa com o objetivo de financiar a sua
campanha para reeleição. Esta doação não foi contabilizada na prestação de
contas, configurando o chamado “caixa 2” (art. 350 do Código Eleitoral). Pedro foi
reeleito para um novo mandato de 2019 até 2022. O STF será competente para
julgar este crime eleitoral? SIM. O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas
aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas. O STF entende que o recebimento de doação ilegal destinado à
campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime relacionado com
o mandato parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso, mostra-se
desimportante a circunstância de este delito ter sido praticado durante o mandato
anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva e ininterrupta
reeleição. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Pergunta-se: O entendimento que reduz o alcance do foro por prerrogativa de função vale para
outras hipóteses de foro privilegiado ou apenas para os Deputados Federais e Senadores?
R.: Vale para outros casos de foro por prerrogativa de função. Foi o que decidiu o próprio STF no
julgamento do Inq 4703 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018 no qual afirmou que o
entendimento vale também para Ministros de Estado.
Além disso, o STJ também decidiu que a restrição do foro deve alcançar Governadores e Conselheiros
dos Tribunais de Contas Estaduais (art. 105, I, “a”, da CF/88). E, a Corte Especial do STJ, seguindo o mesmo
raciocínio do STF, limitou a amplitude do art. 105, I, “a”, da CF/88 e decidiu que:

O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros de


Tribunais de Contas dos Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o
exercício do cargo e em razão deste.
STJ. Corte Especial. APn 857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 20/06/2018.
STJ. Corte Especial. APn 866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
20/06/2018.

Pergunta-se: O art. 105, I, “a”, da CF/88 prevê que os Desembargadores dos Tribunais de Justiça
são julgados criminalmente pelo STJ. O entendimento acima exposto (que restringiu o foro para crimes
relacionados com o cargo) é aplicado também para os Desembargadores dos Tribunais de Justiça? Se um
Desembargador praticar crime que não esteja relacionado com o exercício de suas funções (ex.: lesão
corporal contra a esposa), ele será julgado pelo juízo de 1ª instância?
R.: NÃO. Os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam sendo julgados pelo STJ mesmo
que o crime não esteja relacionado com as suas funções. STJ. APn 878/DF QO, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 30/05/2016.
É uma espécie de “exceção” ao entendimento do STJ que restringe o foro por prerrogativa de função.
Isso porque, o STJ entendeu que haveria um risco à imparcialidade caso o juiz de 1º instância julgasse um
Desembargador (autoridade que, sob o aspecto administrativo, está em uma posição hierarquicamente
superior ao juiz).
Veja as palavras do Min. Relator Benedito Gonçalves:

“É que, em se tratando de acusado e de julgador, ambos, membros da Magistratura


nacional, pode-se afirmar que a prerrogativa de foro não se justifica apenas para
que o acusado pudesse exercer suas atividades funcionais de forma livre e
independente, pois é preciso também que o julgador possa reunir as condições
necessárias ao desempenho de suas atividades judicantes de forma imparcial. Esta
necessidade (de que o julgador possa reunir as condições necessárias ao
desempenho de suas atividades judicantes de forma imparcial) não se revela como
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

um privilégio do julgador ou do acusado, mas como uma condição para que se


realize justiça criminal. Ser julgado por juiz com duvidosa condição de se posicionar
de forma imparcial, afinal, violaria a pretensão de realização de justiça. A partir
desta forma de colocação do problema, pode-se argumentar que, caso
Desembargadores, acusados da prática de qualquer crime (com ou sem relação
com o cargo de Desembargador) viessem a ser julgados por juiz de primeiro grau
vinculado ao Tribunal ao qual ambos pertencem, se criaria, em alguma medida,
um embaraço ao juiz de carreira.”

Além dos Desembargadores, o STJ estendeu o discrímen apontado em relação a interpretação


restritiva conferida pelo STF aos magistrados e promotores de justiça, mantendo a aplicação do foro por
prerrogativa de função aos crimes com ou sem relação com o cargo, com fundamento na necessidade de o
julgador desempenhar suas atividades judicantes de forma imparcial.
Isso porque, considerando que a previsão da prerrogativa de foro da Magistratura e do Ministério
Público encontra-se descrita no mesmo dispositivo constitucional (art. 96, III, da CF/88), seria desarrazoado
conferir-lhes tratamento diferenciado.

Compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns,


não relacionados com o cargo, em tese praticados por Promotores de Justiça.
STJ. 3ª Seção. CC 177.100-CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 08/09/2021
(Info 708).

6.1 Reflexos da nova decisão do STF acerca da investigação criminal

Antes, diante da interpretação literal do foro, o STF entendia que toda a investigação de autoridade
com foro no STF deveria ser supervisionada pelo Ministro-relator, exigindo desde a autorização prévia para
a instaurar e autorização para promover o indiciamento.
Agora, diante da redução teleológica, só subsistirá a supervisão judicial do Ministro se o crime for
depois da diplomação e com nexo funcional. Tratando-se de infração penal praticada antes da diplomação,
ou durante o mandato, mas despida de nexo funcional, o STF não intervirá, sendo livre a condução das
investigações pela Polícia Civil ou Federal, sem necessidade de autorização para instauração, autorização
para indiciar ou praticar quaisquer outros atos no âmbito das investigações.

Investigações criminais envolvendo Deputados Federais e Senadores DEPOIS da AP 937 QO


Situação Atribuição para investigar
Se o crime foi praticado antes da diplomação • Polícia (Civil ou Federal) ou MP.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Se o crime foi praticado depois da diplomação • Não há necessidade de autorização do


(durante o exercício do cargo), mas o delito STF
não tem relação com as funções • Medidas cautelares são deferidas pelo
desempenhadas. juízo de 1ª instância (ex.: quebra de
Ex.: homicídio culposo no trânsito. sigilo)

Se o crime foi praticado depois da diplomação • Polícia Federal e Procuradoria Geral da


(durante o exercício do cargo) e o delito está República, com supervisão judicial do
relacionado com as funções desempenhadas. STF.
Ex.: corrupção passiva. • Há necessidade de autorização do STF
para o início das investigações.
Fonte: Dizer o Direito

Jurisprudência sobre o tema:

É indispensável a existência de prévia autorização judicial para a instauração de


inquérito ou outro procedimento investigatório em face de autoridade com foro
por prerrogativa de função em Tribunal de Justiça. STF. 2ª Turma. HC 201965/RJ,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/11/2021 (Info 1040).

Além disso, é preciso analisar as considerações da jurisprudência do STF em relação ao


INDICIAMENTO de autoridades que possuem foro por prerrogativa:

Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada.
Existem duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser
indiciadas: a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79); b) Membros do
Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/93 e art. 41, parágrafo único,
da Lei nº 8.625/93).
Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de
autoridades com foro por prerrogativa de função. No entanto, para isso, é
indispensável que a autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal
competente para julgar esta autoridade. Ex.: em um inquérito criminal que tramita
no STJ para apurar crime praticado por Governador de Estado, o Delegado de
Polícia constata que já existem elementos suficientes para realizar o indiciamento
do investigado. Diante disso, a autoridade policial deverá requerer ao Ministro
Relator do inquérito no STJ autorização para realizar o indiciamento do referido
Governador. Chamo atenção para o fato de que não é o Ministro Relator quem irá
fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O Ministro Relator

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irá apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento.


STF. Decisão monocrática. HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
18/04/2016 (Info 825).

Existe decisão monocrática mais recente em sentido contrário:


De acordo com o Plenário do STF, é nulo o indiciamento de detentor de
prerrogativa de foro, realizado por Delegado de Polícia, sem que a investigação
tenha sido previamente autorizada por Ministro-Relator do STF (Pet 3.825-QO,
Red. p/o Acórdão Min. Gilmar Mendes).
Diversa é a hipótese em que o inquérito foi instaurado com autorização e
tramitou, desde o início, sob supervisão de Ministro do STF, tendo o indiciamento
ocorrido somente no relatório final do inquérito. Nesses casos, o indiciamento é
legítimo e independe de autorização judicial prévia.
Em primeiro lugar, porque não existe risco algum à preservação da competência do
STF relacionada às autoridades com prerrogativa de foro, já que o inquérito foi
autorizado e supervisionado pelo Relator. Em segundo lugar, porque o
indiciamento é ato privativo da autoridade policial (Lei nº 12.830/2013, art. 2º, §
6º) e inerente à sua atuação, sendo vedada a interferência do Poder Judiciário
sobre essa atribuição, sob pena de subversão do modelo constitucional acusatório,
baseado na separação entre as funções de investigar, acusar e julgar. Em terceiro
lugar, porque conferir o privilégio de não poder ser indiciado apenas a
determinadas autoridades, sem razoável fundamento constitucional ou legal,
configuraria uma violação aos princípios da igualdade e da república.
Em suma: a autoridade policial tem o dever de, ao final da investigação, apresentar
sua conclusão. E, quando for o caso, indicar a autoria, materialidade e
circunstâncias dos fatos que apurou, procedendo ao indiciamento.
STF. Decisão monocrática. Inq 4621, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
23/10/2018.
Fonte: Dizer O Direito.

Por fim, cabe destacar que normas estaduais não podem impor restrições a investigação, conforme
estabelecido pelo STF:

É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão


colegiado do tribunal autorizar o prosseguimento de investigações contra
magistrados, por criar prerrogativa não prevista na Lei Orgânica da Magistratura
Nacional e não extensível a outras autoridades com foro por prerrogativa de
função.
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A prerrogativa de foro dos magistrados é disciplinada no art. 33, parágrafo único,


da LOMAN, que dispõe que “quando, no curso de investigação, houver indício da
prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar,
remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o
julgamento, a fim de que prossiga na investigação”. Assim, na hipótese de indícios
de prática de crime por magistrado, o art. 33 da LOMAN determina a remessa dos
autos ao Tribunal ou órgão competente, para fins de prosseguimento da
investigação, a ser dirigida pelo relator, sem condicionar a investigação à
necessidade de prévia autorização do órgão colegiado. Logo, não é possível que a
norma estadual diga que somente o órgão colegiado irá autorizar. Basta que o
relator decida a respeito. STF. Plenário. ADI 5331/MG, Rel. Min. Rosa Weber,
redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 3/6/2022 (Info 1057).

6.2 Crimes Dolosos Contra Vida X Foro por Prerrogativa de Função

Tratando-se de crime doloso contra a vida, a própria Constituição Federal afirma que a competência
será do Tribunal do Júri. Contudo, a CF, igualmente, outorga a competência de determinados tribunais para
o julgamento de algumas pessoas.
Assim, pelo princípio da especialidade, a competência dos tribunais, prevista na Constituição
Federal, irá prevalecer sobre a competência do tribunal do júri. Lado outro, se a competência estiver
prevista na Constituição Estadual, irá prevalecer a competência constitucional do júri.
Ou seja:
• Competência prevista na Constituição Federal: prevalece o foro da CF em detrimento ao Tribunal
do Júri.
• Competência prevista na Constituição Estadual: prevalece o Tribunal do Júri (que tem assento
constitucional), em detrimento ao disposto na Constituição Estadual.

Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri


prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
pela Constituição Estadual.

Exemplos:
 Governador que mata dolosamente uma pessoa será julgado pelo STJ;
 Promotor do RJ será julgado pelo TJ/RJ;
 Delegado Geral de Polícia de MG será julgado pelo Tribunal do Júri;
 Deputado estadual será julgado pelo TJ, conforme entendimento do STJ.

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6.3 Concurso de Agentes e Foro por Prerrogativa

Imagine, por exemplo, que João pratica um crime em concurso com um Deputado Federal. Diante
disso, pergunta-se:

1) O julgamento ocorrerá no STF ou haverá a cisão dos processos? R.: Havendo conexão ou continência os
processos poderão ser reunidos e julgados perante o STF, de modo que não há violação ao juiz natural, nem
a ampla defesa e nem ao devido processo legal.

Súmula 704 do STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu
ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

2) A reunião dos processos no STF é obrigatória ou facultativa? R.: Em que pese a separação dos processos
seja a regra geral, compete ao STF decidir pelo desmembramento ou não dos processos, configurando uma
faculdade da Suprema Corte.

O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de competência do STF deve


ser a regra geral, admitida exceção nos casos em que os fatos relevantes estejam
de tal forma relacionados, que o julgamento em separado possa causar prejuízo
relevante à prestação jurisdicional. STF. Plenário. Inq 3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 13/2/2014 (Info 735)

3) A reunião dos processos no STF sempre poderá ocorrer independentemente da natureza do delito? R.:
Tratando-se de crime doloso contra vida NÃO será possível a reunião dos processos, uma vez que a conexão
e a continência são regras infraconstitucionais de mudança de competência. Assim, não podem se sobrepor
à competência constitucional do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

7. COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Trata-se de competência relativa. Portanto:


• É prorrogável;
• É passível de modificação;
• Pode causar, no máximo, uma nulidade relativa. Assim, deve ser alegada em momento oportuno
(sob pena de preclusão) e é preciso demonstrar o prejuízo.

Regra de Fixação: Em regra, será determinada pelo local da consumação (Teoria do Resultado). Na tentativa,
será determinada pelo local do último ato de execução.
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Argumentos trazidos pela doutrina para adoção da Teoria do Resultado:


• Maior facilidade na colheita de provas;
• O indivíduo deve ser processado e julgado no local onde houve perturbação da ordem jurídica.

CPP Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
último ato de execução.
§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele,
a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil,
o último ato de execução.
§ 2o Quando o último ato de execução for praticado FORA do território nacional,
será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha
produzido ou devia produzir seu resultado.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCBA 2022): Adotado o critério territorial, real ou por extensão, com determinadas exceções
e particularidades, como manifestação da soberania nacional, aplica-se o Código de Processo Penal em todo
o território brasileiro, o que envolve o espaço aéreo, as águas interiores, o mar territorial e a plataforma
continental (item considerado correto).

7.1 Regras de competência específicas para algumas espécies de crimes:

ATENÇÃO: Nesse tópico é necessário conhecimentos acerca dos crimes em espécie, matéria de
Direito Penal, pois é preciso saber o momento consumativo dos delitos.

a) Crimes Formais (de consumação antecipada): é aquele onde o resultado é mero exaurimento do delito,
que se consuma com a prática da conduta descrita no tipo.
Ex.: A vítima, que está no Curitiba, recebe uma ligação do presídio de São José dos Pinhais e é
constrangida a entregar o dinheiro em Araucária. Qual será o foro competente? Curitiba, São José dos Pinhais
ou Araucária?
O crime de extorsão consuma-se no local em que a vítima é constrangida, pouco importando o local
em que o pagamento foi feito. A competência será do juízo de Curitiba.

b) Crimes Plurilocais de Homicídio (Teoria Do Esboço Do Resultado): é aquele em que a conduta ocorre
em um local e o resultado em outra comarca.
Ex.: Tiros são desferidos em Campinas, mas a vítima morre em hospital de São Paulo. Pela regra do
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art. 70, seria São Paulo o local da consumação e, consequentemente, do foro competente. No entanto, para
a jurisprudência, nesse caso, não aplica a regra do art. 70 (teoria do resultado), prevalecendo que o foro
competente será o do local da conduta (teoria da atividade), por dois motivos:
• Questões probatórias: no Tribunal do Júri a prova se concentra na audiência de julgamento, portanto
não conseguiria ouvir as testemunhas de outra comarca no dia do julgamento.
• Questões de política criminal: o julgamento deve ser feito no lugar em que ocorreu a conduta, que é
onde o crime teve repercussão.

A doutrina (Fernando de Almeida Pedroso) chama de Princípio do Esboço do Resultado, uma vez que o
resultado do delito é esboçado no local da conduta.

Em regra, o CPP acolhe a teoria do resultado, considerando como lugar do crime o


local onde o delito se consumou (crime consumado) ou onde foi praticado o último
ato de execução (no caso de crime tentado), nos termos do art. 70 do CPP.
Excepcionalmente, no caso de crimes contra a vida (dolosos ou culposos), se os atos
de execução ocorreram em um lugar e a consumação se deu em outro, a
competência para julgar o fato será do local onde foi praticada a conduta (local da
execução). Adota-se a teoria da atividade. STF. 1ª Turma. RHC 116200/RJ, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 13/8/2013 (Info 715).

c) Crimes Plurilocais x Crimes à Distância

Cuidado: não confundir crime plurilocal com crime de espaço máximo.

Crime à distância ou de
Crime plurilocal
Espaço máximo

a) execução em um país e resultado em outro;


a) conduta e resultado em locais diferentes;
b) envolve dois países.
b) dentro do território nacional.

Aplica-se a Teoria da Ubiquidade (art. 6º, CP)


Aplica-se a Teoria do Resultado
c/c art. 70, §1º e 2º, CPP)

Nas palavras de Noberto Avena (2018):

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Outra exceção à regra geral do art. 70, caput, do CPP quanto ao lugar do crime
ocorre nas hipóteses dos chamados crimes a distância, como tal considerados
aqueles que têm a sua execução iniciada em um determinado país e a sua
consumação em outro. Nesses casos, de acordo com o que dispõem o art. 70, §§
1.º e 2.º, do Código de Processo Penal e o art. 6.º do Código Penal, deve-se aplicar
a teoria da ubiquidade, que realiza a conjugação das teorias anteriores (teoria do
resultado e teoria da atividade), considerando como local do crime tanto o lugar
em que se processou a ação ou omissão (art. 70, § 1.º) como aquele em que ocorreu
ou deveria ter ocorrido o resultado (art. 70, § 2.º). Note-se que a previsão
incorporada ao art. 6.º do Código Penal já foi objeto de discussões na doutrina. Para
alguns, inclusive, o art. 6.º do CP, por ser lei mais nova, teria revogado, tacitamente,
o art. 70 do CPP, o qual traz em seu bojo a teoria do resultado. Contudo, a parcela
majoritária entende o art. 6.º como uma norma de aplicação da lei penal no espaço,
utilizável apenas quando se trata de crime que atinge mais de um país, e não
quando se trata de delito praticado integralmente no território brasileiro, pois
neste último caso continua sendo aplicável o art. 70 do CPP. Pois bem,
relativamente aos crimes a distância, é necessário distinguir
a) Atos executórios iniciados no Brasil e consumados no exterior: Tratando dessa
hipótese, dispõe o art. 70, § 1.º, do CPP que, se iniciada a execução do ato em
território nacional, e a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de
execução. Esse dispositivo harmoniza-se com o art. 6.º, 1.ª parte, do Código Penal,
estabelecendo que “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação
ou omissão, no todo ou em parte”. Ilustra essa hipótese com o seguinte exemplo:
Joaquim, farmacêutico residente em Pelotas, no Rio Grande do Sul, pretendendo
matar a própria sogra, em tratamento em Buenos Aires, remete-lhe, de Pelotas,
duas ampolas contendo substância mortífera. Aplicada a injeção, vem a sogra a
falecer. Descoberta a trama, será Joaquim processado e julgado em Pelotas, de
acordo com a regra do art. 70, § 1.º, do CPP c/c o art. 6.º, 1.ª parte, do CP. Se, no
mesmo exemplo, após a aplicação da injeção, a vítima é socorrida a tempo,
continua a competência sendo do juízo de Pelotas, porquanto houve tentativa de
homicídio cujo último ato de execução foi praticado em território nacional. (...)

Em síntese, na hipótese de delitos praticados integralmente no território brasileiro se aplica a regra


do art. 70 do CPP. Já em delitos nos quais a ação ou omissão ocorra no território de uma nação e o resultado
tenha sido produzido ou devesse ter sido produzido no território de outra, aplica-se a regra do art. 70, §§ 1.º
e 2.º, c/c o art. 6.º do Código Penal.

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TIPO DE CRIME→ competência


CRIMES PLURILOCAIS → teoria do resultado
CRIMES PLURILOCAIS DOLOSOS CONTRA A VIDA → teoria da atividade
JUIZADOS ESPECIAIS → teoria da atividade
ATOS INFRACIONAIS → teoria da atividade

d) Crime de Estelionato eletrônico


O estelionato, previsto no art. 171, do CP, é um crime por meio do qual o agente, utilizando um meio
fraudulento, engana a vítima, fazendo com que ela entregue espontaneamente uma vantagem, causando
prejuízo à vítima. Pode ocorrer hipótese na qual a vantagem ilícita ocorre em um local e o prejuízo em outro.
Tais situações poderão gerar algumas dúvidas relacionadas com a competência territorial para processar e
julgar esse crime. A Lei nº 14.155/2021 inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP tratando sobre o tema.

Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito,
mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de
pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Vamos analisar três casos envolvendo estelionato para identificarmos as mudanças operadas pela
novidade legislativa.

1) Estelionato praticado por meio de cheque falso (art. 171, caput, do CP)
Imagine a seguinte situação hipotética: João, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), achou um cheque
em branco. Ele foi, então, até Juiz de Fora (MG) e lá comprou inúmeras roupas de marca em uma loja da
cidade. As mercadorias foram pagas com o cheque que ele encontrou, tendo João falsificado a assinatura.
Trata-se do crime de estelionato, na figura do caput do art. 171 do CP.
A competência territorial para julgamento do delito será o juízo da comarca de Juiz de Fora (MG),
local da obtenção da vantagem indevida. Existe até uma súmula tratando sobre o tema:

Súmula 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem


ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de
cheque.

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Nessa hipótese NÃO se aplica o §4º, visto que ele não trata da hipótese de estelionato praticado por
meio de cheque falso. Logo, esse dispositivo não incide no presente caso. A regra a ser aplicada, portanto, é
a do caput do art. 70:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato
de execução.

O estelionato se consumou no momento em que João comprou as mercadorias da loja, pagando com
o cheque falsificado. Nesse instante houve a obtenção da vantagem ilícita e o dano patrimonial à loja. Logo,
nesta primeira hipótese, nenhuma mudança operada pela Lei nº 14.155/2021. Vale ressaltar que a Súmula
48 do STJ manteve-se válida com a novidade legislativa.

2) Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI)
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), foi passar o fim de
semana em Juiz de Fora (MG). Aproveitando que estava ali, ele foi até uma loja da cidade e comprou inúmeras
roupas de marca, que totalizaram R$ 4 mil. As mercadorias foram pagas com um cheque de titularidade de
Pedro. Vale ressaltar, no entanto, que Pedro sabia que em sua bancária havia apenas R$ 200,00, ou seja, que
não havia fundos suficientes disponíveis. Ele agiu assim porque supôs que não teriam como responsabilizá-
lo já que não morava ali.

Constata-se que Pedro praticou o crime de estelionato, no entanto, na figura equiparada do art. 171,
§ 2º, VI, do CP:

Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos
de réis.

Fraude no pagamento por meio de cheque


VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.

O cheque emitido por Pedro estava vinculado a uma agência bancária que se situa no Rio de Janeiro
(RJ). Tendo isso em consideração, verifica-se uma situação e alteração da competência com a Lei nº
14.155/2021:

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SEMANA 04/18

• Antes da Lei: a competência para julgar seria do juízo do Rio de Janeiro (RJ), local onde se situa a
agência bancária que recusou o pagamento. Na teoria, o “dinheiro” que iria pagar a loja sairia da
agência bancária na qual Pedro tinha conta, ou seja, no Rio de Janeiro. Quando a loja foi tentar sacar
o cheque, lá em Juiz de Fora (MG), na teoria, a agência bancária localizada no RJ recusou o pagamento
porque informou que ali não havia saldo suficiente. Nessas situações, a jurisprudência afirmava que
a competência territorial era do local onde se situava a agência que recusou o pagamento:

Súmula 244-STJ: Compete ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime de


estelionato mediante cheque sem provisão de FUNDOS.

Súmula 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de


estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de
FUNDOS, é o do local onde se deu a RECUSA do pagamento pelo sacado.

• Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, do juízo de Juiz
de Fora (MG). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:

Art. 70. § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando
praticados (...) mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em
poder do sacado (...) a competência será definida pelo local do domicílio da vítima
(...)

 Isso significa que a Súmula 244 do STJ e a Súmula 521 do STF estão superadas!

Pergunta-se: O que é o cheque com pagamento frustrado mencionado no § 4º do art. 70 do CPP?


R.: Ocorre quando o agente que emitiu o cheque tinha fundos disponíveis, no entanto, depois de
emitir o cheque, ele saca o dinheiro que tinha no banco ou, então, simplesmente emite uma contraordem à
instituição financeira afirmando que não é para ela pagar aquele cheque.
Em nosso exemplo, imagine que, depois de emitir a cártula em favor da loja, Pedro entra em contato
com a instituição financeira e susta o cheque. No que tange à competência, a regra é a mesma do cheque
sem fundos.

3) Estelionato mediante depósito ou transferência de valores


Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos, morador de Goiânia (GO), viu um anúncio na internet
que oferecia empréstimo “rápido e fácil”. Ele entrou em contato com a pessoa, que se identificou como
Henrique. Carlos combinou de receber um empréstimo de R$ 70 mil, no entanto, para isso, ele precisaria
depositar uma parcela de R$ 1 mil a título de “custas” para a conta bancária de Henrique, vinculada a uma

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DELEGADO SÃO PAULO

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agência bancária localizada em São Paulo (SP). Carlos efetuou o depósito e, então, percebeu que se tratava
de uma fraude porque nunca recebeu o dinheiro do suposto empréstimo.
Novamente verifica-se uma situação e alteração da competência com a Lei nº 14.155/2021:
• Antes da Lei: o juízo competente seria, neste exemplo, o da comarca de São Paulo. O fundamento
era o caput do art. 70 do CPP:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato
de execução.

No caso em que a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em dinheiro e/ou


transferência bancária para a conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da
vantagem ilícita ocorreu quando o estelionatário se apossou do dinheiro, ou
seja, no momento em a quantia foi depositada em sua conta.
STJ. 3ª Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
14/08/2019.
STJ. 3ª Seção. CC 169.053/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
11/12/2019.

Segundo decidiu o STJ, o estelionato consuma-se no momento e no local em que é auferida a


vantagem ilícita. O prejuízo alheio, apesar de fazer parte do tipo penal, está relacionado à consequência do
crime de estelionato e não à conduta propriamente.
O núcleo do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão pela qual a consumação se dá no momento em
que os valores entram na esfera de disponibilidade do autor do crime, o que somente ocorre quando o
dinheiro ingressa efetivamente em sua conta corrente.
Resumindo: Estelionato que ocorre quando a vítima, induzida em erro, se dispõe a fazer depósitos
ou transferências bancárias para a conta de terceiro (estelionatário) tinha a competência firmada no local
onde o estelionatário possuía a conta bancária.

• Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, em nosso
exemplo, do juízo de Goiânia (GO). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:

Art. 70. § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando
praticados mediante depósito (...) ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima (...)

Pergunta-se: E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes?

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DELEGADO SÃO PAULO

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R.: A competência será definida por prevenção, ou seja, será competente para julgar todos as
condutas o juízo do domicílio da vítima que tiver praticado o primeiro ato do processo ou medida relativa a
este, nos termos do art. 83 do CPP:

Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois
ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles
tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a
este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts.
70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).

É o que preconiza a parte final do § 4º do art. 70:

Art. 70. (...)§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito,
mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de
pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Pergunta-se: Esse novo § 4º do art. 70 do CPP aplica-se aos processos penais que estavam em curso
quando entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021? O juízo que estava processando o crime deverá remeter o
feito para o juízo do domicílio da vítima?
R.: NÃO. Vigora aqui o princípio da perpetuatio jurisdictionis (perpetuação da jurisdição), previsto
no art. 43 do CPC/2015 e que pode ser aplicado ao processo penal por força do art. 3º do CPP.
Segundo esse princípio, uma vez iniciado o processo penal perante determinado juízo, nele deve
prosseguir até seu julgamento. Assim, depois que o processo se iniciou perante um juízo, as modificações
que ocorrerem serão consideradas, em regra, irrelevantes para fins de competência.
Exceções: Existem duas mudanças que irão influenciar na competência, ou seja, duas situações em
que o juízo que começou a ação penal deixará de ser competente para continuar o processo por força de
fatos supervenientes. Veja:
1) Supressão do Órgão Judiciário: a lei (ou a CF) extingue o órgão judiciário (juízo) que era competente
para aquele processo. Ex.: a EC 45/2004 extinguiu os Tribunais de Alçada e todos os recursos ali
existentes foram redistribuídos.
2) Alteração da competência absoluta: pode acontecer de determinadas modificações do estado de
fato ou de direito alterarem as regras de competência absoluta para julgar aquele crime.
Ex1: imaginemos que viesse uma EC retirando da Justiça Federal a competência para julgar delitos
contra servidores públicos federais no exercício de suas funções;

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DELEGADO SÃO PAULO

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Ex2: o crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil, ainda que cometido em serviço,
deixou de ser considerado crime militar e passou a ser crime comum por força da Lei nº 9.299/96, que alterou
o art. 9º, parágrafo único, do CPM (atual § 1º, por força da Lei nº 13.491/2017).

OBS.: A regra e as exceções estão previstas no art. 43 do CPC/2015 que, como vimos, aplica-se ao
processo penal em virtude do art. 3º do CPP:

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da


petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito
ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem
a competência absoluta.

OBS.: O novo § 4º do art. 70 do CPP, que trata sobre a competência para julgar o crime de estelionato,
não se aplica aos processos penais que estavam em curso, mas se aplica imediatamente aos inquéritos
policiais que estavam em curso quando entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021. STJ. 3ª Seção. CC 180832-RJ,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/08/2021 (Info 706).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022 - Adaptada): Passando-se por funcionária de certa instituição financeira, Helena
usou um aplicativo de mensagens para fazer contato com a idosa Abigail, informando-lhe falsamente que o
cartão bancário desta fora clonado e pediu que a idosa fornecesse seus dados qualificativos e senha do cartão
para cancelamento. Abigail, confiando na suposta funcionária, repassou os dados. Em seguida, Helena disse
para Abigail cortar seu cartão ao meio e entregar ambas as partes a outra funcionária, que iria até sua casa
para buscá-las. A própria Helena, então, usando camiseta da instituição financeira e um crachá falso, foi até
a casa de Abigail, em Niterói, e pegou as duas partes do cartão. Como o chip se encontrava preservado,
Helena o utilizou para a confecção de um novo cartão, com o qual transferiu dinheiro da conta de Abigail,
sediada em uma agência de São Gonçalo, para conta diversa, com agência em Rio Bonito. Além disso, Helena
fez compras em uma loja virtual, tendo recebido as mercadorias adquiridas em sua casa, em Maricá.

Considerando essa situação hipotética, o local em que se consumaram os crimes patrimoniais decorrentes
da transferência bancária e da aquisição de mercadorias, respectivamente, foi São Gonçalo e Maricá (item
considerado correto).

e) Crime praticado por pessoa jurídica


Há que se considerar como local da infração a sede fiscal da pessoa jurídica responsável pela
inserção, na Declaração de Importação, de seu nome como importadora ostensiva, sabedora de que o real
importador é outro
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SEMANA 04/18

A empresa ostensiva, ou seja, a importadora aparente, que não indica o verdadeiro


importador das mercadorias pratica o delito tipificado no art. 299 do Código Penal
(falsidade ideológica). Ademais, considera-se como local da infração a sede fiscal
da pessoa jurídica responsável pela inserção, na Declaração de Importação, de seu
nome como importadora ostensiva, sabedora de que o real importador é outro.
STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 175.542/PR, Rel. Joel Ilan Paciornik, julgado em
24/02/2021

f) Crime de Contrabando ou Descaminho


A competência territorial para os crimes de descaminho (art. 334 do CP) e do contrabando (art. 334-
A do CP), tecnicamente, deveria ser do local da aduana, ao não efetuar o pagamento. Contudo, o
entendimento dos Tribunais Superiores é que a competência será definida pelo local de apreensão dos bens.

Súmula 151/STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de


contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da
apreensão dos bens.

g) Crime de tráfico de drogas por meio de remessa do exterior pela via postal:

A competência territorial era do local em que a droga foi apreendida à luz do entendimento
sumulado do STJ. Contudo, a Súmula foi cancelada, sendo fixada a competência do local de destino da droga.

Na hipótese de importação da droga via correio cumulada com o conhecimento


do destinatário por meio do endereço aposto na correspondência, a Súmula
528/STJ deve ser flexibilizada para se fixar a competência no Juízo do local de
destino da droga, em favor da facilitação da fase investigativa, da busca da
verdade e da duração razoável do processo. STJ. 3ª Seção. CC 177882-PR, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/05/2021 (Info 698).

Foi logo após o julgado da 3ª Seção, que o STJ cancelou o enunciado da Súmula 528, que tratava da
competência do juízo federal para julgar crime cometido por pessoa que importou a droga por via postal.

Súmula 528/STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida


do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.
(SUMULA CANCELADA!)

Assim, de acordo com o novo entendimento, com o conhecimento do endereço designado para a
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

entrega (por via postal, a competência para processamento e julgamento deve ser fixada no juízo do local
de destino, e não onde foi apreendida a droga enviada.

7.2 Competência territorial com base no domicílio do acusado:

O domicílio do acusado, também chamado de foro subsidiário ou foro supletivo, será levado em
consideração para fixação de competência territorial quando:

a) Quando não se sabe o local da consumação do crime: foro do domicílio ou residência do réu.
Se o réu tiver mais de um domicílio ou residência: competência estabelecida pela prevenção (art. 72,
§1º, do CPP)
Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro: competência do juiz que primeiro
tomar conhecimento do fato (art. 72, §2º, do CPP).

b) Ação penal exclusivamente privada: O querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do
réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. (art.73 CPP)
OBS.: A doutrina chama essa hipótese de foro de eleição, pois o querelante pode escolher onde quer propor
a ação.

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SEMANA 04/18

Fonte.: Noberto Avena (2018)

7.3 Competência em Razão da Matéria ou Natureza da Infração

I. Competência do Tribunal do Júri:

Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121,
§§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal,
consumados ou tentados

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SEMANA 04/18

§ 2o Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração


da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada
for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada.
§ 3o Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à
competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a
desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá
proferir a sentença (art. 492, § 2o).

II. Competência da Justiça Eleitoral: A justiça eleitoral possui competência para o julgamento de crimes
eleitorais e aqueles que lhes são conexos ou continentes.

Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou


estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça
Eleitoral
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem
conexos. Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de
delitos comuns aos delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça
competente. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

STF determina que Justiça Eleitoral de 1ª instância apure crime eleitoral e


também crime federal conexos; ao receber os autos, Justiça Eleitoral arquiva a
investigação do crime eleitoral e remete os autos à Justiça Federal; isso afronta a
decisão do STF
Caso concreto (com adaptações): Marcos era Ministro de Estado. Havia suspeitas
de que ele teria cometido dois crimes conexos: um crime eleitoral e um crime
federal “comum”. Considerando que ele possuía foro por prerrogativa de função,
foi instaurado, no âmbito do STF, um inquérito para apurar os fatos. Antes que
houvesse denúncia, Marcos foi exonerado do cargo de Ministro e, portanto, perdeu
o foro privativo. Diante disso, o STF determinou a remessa da investigação para a
1ª instância. O caso foi remetido para a 1ª instância da Justiça Eleitoral porque
segundo o entendimento do STF, em caso de conexão entre crime de competência
da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados
conjuntamente pela Justiça Eleitoral. O processo foi distribuído para o 1ª Zona
Eleitoral de Brasília (DF). O Promotor Eleitoral pediu sumariamente o arquivamento
da investigação no que tange ao crime eleitoral. O Juiz Eleitoral acolheu o pedido
do Ministério Público Eleitoral e arquivou a investigação quanto ao crime eleitoral.
Restava, no entanto, um outro delito, qual seja, o crime federal. Diante disso, o Juiz
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Eleitoral declinou da competência para processar o feito para a Seção Judiciária de


São Paulo (SP), local onde supostamente o crime teria sido praticado.
Inconformada, a defesa de Marcos ajuizou reclamação alegando que a decisão
declinatória do Juiz Eleitoral teria afrontado a decisão do STF. Houve um empate
na votação e prevaleceu a decisão mais favorável ao investigado. Para o Ministro
Gilmar Mendes, houve sim violação à autoridade da decisão proferida pelo STF,
uma vez que as instâncias inferiores não observaram as diretrizes que resultaram
na definição da competência da Justiça Eleitoral para apuração e processamento
dos fatos. O MPE promoveu o arquivamento do crime eleitoral imediatamente após
o recebimento dos autos, não tendo sequer empreendido qualquer diligência
investigativa para apurar os indícios de tais crimes. Além disso, o Juízo Eleitoral
arquivou o inquérito e remeteu os autos à Justiça Federal, mesmo diante da
expressa decisão dessa Corte que fixou sua competência para supervisão dos fatos.
As instâncias inferiores, portanto, ignoraram os termos da decisão reclamada, que
assentou a competência da Justiça Eleitoral para o processamento e a apuração dos
fatos em questão. STF. 2ª Turma. Rcl 34805 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/
o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar os crimes eleitorais e os


comuns que lhe forem conexos.
Sobre o tema, o precedente do Supremo Tribunal Federal, formado pelo seu
Plenário no julgamento do Inq. 4435 AgR-Quarto/DF, definiu ser competente a
Justiça Eleitoral para julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem
conexos, na forma dos arts. 109, IV, e 121, ambos da Constituição Federal, bem
como do art. 35, II, do Código Eleitoral, e do art. 78, IV, do Código de Processo Penal.
Ou seja, em caso de conexão ou continência entre crime comum e delito eleitoral,
todos devem ser julgados conjuntamente perante a Justiça Especializada.
Dessa forma, a competência da Justiça Eleitoral, proveniente da interpretação dada
pela Suprema Corte à Constituição Federal e à legislação dela decorrente, aplica-se
sempre que na ação penal houver qualquer menção a crime dessa espécie, seja na
descrição feita pelo órgão acusatório a respeito da suposta conduta ilícita, seja nas
decisões oriundas dos órgãos jurisdicionais.
De outro lado, a parte final do art. 82, do CPP, assim como o Enunciado da Súmula
235/STJ, apenas impede a reunião de processos conexos quando um deles já tenha
sido julgado, não incidindo se eles caminharam conjuntamente, de forma reunida,
desde o início da tramitação, muito anteriormente à prolação da sentença.
Assim, havendo reconhecimento da incompetência absoluta da Justiça Federal, a
ação penal deve ser remetida à Justiça Especializada, mas com anulação apenas dos
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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SEMANA 04/18

atos decisórios praticados e sem prejuízo da sua ratificação pelo juízo competente.
(HC 612.636-RS, Quinta Turma, por maioria, julgado em 05/10/2021)

Cuidado: Desacato a juiz de direito no exercício da função eleitoral a competência é da Justiça


Federal e não da justiça eleitoral.

III. Competência da Justiça Federal (já estudada):

Dispõe o art. 109, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou
pessoa domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro
ou organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça
Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada
a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de
carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção,


e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde
tiver domicílio a outra parte.
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária
em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que
deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito
Federal.
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos
segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de
previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo
federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas
sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o
Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal.

IV. Competência da Justiça do Trabalho7

A EC 45/2004, chamada de Reforma do Poder Judiciário, alterou o art. 114 da CF/88, inserindo novas
competências para a Justiça do Trabalho.
Destaco aqui os incisos I e IV:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:


I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios;
(...)
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela EC 45/2004)

7
Explicação retirada do Dizer o Direito.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Alguns autores passaram a defender a ideia de que, com a EC 45/2004, a Justiça do Trabalho passou
a ter competência para julgar crimes relacionados com a organização do trabalho. No entanto, essa tese não
foi acolhida pelo STF.
Em 2007, o STF, ao julgar medida cautelar em ADI proposta contra a EC 45/2004, decidiu que “o
disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucional nº
45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações penais.” (STF. Plenário. ADI
3684 MC, Rel. Cezar Peluso, julgado em 01/02/2007).
Em 2020, o STF julgou em definitivo esta ADI e confirmou a decisão anterior reafirmando que:

A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais.
STF. Plenário. ADI 3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020.

Pergunta-se: E a competência da Justiça do Trabalho para julgar habeas corpus?


R.: A Justiça do Trabalho possui competência para julgar habeas corpus “quando o ato questionado
envolver matéria sujeita à sua jurisdição” (inciso IV do art. 114). Isso significa que a Justiça do Trabalho possui
competência para julgar habeas corpus que não envolva matéria penal.
Assim, a palavra “ações” prevista no inciso I do art. 114 refere-se unicamente a ações cíveis (não
abrangendo ações penais). E, de igual modo, o habeas corpus mencionado no inciso IV somente se volta
contra restrições à liberdade de locomoção que não tenham natureza penal.

7.4 Competência por Distribuição

A distribuição fixará a competência quando, em um mesmo juízo, existirem juízes igualmente


competentes para o julgamento de determinada infração penal.
Trata-se de uma competência relativa.

7.5 Competência por Conexão ou Continência

I. Conexão: É a interligação entre duas ou mais infrações, e devem ser julgadas em um só processo.

Modalidades:
1) Intersubjetiva: exige, além da ocorrência de duas ou mais infrações, que estas tenham sido
praticadas por duas ou mais pessoas.
▪ Por simultaneidade: vínculo entre as infrações pela similitude de tempo e espaço, permitindo
a oferta de denúncia única, imputando cada crime ao respectivo responsável.
▪ Concursal: agentes em concurso, abarcando todos os delitos praticados.
▪ Por reciprocidade: dois ou mais delitos, praticados por duas ou mais pessoas, que investem
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

uma contra as outras.

2) Teleológica: é praticada infração para facilitar, ocultar, conseguir impunidade ou vantagem em


relação a outra.

3) Probatória ou instrumental: influência direta que a prova de uma infração exerce na demonstração
de outro delito. Ex.: Comprovação de tráfico de drogas para demonstrar lavagem de dinheiro.
OBS.: não há exigência de relação de tempo e espaço entre os 2 crimes, sendo suficiente que a prova
de um crime influencie na de outro.

II. Continência: É a reunião no mesmo processo de duas ou mais pessoas que concorreram para a realização
de delito único, ou quando duas ou mais infrações são praticadas através de uma só conduta.
Modalidades:
• Cumulação subjetiva: há um só delito, praticado por duas ou mais pessoas, a serem julgadas em
conjunto.
• Cumulação objetiva: existe uma só conduta, que provoca dois ou mais resultados lesivos,
configurando concurso formal de delitos, que serão reunidos em um só processo.
A continência por cumulação objetiva ocorre nas hipóteses de concurso formal de crimes (art. 70
CP), aberratio ictus (art. 73, CP) e aberratio criminis (art. 74 CP).
 Concurso formal: com uma conduta o agente pratica mais de um crime;
 Aberratio ictus: ocorre a continência por erro na execução, quando, por exemplo, o
agente mira na pessoa desejada e mata outra, além da desejada.
 Aberratio criminis: quando o agente atinge bem jurídico diverso do pretendido, além do
pretendido.

Cuidado: Os casos de aberractio ictus NÃO afetam a competência para julgamento no aspecto processual,
importando a pessoa efetivamente atingida. Ex.: Se um militar, desejando matar outro militar, erra o alvo e
acerta um civil, na fixação da pena serão consideradas as características de quem pretendia atingir (vítima
virtual, isto é, o outro militar). No aspecto processual, importa a pessoa efetivamente atingida, isto é, o
civil, indo o militar a Júri

7.6 Regras na determinação da competência

O art. 78 do CPP estabelece as regras da força atrativa

a) Competência do Júri X Competência de outro órgão da jurisdição comum: prevalece o JURI.

b) Justiça Comum X Justiça Especial: prevalece a JUSTIÇA ESPECIAL.


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SEMANA 04/18

c) Órgão de jurisdição superior X Órgão de Jurisdição Inferior: prevalece a JURISDIÇÃO SUPERIOR.

d) Concurso de jurisdições da mesma categoria:


1º: local da pratica do CRIME MAIS GRAVE.
• Ainda que o delito menos grave tenha sido praticado mais vezes.
• PPL é mais grave que PRD que é mais grave que Pena Pecuniária.
• Reclusão é mais grave que detenção.
• A análise se faz pela pena máxima cominada.
2º: local do cometimento do MAIOR NÚMERO DE INFRAÇÕES, se todos tiverem a mesma gravidade.
3º: firmada pela PREVENÇÃO, se iguais na gravidade e na quantidade.

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão


observadas as seguintes regras:
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum,
prevalecerá a competência do júri;
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se
as respectivas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior
graduação;
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

IV. Separação de processos:

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento,


salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
§ 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-
réu, sobrevier o caso previsto no art. 152.
§ 2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu
foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

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excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Súmulas sobre o tema:


Súmula vinculante 36, STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar
civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso, quando
se tratar de falsificação de Caderneta de Inscrição de Registro (CIR) ou de Carteira
de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.

Súmula 208, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal
por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

Súmula 209, STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula 122, STJ: Compete à justiça federal o processo e julgamento unificado dos
crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art.
78, II, “a”, do Código de Processo Penal.

Súmula 451, STF: A competência especial por prorrogativa de função não se


estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.

Súmula 704, STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro
por prerrogativa de função de um dos denunciados.

Súmula Vinculante 45, STF: A competência constitucional do Tribunal de Júri


prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente em
Constituição estadual.

Súmula 702, STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos


restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais
casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.

Súmula 555, STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de


jurisdição entre juiz de direito do estado e a justiça militar local.

Entendimentos jurisprudenciais importantes:


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DELEGADO SÃO PAULO

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Compete ao STF julgar a apelação criminal interposta contra sentença de 1ª


instância caso mais da metade dos membros do Tribunal de Justiça estejam
impedidos ou sejam interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88). STF. 2ª Turma. AO
2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019 (Info 950)

Beneficiário do auxílio emergencial transferiu o dinheiro para a conta de terceiro


que deveria sacar a quantia e entregar ao beneficiário; compete à Justiça Estadual
julgar a conduta do terceiro que decidiu não mais entregar o valor. STJ. 3ª Seção.
CC 182940-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/10/2021 (Info 716).

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar crime comum conexo com
crime eleitoral, ainda que haja o reconhecimento da prescrição da pretensão
punitiva do delito eleitoral. STF. 2ª Turma. RHC 177243/MG, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 29/6/2021 (Info 1024).

Senador que pratica corrupção passiva que não está relacionada com seu cargo e
que não ofende bens, serviços ou interesse da União, deverá ser julgado em 1ª
instância pela Justiça comum estadual. O crime de corrupção passiva praticado por
Senador da República, se não estiver relacionado com as suas funções, deve ser
julgado em 1ª instância (e não pelo STF). Não há foro por prerrogativa de função
neste caso. O fato de o agente ocupar cargo público não gera, por si só, a
competência da Justiça Federal de 1ª instância. Esta é definida pela prática delitiva.
Assim, se o crime não foi praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse
da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (inciso IV do art.
109 da CF/88) e não estava presente nenhuma outra hipótese do art. 109, a
competência para julgar o delito será da Justiça comum estadual. STF. 1ª Turma.
Inq 4624 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955).

A CF/88 não previu foro por prerrogativa de função aos Vereadores e aos Vice-
prefeitos. O foro por prerrogativa de função foi previsto apenas para os prefeitos
(art. 29, X, da CF/88). Diante disso, é inconstitucional norma de Constituição
Estadual que crie foro por prerrogativa de função para Vereadores ou Vice-
Prefeitos. A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as
autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os
Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de
função. STF. Plenário. ADI 558/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/04/2021.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

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É possível que os crimes antecedentes sejam julgados em um processo e a


acusação por lavagem seja apreciada em outro processo desmembrado, mesmo
que o MP esteja imputando a causa de aumento descrita na parte final do § 4º do
art. 1º da Lei 9.613/98
STJ. 5ª Turma. RHC 157077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/05/2022
(Info 735).

É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso


do inquérito policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
05/04/2022 (Info 733).

Jurisprudência em Teses (STJ):

1) Compete ao Superior Tribunal de Justiça o julgamento de revisão criminal


quando a questão objeto do pedido revisional tiver sido examinada anteriormente
por esta Corte.

2) A mera previsão do crime em tratado ou convenção internacional não atrai a


competência da Justiça Federal, com base no art. 109, inciso V, da CF/88, sendo
imprescindível que a conduta tenha ao menos potencialidade para ultrapassar os
limites territoriais.

3) O fato de o delito ser praticado pela internet não atrai, automaticamente, a


competência da Justiça Federal, sendo necessário demonstrar a internacionalidade
da conduta ou de seus resultados.

4) Não há conflito de competência entre Tribunal de Justiça e Turma Recursal de


Juizado Especial Criminal de um mesmo Estado, já que a Turma Recursal não possui
qualidade de Tribunal e a este é subordinada administrativamente.

5) É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por


prevenção, que deve ser alegada em momento oportuno, sob pena de preclusão.

6) A competência é determinada pelo lugar em que se consumou a infração (art. 70


do CPP), sendo possível a sua modificação na hipótese em que outro local seja o
melhor para a formação da verdade real.

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DELEGADO SÃO PAULO

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7) Compete ao Tribunal Regional Federal ou ao Tribunal de Justiça decidir os


conflitos de competência entre juizado especial e juízo comum da mesma seção
judiciária ou do mesmo Estado.

8) Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos


de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do
Código de Processo Penal. (Súmula n. 122/STJ)

9) Inexistindo conexão probatória, não é da Justiça Federal a competência para


processar e julgar crimes de competência da Justiça Estadual, ainda que os delitos
tenham sido descobertos em um mesmo contexto fático.

10) No concurso de infrações de menor potencial ofensivo, afasta-se a competência


dos Juizados Especiais quando a soma das penas ultrapassar dois anos.

11) Compete à Justiça Federal processar e julgar crimes relativos ao desvio de


verbas públicas repassadas pela União aos municípios e sujeitas à prestação de
contas perante órgão federal.

12) Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal. (Súmula n. 209/STJ)

13) As atribuições da Polícia Federal não se confundem com as regras de


competência constitucionalmente estabelecidas para a Justiça Federal (arts. 108,
109 e 144, §1°, da CF/88), sendo possível que uma investigação conduzida pela
Polícia Federal seja processada perante a Justiça estadual.

14) Compete a Justiça comum estadual processar e julgar crime em que o índio
figure como autor ou vítima, desde que não haja ofensa a direitos e a cultura
indígenas, o que atrai a competência da Justiça Federal.

15) Compete a Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra


funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
(Súmula n. 147/STJ)

16) Há conflito de competência, e não de atribuição, sempre que a autoridade


judiciária se pronuncia a respeito da controvérsia, acolhendo expressamente as
manifestações do Ministério Público.
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17) Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas
impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos a Administração Estadual. (Súmula n.
192/STJ)

18) A mudança de domicílio pelo condenado que cumpre pena restritiva de direitos
ou que seja beneficiário de livramento condicional não tem o condão de modificar
a competência da execução penal, que permanece com o juízo da condenação,
sendo deprecada ao juízo onde fixa nova residência somente a supervisão e o
acompanhamento do cumprimento da medida imposta.

19) A ofensa indireta, genérica ou reflexa praticada em detrimento de bens,


serviços ou interesse da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas
federais não atrai a competência da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88).

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QUESTÕES PROPOSTAS

11 – 2018 – UEG - PC-GO - Delegado de Polícia


Sobre o tratamento dado à competência pelo Código de Processo Penal, tem-se o seguinte:

a) O juiz pode reconhecer, de ofício, incompetência relativa.


b) No caso de ação penal pública condicionada à representação, o ofendido pode preferir o foro de domicílio
ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.
c) O concurso formal de crimes não configura hipótese de continência.
d) A legislação processual adota a teoria da ubiquidade para determinação do juízo competente pelo lugar
da infração.
e) A competência será determinada pela conexão quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma
infração.

12 – 2018 – UEG - PC-GO - Delegado de Polícia


Dispensa-se a reserva de jurisdição:

a) para a decretação da prescrição.


b) para prisão temporária do investigado.
c) para declarar a cassação da fiança prestada.
d) para a realização de reprodução simulada dos fatos.
e) para requisição, a empresas concessionárias de telecomunicações, de disponibilização de meios técnicos
adequados que permitam a localização dos suspeitos de delito em curso.

13 – 2018 – UEG - PC-GO - Delegado de Polícia


Sobre a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, verifica-se o seguinte:

a) O crime de extorsão consuma-se com a obtenção da vantagem indevida.


b) Compete à justiça comum federal processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima.
c) Admite-se a extinção da punibilidade pela prescrição virtual ou em perspectiva.
d) A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da
qualificação do respectivo órgão expedidor.
e) Havendo conexão entre um crime federal e um crime estadual, prevalece a competência da justiça federal.

14 – 2018 – FUNDATEC - PC-RS - Delegado de Polícia


Acerca do entendimento jurisprudencial dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa correta.

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a) A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da
qualificação do órgão expedidor, não importando a entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento
público.
b) Compete à Justiça Comum Federal processar e julgar crime de estelionato praticado mediante falsificação
das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, independente de lesão à autarquia federal.
c) Só é lícito o uso de algemas em caso de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria
ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade a prisão ou do ato
processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
d) É subsidiária a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, mediante
representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.
e) Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente (Arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por
meio da rede mundial de computadores.

15 – 2017 – CESPE - PJC-MT - Delegado de Polícia


No estado de Mato Grosso, Pedro cometeu crime contra a economia popular; Lucas cometeu crime de
caráter transnacional contra animal silvestre ameaçado de extinção; e Raí, um agricultor, cometeu crime
comum contra índio, no interior de reserva indígena, motivado por disputa sobre direitos indígenas.
Nessa situação hipotética, a justiça comum estadual será competente para processar e julgar

a) somente Pedro e Raí.


b) somente Lucas e Raí.
c) Pedro, Lucas e Raí.
d) somente Pedro.
e) somente Pedro e Lucas.

16 – 2017 – CESPE - PJC-MT - Delegado de Polícia


A polícia civil instaurou e concluiu o inquérito policial relativo a roubo havido em uma agência franqueada
dos Correios. Encaminhados os autos à justiça estadual, o órgão do MP ofereceu denúncia contra os autores,
a qual foi recebida pelo juízo competente.
Nessa situação hipotética, conforme o posicionamento dos tribunais superiores acerca dos aspectos
processuais que definem a competência para processar e julgar delitos,

a) por ser o sujeito passivo do delito uma empresa pública federal franqueada, a competência para o processo
e o julgamento do crime será da justiça federal.

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SEMANA 04/18

b) por se tratar de uma agência franqueada de uma empresa pública, a competência para o processo e o
julgamento do crime será da justiça estadual.
c) a competência para o processo e o julgamento do crime será concorrente, tornando-se prevento o juízo
que receber a peça inaugural.
d) o critério balizador para determinar a competência do juízo será exclusivamente territorial.
e) a polícia civil e o MP estadual não têm competência para a persecução pré-processual e processual do
delito, respectivamente.

17 – 2017 – FAPEMS - PC-MS - Delegado de Polícia-


Sobre competência no direito processual penal, afirma-se que

a) a investigação de tráfico internacional de drogas pode ser iniciada pela autoridade policial estadual, em
virtude das leis de cooperação entre as polícias.
b) o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, previsto na atual Constituição Federal
nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, poderá ser suscitado pelo Procurador-Geral da
República, atendidos os requisitos legais, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do
inquérito policial.
c) ocorre conexão intersubjetiva por simultaneidade quando duas ou mais infrações são praticadas ao mesmo
tempo, por várias, pessoas, umas contra as outras, devendo a investigação e o processo seguir
conjuntamente.
d) conforme entendimento do STJ, compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vítima, desde que haja pertinência com direitos indígenas e seja comunicado
o fato à FUNAI.
e) tomando conhecimento de que o crime não é de competência da justiça estadual, o Delegado de Polícia
estadual deve encaminhar os autos de investigação à autoridade policial competente, a qual deverá repetir
todos os atos praticados, sob pena de nulidade do processo judicial.

18 – 2017 – CESPE - PC-GO - Delegado de Polícia


Cláudio, maior e capaz, residente e domiciliado em Goiânia – GO, praticou determinado crime, para o qual é
prevista ação penal privada, em Anápolis – GO. A vítima do crime, Artur, maior e capaz, é residente e
domiciliada em Mineiros – GO.
Nessa situação hipotética, considerando-se o disposto no Código de Processo Penal, o foro competente para
processar e julgar eventual ação privada proposta por Artur contra Cláudio será

a) Anápolis – GO ou Goiânia – GO.


b) Goiânia – GO ou Mineiros – GO.
c) Goiânia – GO, exclusivamente.

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d) Anápolis – GO, exclusivamente.


e) Mineiros – GO, exclusivamente.

19 – 2016 – CESPE - PC-PE - Delegado de Polícia


Conforme a legislação em vigor e o posicionamento doutrinário prevalente, assinale a opção correta com
relação à competência e às questões e processos incidentes.

a) Todas as infrações penais, incluindo-se as contravenções que atingirem o patrimônio da União, suas
autarquias e empresas públicas, serão da competência da justiça federal.
b) O processo incidente surge acessoriamente no processo principal, cujo mérito se confunde com o mérito
da causa principal, devendo, assim, tal processo — o incidente — ser resolvido concomitantemente ao exame
do mérito da ação penal, sob pena de decisões conflitantes.
c) A restituição de coisas apreendidas no bojo do inquérito policial ainda não concluído poderá ser ordenada
pela autoridade policial, quando cabível, desde que seja evidente o direito do reclamante.
d) Havendo fundada dúvida sobre a sanidade mental do indiciado, o delegado de polícia poderá determinar
de ofício a realização do competente exame, com o objetivo de aferir a sua imputabilidade.
e) Tratando-se de foro privativo por prerrogativa de função cuja competência para o conhecimento da causa
é atribuída à jurisdição colegiada, esta será determinada pelo lugar da infração.

20 – 2015 – FUNIVERSA - PC-DF - Delegado de Polícia


No que se refere à competência e a seus corolários, assinale a alternativa correta.

a) Considere-se que César, Mauro e Lúcio tenham sequestrado Júlia com a finalidade de extorquir a família
da vítima. Restringiram a liberdade de Júlia em Brasília-DF e a transportaram, posteriormente, a fim de
assegurar o sucesso da empreitada criminosa, para Belo Horizonte-MG. Nesse local, após terem recebido a
quantia exigida no sequestro e liberado a vítima, tendo consumado o crime, foram presos preventivamente.
Nessa situação, é competente para processar e julgar o crime o juízo criminal de Belo Horizonte-MG, visto
que, segundo o CPP, aos crimes permanentes aplica-se a teoria do resultado.
b) Para fins de fixação de regras de competência, não há, no CPP, diversamente do que ocorre no processo
civil, distinção entre conexão e continência.
c) Considere-se que o promotor que oficia perante determinada vara de juizado especial criminal entenda
que Alberto tenha praticado crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e não mero uso de substância
entorpecente, e que o promotor que oficia perante determinada vara de entorpecentes penais tenha se
recusado a oferecer a denúncia dado o seu entendimento de que o delito seria de uso de substância
entorpecente, e não de tráfico. Nessa situação, identifica-se conflito negativo de competência, que deverá
ser dirimido pelo juiz da vara de entorpecentes.
d) Suponha-se que Reginaldo, com intenção de matar, tenha desferido três facadas em Rosber, tendo sido a

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SEMANA 04/18

primeira delas em Águas Lindas-GO e a última em Taguatinga-DF. Suponha-se, ainda, que Reginaldo não
tenha conseguido atingir o seu intento por razões alheias a sua vontade, tendo sido impedido de consumar
o crime pela ação de autoridade policial que o tenha prendido em flagrante e dado imediato socorro à vítima.
Nessa situação, consoante a teoria da atividade adotada no CPP, é competente para processar e julgar o
crime a vara criminal de Águas Lindas-GO.
e) Considere-se que Ricardo tenha enviado, por uma agência dos correios localizada no Gama-DF, uma carta-
bomba dirigida a um senador da República, que se encontrava na Argentina. Considere-se, ainda, que se
tenha, posteriormente, comprovado que a ação criminosa, ocorrida por razões pessoais, tenha provocado a
morte da vítima. Nessa situação, a vara do júri do Gama-DF é competente para processar e julgar o feito.

Respostas8

8
11:A 12:D 13:E 14:E 15:D 16:B 17:B 18:A 19:C 20:E
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SEMANA 04/18

META 4

DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII,
⦁ Art. 5, inc. LXXVII,
⦁ Art. 102, inc. I, “d”, “i” e “q”
⦁ Art. 102, inc. II, “a”
⦁ Art. 105, inc. I, “b”, “c” e “h”
⦁ Art. 105, inc. II, “a”
⦁ Art. 108, inc. I, “c” e “d”
⦁ Art. 108, inc. VII e VIII
⦁ Art. 121, §3º e §4º, inc. V
⦁ Art. 142, §2º

CPP
⦁ Art. 3-B, inc. XII
⦁ Art. 574, I
⦁ Art. 581, X
⦁ Art. 612
⦁ Arts. 647 a 667

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Lei 9507/97 (habeas data)
⦁ Lei 12.016/2009 (mandado de segurança)
⦁ Lei 13.300/2016 (mandado de injunção)
⦁ Lei 4717/65 (ação popular)
⦁ Art. 23, 24, 30, 32 e 41-A, Lei 8038/90

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER!


CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII
⦁ Art. 5, inc. LXXVII

CPP

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SEMANA 04/18

⦁ Art. 3º-B, inc. XXII


⦁ Arts. 647, 648, 651
⦁ Art. 654, caput.
⦁ Art. 655 e 656
⦁ Art. 660, §§ 1º e 4º

LEI 9507/97 (HABEAS DATA)


⦁ Art. 4º
⦁ Art. 7º
⦁ Art. 8º, §único
⦁ Art. 19

LEI 12.016/2009 (MANDADO DE SEGURANÇA)


⦁ Art. 1º e 3º
⦁ Art. 6º, caput
⦁ Art. 7º, inc. I e §4º
⦁ Art. 8º a 10º
⦁ Arts. 14 e 20
⦁ Arts. 21 a 23
⦁ Art. 26

LEI 13.300/2016 (MANDADO DE INJUNÇÃO)


⦁ Arts. 2º e 3º
⦁ Art. 8º e 9º
⦁ Arts. 11 a 13

Remédios Constitucionais: são garantias que consubstanciam meios colocados à disposição do


indivíduo para salvaguardar os seus direitos diante de ilegalidade ou abuso de poder cometido pelo Poder
Público.

1. HABEAS CORPUS

a) Previsão normativa: art. 5º, LXVIII, CF/88 e arts. 647 e ss do CPP.

Art. 5º LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

b) Introdução
Típico de direito de primeira geração, o HC visa a garantir o direito individual de locomoção, por meio
de ordem exarada por órgão do Poder Judiciário, para que seja cessada a ameaça ou coação à liberdade de
locomoção do indivíduo.
No direito inglês, surgiu primeiramente na Magna Charta Libertatum, de 1215 e, no direito brasileiro,
surgiu pela 1ª vez na Constituição Federal de 1891, permanecendo nas demais constituições subsequentes.
Ressalta-se, contudo, que, inicialmente, e o HC visava proteger outros direitos distintos - e não
apenas a locomoção, por meio da chamada Teoria Brasileira do habeas corpus*. Porém, com a EC n° 1 de
1926, restringiu-se o HC apenas à liberdade de locomoção. Ensina o professor Marcelo Novelino:

Durante a Primeira República, com a introdução desse instituto no sistema


constitucional pátrio, surgiu a denominada “doutrina brasileira do habeas corpus”,
que tinha Rui Barbosa como seu principal expoente. Em face da ausência de outras
garantias constitucionais na Carta de 1891, foi adotada uma interpretação ampla
acerca do cabimento desse mandamus, utilizado em diversas situações de ameaça
a direitos constitucionalmente assegurados – e não apenas à liberdade de
locomoção – decorrentes de ilegalidades ou abusos de poder. À época, o Supremo
Tribunal Federal adotou o entendimento de que a ação contemplava as situações
em que a liberdade de ir e vir era meio para atingir outro direito. A partir da reforma
constitucional de 1926, essa concepção foi superada e o habeas corpus passou a
ser utilizado apenas em seu sentido clássico (NOVELINO, 2017, p. 438).

c) Características do HC:
∘ O HC possui natureza dúplice: Ação de natureza penal não condenatória e remédio
constitucional.
∘ Possui autonomia própria
∘ Pode ser impetrado sem que exista processo
∘ Isento de custas
∘ Não exige capacidade postulatória
∘ Admite concessão de pedido liminar
∘ Exige violência ou coação + ilegalidade ou abuso de poder

d) Modalidades - O HC pode ser:


● Repressivo (liberatório): Quando o indivíduo já tiver desrespeitado o seu direito de locomoção;
● Preventivo (salvo-conduto): Quando há apenas ameaça ao seu direito de locomoção.

CAIU EM PROVA – DELTA/PA 2016


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SEMANA 04/18

Maria, gestante de feto anencéfalo, pretende a obtenção de autorização judicial para realização de aborto.
O Juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido. Pretende, agora, manejar um remédio constitucional
para evitar o cometimento de crime. Para tanto, deverá demandar por meio do seguinte instrumento:
a) ação popular.
b) habeas corpus
c) habeas data
d) mandado de segurança
e) mandado de injunção
Resposta: Letra B
Conforme já definido pelo STJ (HC 56572), a via do habeas corpus é adequada para pleitear a interrupção de
gravidez fora das hipóteses previstas no Código Penal (art. 128, incs. I e II), tendo em vista a real ameaça de
constrição à liberdade ambulatorial, caso a gestante venha a interromper a gravidez sem autorização judicial.
Observação: a questão foi utilizada como um exemplo para o estudo do cabimento do HC preventivo. É
necessário ressaltar que, no julgamento da ADPF nº 54, por 8 votos a 2, os Ministros do STF entenderam que
não é crime interromper a gravidez de fetos anencéfalos.

e) Legitimidade ativa: Universal. Qualquer pessoa pode impetrar HC:


∘ Pessoa física ou jurídica
∘ Nacional ou estrangeira
∘ Independentemente de capacidade civil.
∘ MP e juiz de ofício podem impetrar HC
Obs.1: Exceção ao princípio da inércia jurisdicional: O Juiz de direito, o Desembargador, Ministros,
Turma Recursal e o Tribunal poderão conceder habeas corpus de ofício, no exercício da função jurisdicional.

Obs.2: Não exige capacidade postulatória do impetrante, de modo que a ação pode ser formulada
sem advogado.

f) Legitimidade passiva: somente pessoa física!

STF: A pessoa jurídica NÃO pode figurar como paciente de HC, pois jamais estará
em jogo a liberdade de locomoção, ainda que se trate da possibilidade de apenação
da pessoa jurídica por crimes ambientais.

Obs.:É possível impetrar HC contra ato do sujeito coator, que tanto poderá ser autoridade pública
quanto agente privado (ex: agente de hospital que ilegalmente impede a saída do paciente).

g) HC e ofensa indireta
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

STF: Será cabível o HC não só contra ofensa direta, mas também contra ofensa indireta, reflexa ou
potencial ou direito de locomoção, a exemplo do uso do HC para atacar a quebra de sigilo bancário em
procedimento que possa resultar prisão => Se a quebra de sigilo for determinada por autoridade fiscal, no
curso de procedimento administrativo tributário, é incabível HC, pois em processo administrativo NÃO
implica ofensa ao direito de locomoção.

h) Pressupostos ou condições para a concessão de HC

Uma vez conhecido o habeas corpus somente deverá ser concedido em caso de réu preso ou na
iminência de sê-lo, presentes as seguintes condições:
(1) Violação à jurisprudência consolidada do STF;
(2) Violação clara à Constituição; ou
(3) Teratologia na decisão impugnada, caracterizadora de absurdo jurídico.

STF. 1ª Turma. AgRg no HC 200.055, Rel. Min.


Roberto Barroso, julgado em 14/06/2021.

Veja algumas jurisprudências pertinentes!

É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus


É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus.
Isto porque, inexiste imposição legal de intimação do assistente do Ministério
Público no habeas corpus impetrado em favor do acusado. Ademais, como ele não
integra a relação processual instaurada nessa ação autônoma de natureza
constitucional, também não possui legitimidade para recorrer de decisões
proferidas em habeas corpus, por não constar essa atividade processual no rol
exaustivo do art. 271 do Código de Processo Penal. STF. 1ª Turma. AgRg no HC
203.737, Rel. Min. Carmem Lúcia, decisão monocrática em 31/08/2021.

Cabe habeas corpus contra a decisão que não homologa ou que homologa apenas
parcialmente o acordo de colaboração premiada. Atualmente, não existe previsão
legal de recurso cabível em face de não homologação ou de homologação parcial
de acordo. Logo, deve ser possível a impetração de habeas corpus. A homologação
do acordo de colaboração premiada é etapa fundamental da sistemática negocial
regulada pela Lei nº 12.850/2013, estando diretamente relacionada com o
exercício do poder punitivo estatal, considerando que nesse acordo estão
regulados os benefícios concedidos ao imputado e os limites à persecução penal.
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info
1004).

CUIDADO! Para o STJ, a decisão que recusa homologação do acordo de colaboração


premiada deve ser atacada por apelação! (Inf. 683)

Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada, cabe


habeas corpus ainda que para solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª
Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de


natureza criminal diversas da prisão. Isso porque, se descumprida a “medida
alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia, alcançando-se o direito de
ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

Cabe habeas corpus para questionar a decisão do magistrado que não permite que
os réus delatados apresentem alegações finais somente após os réus colaboradores
(Info 949)

i) Hipóteses em que NÃO é possível o cabimento de HC:


● Impugnar decisões de plenário de qualquer das turmas do STF;
● Impugnar determinação e suspensão dos direitos políticos;
● Impugnar penalidade administrativa de caráter disciplinar;
● Impugnar decisão condenatória à pena de multa, ou relativa a processo em curso por infração penal
a que a pena pecuniária seja a única cominada (SÚMULA 693 STF);
● Impugnar a determinação de quebra de sigilo telefônico, bancário ou fiscal, se desta medida não
puder resultar condenação à pena privativa de liberdade;
● Discutir o mérito das punições disciplinares militares => STF: NÃO cabe a discussão do mérito, mas
cabe HC para se analisar os pressupostos de legalidade da medida.
● Para discutir processo criminal envolvendo o art. 28 da Lei de Drogas
● Questionar afastamento ou perda de cargos públicos;
● Dirimir controvérsia sobre a guarda de filhos menores;
● Discutir matéria objeto de processo de extradição;
● Questionamento de condenação criminal quando já extinta a pena privativa de liberdade (SÚMULA
692 STF);
● Impedir o cumprimento de decisão que determina o sequestro de bens imóveis;
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

● Discutir condenação imposta em processo de impeachment;


● Impugnar o mero indiciamento em inquérito policial, desde que presentes indícios de autoria de fato
que configure crime em tese;
● Impugnar omissão de relator na extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não
constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito (SÚMULA 692 STF);
● Tutelar o direito à visita em presídio;
● Impugnar decisões monocráticas proferidas por Ministro do Supremo Tribunal Federal. (Info 985 –
clipping)
● Contra ato de Ministro ou outro órgão fracionário fracionário da Corte. STF. Plenário. (HC 170263/DF,
22/06/2020)
● Reexame dos pressupostos de admissibilidade de recurso interposto no STJ.
● Não cabe HC de ofício no bojo de embargos de divergência
● Não cabe HC em ação que apura improbidade administrativa
● Em regra, não cabe habeas corpus contra decisão transitada em julgado (posição majoritária na
jurisprudência – Inf. 892)
● Não cabe HC para impugnar ato normativo que fixa medidas restritivas para prevenir a disseminação
da covid-19

Questões importantes:

É possível a impetração de habeas corpus e a interposição de recurso de forma concomitante?


O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o recurso cabível contra o ato
impugnado, será admissível apenas se:
a) For destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou
b) Se traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que reflita mediatamente na liberdade do
paciente.
Nas demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o exame das questões idênticas deve
ser reservado ao recurso previsto para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via transversa,
na liberdade individual.

STJ. 3ª Seção. HC 482549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em


11/03/2020 (Info 669).

A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas corpus em que se busca
o trancamento da ação penal? Com a celebração da transação penal, o habeas corpus que estava
pendente fica prejudicado ou o TJ deverá julgá-lo mesmo assim?

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

● STJ: SIM. Fica prejudicado. A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de
habeas corpus em que se busca o trancamento da ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 495148-DF, Rel.
Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/09/2019 (Info 657).

● STF: NÃO. Não impede e o TJ deverá julgar o mérito do habeas corpus. A realização de acordo de
transação penal não enseja a perda de objeto de habeas corpus anteriormente impetrado. A
aceitação do acordo de transação penal não impede o exame de habeas corpus para questionar a
legitimidade da persecução penal. Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos
em casos de delitos de menor gravidade, a barganha no processo penal pode levar a riscos
consideráveis aos direitos fundamentais do acusado. Assim, o controle judicial é fundamental para a
proteção efetiva dos direitos fundamentais do imputado e para evitar possíveis abusos que
comprometam a decisão voluntária de aceitar a transação. Não há qualquer disposição em lei que
imponha a desistência de recursos ou ações em andamento ou determine a renúncia ao direito de
acesso à Justiça. STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/12/2019
(Info 964).

Com a concessão da suspensão condicional do processo, o habeas corpus que estava pendente fica
prejudicado ou o TRF deverá julgá-lo mesmo assim?

O Tribunal deverá julgar o habeas corpus. É a posição tranquila da jurisprudência:

O fato de o denunciado ter aceitado a proposta de suspensão condicional do


processo formulada pelo Ministério Público (art. 89 da Lei nº 9.099/95) não
constitui empecilho para que seja proposto e julgado habeas corpus em seu favor,
no qual se pede o trancamento da ação penal. Isso porque o réu que está
cumprindo suspensão condicional do processo fica em liberdade, mas ao mesmo
tempo terá que cumprir determinadas condições impostas pela lei e pelo juiz e, se
desrespeitá-las, o curso do processo penal retomará. Logo, ele tem legitimidade e
interesse de ver o HC ser julgado para extinguir de vez o processo. STJ. 5ª Turma.
RHC 41527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

💣 ATENÇÃO PARA A SÚMULA 648 DO STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido
de trancamento da ação penal por falta de justa causa feito em habeas corpus.

Vamos entendê-la?

Imagine a seguinte situação hipotética:


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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

O Ministério Público ajuizou ação penal contra João acusando-o da prática de determinado crime. O
juiz recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para responder a acusação.
João apresentou resposta escrita alegando que não havia justa causa e que, portanto, ele deveria ser
absolvido sumariamente. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido de absolvição sumária e determinou o
início da instrução penal.
João ainda continuava inconformado. Existe algum recurso que ele possa interpor? Cabe algum
recurso contra a decisão do juiz que rejeita o pedido de absolvição sumária?
R: NÃO. Não existe recurso cabível na legislação para esse caso. Diante disso, a jurisprudência admite
a impetração de habeas corpus sob o argumento de que existe risco à liberdade de locomoção.
Desse modo, em nosso exemplo, a defesa de João impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça
pedindo o trancamento da ação penal por falta de justa causa. O Desembargador negou o pedido de liminar
e designou o dia 15/08 para o julgamento do habeas corpus pela Câmara Criminal do TJ. Ocorre que, antes
disso, no dia 08/08, o juiz proferiu sentença condenando o réu.
Diante desse cenário, o que acontece com o julgamento do habeas corpus? O Tribunal de Justiça
irá apreciar o mérito do habeas corpus?
R.: NÃO. A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas
corpus se buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. A sentença
condenatória analisa a existência de justa causa de forma mais aprofundada, após a instrução penal com
contraditório e ampla defesa. Logo, não faz mais sentido o Tribunal examinar a decisão de rejeição da
absolvição sumária se já há uma nova decisão mais aprofundada. Será essa nova manifestação (sentença)
que precisará ser analisada. Logo, o réu terá que interpor apelação contra a sentença condenatória, recurso
de cognição ampla por meio do qual toda a matéria será devolvida ao Tribunal, que terá a possibilidade de
examinar se a condenação foi acertada, ou não.

Não é cabível examinar a inépcia da inicial acusatória, bem como a justa causa para
ação penal, após a prolação de sentença condenatória, porquanto todos os
elementos da exordial acusatória, bem como da conduta criminosa, foram
amplamente debatidos pelas instâncias ordinárias, em cognição vertical e
exauriente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 463.788/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
13/11/2018.

O pedido de trancamento do processo por inépcia da denúncia ou por ausência de


justa causa para a persecução penal não é cabível quando já há sentença, pois seria
incoerente analisar a mera higidez formal da acusação ou os indícios da
materialidade delitiva se a própria pretensão condenatória já houver sido acolhida,
depois de uma análise vertical do acervo fático e probatório dos autos.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

STJ. 6ª Turma. RHC 32.524/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
4/10/2016.

E se a sentença tivesse sido absolutória? Se o juiz tivesse absolvido João, o HC também ficaria
prejudicado?
R.: SIM. Com maior razão, o habeas corpus estaria prejudicado, mas agora por outro motivo: falta de
interesse processual já que a providência buscada pela defesa foi alcançada em 1ª instância. Nesse sentido:
A superveniência de sentença absolutória, na linha da orientação firmada nesta Corte, torna prejudicado o
pedido que buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. STJ. 6ª Turma. AgInt
no RHC 31.478/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 26/03/2019.

Atenção: Ainda em 2021, poucos meses depois do enunciado ser aprovado, o STJ proferiu a seguinte
decisão que pode ser encarada como se fosse uma exceção à Súmula 648:

Se o habeas corpus discutia a quebra na cadeia de custódia da prova da


materialidade, o que teria ocorrido no momento do flagrante, a superveniência da
sentença condenatória não faz com que esse habeas corpus perca o objeto
A superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar habeas
corpus que analisa tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia
da prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como justa causa para a
própria ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 720).

Veja a explicação:

A superveniência de sentença condenatória nem sempre torna prejudicado o


habeas corpus, em razão da perda do seu objeto.
No caso concreto, por exemplo, os fatos que subjazem à discussão trazida pela
defesa acabaram por lastrear a denúncia e toda a persecução penal, além de haver
sido ventilados ainda no limiar do processo e de dizerem respeito à própria justa
causa para a ação penal.
Ao contrário do que ocorre com a prisão preventiva, por exemplo - que tem
natureza rebus sic standibus, isto é, que se caracteriza pelo dinamismo existente
na situação de fato que justifica a medida constritiva, a qual deve submeter-se
sempre a constante avaliação do magistrado -, o caso dos autos traz hipótese em
que houve uma desconformidade entre o procedimento usado na coleta e no
acondicionamento de determinadas substâncias supostamente apreendidas com o
paciente e o modelo previsto no Código de Processo Penal, fenômeno processual,
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

esse, produzido ainda na fase inquisitorial, que se tornou estático e não modificável
e, mais do que isso, que subsidiou a própria comprovação da materialidade e da
autoria delitivas.
Assim, a superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar
a análise da tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia da
prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como anteparo ao
oferecimento da denúncia - ou, de forma mais ampla, como justa causa para a
própria ação penal -, máxime quando verificado que a parte alegou a matéria
oportuno tempore, isto é, logo após a sua produção e que essa tese já foi
devidamente examinada e debatida pela instância de origem.

j) Competência
Competência do STF, quando: art. 102, CF/88.
a. O paciente for: Presidente da República, Vice-Presidente da República, membros do Congresso
Nacional, Ministros do STF e Procurador Geral da República (art. 102, I, “b”);
b. O paciente for: Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, membros dos
Tribunais Superiores, do TCU e chefes de missão diplomática de caráter permanente (art. 102, I, “c”);
c. O coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou paciente for autoridade ou funcionário cujos
atos estejam diretamente sujeitos à jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à única instância
(STF) – art. 102, I, “i”;
d. O HC for decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (Nesse
caso o STF julga em recurso ordinário) – art. 102, II, “a”.

Competência do STJ, quando: art. 105, CF/88.


a. O coator ou paciente forem os mencionados na alínea “a”: Governador dos Estados e DF/
Desembargadores dos TJ dos Estados e DF/ Membros do Tribunal de Contas dos Estados e DF/
membros do TRF/ membros do TRE/ membros do TRT/ membros dos Conselhos ou Tribunal de
Contas do Município/ membros do MPU que oficiem perante tribunais (art. 105, I, “c”);
b. O coator for tribunal sujeito à jurisdição do STJ ou for Ministro de Estado, Comandante da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (art. 105, I, “c”);
c. O HC for decidido em única ou última instância pelos TRF’s ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados,
DF ou Territórios, quando a decisão for denegatória. (Nesse caso o STJ julga em recurso ordinário) –
art. 105, II, “a”.

CUIDADO! Ministros de Estado e comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica:


- Quando forem pacientes – competência do STF
- Quando forem autoridades coatoras – competência do STJ

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Competência dos TRFs, quando: art. 108, CF/88.


a. A autoridade coatora for juiz federal(art. 108, I, “d”);
b. Julgam, em grau de recurso, causas decididas pelos juízes federais ou estaduais no exercício da
competência federal da área de jurisdição (art. 108, II).

Competência dos juízes federais, quando:


a. O HC for de matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (art. 109, VII).

Obs.1: O HC impetrado contra decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais será julgado pelo Tribunal
de Justiça Estadual. O STF superou a Sumula 690!

Sumula 690, STF – superada


Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de "habeas
corpus" contra decisão de Turma Recursal de Juizados Especiais Criminais.

Obs.2:Relator pode determinar, de forma discricionária, que HC seja julgado pelo Plenário do STF (e não pela
Turma)

A competência para julgar determinados habeas corpus é de uma das duas Turmas
do STF (e não do Plenário). Ex: HC contra decisão do STJ, em regra, é de
competência de uma das Turmas do STF. O Ministro Relator do HC no STF, em vez
de submetê-lo à Turma, pode levá-lo para ser julgado pelo Plenário? SIM. Essa
possibilidade encontra-se prevista no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. Para
fazer isso, o Relator precisa fundamentar essa remessa? É necessário que o Relator
apresente uma justificativa para que o caso seja levado ao Plenário? NÃO. É possível
a remessa de habeas corpus ao Plenário do STF, pelo relator, de forma
discricionária, com fundamento no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. STF.
Plenário. HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e 12/4/2018 (Info
897).

k) HC coletivo

O STF admitiu a possibilidade de habeas corpus coletivo. O habeas corpus se presta a salvaguardar
a liberdade. Assim, se o bem jurídico ofendido é o direito de ir e vir, quer pessoal, quer de um grupo
determinado de pessoas, o instrumento processual para resgatá-lo é o habeas corpus, individual ou coletivo.
A ideia de admitir a existência de habeas corpus coletivo está de acordo com a tradição jurídica nacional de
conferir a maior amplitude possível ao remédio heroico (doutrina brasileira do habeas corpus). Apesar de
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

não haver uma previsão expressa no ordenamento jurídico, existem dois dispositivos legais que,
indiretamente, revelam a possibilidade de habeas corpus coletivo. Trata-se do art. 654, § 2º e do art. 580,
ambos do CPP.
O art. 654, § 2º estabelece que compete aos juízes e tribunais expedir ordem de habeas corpus de
ofício.
O art. 580 do CPP, por sua vez, permite que a ordem concedida em determinado habeas corpus seja
estendida para todos que se encontram na mesma situação. Assim, conclui-se que os juízes ou Tribunais
podem estender para todos que se encontrem na mesma situação a ordem de habeas corpus concedida
individualmente em favor de uma pessoa. Existem mais de 100 milhões de processos no Poder Judiciário, a
cargo de pouco mais de 16 mil juízes, exigindo do STF que prestigie remédios processuais de natureza coletiva
com o objetivo de emprestar a máxima eficácia ao mandamento constitucional da razoável duração do
processo e ao princípio universal da efetividade da prestação jurisdicional.
Diante da inexistência de regramento legal, o STF entendeu que se deve aplicar, por analogia, o art.
12 da Lei nº 13.300/2016, que trata sobre os legitimados para propor mandado de injunção coletivo.
Assim, possuem legitimidade para impetrar habeas corpus coletivo:
1) o Ministério Público;
2) o partido político com representação no Congresso Nacional;
3) a organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano;
4) a Defensoria Pública. STF. 2ª Turma.HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
20/2/2018 (Info 891).

Obs.: O STJ confirmou decisão que mandou soltar todos os presos do país que tiveram liberdade
condicionada à fiança. No habeas corpus coletivo, a DP do Espírito Santo sustentou que, diante do cenário
de pandemia da Covid-19, deveria ser superada a Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal e, nos termos da
Recomendação 62/2020 do CNJ, determinada a soltura imediata de todos os presos do estado que tiveram
o deferimento da liberdade provisória condicionado ao pagamento de fiança. O ministro Sebastião Reis
Júnior votou pela concessão do habeas corpus por reconhecer a plausibilidade jurídica das alegações e a
flagrante ilegalidade da situação desses presos.
Jurisprudência em teses do STJ sobre HC:

1) O STJ não admite que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao


recurso próprio (apelação, agravo em execução, recurso especial), tampouco à
revisão criminal, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade
do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade da paciente, seja cogente
a concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

2) O conhecimento do habeas corpus pressupõe prova pré-constituída do direito


alegado, devendo a parte demonstrar de maneira inequívoca a pretensão deduzida
e a existência do evidente constrangimento ilegal.
3) O trancamento da ação penal pela via do habeas corpus é medida excepcional,
admissível apenas quando demonstrada a falta de justa causa (materialidade do
crime e indícios de autoria), a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade.
4) O reexame da dosimetria da pena em sede de habeas corpus somente é possível
quando evidenciada flagrante ilegalidade e não demandar análise do conjunto
probatório..
5) O habeas corpus é ação de rito célere e de cognição sumária, não se prestando
a analisar alegações relativas à absolvição que demandam o revolvimento de
provas.
6) É incabível a impetração de habeas corpus para afastar penas acessórias de
perda de cargo público ou graduação de militar imposta em sentença penal
condenatória, por não existir lesão ou ameaça ao direito de locomoção.
7) O habeas corpus não é a via adequada para o exame aprofundado de provas a
fim de averiguar a condição econômica do devedor, a necessidade do credor e o
eventual excesso do valor dos alimentos, admitindo-se nos casos de flagrante
ilegalidade da prisão civil.
8) Não obstante o disposto no art. 142, § 2º, da CF, admite-se habeas corpus contra
punições disciplinares militares para análise da regularidade formal do
procedimento administrativo ou de manifesta teratologia.
9) A ausência de assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo na inicial de
habeas corpus inviabiliza o seu conhecimento, conforme o art. 654. § 1º, c, do CPP.
10) É cabível habeas corpus preventivo quando há fundado receio de ocorrência de
ofensa iminente à liberdade de locomoção.
11) Não cabe habeas corpus contra decisão que denega liminar, salvo em hipóteses
excepcionais, quando demonstrada flagrante ilegalidade ou teratologia da decisão
impugnada, sob pena de indevida supressão de instância, nos termos da Súmula
691/STF.
12) O julgamento do mérito do habeas corpus resulta na perda do objeto daquele
impetrado na instância superior, na qual é impugnada decisão indeferitória da
liminar.
13) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o
julgamento dos pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma
Recursal dos Juizados Especiais.
14) A jurisprudência do STJ admite a reiteração do pedido formulado em habeas
corpus com base em fatos ou fundamentos novos.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

15) O agravo interno não é cabível contra decisão que defere ou indefere pedido
de liminar em habeas corpus.
16) O habeas corpus não é via idônea para discussão da pena de multa ou prestação
pecuniária, ante a ausência de ameaça ou violação à liberdade de locomoção.
17) O habeas corpus não pode ser impetrado em favor de pessoa jurídica, pois o
writ tem por objetivo salvaguardar a liberdade de locomoção.
18) A jurisprudência tem excepcionado o entendimento de que o habeas corpus
não seria adequado para discutir questões relativas à guarda e adoção de crianças
e adolescentes.

2. MANDADO DE SEGURANÇA

Art. 5º, LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público;

a) Previsão legal: Art. 5º, LXIX da CF/88 e Lei 12.016/09

Lei 12.016/09. Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito


líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que,
ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação
ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e
sejam quais forem as funções que exerça.

b) Natureza Jurídica: Ação judicial de natureza residual, subsidiária, civil, cabível quando o direito líquido e
certo protegido não for amparado por outros remédios constitucionais.

c) Cabimento: Proteger direito líquido e certo, não amparado por HC ou HD, sempre que, ilegalmente ou
com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la
por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

Atenção aos detalhes:


▪ Proteção de direito líquido e certo contra ilegalidade ou abuso de poder por parte de autoridade.
▪ Esse direito líquido e certo não é amparado por HC ou HD

d) NÃO cabe MS:

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

● De ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de caução => Se o MS
for impetrado contra omissão ilegal, descabe a aplicação da restrição deste inciso.
● Decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
● Decisão judicial transitada em julgado

É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado


(art. 5º, III, da Lei nº 12.016/2009 e Súmula nº 268-STF). No entanto, se a
impetração do mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da
decisão questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito
do MS deverá ser julgado, não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a
perda de objeto. STJ. Corte Especial. EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 14/03/2019 (Info 650).

● Contra lei em tese, salvo se produtora de efeitos concretos


● Contra atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, sociedades de
economia mista e concessionárias de serviço público, (art. 1º, §2º da Lei 12. 016/09)

§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial


praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia
mista e de concessionárias de serviço público.

O STF reafirmou a constitucionalidade deste dispositivo. Veja:


Não cabe mandado de segurança contra atos de gestão comercial praticados por
administradores de empresas públicas, sociedades de economia mista e
concessionárias de serviço público (art. 1º, § 2º da Lei nº 12.016/2019). STF.
Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre
de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info 1021).

Entenda: Trata-se de uma restrição legítima pelo fato de que os atos de gestão
comercial são atos estranhos à ideia da delegação do serviço público em si. Esses
atos se destinam à satisfação de interesses privados na exploração de atividade
econômica, submetendo-se a regime jurídico próprio das empresas
privadas,motive pelo qual não cabe mandado de segurança por força da própria
previsão constitucional – que admite o ajuizamento do mandado de segurança
somente contra atos praticados no desempenho de atribuições do poder publico
(art. 5, LXIX, CF/88)

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

● O mandado de segurança não se presta ao reexame de fatos e provas analisados pelo CNJ no processo
disciplinar (Info 933)
● Para convalidar a compensação tributária realizada pelo contribuinte (súmula 460 do STJ).

Súmula 460-STJ: É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada
pelo contribuinte
Súmula 213-STJ: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à
compensação tributária.

- STJ: É incabível mandado de segurança que tem como pedido autônomo a


declaração de inconstitucionalidade de norma, por se caracterizar mandado de
segurança contra lei em tese.

- STJ: O mandado de segurança não pode ser utilizado com o intuito de obter
provimento genérico aplicável a todos os casos futuros de mesma espécie.

- STF: Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do


Conselho Nacional de Justiça, por não se tratar de ato que importe a substituição
ou a revisão do ato praticado por outro órgão do Judiciário. (Info 840)

MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECISÃO JUDICIAL


Para ser cabível, deve comprovar dois requisitos:
1) Inexistência de recurso adequado à impugnação da decisão judicial;
2) Demonstração de que a decisão é teratológica, por abuso de poder ou ilegalidade.

CESPE/2019 - É cabível mandado de segurança para proteger direito líquido e certo contra ilegalidade
praticada por diretor de sociedade de economia mista em decisão que homologa o resultado de licitação ou
em atos de gestão comercial. Item incorreto.

d) Direito Líquido e Certo

Segundo Leonardo Carneiro da Cunha, “ausente direito líquido e certo, haverá de


ser extinto o mandado de segurança, sem resolução do mérito, facultando-se à
parte o uso do procedimento comum.” (CUNHA, 2016, p. 508).

● Só cabe MS para direito líquido e certo, demonstrado de plano.


● NÃO cabe dilação probatória no MS.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

OBS: A exigência de liquidez e certeza recai sobre a matéria de fato, as quais necessitam de
comprovação de plano. A matéria de direito, por mais complexa que se apresente, pode ser apreciada em
MS.

Súmula 625 – STF - Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de
mandado de segurança.

Jurisprudência em Teses n. 85: A verificação da existência de direito líquido e certo,


em sede de mandado de segurança, não tem sido admitida em recurso especial,
pois é exigido o reexame da matéria fático-probatória, o que é vedado em razão da
súmula n. 7/STJ.

e) Legitimidade Ativa
● Pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, domiciliadas ou não no Brasil;
● Universalidades reconhecidas por lei;
● Órgãos públicos de grau superior, na defesa de suas prerrogativas e atribuições;
● Agentes políticos na defesa de suas atribuições e prerrogativas;
● MP, quando o ato emanar de juiz de primeiro grau de jurisdição.

STF (Info 848): O Tribunal de Justiça, mesmo não possuindo personalidade jurídica
própria, detém legitimidade autônoma para ajuizar mandado de segurança contra
ato do Governador do Estado em defesa de sua autonomia institucional. Ex:
mandado de segurança contra ato do Governador que está atrasando o repasse dos
duodécimos devidos ao Poder Judiciário.

Ministério Público do Tribunal de Contas não possui legitimidade para


impetrar mandado de segurança mesmo que para defender suas prerrogativas
institucionais. O Ministério Público de Contas não tem legitimidade para
impetrar mandado de segurança em face de acórdão do Tribunal de Contas perante
o qual atua. STF. Plenário virtual. RE 1178617 RG, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 25/04/2019 (repercussão geral).

Ilegitimidade ativa do MP para impetrar MS questionando decisão administrativa


que reconheceu a prescrição em processo administrativo. O Procurador-Geral da
República não possui legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com
o objetivo de questionar decisão que reconheça a prescrição da pretensão punitiva
em processo administrativo disciplinar. A legitimidade para impetrar mandado de
segurança pressupõe a titularidade do direito pretensamente lesado ou ameaçado
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

de lesão por ato de autoridade pública. O Procurador-Geral da República não tem


legitimidade para a impetração, pois não é o titular do direito líquido e certo que
afirmara ultrajado. Para a impetração do MS não basta a demonstração do simples
interesse ou atuação como custos legis, uma vez que os direitos à ordem
democrática e à ordem jurídica não são de titularidade do Ministério Público, mas
de toda a sociedade. STF. 2ª Turma. MS 33736/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 21/6/2016 (Info 831).

Substituição Processual (legitimação extraordinária): O titular de direito líquido e certo decorrente


de direito, em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandado de segurança a favor do direito
originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente.

Ingresso de litisconsorte ativo: pode ocorrer até o despacho da petição inicial (art. 10, §2º, da Lei nº
12.016/09).

Falecimento do impetrante: É pacífico, no STF e no STJ, o entendimento de que o falecimento do


impetrante pessoa natural tem o condão de extinguir o mandado de segurança, sendo incabível na via
mandamental a sucessão e partes em razão da natureza personalíssima da ação. Nesse caso, ainda será
possível o acesso às vias ordinárias.

Entendimento de Leonardo Carneiro da Cunha sobre o falecimento após a fase de


conhecimento: “Tudo indica, todavia, que a morte do impetrante somente causa a
extinção sem resolução do mérito do mandado de segurança se seu falecimento se
operar durante a fase de conhecimento. Caso já tenha havido sentença com
trânsito em julgado, e havendo condenação ao pagamento de valores pecuniários
(na hipótese, por exemplo, de o impetrante ostentar a condição de servidor
público), é possível haver a sucessão mortis causa por seu espólio ou sucessores se
o falecimento do impetrante ocorrer já durante a execução. Nesse caso, não haverá
habilitação no mandado de segurança, mas sim num cumprimento de sentença.”
(CUNHA, 2016, p. 525).

-CESPE/2018: O parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança em defesa de
prerrogativa do Congresso Nacional. Item incorreto. Cabe destacar, contudo, que o parlamentar
individualmente tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança contra ato de processo
legislativo, em controle concreto. (STF MS-24642/DF) (STF -Inform711)

f) Legitimação Passiva

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

É a pessoa jurídica a qual pertence a autoridade coatora, responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder, autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

● Autoridades públicas de quaisquer poderes da União, Estados, DF e Municípios;


● Representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas;
● Dirigentes de pessoas jurídicas de direito privado, desde que no exercício de atribuições do Poder
Público.

Lei 12.016/09
Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais
forem as funções que exerça.

§ 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou


órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem
como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de
atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.

Em se tratando de atribuição delegada, a autoridade coatora será o agente delegado e não a


autoridade delegante =>VIDE SÚMULA 510 STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência
delegada, contra ela cabe MS ou medida judicial.

Segundo Leonardo Carneiro da Cunha, o tema da legitimidade passiva no mandado


de segurança gera divergências doutrinárias, tendo surgido três correntes sobre o
tema:
I- Primeira corrente: defende que a própria autoridade coatora deve ocupar o polo
passivo da demanda, tendo em vista que é quem prestará informações e deverá
cumprir a determinação judicial.
II- Segunda corrente: considera que haverá a formação de litisconsórcio passivo
entre a autoridade e a pessoa jurídica de direito público. Entretanto, essa corrente
não tem aceitação jurisprudencial, já que a autoridade apenas presenta a pessoa
jurídica, não constituindo parte autônoma.
III- Terceira corrente: majoritária na doutrina e na jurisprudência, defende que é a
pessoa jurídica a que pertence a autoridade coatora que detém legitimidade
passiva, tendo em vista que é quem suportará as consequências financeiras da

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

demanda e contra quem será formada a coisa julgada, de modo que se a autoridade
indicada for subsittuída, não haverá prejuízo para o processo.

STJ: As autarquias possuem autonomia administrativa, financeira e personalidade


jurídica própria, distinta da entidade política à qual estão vinculadas, razão pela
qual seus dirigentes têm legitimidade passiva para figurar como autoridades
coatoras em ação mandamental.

TEORIA DA ENCAMPAÇÃO NO MANDADO DE SEGURANÇA


Quando há indicação errônea da autoridade coatora, é possível aplicar a Teoria da encampação para sanar
tal vício, desde que observados alguns requisitos:
a) Existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou as informações e a que ordenou a prática
do ato impugnado;
b) Ausência de modificação de competência estabelecida na CF/88;
c) Defesa do mérito do litígio nas informações prestadas.

g) Liminar em mandado de segurança:

● Da decisão que concede/nega liminar – cabe agravo de instrumento

● Perempção e caducidade da liminar ocorre em 2 hipóteses:


(1) Quando o impetrante cria obstáculo ao normal andamento do processo
(2) Quando o impetrante deixa de promover atos e diligências por mais de 3 dias úteis.

Art. 8o Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou


a requerimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante
criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais
de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.

● Possibilidade de exigir fiança, caução ou depósito:

Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Esse dispositivo trata sobre a possibilidade de se conceder medida liminar em mandado de


segurança.
A OAB impugnou a parte final do dispositivo. Segundo a entidade, seria inconstitucional exigir o
pagamento prévio de caução, depósito ou fiança para a concessão de liminar. O STF não concordou com a
autora.
No exercício do seu poder geral de cautela, o magistrado pode analisar se determinado caso
específico exige caução, fiança ou depósito. A caução, fiança ou depósito, previstos no art. 7º, III, da Lei nº
12.016/2019, configuram mera faculdade, que pode ser exercida se o magistrado entender ser necessária
para assegurar o ressarcimento a pessoa jurídica. Não se trata, portanto, de um obstáculo ao poder geral de
cautela, mas uma faculdade que vai ao encontro do art. 300, § 1º, do CPC:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir
caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa
vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.

Desse modo, é válido dizer que:

O juiz tem a faculdade de exigir caução, fiança ou depósito para o deferimento de


medida liminar em mandado de segurança, quando verificada a real necessidade
da garantia em juízo, de acordo com as circunstâncias do caso concreto (art. 7º, III,
da Lei nº 12.016/2019). STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info 1021).

● Vedação à concessão de liminar

Art. 7o § 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação
de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a
extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

Antigamente, entendia-se que não era possível conceder liminar em mandado de segurança para a
compensação de créditos tributários, entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior.

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SEMANA 04/18

No entanto, em 2021, o STF considerou inconstitucional impedir ou condicionar a concessão de


medida liminar, o que caracteriza verdadeiro obstáculo à efetiva prestação jurisdicional e à defesa do direito
líquido e certo do impetrante. A Corte concluiu que:

É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a concessão de medida


liminar na via mandamental. STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info 1021).

Em virtude dessa decisão do STF, fica SUPERADA a Súmula 212 do STJ: Súmula 212-STJ: A
compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida liminar cautelar
ou antecipatória. (entendimento superado)

Obs.: nos casos em que se veda a concessão da liminar, eventual sentença que conceda o MS não
poderá ser executada provisoriamente (art. 14, §3º):

§ 3o A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada


provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida
liminar.

h) Emenda da petição inicial


A possibilidade de correção do polo passivo do mandado de segurança gera divergências doutrinárias
e jurisprudenciais. Para o STJ, em regra, a indicação errônea da autoridade coatora deve acarretar a extinção
do processo sem resolução de mérito, sendo vedado emendar a petição inicial. Entretanto, há decisões
também do STJ que permitem a emenda da petição inicial do mandado de segurança, desde que seja possível
a identificação da verdadeira autoridade coatora pela simples leitura da petição e da documentação anexada.

Jurisprudência em Teses n. 43 do STJ: A indicação equivocada da autoridade


coatora não implica ilegitimidade passiva nos casos em que o equívoco é facilmente
perceptível e aquela erroneamente apontada pertence à mesma pessoa jurídica de
direito público.

Jurisprudência em Teses n. 86 do STJ: Admite-se a emenda à petição inicial de


mandado de segurança para a correção de equívoco na indicação da autoridade
coatora, desde que a retificação do polo passivo não implique alterar a
competência judiciária e que a autoridade erroneamente indicada pertença à
mesma pessoa jurídica da autoridade de fato coatora.

i) Apresentação de informações
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Nos termos do art. 7º, I, da Lei nº 12.016/09, ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique
o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos
documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações.
Natureza jurídica: segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, em razão da adoção do entendimento
de que a autoridade coatora não é propriamente ré no mandado de segurança, suas informações não têm a
natureza jurídica de contestação.

STJ: A intempestividade das informações prestadas pela autoridade apontada


como coatora no mandado de segurança não induz a revelia, uma vez que ao
impetrante incumbe demonstrar, mediante prova pré-constituída dos fatos que
embasam a impetração, a ocorrência do direito líquido e certo.

No entendimento de Leonardo Carneiro da Cunha, não apresentadas as informações, não se


presumem verdadeiros os fatos alegados pelo impetrante. Isso porque há presunção de legitimidade em
relação ao ato administrativo eventualmente questionado, que caberá ao impetrante afastar. Dessa forma,
essa presunção não será desfeita com a simples ausência de informações.

j) Prazo para impetração

Prazo: 120 dias, a contar, em regra, da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato
a ser impugnado.
Assim, depois que uma autoridade praticar um ato ilegal ou abusivo, a pessoa prejudicada terá o
prazo de até 120 dias para impugná-lo por meio de mandado de segurança. Ultrapassado este período, o
interessado continua com o direito de questionar o ato, mas deverá fazer isso mediante ação ordinária.
Caso a decisão que negar a segurança não tiver apreciado o mérito, será possível impetrar um novo
mandado de segurança, desde que não ultrapassado o período de 120 dias.

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120


(cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Art. 6º, §6º, da Lei n. 12.016/09: O pedido de mandado de segurança poderá ser
renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver
apreciado o mérito.

O prazo decadencial NÃO se suspende ou interrompe. Nem mesmo o pedido de reconsideração


administrativo interrompe a contagem desse prazo.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o


prazo para o mandado de segurança.

Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a


impetração de mandado de segurança.

Se o ato impugnado é de trato sucessivo, o prazo de 120 dias renova-se a cada ato.
Mandado de segurança preventivo: NÃO se pode falar em prazo decadencial para a sua impetração,
pois NÃO há ato coator a marcar a contagem.

STF (Info 1021): É constitucional o art. 23 da Lei nº 12.016/2009, que fixa o prazo
decadencial de 120 dias para a impetração de mandado de segurança.
STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min.
Alexandre de Moraes julgado em 9/6/2021

STJ (Info 578): O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra
redução do valor de vantagem integrante de proventos ou de remuneração de
servidor público renova-se mês a mês. A redução, ao contrário da supressão de
vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois não equivale à negação do
próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial para se impetrar a ação
mandamental renova-se mês a mês.
- Ato que SUPRIME vantagem: é ato ÚNICO (o prazo para o MS é contado da data
em que o prejudicado tomou ciência do ato).
- Ato que REDUZ vantagem: consiste em prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo
para o MS renova-se mês a mês).

STF (Info 884): Se no curso de um processo administrativo federal é praticado ato


contrário aos interesses da parte, o prazo de 120 dias para impetração de mandado
de segurança somente se inicia quando a parte for intimada diretamente, na forma
do § 3º do art. 26 da Lei nº 9.784/99

STF (Info 859):O STF já relativizou o prazo de 120 dias do MS em nome da


segurança jurídica. Em outubro/2004, a parte impetrou mandado de segurança no
STF. O writ foi proposto depois que já havia se passado mais de 120 dias da
publicação do ato impugnado. Dessa forma, o Ministro Relator deveria ter
extinguido o mandado de segurança sem resolução do mérito pela decadência.
Ocorre que o Ministro não se atentou para esse fato e concedeu a liminar pleiteada.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Em março/2017, a 1ª Turma do STF apreciou o mandado de segurança. O que fez o


Colegiado? Extinguiu o MS sem resolução do mérito em virtude da decadência?
NÃO. A 1ª Turma do STF reconheceu que o MS foi impetrado fora do prazo, no
entanto, como foi concedida liminar e esta perdurou por mais de 12 anos, os
Ministros entenderam que deveria ser apreciado o mérito da ação, em nome da
segurança jurídica. STF. 2ª Turma. MS 25097/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 28/3/2017 (Info 859).

k) Competência
A competência no MS é definida pela categoria da autoridade coatora e pela sua sede funcional.

STJ: A competência para o mandado de segurança é absoluta. No caso dos


tribunais, é funcional; no caso do juízo de primeiro grau, é territorial e absoluta
ou em razão da pessoa.

Ensina Leonardo Carneiro da Cunha: “Se a autoridade coatora desempenha função estadual ou
municipal, e a matéria envolvida não for trabalhista, nem eleitoral, a competência será da Justiça Estadual.
Caso a autoridade exerça função federal, e, de igual modo, não haja matéria trabalhista ou eleitoral
envolvida, a competência será da Justiça Federal.” (CUNHA, 2016, p. 552)
Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, se a competência para o julgamento do MS for do juízo
de primeiro grau, tanto na Justiça Estadual como na Federal, a competência territorial será determinada pelo
local em que a autoridade exerce suas funções. Caso haja vara privativa da Fazenda Pública, a competência
será absoluta dentro da comarca.

● Competência originária do STF:MS contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do
próprio Supremo Tribunal Federal.
● Competência recursal do STF:recurso ordinário contra decisão denegatória de mandado de segurança
proferida em única instância pelos Tribunais Superiores
● Competência originária do STJ:MS contra atos de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal
● Competência recursal do STJ:recurso ordinário contra decisão denegatória de mandado de segurança
proferida em única instância por TJ ou TRF
● Competência originária de TRF:MS contra ato do próprio tribunal ou de juiz federal
● Competência da justiça federal de 1º grau: MS contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais
● Competência da justiça do trabalho:MS contra ato que envolva matéria sujeita à sua jurisdição.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

TABELA DE COMPETÊNCIA DO MANDADO DE SEGURANÇA


contra atos
a) do Presidente da República,
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO b) das Mesas da Câmara dos Deputados e do
STF Senado Federal,
c) do Tribunal de Contas da União,
d) do Procurador-Geral da República e
e) do próprio Supremo Tribunal Federal.
COMPETÊNCIA RECURSAL DO Recurso ordinário contra decisão denegatória de
STF: mandado de segurança proferida em única instância
pelos Tribunais Superiores
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO Contra atos
STJ: a) do próprio Tribunal
b) de Ministro de Estado,
c) dos Comandantes da Marinha,
d) do Exército e
e) da Aeronáutica ou
f) do próprio Tribunal

COMPETÊNCIA RECURSAL DO Recurso ordinário contra decisão denegatória de


STJ: mandado de segurança proferida em única instância por
TJ ou TRF
Contra ato
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DE a) do próprio tribunal
TRF: b) de juiz federal

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA Contra ato


FEDERAL DE 1º GRAU: a) de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO Contra ato
TRABALHO: a) que envolva matéria sujeita à sua jurisdição.

Súmula 623-STF: Não gera por si só a competência originária do Supremo Tribunal


Federal para conhecer do mandado de segurança com base no art. 102, I, n, da
Constituição, dirigir-se o pedido contra deliberação administrativa do tribunal de
origem, da qual haja participado a maioria ou a totalidade de seus membros.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Súmula 624-STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer


originariamente de mandado de segurança contra atos de outros tribunais

#DDEXPLICA
O STF não dispõe de competência originária para processar e julgar MS impetrado
contra ato de outros Tribunais judiciários, ainda que se trate do STJ. Compete ao
próprio STJ julgar os mandados de segurança impetrados contra seus atos ou
omissões.

Súmula 330-STF: O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer


de mandado de segurança contra atos dos tribunais de justiça dos estados.

Súmula 41-STJ: O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar
e julgar, originariamente mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou
dos respectivos órgãos.

#DDEXPLICA. É o mesmo sentido da Súmula 624-STF. • MS contra ato do TJ é


julgado pelo próprio TJ.

Súmula 376-STJ: Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de


segurança contra ato de juizado especial.

STJ: Mandado de segurança impetrado contra Governador do Estado, a


competência, ainda que a matéria seja trabalhista, será do correspondente Tribunal
de Justiça.

STF: NÃO lhe cabe julgar, originariamente, MS contra atos praticados por outros
Tribunais e seus Órgãos. Os próprios Tribunais é que têm competência para julgar,
originalmente, MS contra seus atos, dos respectivos presidentes, câmaras e seções.

l) Amicus Curiae em mandado de segurança


Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, é chamado ou se oferece para intervir em
processo relevante, em razão de sua representatividade, com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua
opinião sobre o debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o
órgão julgador possa ter mais elementos para decidir de forma legítima.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte” ou “amigo do tribunal”.
Obs.: amici curiae é o plural de amicus curiae.

É possível a intervenção de amicus curiae em um processo de mandado de segurança? Trata-se de


tema polêmico.
∘ 1ª corrente: NÃO. No processo de mandado de segurança não é admitida a intervenção de terceiros
nem mesmo no caso de assistência simples. Se fosse admitida a intervenção do amicus curiae, isso
poderia comprometer a celeridade do mandado de segurança (STF. 1ª Turma. MS 29192/DF, rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 19/8/2014. Info 755).

O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção


de terceiros, conforme se extrai do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na
modalidade de assistência litisconsorcial.
STJ. 1ª Seção. AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado
em 28/04/2020. STF. 2ª Turma. RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, DJE 06/11/2020.

No mesmo sentido: decisão monocrática do Min. Luiz Fux: “Tradicionalmente não


se admite a figura do amicus curiae na via do mandado de segurança, tendo em
vista o caráter personalíssimo da ação e a exigência de celeridade intrínsecos ao
writ” (STF. Decisão monocrática. MS 34196, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
18/05/2018).

∘ 2ª corrente: SIM. A doutrina defende que, com o novo CPC, é possível a intervenção de amicus
curiae em processo de mandado de segurança (Enunciado nº 249 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis).
No mesmo sentido:
- STF. Decisão monocrática. MS 32451, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/06/2017.
- STF. Decisão monocrática. MS 35785, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
09/03/2020.

m) Reexame necessário:

Art. 14, §1º, da Lei n. 12.016/09: Concedida a segurança, a sentença estará sujeita
obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

STJ: As hipóteses de dispensa de remessa necessária previstas no art. 496 do CPC NÃO se aplicam ao
mandado de segurança, em razão da especialidade da norma contida na Lei n. 12.016/09.

Obs.: O entendimento exposto acima foi firmado em relação ao CPC/73 e em relação à Lei n.
1.533/51, que regia o MS. Contudo, segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, a doutrina majoritária
considera que o entendimento se manterá inalterado em face do novo CPC e da Lei n. 12.016/09
n) Recursos
Agravo de instrumento: cabível da decisão que conceder ou denegar a liminar;
Apelação: Indeferimento da inicial pelo juiz, e da sentença que concede ou denega o mandado.

Art. 14, §2º, da Lei n. 12.016/09: Estende-se à autoridade coatora o direito de


recorrer.

OBS: O MS admite desistência em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente do


consentimento do impetrado, desde que não ocorrido o trânsito em julgado.

STJ (Info 533): O impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a


anuência do impetrado mesmo após a prolação da sentença de mérito.

O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, em um caso concreto


noticiado no Informativo 781, o STF afirmou que não é cabível a desistência de
mandado de segurança, nas hipóteses em que se discute a exigibilidade de
concurso público para delegação de serventias extrajudiciais, quando na espécie já
houver sido proferida decisão de mérito, objeto de sucessivos recursos. No caso
concreto, o pedido de desistência do MS foi formulado após o impetrante ter
interposto vários recursos sucessivos (embargos de declaração e agravos
regimentais), todos eles julgados improvidos. Dessa forma, o Ministro Relator
entendeu que tudo levaria a crer que o objetivo do impetrante ao desistir seria o
de evitar o fim da discussão com a constituição de coisa julgada. Com isso, ele
poderia propor uma ação ordinária em 1ª instância e, assim, perpetuar a
controvérsia, ganhando tempo antes do desfecho definitivo contrário. Assim, com
base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do STF indeferiu o pedido de desistência.
STF. 2ª Turma. MS 29093 ED-ED-AgR/DF, MS 29129 ED-ED-AgR/DF, MS 29189 ED-
ED-AgR/DF, MS 29128 ED-ED-AgR/DF, MS 29130 ED-ED-AgR/DF, MS 29186 ED-ED-
AgR/DF, MS 29101 ED-ED-AgR/DF, MS 29146 ED-ED-AgR/DF, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgados em 14/4/2015 (Info 781).

o) MS COLETIVO - Art. 5º, LXX da CF e art. 21 da Lei 12.016/09


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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e
em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político
com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos
relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há,
pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou
de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde
que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

Pode ser impetrado:

● Partido político com representação no CN, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus
integrantes ou à finalidade partidária.
Obs.1: Basta 1 único representante na CD ou SF, filiado ao partido.
Obs.2: STJ vem entendendo que PP somente poderá impetrar MS coletivo para a defesa de seus
filiados e em questões políticas, ou seja, criou uma pertinência temática.

● Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento


há, pelo menos, 01 ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus
membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades,
dispensadas, para tanto, autorização especial.

Requisitos a serem preenchidos:


1.estar legalmente constituída: organizações sindicais, entidades de classe e associações;
2.estar em funcionamento há pelo menos 1 ano -é exclusivo das associações;
3.atuar na defesa dos interesses dos seus membros associados: pertinência temática estabelecida
pela CF entre o objeto do MS e os objetivos institucionais as organizações sindicais, entidades
de classe e associações.

A legitimidade é extraordinária, sendo o caso de substituição processual, razão pela qual NÃO se
exige autorização expressa dos titulares do direito.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Súmula 629/STF - A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de


classe em favor dos associados independe da autorização destes

Súmula 630/STF - A entidade de classe tem legitimação para o mandado de


segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da
respectiva categoria.

CESPE/2019 - Entidade sindical constituída há menos de um ano e sediada em município da Federação tem
legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo a fim de garantir direito líquido e certo de seus
filiados que tenha sido lesado por ato de autoridade da administração fazendária federal. Item correto

CESPE/2018 - O mandado de segurança coletivo caracteriza-se por ter dois ou mais impetrantes, que sejam
pessoas físicas ou jurídicas, no polo ativo. Item incorreto.

Os direitos protegidos pelo MS podem ser:


● Coletivos;
● Individuais homogêneos.

art. 21, § único da Lei de MS.


Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser:

I - COLETIVOS, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de


natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre
si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;

II - INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS, assim entendidos, para efeito desta Lei, os


decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade
ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

Os direitos defendidos por organização sindical NÃO precisam ser o mesmo direito para todos os
seus membros, podendo ser um direito de apenas parte dos membros da entidade.

CAIU EM PROVA – DELTA/MG 2021:

Centenas de delegados civis do Estado ZW reuniram-se na sede do Sindicato dos Delegados local,
representante dos interesses dessa categoria. O sindicato está legalmente constituído e em funcionamento
há três anos. Depois de longo período sem reajustes na sua remuneração, em assembleia geral convocada
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

especialmente para deliberar a respeito das medidas a serem adotadas pelos sindicalizados, decidiram
adotar providências concernentes a manifestações de rua, em frente à Assembleia Legislativa, de maneira
pacífica e organizada. Ao ser comunicado sobre as reuniões acima, o Governador de Estado respondeu ao
Sindicato dos Delegados que as estava indeferindo, dando ordem expressa para que elas não fossem
realizadas. Dentre os remédios constitucionais abaixo, o adequado à iniciativa do Sindicato, para assegurar
os direitos dos filiados, sem necessidade de dilação e instrução probatórias, é:

A) Ação Popular.
B) Mandado de Injunção coletivo.
C) Mandado de Segurança coletivo.
D) Mandado de Segurança individual.

GABARITO: LETRA C

ATENÇÃO! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!


Antigamente, no mandado de segurança coletivo impetrado contra autoridade vinculada à pessoa
jurídica de direito público, a liminar só poderá ser concedida após audiência do representante judicial da
pessoa jurídica, que deveria se pronunciar no prazo de 72 horas.
No entanto, em 2021, o STF julgou inconstitucional a exigência de oitiva prévia do representante da
pessoa jurídica de direito público como condição para a concessão de liminar em mandado de segurança
coletivo, por considerar que a disposição restringe o poder geral de cautela do magistrado. Conforme
argumentou o Min. Marco Aurélio:

“O preceito contraria o sistema judicial alusivo à tutela de urgência. Se esta surge


cabível no caso concreto, é impertinente, sob pena de risco do perecimento do
direito, estabelecer contraditório ouvindo-se, antes de qualquer providência, o
patrono da pessoa jurídica. Conflita com o acesso ao Judiciário para afastar lesão
ou ameaça de lesão a direito. Tenho como inconstitucional o artigo 22, § 2º, da Lei
nº 12.016/2009.”

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada


limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo
impetrante. (Vide ADIN 4296)
§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a
audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que
deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

p) Considerações gerais sobre MS:


∘ Prazo decadencial: 120 dias
∘ Não há dilação probatória
∘ Há reexame necessário
∘ Tanto a autoridade coatora como a pessoa jurídica devem ser indicadas na petição inicial
∘ Do indeferimento da petição inicial – cabe apelação
∘ Da decisão que concede/nega MS – cabe apelação
∘ Da decisão que concede/nega liminar – cabe agravo de instrumento
∘ Não cabe intervenção de terceiros no MS
∘ Não cabe embargos infringentes no MS
∘ Não cabe pagamento de honorários advocatícios no MS (salvo comprovada a má-fé)
∘ Não cabe ingresso de litisconsórcio ativo após o despacho da petição inicial
∘ Oitiva do MP em 10 dias
∘ Tem prioridade na tramitação, salvo HC.

Súmulas importantes sobre mandado de segurança:

Súmula 271 – STF - Concessão de mandado de segurança não produz efeitos


patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria.

Súmula 333-STJ: Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação


promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.

Súmula 429-STF: A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não


impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade

Súmula 474-STF: Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de


segurança, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra,
declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

Súmula 604-STJ: O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito


suspensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público

Súmula 626-STF: A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo


determinação em contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em
julgado da decisão definitiva de concessão da segurança ou, havendo recurso, até

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

a sua manutenção pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar
deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração.

Súmula 631-STF: Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante


não promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.

Jurisprudência em teses sobre mandado de segurança:

EDIÇÃO N. 43: MANDADO DE SEGURANÇA – I

1) A indicação equivocada da autoridade coatora não implica ilegitimidade passiva


nos casos em que o equívoco é facilmente perceptível e aquela erroneamente
apontada pertence à mesma pessoa jurídica de direito público.
2) Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra
ele cabe o mandado de segurança ou medida judicial. (Súmula n. 510/STF)
3) A teoria da encampação tem aplicabilidade nas hipóteses em que atendidos os
seguintes pressupostos: subordinação hierárquica entre a autoridade efetivamente
coatora e a apontada na petição inicial, discussão do mérito nas informações e
ausência de modificação da competência.
4) O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora
em mandado de segurança no qual se impugna a elaboração, aplicação, anulação
ou correção de testes ou questões de concurso público, cabendo à banca
examinadora, executora direta da ilegalidade atacada, figurar no polo passivo da
demanda.
5) No Mandado de Segurança impetrado pelo Ministério Público contra decisão
proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte
passivo. (Súmula n. 701/STF).
6) A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda
quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria. (Súmula n. 630/STF)
7) A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor
dos associados independe da autorização destes. (Súmula n. 629/STF)
8) A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona a
interposição de recurso. (Súmula n. 202/STJ)
9) A impetração de segurança por terceiro, nos moldes da Súmula n. 202/STJ, fica
afastada na hipótese em que a impetrante teve ciência da decisão que lhe
prejudicou e não utilizou o recurso cabível.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

10) O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de


segurança, na hipótese de exclusão do candidato do concurso público, é o ato
administrativo de efeitos concretos e não a publicação do edital, ainda que a causa
de pedir envolva questionamento de critério do edital. 11) O prazo decadencial
para impetração mandado de segurança contra ato omissivo da Administração
renova-se mês a mês, por envolver obrigação de trato sucessivo.
12) Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra
ato de juizado especial. (Súmula n. 376/STJ)
13) O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de outros Tribunais ou dos
respectivos órgãos. (Súmula n. 41/STJ)
14) Admite-se a impetração de mandado de segurança perante os Tribunais de
Justiça para o exercício do controle de competência dos juizados especiais.
15) O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido
por Ministro de Estado. (Súmula n. 177/STJ)

EDIÇÃO N. 85: MANDADO DE SEGURANÇA – II

1) Compete à justiça federal comum processar e julgar mandado de segurança


quando a autoridade apontada como coatora for autoridade federal, considerando-
se como tal também os dirigentes de pessoa jurídica de direito privado investidos
de delegação concedida pela União.
2) O impetrante pode desistir da ação mandamental a qualquer tempo antes do
trânsito em julgado, independentemente da anuência da autoridade apontada
como coatora.
3) Ante o caráter mandamental e a natureza personalíssima da ação, não é possível
a sucessão de partes no mandado de segurança, ficando ressalvada aos herdeiros
a possibilidade de acesso às vias ordinárias.
4) O prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança tem início com
a ciência inequívoca do ato lesivo pelo interessado.
5) A verificação da existência de direito líquido e certo, em sede de mandado de
segurança, não tem sido admitida em recurso especial, pois é exigido o reexame de
matéria fático-probatória, o que é vedado em razão da Súmula n. 7/STJ.
6) A ação mandamental não constitui via adequada para o reexame das provas
produzidas em Processo Administrativo Disciplinar - PAD.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

7) Não cabe mandado de segurança para conferir efeito suspensivo ativo a recurso
em sentido estrito interposto contra decisão que concede liberdade provisória ao
acusado.
8) Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição. (Súmula n. 267/STF)
9) A impetração de mandado de segurança contra ato judicial é medida
excepcional, admissível somente nas hipóteses em que se verifica de plano decisão
teratológica, ilegal ou abusiva, contra a qual não caiba recurso.
10) O cabimento de mandado de segurança contra decisão de órgão fracionário ou
de relator do Superior Tribunal de Justiça é medida excepcional autorizada apenas
em situações de manifesta ilegalidade ou teratologia.
11) Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em
julgado. (Súmula n. 268/STF)
12) É incabível mandado de segurança que tem como pedido autônomo a
declaração de inconstitucionalidade de norma, por se caracterizar mandado de
segurança contra lei em tese. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 -
TEMA 430)
13) É necessária a efetiva comprovação do recolhimento feito a maior ou
indevidamente para fins de declaração do direito à compensação tributária em
sede de mandado de segurança. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 -
TEMA 118) (Súmula n. 213/STJ)
14) É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária
realizada pelo contribuinte. (Súmula n. 460/STJ) (Tese julgada sob o rito do art. 543-
C do CPC/73 - TEMA 258)
15) O mandado de segurança não pode ser utilizado com o intuito de obter
provimento genérico aplicável a todos os casos futuros de mesma espécie.

EDIÇÃO N. 91: MANDADO DE SEGURANÇA - III

1) Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e


pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional (Súmula n. 311/STJ) e, por
isso, podem ser combatidos pela via mandamental.
2) É incabível mandado de segurança para conferir efeito suspensivo a agravo em
execução interposto pelo Ministério Público.
3) O mandado de segurança não pode ser utilizado como meio para se buscar a
produção de efeitos patrimoniais pretéritos, uma vez que não se presta a substituir
ação de cobrança, nos termos das Súmulas n. 269 e 271 do Supremo Tribunal
Federal.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

4) Não configura ação de cobrança a impetração de mandado de segurança visando


a desconstituir ato administrativo que nega conversão em pecúnia de férias não
gozadas, afastando-se as restrições previstas nas Súmulas n. 269 e 271 do Supremo
Tribunal Federal.
5) O mandado de segurança é meio processual adequado para controle do
cumprimento das portarias de concessão de anistia política, afastando-se as
restrições das Súmulas n. 269 e 271 do Supremo Tribunal Federal.
6) O termo inicial do prazo de decadência para impetração de mandado de
segurança contra aplicação de penalidade disciplinar é a data da publicação do
respectivo ato no Diário Oficial.
7) O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de ação mandamental
contra ato que fixa ou altera sistema remuneratório ou suprime vantagem
pecuniária de servidor público e não se renova mensalmente inicia-se com a ciência
do ato impugnado.
8) O prazo decadencial para impetração de mandado de segurança não se suspende
nem se interrompe com a interposição de pedido de reconsideração na via
administrativa ou de recurso administrativo desprovido de efeito suspensivo.
9) Admite-se a emenda à petição inicial de mandado de segurança para a correção
de equívoco na indicação da autoridade coatora, desde que a retificação do polo
passivo não implique alterar a competência judiciária e que a autoridade
erroneamente indicada pertença à mesma pessoa jurídica da autoridade de fato
coatora.
10) O Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão possui
legitimidade para figurar no polo passivo de ação mandamental impetrada com o
intuito de ensejar a nomeação em cargos relativos ao quadro de pessoal do Banco
Central do Brasil BACEN.
11) As autarquias possuem autonomia administrativa, financeira e personalidade
jurídica própria, distinta da entidade política à qual estão vinculadas, razão pela
qual seus dirigentes têm legitimidade passiva para figurar como autoridades
coatoras em ação mandamental.
12) Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários
advocatícios. (Súmula n. 105/STJ)
13) A impetração de mandado de segurança interrompe o prazo prescricional em
relação à ação de repetição do indébito tributário, de modo que somente a partir
do trânsito em julgado do mandamus se inicia a contagem do prazo em relação à
ação ordinária para a cobrança dos créditos indevidamente recolhidos.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

14) A impetração de mandado de segurança interrompe a fluência do prazo


prescricional no tocante à ação ordinária, o qual somente tornará a correr após o
trânsito em julgado da decisão.

CAIU EM CONCURSO!

IBFC – PCBA/2022 – Delegado de Polícia: A Lei nº 12.016/2009 disciplina o mandado de segurança. De acordo
com a mencionada lei, assinale a alternativa correta.

a) Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe agravo interno.


b) A sentença não está sujeita ao duplo grau de jurisdição se for concedida a segurança.
c) A autoridade coatora não é parte legítima para recorrer de decisão ou sentença proferida em mandado de
segurança.
d) O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo liminar se constatar, em juízo prévio,
a plausibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida.
e) A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, ainda que sem decisão do mérito, impede
que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais

Resposta: Alternativa ‘D’

3. MANDADO DE INJUNÇÃO9

a) Introdução
Trata-se de remédio constitucional introduzido pelo PCO de 1988.
A Lei nº 13.300/16 disciplina o processo e julgamento do mandado de injunção individual e
coletivo.

Art. 5º, LXXI, CF/88 - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;

Art. 2º, Lei 13.300/2016 - Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e

9
Para aprofundamento, sugerimos: http://www.dizerodireito.com.br/2016/06/primeiros-comentarios-lei-133002016-
lei.html

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SEMANA 04/18

liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à


soberania e à cidadania.

Remédio à disposição de qualquer um que se sinta prejudicado pela falta de norma regulamentadora,
sem a qual resulte inviabilizado o exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionais. => Caso de
inércia governamental (“violação negativa do texto constitucional”).
Ensina Dirley da Cunha Jr.:

O objetivo do PCO ao criar o MI e a ADO foi introduzir mecanismos capazes de


combater a inefetividade de normas constitucionais, impedindo que a inação dos
órgãos incumbidos do dever de normativização venha a obstar o auferimento dos
direitos pelos destinatários da norma constitucional. Enquanto o MI é uma ação
constitucional de garantia individual concebido como instrumento de controle
concreto de constitucionalidade da omissão voltado à defesa de direitos subjetivos,
a ADO é uma ação constitucional de garantia da Constituição, um instrumento de
controle abstrato de constitucionalidade da omissão, empenhado na defesa
objetiva da CF.

Assim, podemos concluir:

(1) Trata-se de instrumento para combater a Síndrome de Inefetividade das Normas Constitucionais. Ao
lado da ADO, atacam a inefetividade das normas constitucionais de eficácia limitada, ante a ausência de
lei infraconstitucional integrativa para propiciar à norma constitucional a produção de todos os seus
efeitos.

(2) Trata-se de instrumento de controle concreto/incidental das inconstitucionalidades por omissão, sendo
voltado, portanto, para a tutela dos direitos subjetivos, garantia individual.

(3) Pressuposto: inviabilização dos exercícios de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania, pela ausência da norma regulamentadora.

Vamos esquematizar?
Mandado de Injunção ADO
Intentado por qualquer Legitimação restrita aos
pessoa física ou jurídica, que entes do art. 103 CF.
Legitimação se veja impossibilitada de

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

exercer determinado direito


constitucional.
Busca-se solução para o caso O controle da omissão é
concreto, individualmente realizado em tese, sem a
Objeto considerado, diante da necessidade de estar
inércia do legislador. configurada uma
violação concreta a um
direito individual.
Julgamento STF, STJ, TSE, etc. (controle STF (controle
difuso) concentrado)

b) Cabimento
Partindo do texto constitucional, o art. 2.º da Lei n. 13.300/2016 estabelece que será concedido
mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania. A omissão é total quando a inércia é absoluta, ou seja, o preceito constitucional de
eficácia limitada não foi disciplinado. Por sua vez, considera-se parcial a regulamentação quando forem
insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente.
Em outras palavras: haverá MI quando a existência de direito ou liberdade constitucional, ou de
prerrogativa inerente à nacionalidade, soberania, cidadania, cujo exercício seja inviabilizado pela ausência
de norma infraconstitucional regulamentadora.
Note que NÃO é qualquer omissão do Poder Público que enseja o ajuizamento do MI, mas apenas
as omissões relacionadas às normas constitucionais de eficácia limitada de caráter mandatório, ou seja,
normas constitucionais que devem ter a sua plena aplicabilidade assegurada.
Portanto, normas constitucionais definidoras de princípios institutivos ou organizativos de natureza
facultativa, por outorgarem mera faculdade ao legislador, NÃO autorizam o ajuizamento do MI.

STF determinou, em julgamento de mandado de injunção, que o governo federal


implemente, a partir de 2022, o programa de renda básica de cidadania, previsto
na Lei nº 10.835/2004. A Lei nº 10.835/2004 instituiu um programa denominado
“renda básica de cidadania”. Segundo esse programa, todas as pessoas residentes
no Brasil, não importando a sua condição socioeconômica, deverão receber um
benefício cujo valor deve ser fixado pelo Poder Executivo. O pagamento do
benefício deverá ser de igual valor para todos, e suficiente para atender às despesas
mínimas de cada pessoa com alimentação, educação e saúde. Como esse programa
ainda não havia sido implementado, em 2020 o Defensor Público-Geral Federal
ajuizou mandado de injunção contra o Presidente da República. O STF decidiu que,

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

como está presente estado de mora inconstitucional, deve ser fixado o valor da
renda básica de cidadania para o estrato da população brasileira em condição de
vulnerabilidade socioeconômica — pobreza e extrema pobreza — a ser efetivado,
pelo Presidente da República, no exercício fiscal seguinte ao da conclusão do
julgamento de mérito (2022). STF. Plenário. MI 7300/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/4/2021 (Info 1014).

Explicação Via Dizer o Direito:


Cabe mandado de injunção, neste caso? Ele pode ser impetrado contra o
Presidente da República?
SIM. Cabe mandado de injunção em face da ausência de fixação do valor da renda
básica de cidadania, instituída pela Lei nº 10.835/2004, cuja omissão é atribuída ao
Presidente da República.
A ausência de fixação do valor é forma de esvaziar o mandamento constitucional
de combate à pobreza, além de fazer letra morta ao disposto no referido diploma
legal.

Vale ressaltar, no entanto, que o mandado de injunção foi conhecido apenas


quanto ao benefício para as pessoas em situação de vulnerabilidade
Como vimos acima, esse benefício deveria ser pago a todas as pessoas residentes
no Brasil, independentemente da sua condição socioeconômica. Assim, pela lei,
mesmo que a pessoa seja milionária, ela teria direito de receber o benefício em
valor igual a uma pessoa miserável.

O STF afirmou que esse mandado de injunção ajuizado pelo Defensor Público-Geral
deveria ser parcialmente conhecido. Para o STF, o mandado de injunção somente
deveria ser conhecido no que tange à implementação do benefício para pessoas
em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em outras palavras, o STF afirmou
que só iria analisar e determinar providências para garantir o benefício em favor
das pessoas em vulnerabilidade socioeconômica. Qual foi o argumento jurídico do
STF para isso?

Um dos objetivos da República brasileira é “erradicar a pobreza e a marginalização


e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (art. 3º, III, da CF/88), cuja
determinação é repassada a todos os níveis da Federação (art. 23, X), com auxílio
da sociedade.

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A assistência aos desamparados é direito social básico (art. 6º). Assim, existem
direitos constitucionais das pessoas em situação de vulnerabilidade que não estão
sendo desempenhados pela falta da norma regulamentadora. Esse direito,
contudo, não existe para as pessoas com boa situação econômica. Não se pode
extrair, da Constituição Federal, o dever do Estado de pagar um benefício social
para as pessoas com boa situação econômica. O Estado não pode ser segurador
universal e distribuir renda a todos os brasileiros, independentemente de critério
socioeconômico. Na CF/88, não há qualquer determinação de atuação estatal nesse
sentido.

c) Descabimento
● Diante de falta de norma regulamentadora de direito previsto em normas infraconstitucionais => o
MI se destina a falta de normas regulamentadoras na CF.
● Diante da falta de regulamentação dos efeitos de MP não convertida em lei pelo CN;
● Se a CF outorga mera faculdade do legislador para regulamentar direito previsto em algum de seus
dispositivos.

STF: entende não haver interesse processual para o ajuizamento de MI quanto à


aposentadoria especial dos servidores públicos, em razão de já ter sido pacificado
o entendimento em Súmula Vinculante (SV 33). Cabível, portanto, reclamação
constitucional, e não MI.

STF: A jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que a edição do diploma


reclamado pela Constituição leva à perda de objeto do mandado de injunção.
Excede os limites da via eleita a pretensão de sanar a alegada lacuna normativa do
período pretérito à edição da lei regulamentadora.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: Não será cabível o mandado de
injunção quando houver regulamentação da matéria por normas editadas pelo órgão legislador competente,
ainda que insuficientes.

Gabarito: literalidade do art. 2º, §único da Lei 13.300/2016. Art. 2º Conceder-se-á mandado de injunção
sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Parágrafo
único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas editadas pelo órgão
legislador competente.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte alternativa: Não existindo lacuna que torne inviável
o exercício dos direitos e liberdades constitucionais, não há necessidade de mandado de injunção; portanto,
o mandado de injunção não pode ser concedido verificando-se a existência de norma anterior à Constituição
devidamente recepcionada.

Gabarito: "I. Mandado de injunção: ocorrência de legitimação "ad causam" e ausência de interesse
processual. 1. Associação profissional detem legitimidade "ad causam" para
impetrar mandado de injunção tendente a colmatação de lacuna da disciplina legislativa alegadamente
necessaria ao exercício da liberdade de converter-se em sindicato (CF, art. 8.). 2. Não há interesse processual
necessário a impetração de mandado de injunção, se o exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa
constitucional da requerente não esta inviabilizado pela falta de norma infraconstitucional, dada
a recepção de direito ordinário anterior. (...)" (MI 144, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal
Pleno, julgado em 03/08/1992, DJ 28-05-1993 PP-10381 EMENT VOL-01705-01 PP-00013 RTJ VOL-00147-03
PP-00868)

d) Considerações importantes sobre o MI


∘ Instrumento de controle difuso/incidental
∘ Introduzido na CF/88
∘ Exige a falta de norma de eficácia limitada e caráter impositivo
∘ A omissão combatida pode ser total ou parcial
∘ Não é gratuito
∘ Exige advogado
∘ O indeferimento por ausência de provas não impede novo MI lastreado em novas provas
∘ A edição da norma regulamentadora objeto do MI acarreta a perda do objeto do MI
∘ Não admite medida liminar **

** STF: É incabível a concessão de medida liminar em MI, uma vez que esse instituto
se destina à verificação da ocorrência, ou não, de mora da autoridade ou do Poder
de que depende a elaboração da norma regulamentadora do texto constitucional.

- CESPE/2015: Após a impetração de mandado de injunção, pendente de julgamento, o diploma legal objeto
da reclamação foi promulgado. Nessa situação, a ação não estará prejudicada por ser possível, na via
processual, discutir pretensão do interessado de sanar a lacuna normativa no período pretérito à edição da
lei regulamentadora. ASSERTIVA INCORRETA

e) Legitimação para o MI individual


● Polo Ativo: Qualquer pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, que se veja impossibilitada
de exercer o seu direito.
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● Polo Passivo: Órgãos ou autoridades públicas que têm obrigação de legislar, mas estejam omissos
quanto à elaboração de norma regulamentadora, inclusive o Presidente da República, no tocante
às competências exclusivas do art. 61, CF/88).

Obs.1: Para o conhecimento do MI, o impetrante deve comprovar a titularidade direta do direito
constitucional em questão.

Obs.2: Em caso de normas de iniciativa reservada, o MI deverá ser impetrado também em face do
titular da referida iniciativa reservada (ex. iniciativa reservada do Presidente da República), pois é ele quem
deverá deflagrar o processo legislativo, não podendo o CN atuar sem a sua provocação.

Obs3: Para o STF, os particulares – ainda que estejam se beneficiando pela falta da norma
regulamentadora, NÃO se revestem de legitimidade passiva ad causam para o processo em MI, pois somente
ao Poder Público é imputável o dever constitucional de produção legislativa para dar efetividade aos direitos,
liberdades e prerrogativas constitucionais.

e) Competência:
As regras de competência para impetrar o mandado de injunção são disciplinadas na própria
Constituição Federal e variam de acordo com o órgão ou a autoridade responsável pela edição da norma
regulamentadora. Confira:

COMPETÊNCIA Quando a atribuição para elaborar a norma (poder de iniciativa) for


do(a)
• Presidente da República
• Congresso Nacional
• Câmara dos Deputados
STF • Senado Federal
(ART. 102, I, "Q") • Mesas da Câmara ou do Senado
• Tribunal de Contas da União
• Tribunais Superiores
• Supremo Tribunal Federal.
órgão, entidade ou autoridade federal, excetuados os casos de
STJ*
competência do STF e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça
(ART. 105, I, "H")
Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal.
JUÍZES E TRIBUNAIS DA JUSTIÇA órgão, entidade ou autoridade federal nos assuntos de sua
MILITAR, JUSTIÇA ELEITORAL, competência.
JUSTIÇA DO TRABALHO

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órgão, entidade ou autoridade federal, se não for assunto das


demais "Justiças" e desde que não seja autoridade sujeita à
competência do STJ.
JUÍZES FEDERAIS E TRFS*
Ex: compete à Justiça Federal julgar MI em que se alega omissão do
Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) na edição de norma de
trânsito que seria de sua atribuição (STJ MI 193/DF).
órgão, entidade ou autoridade estadual, na forma como
JUÍZES ESTADUAIS E TJS
disciplinada pelas Constituições estaduais.

f) Correntes acerca dos efeitos da decisão do Judiciário em MI:


(Caiu na 1ª Fase de Delegado de MG em 2018!)

Antes da edição da Lei 13.300/06, havia muita controvérsia na doutrina e jurisprudência a respeito
dos efeitos da decisão em sede de mandado de injunção. De forma bem sucinta:

a) Corrente não concretista – a decisão em MI apenas podia declarar em mora o legislador, não
podendo concretizar o direito cujo gozo encontrava-se impedido em apreço a separação de poderes.
(STF já adotou essa posição há muitos anos, até 2007).
b) Corrente concretista – a decisão em MI deve ir além da declaração em mora do legislador, sob pena
de tornar o remédio constitucional inócuo. A decisão em MI deve concretizar o direito discutido na
ação, através da edição de norma aplicável ao caso. (Posição da doutrina majoritária e o STF desde
2007 até os dias atuais).

Além disso, havia discussão sobre o alcance dos efeitos da decisão: seria limitado aso partes do
processo – inter partes - ou alcançaria todos com eficácia erga omnes?

A lei 13.300/16 disciplinou o tema, estabelecendo que:

I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma


regulamentadora;
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades
ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o
interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a
mora legislativa no prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput
quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção
anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma.

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1. o órgão julgador determina prazo razoável para que o ente em mora supra a falta normativa.
2. Se ultrapassado prazo estabelecido sem a edição da norma regulamentadora, o órgão julgador irá
suprir a falta normativa estabelecendo “as condições em que se dará o exercício dos direitos, das
liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o
interessado promover ação própria visando a exercê-los.”

A doutrina diz que a Lei 13.300/2016 optou por adotar uma posição concretista intermediária, isto
é: ao julgar procedente o mandado de injunção, o Judiciário, antes de viabilizar o direito, deverá dar uma
oportunidade ao órgão omisso para que este possa elaborar a norma regulamentadora. Assim, a decisão
judicial fixa um prazo para que o Poder, órgão, entidade ou autoridade edite a norma que está faltando. Caso
esta determinação não seja cumprida no prazo estipulado, aí sim o Poder Judiciário poderá viabilizar o direito,
liberdade ou prerrogativa.
Mas não pode esquecer o § único do art. 8º! A lei dispensa a exigência de prévia fixação de prazo
razoável para a edição da norma regulamentadora nos casos em que ficar comprovado que o impetrado
deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma. Essa
exceção se filia à tese concretista direta:

* Corrente concretista direta: o Judiciário deverá implementar uma solução para


viabilizar o direito do autor e isso deverá ocorrer imediatamente (diretamente), não
sendo necessária nenhuma outra providência, a não ser a publicação do dispositivo
da decisão.

CORRENTE CONCRETISTA INTERMEDIÁRIA CORRENTE CONCRETISTA DIRETA


O judiciário, ao julgar procedente o mandado o Judiciário deverá implementar uma solução
de injunção, antes de viabilizar o direito, para viabilizar o direito do autor e isso deverá
deverá dar uma oportunidade ao órgão ocorrer imediatamente (diretamente), não
omisso para que este possa elaborar a norma sendo necessária nenhuma outra
regulamentadora. providência, a não ser a publicação do
dispositivo da decisão.

É aplicada como regra É aplicada excepcionalmente

Por fim, o art. 9º da Lei disciplina os efeitos subjetivos da decisão que concede o mandado de injunção.
▪ Efeitos subjetivos = quem deve ser atingido pelos efeitos dessa decisão?

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Art. 9º A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efeitos até
o advento da norma regulamentadora.
§ 1º Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando
isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da
prerrogativa objeto da impetração.
§ 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos
casos análogos por decisão monocrática do relator.
§ 3º O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a
renovação da impetração fundada em outros elementos probatórios.

Como regra geral, a eficácia subjetiva da decisão está limitada as partes (inter partes) e somente
produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora. É o que a doutrina denomina de eficácia
individual.
Excepcionalmente, a eficácia subjetiva da decisão poderá ser ultra partes ou erga omnes, quando for
inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da impetração. A
doutrina chama de eficácia geral.

CORRENTE CONCRETISTA GERAL CORRENTE CONCRETISTA INDIVIDUAL


Determina a aplicação analógica de outro O tribunal edita a norma do caso concreto,
diploma legislativo a todas as situações determinando a aplicação de um parâmetro
omissas até que o órgão omisso legal exclusivamente para aquele caso
regulamente a situação. Ex.: Em face da submetido a juízo, com efeitos inter partes.
inexistência de regra regulamentando o Ex.: Quanto à aposentadoria especial do
exercício do direito de greve pelos servidor que trabalha em atividade de risco,
servidores públicos, o STF determinou a em face da ausência de lei regulamentadora,
aplicação analógica da lei de greves da o STF tem determinado a aplicação, em cada
iniciativa privada com efeitos erga omnes. caso concreto, da lei geral de benefícios da
previdência social.

Vamos esquematizar?

CONTEÚDO DA DECISÃO EFEITOS SUBJETIVOS DA DECISÃO

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Adoção da tese concretista intermediária Adoção da tese da eficácia individual


1. o órgão julgador determina prazo
razoável para que o ente em mora supra a A eficácia subjetiva da decisão está
falta normativa. limitada as partes (inter partes) e
2. Se ultrapassado prazo estabelecido sem a somente produzirá efeitos até o advento
edição da norma regulamentadora, o da norma regulamentadora.
órgão julgador irá suprir a falta normativa
REGRA estabelecendo “as condições em que se
dará o exercício dos direitos, das
liberdades ou das prerrogativas
reclamados ou, se for o caso, as condições
em que poderá o interessado promover
ação própria visando a exercê-los
Adoção da tese concretista direta (art. 8º, § Adoção da tese da eficácia geral
único) A eficácia subjetiva da decisão poderá
o Judiciário deverá implementar uma solução ser ultra partes ou erga omnes, quando
para viabilizar o direito do autor e isso deverá for inerente ou indispensável ao
EXCEÇÃO ocorrer imediatamente (diretamente), não exercício do direito, da liberdade ou da
sendo necessária nenhuma outra providência, prerrogativa objeto da impetração.
a não ser a publicação do dispositivo da
decisão.

g) MI coletivo
Embora não haja previsão na CF, cabe o MI coletivo, nos mesmos termos do MS coletivo. Inclusive, a
própria Lei 13.300/2016 regula os termos do MI coletivo a partir do artigo 12 e seguintes.
No MI coletivo, os direitos, liberdades e prerrogativas protegidos são os pertencentes,
indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria.
Dessa forma, deve ser proposto por legitimados previstos na Lei, em nome próprio, mas defendendo
interesses alheios. São legitimados para impetrar MI coletivo:

Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:


I - pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses
sociais ou individuais indisponíveis;
II - por PARTIDO POLÍTICO COM REPRESENTAÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL,
para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus
integrantes ou relacionados com a finalidade partidária;
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III - por ORGANIZAÇÃO SINDICAL, ENTIDADE DE CLASSE ou ASSOCIAÇÃO


legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para
assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade
ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde
que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial;
IV - pela DEFENSORIA PÚBLICA, quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais
e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição
Federal .

Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por


mandado de injunção coletivo são os pertencentes, indistintamente, a uma
coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte alternativa: O Ministério Público tem legitimidade para
impetrar mandado de injunção coletivo quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis. (2021)

Obs.1: Conforme entendimento do STF, não cabe a impetração de mandado de injunção coletivo
para proceder à revisão geral anual dos vencimentos dos servidores públicos.

"Independentemente da atuação do Poder Legislativo Estadual, é perceptível


que não se está diante da possibilidade de cabimento do mandado de injunção,
porque o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou quanto à impossibilidade da
referida impetração para proceder a revisão geral anual: "Agravo regimental em
mandado de injunção coletivo. 2. Art. 37, X, da Constituição Federal. 3. Não cabe
mandado de injunção para proceder à revisão geral anual. Precedentes. 4. Agravo
a que se nega provimento." (MI 4265 AgR/DF, Relator (a): Min. GILMAR MENDES,
Julgamento: 30/04/2014, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Publicação 02/06/14)

Obs.2: A coisa julgada gerará efeitos apenas em relação aos substituídos pelo legitimado coletivo.
Contudo, também é possível a concessão de efeitos erga omnes na mesma situação tratada acima, ou seja,
desde que seja inerente ou indispensável ao exercício do direito ou liberdade.

Obs.3: O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos individuais, mas os
efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a desistência da demanda individual
no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva.
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Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada


limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da
categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1o e 2o do
art. 9o.

Parágrafo único. O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em


relação aos individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o
impetrante que não requerer a desistência da demanda individual no prazo de 30
(trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva.

4. HABEAS DATA

a) Previsão normativa: Art. 5º, LXXII e Lei 9507/97

LXXII - conceder-se-á habeas data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

b) Hipóteses de concessão do habeas data: O HD poderá ser impetrado:


1) Para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
2) Para retificação desses dados, quando não se prefira fazer por meio sigiloso, judicial ou administrativo;
3) Para anotação nos assentamentos do interessado de contestação ou explicação sobre dado
verdadeiro, mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

Art. 7° Conceder-se-á habeas data:


I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou
explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência
judicial ou amigável.
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STJ: Só pode pedir a retificação de dados o sujeito que tem conhecimento desses
dados. Portanto, não cabe cumular pedidos de prestação de informações e
correções de dados.

STF: O HD NÃO é instrumento jurídico adequado para pleitear o acesso a autos de


processos administrativos.

Obs.1:Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem dos sistemas dos órgãos
fazendários

O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados


concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos
sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração
fazendária dos entes estatais. No caso concreto, o STF reconheceu que o
contribuinte pode ajuizar habeas data para ter acesso às informações relacionadas
consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR da Receita Federal. O SINCOR
(Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita
Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos
contribuintes pessoas jurídicas. A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu
raciocínio poderá ser aplicado para outros bancos de dados mantidos pelos órgãos
fazendários. STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
17/6/2015 (repercussão geral) (Info 790).

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa:


O Habeas Data não pode ser impetrado com a finalidade de obter dados referentes ao pagamento de
tributos do próprio contribuinte constantes de sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos
tributários da administração fazendária dos entes estatais.

Obs.2:Cuidado para não confundir o habeas data com o direito geral de informação, protegido por
mandado de segurança e previsto no inc. XXXIII da CF/88. Veja:

DIREITO GERAL DE INFORMAÇÃO REQUERIMENTO PARA ACESSO À INFORMAÇÕES


RELATIVAS À PESSOA DO IMPETRANTE

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XXXIII - todos têm direito a receber dos LXXII - conceder-se-á habeas data:
órgãos públicos informações de seu a) para assegurar o conhecimento de informações
interesse particular, ou de interesse relativas à pessoa do impetrante, constantes de
coletivo ou geral, que serão prestadas no registros ou bancos de dados de entidades
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, governamentais ou de caráter público;
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e Dica: Aqui, não são informações de interesse da
do Estado pessoa impetrante, mas sim relativas ao
impetrante!i´-
Protegido por mandado de segurança Protegido por habeas data

c) Legitimidade ativa:
Pode ser ajuizado por qualquer pessoa física, brasileira ou estrangeira, bem como por pessoa jurídica
e órgãos despersonalizados.
Trata-se de uma ação personalíssima, que só pode ser ajuizada pelo titular do direito, salvo se houver
a morte do agente, hipótese em que poderá ser impetrado, excepcionalmente, pelo cônjuge e herdeiros.

d) Legitimidade passiva: Depende da natureza jurídica do registro ou do banco de dados.


● Registro ou banco de dados de entidade governamental: PJ integrante da administração pública
● Registro ou banco de dados de entidade de caráter público: é entidade privada.

e) Jurisdição condicionada
O HD é um processo de jurisdição condicionada. Isso porque, para impetrá-lo, deve ter ocorrido o
prévio requerimento administrativo e a negativa ou omissão pela autoridade administrativa. (Trata-se de
uma “exceção” ao princípio da inafastabilidade da jurisdição).

Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houve
recusa de informações por parte da autoridade administrativa

Lei 9507/97. Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts.
282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os
documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.

Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:


I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem
decisão; ou
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III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso


de mais de quinze dias sem decisão.

f) Características gerais do HD
✔ Procedimento gratuito e não há ônus de sucumbência, mas se exige advogado para impetrar HD.
✔ Tem prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto HC e MS
✔ NÃO se sujeita a prazo prescricional ou decadencial.
✔ O pedido do HC pode ser renovado caso a decisão denegatória não tenha apreciado o mérito
✔ A lei não fala em medida liminar, mas a doutrina vem entendendo pela admissibilidade
✔ Não cabe reexame necessário
✔ Não admite atividade probatória

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: O Habeas Data, assim como o Mandado
de Segurança, não prevê fase probatória e, portanto, não pode ser impetrado quando controversa a matéria.

g) Prazos na lei:
∘ Requerimento: art. 2º
· 48 h para decidir o requerimento;
· 24h para comunicar a decisão ao requerente;

∘ Haverá omissão da autoridade quando não se manifestar: art. 8º, §único


· Pedido de acesso aos dados: 10 dias
· Pedido de retificação de dados: 15 dias.
· Pedido de complementação de dados: 15 dias.

∘ Após despachar a inicial: art. 9º e 12º


· Juiz comunica à autoridade coatora para apresentar informações que julgue necessárias em
10 dias
· Transcorridos esses 10 dias, o juiz deverá ouvir o MP em 5 dias
· Juiz deve decidir em 5 dias

h) Recursos
∘ Do despacho que indeferir liminarmente a petição inicial – apelação
∘ Da decisão que conceder ou negar o HD – apelação

Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, quando não for o caso de habeas data,
ou se lhe faltar algum dos requisitos previstos nesta Lei.

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Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso previsto no art. 15.

Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas data cabe apelação.
Parágrafo único. Quando a sentença conceder o habeas data, o recurso terá efeito
meramente devolutivo.

i) Competência:
● Art. 102, I, d: STF possui competência originária para processar e julgar HD contra atos do Presidente
da República, das Mesas da CD e do SF, do TCU, do PGR e do próprio STF.
● Art. 102, II, a: STF julga em recurso ordinário o HD decidido em única instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão.
● Art. 105, I, b: STJ processa e julga originariamente habeas data contra ato do Ministro de Estado,
Comandantes das Forças Armadas ou do próprio tribunal.(Caiu na prova de Delegado de Polícia
Federal de 2021!)
● Art. 108, I, c: TRFs processam e julgam habeas data contra ato do próprio tribunal e ou dos juízes
federais.
● Art. 109, VIII: juízes federais processam e julgam habeas data contra ato de autoridade federal.
● Art. 121, §4º, V: TSE processa e julga em grau de recurso habeas data denegado pelo TRE.
● Art. 125, §1º: no plano estadual, a competência será definida pela Constituição Estadual.
CESPE/2020: As ações de habeas corpus e habeas data são gratuitas e consideradas necessárias ao exercício
da cidadania, asseguradas como cláusulas pétreas na CF, de modo que é dever do Estado a garantia desses
direitos, sendo-lhe vedado suprimi-los. Item correto

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QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2018 - FUMARC - PC-MG - FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto


A partir de julgamentos de mandados de injunção coletivos, em 2007, entre eles o MI 708, o Supremo
Tribunal Federal alterou seu entendimento acerca dos efeitos e da abrangência da decisão. Corresponde a
essa mudança:

A-O Supremo Tribunal Federal manteve seu entendimento, consolidado desde a promulgação da
Constituição Federal, de se conceder a ordem injuncional, afirmando a competência do Judiciário para
regulamentar, no caso concreto, a falta da norma regulamentadora.
B-O Supremo Tribunal Federal manteve seu entendimento, segundo a maioria dos Ministros, de não se
conceder a ordem injuncional, afirmando que compete ao Judiciário apenas cientificar o órgão competente
para a elaboração da norma regulamentadora, sem obrigá-lo.
C-O Supremo Tribunal Federal passou a aplicar, no entendimento da maioria dos Ministros, a teoria
concretista, afirmando a competência do Judiciário para regulamentar, no caso concreto, a falta da norma
regulamentadora.
D-O Supremo Tribunal Federal passou a aplicar, no entendimento da maioria dos Ministros, a teoria não
concretista, afirmando a impossibilidade de o Judiciário regulamentar, no caso concreto, a falta da norma
regulamentadora.

2 - 2018 - NUCEPE - PC-PI - NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil


Sabe-se que o Mandado de Segurança é uma ação judicial capaz de proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Pode-se
afirmar, ainda acerca deste importante remédio constitucional:

A-O Mandado de Segurança, diferentemente, do Habeas Corpus, que prevê a impetração de forma
preventiva e repressiva, somente ocorre depois da prática do ato ou da omissão da autoridade que se
pretende impugnar.
B-Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos legais, impetrar mandado de segurança por
telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada, devendo o texto original
da petição inicial ser apresentado nos 3 (três) dias úteis seguintes.
C-Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem
para a sua prática, assim como o agente subordinado que cumpre a ordem por dever hierárquico.
D-Incabível o Mandado de Segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores
de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

E-Sempre que possível, havendo direito líquido e certo, o juiz concederá a medida liminar no Mandado de
Segurança, que tenha por objeto a compensação de créditos tributários ou entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior.

3 - 2018 - VUNESP - PC-BA - VUNESP - 2018 - PC-BA - Delegado de Polícia


A Lei no 9.507, de 12 de novembro de 1997, disciplina o rito processual do habeas data, nos seguintes termos:

A-o seu pedido não poderá ser renovado, em caso de decisão denegatória.
B-o seu processo terá prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto mandado de segurança e injunção.
C-o impetrante fará jus à gratuidade de Justiça, tendo ou não recursos financeiros para arcar com as custas
e as despesas processuais.
D-ao despachar a inicial, se o juiz verificar que não é caso de habeas data, intimará o impetrante para que
adite o seu pedido, convertendo-o em mandado de segurança.
E-quando for hipótese de sentença concessiva, o recurso de apelação interposto terá efeito devolutivo e
suspensivo.

4 - 2017 - CESPE / CEBRASPE - PJC-MT - CESPE - 2017 - PJC-MT - Delegado de Polícia Substituto
Com referência ao habeas corpus e ao mandado de segurança, julgue os itens seguintes, de acordo com o
entendimento do STF.

I Não caberá habeas corpus nem contra decisão que condene a multa nem em processo penal em curso no
qual a pena pecuniária seja a única imposta ao infrator.
II O habeas corpus é o remédio processual adequado para garantir a proteção do direito de visita a menor
cuja guarda se encontre sob disputa judicial.
III Nos casos em que a pena privativa de liberdade já estiver extinta, não será possível ajuizar ação de habeas
corpus.
IV O mandado de segurança impetrado por entidade de classe não terá legitimidade se a pretensão nele
veiculada interessar a apenas parte dos membros da categoria profissional representada por essa entidade.

Estão certos apenas os itens

A-I e II.
B-I e III.
C-II e IV.
D-I, III e IV.
E-II, III e IV.

206
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

5 - 2017 - FAPEMS - PC-MS - FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado de Polícia


O habeas corpus é uma ação constitucional de grande importância na história jurídico-constitucional do
Brasil. Sob a vigência da Constituição de 1891, por exemplo, segundo MENDES e BRANCO (2017),

[...] a formulação ampla do texto constitucional deu ensejo a uma interpretação que permitia o uso do habeas
corpus para anular até mesmo ato administrativo que determinara o cancelamento de matrícula de aluno
em escola pública, para garantir a realização de comícios eleitorais, o exercício da profissão, dentre outras
possibilidades.
MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 12a. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 431

Hoje, o Supremo Tribunal Federal detém importante papel na definição do seu cabimento. Assim, afirma-se
que

A-o Supremo Tribunal Federal não admite habeas corpus para questionamento de razoável duração do
processo.
B-é cabível mesmo que não haja, nem por via reflexa, constrangimento à liberdade de locomoção.
C-cabe habeas corpus contra a aplicação de pena de multa.
D-segundo o Supremo Tribunal Federal, cabe habeas corpus contra pena pecuniária passível de conversão
em privativa de liberdade.
E-segundo a Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal, aplicada rigorosamente pela Corte, o habeas corpus
não é cabível contra decisão de relator em tribunal superior que indefere a liminar.

6 - 2016 - CESPE / CEBRASPE - PC-GO


Considerando a jurisprudência do STF, assinale a opção correta com relação aos remédios do direito
constitucional.

A-É cabível habeas corpus contra decisão monocrática de ministro de tribunal.


B-Em habeas corpus é inadmissível a alegação do princípio da insignificância no caso de delito de lesão
corporal cometido em âmbito de violência doméstica contra a mulher.
C-No mandado de segurança coletivo, o fato de haver o envolvimento de direito apenas de certa parte do
quadro social afasta a legitimação da associação.
D-O prazo para impetração do mandado de segurança é de cento e vinte dias, a contar da data em que o
interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser impugnado, havendo decadência se o mandado tiver sido
protocolado a tempo perante juízo incompetente.
E-O habeas corpus é o instrumento adequado para pleitear trancamento de processo de impeachment.

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Respostas10

10
1: C 2: D 3: C 4: B 5: D 6: B
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META 5

DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE II)

5. AÇÃO POPULAR (LEI Nº 4.717/65)

Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência

Lei 4717/65
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a
declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal,
dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia
mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a
União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais
autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro
público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do
patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União,
do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas
ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

A doutrina entende que a ação popular vigorou no período imperial e no início da República, durante
a vigência das Ordenações do Reino. Para alguns, a Constituição de 1824 já consagrava a ação. Com o advento
do CC de 1916, a doutrina majoritária passou a entender que o ordenamento jurídico não mais admitia a
ação popular.
A ação popular foi incluída expressamente na Constituição de 1934 e foi suprimida na Constituição
de 1937, tendo sido restabelecido na de 1946 e mantida nas seguintes.
As normas sobre a ação popular limitavam sua utilização para a tutela do patrimônio público
material. Com a lei 6.513/77 e a CF/88, o objeto da ação foi ampliado para incluir os bens imateriais que
fazem parte do patrimônio público (meio ambiente, moralidade administrativa e patrimônio
histórico/cultural).
NÃO é destinada à defesa de interesse subjetivo individual, mas de natureza coletiva, para anular ato
lesivo ao patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente e patrimônio histórico e cultural.
Assim, podemos extrair os seguintes requisitos: Deve haver lesividade aos direitos difusos específicos
elencados:
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1. Ato lesivo ao patrimônio público;


2. Ato lesivo ao patrimônio de entidade de que o Estado participe;
3. Ato lesivo à moralidade administrativa;
4. Ato lesivo ao meio ambiente;
5. Ato lesivo ao patrimônio histórico e cultural.

Considerações importantes:
∘ Pode ser utilizada de modo preventivo ou repressivo
∘ A CF isenta o autor da ação popular de custas e ônus da sucumbência, SALVO comprovada má-fé
∘ A gratuidade beneficia o autor da ação, mas os réus, se condenados, deverão ressarcir as despesas
havidas pelo autor da ação.

a) Legitimidade ativa:
● Somente o cidadão pode propor ação popular.
● Exige-se capacidade postulatória: o cidadão que não tiver, deverá constituir advogado.
● Súmula 365/STF: Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
● Há decisões do STJ que estendem ao MP a legitimidade ativa para a ação popular (AREsp 746.846).

NÃO POSSUEM LEGITIMIDADE ATIVA:


- Estrangeiros;
- Apátridas;
- Pessoa jurídica – Sumula 365, STF;
- Brasileiros com seus direitos políticos perdidos ou suspensos.

A doutrina majoritária entende que a legitimidade ativa do cidadão para propor ação popular é
extraordinária, uma vez que defende direito difuso, cujo titular é a coletividade. (NEVES, 2017, p. 307)

Art. 1º, §3º, da Lei n. 4.717/65: A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será
feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.

Segundo o STJ (Resp 1.242.800), a condição de eleitor não é condição de legitimidade, e o título de
eleitor é utilizado apenas como prova documental da cidadania. Dessa forma, é irrelevante o domicílio
eleitoral do autor, que poderá litigar contra ato praticado em local diverso de onde exerce seu direito de
voto.

Veja uma importante decisão sobre o tema:

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Em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo
que o dano tenha ocorrido em outro local; contudo, diante das peculiaridades, as
ações envolvendo o rompimento da barragem de Brumadinho devem ser julgadas
pelo juízo do local do fato

Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada


em Brumadinho (MG). O rompimento resultou em um terrível desastre ambiental
e humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou ação popular contra a União,
o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para que os réus fossem
condenados a recuperar o meio ambiente degradado, pagar indenização pelos
danos causados e pagar multa por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas
(SP), ele ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a demanda foi distribuída para a
2ª Vara Federal de Campinas (SP). Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas Gerais
existem ações individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra
os mesmos réus e envolvendo pedidos semelhantes a essa ação popular ajuizada
em Campinas. Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do
domicílio do autor ou o juízo do local em que se consumou o ato danoso? O juízo
do local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal de Minas Gerais). Regra geral:
em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que
o dano tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa
um direito político fundamental, deve-se facilitar o seu exercício. Exceção: o STJ
entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era excepcional com
inegáveis peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para
evitar tumulto processual em uma situação de enorme magnitude social,
econômica e ambiental. Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente,
a regra geral. Entendeu-se que seria necessário adotar uma saída pragmática para
permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos desta grande
tragédia. A regra geral do STJ deve ser usada quando a ação popular for isolada.
Contudo, no caso de Brumadinho havia uma ação popular em Campinas (SP)
competindo e concorrendo com várias outras ações populares e ações civis
públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações individuais tramitando
em MG, razão pela qual, em se tratando de competência concorrente, deve ser
eleito o foro do local do fato. Em face da magnitude econômica, social e ambiental
do caso concreto, é possível a fixação do juízo do local do fato para o julgamento
de ação popular que concorre com diversas outras ações individuais, populares e
civis públicas decorrentes do mesmo dano ambiental. STJ. 1ª Seção. CC 164362-
MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019 (Info 662).

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OBS.: ISENÇÃO DE CUSTAS:


A CF/88 isenta o autor da ação popular de custas e ônus da sucumbência, SALVO comprovada má-
fé.
A gratuidade beneficia o autor da ação, mas os réus, se condenados, deverão ressarcir as despesas
havidas pelo autor da ação.

Art. 6º, §5º, da Lei n. 4.717/65: É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como
litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.

b) Legitimidade passiva:

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades


referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que
houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que,
por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos
do mesmo.

Há litisconsórcio passivo necessário entre:


1) a pessoa jurídica pública ou privada,
2) as autoridades responsáveis pelo ato e
3) os beneficiários diretos dele.

A Lei da Ação Popular prevê que "qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugnado,
cuja existência ou identidade se torne conhecida no curso do processo e antes de proferida a sentença final
de primeira instância, deverá ser citada para a integração do contraditório, sendo-lhe restituído o prazo para
contestação e produção de provas" (inciso III do art. 7º da Lei 4.717/65).
A autorização legal da ampliação posterior do polo passivo da ação popular, no curso do processo e
antes da sentença, tem o objetivo de abarcar todas as pessoas físicas e/ou jurídicas que supostamente foram
beneficiadas ou são responsáveis pelo ato impugnado pelo autor popular. Assim, os réus poderão exercer o
contraditório pleno e, por conseguinte, irão se sujeitar aos efeitos da coisa julgada material.
Legitimação Bifronte: O art. 6º, §3º, da Lei n. 4.717/64 prevê que a pessoa jurídica de direito público
ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá
atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante
legal ou dirigente. Dessa forma, a pessoa jurídica poderá passar a atuar ao lado do autor, criando uma espécie
sui generis de litisconsórcio ativo ulterior (NEVES, 2017, p. 317). Legitimação bifronte significa que a pessoa
jurídica de direito público ou privado possui legitimidade para atuar em ambos os polos da demanda, de
acordo com o interesse público.

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O STF não admite que Estado-membro componha o polo ativo de ação popular
originariamente.

c) Atuação do Ministério Público:

§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção


da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem,
sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou
dos seus autores.

STJ (AgRg no Resp 1.333.168): O Ministério Público como fiscal da ordem jurídica
detém legitimidade para a juntada de documentos e para formular pedidos de
produção de provas que entender necessárias.

Legitimidade ativa superveniente (art. 9º da Lei n. 4.717/65): Se o autor desistir da ação ou der
motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso
II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do
prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.

Art. 9º: Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão
publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando
assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público,
dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o
prosseguimento da ação.

Art. 16: Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória


de segunda instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução.
O representante do Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes,
sob pena de falta grave.

d) Objeto

A sentença possui natureza cível, e se julgada improcedente, se sujeita ao duplo grau de jurisdição.

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com
efeito suspensivo. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 1973)
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O cabimento da ação popular NÃO exige a comprovação de efetivo dano material, pecuniário.
Entende o STF que a lesividade decorre da ilegalidade, e a ilegalidade do comportamento, por si só, causa
dano.
Além da motivação dos atos lesivos, o próprio mérito do ato pode ser objeto de análise em sede de
ação popular, já que a discricionariedade não permite a contrariedade ao ordenamento jurídico, tampouco
o desatendimento ao interesse público específico do ato praticado (NEVES, 2017, p. 301).

STJ:É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para
pleitear que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem
em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região. STJ. 2ª
Turma. REsp 1294451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info
591).

STF: A AP não pode servir como substituto da ação direta de inconstitucionalidade,


por não se prestar ao ataque de lei em tese. Isso porque o julgamento de lei em
tese, em ação popular, por juiz de primeiro grau, implicaria usurpação de
competência do STF para o controle abstrato, acarretando a nulidade do respectivo
processo.

STF: NÃO cabe AP contra ato de conteúdo jurisdicional, praticado por membro do
Judiciário no desempenho de sua função típica.

STF: A AP restringe-se, quanto ao seu âmbito de incidência, à esfera de atuação


administrativa de qualquer dos poderes do Estado, abrangendo apenas os atos
administrativos, fatos administrativos, resoluções que veiculam conteúdo
materialmente administrativo.

STJ possui firme orientação de que um dos pressupostos da Ação Popular é a lesão
ao patrimônio público. Ocorre que a Lei nº 4.717/65 deve ser interpretada de forma
a possibilitar, por meio de Ação Popular, a mais ampla proteção aos bens e direitos
associados ao patrimônio público, em suas várias dimensões (cofres públicos, meio
ambiente, moralidade administrativa, patrimônio artístico, estético, histórico e
turístico). Para o cabimento da Ação Popular, basta a ilegalidade do ato
administrativo por ofensa a normas específicas ou desvios dos princípios da
Administração Pública, dispensando-se a demonstração de prejuízo material. STJ.
2ª Turma. AgInt no AREsp 949.377/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
09/03/2017.
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SEMANA 04/18

e) Competência
Definida pela origem do ato a ser anulado.Ex.: patrimônio lesado da União – competência da Justiça
Federal.

▪ Regra: A competência do juízo de 1º grau para processar e julgar ação popular contra ato de qualquer
autoridade, inclusive presidente da república.

▪ Exceção:competência originária do STF disposta no art. 102, I, “f” e “n” da CF

f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal,


ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;

O juízo da Ação Popular é universal, impondo-se a reunião de todas as ações conexas, com
fundamentos jurídicos iguais ou assemelhados.
STF: O foro especial por prerrogativa de função NÃO alcança ações populares ajuizadas contra
autoridades detentoras dessa prerrogativa.

STF: AÇÃO ORIGINÁRIA. QUESTÃO DE ORDEM. AÇÃO POPULAR. COMPETÊNCIA


ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: NÃO-OCORRÊNCIA. PRECEDENTES.
1. A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até
mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo competente de
primeiro grau. Precedentes. 2. Julgado o feito na primeira instância, se ficar
configurado o impedimento de mais da metade dos desembargadores para
apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do
Supremo Tribunal Federal, com base na letra n do inciso I, segunda parte, do artigo
102 da Constituição Federal. 3. Resolvida a Questão de Ordem para estabelecer a
competência de um dos juízes de primeiro grau da Justiça do Estado do Amapá”
(AO 859/AP-QO, Tribunal Pleno, Redator para o acórdão o Ministro Maurício
Corrêa, DJ de 1º/8/2003).

O STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular,
ainda que ajuizada contra atos e/ou omissões do Presidente da República. A
competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até

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SEMANA 04/18

mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo de 1º grau. STF.


Plenário. Pet 5856 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/11/2015 (Info 811).

l) Contestação:

Art. 7º, IV, da Lei n. 4.717/65: O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias,


prorrogáveis por mais 20 (vinte), a requerimento do interessado, se particularmente
difícil a produção de prova documental, e será comum a todos os interessados,
correndo da entrega em cartório do mandado cumprido, ou, quando for o caso, do
decurso do prazo assinado em edital.

m) Reexame necessário inverso:


Na ação popular, haverá reexame no caso de a sentença concluir pela carência ou pela improcedência
do pedido, mesmo que parcial (art. 19 da Lei n. 4.717/65). Dessa forma, haverá o reexame ainda que a
Fazenda Pública seja vitoriosa na demanda, no caso de permanecer na posição originária de réu.

Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da


Lei nº 4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre direitos individuais
homogêneos. Ex: ação proposta pelo MP tutelando direitos individuais
homogêneos de consumidores. STJ. 3ª Turma.REsp 1374232-ES, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 612).

6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI 7.347/85)

a) Conceito
A ação civil pública consiste em uma garantia constitucional prevista em lei própria (lei nº 7.347/85),
que busca proteger direitos de 3ª geração. A ACP tutela, portanto, direitos difusos e coletivos, bem como
direitos individuais indisponíveis.

ATENÇÃO: A ACP NÃO pode substituir a ADI, embora a inconstitucionalidade possa ser questão
prejudicial. Logo, a ACP é cabível apenas como meio de controle difuso.

b) Objeto
Tem por objeto a tutela preventiva ou ressarcitória dos seguintes bens ou direitos metaindividuais:
● Meio-ambiente;
● Consumidor;
● Bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
● Qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
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● Infração da ordem econômica;


● Ordem urbanística;
● Honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos;
● Patrimônio público e social.

NÃOcabe ACP para veicular pretensões que envolvam:


● Tributos;
● Contribuições previdenciárias;
● FGTS**;
● Outros fundos de natureza institucional.

Art. 1º, Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional
cujos beneficiários podem ser individualmente determinados

** Em relação ao FGTS, tenha cuidado com o julgado do STF: O Ministério Público possui legitimidade para
propor ACP em defesa de direitos sociais relacionados com o FGTS

O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em


defesa de direitos sociais relacionados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS). STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
9/10/2019 (repercussão geral – Tema 850) (Info 955). Em provas, tenha cuidado
com a redação do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 7.347/85: Art. 1º (...) Parágrafo
único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados.

CUIDADO: Se for cobrada a mera transcrição literal deste dispositivo em uma prova
objetiva, provavelmente, esta será a alternativa correta.

c) Legitimidade Ativa

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:


I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
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SEMANA 04/18

IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;


V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e
social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência,
aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico.

Trata-se de legitimidade:
✔ AUTÔNOMA: NÃO depende de participação ou autorização do titular do direito material;
✔ CONCORRENTE: Há mais de um legitimado;
✔ DISJUNTIVA: Um legitimado NÃO depende de autorização do outro para ajuizar a ação.

Natureza da legitimação: Para a corrente doutrinária majoritária, é necessário fazer a seguinte


distinção:

● Quando se tratar da tutela de direitos difusos e coletivos - o autor da ação age com legitimação
autônoma para a condução do processo, pois não decorre do direito material, mas da lei, que
conferiu aos legitimados a possibilidade de defender aquele direito;
● Quando se tratar da tutela de interesses individuais homogêneos - a legitimação é extraordinária,
pois a pessoa agiria em nome próprio, em defesa do interesse alheio.

À luz do art. 5º, §5º, é possível a formação de litisconsórcio facultativo entre os autores coletivos.
Entretanto, para o STF, o litisconsórcio facultativo entre o MPF e o MPF exige a devida justificativa.

§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União,


do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida
esta lei

Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o


Ministério Público Estadual e o Federal depende da demonstração de alguma razão
específica que justifique a presença de ambos na lide. STJ. 3ª Turma. REsp 1254428-
MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2016 (Info 585).

(3) MINISTÉRIO PÚBLICO:


O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal
da lei.

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Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério


Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará


obrigatoriamente como fiscal da lei.

§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação


legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

Veja algumas hipóteses já decididas pela jurisprudência:


● O MPF possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a cobrança de encargos
bancários supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas;
● O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular ato administrativo de aposentadoria que importe
lesão ao erário;
● O MP tem legitimidade para pleitear, em ACP, indenização decorrente de DPVAT
· Cuidado 1: superação da antiga súmula 470 STJ
· Cuidado 2: Segundo o STJ, uma associação de defesa do consumidor não tem legitimidade
para ajuizar ACP discutindo DPVAT, porquanto o seguro DPVAT não tem natureza
consumerista, faltando, portanto, pertinência temática
● O MP tem legitimidade para a defesa do patrimônio público;
● O MP tem legitimidade para pleitear a nulidade das cláusulas em contratos bancários;
● O MP tem legitimidade para propor ação a fim de tutelar a poluição sonora.

Jurisprudências em teses do STJ:

1) O Ministério Público tem legitimidade para atuar em defesa dos direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos dos consumidores.

2) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública visando
tutelar direitos dos consumidores relativos a serviços públicos.

3) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o
objetivo de assegurar os interesses individuais indisponíveis, difusos ou coletivos
em relação à infância, à adolescência e aos idosos, mesmo quando a ação vise à
tutela de pessoa individualmente considerada.

4) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o
objetivo de assegurar assistência médica e odontológica à comunidade indígena,
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SEMANA 04/18

em razão da natureza indisponível dos bens jurídicos salvaguardados e o status de


hipervulnerabilidade dos sujeitos tutelados.

5) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o
objetivo de assegurar os interesses individuais indisponíveis, difusos ou coletivos
em relação às pessoas desprovidas de recursos financeiros, mesmo quando a ação
vise à tutela de pessoa individualmente considerada.

6) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa
de interesses e direitos individuais homogêneos pertencentes a consumidores
decorrentes de contratos de cessão e concessão do uso de jazigos em cemitérios.

7) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o fim
de impedir a cobrança abusiva de mensalidades escolares.
Súmula 643-STF: O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil
pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.

8) O Ministério Público Estadual não tem legitimidade para ajuizar ação civil pública
objetivando defesa de bem da União, por se tratar de atribuição do Ministério
Público Federal.

9) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública objetivando
a cessação dos jogos de azar.

10) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa
do patrimônio público. (Súmula n. 329/STJ)

11) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública
objetivando o fornecimento de medicamentos e tratamentos médicos, a fim de
tutelar o direito à saúde e à vida.

12) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa
dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro da Habitação, visto que
presente o relevante interesse social da matéria.

14) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública com o
objetivo de anular concurso realizado sem a observância dos princípios
estabelecidos na Constituição Federal.
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(4) DEFENSORIA PÚBLICA:

Existem dois entendimentos doutrinários quanto à legitimidade da Defensoria Pública:


● 1ª CORRENTE (RESTRITIVA): a atuação só ocorre nos casos de hipossuficiência econômica;
● 2ª CORRENTE (AMPLIATIVA): ocorre nos casos de hipossuficiência econômica e técnica ou
organizacional.

A Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em


ordem a promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam
titulares, em tese, as pessoas necessitadas. STF. Plenário. RE 733433/MG, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 4/11/2015 (repercussão geral) (Info 806).

A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa de
interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram plano de
saúde reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os titulares não
sejam carentes de recursos econômicos. A atuação primordial da Defensoria
Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e a defesa dos necessitados
econômicos. Entretanto, também exerce suas atividades em auxílio a necessitados
jurídicos, não necessariamente carentes de recursos econômicos. A expressão
"necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e orienta a
atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública,
em sentido amplo. Assim, a Defensoria pode atuar tanto em favor dos carentes de
recursos financeiros como também em prol do necessitado organizacional (que são
os "hipervulneráveis"). STJ. Corte Especial. EREsp 1192577-RS, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 21/10/2015 (Info 573)

(5) ENTES POLÍTICOS:


Podem ajuizar ACP:
● União
● Estados
● DF
● Municípios

No caso de ação civil pública proposta por ente político, a pertinência temática ou
representatividade adequada são presumidas.
Isso porque não há dúvidas de que os entes políticos possuem, dentre suas finalidades institucionais,
a defesa coletiva dos consumidores. Trata-se, inclusive, de um comando constitucional:
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Art. 5º, XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.

Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa
de direitos consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias. Em
relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades
institucionais a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos
consumidores, não se exige pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018
(Info 626).

(6) ASSOCIAÇÃO:

As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos ou
individuais homogêneos, independentemente de autorização expressa dos associados. Isso porque, no
caso, estamos diante de umregime de substituição processual, em que a autorização para a defesa do
interesse coletivo em sentido amplo é estabelecida na definição dos objetivos institucionais, no próprio ato
de criação da associação, sendo, portanto, desnecessária, nova autorização ou deliberação assemblear.

Apesar de não exigir a autorização expressa dos associados, para ajuizar ACP, as associações devem
preencher os seguintes requisitos:
1) Deve estar constituída há pelo menos 01 (um) ano;
2) Pertinência temática.

A necessidade de a associação estar constituída há pelo menos 1 ano é flexibilizada pela própria lei,
que dispensa tal requisito em caso de manifesto interesse social ou diante da relevância do bem jurídico
protegido.

§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou
pela relevância do bem jurídico a ser protegido

Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten. Como
regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há
pelo menos 1 ano. Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser
dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido
proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que: É
dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para
associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação
de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos. STJ. 2ª
Turma. REsp 1600172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info
591).

Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério


Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. E, segundo o STJ, em caso de dissolução da
associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua substituição no polo ativo por outra associação que
possua a mesma finalidade temática. Confira:

Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua
substituição no polo ativo por outra associação que possua a mesma finalidade
temática. O microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o
aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão da parte autora
pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado (ex: associação),
mormente em decorrência da importância dos interesses envolvidos em demandas
coletivas. STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1405697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 10/09/2019 (Info 665).

Segundo o STJ, pode uma associação defender interesses transindividuais que ultrapassem os de seus
próprios associados, ainda que estes interesses sejam individuais homogêneos.

d) Legitimidade Passiva

A Lei de Ação Popular é omissa quanto à legitimidade passiva, razão pela qual o STJ e a doutrina
entendem pela aplicação do regramento geral do CPC.

e) Competência

● Critério Funcional - NÃO há prerrogativa de foro na Ação Civil Pública, razão pela qual o julgamento
é sempre em primeira instância.

● Critério Material:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18
⦁ Justiça eleitoral: É competente para questões relacionadas à sufrágio e questões político-
partidárias;
⦁ Justiça do trabalho: relação de trabalho;direito sindical;proteção ao meio ambiente do trabalho.
⦁ Justiça comum: Pode ser ajuizada na Justiça Federal, se presente uma das hipóteses do art. 109,
I, da CF/88.

⇨ É possível o incidente de deslocamento de competência em ACP.


⇨ NÃO cabe ACP em juizados cíveis, federais e da Fazenda.

● Critério Territorial
Em relação às ações civis públicas cujo objeto seja de âmbito local, deve-se aplicar o art. 2º da Lei nº
7.347/85, que prevê o foro do local onde tiver ocorrido o dano:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer
o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Em relação às ações civis públicas cujo objeto seja de âmbito nacional ou regional, a lei é omissa,
motivo pelo qual deve-se recorrer ao art. 93, II, do CDC, com base na noção de microssistema processual (art.
21 da LACP).

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a


justiça local:
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito
nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos
de competência concorrente.

Portanto, em se tratando de ação civil pública com abrangência nacional ou regional, sua propositura
deve ocorrer no foro, ou na circunscrição judiciária, de capital de Estado ou no Distrito Federal. E, uma vez
fixada essa competência, o primeiro que conhecer da matéria, entre os competentes, ficará prevento.

Art. 2º, Parágrafo único - A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para
todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir
ou o mesmo objeto.

(...). Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-
se a prevenção do juízo que primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento
de todas as demandas conexas. STF. Plenário. RE 1101937/SP, Rel. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 1075) (Info 1012).
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Vamos esquematizar?

DANO LOCAL: Ajuizamento da ACP no local do dano (art. 2º)

DANO REGIONAL Ajuizamento da ACP na capital do estado;

DANO NACIONAL Ajuizamento da ACP no DF ou capital dos estados


envolvidos

f) Sucumbência na ACP

Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores


responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em
honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade
por perdas e danos.

Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação
da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas
e despesas processuais.

● Nas ações da Lei da ação civil pública não haverá adiantamento de custas;
● Se o autor vencido for o MP, defensoria ou associação, será isento do pagamento dos ônus de
sucumbência, salvo má-fé:
● Se o MP for vencedor, o réu vencido será isento de custas de sucumbência, em razão do princípio da
simetria.

Em regra, o demandado que for sucumbente na ACP não tem o dever de pagar
honorários advocatícios. A parte que foi vencida em ação civil pública não tem o
dever de pagar honorários advocatícios em favor do autor da ação. A justificativa
para isso está no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP perder a
demanda, ele não irá pagar honorários advocatícios, salvo se estiver de má-fé
(art. 18 da Lei nº 7.347/85). Logo, pelo princípio da simetria, se o autor vencer a
ação, também não deve ter direito de receber a verba. Desse modo, em razão da
simetria, descabe a condenação em honorários advocatícios da parte requerida em
ação civil pública, quando inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre com a

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

parte autora. STJ. Corte Especial. EAREsp 962250/SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 15/08/2018.

OBS.: Existe precedente do STJ que faz uma ressalva: se a ação tiver sido proposta
associações e fundações privadas e a demanda tiver sido julgada procedente, neste
caso, o demandado terá sim que pagar honorários advocatícios. Assim, o
entendimento do STJ manifestado no EAREsp 962.250/SP "não se deve aplicar a
demandas propostas por associações e fundações privadas, pois, do contrário,
barrado de fato estaria um dos objetivos mais nobres e festejados da Lei
7.347/1985, ou seja, viabilizar e ampliar o acesso à justiça para a sociedade civil
organizada." (STJ. 2ª Turma. REsp 1796436/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 09/05/2019).

g) Considerações processuais importantes:

● ÓRGÃOS PÚBLICOS LEGITIMADOS E ASSOCIAÇÕES PRIVADAS PODEM TRANSACIONAR EM SEDE DE


ACP:

Art. 5º, §6º - Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer transação com o
réu e pedir a extinção do processo, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC. O art.
5º, § 6º da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos
podem fazer acordos nas ações civis públicas em curso, não mencionando as
associações privadas. Apesar disso, a ausência de disposição normativa expressa no
que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do acordo. Isso
porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos diz
respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que
aos entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. STF. Plenário. ADPF
165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892).

● EFEITO SUSPENSIVO DA APELAÇÃO: Quem define que efeito terá a apelação é o próprio juiz da causa
(art. 14 LACP).

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
irreparável à parte

● REEXAME NECESSÁRIO: Somente ocorre quando a ação é julgada improcedente ou extinta sem
julgamento do mérito.

● ABRANGÊNCIA DA SENTENÇA:

💣 MUITA ATENÇÃO AQUI! DECISÃO RECENTE SOBRE O TEMA!

O art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), com redação dada pela Lei nº 9.494/97,
estabelece o seguinte:

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Esse artigo foi alterado pela Lei nº 9.494/97 com o objetivo de restringir a eficácia subjetiva da coisa
julgada, ou seja, ele determinou que a coisa julgada na ACP deveria produzir efeitos apenas dentro
dos limites territoriais do juízo que prolatou a sentença.
Em outras palavras, o que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação civil pública
não produz efeitos no Brasil todo. Ela irá produzir efeitos apenas na comarca (se for Justiça Estadual) ou na
seção ou subseção judiciária (se for Justiça Federal) do juiz prolator.
A doutrina criticou bastante essa alteração promovida no art. 16 e afirmou que a regra ali prevista
não deveria ser aplicada por ser inconstitucional, impertinente e ineficaz. Como ficou então a posição da
jurisprudência?

● STJ –“A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada
ao território da competência do órgão jurisdicional que prolatou a decisão”. STJ. Corte Especial.
EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.

● STF –“É INCONSTITUCIONAL a delimitação dos efeitos da sentença proferida em sede de ação civil
pública aos limites da competência territorial de seu órgão prolator. STF. Plenário. RE 1101937/SP,
Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 1075) (Info 1012).

Jurisprudências em teses do STJ que são pertinentes ao tema:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

1) Por critério de simetria, não é cabível a condenação da parte vencida ao


pagamento de honorários advocatícios em favor do Ministério Público nos autos de
ação civil pública, salvo comprovada má-fé.

2) É possível a inversão do ônus da prova da ação civil pública em matéria ambiental


a partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei n.
7.347/1985.

3) No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para


ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença
proferida em ação civil pública. (Recurso Repetitivo - Tema 515)

7. INQUÉRITO CIVIL

É uma investigação administrativa a cargo do MP, destinada a colher elementos para eventual
propositura de ACP, podendo servir de base para o oferecimento de denúncia criminal.

Art. 8º Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades


competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas
no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou
requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações,
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez)
dias úteis.
§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou
informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada
daqueles documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.
Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se
convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil,
promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas,
fazendo-o fundamentadamente.
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão
remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao
Conselho Superior do Ministério Público.
§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja
homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações
legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos
autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
228
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do


Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento,
designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da
ação.

a) Características
● Procedimento preparatório;
● Procedimento meramente administrativo;
● Procedimento informativo;
● Não obrigatório;
● É público;
● Privativo do MP;
● Inquisitorial (não há contraditório).

b) Fases do Inquérito Civil

I) INSTAURAÇÃO:

Ocorre através de portaria, que deve indicar o objeto da investigação. A portaria pode ser baixada
das seguintes formas:
● De ofício;
● Por representação;
● Por requisição do procurador geral.

O fato de o promotor ter presidido o inquérito civil NÃO gera a suspeição para o ajuizamento de ACP;
Doutrina majoritária entende não ser possível a instauração de inquérito civil por denúncia anônima.

II) INSTRUÇÃO:
● Abrange o poder de vistoria e inspeção em qualquer órgão público;
● Poder de intimação de qualquer pessoa para depoimento, sob pena de condução coercitiva;
● Poder de requisição de documentos e informações a qualquer entidade pública ou privada.

III) CONCLUSÃO:

A LACP NÃO estipula prazo para a conclusão do inquérito civil. Ao final, o promotor tem duas opções:
● Promover a ACP;

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

● Promover o arquivamento fundamentado: ao propor o arquivamento, o promotor encaminha ao


órgão superior do MP, no prazo de 3 dias, sob pena de responsabilidade penal. Os órgãos superiores
designam uma sessão de julgamento, e podem ser tomadas as seguintes providências:
∘ Homologação do arquivamento;
∘ Conversão do julgamento em diligência;
∘ Rejeição da promoção do arquivamento, hipótese em que será nomeado outro promotor
para a propositura da ACP.

8. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC)

Ocorre quando a pessoa assume a responsabilidade pelo evento e se compromete a alterar a sua
conduta. Uma vez celebrado, possui a eficácia de título executivo extrajudicial:

Art. 5º, § 6° LACP. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

a) Cabimento - Cabe TAC nos direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos.

A Lei nº 13.964 deu nova redação ao art. 17, § 1º, da Lei de Improbidade Administrativa, passando a
permitir a celebração de acordos de não persecução cível. O dispositivo, contudo, foi revogado pela Lei nº
14.230/21.

Art. 17. (...) § 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo
de não persecução cível, nos termos desta Lei.

Todavia, permanece a possibilidade da celebração de acordos de não persecução cível em matéria


de improbidade administrativa, pois apesar da revogação do art. 17, §1º, a Lei nº 14.230/21, incluiu o art.
17-B, de modo a continuar a permitir tal possibilidade:

Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circunstâncias do caso


concreto, celebrar acordo de não persecução civil, desde que dele advenham, ao
menos, os seguintes resultados: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que
oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo dependerá,
cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ou posterior à


propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão do Ministério
Público competente para apreciar as promoções de arquivamento de inquéritos
civis, se anterior ao ajuizamento da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo ocorrer antes ou
depois do ajuizamento da ação de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo
considerará a personalidade do agente, a natureza, as circunstâncias, a gravidade
e a repercussão social do ato de improbidade, bem como as vantagens, para o
interesse público, da rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, deverá ser realizada a
oitiva do Tribunal de Contas competente, que se manifestará, com indicação dos
parâmetros utilizados, no prazo de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser celebrado no curso
da investigação de apuração do ilícito, no curso da ação de improbidade ou no
momento da execução da sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
2021)
§ 5º As negociações para a celebração do acordo a que se refere o caput deste
artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de um lado, e, de outro, o investigado
ou demandado e o seu defensor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá contemplar a adoção de
mecanismos e procedimentos internos de integridade, de auditoria e de incentivo
à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta
no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em favor
do interesse público e de boas práticas administrativas. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o caput deste artigo, o
investigado ou o demandado ficará impedido de celebrar novo acordo pelo prazo
de 5 (cinco) anos, contado do conhecimento pelo Ministério Público do efetivo
descumprimento.
b) Legitimados

De todos os legitimados para ajuizar ACP, somente as associações NÃO podem celebrar TAC, pois o
art. 5º, §6º da LACP alude apenas aos órgãos públicos.
Qualquer legitimado pode celebrar TAC, sem necessidade de autorização dos demais.
231
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

TAC homologado judicialmente também só pode ser rescindido judicialmente, por ação anulatória.

c) Responsabilidade

Um órgão NÃO precisa de autorização de outro para celebrar TAC.


A responsabilidade pela fiscalização do cumprimento é do órgão celebrante do TAC.

d) Eficácia

O TAC tem eficácia de título executivo extrajudicial, e sua eficácia ocorre a partir do momento em que
é celebrado.

e) Compromisso preliminar

É um TAC parcial, em que se consegue apenas parte do acordo. A sua realização NÃO impede a
propositura da ACP contra outros investigados, ou para alcançar outros pedidos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:
- Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado.
- Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional.
- Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional.
- Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Direitos Constitucional Descomplicado

232
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

QUESTÕES PROPOSTAS

7 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Policia Civil - Reaplicação
Maria, gestante de feto anencéfalo, pretende a obtenção de autorização judicial para realização de aborto.
O Juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido. Pretende, agora, manejar um remédio constitucional
para evitar o cometimento de crime. Para tanto, deverá demandar por meio do seguinte instrumento:

A-ação popular.
B-habeas corpus.
C-habeas data.
D-mandado de segurança.
E-mandado de injunção.

8 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil - Prova Anulada
Assinale a alternativa correta em relação ao mandado de injunção, recentemente regulamentado pela Lei n°
13.300/2016.

A-Findo o prazo para as informações do impetrado, o Ministério Público opinará em 10 (dez) dias e, como
parecer, os autos serão conclusos para decisão.
B-O mandado de injunção coletivo, pode ser impetrado por organização sindical legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas
de seus membros, mediante autorização especial obtida em assembleia geral.
C-A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por
decisão transitada em julgado em sede de mandado de injunção, salvo se a aplicação da norma editada lhes
for mais favorável.
D-Transitada em julgado e decisão do mandato de injunção, seus efeitos poderão ser estendidos aos casos
análogos, desde que por decisão fundamentada do órgão colegiado competente.
E-Da decisão de relator que indeferir a petição inicial do mandado de injunção, caberá apelação, em 10(dez)
dias, para o órgão colegiado competente para o julgamento da impetração.

9 - 2014 - ACAFE - PC-SC - ACAFE - 2014 - PC-SC - Delegado de Polícia


Observando a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88), no que se refere as Garantias dos
Direitos Fundamentais, analise as afirmações a seguir.

l Conceder-se-á "habeas-data" para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do


impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público.

233
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

ll Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania
e à cidadania.
lll O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no
Congresso Nacional.
lV Conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
V Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-
corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Assinale a alternativa correta.

A-Apenas I e II estão corretas.


B-Todas as afirmações estão corretas.
C-Apenas I, III e IV estão corretas.
D-Apenas IV e V estão corretas.
E-Apenas II e III estão corretas.

10 - 2014 - NUCEPE - PC-PI - NUCEPE - 2014 - PC-PI - Delegado de Polícia


No que diz respeito aos chamados remédios constitucionais, assinale a alternativa CORRETA.

A-Não cabe habeas corpus para questionar a legalidade de punições disciplinares militares.
B-Entre os legitimados para a impetração de mandado de segurança coletivo, figuram, entre outros, o
Procurador Geral da República e partido político com representação no Congresso Nacional.
C-Em matéria de mandado de injunção, o pacífico entendimento contempora- neamente adotado pelo
Supremo Tribunal Federal, em oposição à sua antiga posição, é o chamado não concretista.
D-O habeas data é o remédio constitucional adequado para viabilizar o acesso a informações relativas à
pessoa do impetrante, não se prestando para a retificação de dados.
E-Importante instrumento democrático de participação na vida pública, a ação popular pode ser ajuizada por
qualquer cidadão, assim considerado o brasileiro nato ou naturalizado, desde que comprove estar em pleno
gozo de seus direitos políticos.

11 - 2013 - CESPE / CEBRASPE - DPF - CESPE / CEBRASPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado
No que se refere ao habeas data e ao habeas corpus, julgue o item seguinte.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

De acordo com o STJ, o habeas data é instrumento idôneo para a obtenção de acesso aos critérios utilizados
em correção de prova discursiva aplicada em concursos públicos.

Certo
Errado

Respostas11

11
7: B 8: C 9: B 10: E 11: E
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SEMANA 04/18

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 14 a 17
⦁ Art. 37, §4º
⦁ Art. 55, IV
⦁ Art. 62, §1º, “a”,
⦁ Art. 68, §1º, II
⦁ Art. 85, III
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 14 e 15 (leitura completa! Importantíssimo!)
⦁ Art. 37, §4º

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do
mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

1. DIREITOS POLÍTICOS

É o instrumento pelo qual se garante o exercício da soberania popular. Podem ser divididos:
• DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS: Segundo José Afonso da Silva, consistem no “conjunto de normas
que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos
governamentais”.
• DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS: decorrem das normas que privam o cidadão, definitiva ou
temporariamente, dos direitos políticos positivos, especialmente do direito de votar e de ser votado.

Os direitos políticos, então, são instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da
soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja
direta, seja indiretamente.

De modo geral podemos classificar os regimes democráticos em três espécies: a) democracia direta,
em que o povo exerce por si o poder, sem intermediários, sem representantes; b) democracia representativa,
na qual o povo, soberano, elege representantes, outorgando-lhes poderes, para que, em nome deles e para

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

o povo, governem o país; e c) democracia semidireta ou participativa, um “sistema híbrido”, uma democracia
representativa, com peculiaridades e atributos da democracia direta.

➢ A democracia participativa ou semidireta assimilada pela CF/88 (arts. 1.º, parágrafo único, e 14)
caracteriza-se, portanto, como a base para que se possa, na atualidade, falar em participação popular
no poder por intermédio de um processo, no caso, o exercício da soberania, que se instrumentaliza
por meio do plebiscito, referendo, iniciativa popular, bem como pelo ajuizamento da ação popular.

1.1 Direitos Políticos Positivos

As formas de exercício da soberania popular são o direito de sufrágio ativo (direito de votar) e passivo
(direito de ser votado), a iniciativa popular, a ação popular e a organização e participação em partidos
políticos.

A) INSTRUMENTOS DE PARTICIPAÇÃO DIRETA:

• PLEBISCITO: É consulta prévia formulada ao cidadão para que manifeste sua


concordância/discordância em relação a um tema contido em ato administrativo ou legislativo.
Exemplo: plebiscito para a escolha entre a forma (república ou monarquia constitucional) e sistema
de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) (1993).
• REFERENDO: É uma consulta realizada posteriormente à edição do ato legislativo ou administrativo,
com o intuito de ratificá-lo ou rejeitá-lo. Exemplos: referendo para manutenção ou não do regime
parlamentarista (1963); referendo para a manifestação do eleitorado sobre a manutenção ou
rejeição da proibição da comercialização de armas de fogo e munição em todo o território nacional
(2005).

A autorização de referendo e a convocação de plebiscito são da competência exclusiva do


Congresso Nacional (CF, art. 49, XV).

• INICIATIVA POPULAR: Consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito
por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com
não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.

B) SUFRÁGIO:

É o direito de participar votando e sendo votado em eleições.

C) ALISTABILIDADE:
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É a capacidade eleitoral ativa, direito de votar. Características do voto no Brasil:


• LIVRE – a escolha pode dar-se entre os candidatos, ou ainda anular ou votar em branco. Em
contraposição à idéia do famoso voto de cabresto;
• DIRETO: Os representantes são escolhidos diretamente pelo povo, com exceção do art. 81, § 1º da
CF;
• SECRETO;
• UNIVERSAL;
• PERIÓDICO – característica da República, pois a Democracia exige mandatos por prazo
determinados.

ATENÇÃO:O voto é obrigatório para os que têm entre 18 e 70 anos, e facultativo para aqueles que
têm entre 16 e 18 anos e para os maiores de 70 anos e analfabetos.

INALISTÁVEIS (ART. 14, §2º, CF/88):


• Estrangeiros, salvo os portugueses equiparados (“quase nacionais”);
• Conscritos (aqueles em serviço militar obrigatório). O conceito de conscrito não é estendido somente
às pessoas que têm 17 e 18 anos, mas também aos médicos, dentistas, farmacêuticos, e veterinários
que esteja em serviço militar obrigatório conforme art. 4° da Lei 5.292/67.

D) ELEGIBILIDADE:

É a capacidade eleitoral passiva, ou seja, o direito de ser votado:

Art. 14, § 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:


A nacionalidade brasileira;
O pleno exercício dos direitos políticos;
O alistamento eleitoral;
O domicílio eleitoral na circunscrição;
A filiação partidária;

A idade mínima de:


a) Trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) Trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) Vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz
de paz;
d) Dezoito anos para Vereador.

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SEMANA 04/18

ATENÇÃO: O domicílio eleitoral não se confunde com o domicílio civil, razão pela qual a circunstância de o
eleitor residir em determinado município não o impede de se candidatar por outra localidade onde é inscrito
e com a qual mantém vínculos negociais, patrimoniais, profissionais, afetivos ou políticos.

1.2 Direitos Eleitorais Negativos

A. INELEGIBILIDADES:

É a falta de capacidade eleitoral passiva. Podem ser:


• INELEGIBILIDADES ABSOLUTAS: Impedem o exercício da capacidade eleitoral passiva para qualquer
cargo eletivo. Previstos no art. 14, § 4º, da CF:
∘ INALISTÁVEIS: Estrangeiros e conscritos;
∘ ANALFABETOS: Embora possam votar facultativamente, em nenhuma hipótese poderão ser
votados.
• INELEGIBILIDADES RELATIVAS: Impedem o exercício da capacidade eleitoral passiva para
determinados cargos ou em relação a determinado período.
∘ Da função exercida - art. 14, §§ 5º e 6º:

Art. 14. (...)


§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal,
os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período subsequente.
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores
de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos
mandatos até seis meses antes do pleito.

ATENÇÃO – PREFEITO ITINERANTE: Caracteriza-se pela alteração do domicílio eleitoral com finalidade de
burlar a regra que tolera apenas uma reeleição. O sujeito não pode se eleger por mais de um mandato no
Município A e então muda seu domicílio eleitoral para o Município B, vizinho de A, onde tentará eleger-se
prefeito. O STF entendeu tal conduta incompatível com o princípio republicano, pois visa à perpetuação no
poder.

• INELEGIBILIDADE REFLEXA – ART. 14, §7º: A inelegibilidade em razão do parentesco torna inelegíveis
no território de jurisdição do Chefe do Poder Executivo o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou
afins, até o segundo grau ou por adoção, salvo quando estes já forem detentores de mandato eletivo
e candidatos à reeleição.

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SEMANA 04/18

ATENÇÃO:

STF: A inelegibilidade reflexa abrange uniões homoafetivas. Também abrange o


cunhado/ cunhada (RE 171061)

Súmula Vinculante nº 18: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no


curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da
Constituição Federal.

Em caso de morte, vale destacar o seguinte julgado:


Ementa Oficial
Ementa: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. MORTE DE PREFEITO NO CURSO DO
MANDATO, MAIS DE UM ANO ANTES DO TÉRMINO. INELEGIBILIDADE DO CÔNJUGE
SUPÉRSTITE. CF, ART. 14, § 7º. INOCORRÊNCIA.
1. O que orientou a edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do
STF foi a preocupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de
sociedade conjugal seja utilizada como mecanismo de burla à norma da
inelegibilidade reflexa prevista no § 7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não
atrai a aplicação do entendimento constante da referida súmula a extinção do
vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges. 2. Recurso extraordinário a que
se dá provimento.
(RE 758461, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em
22/05/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213
DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)

Assim, temos a regra: DISSOLVER O VÍNCULO CONJUGAL NO CURSO DO MANDATO NÃO AFASTA A
INELEGIBILIDADE DO ARTIGO 14, §7º CRFB. E a exceção: Se o vínculo conjugal tiver sido rompido pela morte
de um dos cônjuges, a inelegibilidade em comento estás afastada. Motivo: Neste último caso, não há fraude
para fins eleitorais.
TESE DE REPERCUSSÃO GERAL 678: “A Súmula Vinculante 18 do STF (“A dissolução
da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a
inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal”) não se aplica
aos casos de extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges.”
Há também a possibilidade de inelegibilidade em razão de outras hipóteses (LEGAL), pois, segundo o
art. 14, §9° da CF, lei complementar pode estabelecer, ainda, outras hipóteses como no caso da LC 64/90,
alterada pela Lei da Ficha Limpa (LC 135/10), esta declarada constitucional pelo STF.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Cabe asseverar apenas que a renúncia afasta a presente inelegibilidade, ou seja, se o Chefe do
Executivo renunciar, é possível que sua família se candidate a qualquer cargo no território de jurisdição do
titular. Tal renúncia deve se dar em até seis meses antes do pleito. É a chamada
heterodesincompatibilização, pois o sujeito se desincompatibiliza para terceiro poder concorrer a outros
cargos.
A exceção se dá no caso em que a renúncia se dá no segundo mandato -> nesse caso o membro da
família não poderá concorrer ao terceiro mandato, eis que, conforme entendimento da Justiça Eleitoral, é
vedado que uma mesma família ocupe determinado cargo por três mandatos consecutivos, conforme já
decidiu o TSE no caso “Garotinho” (ex-governador do Rio de Janeiro).
Em caso de desmembramento, o STF entende que a família do titular do executivo ente
desmembrado não pode se candidatar a cargos eletivos no novo ente criado. Ex.: Município A dá origem ao
Município B -> a família do Prefeito do Município A não pode concorrer a cargos eletivos no Município B.

MILITAR - ART. 14, § 8º:


O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I. Se contar menor de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; e,
II. Se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

ATENÇÃO: O militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos, conforme, art.
142, § 3º, V, da CF.

E, ainda, os JUÍZES, ART. 95, P.Ú., III, CF e MINISTÉRIO PÚBLICO, ART. 128, §5°, II, “e”, CF.

1.3 Privação de Direitos Políticos

A) CASSAÇÃO:

É vedada. O art. 15 da CF veda a retirada arbitrária de direitos políticos, pois a restrição dos direitos
políticos será sempre provisória, ou seja, sem caráter perpétuo, e ocorrerá nos casos de suspensão e perda;

B) PERDA:

Configura privação definitiva, sendo necessária atividade específica do interessado para a


reaquisição. Hipóteses:

1. Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (art. 15, I): ação que tramita na
justiça federal, na qual o naturalizado volta a ser considerado estrangeiro;
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

2. Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII
(art. 15, IV). Enquanto não houver edição de lei regulamentando a prestação alternativa, não há
possibilidade de perder os direitos políticos;
3. Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra (art. 12, § 4º, II).

➢ Perdido o direito político, na hipótese de cancelamento da naturalização por sentença transitada em


julgado, a reaquisição só se dará por meio de ação rescisória. Se a hipótese for a perda por recusa de
cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, a reaquisição dar-se-á quando o
indivíduo, a qualquer tempo, cumprir a obrigação devida. Todavia, se a perda se der em virtude de
aquisição de outra nacionalidade, a Lei de Migração (Lei n. 13.445/2017) estabelece a seguinte regra:
“o brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4.º do art. 12 da Constituição Federal, houver
perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a
perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo”.

C) SUSPENSÃO:

Possui caráter temporário, e a reaquisição decorre automaticamente após determinado período ou


o implemento de determinada condição. Hipóteses:
➢ INCAPACIDADE CIVIL ABSOLUTA;
➢ CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO, ENQUANTO DURAREM SEUS EFEITOS.
➢ IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, NOS TERMOS DO ART. 37, § 4º, CF.

1.4. Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo: De Acordo com o Art. 38 da CF/88

Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no


exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de
seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função,
sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários,
perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a
norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo,
seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para
promoção por merecimento;
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social,


permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo de origem.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

2. PARTIDOS POLÍTICOS

São associações (pessoas jurídicas de direito privado) constituídas para a participação na vida política
de um país. Além do registro civil, também devem registrar seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

A) REGISTRO:

Devem se registrar tanto no Cartório de Registro Civil quanto no TSE:


• REGISTRO CIVIL: É requerimento do registro do partido junto ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas
da Capital Federal e é o meio pelo qual há a aquisição da personalidade jurídica.
• REGISTRO ELEITORAL: Efetivado perante o Tribunal Superior Eleitoral, e tem como finalidade o gozo
de prerrogativas de participar do processo eleitoral, receber recursos do fundo partidário e ter
acesso à rádio e à televisão para difusão de suas ideias e programas, conforme art. 7º, §2º, da Lei
9.096/95.

ATENÇÃO: Não existe no Brasil a candidatura avulsa, de modo que o candidato deve estar filiado a partido
político.

B) PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA:

1. LIBERDADE PARTIDÁRIA: É livre a criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos. No
entanto, deve obedecer ao disposto na Constituição:
• CARÁTER NACIONAL;
• PROIBIÇÃO DE RECEBIMENTO DE RECURSOS FINANCEIROS DE ENTIDADES OU GOVERNOS
ESTRANGEIROS OU DE SUBORDINAÇÃO A ESTES;
• PRESTAÇÃO DE CONTAS A JUSTIÇA ELEITORAL;
• FUNCIONAMENTO PARLAMENTAR DE ACORDO COM A LEI.

2. AUTONOMIA PARTIDÁRIA: Autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento,
devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e disciplina partidárias (art. 17, § 1º).

3. VEDAÇÃO A PARTIDOS COMO ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR (ART. 14, § 4º): É vedado ao partido político
ministrar instrução militar ou paramilitar bem como utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar
uniforme para seus membros.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

C) SISTEMAS ELEITORAIS:

• MAJORITÁRIO: O mandato eletivo fica com o candidato ou partido político que obteve a maioria dos
votos, independente dos votos do seu partido. Adotado para eleições de Presidente, Senador,
Governador e Prefeito;
• PROPORCIONAL: É obtido mediante alguns cálculos. Inicialmente, divide o número total de votos
válidos pelos cargos em disputa (quociente eleitoral). Em seguida, pega os votos de cada partido ou
coligação e divide pelo quociente eleitoral, anteriormente obtido (quociente partidário). Os
candidatos mais bem votados desse partido irão ocupar tais vagas. Adotado para eleições de
Deputado Federal, Estadual e Vereador.
• MISTO: Mescla regras do majoritário e proporcional, com votos distritais e votos gerais. É o sistema
adotado na Alemanha. No Brasil, não é adotado, embora seja ponto de discussão da reforma política.

FIDELIDADE PARTIDÁRIA:

Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, sai do partido político no qual foi eleito, ele perderá o cargo
que ocupa? (INF 787 STF)

• Sistema majoritário: NÃO se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sob pena de
violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor, já que o candidato escolhido é aquele que
obteve mais votos, não importando o quociente eleitoral nem o quociente partidário. Segundo
entendimento do STF, As características do sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato,
fazem com que a perda do mandato, no caso de mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere
a soberania popular (CF, art. 1.º, par. ún., e art. 14, caput)”. Assim, a perda de mandato por troca de partido
não se aplica ao sistema majoritário.STF definiu, então, a seguinte tese: “a perda do mandato em razão da
mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sob pena de violação da
soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor”.
• Sistema proporcional: O mandato parlamentar no sistema proporcional pertence ao partido político,
razão pela qual, em caso de mudança de partido político pelo parlamentar eleito, ele sofrerá um processo na
Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do seu mandato. O assunto está disciplinado na Resolução nº
22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as hipóteses consideradas como “justa causa” para a perda do
mandato. Em relação ao sistema proporcional (eleição de deputados federais, estaduais, distritais e
vereadores), o STF, em 03 e 04.10.2007, julgando os MS 26.602, 26.603 e 26.604, resolveu a matéria e
estabeleceu que a fidelidade partidária deve ser respeitada pelos candidatos eleitos. Dessa forma,
teoricamente, aquele que mudar de partido (transferência de legenda) sem motivo justificado perderá o
cargo eletivo. Isso porque reconheceu o STF o caráter eminentemente partidário do sistema proporcional e

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

as inter-relações entre o eleitor, o partido político e o representante eleito. Mudar de partido caracteriza
desvio ético-político e gera desequilíbrio no Parlamento. É fraude contra a vontade do povo.

OBS: TSE - Justa causa para desfiliação partidária só é aplicável se eleito estiver no fim do mandato
vigente. De acordo com Admar Gonzaga, "o vereador poderá se desfiliar do seu partido com justa causa
apenas no prazo da janela partidária que coincidir com o final do seu mandato, ou seja, nas vésperas das
eleições municipais. Do mesmo modo, o detentor do cargo proporcional, como deputado federal e distrital,
poderá fazer jus à janela partidária na proximidade de uma Eleição Geral”. A decisão do colegiado foi
unânime.
O tema partidos políticos foi objeto de recentes alterações por emendas constitucionais. A EC 52/06
trouxe a desverticalização, de modo que as coligações partidárias não precisam ser as mesmas em âmbito
nacional, estadual e municipal, ou seja, não há obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. Mais adiante, a EC 97/17 veiculou a vedação de celebração
de coligações em eleições proporcionais a partir de 2020. Vejamos como ficou a atual redação do art. 17,
§1º da CF:

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura


interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos
permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar
os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias,
vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou
municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária.

Por fim, vale mencionar que a EC 97/17 estabeleceu alguns requisitos para os partidos terem acesso
ao fundo partidário. Vejamos como ficou a redação do §3º do art. 17:

§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio


e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por
cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma
delas; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
II - tiveremelegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo
menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 97, de 2017)
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste


artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a
outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins
de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de
rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

Essas regras, contudo, deverão ser observadas somente a partir das eleições de 2030 (art. 3.º da
emenda), tendo sido estabelecidos requisitos gradativos a serem observados na forma do parágrafo único
do art. 3.º da emenda. A nova janela partidária constitucional está descrita no art. 17, § 5.º, nos termos
acima transcritos.

VACÂNCIA E SUPLÊNCIA:

O STF, no julgamento dos MS 30.260 e 30.272, em 27.04.2011, por 10 x 1, entendeu que a vaga
decorrente do licenciamento de titulares de mandato parlamentar, no caso para assumirem cargos de
secretarias de Estado, deverá ser ocupada pelos suplentes das coligações, e não dos partidos. Pode-se afirmar,
então, que, se houve formação de coligação, o que é opcional e encontra fundamento na Constituição (art.
17, § 1.º), a vaga de suplência pertente a esta, e não ao partido político.

ATENÇÃO!
ADI 4.650 - STF, em 17.09.2015, por maioria e nos termos do voto do Ministro
Relator, julgou procedente em parte o pedido formulado na ADI em referência para
declarar a inconstitucionalidade dos dispositivos legais que autorizavam as
contribuições de pessoas jurídicas às campanhas eleitorais. Decidiu que “o exercício
de direitos políticos é incompatível com as contribuições políticas de pessoas
jurídicas.”

De acordo com o STF, é inconstitucional proibir que emissoras de rádios e TVs difundam áudios ou
vídeos que ridicularizem candidato ou partido político durante o período eleitoral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Direito Constitucional Esquematizado. Pedro Lenza.

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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2018 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia


Suponha que o Partido X lhe consulte sobre quais são os requisitos constitucionais para que um partido
político tenha acesso aos recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao tempo de rádio e televisão. Nesse
sentido, segundo o disposto na Constituição Federal de 1988, após a reforma dada pela Emenda
Constitucional no 97/2017, é correto afirmar que o acesso a tais benefícios ocorrerá

A-se obtiver, nas eleições para a Câmara dos Deputados e do Senado Federal, conjuntamente, o mínimo de
5% dos votos válidos nacionais, distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da federação, exigindo-se, para
ambos, o mínimo de 2% dos votos válidos em cada uma delas.
B-somente se obtiver, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da Federação, com um mínimo de 2% dos votos válidos em
cada uma delas, ou se elegerem pelo menos 15 deputados distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da
federação.
C-de forma automática, não sendo necessário o preenchimento de outros requisitos, sob pena de violação
ao princípio da liberdade partidária reconhecido pela Constituição Federal.
D-se obtiver, nas eleições para o Senado Federal, no mínimo 2% dos votos válidos, distribuídos em pelo
menos 2 unidades da federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos em cada uma delas.
E-somente se obtiver, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 5% dos votos válidos,
distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da Federação, com um mínimo de 2% dos votos válidos em
cada uma delas, e, obrigatoriamente, se elegerem pelo menos 15 deputados federais distribuídos em pelo
menos 1/3 das unidades da federação.

2 - 2018 - VUNESP - PC-SP - VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia


Suponha que Joseph, brasileiro naturalizado e atualmente com 20 anos de idade, decida se candidatar ao
cargo de Deputado Federal. Nesse caso, é correto afirmar que ele

A-poderá se candidatar, pois o cargo é elegível tanto para brasileiros natos como naturalizados e a idade
mínima exigida é 18 anos.
B-poderá se candidatar, pois o cargo é elegível tanto para brasileiros natos como naturalizados e a idade
mínima exigida é 20 anos.
C-não poderá se candidatar, uma vez que embora o cargo não seja privativo de brasileiros natos, Joseph não
possui a idade mínima de 21 anos exigida pela Constituição.
D-não poderá se candidatar, pois ainda que possua a idade necessária para a candidatura, o cargo é privativo
de brasileiros natos.

247
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

E-não poderá se candidatar, pois além de não possuir a idade mínima exigida para a candidatura, o cargo é
privativo de brasileiros natos.

3 - 2018 - FUNDATEC - PC-RS - FUNDATEC - 2018 - PC-RS - Delegado de Polícia - Bloco II


Os direitos políticos ou cívicos semelham às prerrogativas e aos deveres inerentes à cidadania e
compreendem o direito de participar direta ou indiretamente do governo, da organização e do
funcionamento do Estado. Conforme prescreve a Constituição Federal, os direitos políticos disciplinam as
diversas formas de o cidadão se manifestar, dentre as quais pode-se citar a soberania popular, que se
concretiza pelo sufrágio universal, pelo voto direto e secreto e por demais instrumentos. Sobre os direitos
políticos, assinale a alternativa INCORRETA.

A-A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular.
B-A cláusula tutelar inscrita no Art. 14, caput, da Constituição tem por destinatário específico e exclusivo o
eleitor comum, no exercício das prerrogativas inerentes ao status activae civitatis. Essa norma de garantia
não se aplica, todavia, ao membro do Poder Legislativo nos procedimentos de votação parlamentar, em cujo
âmbito predomina, como regra, o postulado da deliberação ostensiva ou aberta.
C-A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade
prevista no § 7º do Art. 14 da CF/1988. No entanto, não atrai a aplicação do entendimento constante do
referido ditame a extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges.
D-A cidadania é o status de nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, de poder participar do processo
governamental, tanto de forma ativa quanto passiva. É cidadania ativa aquela que age em eleger seus
governantes, e passiva aquela em que também se pode ser escolhido.
E-Da suspensão de direitos políticos – efeito da condenação criminal transitada em julgado –, resulta, por si
mesma, a perda do mandato eletivo ou do cargo do agente político, inclusive no caso de parlamentar, – à
exceção dos membros do poder legislativo, por exemplo.

4 - 2017 - IBADE - PC-AC - IBADE - 2017 - PC-AC - Delegado de Polícia Civil


Maristela era casada com o prefeito Alcides Ferreira do município X, falecido em um acidente de avião em
setembro de 2015, no curso de seu segundo mandato. O vice-prefeito de Alcides Ferreira assumiu o cargo.
Nas eleições de 2016, Maristela concorreu à prefeitura do Município X e ganhou a eleição. Considerando o
entendimento jurisprudencial do STF, Maristela:

A-não poderia ser elegível, tendo em vista tratar-se de hipótese de inelegibilidade reflexiva prevista no artigo
14, § 7°, CRFB/88.
B-não poderia ser elegível, considerando o teor da súmula vinculante n° 18 do STF.

248
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

C-poderia ser elegível, vez que a inelegibilidade prevista no § 7° do artigo 14 da CRFB/88 não se aplica aos
casos de extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges.
D-poderia ser elegível, uma vez que a CRFB/88 não impede que o cônjuge concorra às eleições na mesma
circunscrição por motivo de casamento, parentesco ou afinidade.
E-não poderia ser elegível, tendo em vista que a CRFB/88 exige o prazo de 5 (cinco) anos, após o término de
mandato, para que o cônjuge concorra às eleições na mesma circunscrição do marido ou ex-marido.

5 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Policia Civil - Reaplicação
“Os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Fare) e o governo colombiano anunciaram
neste sábado (12), em Havana, um novo acordo de paz, após o 'não' no referendo sobre uma versão anterior
desse pacto para acabar com 52 anos de conflito armado no país.” (site gl.globo.com-publicado em
12/11/2016 às 21 h42).

Quanto ao referendo, plebiscito e iniciativa popular, nos termos da Constituição Federal da República
Federativa do Brasil, é correto afirmar:

A-O plebiscito e o referendo podem ser propostos mediante iniciativa popular.


B-A primeira experiência ordinária com o refendo deu-se com o Estatuto do Desarmamento.
C-Enquanto o plebiscito é uma consulta posterior sobre determinado ato ou decisão governamental, o
referendo configura uma consulta prévia.
D-A realização de plebiscito e referendo sempre depende de autorização do Congresso Nacional.
E-O plebiscito e o referendo serão convocados por meio de decreto legislativo proposto por, no mínimo, 3/5
dos votos dos membros que compõem uma das Casas do Congresso Nacional.

6 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Policia Civil - Reaplicação
Ação prevista constitucionalmente, a ser proposta ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados
da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. Trata-se
de:

A-ação de impugnação de registre de candidatura.


B-representação na pesquisa eleitoral.
C-ação de impugnação de mandato eletivo.
D-recurso contra a diplomação.
E-ação de investigação eleitoral .

7 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil - Prova Anulada
Acerca dos direitos políticos previstos na Constituição Federal de 1988, assinale a alternativa correta.

249
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

A-São inalistáveis os estrangeiros, os conscritos, durante o período militar obrigatório, e os analfabetos.


B-A improbidade administrativa é causa de perda do direitos políticos.
C-O alistamento e o voto são facultativos para os analfabetos e os maiores de sessenta anos.
D-Os analfabetos são inelegíveis e inalistáveis.
E-Todo inalistável é inelegível, mas nem todo inelegível é inalistável.

8 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil - Prova Anulada
Em relação aos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal, assinale a alternativa
correta.

A-São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o
terceiro grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, mesmo que
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
B-Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, em qualquer hipótese, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência.
C-É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional,
o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana, sendo vedado o
recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes.
D-O texto constitucional atribui expressamente ao Ministério Público legitimidade para a impetração de
mandado de segurança coletivo.
E-São direitos sociais expressamente previstos na Constituição Federal o transporte, o lazer, a segurança, a
seguridade social, a proteção à velhice e a assistência aos desamparados.

9 - 2016 - CESPE / CEBRASPE - PC-PE - CESPE - 2016 - PC-PE - Delegado de Polícia


Acerca dos direitos e garantias fundamentais previstos na CF, assinale a opção correta.

A-Em obediência ao princípio da igualdade, o STF reconhece que há uma impossibilidade absoluta e genérica
de se estabelecer diferencial de idade para o acesso a cargos públicos.
B-Conforme o texto constitucional, o civilmente identificado somente será submetido à identificação criminal
se a autoridade policial, a seu critério, julgar que ela é essencial à investigação policial.
C-São destinatários dos direitos sociais, em seu conjunto, os trabalhadores, urbanos ou rurais, com vínculo
empregatício, os trabalhadores avulsos, os trabalhadores domésticos e os servidores públicos genericamente
considerados.

250
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

D-Embora a CF vede a cassação de direitos políticos, ela prevê casos em que estes poderão ser suspensos ou
até mesmo perdidos.
E-Os direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, razão por que nenhum dos direitos
individuais elencados na CF necessita de lei para se tornar plenamente exequível.

10 - 2015 - FUNIVERSA - PC-DF - FUNIVERSA - 2015 - PC-DF - Delegado de Polícia


Acerca dos direitos e dos partidos políticos, assinale a alternativa correta.

A-Suponha-se que Guilherme esteja preso, aguardando o julgamento de seu recurso de apelação. Nesse caso,
Guilherme não poderá votar, por faltar-lhe, por causa de sua prisão cautelar, o pleno exercício dos direitos
políticos.
B-É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir a sua estrutura interna, a sua organização e o
seu funcionamento, podendo receber doações de pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou estrangeiras.
C-Suponha-se que Maria tenha 18 anos de idade completos e não saiba escrever o seu próprio nome, sendo
considerada como analfabeta. Nesse caso, o alistamento eleitoral de Maria é obrigatório.
D-A CF exige, como idade mínima para exercer os cargos de senador e de deputado federal, que o candidato
tenha, pelo menos, 21 anos de idade.
E-Suponha-se que Joana, deputada federal, seja casada com Pedro, atual governador do estado X. Nesse
caso, nas próximas eleições, quando Pedro e Joana concorrerem às respectivas reeleições, Joana não ficará
inelegível.

11 - 2015 - VUNESP - PC-CE - VUNESP - 2015 - PC-CE - Delegado de Polícia Civil de 1a Classe
É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o
regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana, observado o seguinte
preceito:

A-o recebimento de recursos financeiros de entidades estrangeiras.


B-a prestação de contas à justiça estadual.
C-a obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas de âmbito nacional.
D-a subordinação a governos nacionais e internacionais.
E-o funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

12 - 2014 - Aroeira - PC-TO - Aroeira - 2014 - PC-TO - Delegado de Polícia


No caso de condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos, o condenado terá
seus direitos políticos:

A-mantidos.

251
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

B-cassados.
C-perdidos.
D-suspensos.

13 - 2013 - FUNCAB - PC-ES - FUNCAB - 2013 - PC-ES - Delegado de Polícia


São direitos políticos positivos:

I. De votar (inclusive em plebiscitos e referendos) e ser votado.


II. Inelegibilidade e de organizar e participar de partidos políticos.
III. Perda e suspensão dos direitos políticos.
IV. De propor ação popular e de exercer a iniciativa popular.

Estão corretos apenas os itens:

A-I e II.
B-II e III.
C-I e IV.
D-I, II e IV.
E-II, III e IV.

14 - 2009 - CEPERJ - PC-RJ - CEPERJ - 2009 - PC-RJ - Delegado de Polícia


Com relação ao atual texto expresso da Constituição da República analise as seguintes proposições:

I- A iniciativa popular, expressão do exercício de soberania popular, pode ser realizada através de
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento
dos eleitores de cada um deles.
II- Podem alistar-se como eleitores, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
III- Partidos políticos que se propõem a disputar apenas eleições estaduais devem registrar os seus estatutos
perante o Tribunal Regional Eleitoral da correspondente unidade da Federação.
IV- Domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária e idade mínima são condições de elegibilidade,
previstas expressamente no texto da atual Constituição da República.
V- Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os seus efeitos, e improbidade
administrativa, nos termos do art. 37 § 4º da CR, são hipóteses de incidência de suspensão dos direitos
políticos.

Assinale a alternativa que corresponde à relação completa de pro- posições corretas:

252
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

A-I, IV e V.
B-I, II e V
C-III, IV e V
D-II, IV e V.
E-II, III e IV.

15 - 2008 - CESPE / CEBRASPE - PC-TO - CESPE - 2008 - PC-TO - Delegado de Polícia


Considerando o que dispõem as normas a respeito dos direitos-políticos e partidos políticos constantes da
Constituição Federal, julgue os seguintes itens.
Em nenhuma hipótese o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção,
do presidente da República, de governador de estado ou de prefeito municipal, podem ser candidatos a
cargos eletivos no território de jurisdição do titular.

Certo
Errado

16 - 2008 - CESPE / CEBRASPE - PC-TO - CESPE - 2008 - PC-TO - Delegado de Polícia


Considerando o que dispõem as normas a respeito dos direitos políticos e partidos políticos constantes da
Constituição Federal, julgue os seguintes itens.
Apesar de terem organização e caráter nacional, os partidos políticos, no Brasil, não estão obrigados à
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal.

Certo
Errado

17 - 2008 - CESPE / CEBRASPE - PC-TO - CESPE - 2008 - PC-TO - Delegado de Polícia


Considerando o que dispõem as normas a respeito dos direitos políticos e partidos políticos constantes da
Constituição Federal, julgue os seguintes itens.
Os analfabetos são inelegíveis, salvo se exercerem o direito de alistabilidade.

Certo
Errado

18 - 2007 - CESPE / CEBRASPE - SGA-AC


No que tange às regras mínimas para o tratamento do preso no Brasil, julgue o item que se segue.
O preso provisório, assim como o preso definitivo, não tem assegurados os seus direitos políticos.

253
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Certo
Errado

19 - 2004 - CESPE / CEBRASPE - Polícia Federal - CESPE / CEBRASPE - 2004 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia
Nas eleições para prefeito na cidade Alfa, concorria à reeleição o atual prefeito, Acácio. Bruno, filho de
Acácio, embora filiado ao mesmo partido político do pai há mais de dois anos, nunca se motivou a concorrer
a nenhum cargo eletivo. Oito meses antes da eleição, Acácio, após inflamado discurso, em que sustentou
que se fosse reeleito melhoraria as condições educacionais do município por meio do investimento prioritário
no ensino superior, sofreu um fulminante infarto do miocárdio, morrendo antes da chegada de socorro
médico.
Acerca dessa situação hipotética, julgue os itens que se seguem.
Bruno poderá concorrer ao cargo de prefeito da cidade Alfa, em substituição a seu pai, não se aplicando à
sua candidatura o instituto da inelegibilidade reflexa.

Certo
Errado

Respostas12

12
1: B 2: C 3: E 4: C 5: B 6: C 7: E 8: C 9: D 10: E 11: E 12: D 13: C 14: A 15: E 16: C 17: E 18: E 19: C
254
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 12 (leitura completa)
⦁ Art. 13 (leitura completa)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 12, I e II
⦁ Art. 12, §3º, §4º

1. NACIONALIDADE

É o vínculo político-jurídico que liga o indivíduo ao Estado, fazendo-o componente do seu povo e
sujeitando-o aos direitos e obrigações desta relação.
O art. 20 do Pacto de São José da Costa Rica dispõe que o direito à nacionalidade é direito
fundamental do indivíduo.
O art. 15 da Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê que todo homem tem direito a uma
nacionalidade.
Então, todo homem, pelo simples fato de ser humano, tem direito a uma nacionalidade. Esse mesmo
homem, não pode ser privado de sua nacionalidade sem que antes lhe seja ofertado o direito de mudar de
nacionalidade.

1.1 Espécies de Nacionalidade

A) ORIGINÁRIA:

Decorre de fato natural ou voluntário, adotada por cada Estado no exercício da sua soberania, e está
prevista no art. 12, I, da CF/88:
• CRITÉRIO TERRITORIAL (JUS SOLI OU “DIREITO DO SOLO”): É nacional quem nasce no território do
país;
• CRITÉRIO SANGUÍNEO (JUS SANGUINIS OU “DIREITO DO SANGUE”): O indivíduo adquire a
nacionalidade de seus ascendentes, independente de ter nascido no território de outro país.
• Brasil: Como regra, adota o critério do jus soli, embora existam hipóteses em que o critério sanguíneo
é aceito (art. 12, I, CF):

255
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

∘ É brasileiro nato o indivíduo nascido no estrangeiro, filho de pai brasileiro ou mãe brasileira
a serviço da República Federativa do Brasil (jus sanguinis + critério funcional) (CF, art. 12, I,
b).
∘ Aos nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente (jus sanguinis + registro) (CF, art. 12, I, c,
primeira parte).
∘ Filhos de brasileiros nascidos no estrangeiro e que não tenham sido registrados na repartição
brasileira competente. Nesta hipótese, caso venha a residir no Brasil, o indivíduo poderá
optar, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira
(jus sanguinis + critério residencial + opção confirmativa) (CF, art. 12, I, c, segunda parte).
∘ O ius soli, em regra, é um critério oriundo dos países de imigração. O ius sanguinis é oriundo
de países de emigração, com “E”.

B) SECUNDÁRIA:

É aquela decorrente de um ato voluntário da pessoa, a naturalização. Pode ser:


• NACIONALIDADE TÁCITA: Costuma ser adotada quando o número de nacionais é menor do que o
desejado. Nesse caso, os estrangeiros residentes no País que não declararem, dentro de determinado
período, o ânimo de permanecer com a nacionalidade de origem, automaticamente adquirirão a
nacionalidade do país em que residem. NÃO está prevista na CF/88.
• Aquisição de NACIONALIDADE JURIMATRIMONI, ou seja, aquisição da nacionalidade brasileira em
razão do casamento. É aquele resultado imediato, direto, do casamento civil. O STF já se manifestou,
recorrentemente, no sentido de que no Brasil não existe esse tipo de aquisição de nacionalidade.

• NACIONALIDADE SECUNDÁRIA EXPRESSA:


∘ EXTRAORDINÁRIA: Cria direito público subjetivo, sendo o ato de concessão vinculado.
Previsto, no art. 12, II, “b”, da CF, exige a residência por 15 anos ininterruptos no país, sem
condenação criminal.
∘ ORDINÁRIA: A sua concessão é ato discricionário. Art. 12, II, “a”, da CF/88.

ATENÇÃO – QUASE NACIONALIDADE: Aplicável aos portugueses, conforme art. 12, § 1º da CF,
desde que haja reciprocidade em favor dos brasileiros. O português, sem precisar passar pelo processo de
naturalização, pode exercer os direitos inerentes aos brasileiros naturalizados, desde que resida
permanente no país.

1.2 Perda de Nacionalidade

256
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

As hipóteses são enumeradas taxativamente pela CF/88, não sendo admitidos acréscimos ou
supressões por lei infraconstitucional, tampouco a renúncia à nacionalidade brasileira:

• CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO, POR SENTENÇA JUDICIAL, EM VIRTUDE DE ATIVIDADE


NOCIVA AO INTERESSE NACIONAL: A ação de cancelamento de naturalização pode ser deflagrada
por representação do Ministro da Justiça, por solicitação de qualquer pessoa ou por provocação do
Ministério Público Federal. A competência para processar e julgar as causas referentes à
nacionalidade é da Justiça Federal (CF, art. 109, X).
• NAS HIPÓTESES DE NATURALIZAÇÃO VOLUNTÁRIA: A aquisição de outra nacionalidade acarreta,
em regra, a perda da nacionalidade brasileira. Depende de prévia instauração de processo
administrativo, assegurada a ampla defesa. Exceções:
∘ POLIPÁTRIA OU DUPLA NACIONALIDADE;
∘ POR IMPOSIÇÃO DE NATURALIZAÇÃO POR ESTADO ESTRANGEIRO PARA EXERCÍCIO DE
DIREITOS CIVIS.

1.3 Brasileiros Natos X Naturalizados

Embora a CF/88 vede que a lei diferencie brasileiros natos de naturalizados, existem algumas
exceções:

A. EXTRADIÇÃO:

Somente o naturalizado pode ser extraditado, nas seguintes hipóteses:


Prática de crime comum antes da naturalização;
Envolvimento comprovado em tráfico ilícito de entorpecentes em qualquer momento (“na forma da
lei”).

Súmula 421 do STF: Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado


casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

Recentemente o STF decidiu que o brasileiro nato que vem a perder sua nacionalidade em razão da
aquisição de outra pode ser extraditado. No caso, uma brasileira, que já tinha o Green card, optou por
naturalizar-se americana. Entendeu o STF que a naturalização não era necessária para o regular exercício
de seus direitos civis, pois o Green card já lhe autorizava a permanecer licitamente em território americano.
Tratando-se de aquisição originária de outra nacionalidade, teve lugar a perda da nacionalidade brasileira
por meio de procedimento administrativo no Ministério da Justiça, podendo a cidadã ser extraditada em caso
de cometimento de crime em outro país. Assim se posicionou o STF no RExt 1462/DF.

257
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

B. CARGOS PRIVATIVOS:

Art. 12, § 3º da CF: São cargos privativos de brasileiros natos, assim definidos em
razão da segurança nacional e da defesa da soberania, eis que estão na linha
sucessória do Presidente da República.

São privativos de brasileiro nato os cargos:


• DE PRESIDENTE E VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA;
• DE PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS;
• DE PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL;
• DE MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL;
• DA CARREIRA DIPLOMÁTICA;
• DE OFICIAL DAS FORÇAS ARMADAS, E,
• DE MINISTRO DE ESTADO DA DEFESA.

C. CONSELHO DA REPÚBLICA:

Participam do Conselho da República, além de outros membros, seis cidadãos brasileiros natos,
segundo o art. 89 da CF/88.

D. PERDA DA CONDIÇÃO DE NACIONAL:

Somente o brasileiro naturalizado (nunca o nato) pode perder a condição de nacional, em virtude da
prática de atividade nociva ao interesse nacional.

E. EMPRESA JORNALÍSTICA E DE RADIODIFUSÃO (ART. 222, CAPUT, E §2º, DA CF):

O brasileiro naturalizado não pode ser proprietário e nem responsável editorial de seleção e direção
da programação de empresa de radiodifusão, salvo após 10 anos da naturalização.

1.4 Perda da Nacionalidade

Cancelamento da naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse


nacional (art. 12, § 4.º, I). É a denominada “perda-punição”. Ocorre por processo judicial assegurado o
contraditório e a ampla defesa. Efeitos: ex nunc. Havendo a perda da nacionalidade por este motivo, somente
é possível a reaquisição por ação rescisória. Desse modo, não é permitido a obtenção por meio de novo
procedimento de naturalização.

258
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Aquisição de outra nacionalidade (art. 12, § 4.º, II). É a denominada “perda-mudança”. Ocorre por
meio de processo administrativo, assegurado o contraditório e a ampla defesa, tramitando no Ministério da
Justiça. Efeitos: ex nunc. Pode atingir o brasileiro nato e naturalizado. Havendo a perda, sua reaquisição será
possível por meio de pedido dirigido ao Presidente da república, sendo o processo instruído no MJ. Caso seja
concedida, será feita por Decreto. Pergunta: neste caso, a pessoa readquire a nacionalidade como nata ou
naturalizada? MAJ – naturalizada. José Afonso da Silva – nata.

EXCEÇÕES:

• RECONHECIMENTO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA PELA LEI ESTRANGEIRA: Trata-se do


reconhecimento da nacionalidade originária, ou seja, aquela adquirida com o nascimento (primária).
Ex.: o indivíduo que nasceu no território brasileiro, filho de italianos que estavam em férias no Brasil
(obs.: não se encontravam a serviço da Itália), será brasileiro nato (art. 12, I, “a” — ius solis) e poderá
adquirir a nacionalidade italiana (ius sanguinis) sem perder a brasileira;
• IMPOSIÇÃO DE NATURALIZAÇÃO PELA NORMA ESTRANGEIRA: O brasileiro residente em Estado
estrangeiro que, como condição para sua permanência naquele país (por motivo de trabalho,
exercício profissional), ou para o exercício de direitos civis (herança, por exemplo), tiver, por
imposição da norma estrangeira, de se naturalizar não perderá a nacionalidade brasileira.

Ao contrário do cancelamento da naturalização em virtude de atividade nociva ao interesse nacional,


a perda da nacionalidade em decorrência da aquisição de outra dar-se-á após procedimento administrativo
em que seja assegurada a ampla defesa, por decreto do Presidente da República (art. 23 da Lei n. 818/49).

OBS.: Cancelada a naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional
(art. 12, § 4.º, I), ou perdida a nacionalidade (primária ou secundária) em decorrência da aquisição de outra
nacionalidade fora dos permissivos constitucionais (art. 12, § 4.º, II), seria possível readquiri-la?

Cancelamento da naturalização: não poderá readquiri-la, a não ser mediante ação rescisória, nunca
por meio de um novo processo de naturalização, sob pena de contrariedade ao texto constitucional;
Aquisição de outra nacionalidade: o revogado art. 36 da Lei n. 818/49 pela Lei de Migração previa a
possibilidade de reaquisição por decreto presidencial, se o ex-brasileiro estivesse domiciliado no Brasil. Pedro
Lenza entende, contudo, que tal dispositivo só teria validade se a reaquisição não contrariasse os dispositivos
constitucionais e, ainda, se existissem elementos que atribuíssem nacionalidade ao interessado.

CAIU EM CONCURSO

→ CEBRASPE – PC/PB – Delegado de Polícia - Edital: 2021


259
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Suponha que João nasça no Brasil e seja filho de pai e mãe argentinos que estejam em território brasileiro a
serviço do Uruguai. Suponha, ainda, que Sandro nasça na Itália e seja filho de pai brasileiro que resida há
algum tempo no exterior, por interesse pessoal de estudo. Suponha, também, que Jaqueline nasça na
Espanha e seja filha de mãe brasileira, a serviço da República Federativa do Brasil naquele país. Nessa
situação, no momento do nascimento, é(são) brasileiro(s) nato(s)

A) João, Sandro e Jaqueline.


B) João, somente.
C) João e Jaqueline, somente.
D) Jaqueline, somente.
E) Sandro e Jaqueline, somente.

Resposta: A alternativa ‘C’ está correta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Direito Constitucional Esquematizado. Pedro Lenza.

260
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - 2022 - FGV - PC-AM - FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia - Edital nº 01


Marie, cidadã francesa, empregada de um conceituado laboratório farmacêutico privado, estava trabalhando
no território nacional quando conheceu John, cidadão inglês, que trabalhava na mesma empresa. Os dois se
casaram e, desse relacionamento, nasceu Mathew, tendo a família deixado o território nacional logo após o
nascimento, fixando residência na Alemanha. Apesar de nunca mais ter retornado ao território brasileiro,
Mathew era familiarizado com a cultura e acompanhava diariamente as notícias do Brasil. Ao completar 21
anos, consultou um advogado a respeito da possibilidade de concorrer ao cargo eletivo de deputado federal
na eleição que seria realizada no respectivo ano.

Foi respondido corretamente que

A-somente os brasileiros natos poderiam preencher as condições de elegibilidade e Mathew era estrangeiro.
B-Mathew era brasileiro nato, logo, preenchia uma das condições de elegibilidade exigidas para concorrer
ao cargo eletivo de Deputado Federal, tendo a idade mínima exigida.
C-Mathew era brasileiro nato, logo, preenchia uma das condições de elegibilidade exigidas para concorrer a
um cargo eletivo, mas não o de Deputado Federal, por não preencher a idade mínima exigida.
D-Mathew somente poderia concorrer ao cargo eletivo de Deputado Federal caso se naturalizasse brasileiro,
pois esse cargo não exige a nacionalidade nata, acrescendo-se que ele preenchia a idade mínima exigida.
E-Mathew somente poderia concorrer a um cargo eletivo caso se naturalizasse brasileiro, mas não ao cargo
de Deputado Federal, pois esse cargo exige a nacionalidade brasileira nata, além dele não preencher a idade
mínima exigida.

2 - 2022 - CESPE / CEBRASPE - PC-PB - CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil
Suponha que João nasça no Brasil e seja filho de pai e mãe argentinos que estejam em território brasileiro a
serviço do Uruguai. Suponha, ainda, que Sandro nasça na Itália e seja filho de pai brasileiro que resida há
algum tempo no exterior, por interesse pessoal de estudo. Suponha, também, que Jaqueline nasça na
Espanha e seja filha de mãe brasileira, a serviço da República Federativa do Brasil naquele país. Nessa
situação, no momento do nascimento, é(são) brasileiro(s) nato(s)

A-João, Sandro e Jaqueline.


B-João e Jaqueline, somente.
C-Jaqueline, somente.
D-Sandro e Jaqueline, somente.
E-João, somente.

261
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

3 - 2021 -FAPEC -PC-MS -FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia


Assinale a alternativa correta.

A-São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, ainda que nenhum
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil, desde que sejam registrados em repartição brasileira
competente ou venham a residir em território nacional e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade
brasileira.
B-São brasileiros naturalizados os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil há mais de
quinze anos, ininterruptos ou não, desde que não contem com condenação penal e desde que requeiram a
nacionalidade brasileira. Em se tratando de originários de país de língua portuguesa, exige-se apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral.
C-Aos portugueses com residência permanente no País, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro,
salvo os casos previstos na Constituição Federal.
D-Os cargos de Ministro de Estado da Defesa e de oficial das Forças Armadas é privativo de brasileiro nato.
E-Será decretada a perda da nacionalidade do brasileiro que tiver adquirido outra, salvo, exclusivamente, nos
casos de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro
como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

4 - 2018 - UEG - PC-GO - Delegado de Polícia


É possível, segundo a Constituição (CRFB) e o Supremo Tribunal Federal (STF),

a)a prisão civil por dívida do depositário infiel.


b)a extradição de brasileiro naturalizado em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, mas o
brasileiro nato nunca poderá ser entregue pelo Brasil a outro país.
c)o uso de algemas como regra, com vistas à proteção dos agentes envolvidos e da autoridade policial.
d)a manutenção provisória de condenado em regime prisional mais gravoso até o surgimento de vaga em
estabelecimento penal adequado à progressão de regime.
e)a extradição de brasileiro naturalizado em caso de crime comum, praticado depois da naturalização, mas
o estrangeiro não será extraditado por crime político ou de opinião.

5 - 2018 - FUMARC - PC-MG - Delegado de Polícia


NÃO constitui cargo privativo de brasileiro nato:

a)Ministro de Estado da Defesa.


b)Oficial das Forças Armadas.
c)Presidente da Câmara dos Deputados.
d)Senador da República.

262
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

6 - 2017 - CESPE - PJC-MT - Delegado de Polícia


O boliviano Juan e a argentina Margarita são casados e residiram, por alguns anos, em território brasileiro.
Durante esse período, nasceu, em território nacional, Pablo, o filho deles.

Nessa situação hipotética, de acordo com a CF, Pablo será considerado brasileiro

a)naturalizado, não podendo vir a ser ministro de Estado da Justiça.


b)nato e poderá vir a ser ministro de Estado da Defesa.
c)nato, mas não poderá vir a ser presidente do Senado Federal.
d)naturalizado, não podendo vir a ser presidente da Câmara dos Deputados.
e)naturalizado e poderá vir a ocupar cargo da carreira diplomática.

7 - 2016 - FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia


“Os elementos clássicos de um Estado são seu território, sua soberania e seu povo. Para a formação deste
último, é necessário que se estabeleça um vínculo político e pessoal entre o Estado e o indivíduo. É a
nacionalidade que efetiva tal conexão e faz com que uma pessoa integre dada comunidade política. Portanto,
é natural e necessário que o Estado distinga o nacional do estrangeiro para diversos fins". (Mendes, 2016)

Assinale a assertiva correta de acordo com o direito de nacionalidade.

a)O brasileiro nato nunca poderá perder a nacionalidade.


b)A nacionalidade pode ser adquirida de forma originária ou secundária.
c)Os estrangeiros dispõem de direitos políticos.
d)O brasileiro nato pode se extraditado caso pratique tráfico internacional de entorpecentes e drogas afins.
e)Pelo critério de determinação jus sanguinis, o indivíduo é nacional se nascido em território específico.

8 - 2016 - CESPE - PC-PE - Delegado de Polícia


Assinale a opção correta acerca dos direitos sociais, dos remédios ou garantias constitucionais e dos direitos
de nacionalidade.

a)Será considerado brasileiro nato o indivíduo nascido no estrangeiro, filho de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, que for registrado em repartição brasileira competente ou que venha a residir no Brasil e opte, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
b)A duração da jornada normal de trabalho, de, no máximo, oito horas diárias e quarenta e quatro horas
semanais, não comporta exceções, no entanto a CF admite a compensação de horários mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho.

263
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

c)De acordo com o STF, o habeas data é ação que permite ao indivíduo o direito de obter informações
relativas à sua pessoa, inseridas em repartições públicas ou privadas, podendo ser utilizado para a obtenção
de acesso a autos de processos administrativos, como aqueles que tramitam no TCU.
d)A sentença em mandado de injunção gera efeitos erga omnes, alcançando, de maneira indistinta, todos
aqueles privados de exercer quaisquer direitos e liberdades constitucionais por falta de norma
regulamentadora.
e)O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por sindicatos, entidades de classe e associações,
mas não por partidos políticos, pois se destinam à defesa de interesses coletivos comuns a determinada
coletividade de pessoas.

9 - 2015 - FUNIVERSA - PC-DF - Delegado de Polícia


No que se refere a direitos e garantias fundamentais, assinale a alternativa correta com base na interpretação
dada pelo STF.

a)O cargo de ministro das Relações Exteriores é privativo de brasileiro nato.


b)Suponha-se que Carlos, brasileiro nato, resida há muitos anos no estrangeiro e precise adquirir a
nacionalidade estrangeira como condição de permanência naquele território. Nesse caso, se ele obtiver a
referida nacionalidade, perderá a nacionalidade brasileira.
c)Suponha-se que Pedro seja brasileiro nato e também possua outra nacionalidade originária de um país X
(dupla nacionalidade). Nesse caso, Pedro poderá ser extraditado se praticar algum crime no país X.
d)Suponha-se que Antônio tenha nascido no estrangeiro, sendo filho de pai brasileiro e mãe estrangeira.
Nesse caso, Antônio poderá optar, em qualquer tempo, depois de atingir dezoito anos de idade, pela
nacionalidade brasileira originária, desde que venha residir no Brasil.
e)Suponha-se que Afonso tenha nascido em Portugal e pretenda se naturalizar brasileiro. Nesse caso, a CF
autoriza a opção, mas exige a residência por quinze anos ininterruptos e a ausência de condenação penal.

10 - 2014 - VUNESP - PC-SP - Delegado de Polícia


É privativo de brasileiro nato o cargo de

a)Ministro do Supremo Tribunal Federal.


b)Senador.
c)Juiz de Direito.
d)Delegado de Polícia.
e)Deputado Federal.

11 - 2013 - CESPE - PC-BA - Delegado de Polícia

264
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Em relação aos direitos e deveres fundamentais expressos na Constituição Federal de 1988 (CF), julgue o
item subsecutivo.

O brasileiro nato que cometer crime no exterior, quaisquer que sejam as circunstâncias e a natureza do
delito, não pode ser extraditado pelo Brasil a pedido de governo estrangeiro.
( ) Certo( ) Errado

12 - 2013 - COPS-UEL - PC-PR - Delegado de Polícia


Sobre os direitos fundamentais, assinale a alternativa correta.

a)São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro de pai ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados
em repartição brasileira competente ou optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira; sendo
menor, deve ser acompanhado por seu representante legal.
b)Os denominados direitos fundamentais individuais são aqueles que reconhecem autonomia aos
particulares, garantindo a iniciativa e a independência aos indivíduos diante dos demais membros da
sociedade política e do próprio Estado.
c)Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei, ou no caso de ordem escrita e fundamentada de Comissão Parlamentar de Inquérito.
d)A nacionalidade pode ser cancelada por sentença transitada em julgado, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional, podendo ser reestabelecida pelo juiz de direito responsável pela condenação, depois da
execução da pena imposta na sentença condenatória.
e)Todo o tratado internacional sobre os direitos humanos que for aprovado pelo Congresso Nacional será
equivalente à emenda constitucional.

13 - 2012 - FUNCAB - PC-RJ - Delegado de Polícia


Quanto ao direito de nacionalidade, previsto na Constituição da República, é correto afirmar:

a)Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro residente em Estado estrangeiro que adquire outra
nacionalidade em função de imposição de natural ização, pela norma estrangeira, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
b)O cargo de militar das Forças Armadas é privativo de brasileiro nato.
c)Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros,
serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição.
d)Em respeito ao princípio da origem territorial, todos os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda
que de pais estrangeiros, mesmo que estes estejam a serviço de seu país serão considerados brasileiros
natos.

265
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

e)Os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de 20 anos
ininterruptos, desde que requeiram a nacionalidade brasileira, serão considerados brasileiros naturalizados.

14 - 2010 - FGV - PC-AP - Delegado de Polícia


Assinale o cargo que não é privativo de brasileiro nato.

a)Carreira diplomática.
b)Ministro de Estado da Defesa.
c)Ministro do Superior Tribunal de Justiça.
d)Presidente da Câmara dos Deputados.
e)Oficial das Forças Armadas.

15 - 2008 - ACAFE - PC-SC - Delegado de Polícia


De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil, pode ser extraditado o brasileiro
naturalizado, em caso de crime comum, praticado anteriormente à naturalização ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecente e drogas afins, na forma da lei.

Portanto, a afirmação acima está:

a)incorreta, porque o brasileiro nato também pode ser extraditado.


b)totalmente incompatível com o que dispõe a Constituição no capítulo dos Direitos e Deveres individuais e
coletivos.
c)incorreta, porque a prática do crime comum não autoriza a extradição.
d)totalmente compatível com o que dispõe a Constituição no capítulo dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos.

16 - 2006 - FAPEC - PC-MS - Delegado de Polícia


Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna do texto abaixo: Segundo a nossa carta magna,
nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em _______________________________, na forma da lei.

a)terrorismo.
b)tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
c)sabotagem.
d)espionagem.
e)contrabando de pessoas do Brasil para o exterior.

266
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

Respostas13

13
1: B 2: B 3: D 4: B 5: D 6: B 7: B 8: A 9: D 10: A 11: C 12: B 13: C 14: C 15: D 16: B

267
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

META 6 – REVISÃO SEMANAL

DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE III

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CP:
⦁ Art. 20 a 25
⦁ Art. 26 a 28
⦁ Art. 65
⦁ Art. 73 e 74
⦁ Art. 163
⦁ Art. 213
⦁ Art. 228

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Art. 37, Lei 9605/98
⦁ Art. 45 e 46, Lei de Drogas

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

CP:
⦁ Art. 20 e 21 (importantíssimos!)
⦁ Art. 25, §único (introduzido pelo Pacote Anticrime)
⦁ Art. 26
⦁ Art. 28, II e §1º
⦁ Art. 73 e 74 (importantíssimos!)

268
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XXXVII
⦁ Art. 5º, XXXVIII
⦁ Art. 5º, LIII
⦁ Art. 102, I
⦁ Art. 105, I, “a”
⦁ Art. 109, inc. IV a XI
⦁ Art. 124 e 125, §§1º, 4º e 5º
⦁ Art. 144, §1º

CPP:
⦁ Art. 1º a 3º
⦁ Art. 3º-A a 3º-F
⦁ Art. 70 a 91
⦁ Art. 95, II e 108
⦁ Art. 113
⦁ Art. 383, §2
⦁ Art. 394, §3º
⦁ Art. 399, §2º
⦁ Art. 567

CP:
⦁ Art. 5º
⦁ Art. 6º, CP
⦁ Art. 149-A, §1º, IV, do CP

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Art. 9º, Código Penal Militar
⦁ Art. 70, Lei 11.343/06
⦁ Art. 2º, III, Lei 9613/98
⦁ Art. 239, 241-A e 241-B, ECA

269
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XXXVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXVIII, CF/88
⦁ Art. 5º, LIII, CF/88
⦁ Art. 109, IV a XI, CF/88 (alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 3º-B, XIV, CPP
⦁ Art. 3º-C e 3º-D (importantíssimo!)
⦁ Art. 70 a 73 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 76 a 82 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 6º, CP (análise comparativa com o art. 70 do CPP)
⦁ Art. 9º do Código Penal Militar

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio
de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vitima.
Súmula 522-STF: Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência
será da Justiça Federal, compete a justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes
relativos a entorpecentes.
Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é
firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não
importando a qualificação do órgão expedidor.
Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.
Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que
é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula 62-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
carteira de trabalho e previdência social, atribuído à empresa privada.
Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de
falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato
praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias,

270
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

quando não ocorrente lesão à autarquia federal.


Súmula 498-STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o
julgamento dos crimes contra a economia popular.
Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil
denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de
falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de
Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.
Súmula 122-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a do Código
de Processo Penal.
Súmula 147-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Súmula 200-STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso
de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
Súmula 165-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho
cometido no processo trabalhista.
Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre
o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 721-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 451-STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime
cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.
Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados.
Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos
crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência
originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.
Súmula 555-STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de jurisdição entre
juiz de direito do estado e a justiça militar local.

271
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII,
⦁ Art. 5, inc. LXXVII,
⦁ Art. 102, inc. I, “d”, “i” e “q”
⦁ Art. 102, inc. II, “a”
⦁ Art. 105, inc. I, “b”, “c” e “h”
⦁ Art. 105, inc. II, “a”
⦁ Art. 108, inc. I, “c” e “d”
⦁ Art. 108, inc. VII e VIII
⦁ Art. 121, §3º e §4º, inc. V
⦁ Art. 142, §2º

CPP
⦁ Art. 3-B, inc. XII
⦁ Art. 574, I
⦁ Art. 581, X
⦁ Art. 612
⦁ Arts. 647 a 667

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Lei 9507/97 (habeas data)
⦁ Lei 12.016/2009 (mandado de segurança)
⦁ Lei 13.300/2016 (mandado de injunção)
⦁ Lei 4717/65 (ação popular)
⦁ Art. 23, 24, 30, 32 e 41-A, Lei 8038/90

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER!


CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII
⦁ Art. 5, inc. LXXVII

CPP
⦁ Art. 3º-B, inc. XXII
⦁ Arts. 647, 648, 651

272
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DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

⦁ Art. 654, caput.


⦁ Art. 655 e 656
⦁ Art. 660, §§ 1º e 4º

LEI 9507/97 (HABEAS DATA)


⦁ Art. 4º
⦁ Art. 7º
⦁ Art. 8º, §único
⦁ Art. 19

LEI 12.016/2009 (MANDADO DE SEGURANÇA)


⦁ Art. 1º e 3º
⦁ Art. 6º, caput
⦁ Art. 7º, inc. I e §4º
⦁ Art. 8º a 10º
⦁ Arts. 14 e 20
⦁ Arts. 21 a 23
⦁ Art. 26

LEI 13.300/2016 (MANDADO DE INJUNÇÃO)


⦁ Arts. 2º e 3º
⦁ Art. 8º e 9º
⦁ Arts. 11 a 13

273
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 14 a 17
⦁ Art. 37, §4º
⦁ Art. 55, IV
⦁ Art. 62, §1º, “a”,
⦁ Art. 68, §1º, II
⦁ Art. 85, III
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 14 e 15 (leitura completa! Importantíssimo!)
⦁ Art. 37, §4º

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do
mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

274
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO SÃO PAULO

SEMANA 04/18

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 12 (leitura completa)
⦁ Art. 13 (leitura completa)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 12, I e II
⦁ Art. 12, §3º, §4º

275

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