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685/2017
1. Relatório.
CÓDIGO PENAL.
Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado
a fins terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda,
tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou
entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou
alterado.
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os
medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os
cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações
previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes
condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária
competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no
inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a
sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária
competente.
LEI 11.343/2006.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
Essa definição deve ser lida à luz do art. 1º, parágrafo único, da Lei
11.343/2006, segundo o qual, Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias
ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados
em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.
dependência, condição sine qua non para que determinada substância possa ser considerada droga, como
expressamente diz o art. 1º, parágrafo único da Lei nº 11.343/06. Cf. LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação
criminal especial comentada: volume único. 5. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2017. p.
1154.
3
LIMA, Renato Brasileiro de. Op. Cit. p. 1154-1155. Especificamente no que diz respeito à Lista C5, dos
anabolizantes, pertinente ao caso concreto, o TRF-4 já registrou julgado no seguinte sentido: PENAL.
IMPORTAÇÃO DESAUTORIZADA DE MEDICAMENTOS. SUBSTÂNCIAS ANABOLIZANTES E
SUJEITAS A CONTROLE ESPECIAL. ENQUADRAMENTO LEGAL. INTELIGÊNCIA DO ART.
66, LEI Nº 11.343/06. PORTARIA 344/98 DA ANVISA. ART. 33, CAPUT, C/C ART. 40, I, LEI Nº
11.343/06.1. Constando as substâncias importadas das listas da portaria 344/98 e atualizações da
anvisa, a conduta tipifica o crime inscrito no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06, consoante inteligência
do art. 66 da mesma Lei. 2. No caso, constando os princípios ativos dos medicamentos apreendidos.
Testosterona, nandrolona, estanozolol, oxandrolona e misoprostol, respectivamente das listas c5.
Substâncias anabolizantes. E c1. Outras substâncias sujeitas a controle especial. Da portaria 344/98,
com a atualização da rdc 39/12, são assim entendidos como "droga", impondo-se a desclassificação, de
ofício, para o delito previsto no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06. 3. Prejudicada a discussão quanto à
especialidade do tipo penal inscrito no art. 273 do CP em relação ao descrito no art. 334. 4. Provindo os
medicamentos do paraguai, forçoso reconhecer, também, a incidência da majorante relativa à
transnacionalidade (art. 40, I, Lei nº 11.343/06). (TRF 4ª R.; ACR 0007727-60.2007.404.7002; PR; Sétima
Turma; Rel. Des. Fed. Sebastião Ogê Muniz; Julg. 17/12/2013; DEJF 10/01/2014; Pág. 136.) - grifo nosso.
considerando que se trata, conforme observado acima, de norma penal especial em relação a
do art.273, do Código Penal.
Sendo este o caso, ressalte-se que a doutrina 10, bem como parte da
jurisprudência11, por considerarem ser este um crime material, exigem para a comprovação de
10
Assim para Renato MARCÃO “O art.7º, IX, da Lei n. 8.137/90, tipifica crime material, que deixa vestígios.
No âmbito penal, para que possa afirmar, com segurança, que a matéria-prima ou mercadoria se
apresenta em condições improprias para o consumo, é imprescindível a existência de laudo pericial
que apresente tal conclusão. Incide, na hipótese, o art. 158 do Código de Processo Penal, segundo o qual:
“Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo e delito, direito ou indireto, não
podendo supri-lo a confissão do acusado”. Cf. MARCÃO, Renato. Crimes contra a ordem tributária,
econômica e relações de consumo: comentários e interpretação jurisprudencial da Lei n. 8.137, de 27-12-
1990. São Paulo: Saraiva, 2017. p.422
11
Cf. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE
CONSUMO. ART. 7º, IX, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 8.137/1990. LAUDOPERICIAL.
IMPRESCINDIBILIDADE. IMPROPRIEDADE DO ALIMENTO PARA CONSUMO HUMANO.
COMPROVAÇÃO. MATERIALIDADE DELITIVA. JUSTA CAUSA PARA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA.
TRANCAMENTO DA PERSECUÇÃO PENAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.
RESPONSABILIZAÇÃO ADSTRITA AO ÂMBITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO
PROVIDO. 1. Esta Corte pacificou o entendimento de que o trancamento de ação penal pela via eleita é
medida excepcional, cabível apenas quando demonstrada, de plano, a atipicidade da conduta, a extinção da
punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existência do crime e de indícios de autoria. 2. Conquanto
parte da doutrina e da jurisprudência entendam que o delito previsto no art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/1990,
crime formal, de perigo abstrato, seja norma penal em branco, cujo elemento normativo do tipo "impróprio
para consumo" deve ser complementado pelo disposto no art. 18, § 6º, do Código de Defesa do Consumidor,
a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que há necessidade de realização de exame
pericial nos produtos pretensamente impróprios, a fim de que seja comprovada a sua real nocividade
para consumo humano, sob pena de inaceitável responsabilidade penal objetiva. 3. Inexistente prova
pericial, produzida diretamente sobre os produtos alimentícios apreendidos, falta justa causa para a
persecução penal, sendo insuficiente concluir pela impropriedade para o consumo exclusivamente em
sua materialidade a realização de perícia, a fim de constatar qual era o produto. Válidos, aqui,
portanto, todos os apontamos feitos sobre a necessidade de perícia tecidos acima.