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PUC Rio – DEPARTAMENTO DE DIREITO

ESTÁGIO SUPERVISIONADO II – PENAL


PROFESSORA: AGNES CHRISTIAN

ALUNO: HENRIQUE DE AEVEDO AVILA


MATRÍCULA: 2110414
Telefone: (21) 971000163
Email: henriavila2011@gmail.com

PESQUISA SOBRE ASPECTOS PENAIS DECORRENTES DA VENDA DE


MEDICAMENTOS IRREGULARES

29.09.2023

1. ARCABOUÇO JURÍDICO-INSTITUCIONAL SOBRE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

O direito à saúde (artigos 6º e 196), à segurança e à vida (caput do artigo 5º), assim como a
dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), está estabelecido na Constituição Federal de
1988. De acordo com o art. 200, incisos I e II, da Constituição, compete ao Sistema Único de
Saúde "controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e
hemoderivados e outros insumos", bem como “executar as ações de vigilância sanitária e
epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador”.

Note-se que a legislação sanitária está calcada na Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, a qual
dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos
farmacêuticos e correlatos, cosméticos e saneantes. Por força dessa lei, nenhum produto pode ser
fabricado, exposto à venda ou entregue ao consumo antes de registrado no Ministério da Saúde -
artigo 12.

Na sequência da Constituição, qualificou-se melhor o conceito de vigilância sanitária, por meio


do § 1º do art. 6º da Lei 8.080/1990. Esta lei prevê ainda, nos artigos 15 a 18, que cabe a
instituições da Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, exercer, dentre outras, atividades de regulação, normatização, controle e
fiscalização na área de vigilância sanitária.

Posteriormente, promoveu-se então a Lei 9.782, de 26 de janeiro de 1999, para definir o Sistema
Nacional de Vigilância Sanitária, criando-se naquela oportunidade a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).

Dessa forma, as competências da Anvisa decorrem do texto constitucional e visam a assegurar a


efetividade do direito a saúde. Com efeito, os medicamentos representam um dos temas de maior
abrangência e destaque dentre as responsabilidades da Agência, compreendendo: registro;
autorização de funcionamento e inspeção dos laboratórios farmacêuticos e demais empresas da
cadeia farmacêutica; análise de pedidos de patentes relacionados a produtos e processos
farmacêuticos; e regulação de preços, por meio da Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos (CMED). Outras ações são compartilhadas com estados e municípios, tais como a
inspeção de fabricantes, o controle de qualidade dos medicamentos e a vigilância pós-
comercialização, destacando-se a farmacovigilância e a regulação da propaganda de
medicamentos.

Ressalte-se que para a concessão do registro pela Anvisa, é avaliado o cumprimento de requisitos
de caráter jurídico-administrativo e técnico-científico, relacionados com a qualidade, segurança
de uso e eficácia do produto. São analisados dizeres de rotulagem, instruções de uso, indicações,
contraindicações e outras informações de modo a permitir a introdução do medicamento no
mercado, sua comercialização e consumo.

Apresenta-se, a seguir, lista de leis e resoluções consideradas relevantes, que se sucederam à


criação da Anvisa.

 Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006: Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas


Sobre Drogas; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão a produção
não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências.
 Resolução RDC n° 27, de 30 de março de 2007: Dispõe sobre o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Produtos Controlados - SNGPC,estabelece a implantação do módulo
para drogarias e farmácias e dá outras providências.
 Instrução Normativa nº 07, de 24 de abril de 2007: Aprova o padrão SNGPC
para transmissão de dados referentes ao módulo para Farmácias e Drogarias.
 Resolução RDC nº 58, de 5 setembro de 2007 Dispõe sobre o aperfeiçoamento do
controle e fiscalização de substâncias psicotrópicas anorexígenas e dá outras
providências.
 Resolução RDC nº 76, de 31 de outubro de 2007: Dispõe sobre orientação de
procedimentos relacionados ao credenciamento ao SNGPC para implementação da
Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n.º 27, de 2007.
 Instrução Normativa nº 11, de 31 de outubro de 2007: Dispõe sobre orientação
de procedimentos para implementação e cumprimento da Resolução da Diretoria
Colegiada - RDC n.º 27, de 2007.
 Resolução RDC 96, de 17 de dezembro de 2008 - Dispõe sobre a propaganda,
publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção
comercial de medicamentos.
 Resolução RDC 44, de 17 de agosto de 2009 - Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas
para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da comercialização de
produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras
providências.
 Resolução RDC n° 11, de 22 de março de 2011: Dispõe sobre o controle da substância
Talidomida e do medicamento que a contenha.
 Resolução RDC nº 36, de 03 de agosto de 2011: Atualizar o Anexo I, Listas de
Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas,Precursoras e Outras sob Controle Especial, da
Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.
 Resolução RDC n° 52, de 06 de outubro de 2011: Dispõe sobre a proibição do uso das
substâncias anfepramona, femproporex e mazindol, seus sais e isômeros, bem como
intermediários e medidas de controle da prescrição e dispensação de medicamentos que
contenham a substância sibutramina, seus sais e isômeros, bem como intermediários e dá
outras providências.
 Lei 13.021, de 08 de agosto de 2014 - Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das
atividades farmacêuticas.

2. CONCEITOS IMPORTANTES

2.1 Medicamentos controlados

Medicamentos não são produtos comuns, pois afetam a saúde da população. Justamente por isso
recebem um “tratamento especial” das autoridades sanitárias. Todo medicamento precisa
cumprir as regras determinadas pela Anvisa, desde a fabricação, distribuição e venda na
farmácia.

A prescrição de medicamentos controlados é regulamentada por legislações específicas, em


razão dos riscos de dependência e de uso indevido que esses medicamentos podem representar.

As substâncias controladas ou sujeitas a controle especial são aquelas que possuem efeitos no
sistema nervoso central e têm o potencial de causar dependência física ou psicológica. Essas
substâncias exigem uma regulamentação mais rigorosa em comparação com as substâncias
comuns, devido à sua natureza e riscos associados.

Alguns medicamentos, como os psicotrópicos, necessitam de receita especial em duas vias para
sua dispensação, sendo uma retida na farmácia.

2.2 Produtos irregulares

É preciso seguir critérios de fabricação, distribuição, armazenagem e comercialização para que


assim seja garantida a segurança no uso racional dos medicamentos.

À vista disso, produtos irregulares são aqueles que não cumprem as determinações sanitárias e,
dessa forma, oferecem riscos à saúde da população. Caso esses critérios são sejam cumpridos, há
riscos dos produtos causarem prejuízos para a saúde dos pacientes que efetuarem o uso.

Geralmente, quando não cumpridas as normas vigentes pelo órgão sanitária, notam-se alterações
nos parâmetros de qualidade dos medicamentos, sendo os mais comuns: (i) mudança de aspecto;
(ii) alteração da cor; (iii) presença de odor; (iv) interferência no sabor e volume; e até (v)
presença de corpo estranho (impurezas).

Desse modo, são classificados como produtos irregulares: (i) sem registro na vigilância sanitária;
(ii) sem notificação na Anvisa; (iii) produtos falsificados; (iv) produtos que são roubados ou
contrabandeados; (v) produtos com propaganda considerada inadequada; e (vi) produtos com
desvios de qualidade no processo de fabricação.
A Agência realiza, periodicamente, fiscalização e mantém um rígido controle em toda cadeia de
produção da indústria farmacêutica, bem como distribuição até a dispensação na farmácia. Ao
constatar a ausência dos padrões de qualidade, a Anvisa notifica a empresa e registra o produto
numa lista pública que pode ser consultada pela internet. Para saber quais são os medicamentos
proibidos, a farmácia pode acessar de forma gratuita a consulta pública no portal da vigilância
sanitária. A lista é sempre atualizada.

Além de conhecer os medicamentos proibidos pela Anvisa, a farmácia também precisa controlar
os lotes dos medicamentos.

3. A LEGISLAÇÃO PENAL APLICÁVEL

A conduta de vender medicamento sem registro da autoridade competente e de procedência


ignorada assim está tipificada no Código Penal Brasileiro:

“Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de
2.7.1998)
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para
vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido,
adulterado ou alterado. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-
primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico.
(Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a
produtos em qualquer das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; (Incluído pela Lei
nº 9.677, de 2.7.1998)
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; (Incluído pela
Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
(Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; (Incluído pela Lei nº 9.677, de
2.7.1998)
V - de procedência ignorada; (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. (Incluído
pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Modalidade culposa
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de
2.7.1998)”
4. DOUTRINA SOBRE O ART. 273 DO CÓDIGO PENAL

Discorrendo sobre o art. 273, do Código Penal, para explicar expressões ali contidas, Nucci
leciona:

a) sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente: é o produto que,
embora não adulterado de qualquer forma, deixou de ser devidamente inscrito no órgão
governamental de controle da saúde e da higiene pública.
[...]
e) de procedência ignorada: ou seja, é o produto sem origem, sem nota e sem controle, podendo
ser verdadeiro ou falso, mas dificultando, sobremaneira, a fiscalização da autoridade sanitária. É
um nítido perigo abstrato” (NUCCI, Guilherme de Souza. (NUCCI, Guilherme de Souza. Código
Penal Comentado. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 992 e 993).

No tocante às condutas inseridas no rol do art. 273, cujo bem jurídico tutelado é a saúde
pública, a doutrina majoritária sempre argumentou que a sanção era excessivamente gravosa.

Vja-se, nesse ponto, a análise realizada por Rogério Schietti Machado Cruz, para quem: “a
aplicação literal da engenhosa Lei 9.677/98 pode conduzir às seguintes situações:

1º - tanto ao que falsificou um medicamento destinado ao tratamento de câncer quanto ao que


falsificou um medicamento destinado ao tratamento de caspa, está prevista igual pena: nada
menos do que dez anos de reclusão. É isso mesmo! Quem 'falsificar, corromper, adulterar ou
alterar produto destinado a fins terapêuticos' (art. 273 da Lei 9.677/98 estará sujeito a uma
sanção penal superior (em muito) à que se comina ao autor de um homicídio simples (...). Logo
se o farmacêutico matar, com um revólver, o seu desafeto que comparece à drogaria estará
sujeito à pena mínima de 6 (seis) anos, ao passo que se, desejando-lhe apenas aumentar-lhe a
seborreia, vender-lhe um shampoo que sabe ser falsificado, poderá sofrer condenação
equivalente a, pelo menos, 10 (dez) anos de reclusão.

2ª - outra 'pérola' da lei em comento: até mesmo produtos cosméticos estão incluídos entre
aqueles referidos no estapafúrdio art. 273 (§ 1º). Consequência: se lguém, por qualquer
finalidade, adulterar a composição de um creme contra acne também poderá ser condenado a
uma sanção variável entre 10 e 15 anos de reclusão. É o terrorismo penal legalizado” (Processo
Penal Pensado e Aplicado, Brasília: Brasília Jurídica, 2005, p.134).

5. JURISPRUDÊNCIA

5.1 Inconstitucionalidade da pena do art. 273 do Código Penal majorada pela


Lei 9.677/98

Em março de 2021, o STF declarou inconstitucional a pena prevista no artigo 273 do


Código Penal, com a redação da Lei 9.677/1998, restabelecendo a redação anterior
do dispositivo, que previa pena de um a três anos de reclusão para o crime de
importação de medicamentos sem registro.
Tal decisão foi proferida em sede de Repercussão Geral no Recurso Extraordinário n.
979.962/RS (Tema 1.003). Considerou-se que:

“TEMA 1003: É inconstitucional a aplicação do preceito secundário do artigo 273 do Código


Penal, com a redação dada pela Lei 9.677/1998 – reclusão de 10 a 15 anos – à hipótese prevista
no seu parágrafo 1º-B, inciso I, que versa sobre a importação de medicamento sem registro no
órgão de vigilância sanitária. Para esta situação específica, fica repristinado o preceito
secundário do artigo 273, na redação originária – reclusão de um a três anos e multa”.

Mais recentemente, em junho de 2023, o STF estendeu os efeitos da decisão que


considerou desproporcional a punição de 10 a 15 anos de reclusão a quem vende,
armazena ou distribui esses produtos. A decisão foi tomada no julgamento de
recurso (embargos de declaração) da Defensoria Pública da União (DPU) no
Recurso Extraordinário (RE) 979962.

Nos embargos, a DPU argumentou que, em março de 2021, não houve


manifestação sobre a inconstitucionalidade da aplicação da pena aos casos
equivalentes ao de “importar” previstos no mesmo dispositivo legal - vender, expor
à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribuir ou entregar
a consumo produto sem registro sanitário. Para a DPU, essas condutas equivalem à
importação, e a limitação da declaração de inconstitucionalidade apenas a quem
importa acabou por criar nova desproporcionalidade.

A tese de repercussão geral foi readequada nesses termos: “É inconstitucional a


aplicação do preceito secundário do art. 273 do Código Penal, com redação dada
pela Lei nº 9.677/98 (reclusão, de 10 a 15 anos, e multa), à hipótese prevista no seu
§ 1º-B, I, que versa sobre importar, vender, expor à venda, ter em depósito para
vender ou, de qualquer forma, distribuir ou entregar produto sem registro no
órgão de vigilância sanitária. Para estas situações específicas, fica repristinado o
preceito secundário do art. 273, na sua redação originária (reclusão, de 1 a 3 anos,
e multa)”.

5.2 Desnecessidade de laudo pericial

Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1755862 RJ 2018/0183710-0.


RECURSO ESPECIAL. POSSE, COM INTUITO DE VENDA, DE SIGNIFICATIVA
QUANTIDADE DE MEDICAMENTOS SEM REGISTRO E COM VENDA PROIBIDA PELA
ANVISA. PRAMIL E CYTOTEC. ABSOLVIÇÃO NA CORTE A QUO, CALCADA NO
ENTENDIMENTO DE QUE O LAUDO PERICIAL FOI SILENTE AO NÃO CONSTAR A
EXIGIBILIDADE DE REGISTRO DOS MEDICAMENTOS. NEGATIVA DE VIGÊNCIA
AOS ARTS. 273, § 1º-B, I, DO CP; ART. 386, III, DO CPP; ARTS. 1º E 4º, DA LEI N.
5.991/1973; E ARTS. 1º E 12, DA LEI N. 6.360/1976. PROCEDÊNCIA. EXIGIBILIDADE
QUE DECORRE DA LEI FEDERAL. RESTABELECIMENTO DA CONDENAÇÃO.
RETORNO DOS AUTOS AO TRIBUNAL A QUO. 1. Consoante o disposto nos arts. 1º e 12,
ambos da Lei n. 6.360/1976, só é admissível a venda de medicamento no território nacional,
inclusive importado, após registro no órgão público competente. 2. Se o registro figura como
condição para a difusão de medicamento, nos termos da lei, afigura-se desnecessário que o laudo
pericial ateste a sua exigibilidade, sendo suficiente - para fins de caracterização do crime
tipificado no art. 273, § 1º-B, I, do Código Penal -, evidência de que o medicamento, objeto de
difusão, não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. 3. No caso,
além da falta de registro, atestada em laudo pericial, há atos normativos, referenciados na
sentença, que proíbem a comercialização dos medicamentos apreendidos, circunstância mais que
suficiente para caracterizar o crime. 4. Recurso especial provido a fim de restabelecer a
condenação do recorrido com relação ao crime tipificado no art. 273, § 1º-B, I, do Código Penal,
determinando o retorno dos autos ao Tribunal a quo para análise das demais questões suscitadas
na apelação, que ficaram prejudicadas com o acolhimento da tese ora afastada. (Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 18/09/2018, DJe 08/10/2018).

STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL:


AgRg no AgRg no REsp 1948334 DF 2021/0205194-2. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. IMPORTAR, VENDER E MANTER
EM DEPÓSITO PARA VENDA PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU
MEDICINAIS DE PROCEDÊNCIA IGNORADA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
CORRELAÇÃO. INEXISTENTE. ART. 273 , § 1º-B, V, DO CÓDIGO PENAL - CP .
DESNECESSIDADE DE ELABORAÇÃO DE LAUDO DE CERTIFICAÇÃO DA
SUBSTÂNCIA. CRIME FORMAL. PLEITO DESCLASSIFICATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O
Tribunal de Justiça afastou a ofensa ao princípio da correlação, sustentando que o fato imputado
na denúncia foi o mesmo pelo qual a sentença condenou a ré, arguindo, ainda, a desnecessidade
de elaboração do laudo, porquanto teria ficado comprovado que o produto, de procedência
ignorada, era anunciado como promessa para a cura de diversas enfermidades. Assim, a conduta
da recorrente estaria enquadrada naquela prevista no § 1º-B, do artigo 273 , do Código Penal . 2.
Para o delito do art. 273 , § 1º-B, V, do CP , a jurisprudência desta Corte dispensa a elaboração
de laudo de certificação da substância, já que se trata de crime formal, bastando que se trate de
produto de procedência ignorada, hipótese dos autos. Incidência da Súmula n. 83 /STJ. O teor do
referido enunciado aplica-se, inclusive, aos recursos especiais interpostos com fundamento na
alínea a do permissivo constitucional 3. O TJ afastou o pleito desclassificatório, concluindo que
"Devidamente configurada a conduta prevista no artigo 273 , § 1º-B, inciso V, do Código Penal ,
mostra-se inviável a desclassificação da conduta para aquela de menor gravidade prevista no
artigo 284 do Código Penal (curandeirismo)". Desse modo, por demandar a revisão dos fatos e
provas constantes do autos, o pedido esbarra no óbice imposto pela Súmula n. 7 desta Corte. 4.
Agravo regimental desprovido (T5 - QUINTA TURMA. Relator MINISTRO JOEL ILAN
PACIORNIK. Julgamento 7 de Junho de 2022. Data de publicação: DJe 10/06/2022).

5.3 Não aplicação do princípio da insignificância no caso de medicamentos destinados à


venda
STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL: AgRg no AREsp
2008032 SP 2021/0356142-9. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 273 , § 1.º-B, INCISO I, DO CÓDIGO
PENAL . PLEITO ABSOLUTÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 /STJ. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O Tribunal de origem concluiu que estão presentes todos os
elementos necessários à comprovação da materialidade e autoria da conduta. A inversão do
julgado, de maneira a fazer prevalecer o pleito absolutório, encontra óbice na Súmula n. 7 /STJ.
2. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de ser inaplicável o princípio da
insignificância ao crime do art. 273 , § 1.º e § 1.º-B, incisos I, V e VI, do Código Penal , qualquer
que seja a quantidade de medicamentos falsificados apreendidos. 3. Agravo regimental
desprovido (T6 - SEXTA TURMA. RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ. Julgamento: 8
de Novembro de 2022. Publicação: DJe 18/11/2022).

5.4 Aplicação do princípio da insignificância no caso de medicamentos para uso próprio

REsp 1950598 SP 2021/0229920-6. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DO ARTIGO 273, §§ 1º


E 1º-B, INCISOS I E III, DO CÓDIGO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
INOCORRÊNCIA. REQUISITOS DO ARTIGO 41 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
PREENCHIDOS. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE CONTRABANDO.
IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA
DEMONSTRADAS. DOLO CARACTERIZADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INCIDÊNCIA. PEQUENA QUANTIDADE DE MEDICAMENTOS. IMPORTAÇÃO PARA
USO PRÓPRIO. ATIPICIDADE MATERIAL. APELO DA DEFESA PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. O apelante foi condenado pela prática do crime previsto no artigo 273, §§ 1º e 1º-
B, incisos I e III, do Código Penal. 2. Cumpre esclarecer que a jurisprudência do E. Superior
Tribunal de Justiça versa no sentido de que prolatada a sentença condenatória, não há se falar em
inépcia da peça inaugural, pois exercidos amplamente o contraditório e a ampla defesa. 3. Não
bastasse, a peça acusatória delineou os elementos de convicção que a embasaram, narrando de
modo satisfatório o comportamento porventura engendrado pelo réu para a prática delitiva, ou
seja, da sua análise extrai-se, com clareza, tanto o fato típico que lhe foi imputado, como a
conduta supostamente por ele perpetrada. Requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal
preenchidos. Inépcia inexistente. 4. A conduta de importar medicamentos sem registro no órgão
de vigilância sanitária competente caracteriza o delito previsto no artigo 273, §§ 1º e 1º-B,
incisos I e III, do Código Penal, norma específica, que prevalece sobre o crime de contrabando,
em observância ao princípio da especialidade. Desclassificação inviável. 5. A materialidade foi
comprovada pelo Termo de Apreensão de Substâncias Entorpecentes e Drogas Afins (ID
152775888 - fls. 11/12), Auto de Apreensão (ID 152775888 - fl. 17), Laudo de Perícia Criminal
Química-Forense (ID 152775888 - fls. 24/30) e Ofício nº 251/2015/CVPAF-SP/ANVISA (ID
152775888 - fls. 99/100). Com efeito, os documentos elencados certificam que o réu importou
158,9g (cento e cinquenta e oito gramas e nove decigramas) Edição nº 0 - Brasília, Documento
eletrônico VDA30922101 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei
11.419/2006 Signatário(a): REYNALDO SOARES DA FONSECA Assinado em: 30/11/2021
14:09:01 Publicação no DJe/STJ nº 3281 de 01/12/2021. Código de Controle do Documento:
25abe2d2-6f8a-472b-b8fd-41cabe428103 de anabolizantes, tornando inconteste a materialidade
delitiva. 6. A autoria restou demonstrada pelo auto de inquérito policial, corroborado pelas
provas angariadas em juízo. 7. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite,
excepcionalmente, a aplicação do princípio da insignificância ao delito em tela, quando a
quantidade apreendida é pequena e destinada ao consumo próprio, com fundamento na falta de
lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado pela norma penal incriminadora, sob o
ponto de vista da tipicidade material: AgRg no REsp 1.724.405/RS, Rel. Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, Sexta Turma, julgado em 18/10/2018, DJe 6/11/2018; EDcl no AgRg
no REsp 1.708.371/PR, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em
24/4/2018, DJe 11/5/2018. 8. O bem jurídico tutelado no caso da importação de medicamentos
irregulares é a saúde pública, não a individual, sendo certo que nas hipóteses em que o indivíduo
busca medicamentos para consumo próprio, em outro país, não registrados e/ou sem autorização
do órgão de vigilância sanitária competente, não lesiona o bem jurídico tutelado pelo tipo penal
em comento. 9. Caso concreto em que a quantidade e natureza dos medicamentos revela inexistir
risco coletivo à saúde, pois não há sinais de que os medicamentos apreendidos se destinariam ao
comércio ou à distribuição ao público, ainda que gratuita. Incidência do princípio da
insignificância. Reforma da sentença condenatória. 10. Apelo da defesa parcialmente provido.
(e-STJ fls. 509/510) (Relator Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA. Publicação DJ
01/12/2021).

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