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CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

DISCIPLINA: Direito Penal IV


PROFESSOR: Rafael Piaia
MONITORES: Elenilda Rufino, Benedito Igor, Geane Fontenele, Janyely Elias

Lei de Drogas
Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006

Finalidade:
Articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com
a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e
dependentes de drogas, assim como a repressão da produção não autorizada e
do tráfico ilícito de drogas.
Definição: O que é droga?
São substância ou produtos capazes de causar dependência. Essas
substâncias ou produtos devem estar especificadas em lei ou relacionadas em
lista atualizadas periodicamente. Denominam-se drogas as substâncias
entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e ouras sob controle especial da
Portaria SVS/MS 344 de 12 de maio de 1998.
A Lei de Drogas é considerada uma norma penal em branco, haja vista
que ela por si só não define o que seria droga, e deste modo necessita de um
complemento, para definir o que é droga. Nesse sentido ensina Nucci:

“São normas penais em branco aquelas cujo preceito primário


é indeterminado quanto a seu conteúdo, porém determinável,
além de terem o preceito sancionador determinado. Um
dos melhores exemplos para figurar como norma penal em
branco é o crime de tráfico ilícito de drogas (art. 33, caput,
Lei 11.343/2006): “Importar, exportar, remeter, preparar,
produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer,

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ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer
drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena –
reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias multa”. 6.2.
Observe-se a existência de várias condutas, cujo objeto é a
droga ilícita (em desacordo com determinação legal ou
regulamentar). O preceito primário (descreve a conduta por
meio dos verbos e do objeto) possui um branco, pois é
necessário saber quais as drogas ilícitas, previstas em lei ou
regulamento, para que se configure o crime. Há uma relação
de drogas prescritas formulada pelo órgão competente do
Ministério da Saúde. Por outro lado, o preceito secundário é
sempre fixo e não pode ser aberto, pois contém a sanção.”
(NUCCI, 2019, pgs. 299 e 300)

De modo geral as normas penais em branco são classificadas


doutrinariamente em: homogêneas, heterogêneas, homovitelíneas e
heterovitelíneas.
Em suma, a norma penal em branco é homogênea quando o complemento
é fruto da mesma fonte normativa que a norma em branco, ou seja, outra lei;
heterogênea quando o complemento é fruto de uma fonte normativa diversa da
fonte que emanou a norma penal em branco, como por exemplo: ato
administrativo, portaria da União.
A homovitelínea quando o complemento está dentro da própria lei que
emanou a norma em branco, por exemplo: o art. 312 do CP, está tipificado o
peculato, crime praticado por funcionário público, e no próprio CP se encontra
o conceito de funcionário público, no art. 327.
Já a heterovitelínea é quando o complemento está em uma lei diversa da
que que emanou a norma em branco, por exemplo: o art. 236 do Código Penal
(contrair casamento ocultando impedimento) depende de complemento
encontrado no Código Civil, lei na qual se encontra o conceito de “impedimento”.
Nesse sentido a Lei de Drogas é classificada em norma penal em branco
heterogênea, haja vista que, em branco porque ela necessita de um
complemento, e heterogênea porque o seu complemento está contido em um
ato normativo diverso da Lei, que é a portaria SVS/MS 344.

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IMPORTANTE:
Antes da atual lei de drogas, vigorava no ordenamento brasileiro a lei n°
6.368/76. A referida lei, dava tratamento igual para traficante e usuário de
drogas, ou seja, a pena para ambos era pena privativa de liberdade e, no caso
do usuário, gerava reincidência.
Quando a Lei n° 11.343/06 entrou em vigor revogando assim a lei anterior,
ela passou a dar um tratamento diferenciado ao usuário de drogas. Isso se deu
porque a legislação atual passou a entender que não bastava privar o usuário de
drogas de sua liberdade, ele precisava de outros tipos de intervenções, visto que
passou a ser tratado como um caso de saúde pública.
Logo, a nova lei, em seu art. 28, estabeleceu para o usuário medida
educativa, não gerando reincidência. Já no caso do tráfico a pena continuou pena
privativa de liberdade, porém o art. 33 da lei de drogas prevê um aumento de
pena.
Em suma, na lei anterior (6368/76), o tráfico tinha pena de 3 anos até 15
anos, e o juiz poderia fixar o regime aberto e ainda substituir por pena restritiva
de direitos, já que a pena era inferior a 4 anos (verificar os requisitos de
conversão de pena privativa de liberdade por restritivas de direitos no art. 44 e
seguintes do Código Penal).
Com a nova lei, a pena mínima passou a ser de 5 anos e a máxima
manteve-se em 15 anos, o que significa que agora, pela quantidade de pena
(acima de 4 anos), não é mais possível substituir a pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos, e o regime passou a ser o semiaberto (regime inicial).
No que tange ao usuário, houve uma DESPENALIZAÇÃO, no sentido que
agora o usuário recebe MEDIDA EDUCATIVA (previstas no art. 28 da Lei de
Drogas), e não PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. Isso faz com que não gere a
reincidência, caso o autuado venha a praticar um novo fato criminoso no período
da janela de 5 anos da reincidência. Na lei anterior o usuário recebia uma PPL,

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substituída por PRD, ficava o registro criminal por pelo menos 5 anos, o que o
alijava do mercado de trabalho.
OBS: O STJ NO JULGAMENTO DE UM Resp, RETIROU A REINCIDÊNCIA
NO CRIME DE USUÁRIO DE DROGAS:
Tráfico de entorpecentes. Condenação anterior pelo delito do artigo 28
da Lei de Drogas. Caracterização da reincidência.
Desproporcionalidade.
É desproporcional o reconhecimento da reincidência no delito de tráfico de drogas
que tenha por fundamento a existência de condenação com trânsito em julgado
por crime anterior de posse de droga para uso próprio. (REsp 1.672.654-SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, por unanimidade, julgado em 21/08/2018,
DJe 30/08/2018). Nesse julgamento, merecem destaque as palavras da ministra
Laurita Vaz: “Se contravenções penais, puníveis com prisão simples, não têm o
condão de gerar reincidência (artigo 63 do Código Penal), também o crime de
posse de drogas para consumo próprio não deve gerar tal efeito — sob pena de
ofensa ao princípio da proporcionalidade —, haja vista ser punível com medidas
muito mais brandas [...]”
ATENÇÃO: Em relação ao USUÁRIO DE DROGAS, houve continuidade legislativa,
portanto NÃO HOUVE DESCRIMINALIZAÇÃO, mas sim HOUVE DESPENALIZAÇÃO
OU DESCARCERIZAÇÃO. Isso restou decidido pelo STF no julgamento do RE
430105, vejamos:
EMENTA: I. Posse de droga para consumo pessoal: (art. 28 da L. 11.343/06
- nova lei de drogas): natureza jurídica de crime. 1. O art. 1º da LICP - que
se limita a estabelecer um critério que permite distinguir quando se está
diante de um crime ou de uma contravenção - não obsta a que lei ordinária
superveniente adote outros critérios gerais de distinção, ou estabeleça para
determinado crime - como o fez o art. 28 da L. 11.343/06 - pena diversa da
privação ou restrição da liberdade, a qual constitui somente uma das opções
constitucionais passíveis de adoção pela lei incriminadora (CF/88, art. 5º,
XLVI e XLVII). 2. Não se pode, na interpretação da L. 11.343/06, partir de
um pressuposto desapreço do legislador pelo "rigor técnico", que o teria

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levado inadvertidamente a incluir as infrações relativas ao usuário de drogas
em um capítulo denominado "Dos Crimes e das Penas", só a ele referentes.
(L. 11.343/06, Título III, Capítulo III, arts. 27/30). [...] 4. Soma-se a tudo a
previsão, como regra geral, ao processo de infrações atribuídas ao usuário
de drogas, do rito estabelecido para os crimes de menor potencial ofensivo,
possibilitando até mesmo a proposta de aplicação imediata da pena de que
trata o art. 76 da L. 9.099/95 (art. 48, §§ 1º e 5º), bem como a disciplina
da prescrição segundo as regras do art. 107 e seguintes do C. Penal (L.
11.343, art. 30). 6. Ocorrência, pois, de "despenalização", entendida como
exclusão, para o tipo, das penas privativas de liberdade. 7. Questão de
ordem resolvida no sentido de que a L. 11.343/06 não implicou abolitio
criminis (C.Penal, art. 107). II. Prescrição: consumação, à vista do art. 30 da
L. 11.343/06, pelo decurso de mais de 2 anos dos fatos, sem qualquer causa
interruptiva. III. Recurso extraordinário julgado prejudicado. (STF. 1ª
Turma. RE 430105 QO, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em
13/02/2007.)
Bem jurídico tutelado: Saúde (coletividade) e a Paz Pública. No crime de
associação para o tráfico (art. 35 da Lei) o bem jurídico protegido também é a
PAZ PÚBLICA. Portanto, a Lei de Drogas protege tanto a SAÚDE PÚBLICA, como
a PAZ PÚBLICA.
É crime comum, logo, pode ser praticado por qualquer pessoa.
É classificado também como TIPO MISTO ALTERNATIVO: O crime de tráfico,
bem como no caso do usuário, assim como a pornografia infantil e o porte e a
posse ilegal de arma de fogo, são classificados como CRIME DE AÇÃO MÚLTIPLA
ou de CONTEÚDO VARIADO, ou de TIPO MISTO ALTERNATIVO, isto é, possuem
várias condutas típicas separadas pela conjunção alternativa. Em razão disso, a
pluralidade de condutas envolvendo o mesmo objeto material, constitui CRIME
ÚNICO: EX: Adquirir, transportar, guardar e depois vender a mesma substância
entorpecente configura um único crime. Ressalta-se ainda que caso o agente
tenha nas mesmas circunstâncias dois tipos diferentes de droga, também será
considerado crime único, a diferença nesse caso será que o juiz no momento da

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fixação das penas irá considerar tal fato, conforme o art. 42 da lei. EX:
Transportar e armazenar, cocaína e crack configura um único crime. Nessa
esteira ensina CAPEZ:
A alternatividade ocorre quando a norma descreve várias
formas de realização da figura típica, em que a realização de
uma ou de todas configura um único crime. São os chamados
tipos mistos alternativos, os quais descrevem crimes de ação
múltipla ou de conteúdo variado. O art. 33, caput, da Lei n.
11.343/2006, descreve 18 formas diferentes de se praticar o
tráfico ilícito de entorpecentes, tratando-se, assim, de um tipo
misto. A prática de mais de uma conduta prevista nesse tipo
incriminador, por parte do agente, pode configurar crime único
ou concurso material entre as condutas, dependendo da
existência de nexo causal entre elas. Como bem observa
Vicente Greco Filho, ao comentar a revogada Lei, “são 18 os
núcleos do tipo contidos no caput do art. 12, descrevendo
condutas que podem ser praticadas de forma isolada ou
sequencial. Algumas poderiam configurar atos preparatórios de
outras, e estas, por sua vez, exaurimento de anteriores. A
intenção do legislador, porém, é a de dar a proteção social mais
ampla possível”. (CAPEZ, 2019, p. 962)

O crime de tráfico de drogas é classificado como CRIME PERMANENTE, ou seja,


a sua consumação se prolonga no tempo, como ensina BRASILEIRO:

“O crime permanente é aquele cuja consumação, pela


natureza do bem jurídico ofendido, pode protrair-se no
tempo, detendo o agente o poder de fazer cessar a prática
delituosa a qualquer momento. Como se vê uma das
principais características do crime permanente consiste em o
agente poder fazer cessar a perturbação do bem jurídico a
qualquer momento. Ele possui o domínio do fato, da conduta
e do resultado. O Art. 33 da Lei de Drogas prevê algumas
condutas que são permanentes, como, por exemplo, a de
expor à venda, ter em depósito, transportar, trazer consigo e
guardar.“ (BRASILEIRO, 2016, pgs. 739 e 740)

OBS: A súmula 711 do STF dispõe “A lei penal mais grave aplica-se ao crime
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência”, deste modo, caso o agente comece a
armazenar certa quantidade de drogas na vigência de uma lei mais benéfica, mas
somente é descoberto e preso na vigência de uma lei mais gravosa, essa última

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será aplicada no suposto caso, tendo em vista que o crime permanente “se
renova “dia a dia”, e como na PLENA VIGÊNCIA da lei mais gravosa, o agente
AINDA ESTAVA ARMAZENANDO as drogas, considera-se que o crime restou
consumado na vigência desta.
EX: Paulo começou a armazenar determinada quantidade de drogas na sua casa
no dia 01.01.2020, e a lei A que estava em vigor previa uma pena de 05 a 20
anos de reclusão para esse crime. Ocorre que no dia 15.02.2020 a lei B começa
a vigorar prevendo uma pena de 10 a 30 anos para o referido crime, e no dia
20.02.2020 Paulo é preso em flagrante, nesse caso, a lei aplicável será a lei B,
haja vista que a sua vigência é anterior a cessação da permanência.
A cessação da permanência ocorreu no dia da prisão, quando já estava em vigor
a nota lei, mais gravosa. O dia da cessação da permanência é CONSIDERADO
TEMPO DO CRIME, motivo pelo qual se aplica a lei penal vigente no momento do
tempo do crime.
Pontos importantes:
USUÁRIO DE DROGAS: Condutas Típicas (art.28, caput):
a) Adquirir (obter);
b) Guardar (tomar conta da droga);
c) Trazer consigo (transportar junto ao corpo);
d) Ter em depósito (manter em reservatório ou armazém);
e) Transportar (levar a droga de um lugar a outro).

Devemos ficar atentos ao elemento Subjetivo: para CONSUMO PESSOAL.


Obs: Ao comparar os verbos do art. 28 (usuário), com os verbos do art. 33
(tráfico), percebe-se que eles se repetem em ambos os artigos. O que vai
diferenciar se a droga é para o tráfico ou para o uso são os elementos do art. 28,
parágrafo segundo, do art. 28 da lei, sendo que para ser usuário o JUIZ deverá
verificar se, no caso concreto, a DROGA SE DESTINAVA AO CONSUMO PESSOAL
ou para o TRÁFICO (elemento subjetivo do tipo penal – a vontade do agente, o
DOLO).

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Características:
a) Não admite modalidade tentada;
b) É um crime equiparado a hediondo (Tráfico);
c) É uma norma penal em braço heterogênea;
d) É um crime permanente, ou seja, sua consumação se prolonga no tempo.
Súmula 711/STF:
“A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. ”

➢ Elementos que devem ser analisados pelo juiz (art. 28, §2°), para
diferenciar o usuário do traficante:
a) Natureza: Nesse ponto o juiz deverá analisar o grau de nocividade da
droga apreendida. E quanto mais nociva for a droga, maior será a pena.
EX: O indivíduo que for preso com determinada quantidade de “Crack”
terá uma pena maior do que a de um indivíduo que foi preso com
determinada quantidade de “maconha”, haja vista, que essa última é
menos nociva à saúde.
b) Quantidade da substância: Nesse ponto o juiz deverá analisar a
quantidade de droga que foi apreendida com o indivíduo, tendo em vista
que quanto maior a quantidade de drogas apreendidas, pode-se concluir
que não seria usada para consumo pessoal, e restaria configurado o crime
de tráfico. EX: João é preso portando uma “trouxinha” de cocaína, já
Pedro e preso portando 50 “trouxinhas” de cocaína; No primeiro caso é
proporcional dizer que o agente iria fazer uso da droga, mas no segundo
caso é desproporcional afirmar que o indivíduo faria uso próprio de
tamanha quantidade drogas, em regra.
c) Local: Nesse ponto o juiz deverá analisar o local/lugar em que o indivíduo
foi preso com a droga. EX: Guilherme é preso em sua residência com
certa quantidade de droga, e Luiz é preso, em um ponto que comumente
é utilizado por traficantes, com determinada quantidade de drogas, no

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primeiro caso pode-se concluir que a droga seria para consumo pessoal,
já no segundo que seria para venda.
d) Condições: Nesse ponto o juiz deverá analisar as condições em que a
droga foi encontrada e apreendida com o agente, se a mesma já estava
pronta para o consumo, se a mesma estava embalada para a venda, se
o indivíduo estava com determinada quantia de dinheiro. EX: Mauro foi
preso com dois cigarros de “maconha”, já José foi preso com duas
“trouxinhas” de maconha e R$ 100,00 em cédulas de R$ 2,00, nesse
contexto é possível concluir que o primeiro caso se trata de droga para
consumo, e o segundo caso que se trata de tráfico.
e) Circunstâncias pessoais: Nesse ponto o juiz deverá analisar as
circunstâncias pessoais do indivíduo, com predominância no que diz
respeito a parte econômica do mesmo, se exercia atividade lícita, EX:
f) Circunstâncias sociais: Nesse ponto o juiz deverá analisar as
circunstâncias sociais do indivíduo, ou seja, a sua relação com a sociedade
em geral, e com a sua família, para verificar se é usuário. EX: Jonas é
preso com determinada quantidade de drogas na rua em que reside, e os
seus vizinhos informam que ele é usuário de drogas há muito tempo, e a
sua mãe relata que o mesmo já chegou ao ponto de vender a TV da casa
dela para comprar “maconha”.
g) Conduta: Nesse ponto o juiz deverá analisar o modo que o indivíduo
estava agindo no momento da prisão para determinar se o mesmo era é
usuário ou traficante. EX: João estava fumando um cigarro de maconha
no momento da prisão, e não tinha consigo mais nenhum tipo de droga,
nesse contexto pode-se concluir que o indivíduo é usuário.
h) Antecedentes: Nesse ponto o juiz deverá analisar os antecedentes
criminais no indivíduo, com o fim de definir se é usuário ou não, aqui os
antecedentes criminais no que diz respeito ao crime de tráfico de drogas
têm um peso maior. EX: Valmir é preso com grande quantidade de
drogas, e é verificado que o mesmo já tem condenação criminal transitada

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em julgado por crime de tráfico de drogas, e acabou de cumprir sua pena
dois meses antes da nova prisão. Pode-se concluir que o mesmo estava
com as drogas para fins de tráfico.

➢ Modalidades de Uso, de Tráfico, e demais crimes:


1. Uso Comum (art. 28) – NÃO É HEDIONDO E NÃO GERA
REINCIDÊNCIA GERAL DO CÓDIGO PENAL.
Artigo 28 da lei 11.343/2006 trata do usuário comum de drogas. Nele é
estabelecido alguns critérios que o juiz deve se atentar para concluir se a droga
se destinava para o consumo próprio ou para tráfico. É definido também as
medidas que deverão ser tomadas neste caso, que são:
I. Advertência sobre os efeitos das drogas;
II. Prestação de serviço à comunidade;
III. Medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.
As penas previstas para os casos do item II e III são de no máximo
5(cinco) meses, e no caso de reincidência serão aplicadas pelo prazo máximo de
10(dez) meses.
OBS: A REICIDÊNCIA que trata o §4º do Art. 28 é ESPECÍFICA:
A reincidência de que trata o referido dispositivo é a especifica, ou seja,
para ser considerado reincidente, para os fins do dispositivo, e poder ser aplicada
uma medida mais gravosa do que a que é aplicada a um primário, o individuo
deve ter necessariamente, praticado anteriormente um crime da mesma espécie
do primeiro, e no caso, o crime previsto no Art. 28. Ou seja, se por exemplo o
indivíduo já havia sido condenado por homicídio, ele não será considerado
reincidente para os fins do Art. 28 §4º, haja vista que a reincidência que leva em
consideração dois crimes distintos é a genérica. Nesse sentido julgou o STJ:
Posse de drogas para consumo pessoal. Art. 28, § 4º, da Lei n. 11.343/2006.
Reincidência específica. Revisão do entendimento da Sexta Turma.
A reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 é a específica.
Não obstante a existência de precedente em sentido diverso (AgRg no HC 497.852/RJ,
Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 11/06/2019, DJe 25/06/2019) – em

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que a reincidência genérica era pela prática dos delitos de roubo e de porte de arma –,
em revisão de entendimento, embora não conste da letra da lei, forçoso concluir que a
reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 é a específica. Com
efeito, a melhor exegese, segundo a interpretação topográfica, essencial à
hermenêutica, é de que os parágrafos não são unidades autônomas, estando vinculadas
ao caput do artigo a que se referem. Vale dizer, aquele que reincidir na prática do delito
de posse de drogas para consumo pessoal ficará sujeito a penas mais severas – pelo
prazo máximo de 10 meses –, não se aplicando, portanto, à hipótese vertente, a regra
segundo a qual ao intérprete não cabe distinguir quando a norma não o fez. Desse modo,
condenação anterior por crime de roubo não impede a aplicação das penas do art. 28,
II e III, da Lei n. 11.343/2006, com a limitação de 5 meses de que dispõe o § 3º do
referido dispositivo legal. (REsp 1.771.304-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 10/12/2019, DJe 12/12/2019).
2. Tráfico (Art. 33, caput): É CRIME EQUIPARADO A HEDIONDO E
GERA REICIDÊNCIA:
O crime tipificado no Art. 33, caput, da Lei de Drogas é o crime de tráfico
de drogas “em si”, uma das principais condutas que o legislador buscou dar
continuidade legislativa em relação a Lei 6.368/79, haja vista que essa última
tipificava o crime em comento no seu Art. 12, caput. Manteve as dezoito condutas
típicas constantes no caput do Art. 12, e estabeleceu uma pena mais grave, de
5 a 15 anos de reclusão, sendo que no diploma revogado a pena prevista era de
3 a 15 anos de reclusão, como citado anteriormente.
- É crime de mera conduta;
OBS: O entendimento majoritário do STJ, é no sentido de que não se aplica no
crime de tráfico o princípio da insignificância. Esse também é o entendimento
majoritário do STF, contudo, em novembro de 2019 a 2ª turma do STF no
julgamento de um HC, anulou a condenação de uma mulher condenada pelo
tráfico de 1g de maconha, e a referida decisão teve como uma das bases de
fundamentação a violação do princípio da INSIGNIFICÂNCIA:
Habeas corpus. 2. Posse de 1 (um grama) de maconha. 3. Condenação à pena
de 6 (seis) anos, 9 (nove) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, em regime

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inicial fechado. 4. Pedido de absolvição. Atipicidade material. 5. Violação aos
princípios da ofensividade, proporcionalidade e insignificância. 6. Parecer da
Procuradoria-Geral da República pela concessão da ordem. 7. Ordem
concedida para reconhecer a atipicidade material.
A Turma, por maioria, concedeu a ordem para considerar a atipicidade material da
conduta (art. 192 do RISTF), nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson
Fachin e Cármen Lúcia. Segunda Turma, Sessão Virtual de 1.11.2019 a 8.11.2019. (HC
127573 / SP - SÃO PAULO. HABEAS CORPUS. Relator(a): Min. GILMAR MENDES.
Julgamento: 11/11/2019. Órgão Julgador: Segunda Turma
3. CONDUTAS EQUIPARADAS AO TRÁFICO (ART. 33, §1º INCISOS I
A IV):
Nesse ponto, merece destaque o que ensina CAPEZ:
“No § 1º do art. 33, estão previstas condutas equiparadas ao
caput: no inciso I consta o tráfico de matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado à preparação de drogas, ao passo
que, no inciso II, a semeadura, o cultivo e a colheita de plantas
que constituam matéria-prima para a preparação de drogas. O
inciso III, por sua vez, prevê a conduta de utilizar local ou bem
ou consentir que outrem dele se utilize para o tráfico ilícito de
drogas. A finalidade do legislador foi evitar situações que
levassem à impunidade do agente. Diante da diversidade de
condutas que se podem apresentar na realidade, o legislador
procurou antever todas as hipóteses, com a inclusão dessas
figuras equiparadas.” (CAPEZ, 2019, p. 976)

OBS: No caso do cometimento dos crimes previstos nos incisos II e III, §1º do
Art. 33, os bens utilizados para a prática dos referidos crimes, poderão ser
EXPROPRIADOS nos termos do disposto no Art. 243 da CRFB/88.
4. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO E AUXÍLIO AO USO INDEVIDO DE
DROGAS (ART. 33, §2º):
Induzir: Fazer nascer uma ideia em uma outra pessoa, no caso, usar drogas
indevidamente.
Instigar: Reforçar uma ideia que outra pessoa já tinha, no caso, usar drogas
indevidamente.

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Auxiliar: É dar apoio efetivo e necessário para que uma pessoa pratique
determinada conduta, no caso, auxiliar outra pessoa a usar drogas
indevidamente.
OBS: Marcha da Maconha: É uma representação do princípio da LIBERDADE
DE EXPRESSÃO, e por isso não configura o crime de apologia ao uso de drogas.
5. Uso compartilhado (art. 33, §3°): NÃO É HEDIONDO, MAS GERA
REINCIDÊNCIA.
Os requisitos para caracterizar o uso compartilhado são:
• Oferecer;
• Eventualmente;
• Sem objetivo de lucro;
• Pessoa de seu relacionamento;
• Juntos consumirem.
Nesse caso a pena será pena privativa de liberdade, sendo de 6 meses a 1 ano
mais multa.
Aqui gera a reincidência, pois é uma modalidade de uso qualificada, em que o
agente é que detém a propriedade da droga, e compartilha (uso compartilhado,
sem lucro, eventualmente...) com outros usuários de drogas.
Nesse caso, quem compartilha a droga responde por dois crimes: usuário do art.
28 e usuário compartilhado do art. 33, parágrafo terceiro, enquanto os usuários
que não detém a propriedade da droga respondem apenas pelo art. 28.
6. Tráfico Privilegiado (art. 33, §4°): NÃO É HEDIONDO E GERA
REINCIDÊNCIA
O tráfico privilegiado é o caso de diminuição de pena previsto no art. 33,
§4° da Lei de Drogas, que pode incidir nas penas das pessoas condenadas por
tráfico de drogas quando forem: primárias, tiverem bons antecedentes, não
integrarem uma organização criminosa e que não se dediquem às atividades
criminosas.
A pena aplicada nesses casos, pode ser diminuída de um sexto a dois
terços.

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- Recentemente o STF RETIROU A HEDIONDEZ do tráfico privilegiado, no
julgamento do HC 118533.
• Mula é tráfico privilegiado?
“ É possível aplicar o § 4º do art. 33 da Lei de Drogas às “mulas”. O fato de o
agente transportar droga, por si só, não é suficiente para afirmar que ele integre
a organização criminosa. A simples condição de “mula” não induz
automaticamente à conclusão de que o agente integre organização
criminosa, sendo imprescindível, para tanto, prova inequívoca do seu
envolvimento estável e permanente com o grupo criminoso. Portanto, a
exclusão da causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº
11.343/2006 somente se justifica quando indicados expressamente os fatos
concretos que comprovem que a “mula” integra a organização criminosa. ”
(Informativo 602 do STJ). Ou seja, é cabível a aplicação do privilégio para as
“mulas”.

Para fins do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, milita em favor do réu a
presunção de que ele é primário, possui bons antecedentes e não se
dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa; o
ônus de provar o contrário é do Ministério Público
A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006
tem como fundamento distinguir o traficante contumaz e profissional daquele
iniciante na vida criminosa, bem como do que se aventura na vida da traficância
por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou
de sua família. Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a
fundamentação corroborada em elementos capazes de afastar um dos requisitos
legais, sob pena de desrespeito ao princípio da individualização da pena e de
fundamentação das decisões judiciais. Informativo comentado Informativo 965-
STF (12/02/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 Desse modo, a
habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser

14
comprovados, não valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse
sentido, o condenado fará jus à redução de pena. Em outras palavras, militará
em favor do réu a presunção de que é primário e de bons antecedentes e de que
não se dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa. O ônus
de provar o contrário é do Ministério Público. Assim, o STF considerou
preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante
de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de pertencimento a
organização criminosa. STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

7. TRÁFICO DE MAQUINÁRIO (ART. 34):


- Tipo subsidiário: deste modo, caso o agente pratique alguma das condutas do
Art. 33, caput, e alguma das condutas do Art. 34, caput, a conduta tipificada no
Art. 34 será ABSORVIDA pela conduta do Art. 33, caput.
8. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO (ART. 35):
- Necessidade de duas ou mais pessoas;
- Fim de praticar qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 ;
ATENÇÃO: Os Tribunais Superiores estabeleceram que a associação para o
tráfico exige a ESTABILIDADE e a PERMANÊNCIA, ou seja, deve haver um liame
subjetivo entre os autores, com o fim de praticar REITERADAMENTE o tráfico,
configurando a ESTABILIDADE e a PERMANÊNCIA. Outra característica é que os
Tribunais Superiores retiraram a hediondez do crime de associação para o tráfico.

15
ASSOCIAÇÃO
ASSOCIAÇÃO ORGANIZAÇÃO ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA-
PARA O TRÁFICO CRIMINOSA CRIMINOSA CRIMES
HEDIONDOS

Art. 35 da Lei Art. 2º da Lei Art. 8º da Lei


Art. 288 do CP
11.343/06 12.850/13 8.072/90

3 a 10 anos de 3 a 8 anos de 1 a 3 anos de 3 a 6 anos de


reclusão reclusão reclusão reclusão

Duas ou mais Quatro ou mais


Três ou mais pessoas Três ou mais pessoas
pessoas pessoas

PARA CONFIGURAÇÃO DO CRIME ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E AS


DEMAIS ASSOCIAÇÕES, segundo o STJ, é necessária a conjugação da
ESTABILIDADE E DA PERMANÊNCIA.

ATENÇÃO PARA AS SEGUINTES DIFERENCIAÇÕES:

9. FINANCIAMENTO OU CUSTEAMENTO DO TRÁFICO ILÍCITO DE


DROGAS OU MAQUINÁRIOS (ART. 36):
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts.
33, caput e § 1º , e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e
quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.
OBS: Se o agente APENAS FINANCIA OU CUSTEIA o tráfico ilícito de drogas, ou
maquinários, apenas responderá pelo crime do Art. 36. Contudo, se o agente
FINANCIA OU CUSTEIA o tráfico ilícito de drogas ou maquinários, bem como
TRAFICA, ele responderá pelo crime previsto no Art. 33 com a causa de aumento
prevista no Art. 40, inciso VII.

16
10. COLABORAÇÃO COMO INFORMANTE (ART. 37):
Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação
destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º
, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a
700 (setecentos) dias-multa.
11. PRESCREVER OU MINISTRAR, CULPOSAMENTE, DROGAS,
SEM QUE DELAS NECESSITE O PACIENTE, OU FAZÊ-LO EM DOSES
EXCESSIVAS OU EM DESACORDO COM DETERMINAÇÃO LEGAL
OU REGULAMENTAR (ART. 38):
- Trata-se de crime próprio, tendo em vista que só pode ser cometido por
profissionais da área da saúde.
- Prescrever: Receitar;
- Ministrar: Aplicar;
- O Juiz deverá comunicar a condenação ao Conselho Federal da categoria
profissional a que pertença o agente.
12. CONDUZIR EMBARCAÇÃO OU AERONAVE APÓS O CONSUMO DE
DROGAS (ART. 39)
Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas,
expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do
veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo
mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200
(duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.
OBS: Esse dispositivo não se aplica a condução de veículos automotores, ou
seja, os de via terrestre, nesse caso quem irá regular a conduta de conduzir
o veículo automotor após o consumo de drogas será o CTB.

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CAUSAS DE AUMENTO DAS PENAS (3ª fase da dosimetria):
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de
um sexto a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as
circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no
desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais
de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de
arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o
Distrito Federal;
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem
tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de
entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

DOSIMETRIA DA PENA
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o
previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou
do produto, a personalidade e a conduta social do agente.

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JURISPRUDÊNCIA STJ:
SÚMULA nº 630
A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de
entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando
a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio.
SÚMULA nº 607
A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006)
configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não
consumada a transposição de fronteiras.
SÚMULA nº 587
Para a incidência da majorante prevista no art. 40, V, da Lei n. 11.343/2006, é
desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da Federação,
sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico
interestadual.

SÚMULA nº 528

Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela


via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.
Tráfico de drogas. Crime praticado em presídio por meio de telefone.
Art. 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006. Majorante. Incidência.
Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a
majorante prevista no art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006.
(HC 440.888-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 15/10/2019, DJe 18/10/2019. Info 659 STJ)
Tráfico de entorpecentes. Condenação anterior pelo delito do artigo 28
da Lei de Drogas. Caracterização da reincidência.
Desproporcionalidade.
Condenações anteriores pelo delito do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 não são
aptas a gerar reincidência.

19
(HC 453.437-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, por unanimidade,
julgado em 04/10/2018, DJe 15/10/2018. Info 636 STJ)
Tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes. Disque Denúncia.
Ausência de prévia investigação policial para verificar a veracidade das
informações recebidas. Fuga de acusado. Inexistência de elementos
idôneos para entrada em domicílio sem ordem judicial.
A existência de denúncias anônimas somada à fuga do acusado, por si sós, não
configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do
acusado sem o seu consentimento ou determinação judicial.
(RHC 83.501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em
06/03/2018, DJe 05/04/2018. Info 623 STJ)
Tráfico ilícito de drogas. Causa de aumento da pena. Art. 40, inciso III,
da lei n. 11.343/2006. Infração cometida nas imediações de
estabelecimento de ensino em uma madrugada de domingo. Ausência
de exposição de uma aglomeração de pessoas à atividade criminosa.
Interpretação teleológica. Afastamento da majorante.
Não incide a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III, da Lei n.
11.343/2006, se a prática de narcotraficância ocorrer em dia e horário em que
não facilite a prática criminosa e a disseminação de drogas em área de maior
aglomeração de pessoas.
(REsp 1.719.792-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, por unanimidade,
julgado em 13/03/2018, DJe 26/03/2018. Info 622 STJ)
Tráfico de drogas. Causa especial de diminuição de pena. Art. 33, § 4º,
da Lei n. 11.343/2006. Reincidência. Reconhecimento equivocado.
É inviável o reconhecimento de reincidência com base em único processo anterior
em desfavor do réu, no qual – após desclassificar o delito de tráfico para porte
de substância entorpecente para consumo próprio – o juízo extinguiu a
punibilidade por considerar que o tempo da prisão provisória seria mais que
suficiente para compensar eventual condenação.

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(HC 390.038-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 06/02/2018, DJe 15/02/2018. Info 619 STJ)
Tráfico de entorpecentes. Momento do interrogatório. Último ato da
instrução. Novo entendimento firmado pelo Excelso no bojo do HC
127.900/AM. Modulação dos efeitos. Publicação da ata de julgamento.
Acusado interrogado no início da instrução.
Os procedimentos regidos por leis especiais devem observar, a partir da
publicação da ata de julgamento do HC 127.900/AM do STF (11.03.2016), a regra
disposta no art. 400 do CPP, cujo conteúdo determina ser o interrogatório o
último ato da instrução criminal.
HC 397.382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, por unanimidade,
julgado em 3/8/2017, DJe 14/8/2017. Info 609 STJ)
Tráfico de drogas. Dosimetria da pena. Causa de diminuição do art. 33,
§ 4°, da Lei n. 11.343/2006. Agente na condição de “mula”. Ausência
de prova de que integra organização criminosa.
É possível o reconhecimento do tráfico privilegiado ao agente transportador
de drogas, na qualidade de "mula", uma vez que a simples atuação nessa
condição não induz, automaticamente, à conclusão de que ele seja integrante de
organização criminosa.
(HC 387.077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, por unanimidade, julgado em
6/4/2017, DJe 17/4/2017. Info 602 STJ)
Causa de diminuição de pena. Art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06.
Dedicação à atividade criminosa. Utilização de inquéritos e/ou ações
penais. Possibilidade.
É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para
formação da convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo
a afastar o benefício legal previsto no artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/06.
(REsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, por maioria, julgado em 14/12/2016,
DJe 1/2/2017. Info 596 STJ)

21
JURISPRUDÊNCIA STF:
SÚMULA nº 522
Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando, então, a competência será
da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o processo e julgamento dos
crimes relativos a entorpecentes.
SÚMULA VINCULANTE nº 26
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime
hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade
do art. 2º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o
condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício,
podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame
criminológico.
2ª Turma anula condenação de mulher flagrada com 1g de maconha
Em seu voto, o relator destacou que a resposta do Estado não foi adequada nem
necessária para repelir o tráfico de 1g de maconha. Segundo Gilmar Mendes,
esse é um exemplo emblemático de flagrante desproporcionalidade na aplicação
da pena em hipóteses de quantidade irrisória de entorpecentes, e não houve
indícios de que a mulher teria anteriormente comercializado quantidade maior de
droga. De acordo com o ministro, no âmbito dos crimes de tráfico de drogas, a
solução para a desproporcionalidade entre a lesividade da conduta e a
reprimenda estatal é a adoção do princípio da insignificância.
O relator observou que o STF tem entendido que o princípio da insignificância
não se aplica ao delito de tráfico, ainda que a quantidade de droga apreendida
seja ínfima. Porém, considerou que a jurisprudência deve avançar na criação de
critérios objetivos para separar o traficante de grande porte do traficante de
pequenas quantidades, que vende drogas apenas em razão de seu próprio vício.
Para ele, se não houver uma clara comprovação da possibilidade de risco de dano
da conduta, o comportamento não deverá constituir crime, ainda que o ato
praticado se adeque à definição legal. “Em verdade, não haverá crime quando o

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comportamento não for suficiente para causar um dano ou um perigo efetivo de
dano ao bem jurídico, diante da mínima ofensividade da conduta”, explicou.
Seu voto foi seguido pelos ministros Celso de Mello e Ricardo Lewandowski.
Ficaram vencidos os ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia. (HC 1277573)
A habitualidade no crime e o pertencimento a organizações criminosas
deverão ser comprovados pela acusação, não sendo possível que o
benefício do tráfico privilegiado (art. 33, § 4º) seja afastado por simples
presunção.
A habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser
comprovados, afastada a simples presunção. Se não houver prova nesse sentido,
o condenado fará jus à redução da pena. Assim, a quantidade e a natureza são
circunstâncias que, apesar de configurarem elementos determinantes na
modulação da causa de diminuição, por si sós, não são aptas a comprovar o
envolvimento com o crime organizado ou a dedicação a atividades criminosas.
(STF. 2ª Turma. HC 152001 AgR/MT, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red.
p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/10/2019. Info 958)
Tráfico privilegiado e regime inicial de cumprimento de pena.
Impossibilidade de fixação de regime de cumprimento de pena fechado
ou semiaberto para crime de tráfico privilegiado de drogas sem a
devida justificação.
No caso, o impetrante pretendia a alteração do regime inicial de cumprimento da
pena, fixado em semiaberto pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), bem como
a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos.
O colegiado aplicou a orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
no sentido da impossibilidade de fixação de regime de cumprimento de pena
fechado para crime de tráfico de drogas sem a devida justificação. Observou que
o único fundamento apontado pelo STJ para justificar o regime semiaberto foi o
fato de ser crime de tráfico, não obstante se tratar de tráfico privilegiado e ser o
réu primário, com bons antecedentes. Ou seja, a justificativa do STJ foi a de que
a reprovabilidade se deu pelo delito praticado.

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Concluiu não se poder chancelar a fixação automática em relação ao regime
semiaberto pelo simples fato de ser tráfico privilegiado. Além disso, salientou
inexistir, no caso, sequer justificativa maior quanto à quantidade da droga.
(HC 163231/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgamento em 25.6.2019. Info 945)
Sementes de maconha e tipicidade
A Turma entendeu que a matéria-prima ou insumo deve ter condições e
qualidades químicas que permitam, mediante transformação ou adição, por
exemplo, a produção da droga ilícita. Não é esse o caso das sementes da planta
cannabis sativa, as quais não possuem a substância psicoativa THC.
(MS 31667 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 11.9.2018. Info 915)

EXERCÍCIOS:

01. ( FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXIV - Primeira Fase) Com
dificuldades financeiras para comprar o novo celular pretendido, Vanessa, sem qualquer
envolvimento pretérito com aparato policial ou judicial, aceita, a pedido de namorado de
sua prima, que havia conhecido dois dias antes, transportar 500 g de cocaína de Alagoas
para Sergipe. Apesar de aceitar a tarefa, Vanessa solicitou como recompensa R$
5.000,00, já que estava muito nervosa por nunca ter adotado qualquer comportamento
parecido. Após a transferência do valor acordado, Vanessa esconde o material
entorpecente na mala de seu carro e inicia o transporte da substância. Ainda no estado
de Alagoas, 30 minutos depois, Vanessa é abordada por policiais e presa em flagrante.
Após denúncia pela prática do crime de tráfico de drogas com causa de aumento do Art.
40, inciso V, da Lei nº 11.343/06 (“caracterizado tráfico entre Estados da Federação ou
entre estes e o Distrito Federal”), durante a instrução, todos os fatos são confirmados:
Folha de Antecedentes Criminais sem outras anotações, primeira vez no transporte de
drogas, transferência de valores, que o bem transportado era droga e que a pretensão
era entregar o material em Sergipe. Intimado da sentença condenatória nos termos da
denúncia, o advogado de Vanessa, de acordo com as previsões da Lei nº 11.343/06 e a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, deverá pleitear:
A) O reconhecimento da causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado e
reconhecimento da tentativa.
B) O afastamento da causa de aumento e o reconhecimento da causa de diminuição de
pena do tráfico privilegiado.
C) O afastamento da causa de aumento, apenas.
D) O reconhecimento da causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado, apenas.
02. ( FGV - 2013 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XI - Primeira Fase) O Art. 33 da
Lei n. 11.343/06 (Lei Antidrogas) diz: “Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,

24
fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer
consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar. Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.”
Analisando o dispositivo acima, pode-se perceber que nele não estão inseridas as
espécies de drogas não autorizadas ou que se encontram em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Dessa forma, é correto afirmar que se trata de uma norma penal
A) Em branco homogênea.
B) Em branco heterogênea.
C) Incompleta (ou secundariamente remetida).
D) Em branco inversa (ou ao avesso).
03. ( VUNESP - 2007 - OAB-SP - Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase) A respeito da
Lei de Drogas - Lei n.º 11.343/2006 -, assinale a opção correta.
A) Segundo entendimento doutrinário predominante, a conduta do usuário de drogas foi
descriminalizada.
B) O número de testemunhas de defesa, nos crimes apenados com reclusão, foi reduzido
de oito para cinco.
C) Não há delação premiada na nova lei de drogas, tendo diminuído a punição ao agente
que, voluntariamente, colabora com a justiça na identificação dos demais co-autores ou
partícipes, bem como na recuperação do produto do crime.
D) O crime de associação ao tráfico exige um concurso de mais de três pessoas, da
mesma forma como ocorre no crime de formação de quadrilha, tratado pelo Código
Penal.
04. ( FGV - 2018 - MPE-RJ - Estágio Forense) Frederico, primário, mas com maus
antecedentes, acorda com grande traficante de Comunidade do Rio de Janeiro, que tinha
conhecido naquele dia, de transportar, uma única vez, 500g de maconha, 30g de cocaína
e 20g de crack para Comunidade localizada em Minas Gerais. Enquanto estava no
interior de uma van com a mala contendo todo aquele material entorpecente, ainda no
estado do Rio de Janeiro, vem a ser abordado por policiais militares, que identificam a
droga. Em sede policial, observadas as formalidades legais, Frederico confessa o
transporte do material, diz que é a primeira vez que adotava aquele tipo de
comportamento, que conhecera o traficante no Rio de Janeiro através de um amigo no
dia dos fatos e esclarece que o material deveria ser entregue para João em Minas Gerais.
Com base nas informações narradas, de acordo com a jurisprudência majoritária dos
Tribunais Superiores, é correto afirmar que:
A) possível o oferecimento de denúncia pelo crime de associação para o tráfico, ainda
que a conduta de Frederico e do traficante em comunhão de ações e desígnios fosse
eventual;
B) possível o reconhecimento do tráfico privilegiado e, consequentemente, a substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos;
C) possível o reconhecimento do tráfico privilegiado, mas não a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos por vedação legal;
D) aplicável a causa de aumento de pena do tráfico interestadual mesmo sem
transposição das fronteiras entre os estados;
E) não é possível o aumento da pena base em razão da quantidade e natureza das
drogas apreendidas.

25
05. ( VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Assinale a alternativa correta
em relação ao quanto previsto na Lei de Drogas:
A) O prazo de conclusão do inquérito policial em caso de indiciado preso por crime de
tráfico de entorpecentes poderá ser duplicado pelo juiz, não podendo, entretanto,
referido prazo exceder a 45 dias.
B) Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito de tráfico de entorpecentes, é suficiente o laudo de constatação
da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pelo
menos duas pessoas idôneas, e o perito que subscrever o laudo não fica impedido de
participar da elaboração do laudo definitivo.
C) O pedido de restituição de bens apreendidos em crime de tráfico de entorpecentes
poderá ser conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz
determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores.
D) O processo e o julgamento dos crimes de tráfico de entorpecentes previstos no art.
33, da Lei n° 11.343/06, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da
Justiça Federal e os crimes praticados nos municípios que não sejam sede de vara federal
serão processados e julgados na vara federal da respectiva circunscrição.

VIDE GABARITO NA PRÓXIMA PÁGINA:

26
GABARITO:
1D
2B
3B
4D
5D

27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CAPEZ, Fernando Curso de direito penal, volume 4 : legislação penal especial /


Fernando Capez. – 14. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019.
NUCCI, Guilherme de Souza Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1º a 120
do Código Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 3. ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2019.
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação especial comentada: volume
único/Renato Brasileiro de Lima – 4.ed. ver. Atual. e ampl. – Salvador:
JusPODIVM.2016.

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