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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 574.131 - RS (2020/0089692-5)

RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO


IMPETRANTE : DAVID LEAL DA SILVA E OUTROS
ADVOGADOS : DAVID LEAL DA SILVA - RS085835
RAÍZA FELTRIN HOFFMEISTER - RS088246
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
PACIENTE : CRISTHOFER NELTON SANTOS GUIMARAES (PRESO)
PACIENTE : FILIPE ALEXANDRE SILVA ARAUJO DE SA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
EMENTA
HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. NULIDADES E PEDIDOS NÃO
APRECIADOS NO TRIBUNAL A QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE DETERMINOU A BUSCA E
APREENSÃO. DEVASSAS NOS SMARTPHONES APREENDIDOS.
INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS E NO APLICATIVO WHATSAPP.
EXISTÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PRÉVIA. AUSÊNCIA DE PROVA
SOBRE A QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA. CONDENAÇÃO QUE NÃO
TEVE POR BASE NENHUMA PROVA ORIUNDA DA DEVASSA NOS
APARELHOS APREENDIDOS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AOS PACIENTES.
HABEAS CORPUS DENEGADO.
1. Dentre as várias matérias apresentadas e os diversos pedidos, somente aqueles
analisados pelo Tribunal estadual devem ser aferidos por esta Corte Superior, sob pena
de indevida supressão de instância. Então, devem ser analisadas as matérias relativas à
interceptação dos dados nos aparelhos smartphones apreendidos, a prévia autorização
judicial, o fundamento dessa autorização, e a alteração da prova produzida pela
interceptação dos dados nos aparelhos apreendidos.
2. A decisão de busca e apreensão tem fundamento válido e apresentou justa causa,
preenchendo os requisitos do art. 14 da Lei 9.296/96, pois nela consta que "a
materialidade do delito restou demonstrada pela ocorrência policial de nº
22481/2018, relatório da autoridade policial com análise das imagens de
videomonitoramento na data e local do fato em suas proximidades, além dos
depoimentos colhidos", e "no caso dos autos os dados colhidos que a prova em
questão não pode ser feita por outros meios disponíveis, posto que os elementos
possíveis de serem colhidos já o foram, sendo que o presente expediente pressupõe
a ocorrência do crime de homicídio punido com pena de reclusão" .
3. Não se verifica a alegada "quebra da cadeia de custódia", pois nenhum elemento veio
aos autos a demonstrar que houve adulteração da prova, alteração na ordem cronológica
dos diálogos ou mesmo interferência de quem quer que seja, a ponto de invalidar a
prova.
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4. Esta Corte Superior entende que "na pressuposição da ordem de apreensão de
aparelho celular ou smartphone está o acesso aos dados que neles estejam
armazenados, sob pena de a busca e apreensão resultar em medida írrita, dado que
o aparelho desprovido de conteúdo simplesmente não ostenta virtualidade de ser
utilizado como prova criminal" (RHC 75.800/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 15/09/2016, DJe 26/09/2016).
5. Nos termos do art. 563 do CPP, a tese de nulidade de ato processual requer
demonstração do efetivo prejuízo, segundo o princípio pas de nullité sans grief, não
demonstrado na espécie, porque a condenação dos pacientes não teve por base
nenhuma informação retirada dos aparelhos celulares dos acusados, mas sim decorreu
da análise fundamentada das câmeras de vigilância, da identificação do veículo utilizado
no assalto, da tatuagem visualizada na mão de um dos assaltantes, na apreensão de
instrumentos do crime, na oitiva inicial de Johann e da testemunha Caroline, e na
admissão, pelos investigados, de que todos estavam na cena do crime.
6. Habeas corpus denegado.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos
votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar o habeas corpus, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Laurita
Vaz, Sebastião Reis Júnior e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 25 de agosto de 2020(Data do Julgamento)

MINISTRO NEFI CORDEIRO


Relator

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HABEAS CORPUS Nº 574.131 - RS (2020/0089692-5)
RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO
IMPETRANTE : DAVID LEAL DA SILVA E OUTROS
ADVOGADOS : DAVID LEAL DA SILVA - RS085835
RAÍZA FELTRIN HOFFMEISTER - RS088246
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
PACIENTE : CRISTHOFER NELTON SANTOS GUIMARAES (PRESO)
PACIENTE : FILIPE ALEXANDRE SILVA ARAUJO DE SA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO NEFI CORDEIRO (Relator):


Trata-se de habeas corpus impetrado em face de acórdão assim ementado (fl.
182-183):
HABEAS CORPUS. ANÁLISE DA ALEGAÇÃO DE NULIDADE DAS
INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS E DE WHATSAPP DETERMINADA
PELO STJ. INOCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE. EXISTÊNCIA DE
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PRÉVIA. AUSÊNCIA DE PROVA ACERCA DA
QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA.
Havendo prévia autorização judicial, não há falar em nulidade das interceptações
telefônicas e de Whatsapp colhidas pela equipe de investigação policial. O fato de os
dados não terem sido coletados por peritos não invalida a prova. Da mesma forma,
não há falar em quebra da cadeia de custódia, alegação que veio desprovida de
qualquer elemento de prova, havendo, ainda, notícias de que o conteúdo das
interceptações telemáticas já foi submetido à perícia, observado o direito ao
contraditório e à ampla defesa. De qualquer sorte, eventual ilegalidade na coleta da
prova não ensejaria a soltura dos pacientes nesta fase, já que estão presos porque
presentes os requisitos da prisão preventiva.
ORDEM DENEGADA.

Consta dos autos que os pacientes foram presos e denunciados pela prática do crime
tipificado no art. 157, § 3º, inciso II, do Código Penal.
O Tribunal estadual, em 18/12/2018, denegou o habeas corpus, deixando de
conhecer a questão relativa à nulidade da prova por entender que não revelada de plano e
ainda por demandar exame aprofundado dos elementos probatórios, o que seria inviável em
sede de habeas corpus.
Foi interposto Recurso no Habeas Corpus n. 108.399 junto a este Tribunal Superior,
que determinou que o Tribunal estadual examinasse a alegada nulidade das provas obtidas sem
autorização prévia e quebra da cadeia de custódia. Então, em nova análise, a Corte estadual
denegou a ordem.
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No presente writ, o impetrante, em uma longa petição com 112 páginas, argumentou
diversas nulidades.
Sustentou uma irregularidade no documento apresentado pelo Ministério Público,
porque foi assinado por estagiário. Apontou o cerceamento de defesa pela negativa de acesso
aos autos do inquérito policial, além da exposição da imagem dos pacientes à "grande mídia"
na fase inquisitória, a fim de localizar um dos pacientes.
Defendeu que houve violação do domicílio dos pacientes, pois foram efetuadas
prisões e buscas antes da ordem judicial ser expedida, além da devassa nos aparelhos de
celular apreendidos antes dessa autorização judicial.
Afirmou que a quebra do sigilo telefônico e a localização das antenas ERBs deu-se
por decisão judicial sem fundamentação idônea que não demonstrou justa causa, e que alguns
dados dos aparelhos foram apagados pela autoridade policial, o que gerou a "quebra da
cadeia de custódia da prova digital", além de não haver individualização das interceptações nos
equipamentos telefônicos e na decisão judicial que autorizou a devassa, e também a ilegalidade
ante o acesso a aparelhos de celular de terceiras pessoas alheias à investigação.
Sustentou que "a prisão de JOHANN ocorreu antes de serem expedidos os
mandados de prisão temporária e de busca e apreensão (despachos fls. 40/41, mandados
fls. 42/44, do processo cautelar de nº 008/2.18.0017487-2) pela 1ª Vara Criminal de
Canoas/RS [...] A prisão de JOHANN ocorreu entre às 07:30 e 10:45, do dia 10/10/2018,
pois o réu teve encerrado e transcrito seu interrogatório na DHPP às 12:00 do dia
10/10/2018, conforme consta em suas declarações de fl. 71 dos autos. O mandado de
busca e apreensão e de prisão temporária foram assinados pela juíza da 1ª Vara
Criminal de Canoas/RS às 14:41, do dia 10/10/2018. Portanto, trata-se de violação de
domicílio e produção de prova ilícita por conta da inexistência de mandados prévios aos
atos policiais". Além de o endereço constante na ordem judicial judicial não ser específico.
Questionou "a lisura das formas de obtenção dos elementos informativos
colhidos no inquérito policial, em especial o modus operandi adotado na realização do
interrogatório de JOHANN e de sua companheira CAROLINE, na DHPP de Canoas/RS".
Afirmou que "houve acesso pelos policiais civis às informações do aparelho de
celular de JOHANN desde o momento da sua prisão, que provavelmente ocorreu entre
7:30 e 10:45 da manhã, do dia 10/10/2018, no Bairro Sarandi, na rua Jackson
Figueiredo, nº 268, em Porto Alegre/RS. Basta ver que a partir das 12:00, na DHPP de
Canoas/RS, JOHANN já tinha sido interrogado, enquanto que os demais policiais que
não participaram do interrogatório realizavam o acesso e a extração de informações do
aparelho; e que "a autorização judicial para acesso às conversas em aparelhos
eletrônicos apreendidos somente foi assinada às 14:47, do dia 10/10/2018. Tais
informações demonstram que o celular foi acessado pelos policiais civis sem autorização

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judicial prévia, específica e fundamentada, o que torna ilícita toda prova decorrente de
tal ato, de acordo com o que preceitua o art. 5º, incisos X e XII, da CF" (fls. 58-59).
O impetrante listou os seguintes fatos para sustentar o cercearam da defesa (fl. 93):
[...]
1. No indeferimento dos pedidos relacionados ao laudo encaminhado pelo IGP
acerca das imagens das câmeras que registraram, no momento do crime, o veículo
Fiat Punto e a pessoa de JOHANN atravessando a rua.
2. No indeferimento do pedido da defesa para realização de laudo por perito
contratado pela defesa nos celulares dos réus a fim de se proceder ao controle da
cadeia de custódia da prova digital.
3. No indeferimento dos pedidos da defesa para que fossem encaminhados os
quesitos ao perito oficial do IGEP que realizou a extração de dados do celular de
JOHANN.
4. No indeferimento do pedido da defesa para que fosse oficiada a Secretaria de
Segurança Pública do Rio Grande do Sul sobre o encaminhamento dos registros de
acesso ao sistema Consultas Integradas nos nomes dos réus pelo período de 03 (três)
meses.
5. No indeferimento para que a DHPP de Canoas/RS fosse oficiada acerca do
resultado da quebra de sigilo telefônico e localização dos aparelhos celulares de
CRISTHOFER e JOHANN pelas antenas ERB’s, e demais medidas solicitadas, que
não foram encaminhadas aos autos.

A autoridade coatora prestou informações.


O Ministério Público apresentou parecer pelo não conhecimento ou denegação do
habeas corpus.
Na origem, processo n. 0042067-67.2018.8.21.0008, foi proferida sentença em
29/5/2020, e no dia 23/6/2020 a defesa foi intimada para apresentar as razões recursais,
conforme informações processuais eletrônicas do site do Tribunal a quo consultadas em
15/7/2020.
É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO NEFI CORDEIRO (Relator):


Como relatado, o impetrante aponta a nulidade da prova obtida por acesso ao
Whatsapp antes da autorização judicial, dentre várias outras nulidades, formulando o extenso
pedido (fls. 112-115):
[...] bem como REQUER:
A) PRELIMINARMENTE, seja declarada a ilicitude dos referidos atos dos policiais
civis da DHPP de Canoas/RS em razão de não existirem mandados de prisão e de
busca e apreensão prévios e específicos, pois sem constar o número do apartamento
de JOHANN, o que seria o mesmo que autorizar genericamente a entrada dos
policiais em qualquer apartamento, tornando-se, por isso, nula a decisão judicial da 1ª
Vara Criminal (juízo de cautelares), ilícitos os atos dos policiais civis e ilícita por
derivação toda prova daí decorrente, a saber: a) apreensão de drogas e objetos
pessoais de JOHANN; b) especificamente a apreensão de aparelho de celular; c) as
declarações de JOHANN e de CAROLINA em sede policial (DHPP); d) o acesso
aos dados de celular de JOHANN; e) a extração de dados de celular de JOHANN;
f) as informações decorrentes do acesso e extração de dados do aparelho de celular
JOHANN, a exemplo do número de telefone de CRISTHOFER, que a partir da
descoberta pelo celular de JOHANN, que levou à localização pelas antenas ERB’s
do celular de CRISTHOFER, sendo que a prova de tal conexão não foi juntada aos
autos (visível estratégia para ocultar informações da defesa); g) reconhecimento por
imagem, em sede policial, dos demais réus, logo após a prisão de JOHANN; h) a
ausência de informações documentadas sobre a atuação da investigação quando os
policiais civis estavam em Santa Catarina, em Florianópolis/SC; e, por fim, i) toda a
instrução probatória por ter sua base viciada por informações obtidas por meios
ilícitos e contrários ao direito, o que implica na necessidade de anular o processo
desde a sua origem;
B) Seja declarada a ilicitude do procedimento adotado pela DHPP em relação à
disponibilização de informações oriundas de inquérito policial, que para localizar os
réus colocou em risco ainda mais grave as suas vidas, merecendo tal ato ser
fulminado pela nulidade e, por conseguinte, a ilicitude da obtenção das informações
desde a divulgação do nome e das imagens de JOHANN.
C) Sejam declaradas ilícitas as provas derivadas das declarações de JOHANN e de
sua companheira CAROLINA em sede policial, pois além da coação ambiental,
JOHANN não apresentou a mesma versão em juízo, e CAROLINA não foi
localizada para confirmar suas declarações;
D) Seja decretada a nulidade do ato de acesso às informações contidas no aparelho
de celular de JOHANN, diante da inexistência de autorização judicial prévia para
tanto, devendo ser reconhecida a ilicitude da prova produzida desde o ato de acesso
ao aparelho, mesmo que não expressamente documentada;
E) Seja decretada a nulidade da decisão que autorizou a extração de dados do celular
de JOHANN, FILIPE e CRISTHOFER, tendo em vista não ter havido justa causa
para a autorização das medidas;
F) Diante da comprovada quebra da cadeia de custódia da prova digital, seja
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decretada a nulidade do inquérito policial, bem como a instrução probatória pela
contaminação da investigação, maculada desde a sua origem por prova ilícita e ilícita
por derivação, nos termos do art. 564, inciso III, e art. 157, §1º, do CPP;
G) Seja decretada da nulidade da decisão que autorizou acesso aos celulares não
pertencentes aos investigados (alheios ao caso penal);
H) Seja declarada a existência de cerceamento de defesa, constatada:1. no
indeferimento dos pedidos relacionados ao laudo encaminhado pelo IGP acerca das
imagens das câmeras que registraram, no momento do crime, o veículo Fiat Punto e
a pessoa de JOHANN atravessando a rua; 2. No indeferimento do pedido da defesa
para realização de laudo por perito contratado pela defesa nos celulares dos réus a
fim de se proceder ao controle da cadeia de custódia da prova digital; 3. No
indeferimento dos pedidos da defesa para que fossem encaminhados os quesitos ao
perito oficial do IGEP que realizou a extração de dados do celular de JOHANN; 4.
No indeferimento do pedido da defesa para que fosse oficiada a Secretaria de
Segurança Pública do Rio Grande do Sul sobre o encaminhamento dos registros de
acesso ao sistema Consultas Integradas nos nomes dos réus pelo período de 03 (três)
meses; 5. No indeferimento para que a DHPP de Canoas/RS fosse oficiada acerca
do resultado da quebra de sigilo telefônico e localização dos aparelho s celulares de
CRISTHOFER e JOHANN pelas antenas ERB’s, e demais medidas solicitadas, que
não foram encaminhadas aos autos.
I) seja declarada a nulidade do feito ante a manifesta afronta à estrutura dialética do
processo e pelos sucessivos indeferimentos de produção de prova pela defesa,
causando inegável prejuízo aos réus pela ofensa ao contraditório e à ampla defesa;
J) A nulidade da denúncia e do despacho que recebeu a denúncia e mandou citar os
réus em regime de exceção, mesmo com diversas medidas pendentes, demonstrando
ter havido incontáveis manobras no processo para prejudicar a defesa e a situação
jurídica dos réus CRISTHOFER e FILIPE;
K) A nulidade do processo e do inquérito por violação ao princípio da presunção de
inocência, que se pode ver no tratamento indevido e na antecipação de culpa em
relação aos réus CRISTHOFER e FILIPE, que tiveram inclusive suas prisões
decretadas e mantidas desde o dia 20/10/2018 até a presente data;

Dentre as várias matérias apresentadas e os diversos pedidos, somente aqueles


analisados pelo Tribunal estadual devem ser aferidos por esta Corte Superior, sob pena de
indevida supressão de instância.
Verifica-se do acórdão de fls. 182-207 que o Tribunal de origem apenas analisou a
alegada nulidade da prova obtida por meio de interceptação telefônica e de Whatsapp,
concluindo que "não há falar em ausência de autorização judicial, seja porque presentes
as decisões autorizadoras da coleta da prova, seja porque tais decisões encontram-se
devida e suficientemente fundamentadas".
Então, devem ser analisadas as matérias relativas à interceptação dos dados nos
aparelhos apreendidos antes da autorização judicial, o fundamento dessa autorização, e a
alteração da prova produzida pela perícia.
Sobre esses temas o Tribunal estadual manifestou-se nos seguintes termos (fls.
182-207):
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[...]
Primeiramente, depreende-se dos autos que a análise preliminar do
conteúdo dos telefones apreendidos foi juntada aos autos em 01/11/2018.
Todavia, contrariamente ao que foi alegado pela defesa técnica, nessa data já
havia sido proferida decisão judicial, em 11/10/2018, autorizando o acesso
aos aparelhos telefônicos utilizados pelo paciente, a fim de que fossem
verificadas conversas de Whatsapp entre os acusados, verbis:
“1. Cuida-se de investigação de crime de homicídio, praticado contra a vítima
Bruno Rodrigues de Souza, soldado da Brigada Militar, ocorrido em 27/09/2018,
nesta Cidade. A autoridade policial representou pela decretação da prisão
temporária de Johann Philippsen Collar, com prisão temporária deferida e
cumprida.
Com a prisão de Johann e em prosseguimento as investigações, a autoridade
policial representou também pela prisão temporária de FILIPE ALEXANDRE
SILVA ARAÚJO DE SÁ, JARDEL HENRIQUE MULLER e CRISTOFER
NELTON SANTOS GUIMARÃES, uma vez que também suspeitos, em tese, da
prática delitiva.
Representou, ainda, pela expedição de mandado de busca e apreensão do
veículo utilizado pelos investigados, bem como acesso a eventuais
aparelhos eletrônicos que estejam na posse dos investigados.
O Ministério Público manifestou-se favoravelmente aos pedidos.
É o breve relato. Decido.
A materialidade do delito restou demonstrada pela ocorrência policial de nº
22481/2018, relatório da autoridade policial, além dos depoimentos de Johann
Philippsen Collar e Caroline Rosado Moraes.
Conforme relatado pela autoridade policial, após cumprido o mandado de
prisão expedido em desfavor do investigado Johann e o mandado de
busca e apreensão na residência do suspeito, restou apreendido o
moletom azul que ele aparece usando nas imagens captadas do dia do
crime, o tênis que calçava e um celular smartphone, marca LG, além de
27 pinos de cocaína e uma porção de maconha, dos quais foi lavrado Auto
de Prisão em Flagrante.
Ao ser interrogado, JOHANN PHILIPPSEN COLLAR confessou ter
participado do crime que vitimou o Policial Militar Bruno Rodrigues de
Souza. Para tanto, narrou que um indivíduo, no qual não sabe o nome, fez contato
com o depoente a fim de lhe convidar para um ¿churrasco¿. Que após
combinarem pelo aplicativo Whatsapp, o indivíduo foi buscá-lo em sua residência,
em um veículo Fiat Punto, cor prata, acompanhado de mais outro homem. Referiu
que os três se dirigiram até esta cidade, a fim de buscar um amigo do motorista
que dirigia o carro. Ao chegarem em Canoas, embarcou no carro o quarto
indivíduo. Relatou que os quatro estavam no carro, quando passaram pela rua
onde ocorreu o crime e avistaram uma oportunidade de roubar o carro da vítima.
Disse que o motorista do Punto dobrou a esquina e então desceram o depoente e
um comparsa. Que ao chegarem próximo do veículo, a vítima estava dispersa,
mexendo no celular e ao ser abordada pelos assaltantes, identificou-se como
Policial. Ato contínuo, seu comparsa disparou contra a vítima, momento em que
saiu correndo. Que seu comparsa ainda tentou arrancar com o carro da vítima,
porém sem sucesso. Afirmou que o crime não foi planejado e não foi levado
nenhum pertence da vítima, somente aproveitaram uma oportunidade. Que não foi
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uma execução e sim uma tentativa de assalto. Referiu que apenas o comparsa
que reside na cidade de Canoas estava armado, com um revólver preto, calibre
.38. Não sabe quantos tiros o comparsa desferiu contra a vítima. Informou que
possui uma tatuagem na mão direita com o desenho de uma caveira. Confirmou
que o moletom e o tênis apreendidos em sua residência são os mesmos que
estava vestindo no dia do crime. Descreveu os comparsas a autoridade policial,
bem como, efetuou o reconhecimento dos representados.
CAROLINE ROSADO MORAES, namorada de Johann, relatou que seu
namorado saiu de casa, a tardinha, dizendo que ia dar uma volta com os guris,
referindo-se aos indivíduos “Sá, Catarina e Cris”. Disse que sentiu que algo de
ruim ia acontecer, pois tais indivíduos são de má índole. Para tanto, narrou que
Johann ao retornar, naquela mesma noite, chegou em casa apavorado, atordoado,
chorando, pois havia cometido um assalto, onde a vítima restou baleada. Referiu
que Johann confessou que no momento da abordagem da vítima, a mesma
afirmou ser policial. Que a vítima chegou a levantar as mãos e Johann foi
revistá-la. Que Johann lhe narrou que assim que a vítima se identificou como
Policial, seu comparsa disparou contra a mesma. Que a vítima ferida por disparos
de arma de fogo, saiu correndo a fim de buscar socorro. Que após atirar contra o
policial, Johann e seu comparsa entraram no carro da vítima, mas não
conseguiram ligar o veículo, então se dirigiram para o veículo que os estava
esperando, ou seja, o Punto cor prata, de propriedade de Cris. Que ouviu do
namorado que o indivíduo que atirou contra a vítima possui o apelido de Catarina.
Ainda referiu, que acredita que participou do crime outro indivíduo de alcunha Sá.
Disse que seu namorado foi influenciado pelos demais indivíduos. Referiu que no
dia seguinte, a depoente e Johann assistiram pela televisão uma reportagem e
viram que as câmeras de segurança captaram o rosto Johann, bem como sua
tatuagem na mão direita. Por fim disse que o moletom apreendido, bem como as
drogas encontradas na residência da depoente são de propriedade de Johann.
Conforme se depreende, o investigado Johann confessou a prática do delito, bem
como apontou os demais investigados, com riqueza de detalhes de como ocorreu a
dinâmica do delito.
Da mesma forma, Caroline, namorada de Johann, que descreveu de forma
coerente os fatos narrados pelo namorado, além de apontar o proprietário do
veículo utilizado para o cometimento do delito.
A finalidade da prisão temporária é a necessidade de que seja evitada a fuga dos
representados e possibilitada a realização das demais diligências necessárias para
a coleta de provas e indícios de autoria.
Outrossim, o pedido de busca e apreensão do veículo utilizado no delito poderá
contribuir significativamente para o esclarecimento dos fatos.
Os elementos de informação analisados acima apontam para a possível
participação dos representados no homicídio praticado contra a vítima. Então,
entende-se que a segregação temporária é indispensável à investigação do caso,
permitindo a tomada de depoimentos livres da influência dos suspeitos, ou a
destruição/obstaculização na obtenção de provas.
Trata-se, em tese, de delito hediondo, no mínimo, em razão da forma de execução,
o que autoriza a prisão temporária pelo prazo de 30 (trinta) dias.
Destaco, por fim, em que pese o narrado pelo investigado Johann, a respeito da
natureza do crime, onde afirma que tratava-se de um assalto, não é descartado
pela autoridade policial a possibilidade de execução, como apontado no relatório
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policial, posto que a vítima foi abordada de inopino, sofrendo os disparos de arma
de fogo, restando necessário os interrogatórios dos representados, para o deslinde
do feito.
Por tais razões, DECRETO a prisão temporária dos representados FILIPE
ALEXANDRE SILVA ARAÚJO DE SÁ ¿ RG 4103613751, JARDEL
HENRIQUE MULLER - RG 5137091798 e CRISTOFER NELTON SANTOS
GUIMARÃES - RG 6093123823, pelo prazo de 30 (trinta) dias, com fundamento
no artigo 1º, incisos I e III, alínea 'a', da Lei 7.960/89 e artigos 1º, I, e 2º, § 4º, da
lei 8.072/90.
Expeçam-se os competentes mandados em caráter restrito, com validade até
26/09/2028, observando-se, por ocasião da execução da medida de prisão, as
demais disposições pertinentes, constantes na Lei nº 7.960/89.
2. Outrossim, DEFIRO autorização para acesso a eventuais aparelhos
eletrônicos utilizados, a fim de serem verificadas conversas travadas
utilizando-se especialmente do aplicativo Whattsapp, registrando-se que
através dessa medida a autoridade policial poderá obter novas
informações para a elucidação do fato.
Necessário frisar, entretanto, presentes nos autos os requisitos previstos
pela Lei 9.296/96, que regulamenta a interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática (art. 1º, parágrafo
único). Assim, consoante o exame acima, tendo em vista os dados
colhidos pela autoridade policial, se verifica no caso dos autos que a prova
em questão não pode ser feita por outros meios disponíveis, posto que os
elementos possíveis de serem colhidos já o foram, sendo que o presente
expediente pressupõe a ocorrência do crime de homicídio, punido com
pena de reclusão (art. 2º, inciso III). Por tais razões, autorizo o acesso aos
aparelhos eletrônicos eventualmente apreendidos, conforme pretendido
pela autoridade policial.
3. Da mesma forma, com relação ao pedido de busca e apreensão do veículo
utilizado pelos investigados, tenho que também merece deferimento. Como já
relatado acima, a namorada de Johann, ao ser ouvida, referiu que o veículo Punto,
cor prata, era de propriedade de “Cris”.
Ao diligenciar as informações de Caroline, a autoridade policial verificou que o
veículo trata-se de um FIAT PUNTO ATRACTIVE, placas EZK6057, registrado
em nome do pai de CRISTOFER, João Nelton Toledo Guimarães. Em contato
com o proprietário do carro, restou informado aos policiais civis que referido
veículo estava na posse de CRIS e que este teria ido para Florianópolis.
Assim sendo, nesta data incluí restrição de circulação junto ao sistema
RENAJUD, conforme comprovante em anexo ao presente despacho. Informe-se
a autoridade policial.
4. Tramitação em segredo de justiça até o cumprimento das medidas.
5. Comunique-se à autoridade policial.
6. Intime-se o Ministério Público. Dil.”

Posteriormente, em 25/10/2018, foi proferida nova decisão autorizando a


quebra do sigilo telefônico dos aparelhos pertencentes a Cristhofer e a
Johann, nos seguintes termos:
“Cuida-se de investigação de crime, em tese, de homicídio, praticado em desfavor
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de Bruno Rodrigues de Souza, ocorrido em 27/09/2018, nesta Cidade.
A autoridade policial representou pela QUEBRA DE SIGILO TELEFÔNICO E
DOS DADOS TELEMÁTICOS dos celulares utilizados pelos suspeitos
CRISTOFER NELTON SANTOS GUIMARÃES e JOHANN PHILIPPSEN
COLLAR. Postulou, ainda, a QUEBRA DOS DADOS CADASTRAIS das
linhas utilizadas pelos suspeitos, quais sejam:
1) 51-99193.4018, utilizado pelo suspeito CRISTOFER NELTON
SANTOS GUIMARÃES; e
2) 51-98472.5173, IMEI 352340-06-908170-5, utilizado por JOHANN
PHILIPPSEN COLLAR.
O Ministério Público manifestou-se favoravelmente à representação.
É o breve relato. Decido.
A materialidade delitiva vem demonstrada, por ora, através da ocorrência nº
22481/2018 e depoimentos colhidos.
A autoridade policial informou que, por ocasião do cumprimento de
mandado de busca e apreensão na residência de um dos suspeitos, qual
seja, JOHANN, foi apreendido um celular marca LG, número
51-98472.5173, IMEI 352340-06-908170-5, com bateria, chip e cartão de
memória.
Outrossim, também no curso das investigações, restou identificado o
número de telefone utilizado por outro suspeito, CRISTOFER, qual seja,
51-99193.4018.
Ouvido, JOHANN PHILIPPSEN COLLAR confessou ter participado do
crime que vitimou o Policial Militar Bruno Rodrigues de Souza. Narrou
que um indivíduo fez contato com o depoente a fim de lhe convidar para
um “churrasco”. Relatou que após combinarem pelo aplicativo Whatsapp,
o indivíduo foi buscá-lo em sua residência, em um veículo Fiat Punto, cor
prata, acompanhado de mais outro homem. Referiu que os três se dirigiram
até esta cidade, a fim de buscar um amigo do motorista que dirigia o carro. Ao
chegarem em Canoas, embarcou no carro o quarto indivíduo. Relatou que os
quatro estavam no carro, quando passaram pela rua onde ocorreu o crime e
avistaram uma oportunidade de roubar o carro da vítima. Registrou que o
motorista do Punto dobrou a esquina e então desceram o depoente e um
comparsa. Alegou que ao chegarem próximo do veículo, a vítima estava dispersa,
mexendo no celular, e, ao ser abordada pelos assaltantes, identificou-se como
Policial. Ato contínuo, seu comparsa disparou contra a vítima, momento em que
saiu correndo. Narrou que seu comparsa ainda tentou arrancar com o carro da
vítima, porém sem sucesso. Afirmou que o crime não foi planejado e não foi
levado nenhum pertence da vítima, somente aproveitaram uma oportunidade.
Asseverou que não foi uma execução e sim uma tentativa de assalto. Referiu que
apenas o comparsa que reside na cidade de Canoas estava armado, com um
revólver preto, calibre .38. Não sabe quantos tiros o comparsa desferiu contra a
vítima. Informou que possui uma tatuagem na mão direita com o desenho de uma
caveira. Confirmou que o moletom e o tênis apreendidos em sua residência são os
mesmos que estava vestindo no dia do crime. Descreveu os comparsas à
autoridade policial, bem como efetuou o reconhecimento dos demais envolvidos na
prática delitiva, quais sejam, FILIPE ALEXANDRE SILVA ARAUJO DE SÁ,
JARDEL HENRIQUE MULLER e CRISTHOFER NELTON SANTOS
GUIMARÃES.
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Superior Tribunal de Justiça
CAROLINE ROSADO MORAES, namorada de Johann, relatou que seu
namorado saiu de casa, à tardinha, alegando que “iria dar uma volta com os
guris”, referindo-se aos indivíduos “Sá, Catarina e Cris”. Sustentou que “sentiu
que algo de ruim ia acontecer, pois tais indivíduos são de má índole”. Narrou que
Johann ao retornar, naquela mesma noite, chegou em casa apavorado, atordoado,
chorando, pois havia cometido um assalto, onde a vítima restou baleada. Referiu
que Johann confessou que no momento da abordagem da vítima, a mesma
afirmou ser policial. Informou a vítima chegou a levantar as mãos e Johann foi
revistá-la. Registrou que Johann lhe narrou que assim que a vítima se identificou
como Policial, seu comparsa disparou contra a mesma e que o ofendido, ferido
por disparos de arma de fogo, saiu correndo a fim de buscar socorro. Declarou
que após atirar contra o policial, Johann e seu comparsa entraram no carro da
vítima, mas não conseguiram ligar o veículo, então se dirigiram para o veículo que
estava esperando por eles, qual seja, o Punto cor prata, de propriedade de Cris.
Narrou que ouviu do namorado que o indivíduo que atirou contra a vítima possui o
apelido de “Catarina”. Ainda, referiu que acredita que participou do crime outro
indivíduo de alcunha “Sá”. Disse que seu namorado foi influenciado pelos demais
indivíduos e que, no dia seguinte, a depoente e Johann assistiram pela televisão
uma reportagem e viram que as câmeras de segurança captaram o rosto de
Johann, bem como sua tatuagem na mão direita. Por fim, afirmou que o moletom
apreendido, bem como as drogas encontradas na residência da depoente, são de
propriedade de Johann.
Nessas condições, é de ser deferida a representação, registrando-se que
através das medidas postuladas a autoridade policial poderá obter novas
informações para a elucidação dos fatos, inclusive para esclarecer se
houve combinação prévia para a prática delitiva, possibilitando delimitar o
trajeto percorrido pelos suspeitos até a prática delitiva.
Por fim, necessário frisar, presentes nos autos os requisitos previstos pela
Lei9.296/96, que regulamenta a interceptação do fluxo de comunicações em
sistemas de informática e telemática (art. 1º,parágrafo único).
Assim, consoante o exame acima, tendo em vista os dados colhidos pela
autoridade policial, se verifica no caso dos autos que a prova em questão não
pode ser feita por outros meios disponíveis, posto que os elementos possíveis de
serem colhidos já o foram (art.2º, inciso II), sendo que o presente expediente
pressupõe a ocorrência do crime de homicídio, punido com pena de reclusão (art.
2º, inciso III).
Destaco, por oportuno, em que pese o narrado pelo investigado Johann a respeito
da natureza do crime, quando afirma que pretendiam roubar o carro da vítima, que
não é descartado pela autoridade policial a possibilidade do fato ter sido uma
execução, como apontado no relatório policial dos outros expedientes que
tramitam nesta Vara acerca do fato, uma vez que a vítima foi abordada de
inopino, sofrendo os disparos de arma de fogo, não havendo notícia de que
qualquer objeto tenha sido subtraído, restando necessária a oitiva de todos os
representados e o cumprimento das medidas ora postuladas para o deslinde do
feito.
Por tais razões, DEFIRO a QUEBRA DE SIGILO TELEFÔNICO E DOS
DADOS TELEMÁTICOS dos celulares 51-99193.4018, utilizado pelo suspeito
CRISTOFER NELTON SANTOS GUIMARÃES; e 51-98472.5173, IMEI
352340-06-908170-5, utilizado por JOHANN PHILIPPSEN COLLAR.
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Defiro, ainda, a QUEBRA DOS DADOS CADASTRAIS, nos termos em que
postulado pela autoridade policial, observando-se o período informado.
O presente tramita em SEGREDO DE JUSTIÇA, com as cautelas de lei.
Fica expressamente vedada a quebra de sigilo de outros números e dados não
discriminados nesta decisão.
Intime-se o Ministério Público.
Comunique-se à autoridade policial.
Dil.”

O fato de a primeira decisão não ter referido especificamente os dados dos


telefones a serem verificados, como o IMEI, por exemplo, não invalida a
prova, que foi obtida de forma lícita e judicialmente autorizada.
De outra banda, vale referir que nova decisão judicial sobreveio em
06/11/2018, autorizando a quebra de senhas e extração de dados dos
aparelhos celulares dos pacientes Cristhofer e Filipe, in verbis:
“Em continuidade a investigação do crime de homicídio, praticado contra
a vítima Bruno Rodrigues de Souza, soldado da Brigada Militar, ocorrido
em 27/09/2018, nesta Cidade, inquérito policial nº 223/2018/100520, a
autoridade Policial postulou a quebra da senha e extração de dados dos
aparelhos celulares pertencentes aos investigados Cristhofer Nelton
Santos Guimarães e Filipe Alexandre Silva Araújo de Sá, apreendidos no
momento de suas prisões.
Com vista, o Ministério Público opinou pelo deferimento da medida.
É o breve relato. Decido.
Tenho que merece prosperar o pedido, com o deferimento da quebra de
senha e extração de dados dos aparelhos celulares de propriedade dos
investigados Cristhofer e Filipe, formulado pela autoridade policial.
A materialidade do delito restou demonstrada pela ocorrência policial de
nº 22481/2018, relatório da autoridade policial, além dos depoimentos de
Johann Philippsen Collar e Caroline Rosado Moraes, já analisados por
esse Juízo em outro procedimento que tramita perante esta Vara.
Como apontado pelo parquet, os indícios de autoria recaem sobre os investigados.
Nessas condições, é de ser deferido o pleito registrando-se que através das
medidas postuladas a autoridade policial poderá obter novas informações para a
elucidação dos fatos.
Por tais razões, com fundamento no artigo 5º, XII, da CF, e na Lei
9.296/96, autorizo a quebra de senha e extração de dados dos aparelhos
celulares: 01 aparelho celular marca LG IMEI A: 359995-08-857269-6 e
IMEI B: 359995-08-857270-4, contendo um chip da operadora claro e um
chip da operadora vivo e um cartão Micro SD2GB; 01 aparelho celular
Motorola Modelo XT1726, IMEI 1: 356523082335275 e IMEI 2:
356523082335283 contendo um chip da operadora claro e um chip da
operadora vivo em um cartão Micro SD16GB; 01 aparelho celular
Motorola Modelo XT1900-6 contendo um chip da operadora claro e um
cartão de memória 16GB e 01 aparelho celular Sansung Glaxy J5
contendo um chip da operadora TIM, pertencentes aos investigados
Cristhofer e Filipe, pela autoridade policial, a fim de que se tente extrair
dados úteis ao esclarecimento do crime em debate, tais como mídias,
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arquivos e comunicações armazenadas o aparelho (SMS, Whatsapp, etc).
O presente tramita em SEGREDO DE JUSTIÇA, com as cautelas de lei.
Intime-se.
Comunique-se.
Dil.”

Assim, não há falar em ausência de autorização judicial, seja porque


presentes as decisões autorizadoras da coleta da prova, seja porque tais
decisões encontram-se devida e suficientemente fundamentadas.
Tampouco verifico ilegalidade da prova por terem os dados preliminares
sido obtidos pela equipe de investigação policial e não por peritos ou por
quebra da cadeia de custódia.
A uma porque os policiais que extraíram e analisaram os dados telemáticos
limitaram-se a uma análise preliminar do seu conteúdo, o qual, segundo as
informações processuais atualizadas, teria sido recentemente analisado por
perito oficial, tendo o laudo já aportado aos autos e sendo observado o
direito ao contraditório e à ampla defesa por meio de vista às partes.
A duas porque nenhuma prova veio aos autos para amparar a alegação de quebra da
cadeia de custódia.
[...]
E nenhum elemento veio aos autos a demonstrar que houve adulteração da
prova, alteração na ordem cronológica dos diálogos ou mesmo interferência
de quem quer que seja, a ponto de invalidar a prova.
Ademais, a perícia já aportou aos autos, como dito alhures, e as partes terão
acesso ao seu conteúdo e oportunidade de manifestar-se, quando, então,
poderão impugnar, mediante elementos sólidos, eventual irregularidade da
prova, o que não se verifica de plano nesta via.
Nesse sentido, destaco julgado do STF:
[...]
Ainda sobre o tema, a jurisprudência desta Corte:
[...]
A evitar desnecessária tautologia, transcrevo parte da decisão de primeiro grau que
analisou a alegação de quebra da cadeia de custódia:
“[...]O houve até a data da impetração do writ foi a mera verificação
preliminar dos conteúdos telemáticos pelos policiais envolvidos na
investigação. Conforme explanado pelo parquet, não se pode confundir a
simples verificação do conteúdo dos celulares pela equipe de investigação
com a realização de prova pericial, muito embora no caso concreto não
consista em verdadeira perícia, pois fornecerá tão somente a extração de
dados existentes no aparelho, por meio de software de computação.
Ademais, a defesa não demonstrou que tenha ocorrido efetivamente a
“quebra de custódia”, visto que, conforme bem apontado pelo Ministério
Público, esta serve tão somente para assegurar que a prova obtida seja a
mesma encaminhada para perícia. Outrossim, quando da vinda de
eventuais extratos, perícias, mídias etc, as partes terão amplo acesso, posto
que estarão devidamente documentadas nos autos. Por fim, é de se frisar, a
defesa não apontou de modo expresso qual parcela da prova entenda tenha

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Superior Tribunal de Justiça
restado prejudicada pela análise realizada pelos policiais, posto que - a
princípio - preservada a integridade dos elementos de prova apreendidos e
contidos nos aparelhos examinados.[...]”

Assim, não verifico, por ora, qualquer irregularidade quanto ao fato de o conteúdo ter
sido extraído e previamente analisado por policiais e, tampouco, pela indigitada
quebra da cadeia de custódia, que sequer veio comprovada nos autos.
De qualquer sorte, eventual ilegalidade na coleta da prova, o que repito não verifico,
não ensejaria a soltura dos pacientes nesta fase, já que estão presos porque
presentes os requisitos da prisão preventiva.
Por fim, quanto às inovações trazidas na petição de complementação do habeas
corpus, protocolada em 18/06/2019, inviável o seu conhecimento, seja porque não
deduzidas na petição inicial do writ, seja porque se trata de prosseguimento do
julgamento de matéria restrita, seja porque não se tem conhecimento de que foram
objeto de análise pelo Juízo de origem, o que poderia acarretar supressão de
instância.

Sobre a apreensão dos aparelhos telefônicos e a autorização judicial para esse ato, o
Tribunal estadual entendeu que a análise preliminar do conteúdo dos telefones apreendidos foi
juntada aos autos em 1/11/2018, e, contrariamente ao que foi alegado pela defesa técnica,
nessa data já havia sido proferida decisão judicial, em 11/10/2018, autorizando o acesso aos
aparelhos telefônicos utilizados pelo paciente, a fim de que fossem verificadas conversas de
Whatsapp.
Verifica-se dos autos que não houve busca e apreensão dos telefones e devassas
nesses aparelhos sem a devida autorização judicial, pois foram transcritas no acórdão as
decisões de autorização da apreensão dos aparelhos telefônicos, assim como a autorização
para a devassa do conteúdo desses, e encontram-se devida e suficientemente fundamentadas
essas decisões.
Conforme consta no acórdão do Tribunal estadual, "os policiais que extraíram e
analisaram os dados telemáticos limitaram-se a uma análise preliminar do seu conteúdo,
o qual, segundo as informações processuais atualizadas, teria sido recentemente
analisado por perito oficial, tendo o laudo já aportado aos autos e sendo observado o
direito ao contraditório e à ampla defesa por meio de vista às partes".
Não se verifica, portanto, a alegada "quebra da cadeia de custódia", pois "nenhum
elemento veio aos autos a demonstrar que houve adulteração da prova, alteração na
ordem cronológica dos diálogos ou mesmo interferência de quem quer que seja, a ponto
de invalidar a prova".
Consta no acórdão transcrição da decisão do Juiz de primeiro grau, em que se
ressaltou que "houve até a data da impetração do writ foi a mera verificação preliminar
dos conteúdos telemáticos pelos policiais envolvidos na investigação. Conforme

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Superior Tribunal de Justiça
explanado pelo parquet, não se pode confundir a simples verificação do conteúdo dos
celulares pela equipe de investigação com a realização de prova pericial, muito embora
no caso concreto não consista em verdadeira perícia, pois fornecerá tão somente a
extração de dados existentes no aparelho, por meio de software de computação.
Ademais, a defesa não demonstrou que tenha ocorrido efetivamente a “quebra de
custódia”, visto que, conforme bem apontado pelo Ministério Público, esta serve tão
somente para assegurar que a prova obtida seja a mesma encaminhada para perícia.
Outrossim, quando da vinda de eventuais extratos, perícias, mídias etc, as partes terão
amplo acesso, posto que estarão devidamente documentadas nos autos. Por fim, é de se
frisar, a defesa não apontou de modo expresso qual parcela da prova entenda tenha
restado prejudicada pela análise realizada pelos policiais, posto que - a princípio -
preservada a integridade dos elementos de prova apreendidos e contidos nos aparelhos
examinados".
Verifica-se que a perícia foi devidamente juntada aos autos, e as partes tiveram
acesso ao seu conteúdo e manifestaram-se sobre ele.
No curso deste habeas corpus, foi proferida sentença no dia 29/5/2020, em que não
se utilizou nenhuma prova proveniente das devassas nos aparelhos de celular apreendidos,
ressaltando-se que já haviam elementos probatórios de materialidade e autoria suficiente.
Consta que:
[...]
No dia 10 de outubro de 2018 foi decretada a prisão temporária do réu
Johann pela Magistrada da 1ª Vara Criminal, assim como determinada a
expedição de MBA para a sua residência e autorização para acesso a
celulares que porventura fossem apreendidos (fls. 40-41 do expediente
nº008/2.18.0017487-2), a qual foi cumprida na mesma data (fl. 70)
No dia 11 de outubro de 2018 foram decretadas, também pela Magistrada da
1ª Vara Criminal, as prisões temporárias de Filipe, Jardel Henrique e
Cristofer, assim como autorizado o manuseio dos aparelhos de telefone
celular que porventura fossem apreendidos em poder destes indivíduos (fls.
21-23 do expediente anexo nº 008/2.18.0017588-7).
[...]
E durante as buscas efetuadas na casa de Johann, além de os policiais civis
terem apreendido as roupas utilizadas por ele no momento do crime,
apreenderam também cerca de 27 pinos de cocaína, sendo este preso em
flagrante delito, motivo pelo qual foi conduzido à Delegacia na condição de
flagrado, assim como a sua companheira, que estava em casa no momento,
na condição de testemunha.
[...]
Em que pese a persistência defensiva em debater pontos formais e legais
atinentes à obtenção do conteúdo de ditos aparelhos, constata-se, a partir da
detalhada análise cronológica da investigação, que os elementos que
levaram à autoria imputada a cada um dos investigados não decorrem, em
nenhum aspecto, de algo retirado dos celulares apreendidos.
Documento: 1975225 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/09/2020 Página 16 de 4
Superior Tribunal de Justiça
A este respeito, cumpre mencionar que do celular de Johann a autoridade
policial até mesmo tinha esperança de obter algo que auxiliasse nas
investigações, mas o resultado foi completamente negativo neste sentido e
aportou, diga-se, quando já havia sido coletada substancialmente a prova.
Dos celulares de Cristhofer e Filipe foram extraídos alguns diálogos travados em
data bem posterior à prática delitiva.
Pois bem. Constata-se que toda a construção da acusação, desde o
nascedouro, passa ao largo de alguma informação retirada do celular dos
acusados, mas sim decorre da análise muito bem realizada, como se verá,
das câmeras de vigilância, da identificação do veículo utilizado no assalto, da
tatuagem visualizada na mão de um dos assaltantes, na apreensão de
instrumentos do crime, na oitiva inicial de Johann e da testemunha Caroline,
e na admissão, pelos investigados, de que todos estavam na cena do crime.
Prova disso é que a autoridade policial, ao concluir as investigações (fls.164/167), em
nenhum momento utiliza o conteúdo extraído dos celulares de Cristhofer e Filipe para
fundamentar suas conclusões (embora a análise preliminar já houvesse descortinado
os diálogos e mensagens que instruem os autos – fls. 153/162), referindo que as
declarações prestadas pelos investigados não encontram amparo nos elementos
indiciários de prova, mormente pelas contradições apresentadas quanto ao ânimo
criminoso e versões conflitantes (…) as imagens captadas pelas câmeras de
videomonitoramento analisadas em conjunto com as provas carreadas são
corroboradas pelas declarações do investigado Johann, primeiro interrogado, que
afirmou tratar de um assalto.
A denúncia, de igual modo, nada menciona acerca dos diálogos obtidos pela
quebra de sigilo dos aparelhos de Filipe e Cristhofer, que já estavam nos
autos.
[...]
Em relação a Cristhofer e Filipe, basta dizer que quando apreendidos os celulares
cuja propriedade lhes é atribuída, já havia inclusive mandado de prisão e de busca e
quebra de sigilo dos aparelhos e veículo porventura em sua posse, de modo que não
se sustenta, por si, a insistente afirmação defensiva de que a indicação destes como
autores do crime partiu de algum aparelho, devendo ser ressaltado que quando da
oitiva de Johann e Caroline, após buscas em redes sociais e Consultas Integradas, os
quatro denunciados restaram reconhecidos fotograficamente, o que adiante será
minuciosamente enfrentado.
Sobre isso, ao contrário do que afirma a defesa, não há evidência nos autos
que os policiais chegaram à localização de Cristhofer por meio das ERBS, e
muito menos através de contato obtido pelo celular de Johann, mas sim por
informação lhes dada pelo pai de Cristhofer quando telefonaram para a sua
casa logo após Johann ter referido que o Punto (carro utilizado no crime)
pertencia “ao pai do Cris”. Consta que policiais civis entraram em contato
com o proprietário do carro, tendo este informado que o veículo estava na
posse do seu filho “Cris” e que este teria ido para Florianópolis
(representação fls. 94-96).
[...]
No tocante à argumentação de que a posterior localização dos suspeitos tenha se
dado a partir de ERBs, esta cai por terra, completamente, quando se constata que a
prisão dos réus Cristhofer e Filipe retornando de Florianópolis deu-se antes do
deferimento da quebra de sigilo telefônico e de dados telemáticos do celular do
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primeiro (O pedido foi protocolizado no dia 19 de outubro de 2018 e deferido pela
juíza no dia 25 de outubro de 2018, às 14h02min -fls. 03-4 e 19-29 do expediente
cautelar nº 008/2.18.0018247-6). Os réus foram presos dia 20/10/18, quando
certamente nem seria possível que já houvesse sido implementada a diligência
requerida na véspera e ainda nem deferida.
Ademais, a localização dos investigados, de qualquer sorte, tratar-se-ia de evento
dissociado dos elementos da autoria, já que neste momento já haviam sido
reconhecidos, já havia sido identificado o veículo, bem como Johann e Caroline já
haviam sido ouvidos, havendo inclusive prisão decretada em seu desfavor. A
localização posterior de investigados, é bom dizer, guarda relação apenas com o ato
da efetivação da prisão, não tendo qualquer impacto em conclusões acerca da
autoria ou do mérito na presente demanda.
As versões dos réus em juízo, especialmente as de Cristhofer e Filipe,
igualmente rechaçam qualquer tese de que a identidade dos envolvidos
tenha partido de algum celular, de onde se afigura absolutamente
desnecessária a discussão mais que reiterada, por inciativa da defesa destes,
a respeito de suposta quebra de custódia dos celulares, de manipulação pela
autoridade policial acerca de conteúdo dos aparelhos, cogitando-se até de
exclusão de provas que inocentariam os réus.
Ademais, destaca-se, como já destacado por este juízo, que o celular de Johann não
constitui prova de algo nestes autos, nada tendo sido encontrado que interessasse ao
deslinde do feito.
A defesa, ciente desta circunstância, passa a ponderar de modo genérico que algo
relevante pode ter sido excluído ou manipulado, sem apontar o que seria, quais os
interlocutores, qual o conteúdo do diálogo, qual a data da conversa, qual o arquivo
específico deletado, algo que denotasse a efetiva probabilidade de alcance de prova
relevante.
A questão, diga-se, está totalmente superada diante da análise agora aprofundada,
exauriente, de todo o escorço probatório, devendo ser destacado que nada se apurou
que pudesse lançar mínima dúvida a respeito da conduta policial na coleta e extração
da prova.
A este respeito, destaca-se que a quebra do sigilo dos aparelhos
apreendidos foi providência requerida pela própria autoridade policial, de
onde se afiguraria totalmente incongruente o pedido de perícia e
recuperação de dados excluídos, caso ela mesma, a polícia, houvesse
manipulado os aparelhos maliciosamente, excluindo provas relevantes.
Como se vê, o contexto em que estão inseridas as quebras de sigilo afastam por
completo uma atuação maliciosa pela autoridade policial, o que é repetidamente
cogitado pela defesa de Cristhofer e Filipe.
Portanto, não há falar em ilicitude da prova, em contaminação, em derivação, pois a
autoria emerge nestes autos cristalina, quanto aos quatro réus, sem a necessidade de
sequer mencionar qualquer dado telefônico entre os envolvidos.
Os únicos diálogos obtidos pela quebra de sigilo são aqueles retirados dos celulares
de Crishofer e Filipe, os quais não são negados por estes em seus interrogatórios.
[...]
Em razão disso, em atenção às inúmeras irresignações defensivas
impugnando as informações obtidas a partir da apreensão dos celulares, este
juízo deixa de utilizá-las nesta sentença, visando a evitar a discussão sobre o
tema, a qual se afigura irrelevante.
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[...]
Registro que apenas com a análise aprofundada de todo o conjunto
probatório foi possível concluir pela dispensabilidade total dos dados
extraídos dos celulares apreendidos (de Cristhofer e Filipe, pois de Johann
nada foi localizado), afigurando-se de todo recomendável a não-utilização da
prova controvertida como elemento de convencimento deste juízo acerca da
autoria e dolo, pois efetivamente não o é.
[...]
O acusado Johann Phillippsen Collar em apertada síntese, afirmou que
concordou em participar de um assalto junto com Jardel, mas que não aderiu à ideia
de atirar na vítima. Na mesma linha de Jardel, Johann excluiu totalmente a
participação de Cristhofer e Filipe na prática delitiva.
[...]
Acerca da dinâmica do crime, câmeras de segurança flagraram dois indivíduos
desembarcando de um veículo Punto, de cor prata, deslocando-se pela Avenida
Santos Ferreira, onde abordaram um IX-35 – ação que não foi flagrada por nenhuma
câmera de segurança - , logo ocorrendo os disparos de arma de fogo.
Os dois indivíduos aparecem ingressando no veículo IX 35, tentando dar arranque no
automóvel (eis que as luzes de freio são acionadas, o que é possível de visualizar
pelas imagens), no entanto, após não terem obtido sucesso, os dois indivíduos saem
correndo e embarcaram novamente no veículo Punto, de cor prata, e retiram-se do
local do crime.
O delito ocorreu no dia 27 de setembro de 2018, às 22h35min.
As imagens do crime foram amplamente divulgadas na mídia, nas quais é possível a
visualização parcial dos dois indivíduos que efetuaram a abordagem ao veículo IX-35,
em especial uma tatuagem de felino que um deles ostentava na mão direita.
E, no dia 09/10/2018, por volta das 16h, chegou ao conhecimento da equipe de
investigação, por meio de denúncia anônima, que um dos indivíduos que aparecia na
filmagem tratava-se de Johann Philippsen Collar, o qual residiria na Rua Jackson
Figueiredo, nº 268, Bairro Sarandi, em Porto Alegre.
A denúncia ainda informava que o referido indivíduo estava prestes a empreender
fuga na companhia da namorada.
E a Autoridade Policial, analisando as imagens obtidas por meio das câmeras
de monitoramento, em comparação com as imagens de Johann constantes no
sistema Consultas Integradas, constatou, de fato, inúmeras semelhanças. O
sistema havia sido atualizado no ano de 2016 e, até esta data, não havia
registros de felino nas mãos de Johann, sendo constatadas, no entanto,
outras semelhanças físicas entre o suspeito e o indivíduo que aparecia na
filmagem.
Diante disso, no dia 09 de outubro de 2018, a Autoridade Policial
representou pela prisão temporária de Johann Philippsen Collar, bem como
pela expedição de MBA para a sua residência (Rua Jackson Figueiredo, nº
268, Bairro Sarandi, em Porto Alegre), assim como pela autorização para
acesso ao conteúdo de telefones celulares que porventura fossem
apreendidos na diligência, o que foi deferido pela Juíza da 1ª Vara Criminal
no dia 10 de outubro de 2018, sendo o documento assinado pela magistrada
às 14:41:20.
Em vista das informações recebidas, no dia 11 de outubro de 2018, já pela
manhã, policiais civis foram até o local indicado como sendo a residência de
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Johann (o prédio) e lá permaneceram acampanando. Em dado momento
Johann chegou ao local, sendo abordado pelos policiais na via pública.
Johann, desde o início, confirmou aos policiais a sua participação no delito que
culminou na morte do policial Bruno.
Os agentes públicos indagaram ao suspeito sobre a existência de arma de
fogo em sua residência, tendo este respondido que não guardava nenhum
artefato. Questionado pelos policiais se poderiam ingressar no apartamento
e revistar o local, Johann permitiu que a revista fosse efetuada (veja-se que
Johann, em juízo, confirmou que franqueou a entrada dos policiais na sua
residência), ocasião na qual os policiais civis lograram êxito em encontrar 27
pinos de cocaína e uma porção de maconha, efetuando a sua prisão em
flagrante.
Durante revista ao imóvel, os policiais apreenderam, ainda, um par de tênis,
Nike de cor azul, e um moletom, também azul, ambos utilizados no dia do
crime. Ainda, o celular de Johann foi apreendido, conforme auto de
apreensão da fl. 92 (marca LG, número (51) 98472.5173, IMEI
352340-06-908170-5).
O flagrante referente ao crime de tráfico de drogas tramitou na Comarca de Porto
Alegre, sendo Johann condenado por esta prática delitiva no dia 24/07/2019
(processo nº 008/2.18.0089953-8).
Johann, ouvido na fase policial, cientificado de seus direitos constitucionais, dispensou
a presença de advogado. Na oportunidade, como se vê à fl. 71, Johann admitiu ter
participado de um assalto com mais três indivíduos, optando inicialmente, contudo,
por não revelar a identidade dos demais. Vejamos:
[...]
Ante as novas informações aportadas, a Autoridade Policial, ainda no dia 10
de outubro de 2018, representou pela prisão temporária dos Cristhofer,
Jardel e Filipe, bem como solicitou autorização para acesso aos celulares
que porventura estivessem na posse dos investigados. Na mesma ocasião o
Delegado de Polícia requereu, ainda, a busca e apreensão do veículo
utilizado no crime (Fiat Punto Atractive, placas EZK6057), eis que, por meio
do relato de Caroline, foi possível chegar-se ao proprietário do veículo, que
era o pai do investigado Cristhofer. Ainda, antes da representação, policiais
civis entraram em contato com o proprietário do carro, tendo este informado
que o veículo estava na posse do seu filho “Cris” e que este teria ido para
Florianópolis (representação fls. 94-96).
A representação foi protocolizada no dia 11 de outubro de 2018, às 12:05, e
foi deferida pelo juízo da 1ª Vara Criminal, na mesma data, às 17:27 (fls.
98-99).
No dia 18 de outubro de 2018 a Autoridade Policial requereu a quebra do
sigilo telefônico e dos dados telemáticos do celular de Johann (marca LG,
número (51) 98472.5173, IMEI 352340-06-908170-5, bem como requereu a
quebra do sigilo telefônico e dos dados telemáticos do celular de Cristhofer,
já que no decorrer das investigações o seu número restou identificado, qual
seja, (51) 99193.4018. O pedido foi protocolizado no dia 19 de outubro de
2018 e deferido pela juíza no dia 25 de outubro de 2018, às 14h02min (fls.
03-4 e 19-29 do expediente cautelar nº 008/2.18.0018247-6).
Ainda na mesma data a Autoridade Policial requereu autorização para enviar o
aparelho celular de Johann (marca LG, número (51) 98472.5173, IMEI
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352340-06-908170-5, para o IGP, a fim de fosse procedida a recuperação integral
dos dados contidos no aparelho (fl. 93), o que foi deferido pela Juíza da 1ª Vara
Criminal, sendo expedido alvará de autorização para a retirada dos aparelhos no dia
29/10/2018, às 17:18 (fl. 134). (TJRS. 2ª Vara Criminal da Comarca de Canoas.
Processo n. 0042067-67.2018.8.21.0008. Fonte:
<https://www.tjrs.jus.br/buscas/proc.html?tb=proc> Acesso em 15 jul 2020)

Pelo que consta na sentença, a Autoridade Policial, analisando as imagens obtidas por
meio das câmeras de monitoramento, em comparação com as imagens do paciente Johann
constantes no sistema Consultas Integradas, constatou, de fato, inúmeras semelhanças.
Destacou-se ainda na sentença que no dia 9/10/2018, a Autoridade Policial
representou pela prisão temporária de Johann, bem como pela expedição de mandado de
busca e apreensão para a sua residência (Rua Jackson Figueiredo, nº 268, Bairro Sarandi, em
Porto Alegre), assim como pela autorização para acesso ao conteúdo de telefones celulares
que porventura fossem apreendidos na diligência, o que foi deferido pela Juíza da 1ª Vara
Criminal no dia 10/10/2018, nos seguintes termos (fls. 362-364):
Cuida-se de investigação de crime de homicídio, praticado contra a vítima Bruno
Rodrigues de Souza, soldado da Brigada Militar, ocorrido em 27/09/2018, nesta
Cidade.
A autoridade policial representou pela decretação da prisão temporária de JOHANN
PHILIPPSEN COLLAR, uma vez que suspeito, em tese, da prática delitiva.
Representou, ainda, pela expedição de mandado de busca e apreensão para o
endereço do investigado, com a finalidade de buscar e apreender as armas de fogo
utilizadas no crime, as vestes que o suspeito usava, bem como aparelhos eletrônicos
utilizados e outros objetos relacionados ao delito.
O Ministério Público manifestou-se favoravelmente aos pedidos.
É o breve relato. Decido.
A materialidade do delito restou demonstrada pela ocorrência policial de nº
22481/2018, relatório da autoridade policial com análise das imagens de
videomonitoramento na data e local do fato em suas proximidades, além dos
depoimentos colhidos.
Conforme relatado pela autoridade policial, na data do fato a vítima se encontrava no
interior de seu automóvel, estacionado no recuo da calçada em frente a uma loja de
tintas, quando foi surpreendida por dois indivíduos portando armas de fogo, sendo por
eles atingida. Após ser alvejada, a vítima correu até um posto de gasolina próximo ao
local dos fatos, onde foi socorrida e levada ao HPSC.
A autoridade policial analisou as câmeras de videomonitoramento existentes
nos comércios ao redor do local dos fatos, visualizando que um veículo
Fiat/Punto dava apoio à ação criminosa, levando os autores ao local do crime.
Dois indivíduos desembarcaram do veículo em direção ao automóvel da
vítima, estacionado com uma das portas aberta vislumbrando-se que após a
vítima ser atingida um dos suspeitos ingressou no carro dela, fechou a porta
e tentou sair com o mesmo, sem êxito, empreendendo fuga com o comparsa.

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Ainda, foi apurado que os dois indivíduos que efetuaram os disparos contra a vítima
foram transportados ao loca em um veículo Fiat/Punto, cor prata, que ficou
aguardando em uma rua próxima o desenrolar da ação criminosa, prestando apoio
para a fuga.
Através de denúncia anônima, em 09/10/2018, a autoridade policial recebeu a
informação de que um dos autores o delito é o ora representado JOHAN
PHILIPPSEN COLLAR.
Em análise às câmeras de videomonitoramento, a autoridade policial observou que
um dos autores do delito possui uma tatuagem com a aparência de um felino na mão
direita, trajando um casaco azul, de pele branca e estatura por volta de 1,75m. Junto
ao sistema Consultas Integradas, o representado JOHAN PHILIPPSEN COLLAR
veste um casaco azul, semelhante ao utilizado por um dos autores do delito, possui
corte de cabelo e fisionomia semelhantes. Em 23/8/2016, quando recolhido ao
sistema prisional, o representado não possuía tatuagens na mão, entretanto uma delas
são "pegadas de gato" no tronco/frente.
Outrossim, a autoridade policial informou que, na data de ontem, o denunciante
noticiou que o representado pretende fugir do local onde se encontra, na companhia
de sua namorada, em razão da repercussão do caso em tela, uma vez que foram
mostradas no meio televisivo imagens do crime e da tatuagem do suspeito, com a
finalidade de identificação dos autores do delito.
No relatório da autoridade policial consta a oitiva da esposa da vítima, GILIELI DA
ROSA DE OLIVEIRA, que referiu desconhecer a rotina de trabalho do ofendido,
pois ele pouco falava. Não soube esclarecer o que a vítima fazia no local do fato e
referiu que em outubro de 2017 Bruno recebeu ameaça de dois indivíduos.
[...]
Necessário frisar, entretanto, presentes nos autos os requisitos previstos
pela Lei 9.296/96, que regulamenta a interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática (art. 14, parágrafo
único). Assim, consoante o exame acima, tendo em vista pela autoridade
policial, se verifica no caso dos autos os dados colhidos que a prova em
questão não pode ser feita por outros meios disponíveis, posto que os
elementos possíveis de serem colhidos já o foram, sendo que o presente
expediente pressupõe a ocorrência do crime de homicídio punido com pena
de reclusão (art. 2, inciso III).

Como se vê, a decisão de busca e apreensão tem fundamento válido e apresentou


justa causa, preenchendo os requisitos do art. 14 da Lei 9.296/96, pois nela consta que "a
materialidade do delito restou demonstrada pela ocorrência policial de nº 22481/2018,
relatório da autoridade policial com análise das imagens de videomonitoramento na
data e local do fato em suas proximidades, além dos depoimentos colhidos", e "no caso
dos autos os dados colhidos que a prova em questão não pode ser feita por outros meios
disponíveis, posto que os elementos possíveis de serem colhidos já o foram, sendo que o
presente expediente pressupõe a ocorrência do crime de homicídio punido com pena de
reclusão".
Consta dos autos que 11/10/2018, isto é, no dia seguinte à decisão judicial, já pela

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manhã, policiais civis foram até o local indicado como sendo a residência de Johann e lá
permaneceram acampanando. Em dado momento Johann chegou ao local, sendo abordado
pelos policiais na via pública.
Consta na sentença que o paciente "Johann permitiu que a revista fosse efetuada
(veja-se que Johann, em juízo, confirmou que franqueou a entrada dos policiais na sua
residência), ocasião na qual os policiais civis lograram êxito em encontrar 27 pinos de
cocaína e uma porção de maconha, efetuando a sua prisão em flagrante". Destacou-se
ainda que "durante revista ao imóvel, os policiais apreenderam, ainda, um par de tênis,
Nike de cor azul, e um moletom, também azul, ambos utilizados no dia do crime. Ainda,
o celular de Johann foi apreendido, conforme auto de apreensão da fl. 92 (marca LG,
número (51) 98472.5173, IMEI 352340-06-908170-5)".
Após as buscas realizadas, consta na sentença que a autoridade policial também
representou pela prisão temporária dos Cristhofer, Jardel e Filipe, bem como solicitou
autorização para acesso aos celulares que porventura estivessem na posse dos investigados.
Na mesma ocasião o Delegado de Polícia requereu, ainda, a busca e apreensão do veículo
utilizado no crime (Fiat Punto Atractive, placas EZK6057), eis que, por meio do relato de
Caroline, foi possível chegar-se ao proprietário do veículo, que era o pai do investigado
Cristhofer.
A representação foi protocolizada no dia 11/10/2018, e foi deferida pelo Juízo da 1ª
Vara Criminal, na mesma data.
No dia 18/10/2018 a autoridade policial requereu a quebra do sigilo telefônico e dos
dados telemáticos do celular de Johann (marca LG, número (51) 98472.5173, IMEI
352340-06-908170-5, bem como requereu a quebra do sigilo telefônico e dos dados
telemáticos do celular de Cristhofer, já que no decorrer das investigações o seu número restou
identificado, qual seja, (51) 99193.4018. O pedido foi protocolizado no dia 19/10/2018 e
deferido pela Juíza no dia 25/10/2018.
Então, não há nenhuma ilegalidade na prova produzida, havendo ordem judicial
prévia, com a devida fundamentação, não sendo comprovada a quebra de custódia da
devassa realizada nos aparelhos telefônicos.
Ademais, o Juiz de primeiro grau, ao sentenciar o processo, ressaltou que "a partir
da detalhada análise cronológica da investigação, que os elementos que levaram à
autoria imputada a cada um dos investigados não decorrem, em nenhum aspecto, de
algo retirado dos celulares apreendidos".
Destacou ainda que "do celular de Johann a autoridade policial até mesmo tinha
esperança de obter algo que auxiliasse nas investigações, mas o resultado foi
completamente negativo neste sentido e aportou, diga-se, quando já havia sido coletada
substancialmente a prova". Já em relação aos celulares de Cristhofer e Filipe afirmou que

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"foram extraídos alguns diálogos travados em data bem posterior à prática delitiva".
Verifica-se que a condenação dos pacientes não teve por base nenhuma informação
retirada dos aparelhos celulares dos acusados, mas sim decorreu da análise fundamentada das
câmeras de vigilância, da identificação do veículo utilizado no assalto, da tatuagem visualizada
na mão de um dos assaltantes, na apreensão de instrumentos do crime, na oitiva inicial de
Johann e da testemunha Caroline, e na admissão, pelos investigados, de que todos estavam na
cena do crime.
Além da inexistência de interceptação telemática ou telefônica ilegal, não foi
demonstrado nenhum prejuízo à defesa em relação à colheita de provas impugnada, pois,
como destacado em sentença, "as versões dos réus em juízo, especialmente as de
Cristhofer e Filipe, igualmente rechaçam qualquer tese de que a identidade dos
envolvidos tenha partido de algum celular, de onde se afigura absolutamente
desnecessária a discussão mais que reiterada, por inciativa da defesa destes, a respeito
de suposta quebra de custódia dos celulares, de manipulação pela autoridade policial
acerca de conteúdo dos aparelhos, cogitando-se até de exclusão de provas que
inocentariam os réus".
Esta Corte Superior entende que, nos termos do art. 563 do CPP, a tese de
nulidade de ato processual requer demonstração do efetivo prejuízo, segundo o princípio
pas de nullité sans grief, não demonstrado na espécie.
Ademais, sobre a devassa dos dados armazenados no aplicativo Whatsapp, e o
descarte dos dados irrelevantes para o processo, ressalta-se a julgado da Quinta Turma deste
Tribunal Superior, no Recurso em Habeas Corpus 75.800/PR, em que se diferenciou a
interceptação de "comunicação de dados" e o acesso aos "dados" já armazenados em algum
dispositivo eletrônico, ressaltando que "o acesso ao conteúdo armazenado em telefone
celular ou smartphone, quando determinada judicialmente a busca e apreensão destes
aparelhos, não ofende o art. 5º, inciso XII, da Constituição da República, porquanto o
sigilo a que se refere o aludido preceito constitucional é em relação à interceptação
telefônica ou telemática propriamente dita, ou seja, é da comunicação de dados, e não
dos dados em si mesmos".
Consta ainda nessa decisão que "na pressuposição da ordem de apreensão de
aparelho celular ou smartphone está o acesso aos dados que neles estejam armazenados,
sob pena de a busca e apreensão resultar em medida írrita, dado que o aparelho
desprovido de conteúdo simplesmente não ostenta virtualidade de ser utilizado como
prova criminal" (RHC 75.800/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 15/09/2016, DJe 26/09/2016).
Ante o exposto, voto por denegar o habeas corpus.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2020/0089692-5 PROCESSO ELETRÔNICO HC 574.131 / RS


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00384812220198210008 00420676720188210008 00698299720198217000


00700707120198217000 00821800175887 02066492620198217000
03656508120188217000 03662059820188217000 2066492620198217000
3656508120188217000 3662059820188217000 384812220198210008
420676720188210008 698299720198217000 700707120198217000 70080004385
7008009939 70080979206 70080981616 70082347402 821800175887

EM MESA JULGADO: 25/08/2020

Relator
Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LUIZA CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DAVID LEAL DA SILVA E OUTROS
ADVOGADOS : DAVID LEAL DA SILVA - RS085835
RAÍZA FELTRIN HOFFMEISTER - RS088246
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PACIENTE : CRISTHOFER NELTON SANTOS GUIMARAES (PRESO)
PACIENTE : FILIPE ALEXANDRE SILVA ARAUJO DE SA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Latrocínio

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, denegou o habeas corpus, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior e
Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.

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