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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Valparaíso de Goiás - 2ª Vara Criminal

Natureza: PROCESSO CRIMINAL -> Procedimentos Investigatórios -> Inquérito Policial

Autos 5283559-21.2021.8.09.0162

DECISÃO

Trata-se de requerimento formulado pela Autoridade Policial atuante na 1ª Delegacia de


Polícia de Valparaíso-GO, em que representou pelo afastamento do sigilo de dados telefônicos do
celular de Luis Vinicius Santos da Costa, com o escopo de apurar possível ocorrência dos delitos
de tráfico de drogas e associação criminosa.

A representação noticia, em síntese, que o celular do investigado, provável objeto do


crime, foi apreendido em Delegacia por ocasião da lavratura do auto de prisão em flagrante, de
modo que necessita de autorização judicial para o desbloqueio e extração de dados do referido
aparelho.

Assim, pugna pelo deferimento do pleito em questão, ante a necessidade de identificar


possíveis informações imprescindíveis à investigação.

Instado, o Ministério Público pugnou pelo deferimento do pedido (mov. 06).

É o breve relato. Passo a decidir.

De início, tenho que os fatos narrados são graves e necessitam de apuração imediata.

Depreende-se dos autos que a autoridade policial e o representante ministerial visam


obter a quebra de sigilo de dados do telefone do representado, a fim de investigar a prática do
crime de tráfico de drogas e associação criminosa, supostamente praticado por Luis Vinicius
Santos da Costa, tendo em vista que foi apurado, de forma preliminar, por ocasião da lavratura do
auto de prisão em flagrante, que o flagranteado estava fazendo o transporte de drogas da cidade
de Samambaia-DF, para Valparaíso-GO, de modo que há fundadas suspeitas da existência de
uma associação criminosa articulada com tal finalidade.

É de amplo conhecimento, que somente pode ser admitida a quebra de sigilo de dados
bem como a interceptação telefônica em situações de suma excepcionalidade, por configurar
afronta ao princípio constitucional da inviolabilidade da vida privada (art. 5º, X, CF). Assim se
pronuncia o Supremo Tribunal Federal, ao asseverar que:

"a quebra de sigilo não pode ser utilizada como instrumento de devassa indiscriminada, sob
pena de ofensa à garantia constitucional da intimidade. É que, se assim não fosse, a quebra de
sigilo converter-se-ia, ilegitimamente, em instrumento de busca generalizada e de devassa
indiscriminada da esfera de intimidade das pessoas, o que daria, ao Estado, em
desconformidade com os postulados que informam o regime democrático, o poder absoluto de
vasculhar, sem quaisquer limitações, registros sigilosos alheios. (...)".1.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 25/06/2021 19:33:25
Assinado por LEONARDO LOPES DOS SANTOS BORDINI
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A Carta Magna dispõe que “é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal” (CF, art. 5º, XII).

A interceptação telefônica, quebra do sigilo dos dados, bem como quebra do sigilo da
ERB vêm sendo aceita pela doutrina e pela jurisprudência, sob o argumento de que nenhum
direito é absoluto, e que o direito à privacidade comportaria exceções, como o interesse público
contido na continuidade das investigações e na busca da verdade real.

Os argumentos da autoridade policial, referendados pelo representante ministerial são


relevantes, além de existirem indícios razoáveis da autoria dos delitos em questão, de modo que
verifico a necessidade da medida como único meio disponível à apuração dos fatos.

Mais, creio que, no momento, as provas necessárias para o total esclarecimento do


caso não podem ser obtidas de outra forma.

Para ilustrar essa assertiva, colaciono os seguintes precedentes do Supremo Tribunal


Federal:

"HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. INTERCEPTAÇÃO


TELEFÔNICA. CRIMES SUPOSTAMENTE PRATICADOS POR OFICIAIS DE
JUSTIÇA DA COMARCA DE CARUARU/PE. EVENTUAL ILEGALIDADE DA DECISÃO
QUE AUTORIZOU A INTERCEPTAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO
DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. INDÍCIOS SUFICIENTES DE PARTICIPAÇÃO
NOS CRIMES SUGERIDOS. ÚNICO MEIO DE PROVA DISPONÍVEL.
PRECEDENTES. 1. É da jurisprudência da Corte o entendimento de que “é lícita a
interceptação telefônica, determinada em decisão judicial fundamentada, quando
necessária, como único meio de prova, à apuração de fato delituoso” (HC nº
105.527/DF, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de 13/5/11). 2.
No caso, a decisão proferida pelo Juízo de piso, autorizando a interceptação telefônica
em questão, encontra-se devidamente fundamentada, sendo os elementos constantes
dos autos suficientes para afastar os argumentos dos impetrantes/pacientes de que
não havia indícios de materialidade em infração penal para se determinar a quebra do
sigilo telefônico ou de que as provas pudessem ser colhidas por outros meios
disponíveis, mormente se levado em conta que as negociações das vantagens
indevidas solicitadas se davam por telefone. 3. Ordem denegada." (STF - HC: 103418
PE , Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 18/10/2011, Primeira Turma,
Data de Publicação: DJe-216 DIVULG 11-11-2011 PUBLIC 14-11-2011 EMENT VOL-
02625-01 PP-00063). Negritei.

"é lícita a interceptação telefônica, determinada em decisão judicial fundamentada,


quando necessária, como único meio de prova, à apuração de fato delituoso" (Inq.
2.424/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno).

"HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. INTERCEPTAÇÃO


TELEFÔNICA. ÚNICO MEIO DE PROVA VIÁVEL. PRÉVIA INVESTIGAÇÃO.
DESNECESSIDADE. INDÍCIOS DE PARTICIPAÇÃO NO CRIME SURGIDOS
DURANTE O PERÍODO DE MONITORAMENTO. PRESCINDIBILIDADE DE
DEGRAVAÇÃO DE TODAS AS CONVERSAS. INOCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE.
ORDEM DENEGADA. 1. Na espécie, a interceptação telefônica era o único meio
viável à investigação dos crimes levados ao conhecimento da Polícia Federal,
mormente se se levar em conta que as negociações das vantagens indevidas

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solicitadas pelo investigado se davam eminentemente por telefone. 2. É lícita a
interceptação telefônica, determinada em decisão judicial fundamentada, quando
necessária, como único meio de prova, à apuração de fato delituoso.
Precedentes. 3. O monitoramento do terminal telefônico da paciente se deu no
contexto de gravações telefônicas autorizadas judicialmente, em que houve menção de
pagamento de determinada porcentagem a ela, o que consiste em indício de sua
participação na empreitada criminosa. 4. O Estado não deve quedar-se inerte ao ter
conhecimento da prática de outros delitos no curso de interceptação telefônica
legalmente autorizada. (...)" (STF - HC 105.527/DF, Rel. Min. Ellen Gracie). Negritei.

Entendo justificada, portanto, a medida pleiteada, pois necessário viabilizar à


Autoridade Policial os instrumentos investigativos que lhe permita ter acesso as informações
privilegiadas e que somente poderiam ser reveladas pelo próprio envolvido na aparente
tranquilidade de suas conversas reservadas.

Neste cenário particular, afigura-se pouco provável que os meios ordinários de prova,
vale dizer, documental e testemunhal, consigam demonstrar com clareza a exatidão e a dimensão
do crime apurado.

Sendo indispensável, portanto, para o sucesso e efetividade da investigação a captação


de conversas privadas, deve a medida ser autorizada.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, presente a justa causa necessária, DEFIRO o pedido formulado e


AUTORIZO o desbloqueio, extração e quebra de sigilo dos dados do aparelho telefônico
apreendido, MARCA SAMSUNG, MODELO Nº SM-G532MT, IMEI Nº 356955/08/013780/0 e
356956/08/013780/8.

Confiro à presente Decisão força de Ofício e Mandado.

Encaminhe-se cópia desta decisão a Autoridade Policial, e cientifique o Ministério


Público.

Cumpra-se.

Valparaíso de Goiás, 25 de junho de 2021 .

Leonardo Lopes dos Santos Bordini

Juiz de Direito

(assinado digitalmente)

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