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JUÍZO DE DIREITO DA VARA DO ÚNICO OFÍCIO DA COMARCA DE PILAR – ALAGOAS

Autos nº 0700288-02.2019.8.02.0047

ALAN VICENTE LIMA DA SILVA, já qualificado nos autos da açã o penal em


curso, por conduto deste Advogado legalmente habilitado mediante instrumento
particular de procuraçã o anexado à s fls. nº 117 vem tempestiva e mui respeitosamente à
presença de Vossa Excelência com fulcro no Art. 403, § 3º do Có digo de Processo Penal –
CPP c/c o despacho exarado à s fls. nº 208/209 apresentar suas razõ es finais via
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memoriais escritos, sendo tudo consubstanciado nos motivos fá ticos e fundamentos
jurídicos expostos a seguir:

DOS FATOS

Ínclito magistrado, Alan Vicente Lima da Silva foi preso em flagrante


delito, sendo indiciado e posteriormente denunciado pela suposta prá tica dos delitos
insertos no Art. 12 da Lei nº 10.826/03 (posse irregular de arma de fogo de uso
permitido) c/c o Art. 33 da Lei nº 11.343/06 (trá fico de drogas), em concurso material
na forma do Art. 69 do vigente Có digo Penal – CP, assim requereu o RMP à condenaçã o
do increpado nos mesmos termos da peça vestibular.

Acrescentou ainda o titular desta açã o penal que analisando os autos e


todo o conteú do probató rio durante a persecuçã o criminal (inquérito policial e instruçã o
processual), em termos de pedido de condenaçã o conclui-se que o acusado realmente
cometeu a conduta acima tipificada, vez que se encontra caracterizada por meio do
boletim de ocorrência lavrado, bem como nos depoimentos colhidos e nos laudos

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produzidos, restando induvidosa que a autoria é imputada sobre a pessoa do acriminado
em tela, conquanto confesse parcialmente a autoria do crime, somente o de posse
irregular de arma de fogo de uso permitido.

Por fim, em sede de alegaçõ es finais ministeriais há na ó tica acusató ria,


inú meros indícios de autoria e materialidade capazes de comprovar a culpabilidade do
réu em tela, em especial, o ú nico depoimento prestado na fase de instruçã o processual.

Era o que tinha a expor.

DO DIREITO

A priori, em relaçã o ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido


límpida se encontra a circunstâ ncia atenuante da confissã o espontâ nea, Art. 65, III,
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alínea “d”, do Có digo Penal.

Prescreve o artigo 65, inciso III, alínea “d”, do CP, que a confissã o
espontâ nea da autoria do crime, perante autoridade, é circunstâ ncia que sempre atenua
a pena. Assim, a princípio, entende-se que se o agente confessar espontaneamente a
autoria do fato delituoso, em presença de autoridade, faz jus à circunstâ ncia legal
genérica de reduçã o de pena, como aqui, desde já , se pugna.

Pois bem. Do texto legal supracitado é possível extrair, entã o, que sã o dois
os requisitos (simultâ neos) para o reconhecimento da atenuante pleiteada: (i) existir
confissã o espontâ nea de autoria de crime; e (ii) seja feito perante autoridade.
Preenchidos os dois requisitos, em tese, o agente tem sua sançã o penal atenuada, vez
que se trata de “direito pú blico subjetivo do réu” (STF. HC 106.376/MG. Rel. Carmen
Lú cia. T1. Julgamento. 01.03.2011).

Nesse sentido, corrobora com o mencionado entendimento, o Superior


Tribunal de Justiça – STJ:

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CONFISSÃO PARCIAL. UTILIZAÇÃO PARA A
CONDENAÇÃO. ATENUANTE CONFIGURADA.
RECONHECIMENTO E APLICAÇÃO OBRIGATÓRIOS.
(...) 01. A confissão realizada em juízo sobre a
propriedade da droga é suficiente para fazer incidir
a atenuante do Art. 65, III, d, do Código Penal,
quando expressamente utilizada para a formação do
convencimento do julgador, pouco importando se a
admissão da prática do ilícito foi espontânea ou não,
integral ou parcial. (STJ. HC 186.375/MG. Rel. Jorge
Mussi. T5. Dje. 01.08.2011).

Noutro giro em relaçã o ao delito de trá fico de drogas, Art. 33 da Lei nº


11.343/06, para sua configuraçã o necessá ria se faz, trazer a baila de modo claro os
elementos de autoria e materialidade indicados em todo digesto processual.

No tocante à materialidade, à s fls. nº 102/106 traz Laudo Pericial nº 3


6032.19.8327.19, de natureza exame em substâ ncias vegetal por colorimetria,
concluindo em face dos exames realizados pela perícia oficial que a substâ ncia recebida
e analisada tratava-se de Tetrahidrocannabinol (THC). Portanto, materialidade
inconteste para a substâ ncia apreendida e apresentada.

Todavia, no que tange à autoria a tese que se colhe dos autos, não
poderia ser outra, senão aquela apresentada pelo próprio réu quando passa a
negar a acusação de tráfico de drogas, e tal negativa encontra supedâneo nos
depoimentos colhidos sobre o crivo do contraditório na instrução processual.

Nesse pensar, nã o merece prosperar as alegaçõ es ministeriais, de sorte


que imperiosa a absolviçã o do réu quanto à prá tica de trá fico de drogas consoante os
argumentos abaixo delineados.

O CPP, em seu Art. 156, aponta que o ô nus da prova incumbe a quem alega,
perdurando a obrigaçã o de encontrar sustento ao conteú do incriminató rio sendo
atribuiçã o delegada ao MP e nã o à defesa, seja ela técnica ou pessoal.

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De modo que se equivoca o parquet ao rotular a prova testemunhal
como digna de presunção absoluta de veracidade, quando o militar envolvido na
operação policial e ouvido em audiência própria, são totalmente suspeitos para o
caso e deixar pairar a dúvida favorável ao réu.

Em primeiro ponto, se objeta que o depoimento do agente público,


consoante jurisprudência majoritária, não gozam de presunção juris tantum, ao
passo que seus depoimentos têm o mesmo valor que o prestado por qualquer
cidadão e, neste sentido, deve ser ratificado em juízo quando do cotejo aos demais
elementos de prova constantes nos autos.

Neste diapasão, se infere que os policiais militares responsáveis pela


prisão do réu, em manifesta parcialidade e concreta suspeição, intentam a
conseguir a condenação do mesmo a qualquer custo.

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É de se observar em juízo que a ú nica testemunha arrolada pela acusaçã o,
presta depoimento frá gil, narrando o procedimento de busca efetuado pela força policial
quando da realizaçã o da abordagem, diga-se de passagem, que o citado procedimento
eivado de falhas, somente nos levar a acreditar que a droga apreendida fora implantada
na residência do acusado.

Outro ponto que nos chama atençã o é o fato dos policiais terem liberado as
pessoas que se encontravam na frente da residência do réu, para que entã o pudesse ficar
sozinhos no interior do imó vel, agredindo o senhor Alan Vicente Lima da Silva e a
senhora sua esposa, além de fazer aparecer à droga apresentada aqui nos autos.

Ademais, as testemunhas arroladas pela defesa sã o uníssonas em


afirmarem que nã o havia droga no local. Portanto, pairando dú vida quanto à higidez e
idoneidade dos depoimentos prestados pelos policiais que, nã o se pode extrair a certeza
necessá ria para ediçã o do édito condenató rio, a medida de inteira justiça imperiosa no
caso em testilha é a condenaçã o ú nica pelo crime de posse de arma de fogo de uso
permitido e a absolviçã o quanto ao trá fico de drogas.

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DOS PEDIDOS

Ante ao todo exposto requer seja recebido e processado os presentes


memoriais, para o fim de: (i) absolver o réu do crime previsto no Art. 33 da Lei nº
11.343/06; (ii) condenar o mesmo no delito do Art. 12 da Lei nº 10.826/03,
considerando a atenuante aqui invocada.

Termos em que pede e espera deferimento.

Maceió /AL, 05 de outubro de 2020.

VICTOR CAVALCANTE NASCIMENTO JÚNIOR


OAB/AL nº 7.757

ISLANY NASCIMENTO BRITO


OAB/AL nº 17.169

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