Você está na página 1de 5

Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE

Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL


DA COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - MG.

Processo nº.: 0418814-29.2019.8.13.0105

MILTON AUGUSTO BENTO DA SILVA, já qualificado nos autos do processo


acima citado que lhe move a Justiça Pública, através do Núcleo de Criminologia,
Penal e Execução Penal da FADIVALE - Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce,
por meio de um de seus profissionais ao final assinado, vem, respeitosamente
perante a Vossa Excelência, apresentar MEMORIAIS, com fulcro no artigo 403, §3º
do Código de Processo Penal pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

I DOS FATOS

Consta na exordial acusatória, que na data de 1 de maio de 2019, por volta das
23:40, no interior da residência situada na Rua Carijós, nº 88, Bairro
Santa Efigênia, nesta cidade e Comarca, denunciado
guardava/mantinha em depósito, para fins de mercancia, droga
conhecidas popularmente como maconha e cocaina.
Em patrulhamento pelo bairro os policiais teriam avistado o
denunciado no beco em frente a sua residencia. Percebendo a
presença da guarnição, o denunciado teria arremessado uma
sacola no quintal de sua casa.
Efetuadas buscas na residência do denunciado, os policiais
arrecadaram a sacola que ele havia dispensado, constatando que
havia em seu interior, um tablete de maconha, ainda teriam
localizado, no interior de um sofá, um invólucro contendo cocaína.
No quarto do denunciado teriam sido apreendidos um invólucro
contendo pasta base de cocaína, duas buchas de maconha e seis

Rua Dom Pedro II, 244, Centro - Governador Valadares/MG. CEP 35.020-270.

Telefone: (33) 3271-2004 - Email: nucleocriminal@hotmail.com


Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

folhas de notações que os policiais entender como contabilidade do


tráfico de droga, além de um simulacro de arma de fogo.
O denunciado foi preso em flagrante e conduzido à Delegacia de
Polícia.
Por todo o exposto, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais
denunciou Milton Augusto Bento Da Silva como incurso no artigo 33, caput,
da Lei n.
11.343/06.

II DO DIREITO

Contudo, os fatos não ocorreram conforme foi narrado pelo Ministério Publico,
não sendo justificáveis as acusações feitas por ele.
Está se tornando uma prática comum, corriqueira, a condenação alicerçada
apenas e tão somente mediante prova produzida através de depoimentos de
policiais. Preocupante!
Verifica-se que nos autos não há nenhuma prova capaz de incriminar
o denunciado de forma concreta e inequívoca ao delito em que é acusado, pelo
contrário, existem apenas presunções de que a droga encontrada seria para a
comercialização, afirmadas por apenas depoimentos policiais. 
 
Em relação aos depoimentos dos policiais militares, os mesmos não
poderão operar validamente contra o denunciado, porquanto o policial militar, que
supostamente encontrou substância psicotóxicas. 
Nessa senda é a mais abalizada jurisprudência, digna de decalque:  
 
Por mais idôneo que seja o policial, por mais honesto
e correto, se participou da diligência, servindo de
testemunha, no fundo está procurando legitimar a sua
própria conduta, o que juridicamente não é
admissível. A legitimidade de tais depoimentos surge,
pois, com a corroboração por testemunhas estranhas
aos quadros policiais (Apelação n.º 135.747, TACrim-
SP Rel. CHIARADIA NETTO) 

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

 
Prova testemunhal. Depoimento de policiais. Os
policiais militares não são impedidos de prestar
depoimento e não são considerados, de per si, como
suspeitos. Todavia, sua descrição do fato em juízo,
por motivos óbvios, deve ser tomada sempre com
cautela quando participaram da ação que deu causa
ao processo (TACRIM-SP - apelação nº 127.760) 
 
[...] 1. O depoimento de policiais (especialmente
quando prestado em juízo, sob a garantia do
contraditório) reveste-se de eficácia para a formação
do convencimento do julgador. Por outro lado, não se
pode admitir juízo condenatório quando a prova
produzida pelo seu depoimento não encontrar suporte
ou não se harmonizar com outros elementos de
convicção idôneos (tal como ocorre com outras
testemunhas), de modo a ensejar dúvida razoável
que conduza à incerteza de um fato ou verdade. [...]
(Apelação Criminal nº 2009.70.10.000712-5/PR, 7ª
Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Tadaaqui Hirose. j.
26.10.2010, unânime, DE 11.11.2010). 
 
[...] A jurisprudência desta Corte de Justiça empresta
valor probante a depoimento de policiais quando não
destoar das demais provas existentes nos autos. [...]
(Processo nº 2007.03.1.025815-0 (418130), 1ª Turma
Criminal do TJDFT, Rel. Nilsoni de Freitas. unânime,
DJe 07.05.2010). 

É sabido que o titular da ação penal deve carrear para os autos provas
robustas, incontestes e transparentes para sustentação de um decreto condenatório.
Não o fez nestes autos. O conjunto probatório é fraco, é vulnerável e inconsistente
para sustentar uma condenação penal.
O peticionário MILTON disse em depoimento que a quantidade de droga
relatada pelos policiais é equivocada pois, estava em sua posse somente 10 gramas
de cocaina que fora encontrado no sofa de sua casa, para uso pessoal.
Disse ainda não ser verdade que teria dispensado uma sacola contendo mais
drogas. Que tal afirmação foi confirmada apenas por um dos quatro policiais que
estavam na ocorrência.

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

Em que pese o caráter de seu depoimento, na condição de informante, a sua


genitora esclarece extreme de dúvidas que se encontrava presente no local dos
fatos, acompanhou o trabalho dos policiais afirmando que nada de irregular foi
constatado ou encontrado.
As provas trazidas aos autos claramente ratificam o envolvimento do
denunciado somente como usuário, estando provado que este não concorreu de
forma alguma para a prática do crime constante na denúncia
Caso não seja este o entendimento do MM. Juízo, torna-se incontestável
então a necessidade de aplicação do princípio do in dúbio pro réu, uma vez que
certa é a dúvida acerca da culpa a ele atribuída com relação à acusação de Tráfico
de Drogas, pois o Réu não foi encontrado em atividade de traficância e muito
menos com qualquer outro elemento que levasse a crer ser o denunciado
traficante.
Diante dos depoimentos de Milton e de sua genitora, não há o que se falar de
conduta de trafico de drogas, e sim de posse para uso pessoal, uma vez que o réu
disse ser usuario desde os 14 anos de idade.

III DO PEDIDO

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência que desclassifique o delito de


tráfico do art. 33 caput para o disposto no artigo 28, ambos da Lei de Tóxicos
(11.343/06) e que seu processo seja encaminhado ao juízo de pequenas causas,
devido a natureza do crime e sua reprimenda. Caso entenda pela condenação do
réu, que decida de forma favorável ao pleito defensivo ao crime de tráfico reduzindo
a pena em sua forma máxima (§4º art. 33 - Lei 343/06) por se tratar de ser réu
primario na data dos fatos, à pena base fixada no mínimo (art. 59 c/c art. 68 CP) e a
determinação de regime estipulado no art. 33 do Código Penal. Acrescentando
também a substituição a penas restritivas de direito, caso exista a possibilidade.

Governador Valadares, 25 de maio de 2023.

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

Maiana de Oliveira Birindiba


OAB/MG 45.286

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197

Você também pode gostar