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MEMORIAIS - ALEGAÇÕES FINAIS - ROUBO

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA _____ VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE _____ (UF).
processo-crime nº _____
objeto: memoriais

_____, brasileiro, solteiro, auxiliar de estalagem, portador da


cédula de identidade nº _____/SSP-UF, e inscrito no CPF sob
o nº _____, residente e domiciliado nessa cidade de _____-
UF, pelo Defensor Público ut infra assinado, vem,
respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, em
atenção ao deliberado à folha 114, no prazo legal, articular, as
presentes alegações finais, reflexionando:

1º) NEGATIVA DA AUTORIA & DEFECTIBILIDADE PROBATÓRIA.


Segundo assinalado pelo réu quando inquirido pelo Julgador togado, o mesmo
negou(1) de forma concludente e incisiva o delito que lhe é vergastado pela
peça ovo, obtemperando, que foi eleito aleatoriamente a condição de bode
expiatório, pela ciosa milícia terrestre, a qual de forma açodada e imprudente
subjugou o réu, fazendo-o cativo do fato inventariando pela proposta
acusatória.
Nas palavras literais do réu, recolhidas à folha 120, ocasião em que inquirido
pela Magistrada togada:
"Interrogando: Nesse dia doutora eu tava indo pro centro, porque eu
tava doente e fui no postão e tava passando por ali, e no que eu to
passando por ali eu vi essa viatura parada, mas eu não cheguei nem
entrar na livraria eu passei reto e eu tava com uma camiseta branca do
São Paulo e uma bermuda preta e tava sem boné e uma luna, e tava
passando por ali, ai dobrei umas quadras que eu ia subir ali pelo 1o de
Maio que minha mãe mora ali e eu ai passar por ali antes de ir pra casa
e os policiais vieram e me abordaram e eu tava com dinheiro no bolso
eu tinha acho que R$ 100,00, R$ 150,00 daí eles falaram ‘Vem cá, vem
cá, vamos olhar, um negócio aí com uma camiseta do São Paulo no
centro só pode ser alguma coisa.
Juíza: E a arma também não tinha?
Interrogando: Não tinha arma doutora."
Em verdade, em verdade, no tempo presente o réu expia culpa alheia como
própria, o qual assoma desumano e cruel: post nubila phoebus(2).
A tese sufragada pelo réu não logrou se enjeitada durante a instrução, com o
que assoma crível, logo, digna de fé.(3)
Por seu turno a prova(4) que jaz hospedada à demanda, é de todo em todo
frágil e deficiente para emprestar foros de cidade (curso/aceitação) à peça
madrugadora do processo.
Registre-se, que a prova de índole acusatória, arregimentada no deambular da
instrução contra o réu, restringe-se ao depoimento da sedizente vítima do fato;
e, secundariamente, pela vertida pela polícia militar; ambas despidas de fidúcia
necessária e indispensável para referendarem juízo de valor adverso, em
detrimento do réu.
Neste passo, cumpre trasladar-se a intelecção dos pretórios, sobre o tema
vertido:
As declarações da vítima devem ser recebidas com cuidado,
considerando-se que sua atenção expectante pode ser transformadora
da realidade, viciando-se pelo desejo de reconhecer e ocasionando
erros judiciários (JUTACRIM, 71:306).
ROUBO. MAJORADO. EMPREGO DE ARMA E CONCURSO DE
AGENTES. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. ABSOLVIÇÃO. A palavra
da vítima depende de apoio no demais da prova. Reconhecimento
policial precário e dúbio. PROVA INCONSISTENTE. Conjunto probatório
insuficiente a amparar a condenação dos apelantes. In dubio pro reo.
Absolvição que se impõe, com base no art. 386, IV, do Código de
Processo Penal. RECURSO PROVIDO. (Apelação Crime nº
70040421489, 5ª Câmara Criminal do TJRS, Rel. Aramis Nassif. j.
09.02.2011, DJ 16.03.2011).
[...] a palavra da vítima não é absoluta, cedendo espaço, quando
isolada, no conjunto probatório, diante dos princípios da presunção de
inocência e do in dubio pro reo. É o caso dos autos. [...] (Apelação nº
21154-7/2009, 1ª Câmara Criminal do TJBA, Rel. Lourival Almeida
Trindade. j. 01.09.2009).
APELAÇÃO CRIMINAL - SENTENÇA ABSOLUTÓRIA - RECURSO DO
MP PRETENDENDO A CONDENAÇÃO DO RÉU - ATENTADO
VIOLENTO AO PUDOR E ESTUPRO INADMISSIBILIDADE -
INEXISTÊNCIA DE TESTEMUNHAS PRESENCIAS DO FATO.
Palavras da vítima que não encontram amparo nas provas
produzidas, porquanto isoladas - É cediço que nos delitos de estupro
e atentado violento ao pudor, a palavra da vítima é de grande
relevância, porque tais crimes quase sempre são praticados na
clandestinidade - Por tal fato, exige-se que as declarações prestadas
sejam firmes, seguras e coerentes, o que não ocorreu na espécie -
Princípio basilar do processo penal - Busca da verdade real - Não
comprovada satisfatoriamente a autoria delitiva imputada ao acusado,
de rigor a prolação de um decreto absolutório, por insuficiência de
provas, aplicando-se o princípio do in dubio pro reo - Apelo ministerial
não provido mantendo-se a r. sentença por seus próprios e jurídicos
fundamentos. (Apelação nº 9092768-74.2009.8.26.0000, 16ª Câmara de
Direito Criminal do TJSP, Rel. Borges Pereira. j. 04.10.2011, DJe
18.10.2011).
(grifos nossos)

De resto, os depoimentos prestados pelos policiais militares, no curso da


instrução, não poderão, de igual forma, operar validamente contra o réu, haja
vista, constituem-se (ditos policiais) em detratores e algozes do último
possuindo interesse direto do êxito da ação penal - da qual foram seus
principais mentores - máxime, considerado, que participaram ativamente das
diligencias que culminaram com a prisão arbitrária do denunciado, consoante
reluz pelo frontispício do auto de folha 16.
Em assim sendo, seus informes, não detém a menor serventia para respaldar a
peça ovo, eis despidos da neutralidade necessária e imprescindível para tal
desiderato, atuando no feito, como verdadeiros coadjuvantes do MINISTÉRIO
PÚBLICO, anelando com todas as veras de sua alma, a condenação do réu, no
intuito de legitimarem a própria conduta desencadeada em detrimento do
último.
Em rota de colisão, com a posição adotada pelo dignitário do parquet, assoma
imperiosa a transcrição da mais abalizada jurisprudência, que fere com
subtileza o tema sub judice:
Por mais idôneo que seja o policial, por mais honesto e correto, se
participou da diligência, servindo de testemunha, no fundo está
procurando legitimar a sua própria conduta, o que juridicamente não é
admissível. A legitimidade de tais depoimentos surge, pois, com a
corroboração por testemunhas estranhas aos quadros policiais
(Apelação n.º 135.747, TACrim-SP Rel. CHIARADIA NETTO)
Prova testemunhal. Depoimento de policiais. Os policiais militares não
são impedidos de prestar depoimento e não são considerados, de per
si, como suspeitos. Todavia, sua descrição do fato em juízo, por motivos
óbvios, deve ser tomada sempre com cautela quando participaram da
ação que deu causa ao processo (TACRIM-SP - apelação nº 127.760)

[...] 1. O depoimento de policiais (especialmente quando prestado em


juízo, sob a garantia do contraditório) reveste-se de eficácia para a
formação do convencimento do julgador. Por outro lado, não se pode
admitir juízo condenatório quando a prova produzida pelo seu
depoimento não encontrar suporte ou não se harmonizar com
outros elementos de convicção idôneos (tal como ocorre com outras
testemunhas), de modo a ensejar dúvida razoável que conduza à
incerteza de um fato ou verdade. [...] (Apelação Criminal nº
2009.70.10.000712-5/PR, 7ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Tadaaqui
Hirose. j. 26.10.2010, unânime, DE 11.11.2010).
[...] A jurisprudência desta Corte de Justiça empresta valor probante a
depoimento de policiais quando não destoar das demais provas
existentes nos autos. [...] (Processo nº 2007.03.1.025815-0 (418130),
1ª Turma Criminal do TJDFT, Rel. Nilsoni de Freitas. unânime, DJe
07.05.2010).
TRÁFICO DE DROGAS. NEGATIVA DE AUTORIA. PROVA.
DEPOIMENTO POLICIAL. DESARMONIA. ABSOLVIÇÃO. IN DUBIO
PRO REO. O depoimento de policiais não é suficiente à condenação
quando em desarmonia com as demais provas existentes nos autos, por
isso, ausente a prova da autoria do crime, justifica-se a absolvição com
fundamento no princípio do in dubio pro reo. (Apelação nº 0005636-
61.2010.8.22.0501, 2ª Câmara Criminal do TJRO, Rel. Raduan Miguel
Filho. j. 30.03.2011, unânime, DJe 05.04.2011).
[...] O depoimento de policiais, desde que não contraditórios entre si
e não conflitantes com outros elementos de prova, têm eficácia
probante. [...] (Apelação-Crime nº 0670926-2, 5ª Câmara Criminal do
TJPR, Rel. Maria José de Toledo Marcondes Teixeira. j. 28.10.2010,
unânime, DJe 11.11.2010).
(grifos nossos)
Na seara doutrinária, outra não é a lição do renomado penalista, FERNANDO
DE ALMEIDA PEDROSO, in, PROVA PENAL, Rio de Janeiro, 1.994, Aide
Editora, 1a edição, onde à folha 117/ 118, assiná-la: “Não obstante, julgados há
que, entendem serem os policiais interessados diretos no êxito da diligência
repressiva e em justificar eventual prisão efetuada, neles reconhecendo
provável parcialidade, taxando seus depoimento de suspeitos. (RT 164/520,
358/98, 390/208, 429/370, 432/310-312, 445/373, 447/353, 466/369, 490/342,
492/355, 495/349 e 508/381)”
Além disso, para referendar-se uma condenação no orbe penal, mister que a
autoria e a culpabilidade resultem incontroversas. Contrario Sensu, a
absolvição se impõe por critério de justiça, visto que, o ônus da acusação recai
sobre o artífice da peça portal. Não se desincumbindo, a contento, de tal tarefa,
marcha, de forma inexorável, a peça parida pelo dominus litis ao exício.
Neste norte, veicula-se imperiosa a compilação de jurisprudência autorizada:
APELAÇÃO CRIME. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. INSUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA. ABSOLVIÇÃO. A condenação exige certeza quanto à
existência do fato e sua autoria pelo réu. Se o conjunto probatório
não é suficiente para esclarecer o fato, remanescendo dúvida
insuperável, impositiva a absolvição do acusado com fundamento no
art. 386, VII, do CPP. (Apelação Crime nº 70040138802, 8ª Câmara
Criminal do TJRS, Rel. Danúbio Edon Franco. j. 16.02.2011, DJ
16.03.2011).
A prova para a condenação deve ser robusta e estreme de dúvidas,
visto o Direito Penal não operar com conjecturas (TACrimSP, ap.
205.507, Rel. GOULART SOBRINHO)
O Direito Penal não opera com conjecturas ou probabilidades. Sem
certeza total e plena da autoria e da culpabilidade, não pode o Juiz
criminal proferir condenação (Ap. 162.055. TACrimSP, Rel. GOULART
SOBRINHO)
Sentença absolutória. Para a condenação do réu a prova há de ser
plena e convincente, ao passo que para a absolvição basta a dúvida,
consagrando-se o princípio do in dubio pro reo, contido no art. 386, VI,
do CPP (JUTACRIM, 72:26, Rel. ÁLVARO CURY)
USO DE DOCUMENTO FALSIFICADO. ABSOLVIÇÃO. RECURSO
MINISTERIAL BUSCANDO A CONDENAÇÃO. ACOLHIMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. AUTORIA DUVIDOSA. ACUSAÇÃO FUNDADA
EM PROVA DA FASE INQUISITIVA. Indícios que não restaram
provados no curso do contraditório. Incidência do artigo 155, do CPP.
Negativa do acusado não infirmada. Princípio do "in dubio pro reo"
bem reconhecido pelo r. Juízo "a quo". Recurso improvido. (Apelação nº
0361293-49.2010.8.26.0000, 5ª Câmara de Direito Criminal do TJSP,
Rel. Luís Carlos de Souza Lourenço. j. 29.09.2011, DJe 14.10.2011).
PENAL. ESTELIONATO PRATICADO CONTRA O INSS. AUTORIA.
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS EM RELAÇÃO ÀS CORRÉS.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. I - O conjunto probatório carreado revelou-
se insuficiente para apontar conclusivamente a autoria e
culpabilidade das corrés Eunice e Maria Consuelo, sendo impossível
precisar atuação dolosa em suas condutas funcionais, incorrendo,
voluntária e conscientemente, no resultado antijurídico ora apurado. II -
O mero juízo de plausibilidade ou possibilidade não é robusto o
suficiente para impingir um decreto condenatório em desfavor de
quem não se pode afirmar, com veemência, a participação e
consciência da ilicitude. III - A prova indiciária quando indicativa de mera
probabilidade, como ocorre no caso vertente, não serve como prova
substitutiva e suficiente de autoria não apurada de forma concludente
no curso da instrução criminal. IV - Apelação improvida. Absolvição
mantida. (Apelação Criminal nº 0102725-03.1998.4.03.6181/SP, 2ª
Turma do TRF da 3ª Região, Rel. Cecilia Mello. j. 10.05.2011, unânime,
DE 19.05.2011).
(grifos nossos)

2º) DA TENTATIVA DE ROUBO.


Na longínqua, remota e improvável hipótese de amargar juízo de censura,
temos que o delito que lhe é brandido pela peça ovo, permaneceu confinado a
seara da mera tentativa, haja vista, que foi de pronto, perseguido acuado e
preso, pela diligente policia castrense, consoante depreende-se dos seguintes
depoimentos, recortados no excerto pertinente:
"... (...) daí eu disse ‘seu guarda nos fomos assaltados’ daí ele disse
assim ‘Sim o meliante está aqui’....."– Vide declarações da vítima _____,
recolhidas à folha 117.
"... TESTEMUNHA: Nós tava passando pela esquina, quando a gente
viu, eu achei estranho (...) com a jaqueta, ele correu, tentou fugir de
nós, daí fomos dar uma volta por descargo de consciência, a gente viu
ele entrando num bar, sem a jaqueta, fomos abordar, é nossa função
também né, abordemos vimos que ele tava armado, tinha o dinheiro,
falamos com ele e ele disse que era da livraria fomos até a livraria, foi
constatado o assalto que ele tinha cometido, a gente até viu ele saindo
da livraria porque foi bem na esquina. JUÍZA: Pelo Ministério Público.
MINISTÉRIO PÚBLICO: Vocês chegaram a ver ele saindo da livraria?
TESTEMUNHA: Sim, mas desconfiamos porque tava 30ºc de jaqueta e
ele correu, botou a mão na cintura (...)" – Vide declarações da
testemunha _____, recolhidas à folha 119 e verso.
De resto, a vítima não sofreu abalo em seu tesouro(5), uma vez que a ação
delitiva sofreu hiato de curso, não tendo, de conseguinte, o delito se
implementado na seara dos fatos, remanescendo o espectro do crime
imperfeito.
Na seara jurisprudencial outra não é a intelecção do tema submetido à
estacada:
Sendo o roubo próprio crime complexo, sua consumação somente se
opera quando plenamente realizadas forem as infrações penais que o
integram: a violência, ou grave ameaça à pessoa e a subtração
patrimonial. Haverá apenas tentativa de roubo próprio quando o agente,
após praticada a violência contra a vítima, é perseguido e preso, sendo
a coisa arrebatada recuperada pelo prejudicado (TARS: RT 647/340)
ROUBO SIMPLES. CONDENAÇÃO. Autorizada pelo reconhecimento
do agente que foi detido, na posse da coisa, logo após o crime.
Tentativa: de se reconhecê-la quando o agente não teve a posse
tranquila da res. Deram parcial provimento ao apelo defensivo e
negaram provimento ao ministerial (unânime). (Apelação Crime nº
70040897605, 5ª Câmara Criminal do TJRS, Rel. Amilton Bueno de
Carvalho. j. 09.02.2011, DJ 25.03.2011).
A transitoriedade da detenção da coisa, com intervalo entre a subtração
e a recuperação da res furtiva, resultante do fato de ser o criminoso
perseguido e preso, faz a conduta prevista no art. 157 do Código Penal
permanecer em sua fase de tentativa (TAMG: RT 617/349)

Destarte, todos os caminhos conduzem, a absolvição do réu, frente ao conjunto


probatório domiciliado à demanda, em si sofrível e altamente defectível, para
operar e autorizar um juízo de censura contra o denunciado.
POSTO ISTO, REQUER:
I.- Seja decretada a absolvição do réu, ao módulo do artigo 386, inciso V, do
Código de Processo Penal, sopesadas as considerações dedilhadas linhas
volvidas.
II.- Em não prosperando a tese capital (negativa da autoria), seja, de igual sorte
absolvido, diante da dantesca orfandade probatória que preside à demanda,
peditório requestado ao módulo do artigo 386, inciso VII, do Código de
Processo Penal.
III.- Em desfalecendo condenado pelo delito de roubo, seja o mesmo reputado,
tido e havido como tentado, elegendo-se a fração de 2/3 (dois terços) a título de
minoração da reprimenda corporal e pecuniária.
N. Termos,
P. Deferimento.
__, __ de __ de __
_______________
Defensor

Modelo cedido por Paulo Roberto Fabris - Defensor Público


(1) “A prova negativa, isto é, a prova da não culpabilidade, em regra não é
possível; exigi-la representaria , na maior parte dos casos, um absurdo lógico e
uma iniquidade. Quem se defende, fora dos casos de álibi concludente e de
outras poucas hipóteses, não tem a possibilidade de fornecer a prova negativa”
(*) BORGES DA ROSA.
(2) “Depois das nuvens, o Sol” isto é, um período de infortúnios é seguido por
outro, de felicidade. (Alano das Ilhas, Livro das Parábolas.)
(3) “Não se trata de reconhecer como falsa a hipótese acusatória, mas não ser
possível confirmá-la e, em razão disso, não se pode negar aos réus o benefício
da dúvida. Cabia ao autor da ação penal produzir prova suficiente a sustentar o
juízo de certeza buscado, o que ele não obteve. Tenho dito que a verdade não
habita o processo de conhecimento – que só conhece as versões, ou seja,
pálidas representações da realidade, carregadas de subjetivismo quase
intransponível – e que o juiz busca atingi-la, mas só alcança a certeza, que
não de uma crença na posse da verdade, segundo clássico conceito de
MALATESTA. Se a crença corresponde à verdade, não é dado ao juiz sabê-lo.
Se ele fosse dotado de tal poder (onisciência), o juízo seria divino, e não
humano. Mas, para que a decisão seja humanamente justa, carece que a
certeza seja razoavelmente fundada na prova dos autos. Certeza que se
proclama com base no que não está (nos autos) ou sem considerar o que está
nos autos é infundada, arbitrária e injusta, tanto quanto a dúvida infundada – ou
seja, aquela que contraria a evidência dos autos.” Remissão: Excerto do voto
proferido pelo Desembargador JOÃO BATISTA MARQUE TOVO, na apelação-
crime nº 70024127565, julgada em 27/11/2008
(4) Sob outro itinerário, ainda que partíssemos da premissa que pende contra o
réu indícios de autoria e ou coautoria, tal cisma jamais autorizaria uma
condenação, o que se sustenta sob o escudo doutrinário de CARMIGNANI, o
qual obtempera que a prova indiciária é a mais falsa de todas as provas, nela
se une o que de mais enganoso existe nas outras e a falácia que lhe é própria e
exclusiva (apud, JOSÉ HENRIQUE PIERANGELLI, Da Prova Indiciária, RT
610/283).
(5) Vide auto de apreensão do numerário de folha 10 e restituição de folha 75.

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