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Entretanto, o MM. Magistrado da Vara Criminal de Magé nã o acolheu esse pedido, conforme
a r. decisã o proferida no dia 18 de fevereiro de 2016, tendo sido redigida nos seguintes
termos:
“Trata-se de pedido de revogação da prisão preventiva, postulado em prol do acusado, o qual
se encontra preso em decorrência da prática do crime previsto no artigo 157, caput, c/c
artigo 14, inciso II, do Código Penal. Promoção ministerial opinando contrariamente ao
pedido defensivo. De início, consigna-se que, não houve alteração do quadro fático ou
probatório a justificar a revogação pretendida,uma vez que continuam presentes os
requisitos cautelares que decretaram a sua prisã o, conforme decisã o nos autos. Ademais, as
circunstâ ncias narradas na denú ncia sã o muito graves, uma vez que a conduta foi praticada
mediante grave ameaça, bem como a vítima ainda nã o foi ouvida. Por outro lado, impende
destacar que já foi pacificado por nossos tribunais que a primariedade, o exercício de
atividade laborativa e residência fixa não constituem, isoladamente, motivos a ensejar a
liberdade provisória, que deve ser analisada junto com os demais elementos de prova nos
autos. Assim, inobstante os argumentos e os documentos trazidos aos autos pela defesa do
acusado é extremamente prematura a cessação da constrição, estando ainda presentes os
requisitos que ensejaram a sua prisão preventiva, isto porque o roubo não se consumou por
circunstâncias alheias a vontade do denunciado, tendo em vista que a vítima fugiu do local da
abordagem gritando e o roubador foi imobilizado por populares. Diante deste contexto,
INDEFIRO o pleito de revogação da prisão preventiva do nacionale mantenho a sua prisão.
Publique-se. Dê ciência ao Ministério Público.”
Ao analisar as razõ es invocadas pelo nobre julgador, constata-se que persiste a ausência de
fundamentaçã o a embasar a restriçã o de liberdade do xxx. Em nenhuma das duas decisõ es
mencionadas, há o registro de dados concretos a autorizar a conclusã o de que a liberdade
do Paciente constitui risco a ordem pú blica e a aplicaçã o da lei penal, ou seja, nã o foi
comprovada a existência de um dos requisitos da prisã o preventiva – periculum libertatis –,
o que caracteriza constrangimento ilegal.
Daí a necessidade de impetrar o presente Habeas Corpus, o que é feito a fim de sanar o
constrangimento ilegal que o Paciente vem sofrendo. Sendo assim, será demonstrado que a
privação da sua liberdade encontra-se respaldada em uma decisão proferida sem a
devida fundamentação legal, o que contraria o artigo 93, IX, da Constituiçã o Federal; e
que os requisitos elencados no caput do artigo 12 do Có digo de Processo Penal nã o estã o
preenchidos.
Em suma, sem pretender ingressar no mérito, analisando se, estão presentes as
elementares do crime ao qual está sendo imputado o denunciado, uma vez que não
há outras testemunhas relatando o momento do suposto crime, não foi encontrada
qualquer arma descrita pela vítima ou pela policia judiciária, bem como, se o
denunciado realmente praticou o crime, qual teria sido a justificativa para a tanto,
pois o momento é inadequado, busca-se ressaltar a Vossa Excelência a
impropriedade da manutenção da prisão, merecendo o denunciado ser posto em
liberdade.
II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
II.1 – DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA – DECISÃO BASEADA NA GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO E EM
CONSIDERAÇÕES GENÉRICAS SOBRE A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E A
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
Os pressupostos para a decretaçã o da prisã o preventiva estã o previstos no art. 312 do CPP,
ou seja, o periculum libertatis (periculum in mora) e o fumus comissi delicti (fumus boni
iuris).
Nos termos desse dispositivo, a prisã o preventiva poderá ser decretada como garantia da
ordem pú blica, da ordem econô mica, por conveniência da instruçã o criminal, ou para
assegurar a aplicaçã o da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria.
No caso em análise, a prisão preventiva foi decretada e, posteriormente, mantida
porque o julgador a quo entendeu que o periculum libertatis encontra-se
configurado, de modo que a liberdade do Paciente poderia resultar em risco a ordem
pú blica e para a aplicaçã o da lei penal.
Daí cumpre esclarecer que a prisã o preventiva sob o fundamento de “assegurar a aplicaçã o
da lei penal” tem em vista garantir a execuçã o da lei penal, afastando o risco efetivo e
concreto de evasã o por parte do investigado ou acusado. Para decretar tal medida cautelar,
o magistrado deve está convencido, por meio dos elementos existentes dos autos judiciais
ou do inquérito, que o indivíduo irá tentar fugir.
Por sinal, Paulo Rangel destaca que[2]:
Assegurar a aplicação da lei penal: a prisão preventiva deverá ser decretada quando houver
provas seguras de que o acusado, em liberdade, irá se desfazer (ou está se desfazendo) de seus
bens de raiz, ou seja, tentando livrar-se de seu patrimônio com o escopo de evitar o
ressarcimento dos prejuízos causados pela prática do crime. Ou ainda, se há comprovação de
que se encontra em lugar incerto e não sabido com a intenção de se subtrair à aplicação da
lei, pois, uma vez em fuga, não se submeterá ao império da justiça.
A fuga não pode ser presunção judicial, mas sim fruto de elementos nos autos do
processo que demonstrem, cabalmente, que o acusado deseja se subtrair à ação da
justiça. O simples poder econômico do réu não pode autorizar o juiz a decretar sua prisão
preventiva. Mister se faz que haja informações, nos autos, de que pretende fugir para
impedir o império da lei.” (sem grifos no original)
A respeito desse assunto, Eugênio Pacelli preconiza[3]:
“A prisão preventiva, para assegurar a aplicação da lei penal, contempla as hipóteses
em que haja risco real de fuga do acusado e, assim, risco de não aplicação da lei na
hipótese de decisão condenatória. É bem de ver,porém, que semelhante modalidade de
prisão há de fundar em dados concretos da realidade, não podendo revelar-se fruto de
mera especulação teórica dos agentes públicos, como ocorre com a simples alegação fundada
na riqueza do Réu. É claro que em tal situação, e a realidade tem nos mostrado isso, o risco é
sempre maior, mas, ainda assim, não é suficiente, por si só, para a decretação da prisão.” (sem
grifos no original)
Pois bem. Feita essa aná lise, CHEGA-SE A CONCLUSÃO DE QUE A PRISÃO PREVENTIVA
FORA DECRETADA DE FORMA EQUIVOCADA, POIS NÃO HÁ NOS AUTOS NENHUM
ELEMENTO CAPAZ DE COMPROVAR QUE O PACIENTE EM LIBERDADE VENHA A
PRATICAR ATOS COM A FINALIDADE DE IMPEDIR A APLICAÇÃO DA LEI NA HIPÓTESE
DE DECISÃO CONDENATÓRIA.
Nessa esteira, convém elucidar que O PACIENTE POSSUI RESIDÊNCIA FIXA, onde reside
com a sua família e, além disso, é importante esclarecer que ele TRABALHA COMO
AJUDANTE DE PEDREIRO.
Tanto é verdade de que nã o existe a mínima possibilidade de o Paciente vir a se conduzir
com a intençã o de nã o se submeter ao império da justiça, que O NOBRE JULGADOR
RESPONSÁVEL POR DECRETAR A PRISÃO PREVENTIVA SEQUER APONTOU NA R.
DECISÃO UM ÚNICO ELEMENTO OBJETIVO QUE INDICASSE A NECESSIDADE DE
CUSTÓDIA CAUTELAR.
E nem se diga que o Paciente possui meios de obstar a aplicaçã o da lei penal por possuir
um relevante poder econô mico, afinal, como dito em linhas atrá s, ele é ajudante de
pedreiro, sendo uma pessoa extremamente humilde, nã o detém condiçõ es financeiras para
conseguir sair do estado, tampouco do país.
NO TOCANTE A “GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA”, é necessá rio pontuar que a prisã o
preventiva só pode ser decretada por esse fundamento quando houver elementos
concretos que assegurem que o acusado, em liberdade, voltará a delinquir. A propó sito,
seguem os ensinamentos do professor Paulo Rangel[4]:
“Por ordem pública, devem-se entender a paz e a tranquilidade social, que devem existir no
seio da comunidade, com todas as pessoas vivendo em perfeita harmonia, sem que haja
qualquer comportamento divorciado do modus vivendi em sociedade. Assim, se o indiciado ou
o acusado em liberdade continuar a praticar ilícitos penais, haverá perturbação da ordem
pública, e a medida extrema é necessária se estiverem presentes os demais requisitos legais.
Ordem pública não é um conceito vago. A vagueza, muitas vezes, está na decisão e não no
conceito de ordem pública. Quando o juiz diz que decreta a prisão para garantia da ordem
pública, a vagueza e a imprecisão não estão no conceito de ordem pública, mas na
decisão do magistrado que não demonstra onde a ordem pública está ameaçada e
agredida com a liberdade do acusado.” (sem grifos no original).
Posto isso, tendo em vista QUE NADA HÁ NOS AUTOS A INDICAR QUE O PACIENTE EM
LIBERDADE PRATICARÁ ILÍCITOS PENAIS, VERIFICA-SE QUE A PRISÃ O PREVENTIVA NÃ O
PODE SUBSISTIR.
O PACIENTE GOZA DO MAIS ILIBADO COMPORTAMENTO, SENDO UMA PESSOA
ÍNTEGRA, PAI DE FAMÍLIA, o que afasta qualquer possibilidade dele vir a cometer crimes
quando estiver em liberdade. Por esses motivos nã o se sabe o que levou o digno julgador a
decretar a prisã o preventiva, até porque O REQUERENTE É TECNICAMENTE RÉU
PRIMÁRIO E PORTADOR DE BONS ANTECEDENTES.
Aliá s, compete frisar que o ú nico argumento utilizado pelo nobre Magistrado foi o seguinte:
“(...) Como bem destacou o Ministério Público, o crime praticado pelo indiciado é de natureza
grave, uma vez que se trata de tentativa de roubo, evidenciando o risco para a ordem pública
(...)”
Ora, nas razõ es expendidas no tó pico anterior, foi esclarecido que a gravidade abstrata do
delito nã o constitui motivo suficiente a justificar a segregaçã o cautelar. Desde modo, infere-
se que a prisã o preventiva do Paciente nã o está fundamentada em nenhum elemento
idô neo.
Por tudo o que foi dito, restou demonstrado que a liberdade do Paciente não acarretará
risco a ordem pública nem mesmo a aplicação da lei penal.
Sendo assim, impõ e-se a revogaçã o da prisã o preventiva, JÁ QUE O PACIENTE É
TECNICAMENTE PRIMÁRIO E PORTADOR DE BONS ANTECEDENTES, POSSUI
RESIDÊNCIA FIXA NO DISTRITO DE CULPA E TRABALHA DE FORMA LÍCITA COMO
AJUDANTE DE PEDREIRO.
III – SUBSIDIARIAMENTE
Com a reforma processual efetivada pela Lei 12.403/2011, o legislador ordiná rio deixou
explícito que a liberdade é a regra, podendo ser restringida somente em casos excepcionais.
Ao avaliar o § 6º do art. 282 e o caput do art. 321, ambos do CPP, o intérprete conclui, com
certa facilidade, que o acusado tem o direito de responder o processo em liberdade.
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por
outra medida cautelar (art. 319).
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz
deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas
no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código.
Daí se observa que o julgador deverá decretar a prisã o preventiva somente quando as
Medidas Cautelares forem insuficientes para garantir a ordem pú blica, a aplicaçã o da lei
penal e a conveniência da instruçã o criminal.
Por conta disso, caso o nobre Magistrado entenda que há riscos à ordem pública ou a
aplicação da lei penal – o que se admite somente pelo amor ao debate –, DEVERÁ ENTÃO
IMPOR UMA DAS MEDIDAS CAUTELARES ELENCADAS NO ART. 319 DO CPP e, assim,
restituir a liberdade ao Requerente.
Tendo em conta que O PACIENTE É TECNICAMENTE RÉ U PRIMÁ RIO E PORTADOR DE
BONS ANTECEDENTES, COM RESIDÊ NCIA FIXA NO DISTRITO DE CULPA E QUE, EM
LIBERDADE, TEM CONDIÇÕ ES DE SUSTENTÁ -LO COM UMA ATIVIDADE (AJUDANTE DE
PEDREIRO) EXERCIDA DE FORMA LÍCITA, DEPREENDE-SE QUE A CUSTÓDIA CAUTELAR
É TOTALMENTE DESPROPORCIONAL AOS FINS COLIMADOS NESTE FEITO.
Logo, nã o é razoá vel mantê-lo preso, porquanto a imposiçã o de uma Medida Cautelar tem o
condã o de assegurar o devido andamento do processo, assim como a resguardar a
sociedade de eventual conduta contrá ria a lei.
Nessa linha de raciocínio, encontra-se a jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, conforme as ementas colacionadas abaixo:
Nestes termos,
pede deferimento.
Rio de Janeiro, data.