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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

GERMANO, já qualificado nos autos do Habeas Corpus epigrafado, vem


respeitosamente à presença de Vossa Excelência, tempestivamente, por
intermédio de sea advogada que esta subscreve, inconformado com o acordão
que denegou a concessão da ordem de Habeas Corpus impetrado, interpor, com
fundamento no inciso II do art. 105 da Constituição Federal c/c o art. 30 da Lei
nº 8.038/90, o presente RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

Requer seja admitido e processado o recurso, com o encaminhamento das


inclusas razões ao Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Nestes termos,

Pede provimento.

Local, data.

Nome e assinatura do advogado

Nº da OAB
RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

RECORRENTE: GERMANO

RECORRIDO: Justiça Pública

HABEAS CORPUS Nº:

ORIGEM: Tribunal de Justiça do Estado de SÃO PAULO

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA COLENDA TURMA ILUSTRES


MINISTROS DOUTA PROCURADORIA DA REPÚBLICA

I – DOS FATOS

O recorrente foi preso em virtude de prisão em flagrante, lavrada na data de 12 de


agosto de 2020, como incurso nas sanções previstas no art. 16, caput, da Lei n.º
10.826/2003.
Em 13/8/2020, submetido à audiência de custódia, o Magistrado, em análise à
comunicação de prisão em flagrante, decretou a prisão preventiva do acusado,
nos seguintes termos:
O advogado do recorrente, pleiteou a revogação da prisão preventiva de seu
cliente, entretanto o pleito foi indeferido pelo juiz a quo, que assim se manifestou:
“Após analisar os autos, entendo que o pedido de revogação da prisão não
merece acolhida. Com efeito, os crimes imputados ao acusado são
sobremaneira graves, de natureza hedionda, indicando a prova indiciária, até
o momento, que o acusado portava arma de fogo de grosso calibre de uso
restrito das polícias e forças armadas, sem justificativa aparente. De outro
lado, a primariedade e os bons antecedentes não são pressupostos a impor
a liberdade de forma incontinente, destacando-se que, em casos como o
presente, melhor razão está com a bem pautada alegação do Ministério
Público, que oficiou contrariamente à revogação da prisão. Isto posto,
indefiro o pedido.”

Inconformada, a defesa do recorrente, impetrou Habeas Corpus perante o Tribunal


de Justiça do Estado de São Paulo, objetivando a concessão da ordem, sob o
argumento de que o decreto de prisão cautelar não explicitara a necessidade da
medida nem indicara os motivos que a tornariam indispensável, entre os
elencados no art. 312 do Código de Processo Penal.
Negada a liminar, o pleito foi julgado pelo colegiado da 15ª Câmara de Direito
Criminal, que, confirmando a decisão do juiz a quo, julgou por denegar a ordem,
mantendo, consequentemente, a prisão preventiva do recorrente.
Com o argumento, que “em razão do disposto no art. 21 da Lei n.º 10.826/2003,
que proíbe a liberdade provisória no caso dos crimes de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito.”

Inconformado com a decisão, o paciente, ora recorrente, por intermédio de


advogado, interpõe o presente recurso.

É o relatório.

I.II – DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE

Nos termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, caberá “recurso ordinário para o


Superior Tribunal de Justiça, das decisões denegatórias de Habeas Corpus,
proferidas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e
do Distrito Federal (...)” (BRASIL, 1990, [s.p.]). Assim, em razão de estarmos
diante de confronto com a decisão da 15ª Câmara Criminal do TJSP, que denegou
o Habeas Corpus requerido em favor do recorrente, não há que se falar em
recurso diverso para combater a ilegalidade perpetrada.
Sobre a tempestividade, nos termos do art. 798 do CPP e das Súmulas nos 310
e 710 do STF, o presente recurso se mostra tempestivo, pois seu prazo para
interposição é de 5 dias, em conformidade com a parte final do art. 30 da Lei nº
8.038/90.

Assim, deve ser recebido e processado, pois é próprio e tempestivo.

II – DO DIREITO

Trata-se de prisão preventiva indevidamente decretada pela autoridade judiciária


em face do suposto cometimento de crime de posse de arma de fogo de uso
restrito (art. 16, caput, da Lei n.º 10.826/2003).

Deve ser dado provimento ao recurso e, consequentemente, concedida a ordem


de Habeas Corpus impetrada, pois, no caso, não se mostram presentes e atuais
os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal, o qual informa
que:

A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da


ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
(BRASIL, 1941, [s.p.])

A partir da entrada em vigor do Pacote Anticrime, a decretação da prisão


preventiva passou a exigir uma fundamentação mais ampla, qual seja a
demonstração do requisito da prova do perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado, que inibe inteiramente aquela mencionada presunção de perigo ou de
risco para o processo, gerado apenas pela presença das quatro hipóteses para
decretação da prisão preventiva. Assim, por perigo não há que se fazer
interpretações, mas simplesmente demonstrar, de forma objetiva, clara, direta e
limpa, qual é o real perigo de se manter ou colocar a pessoa em liberdade,
vigendo aqui o brocardo rebus sic stantibus (as coisas como estão), devendo ser
decretada ou revogada a depender do preenchimento, especialmente, dos
requisitos previstos no art. 312 do CPP, por exemplo, se não mais ficar
demonstrado que a liberdade do indivíduo representa risco à ordem pública, ou
que o risco de fuga não mais persiste, o magistrado deve revogar a prisão
preventiva, concedendo liberdade provisória, nos termos do art. 321 do CPP, e
aplicar medidas cautelares diversas da prisão, previstas no art. 319 da mesma
norma.

De forma sucinta, sobre as hipóteses para a decretação da prisão preventiva, a


garantia da ordem pública, principal fundamento utilizado pelos magistrados, não
há um conceito legal preexistente, sendo seu conteúdo apresentado pela doutrina
e jurisprudência. Para Távora e Alencar (2016, p.917), “a decretação da preventiva
com base neste fundamento, objetiva evitar que o agente continue delinquindo no
transcorrer da persecução criminal. A ordem pública é expressão de tranquilidade
e paz no seio social”. Ainda, a decretação da preventiva com base na gravidade
do delito ou a repercussão social, isoladamente, não são elementos necessários
para a relativização do direito fundamental de ir e vir.

Sobre o entendimento do STF, Rosa e Moreira (2015, [s.p.]) informam que: A


Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ao conceder parcialmente o
Habeas Corpus nº. 130636, em relação a um dos acusados na chamada
Operação Lava-Jato, decidiu que, por mais graves e reprováveis que sejam as
condutas, isso por si só não justifica o decreto de prisão. No caso julgado, um dos
fundamentos para a decretação da prisão preventiva tinha sido exatamente ‘a
gravidade dos crimes imputados ao paciente e o fundado receito de reiteração
delitiva’. O Ministro Teori Zavascki, relator do Habeas Corpus, votou pela
substituição da prisão preventiva imposta pelo juízo da 13ª. Vara Federal de
Curitiba, por medidas cautelares alternativas, entre elas a prisão domiciliar com
uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de deixar o país.

Por conveniência da instrução criminal, para Távora e Alencar (2016, p. 919),


“tutela-se a livre produção probatória, impedindo que o agente destrua provas,
ameace testemunhas, ou comprometa de qualquer maneira a busca da verdade”.
Ainda a título de argumentação para a decretação da prisão preventiva, valendo-
se de uma ou mais hipóteses, o magistrado deve fundamentar sua decisão, assim
como deixar clara a impossibilidade da não aplicação de medida cautelar diversa
da prisão, nos termos do § 6º 12 do art. 282 do CPP.

No caso dos autos, deixando de fundamentar, e apenas referindo a gravidade do


crime como suficiente para justificar, sendo mais grave, antes da decisão
condenatória penal transitar em julgado, fere o princípio da presunção de
inocência, disposto no art. 5º, inciso LVII, da CF.

O requisito da gravidade do crime relacionado com o estado de liberdade do


imputado, deve ser demonstrado no momento da decisão, ou seja, faz-se
necessária a contemporaneidade ( § 1º do art. 315 do CPP) dos argumentos,
sequer foi mencionado.

Nota-se que o recorrente é réu primário, possui bons antecedentes, trabalho lícito,
além de possuir endereço certo e determinado, inexistindo nos autos qualquer
elemento que minimamente leve a crer na possibilidade de reiteração criminosa,
risco de fuga, constrangimento de testemunhas e, consequentemente, tampouco,
prova do perigo gerado pelo estado de sua liberdade.

Nesse sentido, existe entendimento já pacificado nos tribunais superiores,


conforme a ADIN 3.112-1/DF, do STF, que considerou inconstitucional o disposto
no art. 21 da Lei 10.826/2003, que proibia a liberdade provisória no caso dos
crimes de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, comércio ilegal de
armas de fogo e tráfico internacional de arma de fogo, tornando inaceitável, o não
cabimento da revogação da prisão cautelar.

É de se notar que não foi devidamente fundamentada a decisão da Câmara que


manteve a medida constritiva de liberdade, mantendo a total ausência de motivo
idôneo para perpetuação da prisão preventiva do recorrente.

Assim, não estando presentes os requisitos da prisão preventiva, notadamente


aqueles previstos no art. 312 do Código de Processo Penal, como também o
entendimento pacificado nas cortes superiores do judiciário, deve ser revogada a
prisão preventiva decretada em desfavor do recorrente, devendo ser posto em
liberdade provisória nos termos do art. 321 do Código de Processo Penal, com a
imposição, sendo o caso, das medidas cautelares do art. 319 do Código de
Processo Penal.

Portanto, deve ser garantida a liberdade ao recorrente nos termos do inciso LXVI
do art. 5º da CF/88, in verbis: “LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela
mantido, quando a lei admitir liberdade provisória, com ou sem fiança”
(BRASIL, 1988, [s.p.]).

III – DO PEDIDO

Ante o exposto, requer seja recebido, processado e provido o presente recurso,


para fim de ser concedida a ordem de Habeas Corpus impetrada, expedindo-se o
competente alvará de soltura em favor de GERONIMO, revogando a prisão
preventiva do recorrente e, consequentemente, permitindo que ele seja posto em
liberdade provisória, nos termos do art. 321 do Código de Processo Penal,
impondo, se for o caso as medidas cautelares previstas no art. 319 do mesmo
diploma legal, expedindo-se o competente alvará de soltura, por ser medida de
inteira justiça. Seja enviado o feito ao Ministério Público para, em querendo,
oferecer contrarrazões ao recurso.

Nestes termos,

Pede e espera provimento.

Local, data.

Nome e assinatura do advogado

Nº da OAB

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