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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

ÚNICA DA COMARCA DE UNIÃO-PI

PEDRO, brasileiro, casado, comerciante, registrado no nº XX.XXX, inscrito no


CPF nº XXX.XXXX-XX, residente e domiciliado na Rua XXX, Bairro: São Pedro, na
cidade de União-PI, por meio de seu advogado, procuração anexa, com endereço
profissional na Av.XXX, nº XXXX, nos termos do Art. 310, incisos I e III do Código de
Processo Penal, vêm respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar
RELAXAMENTO DE PRISÃO C/C LIBERDADE PROVISÓRIA COM
FIANÇA com fulcro no artigo 5º, inciso LXV da Constituição Federal, pelas razões de
fato e de direito a seguir expostas:

1. SÍNTESE FÁTICA

O Requerente é casado, pai de quatro filhos e dono de uma pequena oficina de


veículos na cidade de União-PI. Na data de hoje, por volta das 08:30 enquanto dirigia um
veículo fazendo testes e sem a intenção acabou por colidir com Maria, levando-a a óbito.
O Requerente foi preso em flagrante delito, nos termos do art. 302 do Código de
Trânsito Brasileiro, sendo realizado o exame de álcool o qual indicou que não houve
consumo, e por volta das 09h da manhã foi decretada a sua prisão de ofício nos termos
do art. 312 do Código de Processo Penal.

2. DO MÉRITO
2.1 DO RELAXAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA

O Requerente não ostenta quaisquer das hipóteses situadas no art. 312 do Código
de Processo Penal, as quais, nesse ponto, poderiam inviabilizar o pleito de liberdade
provisória.
Como se vê, o Requerente, perante a autoridade policial respondeu às perguntas
formuladas e explicou que por desatenção acabou colidindo, demonstrou em sua defesa
preliminar que é réu primário e de bons antecedentes, comprovando, mais, possuir
residência fixa, morando no mesmo lugar há mais de vinte anos e ocupação lícita, sendo
dono de uma pequena oficina de veículos.

Convém ressaltar, sob o enfoque do tema em relevo, o magistério de Orberto


Avena:

“Como é sabido, em razão do princípio constitucional da presunção da


inocência (art. 5º, LVII, da CF) a prisão processual é medida de exceção;
a regra é sempre a liberdade do indiciado ou acusado enquanto não
condenado por decisão transitada em julgado. Daí porque o art. 5º,
LXVI, da CF dispõe que: ‘ninguém será levado à prisão ou nela
mantida, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança…”

Inexistem nos autos do processo criminal em estudo quaisquer motivos que


implicam na decretação da prisão preventiva do Requerente, a decisão combatida foi
decretada de ofício pelo Magistrado que não cuidou de estabelecer qualquer liame entre a
realidade dos fatos colhida dos autos e o enquadramento em alguma das hipóteses
previstas no art. 312 do Código de Processo Penal que cabível se revelasse a prisão
cautelar, não decotando, também, quaisquer dados (concretos) de que o Requerente,
solto, poderá evadir-se do distrito da culpa.

Não é preciso muitas delongas para saber-se que é regra fundamental, extraída da
Carta Magna, que é dever de todo e qualquer magistrado motivar suas decisões judiciais, à
luz do que reza o art. 93, inc. IX da Constituição Federal:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,


disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes
princípios:
IX- todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos,
e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004)

Ainda, diante da vigência da Lei 13.964/19, que instituiu o pacote anticrime, o


magistrado não pode decretar prisão de ofício, sendo cabível o seu decreto somente a
requerimento do Ministério Público, do assistente de acusação ou por representação da
autoridade policial, o que não ocorreu no presente caso.

Vejamos o art.311 do Código de Processo Penal, in verbis:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo


penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019) (Vigência)

Portanto, ausente qualquer pedido prévio, ilegal a segregação do Requerente de


ofício, conforme posicionamento recente do Ministro Celso de Melo do STF:

"(...) 2. Impossibilidade, de outro lado, da decretação"ex officio"de


prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no curso de
investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia (ou
de apresentação), sem que se registre, mesmo na hipótese da conversão a
que se refere o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável
provocação do Ministério Público ou da autoridade policial. Recente
inovação legislativa introduzida pela Lei nº 13.964/2019 (" Lei
Anticrime"), que alterou os arts. 282, § 2º, e 311, do Código de Processo
Penal, suprimindo ao magistrado a possibilidade de ordenar,"sponte
sua", a imposição de prisão preventiva. Não realização, no caso, da
audiência de custódia (ou de apresentação). Conversão, de ofício, mesmo
assim, da prisão em flagrante do ora paciente em prisão preventiva.
Impossibilidade de tal ato, seja em face da ilegalidade dessa decisão, seja,
ainda, em razão de ofensa a um direito básico - o de realização da
audiência de custódia - assegurado a qualquer pessoa pelo ordenamento
doméstico e por convenções internacionais de direitos humanos. Medida
cautelar concedida"ex officio". (...)

- A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos
arts. 282, § 2º, e 311, também do mesmo estatuto processual penal, a
significar que se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência
de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de
qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso
mesmo, para tal efeito, anterior e formal provocação do Ministério
Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do
querelante ou do assistente do MP. Magistério doutrinário.
Jurisprudência." (STF MC em HC 186421 - SC, MIN. CELSO DE
MELO. 17/07/2020)

Nesse sentido a jurisprudência:

HABEAS CORPUS. CONDENAÇÃO. HOMICÍDIO


QUALIFICADO TENTADO. PRISÃO PREVENTIVA
DECRETADA DE OFÍCIO. Impossibilidade. Prisão relaxada.
Ausência de requerimento do Ministério Público pelo decreto da prisão
preventiva do paciente, sendo essa decretada de ofício, o que vai de
encontra à nova normativa introduzida no Código de Processo Penal
(art. 282, § 2º, e 311) pela Lei nº 11.394/19 e, portanto, caracteriza a
ilegalidade do decreto prisional.Precedentes do Supremo Tribunal
Federal.Liminar ratificada.ORDEM CONCEDIDA. UNÂNIME.
(TJ-RS - HC: 70085501310 RS, Relator: Leandro Augusto Sassi, Data de
Julgamento: 24/02/2022, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação:
22/03/2022).
Vejamos o que nos mostra o artigo 5º, inciso LXV da Constituição Federal:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade


judiciária;

A hipótese em estudo, desse modo, revela a pertinência da concessão da liberdade


provisória e o cabimento do pedido de relaxamento da prisão sempre que a prisão se
apresentar ilegal e, por essa razão, requer que seja concedido ao indiciado o Relaxamento
da Prisão Preventiva, sob pena de violação do artigo 5º, incisos II, LIV e LXVI da Carta
Magna.

2.2 DA LIBERDADE PROVISÓRIA

Diante dos fatos narrados e por se tratar de um dos principais princípios trazidos
pelo nosso ordenamento jurídico, a liberdade deverá ser resguardada e a prisão será um
ato excepcional, quando não houver mais a possibilidade da manutenção da liberdade.

É válido ressaltar que o acusado é réu primário, possui residência fixa, dono de
estabelecimento, casado, pai de quatro filhos e não possui antecedentes criminais,
conforme documentos anexos. É a primeira vez que o Sr. Pedro se depara com essa
situação narrada nos fatos acima, então é possível que Vossa Excelência conceda o
pedido de liberdade provisória com fiança ao suposto acusado, visto que essa prisão é
uma medida excepcional, imposta somente em último caso.
Assim está disposto na Constituição Federal em seu artigo 5º, LXVI:

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei


admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

Destaca-se que o Requerente não possui alta periculosidade, nem está ligado a
qualquer organização criminosa, razão pela qual sua liberdade não ocasionará prejuízos à
ordem pública, nem tampouco a firmeza da instrução criminal, assim confirma o artigo
321 do Código de Processo Penal, vide baixo:

Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão


preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for
o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e
observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Destaca-se ainda os ditames do artigo 310 do mesmo diploma processual:

Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá


fundamentadamente:

I - relaxar a prisão ilegal; ou

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os


requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem
inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso LVII, consagra o princípio
da presunção de inocência, dispondo:
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória”.

Nesse diapasão, o art. 8º, I, do Pacto de São José da Costa Rica, recepcionado em
nosso ordenamento jurídico (art. 5º, § 2º da CF/88 – Decreto Executivo 678/1992 e
Decreto Legislativo 27/1992), reafirma, em sua real dimensão o princípio da presunção
da inocência, in verbis:

“Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência
enquanto não se comprove legalmente sua culpa”.

Desse modo, o requerente faz jus aos benefícios da liberdade provisória, nos termos
do artigo 350 do Código de Processo Penal.

Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação
econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade provisória,
sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e
a outras medidas cautelares, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo justo,


qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o disposto no
§ 4o do art. 282 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).

Segue abaixo o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

HABEAS CORPUS – ROUBO QUALIFICADO – LIBERDADE


PROVISÓRIA – AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA PRISÃO
PREVENTIVA. Ausentes os requisitos do artigo 312 do Código de
Processo Penal, analisados à luz da Lei nº 12.403/11, de rigor a
concessão da liberdade provisória, com fixação de medidas cautelares,
em respeito à presunção constitucional de inocência e a ausência de
risco à sociedade em o réu responder ao processo em liberdade.
ORDEM CONCEDIDA EM PARTE. [1]

A pena máxima do crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor de


acordo com o art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro é de quatro anos, vejamos:

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se


obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Nesse sentido, o art.322 do referido código:

Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos


casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja
superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que
decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403,
de 2011).

Diante todo o exposto é evidente que a liberdade provisória é uma medida que deve
ser concedida com fiança, uma vez que, verificada a ausência dos requisitos previstos no
art. 312 do Código de Processo Penal.

Vale ressaltar que, fica a cargo de Vossa Excelência a aplicação de alguma medida
cautelar diferente de prisão, sendo o caso, poderá aplicar medidas cautelares diversas da
prisão, conforme resguarda os artigos 282 e 321 do CPP. Portanto as medidas cautelares
da prisão estão presentes no artigo 319 do CPP, onde estas possuem a mesma finalidade
da prisão preventiva.
Desta forma, faz-se necessário a concessão de liberdade provisória ao requerente.

3. DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) a intimação do Ministério Público para se manifestar sobre o pedido;


b) A conceder o RELAXAMENTO DE PRISÃO PREVENTIVA, devido à
ausência de requisitos do art. 312 e sua decretação de ofício, sob pena de violação
dos artigos art.5º, inciso LXVI e art. 93, inc. IX da Constituição Federal e art 311
do Código de Processo Penal;
c) a expedição do alvará de soltura;
d) a concessão da liberdade provisória com fiança, com fulcro nos artigos 321 e 322
do CPP e do artigo 5º, inciso LXVI da CF;
e) Aplicar a medida cautelar que Vossa Excelência julgar adequada ao caso.

Nesses termos,

Pede e espera deferimento.

DATA/LOCAL

ADVOGADO/OAB

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