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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ.

PACIENTE: MARLÚCIA ALVES DOS SANTOS

AUTORIDADE COATORA: MM. Juiz de Direito da Vara Única da Comarca de José


de Freitas - PI

PROCESSO DE ORIGEM: 0018295-22.2016.8.18.0140

“É preciso buscar-se novas diretrizes a serem


impostas, a começar pela restrição da liberdade
individual provisória somente em relação aos
crimes graves contra criminosos residuais de alta
periculosidade, alcançando- se com isso benefícios
concretos para a sociedade e para milhares e
farrapos humanos amontoados na triste realidade
dos cárceres brasileiros"
Valério Chaves, in "A prisão provisória perante os
direitos fundamentais", Teresina-PI, 2007, pág.
149.

ANA CAROLINA SOARES BARROSO, brasileira, advogada, inscritos na OAB/PI sob


o nº 17.91, domiciliados profissionalmente na Rua Zabelê, nº 1720, Bairro Cristo Rei,
Teresina-PI, vem, nos termos do art. Art. 5º, inciso LXVIII da Constituição da
República e na conformidade do Art. 647 e seguintes do Código de Processo Penal
Brasileiro, impetrar ordem de

HABEAS CORPUS PREVENTIVO COM PEDIDO DE LIMINAR

em favor da Paciente MARLÚCIA ALVES DOS SANTOS, brasileira, solteira,


autônoma, portador do RG nº 2.875.984 SSP/PI, inscrito no CPF sob o nº 045.728.063-
31, filha de Sebastiana Maria Alves dos Santos e João Pereira dos Santos, residente e
domiciliada na Rua Regina Santana s/n, Bairro Matadouro, José de Freitas -PI, que
sofre constrangimento ilegal por parte do MM. Juiz de Direito da Vara Única da
Comarca de José de Freitas - PI (Processo n° 0800191-10.2024.8.18.0029), tendo em
vista as razões de fato e de direito expostos a seguir:
1. DOS FATOS

No dia 07/março/2024, a Paciente foi surpreendida com um mandado de prisão expedido


em seu desfavor, por suposto envolvimento no crime de homicídio contra a vítima Lucas Amorim
Almeida, conforme se deflui do ofício de comunicação do cumprimento do decreto prisional,
documento em anexo.

Segundo decisão que acolheu a representação pela prisão temporária subscrita pelo
Delegado de Polícia Civil competente (docs. anexos), no dia 07 de março de 2024, a Investigada, ora
Paciente, seria suspeita de ter praticado o crime de homicídio qualificado.

Conforme se deflui do mandado em anexo, em 07/março/2024, o Juízo a quo decretou a


prisão temporária da paciente, a fim de viabilizar os esclarecimentos sobre o crime em comento.

Ocorre Excelência, conforme será devidamente explanado a seguir, embora grave o crime
imputado a Investigada, ora Paciente, vale observar que os motivos que outrora fundamentaram a
decretação da medida extrema não persistem, revelando a desnecessidade da manutenção dessa
custódia cautelar.

Como também é fato notório, tão logo teve conhecimento que estava sendo investigada
acerca do fato e que havia um mandado de prisão expedido em seu desfavor, procurou ter acesso
ao inquérito no intuito de cumprir sua função e dever legal.

A leitura conjunta dos depoimentos prestados em sede de delegacia revela uma


quantidade de relatos sem qualquer embasamento, onde as testemunhas não apontam a Paciente
como incursa no homicídio.

Dentre esses fatos trazidos em profusão, chamou a atenção o relato de uma única
testemunha que cita o nome da Paciente, mas não afirma em momento algum que a mesma foi
autora ou esteve presente na hora dos disparos.

Verifica-se também que esses mesmos fundamentos iniciais são em demasia temerários,
pois que não restaram devidamente confirmadas as informações existentes quanto à investigada
suposta participação da Paciente no crime de homicídio em apuração.

Conforme se verifica dos autos, apensado também o competente caderno investigativo, a


suposta participação da Paciente se dá tão somente porque esta teria sido vista no local que ocorreu
o crime de homicídio em apuração, ou seja, o suposto reconhecimento da Paciente foi feito em
relação apenas a um depoimento de uma das testemunhas, revelando bastante temerária a
decretação da prisão cautelar baseada exclusivamente em divagações.

Não é possível atribuir a Investigada MARLÚCIA ALVES DOS SANTOS, a coautoria ou


participação na morte da vítima, pelo que entendemos estar eivada de ilegalidade a decretação da
prisão temporária em seu desfavor, especialmente pela ausência do requisito previsto no art. 1º,
inciso III, alínea “a”, da Lei 7960/89, portanto, merece ser relaxada a referida medida ergastulatória
cautelar.

A prisão temporária decretada constitui uma medida de extremo rigor, especialmente


porque a Investigada JAMAIS foi sequer intimada para comparecer perante a Autoridade
Policial para prestar seus esclarecimentos sobre o fato em apuração, servindo a prisão cautelar
ora contestada tão somente como forma de coerção estatal na busca de uma “pseudoverdade”,
retratando fatos que não correspondem com a realidade e, o que é pior, punindo
antecipadamente uma pessoa em flagrante desrespeito às regras democráticas do devido
processo legal e demais direitos e garantias constitucionais.

Diante desses fatos, entendemos, com a devida vênia, que a prisão cautelar ora contestada
revela-se completamente excessiva e desnecessária, constituindo verdadeiro constrangimento
ilegal em face da ausência de fundamentação concreta sobre sua necessidade, que figura como
verdadeira antecipação de pena ainda nem aplicada, bem como pela individualização da
personalidade do Investigada, ora Paciente, resta suficientemente necessária e adequada ao fim a
que se destina a aplicação de medida cautelar diversa da prisão, exclusivamente para garantir o
acautelamento do devido processo legal, senão vejamos:

2. DO DIREITO

2.1 PRELIMINAR DE CABIMENTO DE HABEAS CORPUS PREVENTIVO

Preliminarmente, convém demonstrar o cabimento deste Habeas Corpus


Preventivo.

Consoante dispõe a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LXVIII:

“Art. 5º. (...)


LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou
se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”

No mesmo sentido dispõe o art. 647, do Código de Processo Penal:

“Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se


achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.”

A concessão de salvo conduto ao acusado que aguarda julgamento, inclusive de


recursos, além de encontrar vários precedentes nas cortes estaduais, também já foi
reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça:
“Ordem concedida para possibilitar a permanência do
paciente em liberdade, até o julgamento dos embargos
declaratórios tempestivamente interpostos, determinando
expedição de salvo conduto em seu favor”. (HC 33880
/ SP. 2004/0022550-0. Ministro Gilson Dipp. Data do
Julgamento: 01/06/2004) (grifo nosso).

Portanto, diante do iminente ato coator pela autoridade impetrada,


consubstanciada em manifesta ilegalidade no decreto prisional que determinou a
expedição de guia de execução penal provisória após a sentença condenatória recorrível,
sem que tenha havido qualquer fato novo ou fundamentação plausível, tem-se por
devido e cabível o presente pedido.

2.2. DO RELAXAMENTO DA PRISÃO EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS


LEGAIS QUE AUTORIZAM A PRISÃO TEMPORÁRIA

É o direito da Paciente ter relaxada a prisão ilegal decretada contra si, garantia esta
prevista constitucionalmente (art. 5º. LXV, CF/88):

“Art. 5º. (...) LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária;”

Com efeito, Nobre Magistrado, é necessário analisar o disposto no art. 1º, inciso III, alínea
“a”, da Lei 7960/89, senão vejamos:

Art. 1º. Caberá prisão temporária: (...) III - quando houver fundadas
razões de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de
autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio
doloso (art. 121, caput e seu § 2º);

Conforme se verifica dos autos, não é possível atribuir com responsabilidade a coautoria
ou participação na morte da vítima a Investigada MARLÚCIA ALVES DOS SANTOS, pois na
verdade, mesmo estando no local em que ocorreu o homicídio, não foi vista praticando nenhum
fato delituoso, pelo que entendemos estar eivada de ilegalidade a decretação da prisão temporária
em seu desfavor, especialmente pela ausência do requisito previsto no art. 1º, inciso III, alínea “a”,
da Lei 7960/89, portanto, merece ser relaxada a referida medida ergastulatória cautelar.

A interpretação que se faz da leitura da transcrição acima é no sentido de que a prisão


temporária só deve ser executada em desfavor de autores, coautores e partícipes dos crimes
taxativamente previstos em lei, o que não ocorre no caso em tela.

Portanto, constatadas as ilegalidades e excessos no decreto prisional, não é justo que a


Paciente espere mais um dia sequer com sua liberdade de locomoção cerceada de forma liminar e
arbitrária, configurando verdadeiro constrangimento ilegal e cumprimento antecipado de pena
ainda nem aplicada.

O constrangimento permitido pela lei torna-se, no entanto, ilegal, quando se constata


existir vícios insanáveis no decreto prisional, especialmente referentes à observância procedimental
pelo próprio Estado. Configura grave injustiça submeter qualquer pessoa à privação de sua
liberdade sem fundamentação idônea, como ocorre no presente caso. Cediço que a prisão cautelar é
uma medida de exceção, podendo ser decretada somente quando se apresentarem os motivos e
requisitos elencados na Lei, o que não se vislumbra no caso em tela.

Aplicando-se literalmente a garantia ínsita no art. 648, I e IV do Código de Processo


Penal, concluir-se-á que uma vez ausente a justa causa (indícios suficientes de autoria), bem como,
quando cessado o motivo outrora existente, surgirá uma coação ilegal, eis que está sendo atingido
o seu status libertatis de forma desautorizada.

“Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:


I - quando não houver justa causa; (...)
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;

Então, se o decreto prisional ora guerreado funda-se em motivos alheios à legislação


pátria, sem qualquer justificativa plausível para a decretação ou manutenção da medida extrema,
constitui constrangimento ilegal a macular a sua prisão cautelar, ensejando a possibilidade de
relaxamento.

Como é sabido, nossa Constituição Federal prevê que a prisão ilegal será imediatamente
relaxada pela autoridade judiciária, consoante os dizeres do art. 5°, inciso LXV. O referido preceito
constitucional é de eficácia plena e imediata, devendo o Juiz ao verificar que a prisão é ilegal, de
imediato mandar soltar o acusado, sendo dispensável inclusive parecer do Ministério Público.

Segundo análise do texto legal, quando do momento da interpretação da norma, esta


deve sempre ser feita em favor da liberdade do acusado, em detrimento ao cárcere deste, pois a
prisão provisória é uma exceção no nosso ordenamento jurídico, não um excesso. A presente
questão é esclarecida com bastante propriedade pelo Prof. Eugênio Pacelli de Oliveira, in Curso de
Processo Penal, 4 ed. rev. atual. ampl. – Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 439/440:

“O relaxamento ocorrerá, portanto, em todos os casos de ilegalidade,


dirigindo-se contra todas as modalidades de prisão previstas no CPP,
desde que tenham sido determinadas sem a observância das previsões
legais. (...) Como se trata de controle judicial da ilegalidade na imposição
de restrição da liberdade individual, o relaxamento será cabível, como é
óbvio, em qualquer procedimento e para quaisquer crimes, quando
houver excesso de prazo ou outra irregularidade na constrição (ver
Súmula n° 697 – STF). (...) E uma vez relaxada a prisão, a consequência
imediata será a soltura do preso, sem a imposição a ele de quaisquer
restrições de direitos, uma vez que não se cuida de concessão de
liberdade provisória, mas de anulação de ato praticado com violação à
lei. A liberdade deverá ser plenamente restituída, tal como ocorre na
revogação da preventiva, por ausência dos motivos que justificam sua
decretação.”

Pelas considerações acima, constatada a ilegalidade da prisão, não há qualquer outra


solução senão a CONCESSÃO DA PRESENTE ORDEM, com consequente relaxamento da
prisão imposta, para que o Paciente possa responder aos termos da investigação e eventual
processo criminal ou até mesmo recorrer de remota decisão de pronúncia ou sentença
condenatória em liberdade, conforme lhe permite a lei.

2.3. DA REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA EM RAZÃO DA SUA DESNECESSIDADE

Excelência, a prisão cautelar é medida extrema, que não se justifica no presente caso,
merecendo a liberdade ser concedida a Paciente porque estão ausentes os requisitos para prisão
temporária (Lei 7960/89).

Com efeito, dispõe o art. 1º, inciso I, da Lei 7960/89:

Art. 1º. Caberá prisão temporária:


I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos
necessários ao esclarecimento de sua identidade;

Consoante o disposto no art. 1º, inciso I, da Lei nº 7960/89, caberá a prisão temporária
quando imprescindível para as investigações do inquérito policial. Assim sendo, pressuposto
básico é a indispensabilidade para o inquérito policial, para se falar na possibilidade legal da
decretação de prisão temporária.

Ainda que Vossa Excelência não entenda pela ilegalidade da prisão e consequente
relaxamento, verifica-se ainda, quanto à utilidade e necessidade da medida, que não estão mais
presentes os motivos que outrora teriam justificado a decretação da prisão temporária da
Investigada.

A prisão temporária decretada constitui uma medida de extremo rigor, especialmente


porque a Investigada jamais foi sequer intimado para comparecer perante a Autoridade Policial
para prestar seus esclarecimentos sobre o fato em apuração, servindo a prisão cautelar ora
contestada tão somente como forma de coerção estatal na busca de uma “pseudoverdade”,
retratando fatos que não correspondem com a realidade do fatídico dia, pois fundamenta-se em
meras conjecturas e, o que é pior, punindo antecipadamente uma pessoa em flagrante desrespeito
às regras democráticas do devido processo legal e demais direitos e garantias constitucionais.
Referida prisão cautelar também não pode prevalecer, pois a Paciente tem residência fixa e
em nenhum momento deixou de fornecer elementos para o esclarecimento de sua identidade
(inciso II).

No caso em análise, encontra-se devidamente superada a utilidade e necessidade da


manutenção da prisão cautelar ora contestada.

Nesse sentido:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.


DESCABIMENTO. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E DESTE SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. MATÉRIA DE
DIREITO ESTRITO. MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO DO STJ, EM
CONSONÂNCIA COM O DO STF. PROCESSO PENAL. PRISÃO
TEMPORÁRIA DECRETADA EM 20/10/2011. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. MERA SUPOSIÇÃO DE QUE A
PACIENTE OBSTRUIRIA A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.
INVESTIGAÇÕES QUASE CONCLUÍDAS. AUSÊNCIA DO REQUISITO
LEGAL PREVISTO NO ART. 1.º, INCISO I, DA LEI N.º 7.960/1989.
ORDEM DE HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDA. WRIT
CONCEDIDO DE OFÍCIO. 1. O Superior Tribunal de Justiça, adequando-
se à nova orientação da primeira turma do Supremo Tribunal Federal, e
em absoluta consonância com os princípios constitucionais -
notadamente o do devido processo legal, da celeridade e economia
processual e da razoável duração do processo -, reformulou a
admissibilidade da impetração originária de habeas corpus, a fim de que
não mais seja conhecido o writ substitutivo do recurso ordinário, sem
prejuízo de, eventualmente, se for o caso, deferir-se a ordem de ofício,
nos feitos em andamento. 2. A prisão preventiva e a prisão temporária
não podem ser confundidas, pois constituem modalidades distintas de
custódia cautelar, cada qual sujeita a requisitos legais específicos. A
primeira pode ser decretada em qualquer fase da investigação criminal
ou do processo penal e demanda a demonstração, em grau bastante
satisfatório e mediante argumentação concreta (fumus comissi delicti), de
que a liberdade do acusado implica perigo (periculum libertatis) à ordem
pública, à ordem econômica, à conveniência da instrução criminal, ou à
aplicação da lei penal (art. 312 do Código de Processo Penal). A segunda,
por sua vez, subordina-se a requisitos legais menos severos, previstos na
Lei n.º 7.960/1989, e presta-se a garantir o eficaz desenvolvimento da
investigação criminal quando se está diante de algum dos graves delitos
elencados no art. 1.º, inciso III, da mesma Lei. 3. A prisão temporária, por
sua própria natureza instrumental, é permeada pelos princípios do
estado de não-culpabilidade e da proporcionalidade, de modo que sua
decretação só pode ser considerada legítima caso constitua medida
comprovadamente adequada e necessária ao acautelamento da fase pré-
processual, não servindo para tanto a mera suposição de que o suspeito
virá a comprometer a atividade investigativa. 4. Hipótese em que o Juízo
de primeira instância fundamentou a imprescindibilidade da medida na
gravidade abstrata do delito - "[...]modalidade criminosa que vem
flagelando os usuários das rodovias desta importante região
[...]",violando, assim, o dever geral de motivação das decisões judiciais
(art. 93, inciso IX, da Constituição da República) e a regra de que
ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
(devidamente) fundamentada de autoridade judiciária competente (art.
5.º, inciso LXI da Constituição da República). 5. O argumento de que a
Paciente encontra-se em local incerto e não sabido não foi aventado no
decisum de primeira instância. Assim, a fundamentação exarada pela
Corte a quo constitui nítida complementação da decisão constritiva
originária, providência sabidamente vedada em ação constitucional de
habeas corpus, impetrada em interesse exclusivo da Defesa. Precedentes.
6. O fato de a investigação estar quase concluída sem que haja notícia de
que a Investigada tenha, de alguma forma, interferido na produção das
provas pré-processuais consideradas relevantes, é, no caso, razão
suficiente para que o decreto de sua prisão temporária seja
imediatamente revogado, nomeadamente porque a custódia extrema
carece do requisito previsto no art. 1.º, inciso I, da Lei n.º 7.960/1989 e,
assim, não mais se sustenta nos motivos que a ensejaram em um primeiro
momento. 7. O transcurso de considerável lapso temporal sem que o
mandado de prisão temporária tenha sido cumprido indica, por si só, que
não estão mais presentes os requisitos da medida constritiva previstos na
Lei n.º 7.960/89. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e desta Corte.
8. Ordem de habeas corpus não conhecida. Writ concedido de ofício para
revogar a prisão temporária decretada em desfavor da Paciente, sem
prejuízo da implementação de medidas cautelares diversas da prisão ou
da decretação de prisão preventiva, caso preenchidos os requisitos
previstos no art. 312 do Código de Processo Penal. (STJ - HC: 286981 MG
2014/0011048-1, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento:
18/06/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/07/2014)

Conforme se deflui da farta documentação em anexo, o Investigado/Paciente não é


pessoa com periculosidade concreta ou mesmo presumida, tampouco possui personalidade
voltada para a prática de delitos, é uma jovem de apenas 32 anos de idade (nascida em 1987), não
cometeu nenhum delito até a presente data, pelo que atualmente possui conduta ilibada no
meio social em que vive, sendo esta a primeira vez que se viu envolvida em um evento dessa.

A Investigada/Paciente tem residência fixa na cidade de José de Freitas-PI, onde


atualmente mora juntamente com seus dois filhos, conforme grupo familiar declarado junto ao
CADÚnico, que necessitam dos seus cuidados pois é arrimo do sustento afetivo, em uma família
financeira e emocionalmente estruturada, bem como possui ocupação lícita e estável, sendo
autônomo no ramo comerciário que funciona na sua própria residência, logo, não se apresenta
como ameaça à investigação e eventual futura ação penal.

É importante salientar que a Paciente é genitora do Mario Lucky dos Santos Brito,
nascido em 23 de abril de 2015, atualmente com nove anos de idade e João Gabriel Alves da
Costa, nascido em 22 de janeiro de 2009, atualmente com quinze anos de idade e conforme laudo
médico acostado aos autos, portador AUTISMO - CID: F84.0, TRANSTORNO
DESAFIADOR/OPOSITOR - CID: F91.3, TRANSTORNO DE HUMOR – CID: F39.

A Paciente tem em seu favor ainda a condição de viver em um ambiente familiar e social
saudável, pautado em ensinamentos religiosos, sendo frequentador assíduo dos cultos semanais
juntamente com a sua família.

O mandado de prisão causou surpresa no meio social em que vive, pois é conhecida como
pessoa de bem e de reputação imaculada por todos, e devastou a sua família por inteira,
principalmente seus filhos, que a admiram e possuem forte vínculo de dependência financeira e
emocional.

Vale notar, o Paciente faz jus a sua liberdade cumulada com aplicação de medida cautelar
diversa da prisão, posto que não existem motivos que demonstre a necessidade imperiosa da
medida extrema, bastando a aplicação de outra medida cautelar diversa para a finalidade do
instituto, qual seja, a garantia da investigação que servirá de base do futuro processo e obediência
às suas regras democráticas.

Na mesma linha, cumpre observar que, caso seja posta em liberdade, a Paciente não
acarretará qualquer embaraço para a solução do presente feito e nem pretende se evadir do
distrito da culpa ou mesmo intimidar eventuais testemunhas, e muito menos cometer qualquer
delito, pretende sim, e tão somente, responder ao processo em liberdade como lhe é de direito,
inclusive submetido a outra medida cautelar, vez que, no presente caso, a prisão temporária
revela-se totalmente excessiva, pois incabível e desnecessária ao fim a que se destina.

Com a devida vênia, cumpre observar que a respeitável decisão que decretou a prisão
temporária da Investigada/Paciente carece de fundamentação concreta quanto à necessidade da
manutenção da medida, bem como carece de proporcionalidade e adequação, fazendo mera
menção aos dispositivos legais e supostas considerações sobre os fatos, sem de fato amoldá-los
individualmente a elementos firmes de convicção.

Excelência, atente-se não caber a esse Tribunal fundamentar, em sede de Habeas Corpus
não originário, a decretação da prisão temporária, mas sim analisar, tão somente, se houve ou não
a devida fundamentação na decisão proferida pelo Juízo a quo, sob pena de odiosa supressão de
instância.

Esta ressalva, faz-se necessária, pois não é incomum, muito pelo contrário, encontrarmos
em processos como tais, verdadeiras decisões que, a propósito de denegarem a ordem, substituem
o Juízo de 1º. grau, decretando fundamentadamente a prisão temporária, subvertendo de forma
absurda uma garantia constitucional da liberdade de locomoção. Em outras palavras: o Habeas
Corpus passa a ser uma garantia constitucional para se prender (!) e não para se analisar a
constitucionalidade de uma decisão de 1º. Grau não fundamentada.
Ora Excelência, em que pese as condições subjetivas favoráveis da Paciente, por si só, não
ser garantidora da concessão de liberdade provisória, tal entendimento somente pode ser aceito
quando devidamente demonstrada a presença concreta dos requisitos que autorizam a prisão
temporária, o que não ocorre no caso em apreço.

Na realidade, pelas circunstâncias e elementos de informações até então colhidos e


apresentados pela Autoridade Policial, não se pode admitir, ou mesmo afirmar com certeza
absoluta, que a Investigada/Paciente tenha qualquer participação no crime em apreço.

Risco maior verifica-se do envio desta cidadã a qualquer das unidades prisionais do
Estado, pois além de não garantir sequer a integridade física e psicológica dos custodiados, servem
apenas de depósito humano e antro de aprendizado do crime e transformação de uma pessoa que
eventualmente cometeu um erro isolado na vida, em um criminoso verdadeiramente contumaz e
perigoso.

Quanto a suposta “gravidade concreta da conduta praticada”, depreendese que esta já é


considerada e punida pelo próprio tipo penal, e não há nos autos elementos que extrapolem a
reprovabilidade da conduta, não passando de meras conjecturas e ilações desprovidas de
embasamento concreto.

A prisão temporária é medida extrema que implica sacrifício da liberdade individual,


devendo ser entendida como medida cautelar, cuja função meramente instrumental deve se fundar
em razões objetivas e concretas, capazes de corresponder às hipóteses legais que a autorizem.
Portanto, não estando presentes os requisitos autorizadores da manutenção da aludida prisão, a
Investigada faz jus a liberdade como direito fundamental.

Aliás, nesse sentido, é a mens legis disposta no art. 321, do Código de Processo Penal, ora
interpretado analogicamente:

“Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão


preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for
o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e
observados os critérios constantes do art. 282 deste Código.”

Observa-se que o legislador erigiu os fundamentos autorizadores da prisão temporária a


requisitos gerais, a serem cumpridos para a justificação da prisão cautelar, devendo sempre serem
analisados no caso concreto, para se aferir a necessidade da manutenção de tal medida constritiva
de liberdade. Ressalta-se, ainda, que não basta a análise abstrata dos requisitos, mas sim a
adequação destes ao caso concreto, para que possa incidir a positividade da lei. Vale lembrar que o
clamor público e a gravidade do delito não são suficientes, por si só, para justificarem a prisão
provisória, conforme posicionamento mais abalizado da doutrina e da jurisprudência pátrias.

Assim, trazemos a jurisprudência dominante do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:


“A ACUSAÇÃO PENAL POR CRIME HEDIONDO NÃO JUSTIFICA A
PRIVAÇÃO ARBITRÁRIO DA LIBERDADE DO RÉU. – A prerrogativa
jurídica da liberdade – que possui extração constitucional(CF, art.5°,LXI e
LXV) – não pode ser ofendida por atos arbitrários do Poder Público,
mesmo que se trate de pessoa acusada da suposta prática de crime
hediondo, eis que, até que sobrevenha sentença condenatória irrecorrível,
não se revela possível presumir a culpabilidade do réu”.( HC n°80.379,
Rel. Min.CELSO DE MELLO, DJ de 25.05.2001)”

“AÇÃO PENAL. Prisão preventiva. Decreto fundado na gravidade do


delito, a título de garantia da ordem pública. Inadmissibilidade. Razão
que não autoriza a prisão cautelar. Constrangimento ilegal caracterizado.
Precedentes. É ilegal o decreto de prisão preventiva que, a título de
necessidade de garantir a ordem pública, se funda na gravidade do
delito”.

Afastado está o argumento de que a simples gravidade do fato supostamente cometido


pela Paciente seja suficiente para a manutenção da custódia cautelar. Ressalte-se que a revogação
da prisão temporária do Investigado não acarreta qualquer risco à investigação, risco esse que deve
ser amparado em elementos concretos, objetivos e suscetíveis de autorizar a imposição do
cerceamento precoce do direito de ir e vir.

Diante desta análise, como não há risco para a investigação policial, nem para eventual
futura instrução processual penal, tampouco para a futura aplicação da lei penal, tampouco para
a garantia da ordem pública ou da ordem econômica, deve a Paciente responder em liberdade à
imputação que lhe é feita, principalmente porque os cidadãos têm em seu favor o PRINCÍPIO
DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA esculpido na Constituição Federal de 1988.

Logo, nos termos da legislação positiva em vigor, a Paciente faz jus ao restabelecimento
da liberdade, para que desta forma acompanhe o desenrolar da controvérsia penal em pleno
gozo da sua liberdade, já que esta é a regra no estado democrático de direitos, sendo a prisão
cautelar uma exceção, não aplicável ao presente caso.

2.4. DO CABIMENTO DE MEDIDA CAUTELAR DIVERSA DA PRISÃO

O art. 282 do Código de Processo Penal, com a modificação dada pela Lei 12.403/11, passou
a uma nova ótica, pois, somente em último caso, a medida extrema (prisão) é aplicada, e somente
quando não cabível a aplicação das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP.

Para a decretação da referida medida, inovação da Lei 12.403/2011, é de fundamental


importância a avaliação, em concreto, da necessidade, adequação e proporcionalidade da tutela
cautelar pretendida (artigo 282, incisos I e II, do CPP). Impende assinalar que, o princípio da
adequação e proporcionalidade que se espera seja prestigiado no presente caso, com as alterações
introduzidas pela Lei nº 12.403/2011, foi positivado na nova redação do artigo 282, inciso II, do
CPP, ao determinar que as medidas cautelares devem ser “adequadas à gravidade do crime e às
circunstâncias do fato, além de atender às condições pessoais do indiciado ou acusado”.

“Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser


aplicadas observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a
instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a
prática de infrações penais;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e
condições pessoais do indiciado ou acusado.
§ 1º. As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
§ 2º. As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a
requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal,
por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
Ministério Público.
§ 3º. Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da
medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a
intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e
das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo.
§ 4º. No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o
juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu
assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em
cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312,
parágrafo único).
§ 5º. O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituíla quando
verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-
la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
§ 6º. A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar (art. 319)”.

Ora, Excelência, neste último parágrafo, verifica-se que a própria norma determina que, a
prisão preventiva só será decretada quando não cabível a substituição por outra medida cautelar,
pelo que interpreta-se extensivamente à prisão temporária, o que não ocorre no presente caso.

Cuida-se o presente para requerer à Vossa Excelência que se digne em impor tão somente
medida cautelar diversa da prisão (art. 319, CPP), na forma do artigo 282, §2º, do Código de
Processo Penal, vindo, primeiramente, a não restringir diretamente a liberdade de locomoção da
Paciente, implicando na não decretação da sua custódia cautelar sem a devida motivação e
necessidade, como já explanado acima, e na consequente concessão da liberdade para que possa
responder à investigação e futuro processo em liberdade, como lhe é de direito.

Como autorizado pelos artigos 282, § 4° e 312, parágrafo único, do Código de Processo
Penal, somente com o descumprimento da medida cautelar diversa da prisão imposta, deve o Juiz
decidir pela segregação cautelar da liberdade.
Outro não é o posicionamento do STJ que, ante a falta de comprovação válida e
consubstanciada do periculum in mora, entende que não se justifica a manutenção da prisão
processual (6ª T., HC 5.247/RJ, rel. Min. Willian Patterson, j. 16-12-1996, v.u., DJU, 4 ago. 1997, p.
34886).

Dessa forma, nos termos da legislação pátria em vigor, imperiosa a concessão da liberdade
à Paciente a fim de resguardar seu direito Constitucional subjetivo de colaborar com a investigação
ou eventual ação penal em liberdade, pois, repita-se, a mesma não causará qualquer embaraço e
empenhará esforços para colaborar na elucidação do ocorrido que testemunhou.

Ora, não há motivos autorizadores para a decretação da custódia cautelar, vez que assiste à
investigada, por suas condições objetivas e subjetivas, o direito de responder ao inquérito e futuro
processo em liberdade provisória vinculada, sem ônus, vez que os pressupostos constantes nos
artigos 323 e seguintes do CPP (Redação Alterada Pela Lei Federal nº 12.403/2011) militam
favoravelmente ao seu favor, não se olvidando da regra inserta no art. 5º, inciso LXVI, da
Constituição da República.

Neste aspecto, há de se observar que a concessão da liberdade não representa mero


benefício, mas sim direito subjetivo da Investigada, que tem assegurado pela Constituição Federal
o direito de aguardar em liberdade até que o título que legitime sua custódia definitiva seja
constituído sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. No caso em apreço, pesa em favor da
Paciente as boas condições subjetivas dele, somado ao fato de não se encontrar, neste momento, as
hipóteses descritas no art. 1º da Lei 7960/89.

A Lei 12.403/2011 trouxe ao ordenamento jurídico pátrio novas medidas cautelares


diversas da prisão preventiva (art. 319, CPP), que podem ser aplicadas se presentes os requisitos
gerais do fumus comissi deliciti e periculum libertatis daquela medida preventiva e os princípios
da necessidade, adequabilidade, suficiência e da razoabilidade da medida cautelar, aplicada para
garantir a aplicação da lei penal, a investigação ou instrução criminal e evitar a prática de infrações
penais pelo agente.

Vale dizer, tratando-se de medida cautelar processual penal, a decretação e/ou


manutenção de qualquer das medidas processuais penais cautelares elencadas no art. 317, art.
318 e art. 319, CPP, é medida que se fundamenta na excepcionalidade e necessidade, sendo
cabível quando se fizerem presentes os requisitos do fummus boni iuris ou fummus commissi
delicti (prova da existência do crime e indícios da autoria) e periculum in mora (a liberdade do
acusado representa grave perigo), em consonância com os princípios da necessidade,
adequabilidade, suficiência, proporcionalidade e da razoabilidade da medida cautelar, quando
necessária para aplicação da lei penal, investigação ou instrução criminal e evitar a prática de
infrações penais, além do que deve ser adequada à concreta gravidade do crime, circunstâncias
do fato e condições pessoais do agente, nos termos do art. 282, CPP.

Tecendo comentários acerca do art. 282, II, CPP, Guilherme de Souza Nucci leciona:
“Quanto aos requisitos de adequabilidade, o primeiro deles concerne à
gravidade do delito. É preciso avaliá-la concretamente (....) Deve-se
avaliar a gravidade real da infração, podendo-se decretar – ou não –
medidas cautelares em crimes como roubo, extorsão, homicídio, etc.
Aliás, se tais delitos atentarem diretamente contra a segurança pública
(garantia da ordem pública), cabe a prisão preventiva e não medidas
cautelares alternativas. (...) As condições pessoais do indiciado ou
acusado são as inerentes ao modo de ser do indivíduo ou as qualidades
jungidas à pessoa humana, tais como menoridade relativa (menos de 21
anos) ou senilidade (maior de 70 anos), primariedade ou reincidência,
bons ou maus antecedentes, personalidade, conduta social, dentre outros.
Nota-se, neste quesito, a mais apegada comparação à individualização a
pena, considerada, para fins processuais, como individualização da
medida cautelar.” – grifei.

No mesmo sentido o ensinamento de Aury Lopes Junior:

“Sem dúvida a maior inovação da Lei 12.403/2011, ao lado da


revitalização da fiança, é a criação de uma polimorfologia cautelar, ou
seja, o estabelecimento de medidas cautelares diversas da prisão, nos
termos do art. 319, rompendo com o binômio prisão-liberdade até então
vigente. Importante sublinhar que não se trata de usar tais medidas
quando não estiverem presentes os fundamentos da prisão preventiva.
Nada disso, são medidas cautelares e, portanto, exigem a presença do
fummus commissi delicti e do periculum libertatis, não podendo, sem
eles, serem impostas. Inclusive, se durante uma prisão preventiva
desaparecer completamente o requisito e/ou fundamento, deve o agente
ser libertado se a imposição de qualquer medida alternativa. (...) A
medida alternativa somente deverá ser utilizada quando cabível a prisão
preventiva, mas, em razão da proporcionalidade, houver uma outra
restrição menos onerosa que sirva para tutelar aquela situação. É
importante compreender que as medidas do art. 319 têm o caráter
substitutivo em relação à prisão preventiva e, portanto, não podem ser
desconectadas dos seus limites, requisitos e pressupostos. (...) Sublinhe-
se: aplicação de medida cautelar diversa somente pode ocorrer se
presentes o fummus commissi delicti e o periculum libertatis. E, ainda
que o art. 313 discipline os limites de aplicação da prisão preventiva,
também deverá ser utilizado como balizador nas medidas cautelares
diversas, não só por questão de coerência e harmonia do sistema cautelar
(imposto pela necessária interpretação sistêmica), mas também pelo seu
inegável caráter substitutivo, art. 282, § 6º, do CPP. (...) Em suma: as
medidas cautelares diversas são alternativas à prisão preventiva e devem
ser aplicadas com caráter substitutivo, nos limites e casos em que couber
aquela.
E quando pode ser empregada a medida cautelar diversa?
- a qualquer tempo, no curso da investigação ou do processo, quando se
fizer necessária a medida de controle;
- a qualquer tempo, no curso da investigação ou do processo, como
medida alternativa à prisão preventiva já decretada e que se revele
desproporcional ou desnecessária à luz da situação fática de perigo;
- aplicada juntamente com a liberdade provisória, no momento da
homologação da prisão em flagrante pelo juiz, como medida de
contracautela (alternativa à prisão em flagrante);
- a qualquer tempo está permitida a cumulação das medidas
alternativas, quando se fizer necessário.”

Tecendo comentários acerca dos critérios para a escolha e decretação das medidas
cautelares restritivas, Renato Marcão leciona:

“O primeiro critério a ser observado é o da necessidade da medida, que


tem relação com a utilidade da restrição para a investigação ou instrução
criminal, ou ainda, nos casos expressos em lei, para evitar a prática de
infrações penais ... Outro critério expresso é o da adequação. Por isso,
adequação tem o sentido de proporcionalidade e razoabilidade,
remetendo à ideia de individualização da medida que deverá ser
escolhida, levando em conta a gravidade do crime, circunstâncias do
fato e condições pessoais do indiciado ou acusado, sob pena de revelar-
se inócua. (...) Com vistas a atender aos critérios de necessidade e
adequação, as medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, razão que se buscará aferir mediante critérios de
proporcionalidade e suficiência.”

O disposto nos arts. 317 usque 319, CPP, não é uma imposição legal, mas sim faculdade do
magistrado quando considerar pertinente e suficiente aquela substituição, haja vista que só pode
ser concedida quando favoráveis ao agente suas condições pessoais e as circunstâncias em que se
deram o crime a ele imputado, conforme ocorre no caso. Portanto, a melhor solução é a concessão
do presente pleito para que a Paciente possa responder ao inquérito e futuro processo em
liberdade, sem prejuízo da aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, conforme lhe
permite a lei.

2.5. DA NECESSIDADE DE GARANTIA DOS DIREITOS INERENTES AOS PRESOS


TEMPORÁRIOS

De outra sorte, conforme consta da decisão ora guerreada, de forma até cautelosa pontuou
a necessidade de observação pela autoridade policial das exigências da Lei nº 7.960/89, quanto aos
direitos dos presos.

Porém também justifica revogação da prisão temporária do Paciente em razão da


impossibilidade de obediência ao disposto no art. 3º da Lei 7960/89.

Assim, dispõe o art. 3º da Lei 7960/89:


“Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoriamente,
separados dos demais detentos.”

Ante o exposto, requer-se a concessão da ordem de habeas corpus ora impetrada, para
substituir a custódia temporária do Paciente por outra medida cautelar, caso não se entenda pela
expedição de alvará de soltura em razão da ausência de fundamentação idônea e de necessidade
do decreto prisional.

2.6. DA MEDIDA LIMINAR

Ainda que inexista previsão legal de concessão de medida liminar em habeas corpus, tal
prática vem sendo reiteradamente admitida pelos tribunais pátrios, desde que configurados o
fumus boni iuris e o periculum in mora.

O fumus boni iuris é extraído da existência do constrangimento ilegal notoriamente


delineada nos autos. O periculum in mora, por sua vez, emana da lesividade que a demora na
prestação jurisdicional pode inflingir à pessoa. Como se vê, estão presentes, no caso em tela, os
dois requisitos que autorizam a concessão liminar do Writ.

Com efeito, há fumus boni iuris, pois o direito subjetivo da Paciente à liberdade está sob
patente violação, demonstrando, assim, a verossimilhança do alegado. Quanto ao periculum in
mora, se a medida liminar não for concedida, haverá prejuízo para a Paciente, pois estará
privada de sua liberdade de ir e vir mediante evidente constrangimento ilegal que merece
imediata cessação, bem como, sujeito à condenação social.

Ora, Excelência, está claro que o caso da Paciente não se enquadra em qualquer dos
requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal, não sendo legalmente permitida a decretação
de sua prisão preventiva, que merece ser imediatamente revogada.

Por fim, a decisão atacada é nitidamente abstrata, descrevendo as questões legais atinentes
ao instituto da prisão sem apontar, como haveria de ser, as circunstâncias do caso concreto que
tornassem imperiosa a segregação cautelar.

O periculum in mora – desnecessários demais argumentos – decorre da própria segregação


cautelar do Paciente, dado que a constrição da liberdade do indivíduo – caso implique ilegal
constrangimento – é lesão que se prorroga e aumenta dia a dia, majorando, desnecessariamente, o
sofrimento humano.

Diante das circunstâncias peculiares narradas, em consonância com o ordenamento


jurídico e o mais abalizado entendimento jurisprudencial pátrios, temos que o mais adequado ao
presente caso seja a substituição da segregação cautelar, cassando-se o decreto de prisão
preventiva, para aplicar outras medidas cautelares mais convenientes à situação dos autos (artigos
282 e 319), permitindo a Paciente que, livremente, compareça em juízo quando devidamente
intimado para tanto.

Inclusive, nada impede que, caso descumpridas as medidas cautelares impostas, o juízo a
quo determine novamente a prisão da Paciente, conforme autoriza o parágrafo único do artigo 312
do Código de Processo Penal.

Demonstrado que a prisão do Paciente é ilegal e desnecessária ao fim a que se destina,


seu relaxamento/ revogação com conseqüente concessão do benefício da liberdade provisória
incontineti é medida que se impõe, a fim de que seja reparado o constrangimento ilegal sofrido
pelo mesmo.

3. DO PEDIDO

Diante de todo o exposto, requer, LIMINARMENTE, a concessão da ordem de HABEAS


CORPUS, para que cesse imediatamente o constrangimento ilegal que está sendo imposto ao
Paciente.
NO MÉRITO, considerando a falta de fundamentação da decisão que mantém a custódia
do Paciente, bem como a ausência dos requisitos autorizadores da prisão temporária, além de
encontrarem-se presentes as condições favoráveis para a concessão de liberdade do paciente, pois
desnecessária a medida extrema, sem prejuízo da aplicação de outras medidas cautelares diversas
da prisão, REQUER que após requisitadas as informações da ilustre autoridade coatora e ouvido o
digno Representante do Ministério Público Superior, Vossas Excelências se dignem em conhecer do
presente Writ, para que seja confirmada a medida liminar com a concessão em definitivo da ordem
em favor da paciente MARLÚCIA ALVES DOS SANTOS, expedindo-se o competente Alvará de
Soltura, resguardando o seu direito constitucional de responder ao inquérito e eventual processo,
bem como, aguardar o julgamento em liberdade, por ser medida de JUSTIÇA!

Nesses termos,
Pede deferimento.

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