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AO JUÍZO DO SESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGINAL

FEDERAL DA ... REGIÃO

IMPRETRANTE: Zé da Farmácia
PACIENTE: ...
AUTORIDADE COATORA: ....

Por meio de procuração subscrita em anexo, advogado ... inscrição na OAB nº


..., com escritório no endereço ...., nesta cidade, que indica para fins do art. 77,
V do CPC, vem impetrar HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR
fundamentado no art. 5º, LXCIII, da CRFB/88 e art. 648, IV do CPP.
Em favor de Zé da Farmácia, brasileiro, estado civil ...., Presidente da Câmara
dos Vereadores, residente e domiciliado no endereço XXXXX N° XX Bairro: ...
Cidade: ..., pelas seguintes razões de fato e de direito em face contra ato da
autoridade coatora do Meritíssimo Juiz de Direito da ... Vara Criminal da
Comarca de Conceição do Agreste/CE pelas seguintes razões de fato e de
direito a seguir:

I - DOS FATOS

No dia 03 de fevereiro de 2018, o Delegado de Polícia do Município, Dr. João


Rajão, recebeu em seu gabinete o Sr. Paulo Matos, empresário, sócio de uma
empresa interessada em participar das contratações a serem realizadas pela
Câmara de Vereadores.

Imediatamente, o Sr. Paulo relatou ao Delegado que, naquela data, o Vereador


João Santos, o João do Açougue, que exerce, atualmente, a função de
Presidente da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara de Vereadores
do Município de Conceição do Agreste/CE, junto aos vereadores Fernando
Caetano e Maria do Rosário, membros da mesma Comissão, haviam exigido
de Paulo o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para que sua empresa
pudesse participar do referido procedimento licitatório, que estava agendado
para o dia seguinte.

A vítima estava bastante nervosa e apreensiva com tal exigência, uma vez que
sua empresa preenchia todos os requisitos legais para participar da referida
concorrência, que era fundamental, inclusive, para a manutenção de seu
negócio. Deste modo, não titubeou em procurar a polícia e relatar todo o
ocorrido.

Após ouvir atentamente a narrativa de Paulo, o Delegado João, visando


prender todos os envolvidos em flagrante delito, orientou Paulo a sacar o
dinheiro e combinar com os vereadores a entrega da quantia na própria sessão
de realização da licitação, oportunidade em que uma equipe de policiais
disfarçados estaria presente para efetuar a prisão dos envolvidos.

Assim, no dia seguinte, no horário e local designados para a realização da


concorrência pública, os policiais, que esperavam o ato, realizaram a prisão em
flagrante dos vereadores João do Açougue, Fernando Caetano e Maria do
Rosário, no momento em que estes conferiam o valor entregue por Paulo.

Ocorre que, por ironia do destino, seu cliente, Zé da Farmácia, na qualidade de


Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Conceição do
Agreste/CE, resolveu, naquele exato dia, assistir à Sessão da Comissão de
Finanças e Contratos da Câmara para verificar se ela estava realizando seu
trabalho de maneira correta e eficaz.

Desta forma, mesmo sem ter ciência de nenhum dos fatos aqui narrados,
estava presente no Plenário da Câmara no momento da operação policial e
acabou também preso em flagrante, acusado de participar do esquema
criminoso.

Apresentados ao Delegado João Rajão, este lavrou o respectivo auto de prisão


em flagrante delito da forma estabelecida na legislação pátria (pela prática do
delito de corrupção passiva, previsto no artigo 317, do Código Penal) e o
encaminhou ao Juiz competente no prazo devido.

Comunicada a Autoridade Judiciária, esta determinou a apresentação dos


presos, em audiência de custódia, a ser realizada no dia seguinte à prisão.

Na data e no horário designados, os réus foram representados pelo Procurador


da Câmara dos Vereadores, que requereu a liberdade deles, com a decretação
de medidas cautelares diversas da prisão.

Entretanto, o MM. Juiz, acatando o pedido do Ministério Público de conversão


da prisão em flagrante em prisão preventiva, decretou a prisão preventiva de
todos, nos termos do art. 310, II, c/c art. 312, c/c art. 313, I, todos do CPP, para
garantia da ordem pública, tendo em vista a gravidade e a repercussão do
crime.

Il – DA ILEGALIDADE DA PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO


A prisão em flagrante de delito não tem fundamento de acusação, pois temos
desconsiderações no Art. 302 do CPP que expõe:

“Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

III - é perseguido, logo após, pela autoridade,

pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situa ção que faça


presumir ser autor da infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumento, armas, objetos


ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.”
Acompanhado do art. 648 do CPP, que trata da ilegalidade do ato praticado contra o
acusado:

“Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

I - quando não houver justa causa;

II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que


determina a lei;

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para


fazê-lo;

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;

V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos


em que a lei a autoriza;

VI - quando o processo for manifestamente nulo;

VII - quando extinta a punibilidade.”


Com a classificação da prisão ilegal fundamentada, exaurida pelas devidas
classificações do caso, o relaxamento da prisão deve ser feita de imediato como
discorre o art. 5, LXI da CRFB/88:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária;”

III – DA INVALIDADE DO FLAGRANTE

De acordo com a súmula 145 do Supremo Tribunal Federal,


"não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
sua consumação", ou seja, não há crime quando o fato é preparado mediante
provocação ou induzimento, direto ou por concurso, de autoridade, que o faz
para fim de aprontar ou arranjar o flagrante.
Ou seja, a conduta de preparação e indução do flagrante torna o ato invalido,
portanto, de acordo com o entendimento so Supremo Tribunal Federal, não há
crime pela conduta anular o crime.

IV – DO PEDIDO LIMINAR
O fato de ter seu direito de liberdade restringido e em audiência de custódia
não ter aplicação do relaxamento, afeta seu direito fundamental previsto no 5º,
inciso XV, da CRFB/88, causando dano e impossibilidade de reparação de seu
direito.
Com eminente risco direto ao resultado útil do processo, o art. 300 do CPC
acolhe o pedido liminar de urgência.

III – DOS PEDIDOS


Ante o exposto, requer que seja concedida a ordem de habeas corpus,
liminarmente, em favor do paciente, uma vez que presentes a probabilidade de
dano irreparável e a fumaça do bom direito, a fim de que seja relaxada a prisão
em flagrante ou concedida a liberdade provisória com ou sem medidas
cautelares e com ou sem fiança, no que for mais favorável ao paciente e
expedido o competente alvará de soltura.

Requer a concessão da presente ordem de habeas corpus com a consequente


expedição de alvará de soltura, concessão da liminar, regular prosseguimento
do feito e no mérito a concessão definitiva do presente writ.

Requer ainda o regular prosseguimento do feito com a ratificação da liminar


concedida, decretando-se a liberdade provisória ao paciente
Nesses termos.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Agreste, data ...

Advogado
OAB/...

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