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AO MM.

JUÍZO DE DIREITO DA 00ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


FORTALEZA/CE

Stoichkov Van Balakov, holandês, estado civil, profissão, documento de identificação, residência e
domicílio, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por meio de André Luiz dos Santos
Figueiredo Júnior, inscrito no Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ,
localizado na Rua Moncorvo Filho, n. 8 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, para propor o presente pedido
de

RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

com fulcro no artigo 5º, inciso LXV, da Constituição Federal e no artigo 310, inciso I, do Código de
Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir apresentadas:

I. DOS FATOS

1. No dia 14 de maio de 2021, o senhor Van Balakov, que passava férias no Brasil, foi surpreendido por
uma abordagem policial ao descer do Aeroporto Internacional de Fortaleza/CE.

2. A abordagem resultou na sua prisão em flagrante por, supostamente, portar 2 kg de sementes de


cannabis sativa (substância entorpecente popularmente conhecida como maconha).

3. Foi constatado, contudo, que Jônio Carvalho, policial à paisana que posava como suposto traficante de
drogas, mantendo contato por meses com o autor, tendo ele encomendado as sementes.

4. Os policiais o conduziram à Delegacia de Polícia Federal do aeroporto, onde foi indiciado pela prática
do crime de tráfico de substância entorpecente (art. 33 c/c art. 40, I da Lei no 11.343/06).

5. Ocorre que, uma vez lavrado o auto de prisão em flagrante, a autoridade policial não entregou nota de
culpa ao preso e tampouco comunicou à Defensoria Pública da União ou a qualquer Advogado.
6. Ademais, a audiência de custódia foi designada apenas para 17 de maio de 2021, na Central de
Audiência de Custódia de Fortaleza/CE.
II. DOS FUNDAMENTOS

7. De início, verifica-se que o ato do policial infringiu ao que enuncia a Súmula 145 do Supremo Tribunal
Federal, tendo em vista que houve uma preparação do flagrante pela polícia, tornando impossível a
consumação do crime. Veja-se:

Súmula 145. Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.

8. Posteriormente, verifica-se que autoridade policial responsável pela lavratura agiu, ainda, com
desrespeito ao que determina o artigo 306, § 1º do CPP, uma vez que não encaminhou o auto para a
Defensoria Pública ou a qualquer advogado no prazo de 24 horas:

Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente
o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para
a Defensoria Pública.

9. Outrossim, constata-se que a ilegalidade é reiterada, tendo em vista que a nota de culpa não foi entregue
ao senhor Van Balakov no prazo estipulado pela lei, especificamente, pelo § 2º do mesmo artigo, in
verbis:

§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade,
com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.

10. Como se não bastasse, e tal como infere-se dos fatos narrados, a audiência de custódia foi
designada após o prazo máximo estabelecido pela legislação vigente, qual seja, de até 24 horas após a
realização da prisão. Confira:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a
realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá,
fundamentadamente:

I - relaxar a prisão ilegal; ou

11. Nesse sentido, considerando as ilegalidades já expostas e em vista ao que dispõe o dispositivo supra
mencionado, impõe-se o relaxamento da prisão. Além do mais, há previsão constitucional expressa
acerca do relaxamento da prisão ilegal, em seu artigo 5º, LXV:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária

III. DOS PEDIDOS

12. Diante do exposto, requer-se a procedência do pedido com relaxamento de prisão em flagrante imposta
ao requerente, a fim de que ele possa permanecer em liberdade durante o processo, expedindo-se o
competente alvará de soltura, conforme o artigo 310, I, do Código de Processo Penal.

Nesses termos,
Pede deferimento.

Fortaleza, 15 de maio de 2021

André Luiz dos Santos Figueiredo Júnior

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