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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 1ª

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO PAULO-SP

Proc. N. ...

Fulano de tal, brasileiro, solteiro, portador(a) da carteira de identidade


nº ... e do CPF nº ..., residente e domiciliado(a) na Rua ..., São Paulo/SP,
representado por seu advogado devidamente constituído, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, nos termos do art. 5º da
Constituição Federal, e do art. 55 da Lei nº 11.343/06, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS
DOS FATOS

No dia D passado, Fulano de Tal, foi preso em flagrante no interior de


sua residência, enquanto portava vários comprimidos de ecstasy. A prisão se
deu após investigação baseada em denúncia anônima e os policiais civis
entraram em sua residência sem mandado judicial, alegando que o acusado
estaria praticando crime classificado como permanente, de forma que o
flagrante poderia ser dado a qualquer momento, independentemente de
autorização judicial, ainda que sem consentimento do morador.
Em seguida, foi requerido o relaxamento da prisão em flagrante às
fls. ..., uma vez que a audiência de custódia, ao contrário do que prevê o art.
310 do CPP, não foi realizada no prazo legal de 24 horas, mas sim UM MÊS
APÓS O FATO, bem como que estavam ausentes os requisitos da prisão
preventiva, a investigação foi lastreada em denúncia anônima e o flagrante foi
feito dentro do lar do morador, sem o consentimento dele.
Porém, o excelentíssimo magistrado, afirmando que o prazo de 24 horas
é impróprio, decretou a prisão preventiva, decidindo pela legalidade do
flagrante, uma vez que se trata de crime permanente, corroborando as
alegações do Dr. Promotor, de que o acusado é rico e poderia fugir se posto
em liberdade, abalando a garantia da ordem pública.
Na sequência, por determinação de Vossa Excelência, o réu fora
intimado pela z. serventia, em 28 de abril de 2022, para oferecer defesa prévia.
A denúncia foi recebida, com a determinação de realização de audiência
de instrução e julgamento. Durante a audiência, consoante o art. 57 da Lei nº
11.343/06, houve inicialmente a oitiva do acusado, com posterior oitiva das
testemunhas de acusação e de defesa, respectivamente.
Finda a instrução, o Doutor Promotor ofertou suas alegações finais
escritas em forma de memoriais, pedindo a condenação do acusado pelo crime
tipificado no art 33, caput, da lei nº 11.343/2006, na forma do art. 71, CP,
destacando que a ausência de laudo definitivo não é óbice à condenação, uma
vez que que o MM. Juiz pode lastrear sua sentença no laudo preliminar ou de
constatação.
DA PRELIMINAR

Preliminarmente, é necessário ressaltar que o interrogatório do acusado,


deveria ter sido feito ao final, conforme o art. 400 do Código de Processo Penal
(CPP), de forma a satisfazer os princípios do contraditório, ampla defesa e
devido processo legal, o que não aconteceu no presente caso, ensejando
NULIDADE ABSOLUTA.
O CPP apresenta o interrogatório como meio de prova, dispondo que o o
acusado poderá apresentar a sua versão dos fatos, calar-se, bem como será
ouvido ao final de todo o processado, em obediência ao princípio constitucional
da ampla defesa. Neste sentido, merecem destaque:

Artigo 5º, LV, CF - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes.

Art. 186, CPP. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro


teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o
interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas.

Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá


ser interpretado em prejuízo da defesa.

Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa


do acusado e sobre os fatos.

§ 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência,


meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua
atividade, vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma
vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão
condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros
dados familiares e sociais.

§ 2o Na segunda parte será perguntado sobre:

I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;

II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que


atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a
prática do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da
infração ou depois dela;

III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia
desta;
IV - as provas já apuradas;

V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e


desde quando, e se tem o que alegar contra elas;

VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer


objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido;

VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos


antecedentes e circunstâncias da infração;

VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.

Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de


declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de
pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se
o debate.

Cumpre ressaltar que a Lei nº 11.343/06 previu o interrogatório do acusado


no início da audiência de instrução, totalmente em dissonância com o que
consta do Código de Processo Penal e a jurisprudência dominante dos
Tribunais Superiores, pelo que isso deve ser descartado do ordenamento
jurídico brasileiro. A disposição criticada tem a seguinte redação:

Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do


acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra,
sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor do
acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada
um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.

Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das


partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas
correspondentes se o entender pertinente e relevante.

Dessa forma, resta claro que o interrogatório é prova a ser colhida ao


final da audiência de instrução e julgamento.

DOS LAUDOS PERICIAIS

Em adição, cumpre destacar que a Lei de Drogas determina a realização de


dois laudos periciais para o pleno atendimento do devido processo legal, um
laudo preliminar ou de constatação e o definitivo, nos termos dos arts. 50 e
seguintes:
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária
fará,

imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do


auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24
(vinte e quatro) horas.

§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e


estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de
constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial
ou, na falta deste, por pessoa idônea.

§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não


ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.

§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10


(dez) dias, certificará a regularidade formal do laudo de constatação e
determinará a destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra
necessária à realização do laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de
2014)

§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia


competente no prazo de 15 (quinze) dias na presença do Ministério Público
e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)

§ 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das


drogas referida no § 3º, sendo lavrado auto circunstanciado pelo delegado
de polícia, certificando-se neste a destruição total delas. (Incluído pela Lei
nº 12.961, de 2014)

Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão


em flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta)
dias contado da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à
realização do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, o procedimento
dos §§ 3º a 5º do art. 50.

Cumpre informar que até a presente data o laudo definitivo não foi
apresentado.
Além disso, a jurisprudência é clara ao demonstrar a necessidade de
apresentação do laudo definitivo, vedando, assim, a condenação do agente
com lastro, apenas, no laudo de constatação:

“1. A Terceira Seção desta Corte, nos autos do Eresp n.º 1.544.057/RJ, em
sessão realizada 26.10.2016, pacificou o entendimento no sentido de que o
laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a condenação pelo crime
de tráfico ilícito de entorpecentes, sob pena de se ter por incerta a
materialidade do delito e, por conseguinte, ensejar a absolvição do
acusado. Ressalva do entendimento da Relatora. 2. Na espécie, não consta
dos autos laudo toxicológico definitivo, não tendo as instâncias de origem
logrado comprovar a materialidade do crime de tráfico de drogas, sendo de
rigor a absolvição quanto ao referido delito”. (PExt no HC 399.159/SP, j.
08/05/2018)

Nos termos do art. 386, VII do CPP, faz-se necessária a absolvição do


réu por “não existir prova suficiente para a condenação”.

DA CONTINUIDADE DELITIVA

O tipo penal do art. 33, caput, da lei nº 11.343/06, é considerado tipo


misto alternativo, no qual a prática de um verbo previsto neste ou em todos
configura apenas um crime
A localização de vários comprimidos proibidos por lei, por si só, não
permite afirmar que são vários crimes de tráfico de drogas, incidindo, se for o
caso, a capitulação de um único crime previsto no citado artigo legal.
Dessa forma, não pode prosperar a tese acusatória de aplicação da
continuidade delitiva.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

1. o reconhecimento das nulidades mencionadas, seja em razão da


inversão do rito processual, seja pela falta de comprovação da
materialidade do crime, devido à falta do laudo definitivo, concedendo a
absolvição do acusado pela ausência de materialidade, com expedição
de ALVARÁ DE SOLTURA.
2. subsidiariamente, caso não seja reconhecida a nulidade absoluta, a
desconsideração do artigo 71, CP, incidindo apenas uma infração penal
pelo crime previsto no art. 33, caput, da lei 11.343/06;

Nestes termos, pede deferimento.


Local, dia xx de xxx de 2022

__________________________________
Advogado
OAB n. ...

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