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AO JUIZO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO PAULO - SP

DEFESA PRÉVIA

FULANO DE TAL, brasileiro, solteiro, portador do RG de número XXX., e


CPF XXX, residente e domiciliado na rua XXX vem, por intermédio de seu
advogado que infra subscreve, vem respeitosamente a presença de vossa
Excelência, com fundamento no Art. 5, LV da CF e Art.55 DA LEI
11.343/06, INTERPOR SUA DEFESA PRÉVIA.

DOS FATOS

Os policiais civis que estavam fazendo a investigação, lastreada em


denúncia anônima, entraram em sua residência sem mandado judicial,
valendo-se do conceito de que o crime é classificado como permanente,
podendo o flagrante ser dado a qualquer momento e sem autorização
judicial. Ademais, ingressaram na residência sem qualquer consentimento
do morador. Com sua prisão em flagrante, Fulano de tal fora
encaminhado para a audiência de custódia que fora realizada um mês
depois do fato. O fato se deu na comarca de São Paulo/SP.

O requerido relaxamento da prisão em flagrante, tendo em vista que ela


não fora feita de forma legal, uma vez que se descumpriu o art. 310,
caput, CPP, que exige o prazo de 24 horas para a sua realização, bem

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como não estavam presentes os requisitos da prisão preventiva, forte,
ainda, que a investigação foi lastreada em denúncia anônima e o flagrante
foi feito sem observar os balizamentos jurisprudenciais de consentimento
do morador.

Decorrente a prisão em flagrante, Fulano de tal fora encaminhado para a


audiência de custódia que fora realizada um mês depois do fato. O fato se
deu na comarca de São Paulo/SP. Você requereu o relaxamento da
prisão em flagrante, tendo em vista que ela não fora feita de forma legal,
uma vez que se descumpriu o art. 310, caput, CPP, que exige o prazo de
24 horas para a sua realização, bem como não estavam presentes os
requisitos da prisão preventiva, forte, ainda, que a investigação foi
lastreada em denúncia anônima e o flagrante foi feito sem observar os
balizamentos jurisprudenciais de consentimento do morador. Todavia, o
magistrado entendeu por bem decretar a prisão preventiva, afirmando que
o prazo de 24 horas é considerado impróprio e não merece ser seguido à
risca, além disso corroborou as declarações do Ministério Público de que
o acusado é rico e isso pode ensejar a prisão com base na garantia da
ordem pública, bem como ele poderia fugir do país e ameaçar
testemunhas, em razão da sua excelente condição financeira. Após, o
magistrado entendeu que, por tratar-se de crime permanente, o flagrante
poderia ser dado a qualquer tempo, independentemente de autorização
judicial, bem como que a inexistência de consentimento do morador para
o ingresso em sua residência constitui mera irregularidade.

Dessa forma, o réu foi preso preventivamente na cidade de São


Paulo/SP, enviando-se os autos para o Delegado de Polícia responsável,
tendo sido o feito distribuído para o juiz da 1ª Vara Criminal da Capital.
Cumpre ressaltar que até o presente momento não houve indiciamento, já
se ultimando 90 dias de investigação, ultrapassando-se o prazo previsto
no artigo 51 da Lei nº 11.343/06. Além disso, a autoridade policial não
requereu a realização do laudo definitivo. Sendo assim, foi requerida a
revogação da prisão preventiva, mas houve o indeferimento e o Juiz
determinou que o processo fosse para o Ministério Público. O Promotor

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de Justiça responsável pelo caso requereu que a autoridade policial
procedesse ao relatório final, o que foi feito com o respectivo
indiciamento. Nesse diapasão, foi oferecida denúncia pelo crime previsto
no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06, na forma do artigo 71, CP, pois
foram encontrados vários comprimidos na mesma ocasião fática.

DO DIREITO

Está prescrito na Constituição Federal em seu artigo 5°, LV, que serão
assegurados o contraditório e a ampla defesa a todos os litigantes.
Nesses termos:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes. (BRASIL, 1988, [s. p.])

Todavia, toda pessoa poderá se defender de qualquer imputação que lhe


seja feita, pois a Constituição Federal assegura o contraditório e a ampla
defesa, ainda que se trate de um crime equiparado a hediondo, como é o
caso do tráfico de drogas.

A chamada defesa preliminar, como bem ensina o Professor Renato


Brasileiro, é uma oportunidade que o acusado tem de ser ouvido antes de o
juiz receber a peça acusatória, in verbis: Esta peça defensiva visa evitar o
processo como pena, isto é, impedir a instauração de um processo leviano,
com base em acusação que a apresentação de defesa preliminar antes do
recebimento da peça acusatória possa, de logo, demonstrar de 4 toda
infundada. A dialética inicial proporcionada pela defesa preliminar é de
singular importância. (LIMA, 2020, p. 1410)

O artigo 55 da Lei nº 11.343/06 fundamenta a aludida peça defensiva,


nesses termos: Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a
notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo
de 10 (dez) dias. § 1º Na resposta, consistente em defesa preliminar e
exceções, o acusado poderá argüir preliminares e invocar todas as razões
de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que

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pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. § 2º
As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a
113 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
Processo Penal. § 3º Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz
nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista
dos autos no ato de nomeação. § 4º Apresentada a defesa, o juiz decidirá
em 5 (cinco) dias. § 5º Se entender imprescindível, o juiz, no prazo
máximo de 10 (dez) dias, determinará a apresentação do preso,
realização de diligências, exames e perícias. (BRASIL, 2006, [s. p.])

Quanto ao prazo processual, deve ser lembrado que o Código de


Processo Penal trata da matéria em seu artigo 798, com a seguinte
redação: Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão
contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou
dia feriado. § 1o Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-
se, porém, o do vencimento. § 2o A terminação dos prazos será
certificada nos autos pelo escrivão; será, porém, considerado findo o
prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia em
que começou a correr. § 3o O prazo que terminar em domingo ou dia
feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato. § 4o Não
correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou
obstáculo judicial oposto pela parte contrária. 5 § 5o Salvo os casos
expressos, os prazos correrão: a) da intimação; b) da audiência ou
sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da
sentença ou despacho. (BRASIL, 1941, [s. p.])

Cumpre ressaltar que a Lei de Drogas exige a realização de dois laudos


periciais para satisfazer o devido processo legal, sendo indispensáveis os
laudos preliminares ou de constatação e o definitivo, uma vez que a
ausência de um dos dois laudos ocorre situação de nulidade absoluta, por
ausência de materialidade. Trata-se da disposição prevista nos artigos 50
e seguintes, a seguir transcritos: Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a
autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz

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competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista
ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas. § 1º Para
efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por
pessoa idônea. § 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o §
1º deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração do laudo
definitivo. § 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no
prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularidade formal do laudo de
constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas,
guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo.
(Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) § 4º A destruição das drogas será
executada pelo delegado de polícia competente no prazo de 15 (quinze)
dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído
pela Lei nº 12.961, de 2014) § 5º O local será vistoriado antes e depois de
efetivada a destruição das drogas referida no § 3º,sendo lavrado auto
circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a
destruição total delas. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014) Art. 50-A. A
destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em
flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias
contado da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à
realização do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, o
procedimento dos §§ 3º a 5º do art. 50. (Incluído pela Lei nº 12.961, de
2014). (BRASIL, 2006, [s. p.])

Pelo que consta da orientação legal, a exigência de dois laudos periciais é


requisito indispensável para o correto processamento de alguém por
delito envolvendo o tráfico de drogas, sob pena de nulidade processual.

Tendo em vista que o tipo penal previsto no artigo 33, caput, Lei nº
11.343/06, é considerado tipo misto alternativo, em que a prática de um
verbo previsto neste ou em todos permite a conclusão de que há apenas
um crime, não pode prosperar a tese acusatória de aplicação da
continuidade delitiva. O fato de terem sido encontrados vários

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comprimidos proibidos por lei não permite a afirmativa de que são vários
crimes de tráfico de drogas, havendo, se for o caso, a capitulação de um
único crime previsto no citado artigo legal.

DO PEDIDO

Diante disso e exposto, respeitosamente, com fulcro no art. 395, III do


CPP, vem requerer que a denúncia ofertada contra o mesmo seja
rejeitada, por nítida falta de justa causa para o exercício da ação Penal.

Termos em que, pede deferimento.

São Paulo, 29 de Abril de 2022.

Advogado (a)

OAB-XXXX n.º XXXXX

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