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Hoje foi uma abertura tipo Jornal Nacional, vamos dar uma pausa de 1 minuto para os
comerciais... vejamos. O conceito de alteridade é um conceito que pode ser mais
amplo que o de empatia, mas talvez seja algo que o Brasil esteja precisando. Minha
cidade sofreu com as chuvas e mortes e preciso agradecer o apoio dos cariocas, os
apoios financeiros, um advogado que me disse que a Defesa Civil daqui foi até Recife
para prestar o conhecimento adquirido com a experiência recente de Petrópolis,
Niterói, que passaram por deslizamentos, etc. Então é preciso agir. Fica aqui registrada
nossa gratidão, porque por mais que queiram dividir esse país somos um só povo. Ser
recebido como fui por vocês, essa cidade que me acolheu, só tenho gratidão, então
fica o registro de Brecht sempre necessário e que a recíproca é verdadeira em relação
as casas que nos unem, os desafios lançados para todos.
Nosso exemplo o acusado é Astolfo. Então o nosso Astolfo foi preso em flagrante
delito pois estava trazendo consigo determinada quantidade de entorpecente, 50
gramas de cocaína. Então ele foi autuado em flagrante no artigo 33 da Lei 11.343.
Pois bem. Vamos relembrar os 18 verbos do artigo 33: “Importar, exportar, remeter,
preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.”
Porque dizemos que essa é uma norma penal em branco? Pois ela necessita de
regulamentação. Que é a portaria da ANVISA para dizer as substâncias ilícitas. Uma
norma administrativa, para realizar as condutas do artigo.
Pois bem, Astolfo foi preso em flagrante. E a prisão? Foi regular. O que acontece
quando alguém é preso? Vamos à lei para verificar o procedimento, no artigo 50 da
Lei:
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará,
imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto
lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro)
horas.
A questão também pode ser a quantidade, por exemplo 500kg de ilícito. Aonde será
colocada a substância? Vamos aos próximos parágrafos:
§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não ficará
impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.
- Veja, o laudo preliminar informa o juiz e o MP; o laudo definitivo será realizado
dentro do inquérito policial.
Então pois bem, vamos à frente, chegamos ao artigo 51 que trata do inquérito policial:
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado
estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
- Vamos aos requisitos do artigo 311 e 312, CPP, para a questão da conversão de
flagrante em prisão preventiva. Qual a diferença aqui? Principalmente prazo para
conclusão do inquérito policial (30/90 dias segundo o artigo 51, Lei 11.343.)
- Regra geral do CPP: solto 30 dias, preso 10 dias. Vejam a diferença de rito nos crimes
de entorpecentes, os prazos são mais elásticos. Esse prazo pode ser prorrogado? Sim.
Vejamos o parágrafo único:
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz,
ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia
judiciária.
- Duplicar esses prazos é muito perigoso pois já são por si só elásticos, isso ocorre
quando o laudo demora a ser concluído. Esse laudo junto com a amostra é enviado ao
Instituto de Criminalística para fazer o laudo definitivo. E é comum que o IC demora a
conclusão devido ao número de prisões de flagrante, etc. As vezes o juiz encaminha a
perito particular devido a demora. O perito fará então o laudo definitivo. E isso tudo
será importante para o oferecimento da denúncia. Imagine que o MP ofereça
denúncia, pelo art. 33, mas ignore o laudo definitivo? Faça com base no preliminar. É
perigoso pois inclusive o laudo definitivo pode desmentir ou contradizer o preliminar.
A decisão de duplicar tem que ser muito bem fundamentada pois o preso ficará sem
acusação formal em situação de prisão (sim, a redundância), mas isso é um problema.
Se ele estiver solto, tudo bem.
No nosso caso, do Astolfo, não teria problema duplicar segundo o parágrafo único do
artigo 51, pois ele foi solto na audiência de custódia.
Vamos em frente, artigo 52:
Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia
judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:
II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o
agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo
competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento.
Muito bem, vamos em frente, a questão dos agentes infiltrados: Há uma linha muito
tênue, o Nilo Batista tem um artigo em espanhol, sobre o fio da navalha que é muito
interessante. Sempre que perguntam a ele sobre a política criminal nos tempos de
Brizola (obs: Nilo foi secretário da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, vice-
Governador, Secretário da Justiça e Governador em 1994 quando Brizola se afastou
para concorrer à presidência da República). Há muitas críticas aos governos de Brizola,
ouço muito desde que cheguei ao Rio, sobre os dois governos Brizola (1983-87, 1991-
94), quando não se subia aos morros, quando não se fazia a carnificina que se faz hoje,
como no Jacarezinho e na Vila Cruzeiro, e se atribui a Brizola a situação do tráfico que
temos hoje, como se não houvesse antes dele e nem depois. E quando Nilo fala do fio
da navalha, ele diz sobre a linha entre tornar um flagrante esperado ou retardado,
também chamado diferido, e do preparado (que é inadmissível), temos que ver a
questão dos agentes infiltrados. Então vamos ao art. 53:
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta
Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o
Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos
órgãos especializados pertinentes;
- Atenção sobre o inciso II: Se um agente da Polícia Federal vai a uma rave, uma festa
privada onde se comercializa entorpecentes, ele precisa de autorização prévia judicial
para estar lá. Assim como por exemplo para usar grampos numa operação. Vejamos a
linha tênue entre o flagrante esperado, diferido e preparado.
I - requerer o arquivamento;
- Por exemplo quando a quantidade for ínfima, não for capaz de trazer a mercancia, ou
por atipicidade. Haverá pedido de arquivamento.
II - requisitar as diligências que entender necessárias;
III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as demais provas
que entender pertinentes.
- Outra diferença: aqui são até 5 testemunhas. A regra geral são até 8 testemunhas.
E a figura do assistente? Se ele designado pelo juízo, não poderá constar como
testemunha da defesa nem da acusação. Ele pode ser ouvido como testemunha do
juízo: O que não é bom pois o juízo estará produzindo provas. Isso tira o juízo da
condição de “juiz neutro”, as partes é que devem trazer os fatos. A posição do juiz é de
imparcialidade, ele não pode “querer achar nada”.
Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer
defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
- Vejam aqui a peça correta é a defesa prévia e não resposta à acusação. A denúncia
ainda não foi recebida! O juiz aqui não se manifesta sobre o mérito da denúncia nesse
momento, ele estabelece o contraditório, por meio da defesa prévia, para que depois
o juízo se pronuncie. Prazo 10 dias.
§ 1º Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá
argüir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e
justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco),
arrolar testemunhas.
- Não existe revelia em processo penal. Se notificado para realizar defesa prévia o
acusado não constitui defensor, será assistido pela Defensoria Pública. E se o defensor
público não oferecer defesa prévia? Novamente não há revelia. O juiz deve oficiar o
Defensor Geral para que ele ofereça a defesa ou redesigne para outro defensor.
Esqueçam a revelia no processo penal pois a consequência não será relevante!
Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução
e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério
Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.
O fundamento das alegações finais (peça) está aqui. Deve-se colocar assim: artigo 57,
Lei 11.343/2006, c/c art. 403, parágrafo 3º, CPP, c/c art. 3º, CPP.
Art 57.
Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou
algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinente e relevante.
Inexigibilidade de conduta diversa, por coação moral irresistível (art. 22, CP).
Pedido de absolvição conforme art. 386, VI, CPP.
- Condição pessoal de privilegiado – art. 33, parágrafo 4º, Lei dos Entorpecentes
(agente é primário, de bons antecedentes, não se dedica às atividades
criminosas nem integra organização criminosa.) = há redução de pena. Caso de
diminuição de pena, 1/6 a 2/3 da pena (reconhecido na 3ª fase da dosimetria).
[áudio encerra].