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ESTUDO DIRIGIDO: RITO ESPECIAL DO FUNCIONÁRIO

PÚBLICO E RITO ESPECIAL DA LEI DE DROGAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA


UBERLÂNDIA 2016
I – Rito especial do funcionário público

1) Qual é o conceito de funcionário público para fins penais?

Segundo o artigo 327 do Código de Processo Penal, considera-se funcionário


público, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exercer cargo, emprego
ou função pública, podendo também ser equiparado à funcionário público aqueles que
exercerem cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
empresa prestadora de serviços contratada ou convencionada para a execução de
atividade típica da Administração Pública.

2) Quais crimes cometidos por funcionários públicos propiciam o emprego do rito


especial do funcionário público?

O crimes cometidos por funcionário públicos e que propiciam o empreso de tiro


especial, são aqueles previstos no Código Penal Brasileiro disposto no Título II,
Capítulo II, do artigo 312 ao artigo 326, correspondentes aos crimes de Peculato (seja
culposo, mediante erro de outrem); Inserção de dados falsos em sistema de informações;
Modificação ou alteração de sistema de informações; Extravio, sonegação ou
inutilização de livro ou documento; Emprego irregular de verbas ou rendas públicas;
Concussão; Excesso de exação; Corrupção Passiva; Facilitação de contrabando ou
descaminho; Prevaricação; Condescendência criminosa; Advocacia administrativa;
Violência arbitrária; Abandono de função; Exercício funcional ilegalmente antecipado
ou prolongado; Violação de sigilo funcional; Violação de sigilo de proposta de
concorrência.

Para todos estes crimes é empregado o rito previsto nos artigos 513 ao artigo 518
do Código de Processo Penal. O rito poderá ser aplicado a todos os funcionários
públicos cujos crimes sejam afiançáveis conforme o artigo 514 Código de Processo
Penal.
3) É possível a incidência de concurso de agentes entre funcionário público e quem
não seja funcionário público? Se sim, em que hipóteses? Explique.

Embora seja de natureza pessoal a condição de funcionário público há


possibilidades em a condição “funcionário público” passe a ser comunicável entre os
participantes do delito. Para que seja comunicável a condição de funcionário público o
terceiro coautor não precisa conhecer a condição de “funcionário” do coautor, pois a
condição elementar é transferida automaticamente conforme o artigo 30 Código Penal
Brasileiro.

4) Em caso de crimes conexos é sempre possível a aplicação do rito especial do


funcionário público? Explique.

Segundo Vicente Greco Filho (2012):

No caso de crimes conexos, prevalece, como é a regra geral, o


procedimento do crime mais grave. Mas, se houver aditamento
da denúncia, com a inclusão de crime de responsabilidade de
funcionário público, deve, com relação a ele, proceder-se na
forma do art. 514, sendo assim é passível o entendimento de que
se os crimes forem afiançáveis é possível a aplicação do rito do
funcionário público. (GRECO FILHO, 2012, p. 508).

Assim, em crimes conexos praticados por funcionários públicos, em que haja a


conexão de crimes de rito especial e rito comum, poderá ser aplicado o rito especial.
Todavia, se a aplicação do rito comum for melhor para réu, permitindo uma maior e
ampla defesa, deverá ser aplicado o rito comum.

5) Existe a possibilidade de absolvição sumária no rito do funcionário público?


Explique.

Sim, embora seja aceita a denúncia ou a queixa, o artigo 518 do Código de


Processo Penal aduz que na instrução criminal e nos demais termos do processo, será
observado o disposto nos Capítulos I e III, do Título I do regimento processual penal.
Assim pode-se dizer que o procedimento utilizado será o comum, seja ele,
ordinário, sumário ou sumaríssimo conforme prevê o artigo 394 e artigo 397, ambos do
Código de Processo Penal.

O juiz poderá absolver sumariamente o acusado quando verificar os seguintes


elementos:
I) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do
fato;
II) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade
do agente, salvo inimputabilidade;
III) que o fato narrado evidentemente não constitui crime, ou;
IV) extinta a punibilidade do agente.
II – Rito Especial da Lei de Drogas

1) O rito especial da Lei de Drogas, previsto na Lei nº 11.343/06, abrange quais


tipos penais nesta Lei previstos?

Os tipos penais no rito especial da Lei de Drogas são previsto no art. 33 caput,
da referida lei, sendo considerado como fato ilícito, "portar, exportar, remeter, preparar,
produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com as
determinações dos Órgãos competentes.

2) É possível haver concurso de agentes em todos os tipos penais? Explique.

Não, nem todos os tipos penais previsto na Lei de Entorpecentes permite que
haja o concurso de agentes. As ações previstas no art. 28 desta lei são condutas
individualizadas do agente, não permitindo que haja nenhum tipo de concurso em sua
ação. Caso da prática dos atos descritos no caput do artigo, o agente passará a ter sua
conduta tipificada no art. 33 da mesma lei, admitindo assim o concurso de agentes nos
termos do artigo 35, ambos do da Lei 11.343/06.

3) É possível empregar o rito da lei de drogas em caso de crimes conexos que não
sejam previstos nesta lei? Explique.

Depende de uma análise fática do caso concreto, pois, conforme entendimento


firmado pelo Superior Tribunal de Justiça do julgamento do HC 172.224-SP
(2010/0085492-7) e pelo Supremo Tribunal Federal no HC 96.675 São Paulo, cujo
Relator foi o Min. Luiz Fux, tanto a jurisprudência quanto a doutrina dominante entende
que nos casos em que há crimes conexos que possuem ritos especiais e ritos comuns,
deve ser aplicado o procedimento mais amplo, que não é, necessariamente o mais longo,
mas deve ser aquele que oferece às partes maiores oportunidades no exercício de suas
faculdades processuais e no direito de defesa.
Assim, quando há crimes relacionados com o tráfico de entorpecentes em
conexão com outro crime, deve ser analisado qual dos ritos oferece a maior
possibilidade de defesa para o réu.

4) Quanto tempo deve durar a investigação sobre crimes desta Lei? Ao ser
concluída, como deve a autoridade proceder?

Conforme prevê o artigo 50 da Lei de entorpecente, quando ocorrer a prisão em


flagrante do suspeito, a autoridade deverá comunicar imediatamente ao juiz competente
o fato ocorrido, sendo que após a comunicação o Ministério Público terá vista pelo
prazo de 24 horas.

No caso em que o investigado estiver preso, o inquérito policial deve ser


concluído no prazo de 30 (trinta) dias, todavia esse prazo é triplicado quando ocorrer do
réu estiver em liberdade sendo necessário ressaltar que estes prazo podem ser
duplicados pelo juízo competente, caso a autoridade competente (policia judiciária) faça
o pedido justificando o motivo da prorrogação, mas antes do juiz proferir a decisão faz
necessário a oitiva do Ministério Público. Transcorrido esse prazo, seja o normal ou o
prorrogado, a autoridade policial competente deve remeter os autos do inquérito para o
juízo.

5) Explique o passo a passo do procedimento especial da Lei de Drogas, a partir da


conclusão do inquérito até a sentença. Teça considerações especiais a respeito do
interrogatório do acusado, no que diz respeito ao momento processual em que deva
ser realizado.

Após o recebimento pelo juiz do inquérito policial, é dado vista para o


Ministério Publico, para que dentro do prazo de 10 dias, ele possa requer que o
inquérito seja arquivado, pode solicitar que seja realizada novas diligencias para a
autoridade policial, caso entenda que haja a necessidade de maiores detalhes na
investigação, caso não queira requisitar diligencias, cabe ao Parquet oferecer a denuncia
contra o acusado, podendo arrolar até 05 testemunhas bem como indicar a produção de
provas que corrobore com a denuncia.
Após ser oferecida a denuncia pelo Parquet, o juiz mandar notificar o acusado
para que ele apresente defesa prévia, escrita, no prazo de 10 dias. Na defesa, o réu
deverá apresentar preliminares, exceções, apresentando assim todas as justificativas,
bem como indicar quais serão as provas a serem produzidas, e caso pretenda arrolar
testemunhas, poderá indicar a mesma quantidade que o Ministério Público. Caso o
acusado não constitua advogado neste prazo, o juiz nomeará um defensor para ele.

Após a apresentação da defesa, o magistrado decidirá dentro do prazo de 05 dias,


quais serão as próximas fases a ser tomada. Caso entende ser necessário ele poderá
determinar que dentro de 10 dias, o acusado seja apresentado ou se há a necessidade de
diligencias, exames ou pericias.

Transcorrido este prazo após o recebimento da denuncia, o juiz marcará dia e


hora para que ocorra a audiência de instrução e julgamento, devendo o acusado ser
notificado pessoalmente, e ainda o Parquet e caso haja, o assistente de acusação caso
haja deverão ser notificados também.

Esta audiência deverá ocorrer dentro do prazo de 30 dias seguintes após o


recebimento da denuncia, caso haja a realização de avaliação para atestar a dependência
de drogas, o prazo será prorrogado para 90 dias.

Caso o réu seja funcionário publico, o juiz poderá determinar o afastamento


cautelar do denunciado de suas atividades, devendo ser comunicado ao órgão
respectivo.

Durante a audiência de instrução e julgamento, ocorrerá o interrogatório do


acusado, bem como a inquirição das testemunhas da acusação e depois do réu, ao final
da oitiva é dada oportunidade para o representante do Ministério Público e para o
defensor do acusado pelo prazo de 20 minutos para fazerem sustentação oral, podendo
esse prazo ser prorrogador por 10 minutos pelo juiz.

Todavia, por força da modificação do Código de Processo Penal ocorrida por


meio da Lei 11.719/08, o interrogatório do réu passou a ser realizada apenas no final da
instrução, após o interrogatório do ofendido, suas testemunhas, as testemunhas da
defesa e agora o interrogatório do acusado.

A aplicação desta modificação foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal na AP


525, mais benéfica para o acusado, assim essa alteração no procedimento também deve
ser aplicado por analogia na lei de entorpecentes.

Transcorrido a sustentação das partes, o juiz questionará se há algum fato a ser


elucidado, podendo formular questionamentos caso ache que seja necessário. Encerrado
a instrução, o juiz proferirá a sentença imediatamente ou deverá fazê-la em 10 dias,
devendo os autos serem conclusos para ele.
II. Bibliografia

AVELINO, Victor Pereira. A evolução da legislação brasileira sobre drogas. Jus


Navigandi, Teresinha, ano 15, n. 2440. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/14470.> Acesso em 10 de maio de 2016.

FILHO, Vicente Greco. Lei de Drogas Anotada: Lei n. 11.343-2006. São Paulo:
Saraiva. 2008.

FILHO, Vicente Greco. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva. 2012.

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 4º Ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais. 2009.

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