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Princípios

1. Princípio da oficialidade

Quando abordamos a questão da promoção processual, temos de pegar no princípio da


oficialidade. Este princípio vai dizer-nos quem é que tem legitimidade para iniciar o processo,
no sentido de iniciar uma investigação sobre a prática de uma infração e, posteriormente,
submeter a causa a julgamento. Ora, o princípio da oficialidade encontra-se no art. 219º CRP e
no art. 48º CPP. O art. 48º CPP diz-nos que o MP é quem tem legitimidade para promover o
processo penal, com as restrições dos art. 49º a 52º CPP. O princípio da oficialidade atribui a
uma entidade pública e estadual legitimidade para dar início ao processo penal. Portanto, o MP
é o titular da ação penal.
Para além disto, no art.53º/2, a) CPP, nós vemos que compete ao MP receber as denúncias, as
queixas, as participações e apreciar o seguimento a dar-lhes. Portanto, quando o MP adquire a
notícia de um crime, nos termos do art 241º CPP, à partida, irá abrir um inquérito (art. 262º/2
CPP). Vai investigar os factos, no sentido de averiguar se houve a prática de crime e, em caso
afirmativo, de quem foi o seu agente.
Ora, como sabemos, o nosso processo penal tem uma estrutura acusatória, por força do 32º/5
CRP. Mas esta estrutura acusatória não é uma estrutura acusatória pura – ela é mitigada por
um princípio de investigação. Contudo, essencialmente, desta estrutura acusatória que a nossa
CRP impõe resulta que a entidade que julga é diferente daquela que investiga e que acusa. E a
entidade que investiga e depois acusa vai ser precisamente o MP.
Iniciado o inquérito, o MP vai exercer um conjunto de atos no sentido de apurar a verdade dos
factos, e se há ou não indício da prática de crime, pois é essa a finalidade do inquérito. Mas o
MP não está sozinho, desde logo, ele vai ser ajudado pelos órgãos de polícia criminal ( 55º/1 e
263º/1 CPP) sempre na sua dependência funcional e de acordo com a sua direta orientação,
como resulta do 56º CPP e do 263º CPP) e também, podemos contar com a intervenção de um
juiz de instrução criminal (JIC), onde atua como juiz das liberdades, isto porque há certos atos
que, por contenderem com DFs do cidadão, apenas poderão ser exercidos ou ordenados por
um juiz, no sentido de esses DFs serem verdadeiramente tutelados.

O princípio da oficialidade tem uma limitação e uma exceção. A limitação diz respeito aos
crimes de natureza semipública, de acordo com o 49º CPP. A exceção diz respeito aos crimes
de natureza particular (stricto sensu), de acordo com o 50º CPP. Assim é necessário avaliar a
natureza dos crimes em causa, se são crimes públicos, semipúblicos ou particulares.

 Nos crimes públicos – os crimes públicos, funcionam sem qualquer limitação ou exceção.
Isto significa que basta o MP adquirir notícia do crime, seja por conhecimento próprio, seja
porque houve uma denúncia (facultativa ou obrigatória), que pode logo atuar, podendo
promover o processo, abrindo inquérito (262º/2 CPP).
 Nos crimes semipúblicos – Nos casos de crimes semipúblicos, o procedimento criminal
depende de queixa, pelo que temos de olhar para o 49º CPP, que nos diz que quando o
procedimento criminal depender de queixa do ofendido ou de outras pessoas, é necessário
que essas pessoas deem conhecimento do facto ao MP para que este promova o processo.
Ou seja, a queixa é uma condição de procedibilidade. Sem que seja apresentada uma
queixa por quem tem legitimidade para o fazer, o MP não pode promover a ação penal,
sendo que a queixa é diferente da denuncia. A denúncia é uma mera manifestação de
conhecimento, ou seja, consiste, essencialmente, na transmissão dos factos eventualmente
penalmente relevantes à entidade que tem legitimidade para promover o processo. Já a
queixa consiste numa manifestação de vontade, pelo que não basta a transmissão dos
factos a quem tem legitimidade para promover o processo, é necessário também que
exista uma manifestação de vontade para que haja uma perseguição criminal do agente
pelo facto por ele praticado. (a quem é que é a Lei atribui a legitimidade de apresentar
uma queixa). O 113º/1 CP diz-nos que, quando o procedimento criminal depender de
queixa, tem legitimidade para a apresentar, salvo disposição em contrário, o ofendido, que
é o titular dos interesses que a Lei especialmente quis proteger com a incriminação. (…) A
queixa teria de ser apresentada no prazo legal previsto no 115º CP. O direito de queixa
extingue-se no prazo de 6 meses a contar da data em que o titular tiver conhecimento do
facto e dos seus autores (…) Voltando ao 49º do CPP, este diz-nos que a queixa pode ser
apresentada diretamente ao MP ou então em qualquer outra entidade que tenha
obrigação legal de a transmitir ao MP (ex: órgãos de polícia criminal - 1º f) CPP - que terá
depois de transmitir ao MP no prazo de 10 dias (245º CPP)). O artigo 49º/3 CPP diz-nos,
ainda, que a queixa pode ser apresentada pelo ofendido ou por um seu mandatário,
munido de poderes especiais ou mandatário judicial. Os crimes semipúblicos trazem uma
limitação ao princípio da oficialidade porque o MP só pode promover a ação penal, fazer a
investigação, após a apresentação de queixa (que é facultativa e renunciável – 116º CP)
pelo seu respetivo titular. O ofendido poderia apresentar queixa e não fazer mais nada no
processo – poderia só deixar as coisas correrem porque quem vai investigar e quem vai
decidir se acusa ou não vai ser o MP e não o ofendido.
 Nos crimes particulares – Quanto aos crimes particulares, temos de olhar para o 50º CPP.
Este, na alínea 1, diz-nos que, quando o procedimento criminal depender de acusação
particular do ofendido ou de outras pessoas é necessário que essas pessoas se queixem, se
constituam assistentes e deduzam acusação particular.
Portanto, nos crimes particulares, temos de ter preenchidos três requisitos: A
apresentação de uma queixa (tal como os semipúblicos, aplicando-se as mesmas normas).
À luz do artigo 113º/1 CP (…). Contudo, é facultativa e ele podia desistir (116º CP), a
qualquer momento, mas antes da publicação da decisão da primeira instância, tendo de
cumprir o prazo que está no 115º CP. Para além da queixa, tem de se constituir assistente.
No nosso processo intervêm sujeitos processuais e participantes processuais. Os sujeitos
processuais são (FD): “entidades que têm direitos autónomos de conformação de
tramitação do processo como um todo, em vista da sua decisão final” e são 5 os sujeitos
processuais do nosso processo, o tribunal, o MP, o arguido, o defensor do arguido e o
assistente. Têm um estatuto que lhes confere poderes-deveres que lhes permitem
conformar a dinâmica do processo. Ou seja, dentro dos limites legais, eles têm
verdadeiramente um papel constitutivo do direito do caso. Depois, temos os meros
participantes processuais, que são pessoas que vão praticar atos singulares cujo conteúdo
processual se esgota na própria atividade. Ou seja, eles não vão ter o poder de dominar, de
conformar o processo. O ofendido, não se constituindo assistente, é um mero participante.
Portanto, no nosso caso, o ofendido tem de se constituir assistente para se tornar um
verdadeiro sujeito processual. O estatuto de assistente está regulado nos art. 68º a 70º
CPP. (ao abrigo de que alíneas do 68º se pode constituir assistente ) Contudo, tem de
respeitar os prazos legais – 68º/2 CPP. O requerimento para constituição como assistente
tem lugar no prazo de 10 dias a contar da advertência 246º/4 CPP. A apresentação deste
requerimento vem acompanhada do pagamento de uma taxa (519º CPP). Para além de se
constituir assistente e de apresentar queixa, esse assistente tem ainda de deduzir acusação
particular. O MP pode fazer a sua investigação a partir do momento em que ele se
constitui como assistente. No final da investigação, o MP deve notificar o assistente de que
tem 10 dias para deduzir acusação particular (285º/1 CPP). Ele tem de incluir na sua
notificação se foram recolhidos indícios suficientes da verificação do crime ou não e quem
foram os seus agentes, ficando depois na mão do assistente dar um desfecho ao inquérito.
Se assim entender, então, o assistente poderá deduzir acusação particular contra o agente.
Perante a dedução de acusação particular pelo assistente, o MP pode fazer várias coisas:
pode acompanhar essa acusação, acusando também pelos mesmos factos, por parte deles
ou por outros que não importem uma alteração substancial desses factos, ou pode nada
fazer, não acompanhando essa acusação particular.
Se ele quiser acompanhar a acusação particular, ou seja, se ele também quiser acusar, terá
de o fazer nos 5 dias posteriores à apresentação da acusação particular, como resulta do
285º/4 CPP.

2. Princípio da legalidade

O MP, no exercício da ação penal, durante todo o processo, está adstrito a critérios de
legalidade (219º CRP, art. 2º CPP e o art. 53º nº1 cpp). O MP deve agir sempre com
imparcialidade, objetividade e com legalidade. O princípio da legalidade manifesta-se em 2
momentos do inquérito, quer na abertura, quer no momento do seu encerramento.
Em primeiro lugar, olhando para o momento da abertura do processo, o princípio da legalidade
implica que o MP mediante a aquisição da notícia do crime por algum dos meios previstos no
art. 241º cpp dê lugar à abertura do inquérito (art. 262nº2 cpp).
E, portanto, havendo a notícia do crime e estando reunidas as condições para tal,
nomeadamente a apresentação de queixa no caso dos crimes semipúblicos e a apresentação
de queixa e constituição de assistente, no caso dos crimes particulares, o MP irá abrir um
inquérito e irá começar a investigação. Não tem escolha, se não a de abrir um inquérito, sendo
que, se não o fizer, para além de podermos ter uma nulidade insanável, nos termos do art. 119
b) cpp, o MP poderá também incorrer em responsabilidade penal pela prática de um crime de
negação de justiça – art. 369º CP (isto, se estiverem reunidas as condições objetivas e
subjetivas).
Em segundo lugar, o princípio da legalidade manifesta-se na fase de encerramento do
inquérito. Quando o MP realiza todas as diligencias investigatórias que julga necessárias
durante o inquérito e chega ao fim desse inquérito, de acordo com o art. 276 nº1 cpp, tem de
tomar uma de duas decisões, ou acusa ou arquiva. Para que o MP tenha de arquivar - art. 283º
cpp nº1. O MP vai acusar quando tiver recolhido indícios suficientes de se ter verificado o
crime e de quem foi o seu agente, sendo que então recolhidos esses indícios, ele vai ter de
deduzir acusação contra o agente no prazo de 10 dias.
Segundo o art.283nº2 cpp e o ac. do Tribunal da relação de Coimbra 10 de setembro de 2008,
indícios suficientes são elementos que tidos na sua globalidade persuadem sobre a
culpabilidade do agente e geram a convicção de que o arguido, caso seja submetido a
julgamento, virá a ser condenado pelos factos que lhe são imputados.
A acusação, nos termos do art. 283nº3 cpp tem de conter uma série de elementos, sob pena
de nulidade. Estes elementos têm de estar no despacho da acusação, com o objetivo de que
esta seja o mais completa possível, porque é a partir da acusação que se visa fixar o objeto do
processo, que estabelece uma vinculação temática do juiz, na medida em que os poderes
cognitivos do juiz, vão estar limitados em função do objeto do processo. Para além disso, é
importante que a acusação tenha estes elementos para garantir o pleno exercício do
contraditório e do direito de defesa do arguido.
A acusação tem ainda de ser notificada às pessoas que estão indicadas 277nº3 cpp por
remissão a art. 283nº5 cpp. Haverá acusação quando houver então recolha destes indícios
suficientes.
Pelo contrário, quando não houver recolha destes indícios, ou de indícios que se considerem
suficientes, o MP terá de arquivar. Aqui, o MP procede, por despacho, ao arquivamento do
inquérito (277º cpp).
No entanto, este princípio de legalidade não é um princípio de legalidade pura, é nas palavras
de Costa Andrade é uma legalidade aberta. Aberta a juízos de oportunidade que se vão
consubstanciar na aplicação de certos institutos que são verdadeiras alternativas à acusação.
Isto é importante porque estes afloramentos do princípio da oportunidade são sempre
alternativos à decisão de acusar. Assim, o MP poderá fazer-se valer da suspensão provisoria
do processo (art.281 e 282º CPP), do arquivamento em caso de dispensa de pena (art. 280º
CPP e 74º CP) e ainda da remessa do processo para mediação penal (Lei nº21/2007, de 12 de
junho).

3. Princípio da acusação

O princípio da acusação está associado ao art 32º/5 CRP, que estabelece que o nosso processo
penal tem uma estrutura essencialmente acusatória, sendo que essa estrutura é uma garantia
do processo. No nosso processo penal, distingue-se a entidade que acusa e a entidade que vai
julgar. O MP é a autoridade judiciaria que vai dirigir o inquérito, é ele o responsável pela fase
de investigação. Caso se trate de um crime publico ou semipúblico, vai ser ele a deduzir
acusação também, se reunidos os indícios suficientes da prática do crime e de quem foi o seu
agente. No caso dos crimes particulares em sentido estrito, é o assistente que deduz acusação
(particular), nos termos do 285º CPP. Quem vai julgar é um tribunal, é ele que tem a
competência atribuída pela Lei para tal. Esta estrutura acusatória é uma garantia essencial do
processo penal, na medida em que é uma garantia da imparcialidade, da independência e da
objetividade do processo. Isto porque permite que o juízo que é feito na fase do julgamento
seja um juízo despido de quaisquer preconceitos que possam vir das fases preliminares. O juiz
de instrução criminal vai ser diferente do juiz de julgamento (40º b) cpp). No entanto, o
princípio da acusação não é puro porque ele é mitigado pelo princípio da investigação, que vai
ser levada a cabo pelo juiz. Ou seja, apesar de o juiz não ser, por excelência, a entidade de
investigação, tem um poder-dever de investigação autónoma dos factos. É um juiz ativo e não
passivo, no sentido em que ele deve procurar, oficiosamente, por sua iniciativa, esclarecer-se
autonomamente quanto aos factos que lhe chegam. Nessa linha, o juiz pode ordenar a prática
de atos e diligências, a produção de novos meios de prova, com o objetivo de conseguir
aproximar-se da verdade material dos factos, que é uma das finalidades do processo penal
(340nº1). Contudo, como defende Figueiredo Dias, neste trabalho investigativo, ele vai estar
sempre limitado. Ou seja, a sua capacidade ou poderes de cognição vão estar circunscritos ao
objeto do processo, ou seja, àqueles factos que constam da acusação (princípio da vinculação
temática). No entanto, não é só a acusação que vai fixar o objeto do processo. O juiz de
instrução vai estar vinculado ao objeto do processo, àqueles factos que estão fixados na
acusação ou no requerimento de abertura de instrução. Já o juiz de julgamento, vai estar
vinculado ao objeto do processo que é fixado na acusação OU no despacho de pronúncia, no
caso de ter havido fase de instrução. Os princípios da acusação e da vinculação temática, estão
ainda, associados aos princípios da unidade, da identidade e o da consunção.

4. Princípio do Contraditório

De acordo com o art. 32°, n° 5, 2ª parte, da CRP, a audiência de julgamento e os atos


instrutórios que a lei determinar estão subordinados ao princípio do contraditório. No processo
criminal, deve ter-se sempre em conta tanto as razões da acusação como as da defesa. Por
outro lado, o juiz deve ouvir todos os participantes processuais sempre que tomar qualquer
decisão que pessoalmente os afetem (art. 327º, nº 1 CPP). Importa realçar que o contraditório
"não é o cumprimento de uma mera formalidade para acautelar a regularidade processual,
mas a garantia de que a todo o sujeito afetado por uma decisão é dada a possibilidade de ser
previamente ouvido e de, assim, trazer ao processo elementos necessários a essa decisão,
contribuindo ativamente para que o tribunal possa decidir bem"(art. 10º DUDH e o art. 6º nº 3
b) e d) da CEDH).

 A fase do inquérito tem manifestações, ainda que subtis, do princípio do contraditório, das
quais se destaca a faculdade que o arguido e o assistente têm de intervir nessa fase
processual oferecendo provas e requerendo as diligências que se lhes afigurarem
necessárias, bem como conhecer os despachos que sobre tais iniciativas recaírem (arts.
61ºnº 1 g) e 69ºnº 2 a) CPP). Para além disso, o arguido goza, entre outros, dos direitos de
estar presente nos atos processuais que diretamente lhe disserem respeito e de ser ouvido
pelo juiz de instrução sempre que ele deva tomar qualquer decisão que pessoalmente o
afete (art. 61º nº 1 a) e b) CPP).

NOTA: O legislador também atribuiu à vítima, entre outros, o direito de participação ativa no
processo penal, bem como o de colaborar com as autoridades policiais ou judiciárias
competentes (art. 1º c), b) e d) CPP), prestando informações e facultando provas que se
revelem necessárias à descoberta da verdade e à boa decisão da causa (art. 67°-A nº4 e 5 CPP).

 A finalidade da fase da instrução é o controlo judicial da atuação do MP, presidida pelo juiz
de instrução, assegurando todas as possibilidades de contraditório, de apresentação e
contra apresentação de provas como uma espécie de antecipação de julgamento. Como
manifestações do princípio do contraditório, nesta fase processual, podemos destacar o
debate instrutório (art. 289º n° 1, 298º e 301° nº2 CPP) e as declarações para memória
futura (art. 294º CPP),

 Quanto à fase de julgamento, podemos dizer que a mesma é contraditória por natureza.
Com efeito, para além do art. 32° nº 5, 2ª parte CRP, também o art. 327° nº 2 CPP, prevê
que os meios de prova apresentados no decurso da audiência são submetidos ao princípio
do contraditório, mesmo que tenham sido oficiosamente produzidos pelo tribunal.

5. Princípio da Suficiência

Este princípio tem o seu enquadramento no art. 7º CPP e está relacionado à economia
processual e à ideia de que o processo penal deve ser conduzido de forma a atingir seus
objetivos de forma eficiente, evitando o excesso de formalismos e o desperdício de recursos.
O princípio da suficiência implica que todas as medidas e atos processuais devem ser
proporcionais e necessários para alcançar a finalidade do processo penal, que é a busca da
verdade e a aplicação da justiça. Isso significa que o processo penal não deve ser
sobrecarregado com atos processuais desnecessários, que podem atrasar o andamento do
processo e onerar as partes envolvidas.

6. Princípio da vinculação temática

Segundo este princípio, o objeto do processo deve manter-se estável desde a acusação até ao
transito em julgado da sentença, tratando-se de uma condição essencial da defesa do arguido.

NOTA: Está fortemente ligado ao conceito de alteração substancial dos factos.

 Na fase de inquérito – o conceito de alteração dos factos está presente no art. 284º nº1 e
285º nº4 CPP
 Na fase de instrução – o juiz está limitado pelos factos apesentados pela acusação do MP e
pelo assistente (nos crimes particulares) ou pelo requerimento para a abertura de
instrução (do assistente), pelo que os seus poderes de investigação autónomos estão
condicionados (art. 288º nº4 CPP) NOTA: no âmbito da instrução, ter em conta os arts.
303ºnº3 e 4, 309ºnº1 CPP
 Na fase de julgamento - art. 339º nº4, 359º e 379ºnº1 b)

7. Princípio do juiz natural

Segundo este princípio nenhuma causa pode ser subtraída ao tribunal cuja competência esteja
fixada em lei anterior (art. 32nº9 CRP)

A ratio deste princípio assenta na necessidade de assegurar uma decisão imparcial e isenta.

Este princípio garante que ninguém pode ser julgado senão pelos tribunais previamente
estabelecidos por lei e competentes para o efeito. O princípio do juiz natural implica as
seguintes características:

1. Imparcialidade: O juiz deve ser imparcial e não pode ter interesse pessoal no resultado
do julgamento. Ele deve decidir o caso com base na lei e nas provas apresentadas, sem
qualquer preconceito.

2. Pré-determinação: O tribunal que irá julgar um caso deve ser previamente estabelecido
por lei e não pode ser criado ad hoc para julgar um caso específico.

3. Competência: O tribunal deve ter jurisdição sobre o caso em questão. Isso significa que
o tribunal deve ser competente para julgar crimes da natureza e localização geográfica
do delito em questão.

4. Garantia de imparcialidade: O princípio do juiz natural também inclui garantias para


evitar que o juiz seja submetido a influências externas ou pressões indevidas que
possam comprometer sua imparcialidade.

8. Princípio da investigação ou da verdade material

Este princípio traduz-se no poder-dever que ao tribunal incumbe de proceder oficiosamente


(ou a requerimento) à produção de todos os meios de prova cujo conhecimento se lhe afigure
necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa (art. 340º nº1 e 323º a) e b)
CPP).

Este princípio estabelece que, no sistema de justiça penal, o objetivo principal não é apenas
aplicar a lei de forma estrita, mas também buscar a verdade material dos fatos, de modo a
garantir a justiça e a eficácia do processo criminal, mas sempre respeitando os direitos e
garantias dos envolvidos no processo penal.

9. Princípio da igualdade de oportunidades

Segundo este princípio, a tramitação processual deve estar estruturada de modo a garantir que
a acusação e a defesa disponham dos mesmos direitos e deveres no âmbito da intervenção
judicial.

NOTA: este princípio só tem lugar nas fases de instrução, do julgamento e dos recursos (art.
10º DUDH, art. 6º nº1 CEDH, art. 14º PIDCP e art. 47º CDFUE)
NOTA 2: Este princípio ajuda a garantir que os direitos fundamentais sejam respeitados e que a
justiça seja alcançada de maneira justa e imparcial (art. 32º nº1 e 20º nº4 CRP)

10. Princípio da concentração

Este principio reivindica uma tramitação unitária (art. 365nº1 CPP), continuada (art. 328nº1
CPP) e concentrada (do ponto de vista temporal (art. 32nº2 CRP) e espacial(no mesmo local,
com algumas exceções, art. 39º, 82º, 82º-A, 130º nº5 b) LOSJ)) do processo penal, de forma a
poder realizar-se uma justiça penal atempada e eficaz.

NOTA: como corolários temos os princípios da oralidade, da imediação e da celeridade


processual.

O que se pretende com este principio é evitar o arrastamento da audiência de julgamento por
um longo período de tempo, permitindo também que os juízes que os juízes tenham bem
presentes na memoria tudo o que lá se passou.

11. Princípio da livre apreciação da prova

Salvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da


experiência e a livre convicção da entidade competente (Art. 127º CPP). Isto não quer dizer
que há uma liberdade discricionária ou arbitraria por parte do tribunal para decidir como
entender sem justificar. O juiz deve orientar a produção da prova em direção à verdade
material e, ao decidir, deve justificar (art. 97ºnº5, 374ºnº2, 410ºnº2 CPP; art. 205nº1 CRP; art.
24nº1 LOSJ).

NOTA: este principio, conjugado com o dever da fundamentação das decisões do tribunal, exige
uma apreciação motivada, critica e racional, fundada nas regras da experiencia, na logica e na
ciência.

Nota 2: este principio não vale apenas para o juiz na fase de julgamento, vale também para o
juiz de instrução na fase de instrução e para o MP.

12. Princípio in dúbio pro reo

Todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação


(art. 32nº2, 1ª parte CRP). Isto significa que se o tribunal, depois de produzir todos os meios
de prova, ficar ainda com alguma duvida razoável não poderá dar como provados os factos
constantes da acusação, devendo absolver o arguido, ou seja, havendo duvida o tribunal deve
decidir a favor do arguido (art. 10, 11nº1 DUDH; art. 6nº2 CEDH…). Este princípio só vale em
relação à prova relativa a questões de facto.

NOTA: Princípio in dúbio pro reo VS princípio da presunção de inocência – o 1º opera casos de
incerteza do julgador quanto à prova produzida. O 2º opera quando a incerteza resulta da falta
de provas incriminatórias cuja obtenção e produção tenham observado as garantias
constitucionais.

13. Princípio da publicidade

A publicidade do processo tem como finalidade evitar a desconfiança da comunidade quanto


ao funcionamento dos tribunais e realização da justiça. Além de ser uma garantia de
transparência da justiça, a publicidade é um modo de facilitar a fiscalização da legalidade do
procedimento, sendo uma componente importante para o exercício do direito da defesa. (art.
85º, 86º, 87º, 321º CPP)
NOTA: Atenção ao segredo de justiça (art. 86º CPP), que existe por exemplo durante a fase de
inquérito. A rácio do segredo de justiça assenta na inconveniência que a publicidade pode
trazer ao próprio andamento da investigação, no propósito de proteger o arguido de
imputações porventura falsas e suscetíveis de lesar o seu direito ao bom nome, e também a
sua proteção perante o publico geral, contra a especulação, por vezes abusiva e sensacionalista
dos meios de comunicação social.

14. Princípio da oralidade

A atividade processual deve ser exercida, oralmente, na presença dos agentes processuais. A
vantagem deste principio é o facto de ser mais fácil alcançar a verdade através do dialogo e da
reação dos depoentes ouvidos diretamente, assim podendo o tribunal captar a sua expressão
facial e a espontaneidade ou não das respostas. Quanto aos inconvenientes dir-se-ão que caso
a prova oral não seja registada, poderá verificar-se arbítrio dos juízes na sua apreciação. A regra
da oralidade destina-se a garantir a imediação da prova, a espontaneidade das declarações e a
publicidade.

Exemplos: art. 96º, 140ºnº2, 145ºnº3, 298º, 302º, 243º, 345º, 348º, 350º, 355º, 360º CPP

Exceções: 93º, 96ºnº4, 331ºnº2, 355ºnº2, 356º, 357º CPP

15. Princípio da imediação

Este princípio incide, fundamentalmente, no contacto pessoal entre o julgador e os diversos


meios de prova, traduzindo-se na regra segundo a qual, não valem em julgamento,
nomeadamente para o efeito de formação da convicção do tribunal, quaisquer provas que não
tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência (art. 355ºnº1 CPP). A ineficácia de
depoimentos indiretos impõem-se por este princípio (art. 129º, 130ºnº1, 138ºnº1 CPP). FD
define o princípio da imediação como a relação de proximidade comunicante entre o tribunal e
os participantes no processo, de modo tal que aquela possa obter uma perceção própria do
material que haverá de ter como base da sua decisão. Também aqui, tal como no princípio da
oralidade, o ponto de vista decisivo é o da forma de obter a decisão.

Limitações: 271º, 333º, 334º, 356º, 357º, 275º-A CPP

16. Princípio da proibição de reformatio in pejus

Este princípio consiste na proibição da alteração da decisão recorrida para pior, que visa
garantir que a sentença penal aplicada ao arguido não seja alterada em seu prejuízo, quando
for interposto recurso. Assim, só poderá interpor recurso da decisão final o arguido, o MP no
exclusivo interesse do arguido ou o arguido e o MP no exclusivo interesse do arguido (art. 409º
CPP).

17. Princípio da recorribilidade

É permitido recorrer dos acórdãos, das sentenças e dos despachos cuja irrecorribilidade não
estiver prevista na lei (art. 399º CPP)

Nota: exceções – art. 400º CPP

NATUREZA DO CRIME
1. Nota prévia
Para se apurar a natureza do crime dever-se-á consultar a lei substantiva. Quando a lei utiliza o
termo “queixa”, o crime é semipúblico. Quando utiliza a expressão “acusação particular” o
crime é particular. Quando a lei não utiliza nenhuma dessas expressões, o crime é público.

Nota: o procedimento criminal pode também depender de participação (art. 49ºnº4 CPP, art.
383ºnº3 CP)

2. Crimes Públicos

Nos crimes públicos, o MP, depois de tomar conhecimento da notícia do crime, promove,
obrigatória e oficiosamente (mesmo contra a vontade do titular dos interesses ofendidos), o
processo penal, dando início à fase do inquérito (arts. 48° (Legitimidade), 1ª parte e 262°
(Finalidade e âmbito do inquérito), nº 2) – princípio da oficialidade – O MP adquire a notícia
do crime por conhecimento próprio, por intermédio dos órgãos de polícia criminal ou mediante
denúncia (art. 241). Qualquer pessoa pode livremente denunciar um crime público, todavia
não é obrigada a fazê-lo. Por outro lado, entidades policiais (quanto a todos os crimes de que
tomarem conhecimento) e funcionários (art. 386º (Conceito de funcionário), do CP), têm a
obrigação de denunciar os crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas
funções e por causa delas (arts. 244° (Denúncia facultativa) e 242º (Denúncia obrigatória), nº
1 a) e b)). Depois de proceder às diligências de investigação, o MP decide, com plena
autonomia, se o arguido deverá ou não ser submetido a julgamento. O legislador atribui ao MP
a titularidade da ação penal, competindo-lhe colaborar com o tribunal na descoberta da
verdade e na realização do direito, obedecendo em todas as intervenções a critérios de estrita
objetividade e de legalidade (art. 53° (Posição e atribuições do Ministério Público no
processo), nº 1, do CPP e o art. 219º (Funções e estatuto), nº 1, da CRP). A falta de promoção
do processo pelo MP, nos termos do art. 48º, constitui nulidade insanável, que deve ser
oficiosamente declarada em qualquer fase do procedimento (art. 119º, al. b)). Não sendo
obrigatório, o ofendido pode constituir-se assistente, assumindo a posição de colaborador do
MP, a cuja atividade subordina a sua intervenção no processo, salvas as exceções da lei (arts.
68º e 69°, nº 1). Deduzindo o MP acusação por crime público, o assistente poderá também
deduzir acusação pelos factos acusados pelo MP, por parte deles ou por outros que não
importem uma alteração substancial daqueles (art. 284º nº1). A acusação do assistente por
crime público é facultativa e, quando deduzida, é sempre subordinada à do MP ( art. 69º
(Posição processual e atribuições dos assistentes), nº 1). Feita a denúncia (por um crime de
natureza pública) não é admissível a sua desistência. Porém, tratando-se de certos crimes
públicos, como seja o de violência domestica (art. 152º CP), o MP, verificadas algumas
condições legais, pode promover a suspensão provisoria do processo e o consequente
arquivamento do inquérito (não havendo assim julgamento), caso o arguido cumpra as
injunções e regras de conduta que lhe foram impostas (art. 281º e 282º).

3. Crimes semipúblicos

Nos crimes semipúblicos, a promoção do processo penal por parte do MP está dependente da
apresentação de queixa por parte do ofendido ou de outras pessoas a quem a lei confere esse
direito (art. 49° (Legitimidade em procedimento dependente de queixa), nº 1, do CPP e o art.
113º (Titulares do direito de queixa), do CP). Os crimes semipúblicos são a primeira restrição
ao caráter oficioso e obrigatório da promoção do processo penal pelo MP (art. 48°
(Legitimidade), 2ª parte). Após a apresentação da queixa (que é condição de procedibilidade),
o MP dá início à fase do inquérito (arts. 262º ss), desenvolvendo-se toda a tramitação a partir
daí como se o crime fosse público. Também no âmbito dos crimes desta natureza o ofendido
pode constituir-se assistente, não sendo, porém, obrigatório fazê-lo (art. 68º). Se o MP deduzir
acusação por um crime semipúblico, o assistente poderá também deduzir acusação pelos
factos acusados pelo MP, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração
substancial daqueles (art. 284º, nº 1). Assim, tal como nos crimes públicos, a acusação do
assistente é facultativa e, quando deduzida, é sempre subordinada à do MP. Estando em causa
um crime semipúblico é admissível desistência de queixa (art. 116° (Renúncia e desistência da
queixa), nº 2, do CP e os arts. 49º e 51° (Homologação da desistência da queixa ou da
acusação particular), do CPP).

4. Crimes particulares

Os crimes particulares são aqueles cujo procedimento exige obrigatoriamente:

i) Apresentação de queixa pelo ofendido ou por outras pessoas a quem a lei confere esse
direito (art. 50º, nº 1, do CPP e os arts. 113º e 117º CP);
ii) Manifestação da intenção de constituição de assistente (art. 246º, nº 4, 2ª parte);
iii) Constituição de assistentes (arts. 50º, nº 1, 68°, n° 2 e 246°, nº 4) e
iv) Dedução de acusação particular (arts. 50º, nº 1 e 285º, nº 1).

Estamos na presença da segunda restrição ao preceituado no art. 48° que estipula a


oficialidade e obrigatoriedade da promoção penal pelo MP. A exigência de queixa e de
acusação nos crimes particulares justifica-se pela diminuta gravidade da infração e pela
especial natureza dos valores em causa. Nos crimes particulares é o ofendido, constituído
assistente no processo, que deve realizar a ação penal, sustentando a acusação no julgamento.
Após a apresentação da queixa, inicia-se a fase do inquérito (art. 262º ss), finda a qual,
diversamente do que acontece nos crimes públicos e semipúblicos, o MP notifica o assistente
(como tal já constituído) para que este deduza acusação particular (art. 285º nº 1). Depois de o
assistente apresentar a acusação particular, o MP poderá acusar pelos mesmos factos, por
parte deles ou por outros que não importem uma alteração substancial daqueles (art. 285, nº
4). Aqui, é a acusação do MP que se encontra subordinada à do assistente. Se o assistente se
abstiver de acusar, o MP arquiva o processo por falta de legitimidade para prosseguir com o
mesmo.

Tal como nos crimes semipúblicos, nos crimes particulares é admissível desistência de queixa
(arts. 116° (Renúncia e desistência da queixa), nº 2 e 117° (Acusação particular), do CP e os
arts. 50° (Legitimidade em procedimento dependente de acusação particular) e 51º
(Homologação da desistência da queixa ou da acusação particular), do CPP).

Nos termos do nº 2, do art. 50º, estando em causa um crime particular, o MP:

 Procede oficiosamente a quaisquer diligências que julgar indispensáveis à descoberta


da verdade e couberem na sua competência;
 Participa em todos os atos processuais em que intervier a acusação particular (art.
119°, al. b), parte final);
 Acusa conjuntamente com o assistente (art. 285°, nº 4);
 Recorre autonomamente das decisões judiciais (art. 53ºnº2 d) (Posição e atribuições
do MP no processo) e 401ºnº1a) (Legitimidade e interesse em agir)).

Queixa/Denúncia
I. Notícia do Crime

 A notícia do crime é uma condição indispensável para a abertura do inquérito e, para o


início da atividade de investigação criminal pelo MP, no caso do crime público (art.
262nº2 CPP)
 O processo penal inicia-se no momento em que é dado conhecimento do facto
criminoso à autoria competente, ou seja, com a aquisição da noticia do crime por parte
do MP (art. 241º ss CPP)
 A competência fixa-se no momento em que a ação se propõe, sendo irrelevante as
modificações de facto e de direito (/38º nº1 e 2 LOSJ) que ocorram posteriormente.
 Depois do MP tomar conhecimento da prática do crime deverá fazer uma previa
apreciação dos factos a fim de conferir as regras de legitimidade
o Se publico – art. 48nº1,119b), 1ªparte CPP, 219ºnº1 CRP
o Se semi publico – 49º
o Se particular – 50º
 Se faltar preencher algum requisito, o MP não poderá promover a ação penal pela
prática das infrações em causa.
 O conhecimento da notícia do crime possui vários efeitos, designadamente quanto às
regras de competência do MP para o inquérito (art. 264° (Competência), nº 2), regras
de competência territorial do tribunal (arts. 20° (Crime cometido a bordo de navio ou
aeronave), nº 3, 21° (Crime de localização duvidosa ou desconhecida), nº 2 e 22°
(Crime cometido no estrangeiro), nº 1, 2ª parte) e à possibilidade de deduzir o pedido
de indemnização civil em separado quando o processo penal não tiver conduzido à
acusação dentro de oito meses a contar da notícia do crime (art. 72° (Pedido em
separado), nº 1, al. a)).
 Os vestígios e indícios do crime podem ser inspecionados através de exames das
pessoas, dos lugares, dos animais e das coisas. Em harmonia com esta premissa,
recomenda-se, logo após a notícia do crime, a adoção das medidas que se revelem
aptas a evitar o desaparecimento ou a alteração desses vestígios e indícios antes de
serem examinados nos termos previstos nos arts. 171º a 173º, relativos aos exames
(como meios de obtenção da prova. Neste contexto de cautela probatória, são
confiados aos órgãos de polícia criminal, nomeadamente, proceder a exames dos
vestígios do crime, em especial às diligências atrás referidas e no art. 173° (Pessoas no
local do exame), assegurando a integridade dos animais e a manutenção do estado das
coisas, dos objetos e dos lugares (arts. 249° (Providências cautelares quanto aos meios
de prova), nº 2, al. a) e 271º, nº 2).

Aquisição da notícia do crime

O MP pode adquirir a notícia do crime das seguintes formas:

1. Por conhecimento próprio (art. 241º CPP) – tal conhecimento pode resultar da sua
perceção direta dos factos constitutivos do crime ou indireta, através do rumor, de
informação reservada ou de informação que não revista as caraterísticas da denuncia.
2. Por intermedio dos órgãos da polícia criminal (art. 241º CPP)
a. Por conhecimento próprio (243º)
b. mediante denuncia (244º) – que deve transmitir ao MP (248nº1 e 245º)
3. Mediante denuncia – obrigatória (242º), facultativa (244º) ou anonima (246ºnº6,7,8)
4. Se, durante qualquer inquirição feita a pessoa que não é arguido, surgir fundada suspeita
de crime por ela cometido – o ato de inquirição é suspenso e a pessoa é constituída
arguida (58ºnº2). Ela também pode pedir para ser constituída arguida (59nº1 e 2)
5. em virtude de conhecimentos fortuitos obtidos no decurso de outras investigações
(187nº7)
6. verificado algum dos circunstancialismos do 303ºnº4 na fase de instrução ou o 359ºnº2 na
fase de julgamento
7. através de órgãos da comunicação social

II. Queixa
1. Nota prévia
 O direito à queixa é uma manifestação do direito constitucional de acesso ao direito e
aos tribunais (art. 20º CRP)
 Nos crimes semipúblicos e particulares, a apresentação da queixa é condição essencial
para que o MP possa iniciar o procedimento criminal (art. 48º,49º e 50º)
 A queixa é a expressão de vontade do titular do respetivo direito, manifestada por
requerimento, na forma e prazo previstos na lei para que se proceda criminalmente
contra alguém pela prática de um crime. NOTA: A denuncia distingue-se da queixa,
porque enquanto a denuncia é uma mera declaração de ciência, ou seja, é uma simples
transmissão de um facto com uma eventual relevância criminal a quem tem
legitimidade para promover o processo penal, a queixa por outro lado exige uma
declaração de vontade, por parte do respetivo titular, normalmente o ofendido,
especialmente dirigida a que o agente seja perseguido criminalmente.
 A queixa tem carater facultativo, renunciável e é passível de desistência
 A queixa pode ser considerada infundada, manifestamente infundada, insuficiente ou
errada:
o Queixa infundada – é aquela que imuta factos criminosos concretos a uma ou
mais pessoas determinadas, mas que se verifica não serem os responsáveis
pelos ditos factos – isto implica o arquivamento dos autos
o Queixa manifestamente infundada – é aquela que não imputa sequer factos
com relevância criminal – isto implica o arquivamento definitivo do inquérito
o Queixa insuficiente – factos criminosos a uma ou mais pessoas desconhecidas,
que deve ser completada com a identidade dos respetivos responsáveis -
insuficiência tem que ser sanada no prazo máximo de 6 meses a contar da data
e que conheceu o presumível responsável
o Queixa errada – imputa factos criminosos concretos a uma ou mais pessoas
determinadas, mas os factos são qualificados juridicamente de modo errado –
erro jurídico irrelevante, queixa vale para os ulteriores termos do processo
2. Legitimidade

Têm legitimidade para apresentar queixa, no caso dos crimes semipúblicos e particulares,
segundo os art. 113º e 117º CP:

 O ofendido – 113nº1 CP – o ofendido alem de legitimidade para apresentar queixa


também pode se constituir assistente (68ºnº1a))
o NOTA: ofendido é diferente de lesado (lesado é aquele civilmente afetado por
uma infração penal (130º CP))
 Se o ofendido morrer sem ter apresentado queixa ou renunciado a ela, o respetivo
direito à queixa pertence às pessoas que constam nos art. 116nº1 CP e 113ºnº2 CP
o Ao cônjuge sobrevivo, que vivesse com o ofendido em condições análogas às
dos cônjuges, aos descendentes e aos adotados e aos ascendentes e aos
adotantes
o Aos irmãos e seus descendentes (só na ausência dos outros
supramencionados)
 Se o ofendido for menor de 16 anos ou não possuir o discernimento para entender o
alcance e o significado do exercício do direito à queixa (19º e 20º CP) – nestes casos
113nº2 e 4 CP
 O MP – no prazo de 6 meses a contar da data que teve conhecimento do facto e dos
autores, se se verificar uma das duas condições:
o O ofendido ser menor ou não possuir o discernimento necessário, ou
o O direito de queixa não puder ser exercido porque a sua titularidade caberia
apenas ao agente do crime.

Provedor de Justiça

Os cidadãos (pessoas singulares ou coletivas) podem apresentar uma queixa, quer por ações,
quer por omissões dos poderes públicos ao Provedor de Justiça (art. 23º CRP)

Legitimidade em caso de concurso de infrações

No caso de concurso de crimes, o MP promove imediatamente o processo por aqueles para


que tiver legitimidade, se o procedimento criminal pelo crime mais grave não depender de
queixa ou de acusação particular, ou se os crimes forem de igual gravidade.

Se o crime pelo qual o Ministério Público pode promover o processo for de menor gravidade,
as pessoas a quem a lei confere o direito de queixa ou de acusação particular são notificadas
para declararem, em cinco dias, se querem ou não usar desse direito. Se declararem:

a) Que não pretendem apresentar queixa, ou nada declararem, o Ministério Público


promove o processo pelos crimes que puder promover;
b) Que pretendem apresentar queixa, considera-se esta apresentada.

Art. 52º CPP; art. 30º,77º, 78º, 79º CP

Extensão da queixa

A apresentação da queixa contra um dos comparticipantes no crime torna o


procedimento criminal extensivo aos restantes (Art. 114º CP)

Até poderá ser desconhecido do queixoso no momento da apresentação da queixa, assim


como poderá ser desconhecida a existência de eventuais comparticipantes, vindo a apurar-se a
sua existência e identificação no decurso do inquérito. No caso de a queixa ser apresentada
contra determinada pessoa que se vem a apurar não ser a agente do crime (e/ou ter
participado nele), o queixoso tem o direito de dirigir a queixa contra os verdadeiros agentes.
Esta nova queixa deve ser deduzida no prazo de 6 meses, apos o conhecimento dos
verdadeiros autores.

Quem pode apresentar queixa (art. 49nº3 CPP)

 O titular do respetivo direito


 O mandatário judicial
 O mandatário munido de poderes especiais

Onde deve ser apresentada

A queixa deve ser apresentada nos serviços do MP junto do tribunal competente, visto que é
ao MP que compete receber as queixas e apreciar o seguimento a dar-lhes (art. 53°n° 2 a)).
Também se considera feita ao MP a queixa dirigida a qualquer outra entidade que tenha a
obrigação legal de a transmitir àquele (art. 49°nº2), designadamente, todas as entidades
policiais a quem aquela for apresentada. Os órgãos de polícia criminal e as autoridades
judiciárias (art.12ºb), c)) recebem denúncias e queixas pela prática de crimes contra residentes
em Portugal que tenham sido cometidos no território de outro Estado membro da UE. As
referidas denúncias e queixas são transmitidas pelo MP, no mais curto prazo, à autoridade
competente do Estado membro em cujo território foi praticado o crime, exceto se os tribunais
portugueses forem competentes para o conhecimento da infração. Por sua vez, o MP recebe
das autoridades competentes de Estados membros da UE denúncias e queixas por crimes
praticados em território português contra residentes noutro Estado membro, para efeitos de
instauração de procedimento criminal.

3. Extinção do direito

O prazo de extinção do direito de queixa e o prazo de prescrição do procedimento criminal


são prazos autónomos que correm paralelamente, pelo que não devem ser confundidos.

 O prazo de prescrição do procedimento criminal (118º e ss CP)


 O prazo de extinção do direito de queixa tem natureza substantiva, sendo um prazo de
caducidade, não podendo ser suspenso ou interrompido por nenhuma circunstância
(328º CC). O decurso do prazo perentório extingue o direito de praticar o ato (art.
139ºnº3 CPC)

Prazo de extinção

O titular do direito de queixa não pode exercer esse direito a todo o tempo. Segundo o art.
115ºn1 e 2 CP, o direito de queixa extingue-se no prazo de seis meses a contar da data em
que:

 o titular tiver tido conhecimento do facto e dos seus autores, ou a partir da morte
do ofendido, ou da data em que ele se tiver tornado incapaz,
 o ofendido perfizer 18 anos.

Extensão dos efeitos do não exercício tempestivo do direito de queixa

Se a apresentação da queixa contra um dos comparticipantes no crime torna o procedimento


criminal extensivo aos restantes (art. 114º CP), também a extinção do direito de queixa,
decorrente do seu não exercício tempestivo, aproveita aos restantes comparticipantes
(115ºnº3 CP)

4. Renúncia

Segundo o art. 116nº1 CP, o direito de queixa não pode ser exercido se:

 o titular a ele expressamente tiver renunciado (renuncia expressa)


 tiver praticado factos donde a renúncia necessariamente se deduza (renuncia tácita).
Nota: a renuncia pressupõe, por um lado, que o crime já tenha sido praticado e, por outro
lado, que o direito de queixa não tenha sido exercido, não chegando assim a existir
processo.

Nota 2: é também aplicável aos crimes particulares (117º CP)

5. Desistência

Admissibilidade – O queixoso pode desistir da queixa, desde que não haja oposição do
arguido, até à publicação da sentença da 1ª instância. A desistência impede que a
queixa seja renovada (art. 116nº2 CP). NOTA: Uma vez que a desistência tem como
pressuposto a disponibilidade do seu objeto, nos crimes de natureza pública não é
admitida.
oportunidade – a desistência de queixa pode ter lugar durante o inquérito, a instrução
ou o julgamento, cabendo a sua homologação ao MP, ao juiz de instrução e ao
presidente do tribunal, respetivamente (art. 51nº2 CPP). NOTA: A violação das regras
de competência constitui uma nulidade insanável (119ºe) CPP)

Procedimento – 51nº3 e 4 CPP - Logo que tomar conhecimento da desistência, a


autoridade judiciária competente para a homologação notifica o arguido para, em
cinco dias, declarar, sem necessidade de fundamentação, se a ela se opõe. A falta de
declaração equivale a não oposição.
Quem pode apresentar – pode ser apresentada pessoalmente ou através de
mandatário judicial (45ºnº2 CPC). NOTA: a desistência da queixa pressupõe uma
declaração expressa do ofendido nesse sentido.

Extensão dos efeitos da desistência – a desistência da queixa relativamente a um dos


comparticipantes no crime aproveita aos restantes (/116ºnº3 CP)

Custas processuais – 515ºnº1 d), 1ªparte CPP – é devida taxa de justiça pelo
assistente. Se o desistente não for assistente não se encontra sujeito a esse pagamento

6. Queixa eletrónica

Segundo o art. 94nº3 CPP, podem utilizar-se fórmulas pré-impressas, formulários em


suporte eletrónico ou carimbos, a completar com o texto respetivo, podendo recorrer-se a
assinatura eletrónica certificada. Hoje existe o Sistema de Queixa Eletrónica onde, quem foi
vítima de um crime publico ou semipúblico, pode mais facilmente apresentar queixa.

7. Queixa para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem

Art. 19 CEDH (CRIAÇÃO DO TIRBUNAL); Art. 47º CDFUE (CONDIÇÕES DE ADMISSIBILIDADE)

A intervenção para este tribunal só pode ser solicitada depois de esgotadas todas as vias
de recurso internas, em conformidade com os princípios de direito internacional
geralmente reconhecidos e num prazo de 6 meses a contar da data da decisão interna
definitiva (35nº1 CEDH).

NOTA: pode receber petições de qualquer pessoa partiular

III. DENÚNCIA
1. Aspetos gerais

Forma e conteúdo
A denuncia é comunicação da prática de um crime ao MP (ou a outra autoridade com
obrigação de lhe transmitir), na forma estabelecida por lei, para efeitos de procedimento
criminal.

A denúncia pode ser feita verbalmente (sendo feita verbalmente deverá ser reduzida a
escrito e assinada pela entidade que a receber e pelo denunciante, devidamente
identificado) ou por escrito (pode consistir numa participação escrita, numa carta, num e-
mail, num SMS ou qualquer outro meio escrito) e não está sujeito a formalidades especiais
(art. 246ºnº1 e 2 e 275º nº2, 1ª parte). Depois de o MP receber denúncia deve apreciar o
seguimento a dar-lhe (art. 53ºnº2 a)).

NOTA: no caso qualquer das pessoas cuja assinatura for obrigatória não puder ou se
recusar a prestá-la, autoridade ou funcionário presentes declaram no auto essa
impossibilidade ou recusa e os motivos que para elas tenham sido dados (art. 95nº3 ex vi
246nº2). A omissão de uma assinatura constitui numa mera irregularidade que pode ser
reparada segundo os termos do 123nº2 cpp.

Elementos

Uma denúncia bem elaborada é meio caminho andado para uma boa investigação e uma
boa acusação. Será a partir dela que os factos, se bem descritos, serão devidamente
apurados, de forma a poderem integrar a acusação.

Segundo os art. 243ºnº1 e 246nº3 CPP, a denúncia deve conter:

 os factos que constituem o crime


 o dia, a hora, o local e as circunstâncias em que o crime foi cometido
 tudo o que puderem averiguar acerca da identificação dos agentes e dos
ofendidos, bem como os meios de prova conhecidos, nomeadamente as
testemunhas que puderem depor sobre os factos

Declaração de Constituição de assistente

No caso de um crime Público ou semipúblico, o denunciante pode declarar na denúncia que


deseja constituir-se assistente. No caso de crime particular, essa declaração é obrigatória
(246nº4 CPP) e deverá ser apresentado no prazo de 10 dias a contar da advertência (68nº2),
sob pena de o MP arquivar o inquérito (art. 116nº1 CP)

Comunicação, registo e certificado de denuncia

O 247nº1 CPP, impõe que o MP forme ofendido a notícia do crime, sempre que tenha razões
para crer que ele não a conhece. Além disso, também os números 2,3 e 4 do art. 247º CPP,
estabelecem do que o ofendido deve ser informado. O MP procede ou manda proceder ao
registo de todas as denúncias que lhe foram transmitidas (247nº5 CPP). Faz saber que a alusão
a “todas” significa que quaisquer denúncias, independentemente da proveniência, forma de
Transmissão, ou momento em que são transmitidas, sejam obrigatórias ou facultativas, se
reportem a crimes públicos, semi públicos ou particulares, devem ser registadas. É indiferente
que sejam fundadas/infundadas, anónimas/não anónimas, que impliquem a abertura de
inquérito ou prosseguimento dos autos ou sejam arquivadas liminarmente.

2. Denúncia obrigatória e facultativa


Artigo 242.º - Denúncia obrigatória
1 - A denúncia é obrigatória, ainda que os agentes do crime não sejam conhecidos:

a) Para as entidades policiais, quanto a todos os crimes de que tomarem conhecimento;


b) Para os funcionários, na aceção do artigo 386.º do Código Penal, quanto a crimes de que tomarem
conhecimento no exercício das suas funções e por causa delas.

2 - Quando várias pessoas forem obrigadas à denúncia do mesmo crime, a sua apresentação por uma delas
dispensa as restantes.
3 - Quando se referir a crime cujo procedimento dependa de queixa ou de acusação particular, a denúncia só
dá lugar a instauração de inquérito se a queixa for apresentada no prazo legalmente previsto.

NOTA: denuncia caluniosa e de simulação estão previstos nos art. 365º e 366º CP.

2.1.Proteção do denunciante

No plano da proteção dos denunciantes, Cada Estado parte da União Europeia, está Hoje
vinculado a considerar a incorporação no seu sistema jurídico interno de medidas adequadas
para assegurar a proteção contra qualquer tratamento injustificado de quem preste, às
autoridades competentes, de boa-fé e com base em suspeitas razoáveis, informações sobre
quaisquer factos relativos às infrações estabelecidas em conformidade com a presente
Convenção.

2.2.Dispensa de pena

Artigo 74.º CP - Dispensa de pena

1 - Quando o crime for punível com pena de prisão não superior a 6 meses, ou só com multa não superior a
120 dias, pode o tribunal declarar o arguido culpado mas não aplicar qualquer pena se:

a) A ilicitude do facto e a culpa do agente forem diminutas;


b) O dano tiver sido reparado; e
c) À dispensa de pena se não opuserem razões de prevenção.

2 - Se o juiz tiver razões para crer que a reparação do dano está em vias de se verificar, pode adiar a sentença
para reapreciação do caso dentro de um ano, em dia que logo marcará.
3 - Quando uma outra norma admitir, com carácter facultativo, a dispensa de pena, esta só tem lugar se no
caso se verificarem os requisitos contidos nas alíneas do n.º 1.

Artigo 280.º CPP - Arquivamento em caso de dispensa da pena

1 - Se o processo for por crime relativamente ao qual se encontre expressamente prevista na lei penal a
possibilidade de dispensa da pena, o Ministério Público, com a concordância do juiz de instrução, pode decidir-se
pelo arquivamento do processo, se se verificarem os pressupostos daquela dispensa.
2 - Se a acusação tiver sido já deduzida, pode o juiz de instrução, enquanto esta decorrer, arquivar o processo
com a concordância do Ministério Público e do arguido, se se verificarem os pressupostos da dispensa da pena.
3 - A decisão de arquivamento, em conformidade com o disposto nos números anteriores, não é suscetível de
impugnação.

Caso a gente denuncie o crime em todos os seus contornos antes da instauração do


procedimento criminal, a dispensa torna-se obrigatória, havendo sempre intervenção do juiz,
de instrução ou de julgamento, na verificação dos seus pressupostos. Se o agente colaborar se
decisivamente para a descoberta da verdade material durante a fase de inquérito ou de
instrução, mesmo que não tenha denunciado o crime antes da instauração do procedimento
criminal, a dispensa de pena pode ter lugar caso se verifiquem os pressupostos alíneas a),b) e
c) do nº1 do art. 74º CP. Se tais pressupostos estiverem verificados, mesmo nos casos de a
dispensa de pena é obrigatória, pode haver lugar ao arquivamento em caso de dispensa de
pena, conforme previsto no art. 280º CPP. O agente é dispensado de pena sempre que tiver
denunciado o crime antes da instauração do procedimento criminal.

3. Denúncia anónima

A comunicação dos factos às entidades competentes pode ser dada de forma anónima. A
denúncia anónima é uma informação que não contém a identificação do seu real autor.
Consubstancia, também, uma denúncia anónima aquela informação que é efetuada sob
pseudónimo, ou seja a apócrifa (cuja identidade não se demonstre). No caso da denúncia
anónima, só se pode determinar a abertura de inquérito se:

 dela se retirarem indícios de crime (246nº6 a)) ou


 constituir crime (246nº6 b))

Se a denúncia anónima disser respeito a crimes semi públicos ou particulares, autoridade


judiciária ou órgão da polícia criminal competentes informam o titular do direito de queixa ou
participação na existência da denúncia (246nº7), para que façam desencadear os necessários
procedimentos judiciais, no prazo legalmente previsto. Não o fazendo, tal denúncia não
determina a instauração de inquérito, até porque o MP, neste caso, não terá legitimidade para
promover o processo penal (48º CPP). Quando a denúncia anónima não determinar a abertura
de inquérito, a autoridade judiciária competente promove a sua destruição (art. 246ºnº8 CPP).

4. Auto de notícia
Artigo 243.º CPP - Auto de notícia
1 - Sempre que uma autoridade judiciária, um órgão de polícia criminal ou outra entidade policial
presenciarem qualquer crime de denúncia obrigatória, levantam ou mandam levantar auto de notícia, onde se
mencionem:

a) Os factos que constituem o crime;


b) O dia, a hora, o local e as circunstâncias em que o crime foi cometido; e
c) Tudo o que puderem averiguar acerca da identificação dos agentes e dos ofendidos, bem como os
meios de prova conhecidos, nomeadamente as testemunhas que puderem depor sobre os factos.

2 - O auto de notícia é assinado pela entidade que o levantou e pela que o mandou levantar.
3 - O auto de notícia é obrigatoriamente remetido ao Ministério Público no mais curto prazo, que não pode
exceder 10 dias, e vale como denúncia.
4 - Nos casos de conexão, nos termos dos artigos 24.º e seguintes, pode levantar-se um único auto de notícia.

Nota: no 243ºn1 c), “testemunhas” é a titulo meramente exemplificativo. No auto deverá


conter a indicação de todos os meios que sejam observáveis no local e que permitirão mais
tarde as diligencias para se descobrir a verdade (ex.: sistema de videovigilância, objetos do
crime, matricula de viatura no qual o suspeito fugiu…).

É obrigatória a constituição de arguido logo que for levantado auto de noticia que dê uma
pessoa como agente de um crime e aquele lhe for comunicado, exceto se a noticia for
manifestamente infundada (art. 58º nº1 d))

Nota: detenção em caso de flagrante delito – 255nº3 CPP

5. Denúncia apresentada pela vítima

A vitima pode coincidir com as figuras do ofendido, do queixoso. Do assistente e do lesado.


Artigo 67.º-A - Vítima
1 - Considera-se:

a) 'Vítima':

i) A pessoa singular que sofreu um dano, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou psíquica, um dano
emocional ou moral, ou um dano patrimonial, diretamente causado por ação ou omissão, no âmbito da prática de um crime;
ii) Os familiares de uma pessoa cuja morte tenha sido diretamente causada por um crime e que tenham sofrido um
dano em consequência dessa morte;
iii) A criança ou jovem até aos 18 anos que sofreu um dano causado por ação ou omissão no âmbito da prática de um
crime, incluindo os que sofreram maus tratos relacionados com a exposição a contextos de violência doméstica;

b) 'Vítima especialmente vulnerável', a vítima cuja especial fragilidade resulte, nomeadamente, da sua idade, do seu estado
de saúde ou de deficiência, bem como do facto de o tipo, o grau e a duração da vitimização haver resultado em lesões com
consequências graves no seu equilíbrio psicológico ou nas condições da sua integração social;
c) 'Familiares', o cônjuge da vítima ou a pessoa que convivesse com a vítima em condições análogas às dos cônjuges, os
seus parentes em linha reta, os irmãos e as pessoas economicamente dependentes da vítima;
d) 'Criança ou jovem', uma pessoa singular com idade inferior a 18 anos.

2 - Para os efeitos previstos na subalínea ii) da alínea a) do n.º 1 integram o conceito de vítima, pela ordem e prevalência
seguinte, o cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens, ou a pessoa que convivesse com a vítima em
condições análogas às dos cônjuges, os descendentes e os ascendentes, na medida estrita em que tenham sofrido um dano com a
morte, com exceção do autor dos factos que provocaram a morte.
3 - As vítimas de criminalidade violenta, de criminalidade especialmente violenta e de terrorismo são sempre consideradas
vítimas especialmente vulneráveis para efeitos do disposto na alínea b) do n.º 1.
4 - Assistem à vítima os direitos de informação, de assistência, de proteção e de participação ativa no processo penal, previstos
neste Código e no Estatuto da Vítima.
5 - A vítima tem direito a colaborar com as autoridades policiais ou judiciárias competentes, prestando informações e
facultando provas que se revelem necessárias à descoberta da verdade e à boa decisão da causa.

Artigo 8.º EV (Estatuto da Vítima)


Princípio da informação
O Estado assegura à vítima a prestação de informação adequada à tutela dos seus direitos, designadamente nos
termos previstos nos artigos 11.º e 12.º

Artigo 11.º
Direito à informação
1 - É garantida à vítima, desde o seu primeiro contacto com as autoridades e funcionários competentes,
inclusivamente no momento anterior à apresentação da denúncia, e sem atrasos injustificados, o acesso às seguintes
informações:
a) O tipo de serviços ou de organizações a que pode dirigir-se para obter apoio;
b) O tipo de apoio que pode receber;
c) Onde e como pode apresentar denúncia;
d) Quais os procedimentos subsequentes à denúncia e qual o seu papel no âmbito dos mesmos;
e) Como e em que termos pode receber proteção;
f) Em que medida e em que condições tem acesso a:
i) Consulta jurídica;
ii) Apoio judiciário; ou
iii) Outras formas de aconselhamento;
g) Quais os requisitos que regem o seu direito a indemnização;
h) Em que condições tem direito a interpretação e tradução;
i) Quais os procedimentos para apresentar uma denúncia, caso os seus direitos não sejam respeitados pelas
autoridades competentes que operam no contexto do processo penal;
j) Quais os mecanismos especiais que pode utilizar em Portugal para defender os seus interesses, sendo residente
em outro Estado;
k) Como e em que condições podem ser reembolsadas as despesas que suportou devido à sua participação no
processo penal;
l) Em que condições tem direito à notificação das decisões proferidas no processo penal.
2 - A extensão e o grau de detalhe das informações a que se refere o número anterior podem variar consoante as
necessidades específicas e as circunstâncias pessoais da vítima, bem como a natureza do crime.
3 - No momento em que apresenta a denúncia, é assegurado à vítima o direito a assistência gratuita e à tradução da
confirmação escrita da denúncia, numa língua que compreenda, sempre que não entenda português.
4 - Podem ser fornecidas, em fases posteriores do processo, informações complementares das prestadas nos termos
do n.º 2, em função das necessidades da vítima e da relevância dessas informações em cada fase do processo.
5 - A vítima tem direito a consultar o processo e a obter cópias das peças processuais nas mesmas condições em que
tal é permitido ao ofendido nos termos previstos no Código de Processo Penal.
6 - Sempre que a vítima o solicite junto da entidade competente para o efeito, e sem prejuízo do regime do segredo
de justiça, deve ainda ser-lhe assegurada informação, sem atrasos injustificados, sobre:
a) O seguimento dado à denúncia, incluindo:
i) A decisão de arquivamento ou de não pronúncia, bem como a decisão de suspender provisoriamente o processo;
ii) A decisão de acusação ou de pronúncia;
b) Os elementos pertinentes que lhe permitam, após a acusação ou a decisão instrutória, ser inteirada do estado do
processo, incluindo o local e a data da realização da audiência de julgamento, e da situação processual do arguido,
por factos que lhe digam respeito, salvo em casos excecionais que possam prejudicar o bom andamento dos autos;
c) A sentença do tribunal.
7 - Para os efeitos previstos no número anterior, a vítima pode de imediato declarar, aquando da prestação da
informação aludida na alínea l) do n.º 1, que deseja ser oportunamente notificada de todas as decisões proferidas no
processo penal.
8 - As informações prestadas nos termos das alíneas a) e c) do número anterior devem incluir a fundamentação da
decisão em causa ou um resumo dessa fundamentação.
9 - Devem ser promovidos os mecanismos adequados para fornecer à vítima, em especial nos casos de reconhecida
perigosidade do arguido, de informações sobre as principais decisões judiciárias que afetem o estatuto deste, em
particular a aplicação de medidas de coação.
10 - Deve ser dado conhecimento à vítima, sem atrasos injustificados, da libertação ou evasão da pessoa detida,
acusada, pronunciada ou condenada.
11 - Deve ser assegurado à vítima o direito de optar por não receber as informações referidas nos números
anteriores, salvo quando a comunicação das mesmas for obrigatória nos termos das normas do processo penal
aplicável.

No âmbito do EV (estatuto da vítima), o legislador atribui às vítimas de criminalidade, entre


outros, o direito à informação (8º e 11º EV; 67-A nº4 CPP)

Vítimas de violência doméstica

152º CP (caso muito específico …)

6. Custas processuais

A denúncia ou queixa apresentada às autoridades competentes não está sujeita ao pagamento


de qualquer quantia, até porque, é de todo o interesse da comunidade o apuramento dos
factos associados à atividade criminosa, bem como a perseguição e punição dos respetivos
agentes. No entanto, realçamos que esta regra só se aplica aos crimes públicos e semi- públicos
(arts. 48° (Legitimidade) e 49° (Legitimidade em procedimento dependente de queixa)). Na
verdade, tratando-se de crimes particulares, o ofendido, uma vez que tem de se constituir
assistente no processo, terá que pagar a correspondente taxa de justiça (arts. 50°
(Legitimidade em procedimento dependente de acusação particular), 68° (Assistente), 519º
(Taxa devida pela constituição de assistente), nº 1, do CPP e o art. 8° (Taxa de justiça em
processo penal e contraordenacional), nº 1, do RCP. Em qualquer caso, se a denúncia tiver
sido apresentada de má-fé ou com negligência grave, o denunciante paga custas, cujo valor
deve ser fixado pelo juiz entre 1 UC e 5 UC (art. 520° (Responsabilidade do denunciante), do
CPP e os arts. 8° (Taxa de justiça em processo penal e contraordenacional), nº 6, 3° (Conceito
de custas), nº 2 e 5º (Unidade de conta), nº 4, do RCP). Denuncia de má fé quem tem
consciência de que o denunciado não é o agente da infração imputada, e com negligência
grave ou grosseira o que não obtém informação, podendo e devendo fazê-lo, sobre o não
cometimento pelo visado da infração denunciada" - art. 542º (Responsabilidade no caso de
má-fé - Noção de má-fé), do CPC. Se o MP recolher prova bastante de se não ter verificado
crime, de o arguido não o ter praticado a qualquer título ou de ser legalmente inadmissível o
procedimento, deve proferir despacho de arquivamento do inquérito. Se assim for, sempre que
se verificar que existiu por parte de quem denunciou ou exerceu um alegado direito de queixa
uma utilização abusiva do processo, o tribunal condena-o no pagamento de uma soma entre 6
UC e 20 UC, sem prejuízo do apuramento de responsabilidade penal (art. 277nº1 e 5), arts.
365° (Denúncia caluniosa) e 366° (Simulação de crime), ambos do CP. Existe utilização abusiva
do processo, reveladora de má-fé, quando o denunciante em dois momentos temporais
distintos, apresenta denúncia pelos mesmos factos, perante diferentes Serviços do MP, não
obstante ter sido notificado de que os factos objeto da primeira denúncia não constituíam
qualquer ilícito penal.

Têm legitimidade para recorrer aqueles que tiverem sido condenados ao pagamento de
quaisquer importâncias, nos termos do CPP, sendo que, nesse caso, o recurso sobe
imediatamente. Ademais, o recorrente pode fazer suspender os efeitos da decisão recorrida,
depositando o respetivo valor (arts. 401º, nº 1, al. d), 1ª parte; 407º, nº 2, al. d) e 408°, n° 2,
al. a)). Quando o valor a pagar no processo for igual ou superior a 3 UC, o responsável pode
fazer o requerimento previsto no art. 33° (Pagamento das custas em prestações), do RCP, art.
36º (Receitas provenientes do sistema judicial), nº 1, al. f). As custas, multas não penais e
outras sanções pecuniárias fixadas em processo judicial podem ser cobradas mediante
processo de execução fiscal.

IV. Participação

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