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AÇÃO PENAL

CONCEITO

Trata-se de meio de deflagrar o processo penal quando existem indícios de


autoria e de materialidade.
No Processo Penal, a ação penal pode ser pública ou privada. Sendo pública, a
propositura deverá ser feita pelo Ministério Público, por meio da denúncia. A
ação penal pública pode ser incondicionada, quando o Ministério Público não
tiver que se submeter a qualquer condição para o seu oferecimento;
condicionada, quando houver necessidade de existir a representação do
ofendido ou de seu representante legal, ou quando for necessária a requisição
do Ministro da Justiça.
Por outro lado, a ação penal privada será intentada pelo ofendido ou pelo seu
representante legal, sendo ela feita por meio da queixa-crime.

CONDIÇÕES DA AÇÃO NO PROCESSO PENAL

Por condições da ação, pode-se entender a necessidade de ter a conjugação


dos seguintes elementos:
a) Legitimidade de parte: se a ação for pública a propositura deve ser feita
pelo membro do Ministério Público, ou seja, Promotor de Justiça (competência
estadual) ou Procurador da República (competência federal). Caso se trate de
ação penal privada, a sua legitimidade é do ofendido ou de seu representante
legal, por meio da queixa-crime, a ser manejada por advogado devidamente
inscrito nos quadros da OAB.
b) Interesse de agir: o interesse de agir ocorre quando não houver extinção da
punibilidade e estiverem presentes os indícios de autoria e materialidade da
infração penal.
c) Possibilidade jurídica do pedido: para que alguém seja processado por
uma infração penal, o fato descrito na ação penal deve ser típico, isto é, existir
previsão legal. No Processo Penal, a ação penal deve ser motivada para a
aplicação de uma pena ou medida de segurança, pois são as únicas
possibilidades de execução penal.

AÇÃO PENAL PÚBLICA


A ação penal será pública quando proposta pelo Ministério Público, podendo
ser incondicionada ou condicionada, tendo o seu fundamento na
Constituição Federal, art. 129, I. Por fim, lembrar a existência da regra prevista
no art. 24, § 2º, CPP, que torna de ação penal pública todo o crime praticado
em detrimento de patrimônio ou interesse de União, Estado ou Município.

PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA

A ação penal pública possui princípios próprios, os quais serão estudados de


per si.

a) Obrigatoriedade: o Ministério Público, diante do cometimento de uma


infração penal, não poderá transigir acerca da propositura ou não de uma ação
penal. Trata-se de dever imposto ao titular exclusivo da ação penal. Lembrar
que o Ministério Público poderá deixar de intentar a ação penal quando o crime
tiver pena máxima abstrata não superior a dois anos, pois aqui caberá a
aplicação do instituto da transação penal, previsto na Lei n. 9.099/95. Tal
instituto é permitido pelo ordenamento jurídico, constituindo apenas uma
exceção à obrigatoriedade.
b) Indisponibilidade: tendo sido proposta a ação penal pública, impossível
que se desista dela, pois o membro do Ministério Público não possui mais a
discricionariedade de propor ou não a denúncia. Agora, a ação penal deverá
ser analisada pelo Juiz, podendo este condenar ou absolver.
Uma exceção ao referido requisito da indisponibilidade pode ser encontrada na
já citada Lei n. 9.099/95, art. 89, em que se permite a suspensão condicional
do processo (ação) quando o acusado estiver respondendo por crime cuja
pena mínima abstratamente cominada for igual ou inferior a um ano. Nesse
diapasão, caso o acusado aceite as condições ofertadas pelo Ministério
Público, o processo ficará suspenso por um prazo determinado, sendo que, se
forem cumpridas todas as condições impostas, ao final será extinta a sua
punibilidade.
c) Oficialidade: assim como existe no inquérito policial tal princípio, a sua
aplicação exige que o titular da ação penal pública seja um integrante dos
quadros estatais. Destarte, somente o membro do Ministério Público poderá
intentar a ação penal.

PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA


Nos crimes de ação penal pública, o Código de Processo Penal tratou a
matéria de forma específica, havendo diferença de prazo apenas se o réu
estiver preso ou não.
Esta é a redação da lei: Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia,
estando o réu preso, será de 5 (cinco) dias, contado da data em que o órgão do
Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 (quinze) dias,
se o réu estiver solto ou afiançado....
Importante ressaltar que existe outro prazo específico para os crimes previstos
na Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas), sendo que aqui não existe diferença
para o caso de o réu estar preso ou não, sendo o prazo de 10 dias.
Titularidade da ação penal pública Conforme já visto acima, o Ministério
Público.
É o titular exclusivo da ação penal pública, tanto na forma incondicionada
quanto na condicionada, na esteira do art. 129, I, Constituição Federal. A única
exceção a este mandamento é a ação penal privada subsidiária da pública, nos
casos de inércia do órgão ministerial.

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À


REPRESENTAÇÃO

Essa é uma das espécies de ação penal pública, sendo que a representação é
condição de procedibilidade para a sua deflagração por parte do Ministério
Público.
Ela está prevista no Código de Processo Penal, em seu art. 24, caput.
A representação deve ser feita pelo ofendido ou por seu representante legal.
Todavia, caso o ofendido tenha falecido, a representação passará para
seus familiares, ou seja, cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, na
forma do art. 24, § 1º, CPP.
A representação possui uma importante consideração a ser feita, muito em
razão de ser questão recorrente em provas de concurso, que é atinente ao seu
prazo. Pela redação do art. 38, CPP, o prazo para o seu oferecimento é de
seis meses, a contar da data em que se souber quem é o autor da infração.
Neste prazo o ofendido pode se retratar, conforme interpretação do Art. 25. A
representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.
A forma de ofertar a representação pode ser oral ou escrita, sendo que ela
deverá ser apresentada para o Ministério Público, Autoridade Policial ou Juiz,
sempre pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, tudo isso na
forma do art. 39, caput, CPP.
O conteúdo da representação refere-se a informações que possam servir à
apuração do fato e da autoria, na forma do art. 39, § 2º, CPP. Caso a
representação contenha elementos suficientes para a propositura da ação
penal, importante anotar que o Ministério Público dispensará o inquérito policial
e irá impetrar a denúncia no prazo de quinze dias, na forma do art. 39, § 5º,
CPP.

AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA

A ação penal pública incondicionada é a regra, ou seja, quando o crime nada


dispuser acerca de como se deve processá-lo, a forma é a incondicionada.
Essa é a orientação do art. 100, caput, Código Penal.

AÇÃO DE INICIATIVA PRIVADA

Essa forma de provocar a jurisdição penal é própria do ofendido ou de seu


representante legal.
Importante assinalar que se o ofendido falecer ou for declarado ausente, isso
por si só não impedirá a propositura da ação penal privada, pois tal direito
passará para os seus sucessores, na forma do art. 31, sendo estes o cônjuge,
o descendente, o ascendente, ou irmão.
Cumpre ressaltar que a forma de propositura dessa ação penal privada é a
queixa-crime, instrumento processual que é assinado por advogado ou
defensor público, neste último caso se o ofendido for pobre no sentido legal e
não tiver condições de contratar advogado particular.
Outra questão relevante é quando o ofendido for pessoa menor de 18 (dezoito)
anos ou doente mental e não tiver representante legal ou, de outra feita,
quando os interesses daquele (ofendido) colidirem com os do último
(representante legal). Neste caso, surge a figura do curador especial, que
zelará pelo direito do ofendido para a propositura da ação penal privada.
O candidato deve tomar cuidado com a regra do art. 34, CPP, que perdeu
eficácia diante da nova sistemática processual, pois o maior de 18 (dezoito)
anos não necessita mais de curador para reger os seus direitos, posto que com
a capacidade plena ele exercerá de forma autônoma o direito de propor queixa-
crime, por meio de advogado constituído.

Princípios da ação penal privada


Assim como na ação penal pública, a ação penal privada tem princípios
próprios de regência, como se verá a seguir.
a) Oportunidade: o ofendido terá o direito de escolher entre processar ou não
o autor de uma infração penal, ainda que existam provas suficientes para a
condenação. Também é conhecido como princípio da conveniência.
b) Disponibilidade: uma vez intentada a queixa-crime, o ofendido poderá
desistir de prosseguir no processo, notadamente por meio dos institutos do
perdão e da renúncia. Os dois institutos citados encontram-se nos arts. 49 e 51
do CPP. Por fim, deve ser lembrado que ambos os institutos constituem causas
de extinção da punibilidade, na forma do art. 107, V, Código Penal.
c) Indivisibilidade: este é o princípio mais comum de ser visto nas provas,
quanto ao tema da ação penal privada, uma vez que impede a chamada
vingança privada por parte do ofendido. Caso o autor da queixa-crime esteja
diante de uma situação que envolva mais de um réu, ele deverá propor a ação
penal contra todos, não podendo escolher contra quem impetrará a ação. Esta
é a redação do art. 48, CPP. Dessa forma, caso o ofendido entre com a queixa-
crime apenas contra um dos réus, o Ministério Público deverá oficiar no
processo penal para zelar pela ação contra todos ou contra nenhum, operando-
se a renúncia como causa extintiva da punibilidade se o autor insistir em
acionar apenas alguns dos réus.

Prazo para oferecimento da queixa-crime

Da mesma forma que a representação, existe prazo de 6 meses da data em


que vier a saber quem é o autor da infração, para o ofendido impetrar a ação
penal privada, sob pena de, uma vez desrespeitado, ocorrer a decadência.
Sendo assim, caso violado o prazo de seis meses, ocorrerá o fenômeno da
decadência, sob a qual incidirá a extinção da punibilidade prevista no art. 107,
IV, Código Penal.

Titularidade da ação penal de iniciativa privada

Conforme já visto acima, cabe ao ofendido ou quem tiver a sua representação


legal a propositura de tal ação penal, por meio da queixa-crime. Para fins
técnicos, o autor da queixa-crime é chamado de querelante, enquanto o réu é
chamado de querelado. a queixa-crime deve ser precedida de uma procuração
com poderes especiais, devendo conter nesta última o nome do querelante e
querelado, bem como a menção ao fato criminoso. Sem esse último requisito, o
Juiz não conhecerá da queixa-crime.
Extinção da punibilidade na ação penal de iniciativa privada

O querelante deve ficar atento para os casos que extinguem a ação penal
privada, pois estão todos previstos na lei e geram consequente extinção da
punibilidade.
Os casos legais são a decadência, renúncia, perdão do ofendido e perempção.
A decadência já foi estudada anteriormente e fulmina fatalmente o direito de
ação quando o autor não observa o prazo de 6 (seis) meses para ofertar a
queixa-crime. Tal prazo está previsto no art. 38, caput, CPP, contado do dia em
que veio a saber quem é o autor do crime. Uma vez transcorrido o prazo,
ocorre a extinção da punibilidade, na forma do já citado art. 107, IV, Código
Penal.
A renúncia ocorre quando o querelante de forma expressa ou tácita desiste de
processar o autor do fato. Também é forma de extinção da punibilidade, na
forma do art. 107, V, CP.
O perdão do ofendido é ato do querelante, mas que depende da aceitação
expressa do querelado, sem o qual não será válido.
Caso não seja aceito diretamente pelo querelante, será válido se for feito por
procurador deste com poderes especiais para tanto, na forma do art. 55, CPP.
A forma de aceitar o perdão judicial segue a linha da renúncia, devendo ser
aceito de forma expressa nos autos pelo querelado, dentro do prazo de três
dias. Caso tal prazo escoe sem que haja qualquer manifestação do querelado,
entende-se que houve a sua aceitação tácita. Se o perdão foi dado fora do
processo, o querelado deverá dizer expressamente se o aceita, podendo tal
manifestação ser dada por procurador com poderes especiais ou por seu
representante legal, na forma do art. 59, CPP.
Por fim, o perdão aceito também é causa de extinção da punibilidade, na forma
do art. 107, V, CP, bem como pelo art. 58, parágrafo único, CPP.
A derradeira forma de extinguir a ação penal é a perempção, conforme
disposto no art. 60, CPP, a seguir transcrito:

Art. 60. Nos casos em que somente se procede


mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação
penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de
promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua
incapacidade, não comparecer em juízo, para
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60
(sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber
fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem
motivo justificado, a qualquer ato do processo a que
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido
de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta
se extinguir sem deixar sucessor.

Essa forma extintiva da punibilidade somente pode ser aplicada para as ações
penais privadas, conforme caput do art. 60, CPP.
Todavia, é muito comum ser questionado se o referido instituto aplica-se aos
casos de ação penal privada subsidiária da pública, sendo a resposta não a
correta.
Isso porque se houver a desídia do querelante, nas formas dos incisos I a IV, o
Ministério Público retomará a ação penal, não havendo a sua extinção. Logo,
muito cuidado com essa observação.
Dentre as causas de perempção, deve ser lembrada a constante do inciso III,
parte final, em que o querelante deve expressamente fazer o pedido de
condenação por ocasião das alegações finais, que via de regra são feitas na
forma oral, salvo quando o Juiz concede prazo para a forma escrita. O pedido
de condenação deve ser expresso e claro.
Todas as causas extintivas da punibilidade trabalhadas acima podem ser
reconhecidas pelo Juiz de ofício, a qualquer tempo, pois são tidas como
matéria de ordem pública, na forma do art. 61, caput, CPP.
Por fim, uma última causa extintiva da punibilidade, mas que é aplicada para
qualquer tipo de ação penal, pública ou privada, é a morte, podendo ela ser
reconhecida pelo Juiz após a juntada de certidão de óbito e manifestação do
Ministério Público, conforme art. 62, CPP.

Ação penal privada subsidiária da pública

Cumpre ressaltar que tal espécie de ação penal já fora trabalhada acima,
todavia deve ser feita a observação de que ela somente pode ser proposta em
casos de inércia do Ministério Público, não sendo possível a sua propositura
quando o membro do Ministério Público requerer o arquivamento do feito, pois
nesse caso ele está sendo ativo, mas pedindo o encerramento do inquérito
policial.
Ela possui natureza jurídica de ação penal privada, devendo ser proposta pelo
querelante, mas, a qualquer tempo, o Ministério Público poderá retomar a ação
penal em caso de desídia do querelante, não se aplicando, como já foi dito
acima, os casos de perempção do art. 60, CPP.

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