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AÇÃO PENAL

Profª Gilse Bratti


AÇÃO PENAL

Ao Estado pertence o jus puniendi. Dele é o poder-dever de aplicar o


Direito Penal objetivo e, havendo prova suficiente de materialidade e
autoria, punir quem praticou conduta típica, ilícita e culpável.

A ação penal é o meio pelo qual se pede ao Estado que se puna alguém
pela prática de um fato típico, ilícito e culpável.
AÇÃO PENAL
AÇÃO PENAL

• Ação penal pública: é a regra no processo penal (artigo 100, caput, do CP).

• Ação penal pública incondicionada: é quando a lei não exige qualquer representação ou
requisição (delitos mais graves). Ex.: homicídio, roubo, latrocínio, estupro (artigo 225 do
CP), etc.

• Ação penal pública condicionada: ocorre quando a lei expressamente prevê a


necessidade de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça para
que o Ministério Público possa oferecer a denúncia (artigo 100, § 1º, do CP). Ex.: crime
contra a honra do Presidente da República (artigo 145, § único, do CP), ameaça,
estelionato (artigo 171, § 5º, do CP), etc.

• Ação penal privada: é a exceção no processo penal, existindo, assim como na ação
pública condicionada, somente quando a lei declara. Ex.: dano por motivo egoístico,
fraude à execução (179 do CP), etc.
AÇÃO PENAL

Ao Ministério Público pertence, com exclusividade, a legitimidade para


promover a ação penal pública, oferecendo denúncia (artigo 129, inciso I, da
Constituição).

A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de


quem tenha qualidade para representá-lo (artigo 100, § 2º, do CP).

Também existe a chamada ação penal privada subsidiária da pública. Ocorre


quando o Ministério público não oferece denúncia no prazo legal (artigo 100, §
3º, do CP).

O prazo para o oferecimento da denúncia, em regra, é de 5 dias, se o réu


estiver preso, e de 15 dias, se estiver solto (artigo 46, caput, do CPP).
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA

Art. 100 do CP - A ação penal é pública, salvo quando a lei


expressamente a declara privativa do ofendido [...]

O Ministério Público é o titular da ação penal pública.


AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

Art. 100, § 1º, do CP - A ação pública é promovida pelo Ministério Público,


dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de
requisição do Ministro da Justiça.

Art. 24 do CPP. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de
requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de
quem tiver qualidade para representá-lo.

O Ministério Público é o titular da ação penal pública, no entanto, neste caso,


depende de prévia manifestação de vontade da vítima ou do Ministro da
Justiça.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

A representação deve ser oferecida perante a autoridade policial, o Ministério


Público ou o juiz, pelo ofendido ou por procurador com poderes especiais.

Não há formalidade para o oferecimento de representação, mas que seja de


modo escrito.

A vítima não está obrigada a oferecer representação. Uma vez oferecida a


representação, há possibilidade de retratação até o oferecimento da denúncia
(artigos 102 do CP e 25 do CPP).

O artigo 16 da Lei Maria da Penha, todavia, traz como exceção a possibilidade


de retratação até o recebimento da denúncia.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

Artigo 88 da Lei n. 9.099/1995: Além das hipóteses do Código Penal e da


legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa
aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

Súmula 542 do Superior Tribunal de Justiça (também a posição do


Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI n. 4424): A ação penal
relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica
contra a mulher é pública incondicionada.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

Redação do artigo 171, § 5º, do Código Penal (incluído pela Lei n. 13.964 de
2019): Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I – a Administração Pública, direta ou indireta;
II – criança ou adolescente;
III – pessoa com deficiência; ou
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.”

O crime de estelionato, antes da Lei n. 13.964, estava sujeito à ação penal


pública incondicionada; hoje, após a referida modificação legislativa, a regra é
sujeitá-lo à ação penal pública condicionada à representação, mantendo-se de
ação pública incondicionada apenas nas excepcionais hipóteses descritas pelo
parágrafo incluído.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

Crimes que exigem a requisição do Ministro da Justiça:

• Cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, §3º,
b, do CP);
• Contra a honra praticados contra o Presidente da República (art. 141,
inciso I, e art. 145, § único, do CP);
• Contra a honra praticados contra Chefe de Governo estrangeiro (art.
141, inciso I, e art. 145, § único, do CP).
A Ç Ã O P E N A L P R I VA D A

Na ação penal privada, o titular do direito de agir é o ofendido ou seu


representante legal, por meio de uma queixa-crime.

O prazo, em regra, é de até 6 meses, contados do dia em que se sabe


quem foi o autor do fato.

No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por


decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação
penal privada passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão
(artigos 100, § 4º, do CP e 24, § 1º, do CPP).
A Ç Ã O P E N A L P R I VA D A

• Ação Penal Privada PERSONALÍSSIMA – o direito de agir é único e


exclusivamente da vítima. Não há substituição do titular da ação penal. No
caso de morte do ofendido, extingue-se a punibilidade.

Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento


Art. 236 do CP - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro
contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e
não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que,
por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
A Ç Ã O P E N A L P R I VA D A

• Ação Penal Privada SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA – é aquela proposta pelo


ofendido por meio de queixa-crime nos crimes de ação penal pública,
quando esta não for intentada no prazo legal pelo Ministério Público.

Art. 100, § 3º, do CP - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos


crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no
prazo legal.
DECADÊNCIA

É a perda do direito de ação privada, nos casos de ação penal privada ou


subsidiária da pública, ou de representação, nos casos de ação pública
condicionada, por não ter sido exercido no prazo legal.

O prazo legal, via de regra, é de 6 meses.

Artigo 103 do CP - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai


do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo
de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do
crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código (privada subsidiária da
pública), do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.
RENÚNCIA

É a “desistência”, expressa ou tácita, do direito de ajuizar a ação penal


privada por parte do ofendido (artigo 104 do CP). É um ato unilateral, não
dependendo da aceitação do autor do fato.

Art. 104 do CP - O direito de queixa não pode ser exercido quando


renunciado expressa ou tacitamente.
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de
ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o
fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime.

A renúncia ao exercício do direito de queixa em relação a um dos autores


do crime, a todos se estenderá (artigo 49 do CPP).
PERDÃO DO OFENDIDO

É a “desistência” do ofendido, também expressa ou tácita (prática de ato


incompatível com a vontade de prosseguir na ação penal), de continuar
com a ação penal privada já ajuizada. Ao contrário da renúncia, é um ato
bilateral, dependendo da aceitação do autor do fato para produzir efeitos.

Deve ser apresentado até o trânsito em julgado da sentença penal


condenatória (artigo 106, § 2º, do CP).

Efeitos do perdão: se concedido a qualquer dos querelados, a todos


aproveita; se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos
outros; se o querelado o recusa, não produz efeito algum (106, caput, do
CP).
PERDÃO DO OFENDIDO

Art. 105 do CP - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se


procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação.

Art. 106 do CP - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito:


I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita;
II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros;
III - se o querelado o recusa, não produz efeito.
§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a
vontade de prosseguir na ação.
§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença
condenatória.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO

No tocante à ação penal, é correto afirmar:

a) É admissível o perdão do ofendido mesmo depois que passa em julgado a


sentença condenatória.
b) Implica renúncia tácita do direito de queixa o fato de receber o ofendido a
indenização do dano causado pelo crime.
c) É admissível a renúncia tácita, mas o perdão do ofendido deve ser expresso.
d) A renúncia constitui causa de extinção da punibilidade relativa às ações penais
privadas e públicas condicionadas.
e) Concedido o perdão por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO

Identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou falsas (F):


( ) Diz-se que uma ação penal é privada quando a lei expressamente a declara e apenas o
ofendido ou quem tenha a qualidade de representá-lo pode propô-la mediante queixa.
( ) Sendo o Ministério Público titular da ação penal, somente ele, em todas as hipóteses de ação
penal pública, é quem pode propô-la, sendo inviável a substituição de titularidade.
( ) A ação penal pública é de titularidade exclusiva do Ministério Público e não depende de
qualquer representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça.
( ) Pode haver ação de iniciativa privada nos crimes de ação penal pública se o Ministério Público
não oferecer denúncia no prazo legal, quando se dará a ação penal privada subsidiária.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.


a) F – F – V – V.
b) V – F – F – V.
c) V – V – V – F.
d) F – V – F – F.
e) V – F – F – F.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO

No caso de morte do ofendido, a ordem preferencial para se exercer o direito de


queixa, segundo o que dispõe o Código de Processo Penal, é:

a) ascendente, descendente e cônjuge.


b) cônjuge, ascendente, descendente e irmão.
c) descendente, ascendente e irmão.
d) ascendente, descendente e representante legal.
e) cônjuge, descendente, ascendente e tutor ou curador.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO

No que se refere à Ação Penal e suas espécies, assinale a alternativa correta:


a) A ação penal privada é exercida pelo ofendido, mediante denúncia do Ministério
Público.
b) A ação penal pública condicionada é exercida pelo ofendido e independe de
denúncia do Ministério Público.
c) A ação penal privada é exercida pelo ofendido, mediante requisição do Ministro
da Justiça.
d) A ação penal pública incondicionada será promovida por denúncia do Ministério
Público, mas dependerá, quando a lei exigir, de requisição do Ministro da Justiça,
ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
e) A ação penal pública incondicionada será promovida por denúncia do Ministério
Público.
QUESTÕES DE FIXAÇÃO

A doutrina brasileira considera a persecução penal como a soma da atividade


investigatória com a ação penal promovida pelo Ministério Público. No estudo da ação
penal, observam-se algumas espécies, como a ação penal pública e a ação penal
privada, que ainda se subdividem. Com relação às espécies de ação penal, assinale a
afirmativa INCORRETA.

a) As contravenções penais são todas de ação penal pública condicionada à


representação.
b) Em regra, a ação penal no crime de estelionato é de ação penal pública
condicionada à representação.
c) Nos crimes de lesões corporais leves – art. 129, caput –, a ação penal é pública
condicionada à representação.
d) Nos crimes contra a honra, a ação penal é privada, via de regra.
e) Quando o crime de lesão corporal leve for praticado no âmbito da violência
doméstica, a ação penal será pública incondicionada.

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