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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 132.510 - SP (2009/0058203-7)


RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
IMPETRANTE : DANIELLA MEGGIOLARO E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : LUIZ CLAUDIO JOVINO
EMENTA

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO


NACIONAL (ART. 4o., PARÁG. ÚNICO DA LEI 7.492/86). GESTÃO TEMERÁRIA.
BANCO DE CRÉDITO METROPOLITANO S/A. PENA TOTAL: 5 ANOS DE
RECLUSÃO. REGIME SEMI-ABERTO. NEGATIVA DE AUTORIA. REVOLVIMENTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. DENÚNCIA QUE ATENDE
AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS. RESPONSABILIZAÇÃO DO RÉU
DECORRENTE NÃO APENAS DO CARGO DE DIRETOR MAS DA RELAÇÃO QUE
TEVE COM OS FATOS. INOCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM. CONDUTAS DISTINTAS.
DOSIMETRIA DA PENA. MAJORAÇÃO DA PENA-BASE POUCO ACIMA DO MÍNIMO
LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME DESFAVORÁVEIS. NÚMERO EXPRESSIVO
DE OPERAÇÕES E ALTOS VALORES MANIPULADOS PELO PACIENTE.
POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DA PENA-BASE EM CONJUNTO, TENDO EM VISTA
AS CIRCUNSTÂNCIAS NEGATIVAS SEREM COMUNS AOS RÉUS. CRIME HABITUAL
IMPRÓPRIO. INAPLICABILIDADE DA CONTINUIDADE DELITIVA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. PARECER PELA DENEGAÇÃO DO
WRIT. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA APENAS PARA AFASTAR O
AUMENTO DA PENA RELATIVO À CONTINUIDADE DELITIVA.

1. É inviável, na via estreita do Habeas Corpus, revisar matéria


fático-probatória com a finalidade de obter pronunciamento judicial que implique a
absolvição dos crimes pelos quais o paciente foi condenado, sobretudo se a instância
ordinária, soberana na análise fática dos autos, frisou que a autoria restou evidenciada,
bem como a materialidade do crime.

2. O reconhecimento da inépcia da denúncia pressupõe falta total


de exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, de forma a macular
o exercício do direito da ampla defesa. Na hipótese, a denúncia, posteriormente
sancionada pela condenação, ao contrário do que afirma a impetração é clara ao
descrever os fatos e está amparada nas Representações 1.267/96 e 104/97 para fins
penais formulada pelo Banco Central, que apontou com clareza as irregularidades
cometidas pela administração do Banco Crédito Metropolitano S/A.

3. A responsabilização do paciente não adveio apenas de sua


condição de Diretor-Superintendente da instituição financeira, mas sim porque como
Diretor teve relação com os fatos tidos por delituosos; de toda sorte, a elucidação desse
ponto depende de revisão da prova, o que não se viabiliza na via do HC.

4. As operações financeiras realizadas podem ocasionar a prática


de dois delitos, sem que represente ofensa ao princípio do ne bis in idem. O primeiro diz
respeito ao empréstimo vedado, tipificado no art. 17 da Lei 7.492/86, em que prevê

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expressamente o impedimento de empréstimos às pessoas ali especificadas. E o
segundo, refere-se à gestão temerária, prevista no art. 4o., parág. único da Lei 7.492/86.

5. São delitos autônomos o empréstimo vedado (art. 17 da Lei


7.492/86) e a gestão temerária (art. 4o., parág. único da mesma norma incriminadora);
havendo ofensa aos dois dispositivos legais, não se afigura ilegal o processamento por
ambas as condutas, ainda que originárias de uma só operação bancária, porquanto
neste caso, não ocorre a absorção de uma figura típica pela outra.

6. A revisão da pena imposta pelas instâncias ordinárias na via do


Habeas Corpus, segundo a jurisprudência pacífica desta Corte, somente é admitida em
situações excepcionais, quando constatado evidente abuso ou ilegalidade, passível de
conhecimento sem maiores digressões sobre aspectos subjetivos, especialmente
quando não se aponta, de forma objetiva, qualquer malferimento às normas legais
norteadoras da dosimetria da pena (art. 59 e 68 do CPB), mas, tão-somente, aduz-se
injusta e desproporcional aquela fixada.

7. Levando-se em consideração os parâmetros delineados no art.


4o., parág. único da Lei 7.492/86, que prevê pena de 2 a 8 anos de reclusão, a fixação
da pena-base em 3 anos e 4 meses para o delito não se mostra desproporcional, em
vista da existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, notadamente as
circunstâncias do crime em questão, que apresentou um número expressivo de
operações e movimentação de valores altos manipulados pelos acusados.

8. O exame em conjunto das circunstâncias judiciais de todos os


denunciados não macula a dosimetria da pena, posto que as circunstâncias
consideradas negativas dizem respeito a dados concretos e objetivos, tais como, a
gravidade do fato, o número expressivo das operações realizadas e dos valores
manipulados e a audácia dos acusados. Precedente.

9. Esta Corte já decidiu que o crime de gestão fraudulenta,


consoante a doutrina, pode ser visto como crime habitual impróprio, em que uma só
ação tem relevância para configurar o tipo, ainda que a sua reiteração não configure
pluralidade de crimes (HC 39.908/PR, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJ
03.04.2006).

10. Ordem parcialmente concedida apenas para afastar o aumento da


pela relativo à continuidade delitiva.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conceder parcialmente a ordem, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Adilson Vieira
Macabu (Desembargador convocado do Tj/rj), Gilson Dipp e Laurita Vaz votaram com o
Sr. Ministro Relator.

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Brasília/DF, 03 de fevereiro de 2011 (Data do Julgamento).

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO


MINISTRO RELATOR

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HABEAS CORPUS Nº 132.510 - SP (2009/0058203-7)
RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
IMPETRANTE : DANIELLA MEGGIOLARO E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : LUIZ CLAUDIO JOVINO

RELATÓRIO
1. Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado
em favor de LUIZ CLAUDIO JOVINO, em adversidade ao acórdão proferido pelo TRF da
3a. Região, que, apreciando Recurso de Apelação do Ministério Público Federal, deu-lhe
provimento para condenar o paciente à pena de 5 anos de reclusão, em regime inicial
semiaberto, por infração ao disposto no art. 4o., parág. único da Lei 7.492/86 (gestão
temerária de instituição financeira) c/c os art. 29 e 71 do CPB, nos termos da seguinte
ementa:

PENAL. LITISPENDÊNCIA. DENÚNCIA. INDIVIDUALIZAÇÃO DAS


CONDUTAS. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. DELITO DE MERA
CONDUTA.

1. Não se verifica a litispendência, não obstante a existência


de ações penais relacionadas a autores, réus e pedidos semelhantes, se os
pedidos referirem-se a fatos delitivos de períodos diversos.

2. Não é inepta a denúncia que, embora não seja minudente


quanto à individualização da conduta dos acusados, permite-lhes o
adequado exercício do direito de defesa. Em delitos cuja conduta adequado
exercício do direito de defesa. Em delitos cuja conduta é
predominantemente intelectual, não há de se exagerar quanto à indicação
precisa das circunstâncias em que a conduta se realizou.

3. A Representação Criminal n. 1.267/96 e a Representação


Criminal n. 104/97, ambas com pareceres do Banco Central do Brasil que
comprovam várias operações de crédito e concessão de fianças, no período
entre 1993 e 1995, que colocaram em risco a situação financeira do Banco
de Crédito Metropolitano S/A, o patrimônio dos investidores e a credibilidade
do mercado e dos negócios, são elementos idôneos à comprovação do
delito de gestão temerária.

4. A autoria foi reconhecida pelos acusados, em seus

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depoimentos extrajudiciais e em Juízo.

5. O crime de gestão temerária é formal, sendo


desnecessário, para sua configuração, a demonstração da existência de
prejuízos ou perigo concreto.

6. Preliminares argüidas nas contra-razões rejeitadas.


Apelação do Ministério Público Federal provida (fls. 1.250).

2. Aduz-se na presente impetração, em síntese, (a) que o paciente


foi condenado com base em denúncia inepta que, sem especificar a conduta do réu, o
responsabiliza pelo simples fato de ser diretor do Banco de Crédito Metropolitano S/A;
(b) existência de duas condenações sobre o mesmo fato e (c) erro na dosimetria da
pena-base, fixada acima do mínimo legal sem a devida fundamentação.

3. O MPF, em parecer subscrito pelo ilustre Subprocurador-Geral da


República EITEL SANTIAGO DE BRITO PEREIRA, manifestou-se pela denegação da
ordem (fls. 2.032/2.039).

4. É o que havia de relevante para relatar.

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IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : LUIZ CLAUDIO JOVINO

VOTO
HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL (ART. 4o., PARÁG. ÚNICO DA LEI 7.492/86). GESTÃO
TEMERÁRIA. BANCO DE CRÉDITO METROPOLITANO S/A. PENA TOTAL:
5 ANOS DE RECLUSÃO. REGIME SEMI-ABERTO. NEGATIVA DE
AUTORIA. REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INADEQUAÇÃO DA
VIA ELEITA. DENÚNCIA QUE ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS
EXIGIDOS. RESPONSABILIZAÇÃO DO RÉU DECORRENTE NÃO APENAS
DO CARGO DE DIRETOR MAS DA RELAÇÃO QUE TEVE COM OS
FATOS. INOCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM. CONDUTAS DISTINTAS.
DOSIMETRIA DA PENA. MAJORAÇÃO DA PENA-BASE POUCO ACIMA DO
MÍNIMO LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME DESFAVORÁVEIS.
NÚMERO EXPRESSIVO DE OPERAÇÕES E ALTOS VALORES
MANIPULADOS PELO PACIENTE. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DA
PENA-BASE EM CONJUNTO, TENDO EM VISTA AS CIRCUNSTÂNCIAS
NEGATIVAS SEREM COMUNS AOS RÉUS. AUMENTO DA
CONTINUIDADE DELITIVA QUE DEVE SER INDIVIDUALIZADO. PARECER
PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA
APENAS PARA QUE O EGRÉGIO TRIBUNAL A QUO ESPECIFIQUE,
MOTIVADAMENTE, O AUMENTO A SER APLICADO PELA
CONTINUIDADE DELITIVA.

1. É inviável, na via estreita do Habeas Corpus, revisar matéria


fático-probatória com a finalidade de obter pronunciamento judicial que
implique a absolvição dos crimes pelos quais o paciente foi condenado,
sobretudo se a instância ordinária, soberana na análise fática dos autos,
frisou que a autoria restou evidenciada, bem como a materialidade do crime.

2. O reconhecimento da inépcia da denúncia pressupõe falta


total de exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, de
forma a macular o exercício do direito da ampla defesa. Na hipótese, a
denúncia, posteriormente sancionada pela condenação, ao contrário do que
afirma a impetração é clara ao descrever os fatos e está amparada nas
Representações 1.267/96 e 104/97 para fins penais formulada pelo Banco
Central, que apontou com clareza as irregularidades cometidas pela
administração do Banco Crédito Metropolitano S/A.

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3. A responsabilização do paciente não adveio apenas de sua
condição de Diretor-Superintendente da instituição financeira, mas sim
porque como Diretor teve relação com os fatos tidos por delituosos; de toda
sorte, a elucidação desse ponto depende de revisão da prova, o que não se
viabiliza na via do HC.

4. As operações financeiras realizadas podem ocasionar a


prática de dois delitos, sem que represente ofensa ao princípio do ne bis in
idem. O primeiro diz respeito ao empréstimo vedado, tipificado no art. 17 da
Lei 7.492/86, em que prevê expressamente o impedimento de empréstimos
às pessoas ali especificadas. E o segundo, refere-se à gestão temerária,
prevista no art. 4o., parág. único da Lei 7.492/86.

5. São delitos autônomos o empréstimo vedado (art. 17 da Lei


7.492/86) e a gestão temerária (art. 4o., parág. único da mesma norma
incriminadora); havendo ofensa aos dois dispositivos legais, não se afigura
ilegal o processamento por ambas as condutas, ainda que originárias de
uma só operação bancária, porquanto neste caso, não ocorre a absorção
de uma figura típica pela outra.

6. A revisão da pena imposta pelas instâncias ordinárias na via


do Habeas Corpus, segundo a jurisprudência pacífica desta Corte, somente
é admitida em situações excepcionais, quando constatado evidente abuso
ou ilegalidade, passível de conhecimento sem maiores digressões sobre
aspectos subjetivos, especialmente quando não se aponta, de forma
objetiva, qualquer malferimento às normas legais norteadoras da dosimetria
da pena (art. 59 e 68 do CPB), mas, tão-somente, aduz-se injusta e
desproporcional aquela fixada.

7. Levando-se em consideração os parâmetros delineados no


art. 4o., parág. único da Lei 7.492/86, que prevê pena de 2 a 8 anos de
reclusão, a fixação da pena-base em 3 anos e 4 meses para o delito não se
mostra desproporcional, em vista da existência de circunstâncias judiciais
desfavoráveis, notadamente as circunstâncias do crime em questão, que
apresentou um número expressivo de operações e movimentação de valores
altos manipulados pelos acusados.

8. O exame em conjunto das circunstâncias judiciais de todos


os denunciados não macula a dosimetria da pena, posto que as
circunstâncias consideradas negativas dizem respeito a dados concretos e
objetivos, tais como, a gravidade do fato, o número expressivo das
operações realizadas e dos valores manipulados e a audácia dos acusados.
Precedente.

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9. Verificando-se, no caso sub judice, que os denunciados
exerceram a atividade de gestão da instituição financeira em períodos
diferentes, não se pode aplicar indistintamente o mesmo aumento pela
continuidade delitiva a todos, é preciso, antes de mais nada, individualizar a
quantidade de infrações praticadas pelo réu.

10. Ordem parcialmente concedida apenas para que o egrégio


Tribunal a quo especifique, motivadamente, o aumento a ser aplicado pela
continuidade delitiva, em que pese o parecer ministerial pela denegação da
ordem.

1. No presente writ, alega-se, em síntese, (a) que o paciente foi


condenado com base em denúncia inepta que, sem especificar a conduta do réu, o
responsabiliza penalmente pelo simples fato de ser diretor do Banco de Crédito
Metropolitano S/A; (b) a ocorrência de bis in idem em razão da dupla condenação pelos
mesmos fatos e (c) a ausência de fundamentação idônea na exasperação da
pena-base e ofensa ao princípio da individualização da pena.

2. O acórdão condenatório grau aduziu o seguinte:

Do caso dos autos. A denúncia oferecida pelo Ministério Público


Federal preenche os requisitos formais do art. 41 do Código de Processo
Penal. O fato criminoso está exposto com clareza, sendo indicados inclusive
os meses em que ocorreram as condutas, possibilitando o adequado
exercício do direito de defesa por parte dos acusados.

Materialidade. Está comprovada a materialidade do delito pela


Representação Criminal n. 1.267/96 (volumes 1 a 10 em apenso) e pela
Representação Criminal n. 104/97 (volumes 1 a 4 em apenso), ambas com
pareceres do Banco Central do Brasil que comprovam várias operações de
crédito e concessão de fianças, no período entre 1993 e 1995, que
colocaram em risco a situação financeira do Banco de Crédito Metropolitano
S/A, o patrimônio dos investidores e a credibilidade do mercado e dos
negócios.

Autoria. Não há nenhuma dúvida quanto à autoria.

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Nos interrogatórios judiciais (fls. 36/43, 254/256, 257/258 e
259/260), os acusados confirmaram que eram diretores do Banco de
Crédito Metropolitano S/A dentro do período descrito na denúncia. As
declarações judiciais dos co-réus Ricardo e Luiz Cláudio convergem no
sentido de que as operações relacionadas nas representações criminais em
apenso, realizadas no período em que ambos eram diretores da instituição,
observaram a legislação e a praxe bancárias. Para Ricardo, auditoria do
Banco Central teve por escopo apurar se Edir Macedo, dono da Igreja
Universal do Reino de Deus, seria também dono do banco. Luiz Cláudio
aduziu que a acusação seria fruto de perseguições para com os membros
da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual nunca participou. Eis o teor
de seus interrogatórios:

(...).

Luiz Cláudio Jovino: (...) o réu declarou que conhece a


acusação que lhe é imputada, registrando que exerceu a função de
Diretor Superintendente do Banco Metropolitano de novembro de
1991 até outubro de 1994, registrando que nesta ocasião se
desligou do Banco Metropolitano. O réu declarou que responde a
outro processo em curso nesta 8a. vara Federal Criminal, em razão
de empréstimo que beneficiou supostamente MARLENE VIEIRA
LACERDA, feito este que está concluso para sentença. O réu
declarou que foi absolvido na acusação que lhe foi imputada no
processo n. 96.0102746-7 em sentença proferida neste Juízo. O
réu declarou que não teve contato com os auditores do Banco
Central do Brasil que estão arrolados como testemunhas pelo
órgão acusatório, registrando que já estava se desligando da
instituição financeira quando a mesma sofreu a fiscalização do
Banco Central, informando ainda que não se recorda de DANIELLE
ZUCCATO, Procuradora que também está arrolada como
testemunha pela acusação. O réu declarou que já não estava mais
no banco quando a maior parte das operações descritas na
denúncia foram realizadas, registrando que certamente já havia se
desligado do banco quando não foram adotadas as providências
que o Banco Central entendeu necessárias. O réu declarou que
contesta a acusação de gestão temerária da instituição financeira
declarando que duas das empresas mencionadas na denúncia
participam de licitações públicas e não apresentavam qualquer
problema, registrando ainda que as operações foram lastreadas em
cheque e duplicatas conforme autorizado pelo próprio Banco
Central, declarando ainda que a empresa FAMA FERRAGENS
continua atuando ainda no mercado. O réu declarou que era
apenas um executivo contratado e que não tinha participação na
administração, informando ainda que em seu entender a acusação
é fruto de perseguições para com os membros da Igreja Universal
do Reino de Deus, da qual nunca participou. O réu declarou que os
critérios de crédito são adotados subjetivamente por cada banco,

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realçando que as empresas mencionadas na denúncia
apresentavam liquidez e garantias que o banco entendeu
satisfatórias, realçando que a MEMOREX era uma empresa
multinacional, razão pela qual era norma a concessão de
empréstimo garantido por promissórias, registrando ainda que esta
multinacional encerro suas atividades em todo o mundo e não
apenas no Brasil (fl. 255).

(...).

Do caso dos autos. A prática das operações arroladas nas


Representações n. 1.267/96 e 104/97 em apenso restou incontroversa. Os
co-réus não negam que as tenham realizado e sustentam sua regularidade.
Porém, os argumentos utilizados para justificá-las não os socorre.

Os cargos ocupados pelos réus no Banco Crédito Metropolitano


S/A foram os seguintes: Ricardo Arruda Nunes, Diretor Presidente, de
01.11.91 a 12.06.95 (fl. 677 da Representação Criminal n. 104/97); Luiz
Cláudio, Diretor-Superintendente, de 01.11.91 a 06.10.94 (fl. 679 da
Representação n. 104/97); Paulo Roberto, Diretor Presidente a partir de
22.06.95 (fl. 433 da Representação n. 104/97) e Alba Maria,
Diretor-Superintendente a partir de 26.10.94 (fl. 429 da Representação n.
104/97).

A responsabilidade de cada réu decorre do cargo que ocupou no


Banco de Crédito Metropolitano S/A. Quem é nomeado diretor de instituição
financeira, seja presidente ou superintendente, assume o dever legal de
velar pelo bom funcionamento da instituição, respondendo pelos atos de
administração e gerência da sociedade praticados no período em que
permaneceu no cargo.

In casu, o Banco Central do Brasil apurou a ocorrência de uma


extensa série de irregularidades cometidas pela administração do Banco
Crédito Metropolitano S/A, no período de 05.93 a 11.95, portanto na gestão
dos acusados, as quais foram 10 (dez) volumes da Representação Criminal
n. 1.267/96 e 4 (quatro) volumes da Representação Criminal n. 104/97,
todos em apenso.

Segundo o parecer do Banco Central à fl. 5 da Representação


Criminal n. 1.267/96, a instituição não vinha observando, na condução de
seus negócios, os mais elementares princípios da boa gestão e da boa
técnica bancária, ferindo diversas normas legais e regulamentares,
especialmente aquelas referentes a operações de crédito. Dessas, há

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casos relacionados que merecem destaque:

a) renovação de empréstimos com incorporação de juros e


encargos de transação anterior, sendo que, em alguns casos, apesar de os
encargos terem sido aparentemente amortizados, não houve o ingresso de
recursos no Banco, já que os débitos efetuados nas contas dos devedores
somente puderam ser suportados por novos empréstimos concedidos e não
por depósitos efetuados (fls. 7/13 da Representação Criminal n. 1.267/96 e
fls. 09 a 15 da Representação n. 104/97);

b) admissão de saques além dos limites em contas de empréstimos


ou a descoberto em contas de depósito (Representação Criminal n. 104/97,
fls. 15/27);

c) realização de operações com clientes que possuem restrições


cadastrais ou sem ficha cadastral atualizada, não havendo, também, a
atribuição de limite de crédito aos clientes em função da adequada aferição
da sua capacidade econômico-financeira calcada na análise criteriosa e na
confirmação do conjunto de informes obtidos pelo serviço de cadastro
(Representação criminal n. 104/97, fls. 28/35).

Como exemplos da irregularidade transcrita no item a acima, as


operações que a diretoria do Banco Crédito Metropolitano S/A realizou com
Marlene Vieira Lacerda, de 29.07.93 a 31.03.95 - em 30.06.95, o valor da
operação de 31.03.95 (R$ 1.319.750,00) foi transferido para a conta de
créditos em liquidação (fls. 8/9 da Representação n. 1.267/96 e fl. 11 da
Representação n. 104/97). De acordo com os extratos de fls. 362/371 da
Representação n. 1.267/96, a partir de 21.10.94, ou seja, somente após o
réu Luiz Cláudio ter saído do banco, é que juros e IOF sobre o saldo
devedor passaram a ser debitados da conta da cliente.

Exemplo de irregularidade de que trata o item b acima é o caso da


empresa Concrepedra, a qual, em 01.06.94, apresentava saldo devedor de
Cr$ 32.460.302,64. Em 08.07.94, o saldo devedor era de R$ 161.844,38,
tendo sido deferida, em 11.07.94, operação de mútuo no valor de R$
230.000,00. Em 02.08.94, o saldo devedor era de R$ 329.732,27, atingindo
R$ 384.078,13, em 17.08.94, quando sobreveio novo mútuo, no valor de R$
385.000,00. Em 25.08.94, o saldo devedor era de R$ 3.321,29,
mantendo-se assim até 19.10.94, quando passou a R$ 2.767,89 (fl. 14 da
Representação Criminal n. 1.267/96).

A prova da existência de cadastros com informações atualizadas


das pessoas físicas e jurídicas envolvidas nas operações irregulares não foi

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juntada pela defesa. Também não foram trazidas aos autos as garantias
exigidas pelo Banco Central, as quais, segundo o co-réu Ricardo, teriam
sido prestadas pelos correntistas beneficiados com as operações de crédito
consideradas irregulares.

As alegações no sentido de que a Concrepedra e a Concisa tinham


todas as condições de honrar com os compromissos assumidos perante o
Banco, de que não houve um novo empréstimo para a Concisa, mas, sim,
renovação do empréstimo já concedido, com a incorporação de juros,
multas e encargos financeiros, e de que a Fama Ferragens era uma
empresa sólida e conceituada no mercado, que passou por um período de
dificuldades financeiras e que, por isso, obteve novos e pequenos
empréstimos, com a incorporação dos montantes anteriormente devidos,
para que o problema se resolvesse e não gerasse maiores prejuízos para o
próprio Banco, não condizem com os documentos que integram as
representações em apenso.

O extrato de fls. 193/205 da Representação Criminal n. 1.267/96


evidencia que, no período de 01.06.94 a 11.05.95, a Concrepedra
movimentou sua conta corrente à base de empréstimos e renovação de
empréstimos concedidos pela diretoria do Banco Crédito Metropolitano S/A,
recebendo inclusive estorno de juros sobre o saldo devedor.

Do mesmo modo, entre 01.03.95 e 01.06.95, tem-se que a Concisa


movimentou sua conta corrente graças aos empréstimos e renovação de
empréstimos concedidos pela diretoria do Banco Crédito Metropolitano S/A,
recebendo inclusive o estorno dos juros sobre o saldo devedor, de acordo
com o extrato bancário de fls. 234/237 da Representação Criminal n.
1.267/96.

As alegadas dificuldades de empresas como a Concrepedra e a


Concisa em receberem da Sabesp o que lhes era devido por serviços a ele
prestados não são excludentes da responsabilidade dos réus no crime de
gestão temerária. Percalços financeiros experimentados por clientes não
autorizam que os diretores da instituição financeira realizem operações de
crédito de maneira impetuosa e leviana, em desacordo com as normas de
gestão bancária, colocando em risco a estabilidade financeira dos
investidores, da própria instituição e do Sistema Financeiro Nacional.

O argumento de que os relatórios do Banco Central tinham por


finalidade apurar se Edir Macedo era o dono do Banco Crédito
Metropolitano S/A e a auditoria fora realizada como meio de perseguição
aos membros da Igreja Universal do Reino de Deus é, no mínimo, pueril,

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haja vista que não somente referida entidade religiosa esteve envolvida em
operações de crédito irregulares, mas inúmeras outras pessoas, físicas e
jurídicas, foram igualmente beneficiadas. Ademais, o número expressivo das
operações, das pessoas favorecidas por elas e dos valores transacionados,
bem como o período em que perduraram, revelam uma audácia e um
padrão de comportamento adotado pelos réus, que pareciam não se
importar com os riscos e os efeitos nefastos para a instituição financeira,
decorrentes das operações que realizavam com devedores contumazes.

Não procede a alegação dos réus de que não agiram com dolo,
pois resulta clara a vontade livre e consciente dos diretores do Banco
Crédito Metropolitano de iludir o Sistema Financeiro Nacional, na medida
em que autorizaram de maneira leviana e sem a prudência que deveria
nortear suas ações, operações arriscadas à saúde financeira da instituição
e ao patrimônio dos demais correntistas, concedendo empréstimos vultosos
a pessoas físicas e jurídicas em estado de insolvência, inclusive nas
ocasiões em que haviam recebido parecer contrário do setor de crédito, que
os alertara sobre o alto risco das operações realizadas, por exemplo, com a
Construtora Concisa e a Fama Ferragens (fls. 216, 218v. e 237; fls. 249,
251v. e 299, todas da Representação Criminal n. 1.267/96) (fls.
1.232/1.246).

3. Inicialmente, é de se ter claro que é inviável, na via estreita do


Habeas Corpus, revisar matéria fático-probatória com a finalidade de obter
pronunciamento judicial que implique a absolvição dos crimes pelos quais o paciente
fora condenado, sobretudo se a instância ordinária, soberana na análise fática dos
autos, frisou que a autoria restou evidenciada, bem como a materialidade dos crimes.

4. A propósito, este entendimento encontra respaldo na doutrina


especializada dos festejados Juristas ADA PELLEGRINI GRINOVER, ANTÔNIO
MAGALHÃES GOMES FILHO e ANTÔNIO SCARANCE FERNANDES, para quem o
Habeas Corpus constitui remédio mais ágil para a tutela do indivíduo e, assim,
sobrepõe-se a qualquer outra medida, desde que a ilegalidade possa ser evidenciada
de plano, sem necessidade de um reexame mais aprofundado da justiça ou injustiça da
decisão impugnada (Recursos no Processo Penal, São Paulo, RT, 2001, p. 353).

5. Sobre a impossibilidade de reexame de prova no âmbito do


Habeas Corpus, pode ser citado, desta Corte, o seguinte julgado:

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HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. RECEPTAÇÃO.
ATIPICIDADE DOS FATOS. NECESSIDADE DE EXAME DE PROVAS.
PRISÃO EM FLAGRANTE. TESE DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO
PARA A MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA. SUPERVENIÊNCIA DE ACÓRDÃO
CONCEDENDO LIBERDADE PROVISÓRIA. PERDA SUPERVENIENTE DO
INTERESSE PROCESSUAL.

1. A apreciação da atipicidade da conduta do Paciente


demanda, necessariamente, dilação probatória para apuração dos fatos, o
que é inviável na via estreita do habeas corpus, devendo, assim, serem
discutidas e comprovadas no âmbito da instrução criminal.

2. Os fatos narrados na denúncia demonstram, em tese, a


justa causa para a ação penal.

(...).

4. Habeas corpus parcialmente prejudicado e, na parte


conhecida,denegado (HC 70.764/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ, DJU
25.06.07).

6. Quanto à inépcia da denúncia, seu reconhecimento pressupõe


falta total de exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, de forma
a macular o exercício do direito da ampla defesa. Na hipótese, a denúncia,
posteriormente sancionada pela condenação, ao contrário do que afirma a impetração é
clara ao descrever os fatos e está amparada nas Representações 1.267/96 e 104/97
para fins penais formulada pelo Banco Central, que apontou com clareza as
irregularidades cometidas pela administração do Banco Crédito Metropolitano S/A.

7. O tipo pelo qual condenado o paciente tem a seguinte redação:

Art. 4o. - Gerir fraudulentamente instituição financeira: Pena -


Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.

Parágrafo único - Se a gestão é temerária: Pena - Reclusão, de 2


(dois) a 8 (oito) anos, e multa.

8. Veja-se que, do primeiro dispositivo, é elemento do tipo a conduta


gerir, a qual, segundo indica o filólogo AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA, em seu
léxico, significa exercer gerência, administrar, dirigir ou gerenciar. Esses procederes

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são próprios de quem ocupa posições de comando na estrutura de instituições
societárias, ou, na hipótese, de instituições financeiras, nos termos do art. 1o. da Lei
7.492/85. O art. 25 da Lei contra os Crimes Financeiros ainda esclarece:

Art. 25 - São penalmente responsáveis, nos termos desta Lei, o


controlador e os administradores de instituição financeira, assim
considerados os diretores, gerentes.

9. Ora, o art. 25 da Lei 7.492/86 buscou elencar as pessoas que,


ainda que não realizem diretamente as ações executivas constitutivas do delito, de
alguma forma possuem domínio sob o fato, ou seja, que possuem o poder de influir nas
decisões relevantes acerca de determinada conduta porventura delituosa.

10. Ao contrário do que alega o impetrante, a responsabilização do


paciente não adveio apenas de sua condição de Diretor-Superintendente da instituição
financeira, mas sim porque como Diretor teve relação com os fatos tidos por delituosos;
de toda sorte, a elucidação desse ponto depende de revisão da prova, o que não se
viabiliza na via do HC.

11. É o que se pode extrair de diversos trechos do decisum


condenatório em que o douto Desembargador, apoiado nas Representações do
BACEN, cita a existência de irregularidades cometidas pela administração do Banco
Crédito Metropolitano S/A (fls. 1.242), relata operações que a diretoria do Banco
Crédito Metropolitano S/A realizou com Marlene Vieira Lacerda (1.243) e mais adiante
menciona empréstimos e renovação de empréstimos concedidos pela diretoria do
Banco Crédito Metropolitano S/A (fls. 1.244/1.245). Como se vê, o Magistrado deixa
clara a efetiva participação dos Diretores e Administradores do Banco na conduta
incriminadora.

12. E como já afirmado por esta Corte em caso semelhante, restando


devidamente comprovado nos autos que o acusado detinha poderes próprios de
gestão, não há como afastar, nos termos do art. 25 da Lei 7.492/86, a sua
responsabilidade pelo delito de gestão temerária (REsp. 702.042/PR, Rel. Min. FELIX
FISCHER, DJU 29.08.2005).

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13. Por oportuno, citam-se ainda estes julgados:

CRIMINAL. CRIME DO COLARINHO BRANCO. DIRETORES DO


BANCO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. GESTÃO TEMERÁRIA.

- A AUTORIZAÇÃO PARA EMPRÉSTIMO A EMPRESA


RECONHECIDAMENTE INADIMPLENTE, IN THESI, TIPIFICA O DELITO
DE GESTÃO TEMERÁRIA, DECORRENDO A RESPONSABILIDADE
CRIMINAL NÃO POR SE INTEGRAR A DIRETORIA DO BANCO, MAS
PORQUE, COMO DIRETORES, TIVERAM OS ACUSADOS RELAÇÃO COM
O FATO INCRIMINADO, CONSISTENTE NA PRECIPITADA CONCESSÃO
DO CREDITO. (RHC 5.835/RJ, Rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, DJU
03.02.1997).

14. E no Pretório Excelso verifica-se esta orientação:

CAPÍTULO V DA DENÚNCIA. GESTÃO FRAUDULENTA DE


INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. OPERAÇÕES DE CRÉDITO DE NÍVEL DE
RISCO ELEVADO, COM CLASSIFICAÇÃO COMPLETAMENTE
INCOMPATÍVEL COM A DETERMINADA PELO BANCO CENTRAL.
GARANTIAS OFERECIDAS PELOS TOMADORES DO EMPRÉSTIMO
EVIDENTEMENTE INSUFICIENTES. RENOVAÇÕES SUCESSIVAS SEM
AMORTIZAÇÃO E SEM A NECESSÁRIA ELEVAÇÃO DO NÍVEL DE RISCO.
BURLA À FISCALIZAÇÃO. INDÍCIOS DE FRAUDE.

(...).

3. Nos termos do art. 25 da Lei n° 7.492/86, são penalmente


responsáveis o controlador e os administradores da instituição financeira,
assim considerados os diretores e gerentes.

4. Denúncia recebida contra quatro dirigentes da instituição


financeira investigada, pela suposta prática do crime definido no art. 4º da
Lei n° 7.492/86, nos termos dos art. 29 do Código Penal. (Inq 2.245/MG,
Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, DJe 09.11.2007).

15. Quanto à alegação de bis in idem, tem-se que apenas a dupla


penalização da mesma conduta é capaz de configurar a alegação. No presente caso,
tem-se a existência de diversas operações financeiras, tendo sido denunciado em outro
processo como incurso no art. 17 c/c art. 25, ambos da Lei 7.492/86, conduta distinta

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da apurada em desfavor do réu na presente ação. Confira-se trecho do acórdão
vergastado:

A respeitável sentença também considerou que o item 4 da letra A


da inicial já foi objeto de sentença no Processo 96.0104951-7, movido
contra o co-réu Luiz Cláudio Jovino, e, levando em conta que este se retirou
do Banco em 10.94, sua inclusão no rol dos acusados constitui bis in idem
em relação às condutas apontadas. O item 4 da letra A assim dispõe:

4) Renovaram empréstimos com a incorporação de juros e


encargos de transação anterior (fls. 07 a 13 da Representação
Criminal 1.267/96 e fls. 09 a 15 da Representação 104/97); por
exemplo, operações com Marlene Vieira Lacerda, de 29.07.1993 a
31.03.1995 - em 30.06.1995, o valor da operação de 31.03.1995
(R$ 1.319.750,00) foi transferido para a conta de créditos em
liquidação (fls. 08/09 da Representação 1.267 e fls. 11 da
Representação 104/97).
No processo 96.0104951-7, Luiz Cláudio Jovino foi denunciado
pela prática do delito do art. 17 da Lei 7.492/86 c.c o art. 25, caput, da
mesma lei, porquanto, no período de 29.07.93 a 02.02.94, na qualidade de
diretor do Banco de Crédito Metropolitano S/A, mediante a interposição de
Marlene Vieira Lacerda, obteve empréstimo e concedeu indiretamente
empréstimos a seu irmão, Antonio Gilberto Jovino, pessoa física impedida
de operar com a aludida instituição financeira (fls. 75/83). Verifica-se que a
conduta imputada no mencionado processo difere totalmente daquela
descrita no item 4 acima, não ocorrendo o alegado bis in idem.

Por fim, a respeitável sentença considerou que o item 3 da letra C,


a inclusão da Rádio São Paulo no item 2 da letra A e o item 5 da letra C
constituem bis in idem, porquanto já foram julgados no Processo
96.0102746-7. Eis o teor dos mencionados itens:

3) Concederam adiantamentos a depositantes, inclusive


decorrentes da liberação de depósitos efetuados em cheques
antes da liquidação através do serviço de compensação, em contas
correntes tituladas pelos diretores da instituição - Ricardo de
Arruda Nunes (entre 12.01.1994 e 23.05.1994), Luiz Cláudio Jovino
(entre 11.01.1994 e 06.10.1994), Alba Maria Silva da Costa (entre
28.06.1995 e 23.08.1995), Paulo Roberto Gomes da Conceição
(em 28.06.1995), conforme fls. 154 a 156 e fls. 221 a 240 da
Representação Criminal 104/97 e por Antônio Gilberto Jovino,
irmão do Luiz Cláudio (entre 13.07.1993 e 24.03.1994), conforme
fls. 157 e fls. 241 da Representação Criminal 104/97;
(...).

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2) Concentraram créditos no setor de serviços - atividades
de radiodifusão (fls. 05 da Representação 1.267/96 e fls. 08 da
Representação 104/97); entre as operações mencionadas às fls.
05 a 36 da Representação Criminal 1.267/96 e fls. 07 a 39 da
Representação Criminal 104/97 (outubro de 1994 a novembro de
1995), destacamos as realizadas de janeiro a maio de 1995 com a
Rádio Atalaia de Belo Horizonte Ltda. (fls. 06 e 10 da
Representação Criminal 1.267/96; fls. 12 e 31 da Representação
104/97), a Rádio Cidade de Campos Ltda. (de junho a setembro de
1995 - fls. 11 e 18 da representação Criminal 1.267/96; fls. 13 e 20
da representação 104/97), Rádio Contemporânea Ltda. (de maço a
novembro de 1995 - fls. 11 e 30/31 da Representação Criminal
1.267/96; fls. 13 e fls. 32/33 da Representação 104/97), Rádio
Record S.A. (de junho a agosto de 1995 - fls. 12, fls. 19 a 21 e fls.
31/32 da Representação Criminal 1.267/96; fls. 14, fls. 21 a 23 e
fls. 33/34 da Representação 104/97), Rádio São Paulo Ltda. (de
novembro de 1994 a agosto de 1995 - fls. 12 e 21 da
Representação Criminal 1.267/96; fls. 14 e fls. 23 da
Representação 104/97), Sistema Transrio de Comunicação Ltda.
(de agosto a novembro de 1995 - fls. 13 e fls. 32/33 da
Representação Criminal 1.267/96; fls. 15 e fls. 34/35 da
Representação 104/97), Rádio Difusão Ebenezer Ltda. (de
dezembro de 1994 a agosto de 1995 - fls. 19 da Representação
Criminal 1.267/96 e fls. 21 da Representação 104/97, Uni Line
Comércio e Assessoria a Sistemas de Serviços Ltda. (de junho a
agosto de 1995 - fls. 21/22 da Representação Criminal 1.267/96 e
fls. 23/24 da Representação 104/97) e Editora Gráfica Universal
Ltda. (de fevereiro a novembro de 1995 - fls. 27/28 da
Representação Criminal 1.267/96 e fls. 29/30 da Representação
104/97) - os valores e as datas das operações são mencionados
em tabelas nas folhas indicadas;
(...).
5) Admitiram saldos devedores em contas-correntes e
concederam empréstimos e fianças a empresas de cujo capital
participam diretores da instituição, como a Rádio São Paulo Ltda.,
cujo diretor é o denunciado Paulo Roberto Gomes da Conceição
(fls. 161 e fls. 251 a 264 da Representação 104/97), e a New
Tour-Novo Turismo Ltda., que tem como sócios cotistas os
denunciados Paulo Roberto Gomes da Conceição e Alva Maria
Silva da Costa (fls. 162 e fls. 265 a 276 da Representação 104/97);
No Processo 96.0102746-7, Ricardo Arruda Nunes, Luiz Cláudio
Jovino, Paulo Roberto Gomes da Conceição e Alba Maria Silva da Costa
foram denunciados pela prática do delito do art. 17 da Lei 7.492/86 c.c. o
art. 71 do Código Penal, porquanto na qualidade de diretores do Banco
Crédito Metropolitano S/A, obtiveram e concederam adiantamentos e
empréstimos a pessoas físicas impedidas de operar com a aludida
instituição financeira, a saber: os próprios acusados, Antônio Cláudio
Jovino, irmão de Luiz Cláudio Jovino, e Rádio São Paulo LTDA, empresa

Documento: 950633 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/05/2011 Página 18 de 9
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cujo controle é exercido pelos administradores da instituição financeira (fls.
75/83). Verifica-se que as condutas descritas no mencionado processo não
se identificam com as descritas nos itens acima. Assim, não ocorreu o
alegado bis in idem. O empréstimo vedado não implica necessariamente
gestão temerária, desde que a instituição financeira tenha recursos
adequados, o que demonstra serem fatos diferentes.

Portanto, afasta-se a litispendência argüida, uma vez que não há


repetição de ações (fls. 1.227/1.231).

16. De fato, verifica-se certa identidade entre os fatos descritos na


denúncia no que diz respeito ao empréstimo realizado com a Rádio São Paulo Ltda.,
incluído também no Processo 96.0102.746-7, e no que se refere às operações
realizadas com Marlene Vieira Lacerda, abrangidas no Processo 96.0104.951-7.

17. Todavia, ainda que se reconheça aparente identidade, a imputação


penal contida na presente ação 98.0104.204-4 difere substancialmente daquelas
incluídas nas ações 96.0102.746-7 e 96.104.951-7, o que já basta para afastar a
alegação de bis in idem.

18. Outrossim, como salientado pelo Tribunal a quo, as operações


realizadas podem ocasionar a prática de dois delitos, sem que represente ofensa ao
princípio do ne bis in idem. O primeiro diz respeito ao empréstimo vedado, tipificado no
art. 17 da Lei 7.492/86, em que prevê expressamente o impedimento de empréstimos
às pessoas ali especificadas. E o segundo, refere-se à gestão temerária, prevista no
art. 4o., parág. único da Lei 7.492/86.

19. Como se vê, são delitos autônomos, porquanto é perfeitamente


possível a infringência ao empréstimo vedado (art. 17 da Lei 7.492/86) sem que isso
represente tamém gestão temerária (art. 4o., parág. único da mesma norma
incriminadora). Assim, havendo ofensa aos dois dispositivos legais, não se afigura ilegal
o processamento por ambas as condutas, ainda que originárias de uma só operação
bancária; neste caso, não ocorre a absorção de uma figura típica pela outra.

20. Não é demais lembrar que a identidade de fatos, por si só, não
configura a alegada litispendência; para tanto, exige-se a coincidência de partes, objeto

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e fundamento do pedido.

21. Por fim, a revisão da pena imposta pelas instâncias ordinárias na


via do Habeas Corpus, segundo a jurisprudência pacífica desta Corte, somente é
admitida em situações excepcionais, quando constatado evidente abuso ou ilegalidade,
passível de conhecimento sem maiores digressões sobre aspectos subjetivos. Nesse
sentido, confira-se:

HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO E ESTUPRO COM RESULTADO


MORTE. PENA-BASE. DOSIMETRIA JUSTIFICADA E DENTRO DA
RAZOABILIDADE. REVISÃO EM SEDE DE HABEAS CORPUS.
IMPOSSIBILIDADE. RESULTADO MORTE DUPLAMENTE CONSIDERADO.
NÃO OCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA.

1. Justificada e razoável a dosimetria utilizada pelo magistrado


para fixar a pena-base, não se permite, em sede de habeas corpus, rever o
conjunto probatório para examinar a justiça da exasperação.

2. Ao contrário do alinhavado pelo paciente-impetrante, o


resultado morte não foi duplamente considerado na dosimetria da pena,
limitando-se às qualificadoras dos delitos.

4. Ordem denegada (HC 58.493/RJ, Rel. Min. MARIA


THEREZA DE ASSIS MOURA, DJU 24.09.07).

22. Cabe transcrever o pronunciamento do Tribunal a quo, quando da


fixação a da pena:

Dosimetria. Materialidade e autoria restaram satisfatoriamente


comprovadas, impondo-se a condenação.

Considerados os critérios do art. 59, caput do Código Penal, em


que pese os réus serem primários e não apresentarem antecedentes
relevantes (cfr. fls. 27/30, 32, 34/35, 565/566, 569/570, 573/574, 577/578,
591, 597/598, 631/633, 646/647, 654, 679, 683 e 686), entendo que a
pena-base deve ser fixada acima do mínimo legal, pela gravidade do fato e
em face do número expressivo das operações realizadas, dos altos valores
que foram manipulados e da audácia dos acusados. Por esse motivo, fixo a
pena-base em 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de reclusão e 36 (trinta e
seis) dias-multa, arbitrado cada um em 1 (um) salário mínimo vigente ao
tempo dos fatos. Considero, para definir a pena de multa, a reprovabilidade

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da conduta e a situação econômica dos acusados (fls. 37, 254, 257 e 259).

Em razão da continuidade delitiva, uma vez que as operações


irregulares ocorreram de 05.93 a 11.95, elevo a pena em 1/2 (um meio),
perfazendo o total de 5 (cinco) anos de reclusão e 54 (cinquenta e quatro)
dias-multa para cada réu, a qual torno definitiva. (fls. 1.247/1.248).

23. A respeito do princípio da individualização da pena, o preclaro


doutrinador GUILHERME DA SOUZA NUCCI leciona o seguinte:

Individualizar significa tornar individual uma situação, algo ou


alguém, quer dizer particularizar o que antes era genérico, tem o prisma de
especializar o geral, enfim, possui o enfoque de, evitando a estandarlização,
distinguir algo ou alguém, dentro de um contexto.

A individualização da pena tem o significado de eleger a justa e


adequada sanção penal, quanto ao montante, ao perfil e aos efeitos
pendentes sobre o sentenciado, tornando-o único e distinto dos demais
ingratores, ainda que co-autores ou mesmo co-réus. Sua finalidade e
importância é a fuga da padronização da pena, da mecanizada ou
computadorizada aplicação da sanção penal, que prescinda da figura do
juiz, como ser pensante, adotando-se em seu lugar qualquer programa ou
método que leve à pena pré-estabelecida, segundo um modelo unificado,
empobrecido e, sem dúvida injusto (Individualização da Pena, 2a. edição,
2007, São Paulo, Revista dos Tribunais, p. 30).

24. De fato, exige-se um juízo individualizado da reprovabilidade da


conduta do agente a fim de que se tenha uma avaliação justa na aplicação da pena.
Entretanto, havendo circunstâncias judicias comuns, tem-se admitido a fixação da
pena-base dos réus em conjunto, mormente quando as circunstâncias negativamente
valoradas dizem respeito a dados concretos, objetivos, que circundaram o fato
delituoso e, por isso mesmo, comuns aos agentes (HC 91.430/MG, Rel. Min. ARNALDO
ESTEVES LIMA, DJe 07.02.2008).

25. O que se vê na pena fixada pelo acórdão é justamente o exame em


conjunto das circunstâncias judiciais de todos os denunciados, o que, como visto
acima, não macula a dosimetria da pena, posto que as circunstâncias consideradas
negativas dizem respeito a dados concretos e objetivos, tais como, a gravidade do fato,

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o número expressivo das operações realizadas e dos valores manipulados e a audácia
dos acusados.

26. Da mesma forma, levando-se em consideração os parâmetros


delineados no art. 4o., parág. único da Lei 7.492/86, que prevê pena de 2 a 8 anos de
reclusão, a fixação da pena-base em 3 anos e 4 meses para o delito não se mostra
desproporcional, em vista da existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis,
notadamente as circunstâncias do crime em questão, que apresentou um número
expressivo de operações e movimentação de valores altos manipulados pelos
acusados.

27. Como dito, apenas em casos de flagrante ilegalidade se pode


alterar, por meio de HC, a pena-base fixada pelas instâncias ordinárias, especialmente
quando não se aponta, de forma objetiva, qualquer malferimento às normas legais
norteadoras da dosimetria da pena (art. 59 e 68 do CPB), mas, tão-somente, aduz-se
injusta e desproprocional aquela fixada. A propósito:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


DUPLAMENTE QUALIFICADO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE NA
QUESITAÇÃO. REITERAÇÃO DE PEDIDO. PENA-BASE. EXASPERAÇÃO
FUNDAMENTADA.

(...).

III. A via do writ somente se mostra adequada para a análise


da dosimetria da pena se não for necessária uma análise aprofundada do
conjunto probatório e se se tratar de flagrante ilegalidade (Precedentes).

IV. A exasperação da pena-base, no presente caso, revela-se


justificada, notadamente pela utilização, para tanto, de um qualificadora,
aliada à presença de outras circunstâncias desfavoráveis.

V. Dessa forma, tendo sido fixada a pena-base acima do


patamar mínimo, mas com fundamentação concreta e dentro do critério da
discricionariedade juridicamente vinculada, não há como proceder a
qualquer reparo em sede de habeas corpus. Writ parcialmente conhecido e,
nesta parte, denegado. (HC 93.879/RJ, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU
09.06.08).

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28. Todavia, a aplicação do aumento pela continuidade delitiva, na
terceira fase da fixação da pena, merece ser individualizado.

29. Nos termos da orientação doutrinária e jurisprudencial, para o


aumento da pena pela continuidade delitiva dentro o intervalo de 1/6 a 2/3, previsto no
art. 71 do CPB, deve-se adotar o critério da quantidade de infrações praticadas. Assim,
aplica-se o aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4, para 4
infrações; 1/3, para 5 infrações; 1/2, para 6 infrações; e 2/3, para 7 ou mais infrações.

30. Ora, verificando-se, no caso sub judice, que os denunciados


exerceram a atividade de gestão da instituição financeira em períodos diferentes não se
pode aplicar indistintamente a mesma fração a todos, é preciso, antes de mais nada,
individualizar a quantidade de infrações praticadas pelo réu.

31. Ante o exposto, concede-se parcialmente a ordem apenas para que


o egrégio Tribunal a quo especifique, motivadamente, o aumento a ser aplicado pela
continuidade delitiva.

32. É voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2009/0058203-7 HC 132510 / SP


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 200203990255147 9801042044

EM MESA JULGADO: 09/03/2010

Relator
Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. HELENITA CAIADO DE ACIOLI
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DANIELLA MEGGIOLARO E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : LUIZ CLAUDIO JOVINO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTARAM ORALMENTE: DRA. DANIELLA MEGGIOLARO (P/ PACTE) E
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto do Sr. Ministro Relator concedendo parcialmente a ordem, pediu vista o Sr.
Ministro Jorge Mussi."
Aguardam os Srs. Ministros Felix Fischer, Laurita Vaz e Arnaldo Esteves Lima.

Brasília, 09 de março de 2010

LAURO ROCHA REIS


Secretário

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HABEAS CORPUS Nº 132.510 - SP (2009/0058203-7)

VOTO-VISTA

O SENHOR MINISTRO JORGE MUSSI:

Trata-se de habeas corpus impetrado pelos advogados Daniella


Meggiolaro, Guilherme Ziliani Carnelós e Arthur Sodré Prado em favor de LUIZ CLÁUDIO
JOVINO, apontando como autoridade coatora o Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Informam que o paciente foi denunciado como incurso nas sanções do


art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 7.492/86, c/c arts. 29 e 71 do Código Penal, em razão
de supostas operações que caracterizaram gestão temerária enquanto integrante da
diretoria do Banco de Crédito Metropolitano, instituição na qual ocupou o cargo de diretor
superintendente de 1º.11.1991 a 6.10.1994.

Regularmente processado o feito, o juízo de primeira instância houve por


bem absolver o paciente e os outros três corréus, com fundamento no art. 386, inciso
VI, do Código de Processo Penal, alegando que, além de configurado bis in idem em
relação a algumas das transações narradas pela exordial - objeto de outros processos,
já julgados - não teria havido individuação das condutas dos acusados e comprovação
do dolo e do perigo de dano que as respectivas atuações teriam causado.

Irresignado, apelou o órgão acusatório, recurso ao qual o Tribunal


Regional Federal da 3ª Região deu provimento para condenar o paciente à pena de 5
anos de reclusão, em regime inicial semiaberto, além do pagamento de 54 dias-multa,
nos termos da vestibular acusatória, restando assim ementado o respectivo aresto:
PENAL. LITISPENDÊNCIA. DENÚNCIA. INDIVIDUALIZAÇÃO DAS
CONDUTAS. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS.
DELITO DE MERA CONDUTA.
1. Não se verifica a litispendência, não obstante a existência de
ações penais relacionadas a autores, réus e pedidos semelhantes,
se os pedidos referirem-se a fatos delitivos de períodos diversos.
2. Não é inepta a denúncia que, embora não seja minudente
quanto à individuação da conduta dos acusados, permite-lhes o
adequado exercício do direito de defesa. Em delitos cuja conduta é
predominantemente intelectual, não há de se exagerar quanto à
indicação precisa das circunstâncias em que a conduta se realizou.
3. A Representação Criminal n. 1.267/96 e a Representação
Criminal n. 104/97, ambas com pareceres do Banco Central do
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Brasil que comprovam várias operações de crédito e concessão de
fianças, no período entre 1993 e 1995, que colocaram em risco a
situação financeira do Banco de Crédito Metropolitano S/A, o
patrimônio dos investidores e a credibilidade do mercado e dos
negócios, são elementos idôneos à comprovação do delito de
gestão temerária.
4. A autoria foi reconhecida pelos acusados, em seus depoimentos
extrajudiciais e em Juízo.
5. O crime de gestão temerária é formal, sendo desnecessário,
para sua configuração, a demonstração da existência de prejuízos
ou perigo concreto.
6. Preliminares argüidas nas contra-razões rejeitadas. Apelação do
Ministério Público Federal provida. (fls. 1250/1251)

Insurgem-se, agora, os impetrantes contra a decisão colegiada que,


reformando o entendimento do magistrado unitário, condenou o paciente, ao argumento
de que seria alvo de constrangimento ilegal ante a inépcia da denúncia, que não teria
descrito os fatos ditos delituosos, mas apenas exemplificado condutas que considerou
temerárias, deixando assim de delimitar a participação de cada acusado e
impossibilitando o exercício da ampla defesa.

Sustentam que, embora o paciente tenha deixado os quadros da


instituição no ano de 1994, restou denunciado por fatos ocorridos até 1995, momento
em que não mais participaria da direção do banco, caracterizando verdadeira
responsabilidade penal objetiva.

Apontam, ainda, a ocorrência de bis in idem, eis que os mesmos fatos


denunciados quanto ao paciente já teriam sido apurados nos autos das Ações Penais n.
96.104951-7 e 96.102746-7, situação esta que foi reconhecida pelo juízo de primeira
instância ao julgar improcedente a acusação.

Destacam, também, a exacerbação imotivada da pena, uma vez que,


primário, sem antecedentes criminais, teve sua pena-base fixada muito além do mínimo
legal com fundamento apenas na suposta gravidade das condutas, embora não existam
circunstâncias desfavoráveis ao réu.

Também quanto ao aumento da continuidade delitiva, argumentam terem


sido levadas em conta operações efetuadas em intervalo no qual o paciente não mais
integraria a direção do banco.

Pugnam, assim, pela concessão da ordem, trancando-se a ação penal

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que lhe é movida, ou, alternativamente, seja diminuída a reprimenda imposta ao
patamar mínimo previsto pela lei.

Instruem o pedido com os documentos de fls. 33 a 2028.

Instado, o Ministério Público Federal opinou pelo parcial conhecimento do


writ e, nesta parte, por sua denegação (fls. 2032-2039).

Levados os autos em mesa na sessão de 9.3.2010 desta Quinta Turma, o


Exmo. Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, relator do habeas corpus, votou por sua
parcial concessão, para que a Corte Regional fundamentasse o aumento da pena
operado com base na continuidade delitiva.

Para melhor exame da questão, pedi vista.

De uma análise do caso em testilha, entendo que, quanto à suposta


exacerbação infundada da pena imposta ao acusado, mostra-se indevida a aplicação da
regra inserta no art. 71 do Estatuto Repressivo, uma vez que, para a configuração do
crime previsto no art. 4º da Lei n. 7.492/86, seria necessária a prática habitual de atos
em tese criminosos.

Para melhor elucidação da quaestio, transcreve-se aludido tipo penal, in


verbis:
"Art. 4º. Gerir fraudulentamente instituição financeira:

Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa".

Acerca da conduta delituosa descrita no art. 4º da lei que disciplina os


crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, Cezar Roberto Bitencourt traz a seguinte
ensinança:
"A tipificação do crime de gestão fraudulenta (e também
temerária), com efeito, exige a prática reiterada dos atos
caracterizadores da fraude ou da temeridade. Em outros
termos, gestão fraudulenta e gestão temerária são
classificadas como crimes habituais impróprios. Destaca,
com percuciência de sempre, Tórtima que: 'Com efeito, a lei
não diz, simplesmente, praticar ato de gestão fraudulento
(ou temerário), mas sim gerir fraudulentamente... a indicar
pluralidade de atos, pautando a conduta do agente em um
determinado período de tempo'.” (in Crimes contra o
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sistema financeiro nacional e contra o mercado de capitais.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010 p. 39/40 e 46, grifou-se).

Ora, crime habitual impróprio, ou acidentalmente habitual, é aquele em


que um único ato pode ser considerado para a caracterização da infração penal, não
constituindo pluralidade de delitos a repetição de tais ações pelo agente.

Portanto, in casu, o cometimento sequencial de atos fraudulentos pelos


administradores da instituição financeira, como o ora paciente, já integra o próprio tipo
penal, razão pela qual não há que se falar, na espécie, em crime continuado.

Nesse sentido, já decidiu este Superior Tribunal de Justiça que “o crime


de gestão fraudulenta, consoante a doutrina, pode ser visto como crime habitual
impróprio, em que uma só ação tem relevância para configurar o tipo, ainda que a sua
reiteração não configure pluralidade de crimes” (HC 39908/PR, rel. Min. ARNALDO
ESTEVES LIMA, Quinta Turma, julgado em 6-12-2005, p. no DJ de 3/4/2006, p. 373).

De idêntico teor, transcreve-se, ainda deste Sodalício, o seguinte julgado:


"HABEAS CORPUS. PACIENTE DENUNCIADO POR GESTÃO
TEMERÁRIA E FRAUDULENTA. FATOS OCORRIDOS DE MARÇO
A AGOSTO/96. POSTERIOR CONDENAÇÃO, SOMENTE PELO
CRIME DE GESTÃO FRAUDULENTA. PENA TOTAL: 3 ANOS DE
RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL ABERTO, SUBSTITUÍDA POR 2
SANÇÕES RESTRITIVAS DE DIREITO. CITAÇÃO POR EDITAL.
AUSÊNCIA DE COMPARECIMENTO DO RÉU OU NOMEAÇÃO DE
DEFENSOR. CRIME HABITUAL IMPRÓPRIO. SUSPENSÃO DO
PRAZO PRESCRICIONAL (ART. 366 DO CPP COM A REDAÇÃO
DADA PELA LEI 9.271/96), SEM A CONSEQUENTE SUSPENSÃO
DO PROCESSO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.
IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO PARCIAL DA NOVEL
LEGISLAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. PARECER DO MPF PELA
CONCESSÃO DA ORDEM. ORDEM CONCEDIDA PARA
DECLARAR NULO O PROCESSO DESDE O DESPACHO QUE
DECRETOU A REVELIA DO PACIENTE, DECLARANDO-SE
SUSPENSO O PROCESSO E O CURSO DO PRAZO
PRESCRICIONAL DESDE ENTÃO, NOS TERMOS DO ART. 366
DO CPC, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 9.271/96.
CONSIDERANDO QUE AGORA, É SABIDO O ENDEREÇO DO
PACIENTE, DETERMINA-SE NOVA CITAÇÃO, PARA QUE O
PROCESSO TENHA CURSO REGULAR.
[...]
4. Esta Corte já decidiu que o crime de gestão fraudulenta,
consoante a doutrina, pode ser visto como crime habitual impróprio,
em que uma só ação tem relevância para configurar o tipo, ainda
que a sua reiteração não configure pluralidade de crimes (HC
39.908/PR, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJ 03.04.2006).
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Superior Tribunal de Justiça
5. Parecer do MPF pela concessão da ordem.
6. Ordem concedida, para declarar nulo o processo desde o
despacho que decretou a revelia do paciente, considerando-se
suspenso o processo e o curso do prazo prescricional desde então,
nos termos do art. 366 do CPC, com a redação dada pela Lei
9.271/96. Considerando que, agora, é sabido o paradeiro do
paciente, deve-ser determinar nova citação para que a ação penal
tenha seu curso retomado" (HC 110.767/RS, rel. Min. NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, Quinta Turma, julgado em 23-3-2010, DJe de
3/5/2010).

No mesmo vértice já se manifestou o Pretório Excelso, veja-se:


“HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. DENÚNCIA. INÉPCIA.
INOCORRÊNCIA. GESTÃO FRAUDULENTA. CRIME PRÓPRIO.
CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR DO CRIME. COMUNICAÇÃO.
PARTÍCIPE. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. EXECUÇÃO DE
UM ÚNICO ATO, ATÍPICO. IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA.
1. A denúncia descreveu suficientemente a participação do
paciente na prática, em tese, do crime de gestão fraudulenta de
instituição financeira. 2. As condições de caráter pessoal, quando
elementares do crime, comunicam-se aos co-autores e partícipes
do crime. Artigo 30 do Código Penal. Precedentes. Irrelevância do
fato de o paciente não ser gestor da instituição financeira envolvida.
3. O fato de a conduta do paciente ser, em tese, atípica -
avalização de empréstimo - é irrelevante para efeitos de
participação no crime. É possível que um único ato tenha relevância
para consubstanciar o crime de gestão fraudulenta de instituição
financeira, embora sua reiteração não configure pluralidade de
delitos. Crime acidentalmente habitual. 4. Ordem denegada” (STF,
HC 89364, rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado
em 23-10-2007, DJe-070, divulg. Em 17-4-2008, p. em 18-4-2008,
grifou-se).

Portanto, deve ser afastada a aplicação do art. 71 do Código Penal ao


crime de gestão fraudulenta, haja vista que as fraudes cometidas na gestão da
instituição financeira configuram delito único, e não diversas infrações penais
perpetradas em continuidade delitiva.

Diante de todo o exposto, ouso dissentir do eminente Relator para


conceder, em parte, a ordem de habeas corpus, decotando-se da pena imposta o
aumento referente à continuidade delitiva, por inaplicável à espécie.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2009/0058203-7 HC 132.510 / SP


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 200203990255147 9801042044

EM MESA JULGADO: 18/11/2010

Relator
Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LINDÔRA MARIA ARAÚJO
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DANIELLA MEGGIOLARO E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : LUIZ CLAUDIO JOVINO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTARAM ORALMENTE NA SESSÃO DE 09/03/2010: DRA. DANIELLA
MEGGIOLARO (P/ PACTE) E MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade, concedeu a ordem, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador
convocado do TJ/AP) e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

Documento: 950633 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/05/2011 Página 30 de 9
Superior Tribunal de Justiça

Brasília, 18 de novembro de 2010

LAURO ROCHA REIS


Secretário

Documento: 950633 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/05/2011 Página 31 de 9
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 132.510 - SP (2009/0058203-7)
RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
IMPETRANTE : DANIELLA MEGGIOLARO E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : LUIZ CLAUDIO JOVINO

RETIFICAÇÃO DE VOTO
(MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO)

1. Senhor Presidente, de fato, como bem lembrou o eminente


Ministro JORGE MUSSI, esta Corte já decidiu que o crime de gestão fraudulenta,
consoante a doutrina, pode ser visto como crime habitual impróprio, em que uma só
ação tem relevância para configurar o tipo, ainda que a sua reiteração não configure
pluralidade de crimes (HC 39.908/PR, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJ
03.04.2006).

2. Assim, retifico o meu voto, proferido na assentada do dia


09.03.2010, que concedia parcialmente a ordem de Habeas Corpus, para que o egrégio
Tribunal a quo especificasse, motivadamente, o aumento a ser aplicado pela
continuidade delitiva, para agora conceder parcialmente a ordem para afastar o
aumento da pena relativo à continuidade delitiva.

Documento: 950633 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/05/2011 Página 32 de 9
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2009/0058203-7 HC 132.510 / SP


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 200203990255147 9801042044

EM MESA JULGADO: 03/02/2011

Relator
Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO XAVIER PINHEIRO FILHO
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DANIELLA MEGGIOLARO E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3A REGIÃO
PACIENTE : LUIZ CLAUDIO JOVINO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
RETIFICAÇÃO DE PROCLAMAÇÃO DE RESULTADO DE JULGAMENTO:
"A Turma, por unanimidade, concedeu parcialmente a ordem, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do
Tj/rj), Gilson Dipp e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 03 de fevereiro de 2011

LAURO ROCHA REIS


Secretário

Documento: 950633 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/05/2011 Página 33 de 9

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