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07/01/2021 · Justiça Federal da 1ª Região

JUSTIÇA FEDERAL

Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO Nº 1008667-89.2020.4.01.0000
HABEAS CORPUS CRIMINAL (307)
PACIENTE: RICARDO LUIS PEIXOTO LEAL e outros (3)
IMPETRADO: 10 VARA FEDERAL DO DF
RELATOR(A):NEY DE BARROS BELLO FILHO

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO
Processo Judicial Eletrônico

HABEAS CORPUS CRIMINAL (307) n. 1008667-89.2020.4.01.0000

RELATÓRIO

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO (Relator):

Cuida-se de ordem de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrada por


Gustavo Alves Magalhães Ribeiro, Felipe Fernandes de Carvalho, Rodrigo de Bittencourt
Mudrovitsch e Caroline Scandelari Raupp, em favor Ricardo Luís Peixoto Leal, apontando
como autoridade coatora o Juízo Federal da 10ª. Vara da Seção Judiciária do Distrito
Federal.

Alega a parte ora impetrante que a denúncia realizada pelo Ministério Público
Federal está desprovida de quaisquer elementos de prova que corroborem os fatos
imputados ao paciente, estando integralmente escorada, em relação a ele, nas palavras de

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colaboradores premiados e em referências genéricas acerca de sua suposta participação
nos fatos delineados, realidade que é reveladora de sua inépcia e da ausência de justa
causa da acusação.

Sustenta que a inicial acusatória também é flagrantemente atípica no que toca


às acusações de lavagem de dinheiro que são realizadas contra o ora paciente, seja pelo
fato de os atos de lavagem constituírem o mero exaurimento dos supostos delitos de
corrupção passiva, seja em razão de os recursos hipoteticamente repassados a ele e a seu
grupo terem se originado em momento no qual não havia sido praticado o delito
antecedente que lhe é imputado.

Nesse ponto, aduz que, a despeito de todos esses fatos terem sido largamente
apresentados na resposta à acusação apresentada pela defesa técnica do réu, ora
paciente, o Juízo de origem entendeu por bem receber a denúncia ofertada e dar
prosseguimento ao feito, fazendo-o com base em uma manifestação absolutamente
genérica.

Afirma que as acusações que recaem contra ele, ademais, destoam-se


daquelas que incidem sobre todos os demais corréus da ação penal em curso, tratando-se
de uma situação absolutamente particular tanto pela sua posição dentro do BRB como pela
forma como a denúncia foi estruturada em seu desfavor, de modo que a concessão do
presente writ em nada interferirá sobre o prosseguimento daquele feito em relação aos
demais acusados.

Assevera que a denúncia ofertada pelo MPF constitui uma indevida tentativa
de responsabilização penal objetiva do paciente, estando lastreada tão unicamente na
posição por ele ocupada na estrutura do BRB. Ocorre que, não fosse a ausência de
elementos de prova da acusação para corroborar a sua tese, a denúncia ainda assim é
teratológica pelo fato de criar um poder de comando sobre a figura dele que jamais existiu
pela própria impossibilidade de suas funções lhe permitiram a agir da forma retratada.

Frisa que ele foi denunciado pelo crime de lavagem de dinheiro sob o
fundamento de que diversos atos voltados ao branqueamento desses recursos foram
praticados através das citadas empresas na denúncia. Contudo, aponta que ao longo da
exordial acusatória o parquet não identificou que os valores objeto das supostas operações
de branqueamento teriam decorrido do crime de corrupção passiva imputado a ele, requisito
necessário para o aperfeiçoamento do delito de lavagem de ativos que supostamente
cometeu.

Pondera e pugna: “certo de que os fatos imputados ao Paciente são ineptos,


desprovidos de justa causa e atípicos, é mandatória a sua exclusão do polo passivo da
Ação Penal nº 1003577- 22.2019.4.01.3400, haja vista a sua particular posição no BRB e a
forma excepcional como a inicial acusatória foi estruturada em relação a ele. Em face disso,
requer seja concedida a presente ordem de habeas corpus para o fim de trancar a Ação
Penal nº 1003577- 22.2019.4.01.3400 em relação ao Paciente” (fl. 32 – doc. n. 50122561).

Decisão, às fls. 7.794/8.001 - doc. n. 50206564, indeferiu parcialmente a


liminar.

I f õ t d à fl 7 817/7 819 d 54603516


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Informações prestadas às fls. 7.817/7.819 - doc. n. 54603516.

A Procuradoria Regional da República da 1ª. Região, às fls. 7.835/7.840 - doc.


n. 56405077, oficia pela denegação da ordem.

É o relatório.

VOTO - VENCEDOR

PODER JUDICIÁRIO
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Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO

HABEAS CORPUS CRIMINAL (307) n. 1008667-89.2020.4.01.0000

VOTO

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO (Relator):

A presente ordem de habeas corpus, impetrada em favor de Ricardo Luís


Peixoto Leal, objetiva, em apertada síntese, o trancamento ação penal n. 1003577-
22.2019.4.01.3400, em relação ao ora paciente.

Inicialmente, pontuo que o trancamento da ação penal pela via do habeas


corpus somente é autorizada na evidência de uma situação de excepcionalidade, vista
como "a manifesta atipicidade da conduta, a presença de causa de extinção da punibilidade
do paciente ou a ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas" (HC
110.698 - STF).

Quanto ao cabimento do mandamus, é cristalino o entendimento


jurisprudencial acerca do uso do writ para o sobrestamento de ação penal. Assim, a
Suprema Corte considera essa possibilidade, "desde que constatada, sem a necessidade

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de dilação probatória, a inequívoca improcedência do pedido veiculado na ação penal, seja
pela patente inocência do acusado, atipicidade da conduta, ou extinção da punibilidade” (HC
118.833 AgR/BA; Segunda Turma; Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe de 07/05/2015).

Da detida análise do caderno processual, verifico a presença da plausibilidade


jurídica do quanto requerido, pelo viés da inépcia da denúncia. Na espécie, a alegada
ausência de justa causa – art. 395, III, do Código de Processo Penal –, ante a falta de
conexão entre a conduta atribuída ao denunciado, ora paciente e os tipos penais descritos –
corrupção ativa (art. 317 do Código Penal); gestão fraudulenta e apropriação indébita
financeira (artigos 4º, caput; e 5º, caput, ambos da Lei 7.492/86).

Estatuem os precitados dispositivos, in verbis:

Código Penal:

Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida,
ou aceitar promessa de tal vantagem:

Lei 7.492/86, de 16 de junho de 1986

Omissis;

Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:

Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25 desta lei, de


dinheiro, título, valor ou qualquer outro bem móvel de que tem a posse, ou desviá-lo
em proveito próprio ou alheio:

In casu, o ora paciente, enquanto membro do Conselho de Administração do


Banco de Brasília – BRB, no período compreendido entre fevereiro/2015 até janeiro/2017,
ainda que tenha exercido a presidência desse conselho, interinamente, não detinha o poder
de decidir monocraticamente qualquer questão sujeita à competência determinada nas
atribuições estatutárias do Conselho de Administração, cujas decisões precisam ser
tomadas pelo colegiado.

Com efeito, descabe falar em sua responsabilidade penal objetiva, tendo em


vista que a circunstância de ele exercer cargo de direção ou de administração na instituição
bancária, não se revela suficiente para autorizar qualquer presunção de culpa, eis que
inexiste, no nosso ordenamento jurídico, a possibilidade constitucional de reconhecer a
responsabilidade penal objetiva.

Impende ressaltar que, nada obstante a possibilidade de se invocar a teoria do


domínio do fato, essa tese não tem o condão de exonerar o órgão acusador do ônus de
comprovar, licitamente, os elementos constitutivos da denúncia, nem exime o juízo, em sede
de sentença, de trazer os elementos probatórios da convicção firmada que o acusado
concorreu para o crime, conforme preceitua o artigo 29 do Código Penal.

Nessa mesma linha de intelecção, no que pertine ao delito de corrupção ativa,


ainda que se tenha em linha de visão que o Superior Tribunal de Justiça, em recente
julgado, afastou o requisito do nexo entre a comercialização do ato e a atribuição do
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funcionário público – termo empregado em sentido lato – para praticá-lo, entendo eu que a
corrupção passiva só existe se houver um nexo entre a vantagem solicitada ou aceita e a
atividade exercida pelo funcionário corrupto, pelo que se faz necessária a comprovação de
que o agente tomou a iniciativa da mercancia ao solicitar a outrem que a vantagem lhe
fosse concedida.

No caso vertente, data máxima vênia, a denúncia, em nenhum momento,


demonstra a troca de vantagens entre os agentes envolvidos – o ora paciente e o corruptor
–, também não descreve a vinculação causal entre as vantagens indevidas e as atribuições
desempenhadas pelo paciente.

Dito isto, s.m.j, nesse ponto, reconheço a inépcia da denúncia.

Noutro lanço, friso que a falta de justa causa para a ação penal, em face da
atipicidade da conduta, é motivo suficiente para o trancamento de ação penal. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, bem como deste TRF da 1ª. Região assim
trafega.

Por oportuno, inter plures, transcrevo arestos de julgados das Cortes citadas
que, mutatis mutandis, analisou questão análoga à presente, in verbis:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO PORTO SEGURO. CORRUPÇÃO


ATIVA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. DESCRIÇÃO DA CONDUTA. DEMONSTRAÇÃO
DOS ELEMENTOS DO TIPO PENAL IMPUTADO. AUSÊNCIA. RECURSO
PROVIDO.

1. Orienta-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que o trancamento da ação


penal é medida de exceção, possível somente quando inequívoca a inépcia da
denúncia e/ou a ausência de justa causa.

2. É inepta a denúncia quanto ao delito do art. 333, parágrafo único, do Código


Penal, atribuído ao recorrente em razão da ausência de demonstração da forma
como o referido delito teria sido cometido, não se podendo extrair, seja por meio de
uma apreciação sistêmica da inicial acusatória, seja pela análise do ponto específico
relativo ao Núcleo da Secretaria de Patrimônio da União no Estado de São Paulo,
qualquer conduta que evidencie a participação de RUBENS CARLOS VIEIRA nos
crimes de corrupção ativa.

3. Não há descrição, ademais, a respeito do oferecimento de vantagem


indevida por parte do recorrente a funcionário público para determiná-lo a
praticar ato de ofício, que efetivamente tenha sido praticado com infringência
de dever funcional, não se podendo presumir, com base nos elementos
constantes dos autos, o nexo existente entre a conduta imputada e a efetiva
atuação do recorrente na prática delitiva narrada na denúncia.

4. Ante o exposto, voto por dar provimento ao recurso em habeas corpus para
determinar o trancamento da ação penal em relação ao crime de corrupção ativa na
Secretaria de Patrimônio da União imputado ao recorrente RUBENS CARLOS
VIEIRA, nos autos da Ação Penal n. 0002626-63.2014.4.03.6181, da 5ª Vara
Federal Criminal de São Paulo.

(STJ. RHC 82.611/SP, Sexta Turma, Rel. Ministro Néfi Cordeiro, julgado em
11/06/2019, DJe 21/06/2019 - destaquei).

PENAL E PROCESSUAL PENAL HABEAS CORPUS TRANCAMENTO DA


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PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA. ARTIGO 333 DO
CÓDIGO PENAL. INVESTIGAÇÃO DE IRREGULARIDADES NA ATUAÇÃO DO
CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CARF. DENÚNCIA QUE
NÃO DESCREVE DO QUE O PACIENTE DEVE SE DEFENDER. AUSÊNCIA DE
JUSTA CAUSA. COAÇÃO ILEGAL. CONCESSÃO DA ORDEM.

1. O paciente foi denunciado pela prática, em tese, dos crimes de corrupção ativa
(art. 333, parágrafo único do CP) e de lavagem de dinheiro (art. 1º, da Lei
9.613/1998), em razão de apuração da ocorrência de suposta corrupção praticada
no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - CARF, no que respeita
ao Processo Administrativo Fiscal nº 13674.000107/99/90 (que trata da exclusão de
expurgos inflacionários no cálculo da repetição de indébito devida ao contribuinte
QUALY).

2. De acordo com a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, o


trancamento de ação penal, pela via do habeas corpus, somente é admissível
quando houver demonstração, de plano, da ausência de justa causa para o inquérito
ou para a ação penal, assim como a demonstração inequívoca de autoria ou
materialidade, a atipicidade da conduta, a absoluta falta de provas, a ocorrência de
causa extintiva da punibilidade ou a violação dos requisitos legais exigidos para a
peça acusatória.

3. Em casos extremos, todavia, em que a acusação se desenvolve de maneira


claudicante, isto é, apresentando denúncia imprecisa, genérica e
indeterminada, a jurisprudência não fecha a porta à possibilidade de
trancamento da ação penal, especialmente, quando, pela imprecisão ou
generalidade da peça acusatória, falhando no dever de bem delimitar e
individualizar os fatos delituosos, dificulte a defesa de ordem a concretizar
violação à ampla defesa e ao contraditório.

4. O Supremo Tribunal Federal tem imposto mesmo ao Ministério Público o dever de


deduzir denúncia com idoneidade, de ordem a narrar os fatos de forma certa,
determinada e precisa, para propiciar ao acusado a possibilidade de, sabendo a
natureza e extensão da acusação contra ele dirigida, bem poder se defender.

5. Nas palavras do Ministro Celso de Mello: "O sistema jurídico vigente no Brasil -
tendo presente a natureza dialógica do processo penal acusatório, hoje impregnado,
em sua estrutura formal, de caráter essencialmente democrático - impõe, ao
Ministério Público, notadamente no denominado 'reato societario', a obrigação de
expor, na denúncia, de maneira precisa, objetiva e individualizada, a participação de
cada acusado na suposta prática delituosa. - O ordenamento positivo brasileiro -
cujos fundamentos repousam, dentre outros expressivos vetores condicionantes da
atividade de persecução estatal, no postulado essencial do direito penal da culpa e
no princípio constitucional do 'due process of law' (com todos os consectários que
dele resultam) - repudia as imputações criminais genéricas e não tolera, porque
ineptas, as acusações que não individualizam nem especificam, de maneira
concreta, a conduta penal atribuída ao denunciado" (HC 84580, relator ministro
Celso de Mello, Segunda Turma, DJe-176 Divulg 17-09-2009 Public 18-09-2009
Ement VOL-02374-02 PP-00222 RT v. 98, n. 890, 2009, p. 500-513).

6. A denúncia, segundo a mais atualizada doutrina, deve cumprir, prima facie,


duas funções essenciais: (a) em primeiro lugar, cumpre a função de
informação (Informationsfunkton), mediante a qual a acusação deve oferecer e
transmitir ao acusado o adequado conhecimento da acusação contra ele
dirigida, de modo a propiciar-lhe a ampla defesa e o contraditório, sabendo

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com clareza do que deve defender-se; (b) em segundo lugar, exige-se que a
denúncia cumpra a função de delimitação (Umgrenzungsfunktion), de modo a
revelar a concretização do delito, demarcando-lhe, objetiva e subjetivamente,
todas as fronteiras, permitindo ao acusado e ao Poder Judiciário destacá-lo o
fato criminoso, com precisão e clareza, de todas as demais circunstâncias da
vida. A acusação deve, pois, definir e delimitar o delito imputado ao acusado
com os seus aspectos factuais (tempo, lugar e fato concreto), assim como
todos os aspectos pessoais, de tal forma que o acusado e o crimes possam
ser corretamente destacados dos demais fatos da vida e dos outros acusados.

7. Na causa em espécie, a denúncia não se desincumbiu da necessária obrigação


de descrever e delimitar, de forma concreta, com clareza e precisão, em que teriam
consistido os atos de responsabilidade do paciente que, de alguma forma, tivessem
implicado a prática de corrupção ativa a ele imputada.

Omissis.

13. Como se sabe, mesmo o dolo genérico exige conhecimento e vontade do


agente a dominar toda a cadeia causal do fato delituoso, sem o que a conduta
é atípica. Portanto, aqui o problema não é apenas de indevida classificação da
conduta imputada ao paciente, mas de verdadeira inépcia da peça acusatória.
Na forma como deduzida, a denúncia ou não descreve fato punível imputável
ao paciente, ou, no mínimo, não permite a exata compreensão das
circunstâncias que envolvem o delito.

Omissis.

18 A denúncia imputa ao paciente a prática do crime de corrupção ativa (art. 333 do


CP), mas não descreve de que maneira a vantagem foi oferecida ou prometida, nem
muito menos sua participação na específica prática deste ato de corrupção, sendo
que a peça acusatória também apresenta imprecisão e incoerência quanto ao
momento em que o paciente teria aderido à conduta dos demais corréus, se é que
aderiu. O que se retira da peça acusatória, em momentos decisivos, quando era de
se esperar e exigir imputação concreta de fatos, é tão simplesmente presunção do
que, ao entender do Ministério Público, deve se supor e derivar de sua longa e às
vezes ambígua descrição dos fatos.

Omissis.

24. O crime de corrupção ativa (artigo 333 do CP) é formal e instantâneo, caso
em que a consumação ocorre com a mera oferta ou promessa da vantagem
indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar
ato de ofício, de modo que, havendo na denúncia, como de fato existe,
imprecisão ou dúvida quanto ao momento da prática da conduta imputada ao
paciente, o caso é de inépcia da peça acusatória.

25. Verifica-se que a denúncia não descreve do que o paciente deve se defender,
seja porque não se sabe o que o paciente teria supostamente oferecido ou (valor e
quanto) e, sobretudo, como e quando a oferta ilícita teria sido realizada (art. 333 do
CP). Ou seja, não imputou ao paciente nenhum ato específico, com a necessária
descrição circunstanciada que lhe permitisse o exercício, na sua plenitude, do direito
de defesa.

26. Afastada a responsabilidade e dolo, por inépcia na descrição da conduta


tipificada como corrupção ativa, e sequer referido o conhecimento do paciente
acerca da existência do crime de corrupção, na qualidade de crime antecedente,
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afastada também fica a imputação do crime de lavagem de dinheiro, o qual não
subsiste sem que a prática do crime antecedente tenha pelo menos entrado na
esfera subjetiva do acusado. O dolo do acusado do crime de lavagem de ativos
deve cobrir também (em conhecimento e vontade) a existência de crime anterior
como fonte dos recursos eventualmente dissimulados, já que elementar do tipo
previsto no art. 1º da Lei 9.613/1998.

27. No que se refere ao suposto crime de lavagem de dinheiro, os valores relativos


às movimentações financeiras apontadas na denúncia (relativos à repartição de
honorários advocatícios), tidas como caracterizadoras desse suposto delito, foram
todos declarados à autoridade competente, com identificação da origem e da
destinação de cada valor recebido e movimentado, o que não condiz com a
afirmação da acusação de que teria havido dissimulação ou ocultação de valores.

28. Configurada a coação ilegal e a ausência de justa causa nos termos dos arts.
395, III e 648, I, do CPP, deve ser concedida a ordem de habeas corpus, para
determinar o trancamento da ação penal 0028692-67.2016.4. 01.3400, em curso
perante a 10ª Vara Federal/DF, em relação ao paciente José Leovegildo Oliveira
Morais.

(TRF1. HC 0050412-71.2017.4.01.0000, Quarta Turma, Rel. Des. Federal Néviton


Guedes, e-DJF1 de 19/12/2017 - negritos nossos).

Neste contexto, primus et oculli, vislumbro ser possível, na espécie, também, o


trancamento da ação penal n. 1003577- 22.2019.4.01.3400, em relação ao ora paciente,
ante a concreta possibilidade de ocorrência da alegada atipicidade da conduta, quanto ao
delito de lavagem de ativos – art. 1º, § 1º, I, da Lei 9.613/98 (art. 1º. ocultar ou dissimular a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos
ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. § 1º. incorre na mesma
pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes
de infração penal: I - os converte em ativos lícitos).

Corroborando o entendimento supra, cito os seguintes precedentes


jurisprudenciais que, mutatis mutandis, se aplicam à presente hipótese, in verbis:

HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 16 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI


10.826/2003). PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO RESTRITO. AUSÊNCIA DE
OFENSIVIDADE DA CONDUTA AO BEM JURÍDICO TUTELADO. ATIPICIDADE
DOS FATOS. ORDEM CONCEDIDA.

Omissis.

III – Inexistência de potencialidade lesiva da munição apreendida, desacompanhada


de arma de fogo. Atipicidade material dos fatos.

IV – Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal.

(STF. HC 132876/DF, Segunda Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de


02/06/2017 - grifos nossos).

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO. CRIME DE


DESOBEDIÊNCIA. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA. LEI MARIA
DA PENHA. POSSIBILIDADE DE PRISÃO PREVENTIVA. ATIPICIDADE DA

CONDUTA CONSTRANGIMENTO ILEGAL OCORRÊNCIA ORDEM


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CONDUTA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. OCORRÊNCIA. ORDEM
CONCEDIDA.

Omissis.

3. Ordem concedida a fim de reconhecer a atipicidade da conduta irrogada ao


paciente pelo crime de desobediência, restabelecendo-se a decisão de primeiro
grau, que rejeitou em parte a denúncia.

(STJ. HC 394.567/SC, Sexta Turma, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura,
DJe de 15/05/2017 - destaquei).

Ressalto que, por se tratar de crime acessório, derivado ou parasitário, o delito


de lavagem – branqueamento – de dinheiro pressupõe a existência infração anterior, que
constitui uma circunstância elementar do tipo – “lavar”. Nesse diapasão, ausente a
comprovação do crime antecedente ao da lavagem de dinheiro, incabível o prosseguimento
da ação para apuração do cometimento desse delito.

Friso, por oportuno, que, s.m.j., a denúncia não descreve adequadamente os


fatos tidos por ilícitos, em desatendimento ao que estatui o art. 41 do Código de Processo
Penal, tendo em vista que um de seus requisitos essenciais, é a exposição do fato, com
todas as suas circunstâncias, o que não se encontra devidamente preenchido em relação
ao crime de lavagem de dinheiro.

A exordial acusatória não descreve minimamente os fatos específicos que


constituiriam os crimes antecedentes da lavagem de dinheiro, limitando-se a narrar que o
paciente era partícipe na sistemática ocultação ou dissimulação, sem, no entanto, apontar a
natureza, a origem, a localização, a disposição e a movimentação de valores provenientes
de crimes praticados contra a Pública Administração. Dito de outra forma, não se cuida de
imputação vaga ou imprecisa, mas de ausência de imputação de fatos concretos e
determinados.

Acerca da possibilidade trancamento em casos como que ora se examina, cito:

1. Habeas corpus. 2. Corrupção passiva e lavagem de capitais (artigo 317, caput,


c/c o artigo 71, ambos do Código Penal; e artigo 1º, caput, da Lei 9.613/1998,
respectivamente). 3. Denúncia recebida, por maioria, pelo Órgão Especial do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Réu Deputado Estadual. 4. Pedido de
declaração de inépcia da denúncia e conseqüente trancamento da ação penal, por
falta de justa causa. 5. A peça acusatória não observou os requisitos que poderiam
oferecer substrato a uma persecução criminal minimamente aceitável. Precário
atendimento dos requisitos do artigo 41 do CPP. 6. Violação dos princípios
constitucionais do contraditório, da ampla defesa e da dignidade da pessoa humana.
Precedentes. 7. Ordem concedida para trancamento da ação penal instaurada
contra o paciente.

(STF. HC 158.319, Segunda Turma, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe de


15/10/2018).

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO


PENAL. CRIME DE CORRUPÇÃO ATIVA. ARTIGO 333 DO CÓDIGO PENAL.
INVESTIGAÇÃO DE IRREGULARIDADES NA ATUAÇÃO DO CONSELHO
ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CARF. DENÚNCIA QUE NÃO
DESCREVE DO QUE O PACIENTE DEVE SE DEFENDER AUSÊNCIA DE PROVA
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DESCREVE DO QUE O PACIENTE DEVE SE DEFENDER. AUSÊNCIA DE PROVA
OU INDÍCIO DE PARTICIPAÇÃO DO PACIENTE. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
COAÇÃO ILEGAL. CONCESSÃO DA ORDEM.

1. Busca-se, com o presente Habeas Corpus, a decretação da nulidade da decisão


que recebeu a denúncia, nos autos da Ação Penal 0028692-67.2016.4.01.3400, em
relação ao paciente, face à manifesta inépcia da referida peça, quanto aos crimes
de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Omissis.

15. O tipo penal claramente inclui como um de seus elementos o fato de que só
haverá crime de lavagem se os valores eventualmente dissimulados ou omitidos
tenham sido provenientes direta ou indiretamente, de infração penal anterior (cito e
realço a dicção expressa da Lei): "ocultar ou dissimular a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal".

16. Portanto, se não há crime anterior, ou se, pelo menos, por defeituosa descrição
dos fatos típicos, não se consegue demonstrar o vínculo, objetivo ou subjetivo, entre
o delito antecedente e aquele outro cuja prática se atribui ao paciente, obviamente,
não se poderá, ao final, impor-lhe um juízo condenatório pelo crime de lavagem de
ativos.

17. Verifica-se que a denúncia não descreve do que o paciente deve se defender,
seja porque não se sabe o que o paciente teria oferecido (valor e quanto) e,
sobretudo, como a oferta ilícita teria sido realizada (art. 333 do CP) aos servidores
públicos. Ou seja, não imputou ao paciente nenhum ato específico, com a
necessária descrição circunstanciada que lhe permitisse o exercício, na sua
plenitude, do direito de defesa. O crime de lavagem de dinheiro, como se retira da
fundamentação acima, esteve, na peça acusatória, ainda mais distante de sua
configuração.

18. Tudo considerado, tenho como configurada a coação ilegal nos termos dos
artigos 395, III e 648, I, do CPP.

19. Ordem de Habeas Corpus concedida para determinar o trancamento da ação


penal 0028692-67.2016.4.01.3400, em curso na 10ª Vara Federal/DF, em relação ao
paciente Romeu Salaro.

(TRF1. HC 1004518-21.2018.4.01.0000, Quarta Turma, Rel. Des. Federal Néviton


Guedes, e-DJF1 de 19/03/2019).

Assim sendo, pelas razões expostas neste writ, em cotejo com os precedentes
jurisprudenciais citados, fica clara a necessidade de trancamento da indigitada ação penal.

Na fattispecie, a excepcionalidade apta a ensejar o trancamento do inquérito


policial em curso restou evidenciada, em face da ocorrência inequívoca da atipicidade da
conduta atribuída à ora paciente.

Ante o exposto, retificando os termos da decisão que indeferiu o pleito liminar,


concedo a ordem de habeas corpus, para determinar o trancamento da ação penal n.
1003577- 22.2019.4.01.3400, em relação ao ora paciente Marcos Ricardo Luís Peixoto Leal.

É t
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É o voto.

DEMAIS VOTOS

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO
Processo Judicial Eletrônico

HABEAS CORPUS CRIMINAL (307) n.1008667-89.2020.4.01.0000


PACIENTE: RICARDO LUIS PEIXOTO LEAL
IMPETRANTE: RODRIGO DE BITTENCOURT MUDROVITSCH, FELIPE FERNANDES DE CARVALHO,
CAROLINE SCANDELARI RAUPP
Advogados do(a) PACIENTE: GUSTAVO ALVES MAGALHAES RIBEIRO - SP390228, FELIPE FERNANDES
DE CARVALHO - DF44869, RODRIGO DE BITTENCOURT MUDROVITSCH - DF26966-A, CAROLINE
SCANDELARI RAUPP - DF46106
IMPETRADO: 10 VARA FEDERAL DO DF

EMENTA

PROCESSO PENAL. ORDEM DE HABEAS CORPUS. “OPERAÇÃO CUI BONO”. CORRUPÇÃO ATIVA.
ART. 333 DO CÓDIGO PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. ART. 1º DA LEI 9.613/1998. CRIME
ANTECEDENTE. INEXISTÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. MEDIDA EXCEPCIONAL.
OCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES AUTORIZADORAS DA CONCESSÃO ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE
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OCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES AUTORIZADORAS DA CONCESSÃO. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE
DA CONDUTA. COMPROVAÇÃO. PRECEDENTES DESTA CORTE. WRIT CONCEDIDO.

1. O trancamento de ação penal pela via do habeas corpus somente é autorizado na evidência de uma
situação de excepcionalidade, vista como "a manifesta atipicidade da conduta, a presença de causa de
extinção da punibilidade do paciente ou a ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade
delitivas" (STF, HC 110.698).

2. Constatada a presença da plausibilidade jurídica do quanto requerido, pelo viés da inépcia da


denúncia. Na espécie, a alegada ausência de justa causa – art. 395, III, do Código de Processo Penal –,
ante a falta de conexão entre a conduta atribuída ao denunciado, ora paciente e os tipos penais descritos
– corrupção ativa (art. 317 do Código Penal); gestão fraudulenta e apropriação indébita financeira (artigos
4º, caput; e 5º, caput, ambos da Lei 7.492/86).

3. In casu, o ora paciente, enquanto membro do Conselho de Administração do Banco de Brasília – BRB,
no período compreendido entre fevereiro/2015 até janeiro/2017, ainda que tenha exercido a presidência
desse conselho, interinamente, não detinha o poder de decidir monocraticamente qualquer questão
sujeita à competência determinada nas atribuições estatutárias do Conselho de Administração, cujas
decisões precisam ser tomadas pelo colegiado.

4. Descabe falar em responsabilidade penal objetiva, tendo em vista que a circunstância de o ora
paciente exercer cargo de direção ou de administração na instituição bancária, não se revela suficiente
para autorizar qualquer presunção de culpa, eis que inexiste, no nosso ordenamento jurídico, a
possibilidade constitucional de reconhecer a responsabilidade penal objetiva.

5. Nada obstante a possibilidade de se invocar a teoria do domínio do fato, essa tese não tem o condão
de exonerar o órgão acusador do ônus de comprovar, licitamente, os elementos constitutivos da
denúncia, nem exime o juízo, em sede de sentença, de trazer os elementos probatórios da convicção
firmada que o acusado concorreu para o crime, conforme preceitua o artigo 29 do Código Penal.

6. No que pertine ao delito de corrupção ativa, ainda que se tenha em linha de visão que o Superior
Tribunal de Justiça, em recente julgado, afastou o requisito do nexo entre a comercialização do ato e a
atribuição do funcionário público – termo empregado em sentido lato – para praticá-lo, entendo eu que a
corrupção passiva só existe se houver um nexo entre a vantagem solicitada ou aceita e a atividade
exercida pelo funcionário corrupto, pelo que se faz necessária a comprovação de que o agente tomou a
iniciativa da mercancia ao solicitar a outrem que a vantagem lhe fosse concedida.

7. A exordial acusatória, em nenhum momento, demonstra a troca de vantagens entre os agentes


envolvidos – agente público e o corruptor –, também não descreve a vinculação causal entre as
vantagens indevidas e as atribuições desempenhadas pelo ora paciente.

8. Afigura-se presente a plausibilidade jurídica do quanto requerido, pelo viés da possível improcedência
do pedido formulado em sede de ação penal. Na espécie, a alegada atipicidade da conduta atribuída ao
indiciado, ora paciente. A falta de justa causa para a ação penal, em face da atipicidade da conduta, é
motivo suficiente para o trancamento de ação penal.

9. Constatada, no caso em tela, a atipicidade da conduta atribuída ao indiciado, pois não houve descrição
a respeito do oferecimento de vantagem indevida por parte do paciente a funcionário público, tampouco
existiu ato de ofício concreto, praticado com infringência de dever funcional, razão pela qual não se pode

i b l d i d i d
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presumir, com base nos elementos constantes dos autos, o nexo existente entre a conduta imputada e a
efetiva atuação do inculpado na prática delitiva narrada na denúncia.

10. “O crime de corrupção ativa (artigo 333 do CP) é formal e instantâneo, caso em que a consumação
ocorre com a mera oferta ou promessa da vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício, de modo que, havendo na denúncia, como de fato existe,
imprecisão ou dúvida quanto ao momento da prática da conduta imputada ao paciente, o caso é de
inépcia da peça acusatória” ((TRF1. HC 0050412-71.2017.4.01.0000, Quarta Turma, Rei. Des. Federal
Néviton Guedes, e-DJFI de 19/12/2017).

11. Por se tratar de crime acessório, derivado ou parasitário, o delito de lavagem – branqueamento – de
dinheiro pressupõe a existência infração anterior, que constitui uma circunstância elementar do tipo –
“lavar”.

12. A exordial acusatória não descreve minimamente os fatos específicos que constituiriam os crimes
antecedentes da lavagem de dinheiro, limitando-se a narrar que o paciente era partícipe na sistemática
ocultação ou dissimulação, sem, no entanto, apontar a natureza, a origem, a localização, a disposição e a
movimentação de valores provenientes de crimes praticados contra a Pública Administração.

13. “O tipo penal claramente inclui como um de seus elementos o fato de que só haverá crime de
lavagem se os valores eventualmente dissimulados ou omitidos tenham sido provenientes direta ou
indiretamente, de infração penal anterior (cito e realço a dicção expressa da Lei): ‘ocultar ou dissimular a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal’. Portanto, se não há crime anterior, ou se, pelo
menos, por defeituosa descrição dos fatos típicos, não se consegue demonstrar o vínculo, objetivo ou
subjetivo, entre o delito antecedente e aquele outro cuja prática se atribui ao paciente, obviamente, não
se poderá, ao final, impor-lhe um juízo condenatório pelo crime de lavagem de ativos” (TRF1. HC
1004518-21.2018.4.01.0000, Quarta Turma, Rel. Des. Federal Néviton Guedes, e-DJF1 de 19/03/2019).

14. Na fattispecie, a excepcionalidade apta a ensejar o trancamento da ação penal, em face do ora
paciente, restou evidenciada, ante a ocorrência inequívoca da atipicidade da conduta a ele atribuída.

15. Ordem de habeas corpus concedida, para determinar o trancamento da ação penal nº 1022899-
62.2018.4.01.3400, em relação ao paciente Ricardo Luís Peixoto Leal.

ACÓRDÃO

Decide a Turma, por unanimidade, conceder a ordem de habeas corpus, nos termos do
voto do Relator.

Terceira Turma do TRF da 1ª Região – Brasília-DF, 29 de setembro de 2020.

Desembargador Federal NEY BELLO

Relator

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07/01/2021 · Justiça Federal da 1ª Região
Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO
23/10/2020 11:38:35
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ID do documento: 77714538

201023113835014000000765
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