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JUSTIÇA FEDERAL
PROCESSO Nº 1008667-89.2020.4.01.0000
HABEAS CORPUS CRIMINAL (307)
PACIENTE: RICARDO LUIS PEIXOTO LEAL e outros (3)
IMPETRADO: 10 VARA FEDERAL DO DF
RELATOR(A):NEY DE BARROS BELLO FILHO
PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 09 - DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO
Processo Judicial Eletrônico
RELATÓRIO
Alega a parte ora impetrante que a denúncia realizada pelo Ministério Público
Federal está desprovida de quaisquer elementos de prova que corroborem os fatos
imputados ao paciente, estando integralmente escorada, em relação a ele, nas palavras de
l b d i d f ê i éi d t ti i ã
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colaboradores premiados e em referências genéricas acerca de sua suposta participação
nos fatos delineados, realidade que é reveladora de sua inépcia e da ausência de justa
causa da acusação.
Nesse ponto, aduz que, a despeito de todos esses fatos terem sido largamente
apresentados na resposta à acusação apresentada pela defesa técnica do réu, ora
paciente, o Juízo de origem entendeu por bem receber a denúncia ofertada e dar
prosseguimento ao feito, fazendo-o com base em uma manifestação absolutamente
genérica.
Assevera que a denúncia ofertada pelo MPF constitui uma indevida tentativa
de responsabilização penal objetiva do paciente, estando lastreada tão unicamente na
posição por ele ocupada na estrutura do BRB. Ocorre que, não fosse a ausência de
elementos de prova da acusação para corroborar a sua tese, a denúncia ainda assim é
teratológica pelo fato de criar um poder de comando sobre a figura dele que jamais existiu
pela própria impossibilidade de suas funções lhe permitiram a agir da forma retratada.
Frisa que ele foi denunciado pelo crime de lavagem de dinheiro sob o
fundamento de que diversos atos voltados ao branqueamento desses recursos foram
praticados através das citadas empresas na denúncia. Contudo, aponta que ao longo da
exordial acusatória o parquet não identificou que os valores objeto das supostas operações
de branqueamento teriam decorrido do crime de corrupção passiva imputado a ele, requisito
necessário para o aperfeiçoamento do delito de lavagem de ativos que supostamente
cometeu.
É o relatório.
VOTO - VENCEDOR
PODER JUDICIÁRIO
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VOTO
d dil ã b tó i i í i dê i d did i l d ã l j
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de dilação probatória, a inequívoca improcedência do pedido veiculado na ação penal, seja
pela patente inocência do acusado, atipicidade da conduta, ou extinção da punibilidade” (HC
118.833 AgR/BA; Segunda Turma; Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe de 07/05/2015).
Código Penal:
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida,
ou aceitar promessa de tal vantagem:
Omissis;
Noutro lanço, friso que a falta de justa causa para a ação penal, em face da
atipicidade da conduta, é motivo suficiente para o trancamento de ação penal. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, bem como deste TRF da 1ª. Região assim
trafega.
Por oportuno, inter plures, transcrevo arestos de julgados das Cortes citadas
que, mutatis mutandis, analisou questão análoga à presente, in verbis:
4. Ante o exposto, voto por dar provimento ao recurso em habeas corpus para
determinar o trancamento da ação penal em relação ao crime de corrupção ativa na
Secretaria de Patrimônio da União imputado ao recorrente RUBENS CARLOS
VIEIRA, nos autos da Ação Penal n. 0002626-63.2014.4.03.6181, da 5ª Vara
Federal Criminal de São Paulo.
(STJ. RHC 82.611/SP, Sexta Turma, Rel. Ministro Néfi Cordeiro, julgado em
11/06/2019, DJe 21/06/2019 - destaquei).
1. O paciente foi denunciado pela prática, em tese, dos crimes de corrupção ativa
(art. 333, parágrafo único do CP) e de lavagem de dinheiro (art. 1º, da Lei
9.613/1998), em razão de apuração da ocorrência de suposta corrupção praticada
no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - CARF, no que respeita
ao Processo Administrativo Fiscal nº 13674.000107/99/90 (que trata da exclusão de
expurgos inflacionários no cálculo da repetição de indébito devida ao contribuinte
QUALY).
5. Nas palavras do Ministro Celso de Mello: "O sistema jurídico vigente no Brasil -
tendo presente a natureza dialógica do processo penal acusatório, hoje impregnado,
em sua estrutura formal, de caráter essencialmente democrático - impõe, ao
Ministério Público, notadamente no denominado 'reato societario', a obrigação de
expor, na denúncia, de maneira precisa, objetiva e individualizada, a participação de
cada acusado na suposta prática delituosa. - O ordenamento positivo brasileiro -
cujos fundamentos repousam, dentre outros expressivos vetores condicionantes da
atividade de persecução estatal, no postulado essencial do direito penal da culpa e
no princípio constitucional do 'due process of law' (com todos os consectários que
dele resultam) - repudia as imputações criminais genéricas e não tolera, porque
ineptas, as acusações que não individualizam nem especificam, de maneira
concreta, a conduta penal atribuída ao denunciado" (HC 84580, relator ministro
Celso de Mello, Segunda Turma, DJe-176 Divulg 17-09-2009 Public 18-09-2009
Ement VOL-02374-02 PP-00222 RT v. 98, n. 890, 2009, p. 500-513).
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com clareza do que deve defender-se; (b) em segundo lugar, exige-se que a
denúncia cumpra a função de delimitação (Umgrenzungsfunktion), de modo a
revelar a concretização do delito, demarcando-lhe, objetiva e subjetivamente,
todas as fronteiras, permitindo ao acusado e ao Poder Judiciário destacá-lo o
fato criminoso, com precisão e clareza, de todas as demais circunstâncias da
vida. A acusação deve, pois, definir e delimitar o delito imputado ao acusado
com os seus aspectos factuais (tempo, lugar e fato concreto), assim como
todos os aspectos pessoais, de tal forma que o acusado e o crimes possam
ser corretamente destacados dos demais fatos da vida e dos outros acusados.
Omissis.
Omissis.
Omissis.
24. O crime de corrupção ativa (artigo 333 do CP) é formal e instantâneo, caso
em que a consumação ocorre com a mera oferta ou promessa da vantagem
indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar
ato de ofício, de modo que, havendo na denúncia, como de fato existe,
imprecisão ou dúvida quanto ao momento da prática da conduta imputada ao
paciente, o caso é de inépcia da peça acusatória.
25. Verifica-se que a denúncia não descreve do que o paciente deve se defender,
seja porque não se sabe o que o paciente teria supostamente oferecido ou (valor e
quanto) e, sobretudo, como e quando a oferta ilícita teria sido realizada (art. 333 do
CP). Ou seja, não imputou ao paciente nenhum ato específico, com a necessária
descrição circunstanciada que lhe permitisse o exercício, na sua plenitude, do direito
de defesa.
28. Configurada a coação ilegal e a ausência de justa causa nos termos dos arts.
395, III e 648, I, do CPP, deve ser concedida a ordem de habeas corpus, para
determinar o trancamento da ação penal 0028692-67.2016.4. 01.3400, em curso
perante a 10ª Vara Federal/DF, em relação ao paciente José Leovegildo Oliveira
Morais.
Omissis.
Omissis.
(STJ. HC 394.567/SC, Sexta Turma, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura,
DJe de 15/05/2017 - destaquei).
Omissis.
15. O tipo penal claramente inclui como um de seus elementos o fato de que só
haverá crime de lavagem se os valores eventualmente dissimulados ou omitidos
tenham sido provenientes direta ou indiretamente, de infração penal anterior (cito e
realço a dicção expressa da Lei): "ocultar ou dissimular a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal".
16. Portanto, se não há crime anterior, ou se, pelo menos, por defeituosa descrição
dos fatos típicos, não se consegue demonstrar o vínculo, objetivo ou subjetivo, entre
o delito antecedente e aquele outro cuja prática se atribui ao paciente, obviamente,
não se poderá, ao final, impor-lhe um juízo condenatório pelo crime de lavagem de
ativos.
17. Verifica-se que a denúncia não descreve do que o paciente deve se defender,
seja porque não se sabe o que o paciente teria oferecido (valor e quanto) e,
sobretudo, como a oferta ilícita teria sido realizada (art. 333 do CP) aos servidores
públicos. Ou seja, não imputou ao paciente nenhum ato específico, com a
necessária descrição circunstanciada que lhe permitisse o exercício, na sua
plenitude, do direito de defesa. O crime de lavagem de dinheiro, como se retira da
fundamentação acima, esteve, na peça acusatória, ainda mais distante de sua
configuração.
18. Tudo considerado, tenho como configurada a coação ilegal nos termos dos
artigos 395, III e 648, I, do CPP.
Assim sendo, pelas razões expostas neste writ, em cotejo com os precedentes
jurisprudenciais citados, fica clara a necessidade de trancamento da indigitada ação penal.
É t
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É o voto.
DEMAIS VOTOS
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EMENTA
PROCESSO PENAL. ORDEM DE HABEAS CORPUS. “OPERAÇÃO CUI BONO”. CORRUPÇÃO ATIVA.
ART. 333 DO CÓDIGO PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. ART. 1º DA LEI 9.613/1998. CRIME
ANTECEDENTE. INEXISTÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. MEDIDA EXCEPCIONAL.
OCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES AUTORIZADORAS DA CONCESSÃO ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE
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OCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES AUTORIZADORAS DA CONCESSÃO. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE
DA CONDUTA. COMPROVAÇÃO. PRECEDENTES DESTA CORTE. WRIT CONCEDIDO.
1. O trancamento de ação penal pela via do habeas corpus somente é autorizado na evidência de uma
situação de excepcionalidade, vista como "a manifesta atipicidade da conduta, a presença de causa de
extinção da punibilidade do paciente ou a ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade
delitivas" (STF, HC 110.698).
3. In casu, o ora paciente, enquanto membro do Conselho de Administração do Banco de Brasília – BRB,
no período compreendido entre fevereiro/2015 até janeiro/2017, ainda que tenha exercido a presidência
desse conselho, interinamente, não detinha o poder de decidir monocraticamente qualquer questão
sujeita à competência determinada nas atribuições estatutárias do Conselho de Administração, cujas
decisões precisam ser tomadas pelo colegiado.
4. Descabe falar em responsabilidade penal objetiva, tendo em vista que a circunstância de o ora
paciente exercer cargo de direção ou de administração na instituição bancária, não se revela suficiente
para autorizar qualquer presunção de culpa, eis que inexiste, no nosso ordenamento jurídico, a
possibilidade constitucional de reconhecer a responsabilidade penal objetiva.
5. Nada obstante a possibilidade de se invocar a teoria do domínio do fato, essa tese não tem o condão
de exonerar o órgão acusador do ônus de comprovar, licitamente, os elementos constitutivos da
denúncia, nem exime o juízo, em sede de sentença, de trazer os elementos probatórios da convicção
firmada que o acusado concorreu para o crime, conforme preceitua o artigo 29 do Código Penal.
6. No que pertine ao delito de corrupção ativa, ainda que se tenha em linha de visão que o Superior
Tribunal de Justiça, em recente julgado, afastou o requisito do nexo entre a comercialização do ato e a
atribuição do funcionário público – termo empregado em sentido lato – para praticá-lo, entendo eu que a
corrupção passiva só existe se houver um nexo entre a vantagem solicitada ou aceita e a atividade
exercida pelo funcionário corrupto, pelo que se faz necessária a comprovação de que o agente tomou a
iniciativa da mercancia ao solicitar a outrem que a vantagem lhe fosse concedida.
8. Afigura-se presente a plausibilidade jurídica do quanto requerido, pelo viés da possível improcedência
do pedido formulado em sede de ação penal. Na espécie, a alegada atipicidade da conduta atribuída ao
indiciado, ora paciente. A falta de justa causa para a ação penal, em face da atipicidade da conduta, é
motivo suficiente para o trancamento de ação penal.
9. Constatada, no caso em tela, a atipicidade da conduta atribuída ao indiciado, pois não houve descrição
a respeito do oferecimento de vantagem indevida por parte do paciente a funcionário público, tampouco
existiu ato de ofício concreto, praticado com infringência de dever funcional, razão pela qual não se pode
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presumir, com base nos elementos constantes dos autos, o nexo existente entre a conduta imputada e a
efetiva atuação do inculpado na prática delitiva narrada na denúncia.
10. “O crime de corrupção ativa (artigo 333 do CP) é formal e instantâneo, caso em que a consumação
ocorre com a mera oferta ou promessa da vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício, de modo que, havendo na denúncia, como de fato existe,
imprecisão ou dúvida quanto ao momento da prática da conduta imputada ao paciente, o caso é de
inépcia da peça acusatória” ((TRF1. HC 0050412-71.2017.4.01.0000, Quarta Turma, Rei. Des. Federal
Néviton Guedes, e-DJFI de 19/12/2017).
11. Por se tratar de crime acessório, derivado ou parasitário, o delito de lavagem – branqueamento – de
dinheiro pressupõe a existência infração anterior, que constitui uma circunstância elementar do tipo –
“lavar”.
12. A exordial acusatória não descreve minimamente os fatos específicos que constituiriam os crimes
antecedentes da lavagem de dinheiro, limitando-se a narrar que o paciente era partícipe na sistemática
ocultação ou dissimulação, sem, no entanto, apontar a natureza, a origem, a localização, a disposição e a
movimentação de valores provenientes de crimes praticados contra a Pública Administração.
13. “O tipo penal claramente inclui como um de seus elementos o fato de que só haverá crime de
lavagem se os valores eventualmente dissimulados ou omitidos tenham sido provenientes direta ou
indiretamente, de infração penal anterior (cito e realço a dicção expressa da Lei): ‘ocultar ou dissimular a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal’. Portanto, se não há crime anterior, ou se, pelo
menos, por defeituosa descrição dos fatos típicos, não se consegue demonstrar o vínculo, objetivo ou
subjetivo, entre o delito antecedente e aquele outro cuja prática se atribui ao paciente, obviamente, não
se poderá, ao final, impor-lhe um juízo condenatório pelo crime de lavagem de ativos” (TRF1. HC
1004518-21.2018.4.01.0000, Quarta Turma, Rel. Des. Federal Néviton Guedes, e-DJF1 de 19/03/2019).
14. Na fattispecie, a excepcionalidade apta a ensejar o trancamento da ação penal, em face do ora
paciente, restou evidenciada, ante a ocorrência inequívoca da atipicidade da conduta a ele atribuída.
15. Ordem de habeas corpus concedida, para determinar o trancamento da ação penal nº 1022899-
62.2018.4.01.3400, em relação ao paciente Ricardo Luís Peixoto Leal.
ACÓRDÃO
Decide a Turma, por unanimidade, conceder a ordem de habeas corpus, nos termos do
voto do Relator.
Relator
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Assinado eletronicamente por: NEY DE BARROS BELLO FILHO
23/10/2020 11:38:35
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201023113835014000000765
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