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Jurisprudência importante sobre Ação Penal e Competência

O novo § 4º do art. 70 do CPP, que trata sobre a competência para julgar o crime de
estelionato, aplica-se imediatamente aos inquéritos policiais que estavam em curso quando
entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021
Nos crimes de estelionato, quando praticados mediante depósito, por emissão de cheques
sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou
por meio da transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da
vítima, em razão da superveniência de Lei nº 14.155/2021, ainda que os fatos tenham sido
anteriores à nova lei.
Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:
Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de
cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento
frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do
domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção.
STJ. 3ª Seção. CC 180832-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/08/2021 (Info 706).
Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou estadual) e
crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral
A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que
lhe forem conexos.
STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019
(Info 933). STJ. 5ª Turma. HC 612636-RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador
convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/10/2021 (Info 713).

Beneficiário do auxílio emergencial transferiu o dinheiro para a conta de terceiro que deveria
sacar a quantia e entregar ao beneficiário; compete à Justiça Estadual julgar a conduta do
terceiro que decidiu não mais entregar o valor

Não compete à Justiça Federal processar e julgar o desvio de valores do auxílio emergencial
pagos durante a pandemia da covid-19, por meio de violação do sistema de segurança de
instituição privada, sem que haja fraude direcionada à instituição financeira federal.
Caso concreto: Regina era beneficiária do auxílio emergencial. O dinheiro do benefício foi
transferido da Caixa para a conta de Regina no Mercado Pago. Foi então que Regina
combinou de transferir a parcela do auxílio emergencial (R$ 600,00) para a conta de Pedro,
um conhecido. O objetivo da transferência seria possibilitar o recebimento antecipado do
auxílio emergencial. O combinado seria Pedro sacar o dinheiro e repassá-lo para Regina.
Ocorre que Pedro não cumpriu e ficou com o dinheiro. Foi instaurado inquérito policial para
apurar o crime de furto mediante fraude que teria sido praticado por Pedro. A Justiça
Estadual é competente para julgar esse delito.
STJ. 3ª Seção. CC 182940-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/10/2021 (Info 716).

É indispensável a existência de prévia autorização judicial para a instauração de inquérito ou


outro procedimento investigatório em face de autoridade com foro por prerrogativa de
função em Tribunal de Justiça

Caso concreto: o COAF elaborou relatório de inteligência financeira (RIF) apontando


movimentações atípicas entre as contas de um Deputado Estadual e servidores de seu
gabinete na ALE. Esse relatório foi encaminhado ao MPE, que instaurou procedimento de
investigação criminal (PIC). Em seguida, o MPE solicitou a produção de quatro RIFs
complementares sobre as operações financeiras realizadas. Ao final da investigação, o MP
ofereceu denúncia contra o parlamentar imputando-lhe a prática, em tese, dos crimes de
peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
O STF declarou a nulidade dos RIFs, bem como das provas deles decorrentes e declarou a
imprestabilidade dos elementos probatórios colhidos pelo MPE no âmbito do PIC. Para o
colegiado, o compartilhamento desses dados foi ilegítimo, porque realizado a partir de
comunicação direta entre o MPE e o Coaf, antes mesmo que houvesse autorização do
Tribunal de Justiça para instaurar procedimento investigatório criminal contra o parlamentar
estadual.
STF. 2ª Turma. HC 201965/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/11/2021 (Info 1040).

É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito
policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente
A jurisprudência do STJ tem entendido, de maneira ampla, que o desvio de verbas do SUS
atrai a competência da Justiça Federal, tendo em vista o dever de fiscalização e supervisão do
governo federal.
No caso concreto, as decisões foram proferidas pelo Juízo estadual.
Assim, deve-se reconhecer a incompetência do Juízo estadual. No entanto, os atos
processuais devem ser avaliados pelo Juízo competente, para que decida se valida ou não os
atos até então praticados.
É pacífica a aplicabilidade da teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no
curso do inquérito policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente.
As provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da
autorização ou produção podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser
considerado incompetente, ante a aplicação no processo investigativo da teoria do juízo
aparente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022
(Info 733).
Compete ao STJ processar e julgar os crimes praticados pelos Conselheiros dos Tribunais de
Contas, mesmo que não estejam relacionados com o cargo
O crime cometido pelo Desembargador, mesmo que não esteja relacionado com as suas
funções, deverá ser julgado pelo STJ com o objetivo de preservar a isenção (imparcialidade e
independência) do órgão julgador. Foi o que ficou assentado pelo STJ na QO na APn 878-DF,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018 (Info 639).
Esse mesmo raciocínio deve ser aplicado para os Conselheiros dos Tribunais de Contas
considerando que eles são equiparados a Magistrados por força dos arts. 73, § 3º, e 75 da
Constituição, havendo identidade do regime jurídico.
Logo, as mesmas garantias e prerrogativas outorgadas aos Desembargadores dos Tribunais
de Justiça devem ser estendidas aos Conselheiros estaduais e distritais, no que se inclui o
reconhecimento do foro por prerrogativa de função durante o exercício do cargo, haja, ou
não, relação de causalidade entre a infração penal e o cargo.
STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 42.804/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/8/2023 (Info
783).
Havendo solução de continuidade entre os mandatos, não exercidos de maneira ininterrupta,
cessa o foro por prerrogativa de função referente a atos praticados durante o primeiro
mandato
Exemplo adaptado:
João, Deputado Federal, respondia inquérito no STF em razão da suposta prática de crime
cometido no exercício do mandato e relacionado com as suas funções.
Ele renunciou ao mandato de parlamentar federal para assumir o cargo de Vice-Governador,
razão pela qual o STF declinou da sua competência para o juízo de 1ª instância considerando
que não havia mais o foro por prerrogativa de função perante o Supremo.
Antes que a ação penal fosse julgada em 1ª instância, o acusado foi diplomado Senador da
República.
João continuará sendo julgado em 1ª instância porque houve a quebra da necessária e
indispensável continuidade do exercício do mandato de parlamentar federal para fins de
prorrogação da competência, conforme é exigido pelo STF em situações como essa.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 182.049-DF, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 8/8/2023
(Info 785).
A inserção de dados falsos em sistema de dados federais não fixa, por si só, a competência da
Justiça Federal, a qual somente é atraída quando houver ofensa direta a bens, serviços ou
interesses da União ou órgão federal
Caso concreto: houve inserção de dados falsos de madeira no sistema DOF (Documento de
Origem Florestal).
O Sistema DOF foi instituído e implantado pelo IBAMA e se encontra hospedado em seu site.
Apesar disso, o STJ entende que isso, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal
para julgamento do crime de falsificação de documento de origem florestal.
Para o STJ, no caso concreto, não foi indicado nenhum prejuízo concreto ao ente federal ou
demonstrada a ofensa a interesse direto e específico da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas com a suposta apresentação de informação falsa no
sistema DOF (Documento de Origem Florestal), motivo pelo qual o feito deve ser processado
e julgado pela Justiça comum estadual.
STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 193.250-GO, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
24/5/2023 (Info 780).
Supostos crimes funcionais foram praticados durante o exercício da função Vice-Governador,
tendo o investigado, posteriormente, assumido o cargo de Governador: competência do STJ
Compete ao Superior Tribunal de Justiça, para os fins preconizados pela regra do foro por
prerrogativa de função, processar e julgar governador em exercício que deixou o cargo de
vice-governador durante o mesmo mandato, quando os fatos imputados digam respeito ao
exercício das funções no âmbito do Poder Executivo estadual.
STJ. Corte Especial. QO no AgRg na APn 973-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. para
acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2023 (Info 775).
Compete à Justiça Federal julgar falas de cunho homofóbico divulgadas em perfis abertos do
Facebook e do Youtube
Compete à Justiça Federal processar e julgar o conteúdo de falas de suposto cunho
homofóbico divulgadas na internet, em perfis abertos da rede social Facebook e na
plataforma de compartilhamento de vídeos Youtube, ambos de abrangência internacional.
STJ. 3ª Seção. CC 191970-RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 14/12/2022 (Info 761).
O novo § 4º do art. 70 do CPP, que trata sobre a competência para julgar o crime de
estelionato, aplica-se imediatamente aos inquéritos policiais que estavam em curso quando
entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021
Nos crimes de estelionato, quando praticados mediante depósito, por emissão de cheques
sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou
por meio da transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da
vítima, em razão da superveniência de Lei nº 14.155/2021, ainda que os fatos tenham sido
anteriores à nova lei.
Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:
Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de
cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento
frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do
domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção.
STJ. 3ª Seção. CC 180832-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/08/2021 (Info 706).
1) Estelionato praticado por meio de cheque falso (art. 171, caput, do CP): Súmula 48-STJ:
Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
2) Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI): Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando praticados (...) mediante
emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado (...) a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima (...)

3) Estelionato mediante depósito ou transferência de valores: Art. 70. (...)


§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando praticados mediante
depósito (...) ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do
domicílio da vítima (...)

E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes? A competência será
definida por prevenção, ou seja, será competente para julgar todos as condutas o juízo do
domicílio da vítima que tiver praticado o primeiro ato do processo ou medida relativa a este,
nos termos do art. 83 do CPP.
1) Crimes contra a honra praticados pelas redes sociais da internet: competência da JUSTIÇA
ESTADUAL (regra geral). STJ. CC 121.431-SE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
11/4/2012.

2) Divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes em página da internet:


competência da JUSTIÇA FEDERAL. STJ. 3ª Seção. CC 120.999-CE, Rel. Min. Alderita Ramos de
Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 24/10/2012.

3) Troca, por e-mail, de imagens pornográficas de crianças entre duas pessoas residentes no
Brasil: competência da JUSTIÇA ESTADUAL. STJ. 3ª Seção. CC 121215/PR, Rel. Min. Alderita
Ramos de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ/PE), julgado em 12/12/2012.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu recentemente (março de 2022) que nos casos em
que o crime de injúria for praticado na internet, por meio de mensagem privada que só é
vista pelo remetente e pelo destinatário, é consumado no local em que a vítima toma
conhecimento do conteúdo ofensivo.

Por outro lado, se a injúria ocorrer por meio de publicação pública na internet: Competência
do juízo do LOCAL DE ONDE PARTIRAM as mensagens injuriosas.

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