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JULGADOS - PROCESSO COLETIVO

A decisão em mandado de segurança coletivo impetrado por associação beneficia todos os associados, sendo irrelevante a
filiação ter ocorrido após a sua impetração

Resumo do julgado
A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que o mandado de segurança coletivo configura hipótese de substituição
processual, por meio da qual o impetrante, no caso a associação, atua em nome próprio defendendo direito alheio pertencente aos
associados ou parte deles, sendo desnecessária para a impetração do mandamus apresentação de autorização dos substituídos ou
mesmo lista nominal. Por tal razão, os efeitos da decisão proferida em mandado de segurança coletivo beneficiam todos os
associados, ou parte deles, cuja situação jurídica seja idêntica àquela tratada no decisum, sendo irrelevante se a filiação ocorreu
após a impetração do writ.
Registre-se que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 612.043/PR sob o regime de repercussão geral (Tema 499), firmou
a tese de que "A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação
civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador,
que o fossem em momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do
processo de conhecimento".
No entanto, referido entendimento diz respeito apenas aos casos de ação coletiva ajuizada, sob o rito ordinário, por associação
quando atua como representante processual dos associados, segundo a regra prevista no art. 5º, XXI, da Constituição Federal,
hipótese em que se faz necessária, para a propositura da ação coletiva, a apresentação de procuração específica dos associados,
ou concedida pela Assembleia Geral convocada para esse fim, bem como de lista nominal dos associados representados.
Nesta situação, qual seja, representação processual, a sentença proferida na ação coletiva restringe-se aos associados que
detinham a condição de filiados e constaram da lista de representados apresentada no momento do ajuizamento da ação, por
expressa determinação legal prevista no art. 2º-A, parágrafo único, da Lei nº 9.494/1997.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.841.604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/04/2020. (Info 670).

O MPF possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a cobrança de encargos bancários
supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas

Resumo do julgado
O Ministério Público Federal possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a cobrança de encargos
bancários supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas.
Ex: ação civil pública ajuizada pelo MPF contra diversos bancos privados pedindo para que seja declarada abusiva a cobrança da
tarifa bancária pela emissão de cheque de baixo valor.
As atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras, sejam elas públicas ou privadas, estão subordinadas ao conteúdo de
normas regulamentares editadas por órgãos federais e de abrangência nacional. Logo, o cumprimento dessas normas por parte
dos bancos é um tema de interesse nitidamente federal, suficiente para conferir legitimidade ao Ministério Público Federal para o
ajuizamento da ação civil pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1573723-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).
Imagine a seguinte situação hipotética:
Determinado Procurador da República (membro do Ministério Público Federal) ajuizou ação civil pública, na Justiça Federal,
contra a União (Conselho Monetário Nacional – CMN), o Banco Central - BACEN e diversos bancos privados (Itaú, Bradesco,
Santander, HSBC, entre outros) alegando que tais instituições financeiras privadas estavam cobrando tarifa bancária pela
emissão de cheque de baixo valor, o que seria uma prática abusiva, que violaria o Código de Defesa do Consumidor.
A União e o Banco Central figuraram no polo passivo da lide porque, segundo o MPF, a Lei nº 4.595/64 atribuiu ao CMN (órgão
da União) e ao BACEN o poder-dever de fiscalizar as instituições financeiras, regulamentando, inclusive, as tarifas bancárias
que podem ser cobradas dos clientes.

Decisão do juiz
O magistrado de primeiro grau de jurisdição entendeu que o CMN e o BACEN não teriam legitimidade passiva para figurar na
lide.
Com a exclusão da União (CMN) e do BACEN da lide, não haveria mais legitimidade para que esta ação fosse proposta pelo
MPF na Justiça Federal já que não envolveria mais nenhum órgão ou entidade federal.
Vejamos alguns interessantes pontos sobre o tema.

O Ministério Público possui legitimidade para propor ação civil pública discutindo a cobrança de encargos bancários
supostamente abusivos?
SIM.
O Ministério Público detém legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a cobrança de tarifas/taxas bancárias
supostamente abusivas, por se cuidar de tutela de interesses individuais homogêneos de consumidores/usuários do serviço
bancário (art. 81, III, da Lei nº 8.078/90).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/2/2017.

O Conselho Monetário Nacional e o Banco Central possuem legitimidade passiva para figurar nesta ação?
NÃO.
O Conselho Monetário Nacional e o Banco Central possuem função fiscalizadora e reguladora das atividades das instituições
financeiras. Isso, contudo, por si só, não faz com que o CMN e o BACEN tenham interesse jurídico em relação às ações que são
propostas contra os bancos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1303646/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/05/2016.
Em regra, esse tipo de demanda coletiva envolve direito contratual e a pretensão buscada é apenas a de se questionar a validade
de cláusula inserida nos contratos firmados pelas instituições financeiras com seus clientes.
Não se busca questionar a legalidade ou a constitucionalidade de algum ato normativo que tenha sido expedido pelo CMN ou
pelo BACEN.
Assim, considerando que a ação civil pública proposta pelo MPF não tinha por objetivo questionar a constitucionalidade ou a
legalidade de normas editadas pelo BACEN, normalmente fundadas em deliberações do CMN nem tampouco imputar a eles
qualquer conduta omissiva, impõe-se reconhecer a ilegitimidade da União e do BACEN para figurar no polo passivo da ação
civil pública.

O fato de a União e do CMN terem sido excluídos da lide faz com que o processo tenha que ser deslocado para a Justiça
Estadual?
NÃO.
A simples presença do Ministério Público Federal no polo ativo da relação processual é suficiente para manter o processamento
da demanda perante a Justiça Federal. Nesse sentido:
A presença do Ministério Público Federal no polo ativo da demanda, por si só, determina a competência da Justiça Federal, nos
termos do art. 109, I, da CF, tendo em vista que o MPF é um órgão federal.
STJ. 1ª Seção. AgInt no CC 163.268/SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 20/8/2019.
As ações propostas pelo MPF deverão ser ajuizadas na Justiça Federal. Isso porque o MPF é órgão da União, o que atrai a
competência do art. 109, I, da CF/88. Assim, a competência será determinada, em um primeiro momento, pela parte processual.
Num segundo momento, contudo, o Juiz Federal irá averiguar se o MPF é parte legítima.
Se o MPF for parte legítima, perpetua-se a competência na Justiça Federal. Por outro lado, se for parte ilegítima, deverá
determinar o deslocamento da competência para a Justiça Estadual.
Desse modo, a circunstância de o Ministério Público Federal figurar como parte na lide não é suficiente para determinar a
perpetuação da competência da Justiça Federal para o julgamento da ação.
STF. Plenário. RE 669952 AgR-ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 09/11/2016.
Como bem advertiu o Ministro Herman Benjamin, “(...) a questão de uma ação ter sido ajuizada pelo MPF não garante que ela
terá sentença de mérito na Justiça Federal, pois é possível que se conclua pela ilegitimidade ativa do Parquet Federal, diante de
eventual falta de atribuição para atuar no feito” (STJ. 2ª Turma. REsp 1.804.943/PB, julgado em 25/6/2019).

O MPF possui legitimidade ativa para propor ACP contra instituições financeiras privadas?
SIM.
O Ministério Público Federal terá legitimidade para o ajuizamento de ações civis públicas sempre que ficar
evidenciado o envolvimento de interesses nitidamente federais, assim considerados em virtude dos bens e valores a que se visa
tutelar.
Segundo o art. 21, VIII, da CF/88:
Art. 21. Compete à União:
(...)
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito,
câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
Os art. 4º, VIII e 9º, da Lei nº 4.595/64 preveem:
Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República:
(...)
VIII - Regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que exercerem atividades subordinadas a esta lei, bem como a
aplicação das penalidades previstas;

Art. 9º Compete ao Banco Central da República do Brasil cumprir e fazer cumprir as disposições que lhe são atribuídas pela
legislação em vigor e as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional.
Desse modo, verifica-se que as atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras, sejam elas públicas ou privadas, estão
subordinadas ao conteúdo de normas regulamentares editadas por órgãos federais e de abrangência nacional. Logo, o
cumprimento dessas normas por parte dos bancos é um tema de interesse nitidamente federal, suficiente para conferir
legitimidade ao Ministério Público Federal para o ajuizamento da ação civil pública.
Em suma:
O Ministério Público Federal possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a cobrança de encargos
bancários supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.723-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

Tema correlato:
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a
cobrança de tarifas bancárias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).
(Juiz TJ/BA 2019 CEBRASPE) O município não possui legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública em defesa de
servidores a ele vinculados, questionando a cobrança de tarifas bancárias de renovação de cadastro, uma vez que a proteção de
direitos individuais homogêneos não está incluída em sua função constitucional (Errado).

Ministério Público possui legitimidade para propor ACP em defesa de direitos sociais relacionados com o FGTS
Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de direitos sociais relacionados ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2019 (repercussão geral – Tema 850) (Info
955).

Em provas, tenha cuidado com a redação do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 7.347/85:
Art. 1º (...) Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
podem ser individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35/2001)
Se for cobrada a mera transcrição literal deste dispositivo em uma prova objetiva, provavelmente, esta será a alternativa correta.

FGTS
O FGTS foi criado pela Lei nº 5.107/66 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa.
Atualmente, o FGTS é regido pela Lei nº 8.036/90.
O FGTS nada mais é do que uma conta bancária aberta em nome do trabalhador e vinculada a ele no momento em que celebra
seu primeiro contrato de trabalho.
Nessa conta bancária, o empregador deposita todos os meses o valor equivalente a 8% do salário pago ao empregado, acrescido
de juros e atualização monetária (conhecidos pela sigla “JAM”).
Assim, vai sendo formado um fundo de reserva financeira para o trabalhador, ou seja, uma espécie de “poupança”, que é
utilizada pelo obreiro quando fica desempregado sem justa causa ou quando precisa para alguma finalidade relevante, assim
considerada pela lei.
Se o empregado for demitido sem justa causa, o empregador é obrigado a depositar, na conta vinculada do trabalhador, uma
indenização compensatória de 40% do montante de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do
contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros (art. 18, § 1º da Lei nº 8.036/90).
O art. 20 desta Lei prevê as hipóteses nas quais a conta do FGTS pode ser movimentada, ou seja, os casos nos quais o
trabalhador poderá levantar (“sacar”) o valor depositado em sua conta do FGTS.
A Caixa Econômica Federal – CEF (empresa pública federal) exerce o papel de agente operador do FGTS (art. 4º da Lei nº
8.036/90), sendo ela a responsável por manter e controlar as contas vinculadas do FGTS.
Imagine agora a seguinte situação hipotética:
O Procurador da República (Ministério Público Federal) ajuizou ação civil pública contra a Caixa Econômica Federal pedindo
para que, havendo as movimentações previstas no art. 20, I, II, IX e X, da Lei nº 8.036/90, seja feita a liberação de todas as
contas de titularidade do empregado, e não somente da conta atrelada ao último vínculo de trabalho.

Arguição de ilegitimidade do MP
Em contestação, a CEF alegou que o MP não tinha legitimidade para ajuizar ACP tratando sobre o tema em virtude da vedação
contida no parágrafo único do art. 1º da Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP):
Art. 1º (...)
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários
podem ser individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35/2001)
Além disso, a CEF argumentou que, na referida ação, o Ministério Público está tutelando direitos individuais homogêneos que
são disponíveis, de forma que isso não se amolda às funções institucionais conferidas ao Parquet no art. 127 da CF/88.

A questão chegou até o STF. O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública neste caso?
SIM.
O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de direitos sociais relacionados
ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2019 (repercussão geral – Tema 850) (Info
955).
Direitos individuais homogêneos de caráter social
O Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. No entanto, o MP somente terá representatividade adequada para propor a ACP se os direitos/interesses discutidos
na ação estiverem relacionados com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

O Ministério Público possui legitimidade para a defesa de direitos individuais homogêneos?


1) Se esses direitos forem indisponíveis: SIM (ex: saúde de um menor).
2) Se esses direitos forem disponíveis: depende. O MP só terá legitimidade para ACP envolvendo direitos individuais
homogêneos disponíveis se estes forem de interesse social (se houver relevância social).
Nesse sentido:
(...) 5. No entanto, há certos interesses individuais que, quando visualizados em seu conjunto, em forma coletiva e impessoal,
têm a força de transcender a esfera de interesses puramente particulares, passando a representar, mais que a soma de interesses
dos respectivos titulares, verdadeiros interesses da comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba
não apenas atingindo a esfera jurídica dos titulares do direito individualmente considerados, mas também comprometendo bens,
institutos ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas. Em casos tais, a tutela
jurisdicional desses direitos se reveste de interesse social qualificado, o que legitima a propositura da ação pelo Ministério
Público com base no art. 127 da Constituição Federal. Mesmo nessa hipótese, todavia, a legitimação ativa do Ministério Público
se limita à ação civil coletiva destinada a obter sentença genérica sobre o núcleo de homogeneidade dos direitos individuais
homogêneos.
6. Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas funções institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos
individuais homogêneos compromete também interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior controle jurisdicional a
respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra final sobre a adequada legitimação para a causa, sendo que, por se tratar de
matéria de ordem pública, dela pode o juiz conhecer até mesmo de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e § 4.º). (...)
STF. Plenário. RE 631111, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 07/08/2014.
FGTS tem enorme relevância social
O Ministério Público possui legitimidade constitucional para ajuizar ação civil pública cujo objeto seja pretensão relacionada ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) porque esta demanda tutela direitos individuais homogêneos, mas que
apresenta relevante interesse social.
No exemplo dado, o Ministério Público Federal detém legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública em face da Caixa
Econômica Federal, uma vez que se litiga sobre o modelo organizacional do FGTS, especialmente no que se refere à unificação
das contas fundiárias dos trabalhadores.
Vale ressaltar que o FGTS é um direito social previsto no inciso III do art. 7º da CF/88, constituindo-se em direito fundamental.
Mas e a vedação do art. 1º, parágrafo único da Lei nº 7.347/85?
É necessário que seja feita uma interpretação conforme a Constituição Federal do parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/85, ou
seja, é necessário que esse dispositivo seja lido em conformidade com o texto constitucional.
O objetivo desta previsão foi apenas o de evitar a vulgarização da ação coletiva, evitando que fossem propostas ações civis
públicas para fins de simples movimentação do FGTS ou para discutir as hipóteses de saque de contas fundiárias.
Assim, esse art. 1º, parágrafo único não constitui obstáculo para que o Ministério Público proponha ação civil pública discutindo
FGTS em um contexto mais amplo, envolvendo interesses sociais qualificados, ainda que sua natureza seja de direitos
individuais homogêneos. Se o Ministério Público está propondo uma ação civil pública tratando sobre direitos individuais
homogêneos com relevante interesse social, a legitimidade do Parquet, nesta hipótese, decorre diretamente do art. 127 da CF/88.

Outros exemplos de direitos individuais homogêneos nos quais se reconheceu a legitimidade do MP em virtude de
envolverem relevante interesse social
• valor de mensalidades escolares (STF. Plenário. RE 163.231/SP, Rel. Min. Maurício Côrrea, julgado em 26/2/1997);
• contratos vinculados ao Sistema Financeiro da Habitação (STF. 2ª Turma. AI 637.853 AgR/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
DJe de 17/9/2012);
• contratos de leasing (STF. 2ª Turma. AI 606.235 AgR/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 22/6/2012);
• interesses previdenciários de trabalhadores rurais (STF. 1ª Turma. RE 475.010 AgR/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de
29/9/2011);
• aquisição de imóveis em loteamentos irregulares (STF. 1ª Turma. RE 328.910 AgR/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de
30/9/2011);
• diferenças de correção monetária em contas vinculadas ao FGTS (STF. 2ª Turma. RE 514.023 AgR/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie,
DJe de 5/2/2010).

Possibilidade de a associação que ajuizou a ACP ser substituída por outra associação semelhante no polo ativo da
demanda

Resumo do julgado
Possibilidade de a associação que ajuizou a ACP ser substituída por outra associação no polo ativo da demanda
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua substituição no polo ativo por outra
associação.
O microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão
da parte autora pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado (ex: associação), mormente em decorrência da
importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas.
STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1405697/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019.
Imagine a seguinte situação adaptada:
O Instituto Nacional de Defesa do Consumidor - INDC (associação civil) ajuizou ação civil pública contra o Banco “XX”
postulando que fossem garantidos determinados direitos dos consumidores.
O Banco foi citado, apresentou contestação e o processo seguia seu curso regular.
Foi então que a Associação Nacional dos Consumidores de Crédito - ANCC, outra associação civil voltada à defesa dos
consumidores, apresentou uma petição ao juiz da causa informando que o INDC foi extinto, razão pela qual ela (ANCC)
requereu sua integração no feito na qualidade de demandante, em substituição ao INDC.
O pedido da ANCC foi fundamentado no art. 5º, § 3º da Lei nº 7.347/85:
Art. 5º (...) § 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro
legitimado assumirá a titularidade ativa.

O pedido de substituição poderá ser aceito?


SIM.
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é possível a sua substituição no polo ativo por outra
associação que também defenda os mesmos interesses discutidos na demanda.
Tal pretensão é plenamente possível, haja vista que o microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o
aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão da parte autora pelo Ministério Público ou por algum outro
colegitimado, mormente em decorrência da importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas.
Esse entendimento tem substrato no art. 5º, § 3º, da Lei da Ação Civil Pública e no art. 9º da Lei da Ação Popular.
A jurisprudência do STJ é no mesmo sentido:
(...) 8. Diante do microssistema processual das ações coletivas, em interpretação sistemática de seus dispositivos (art. 5°, § 3°, da
Lei n. 7.347/1985 e art. 9° da Lei n. 4.717/1965), deve ser dado aproveitamento ao processo coletivo, com a substituição
(sucessão) da parte tida por ilegítima para a condução da demanda.
STJ. 4ª Turma. REsp 1192577/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/05/2014.
Em suma:
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua substituição no polo ativo por outra
associação que possua a mesma finalidade temática.
O microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a
sucessão da parte autora pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado (ex: associação), mormente em
decorrência da importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas.
STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1405697/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019.

DOD Plus – Tema correlato – Quando uma associação ajuíza ação coletiva ela atua como representante processual ou como
substituta processual?
Imagine a seguinte situação hipotética:
A Associação Nacional dos Consumidores de Crédito - Andec ajuizou ação coletiva em desfavor de Banco Gmac S.A.
postulando a condenação do réu à obrigação de não fazer, consubstanciada na abstenção de cobrança da Tarifa de Cadastro (TC).
O Banco réu alegou que a associação não poderia ter ingressado com a ação porque não teve autorização assemblear ou de seus
associados.

O argumento do Banco é aceito pela jurisprudência do STJ?


NÃO.
As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos ou individuais homogêneos,
independentemente de autorização expressa dos associados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1796185/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2019.
As associações de classe atuam como representantes processuais, sendo obrigatória a autorização individual ou assemblear dos
associados - STF, RE 573.232. Esse entendimento, todavia, não se aplica na hipótese de a associação buscar em juízo a tutela de
interesses ou direitos difusos - art. 82, IV, do CDC.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1335681/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/02/2019.
Por se tratar do regime de substituição processual, a autorização para a defesa do interesse coletivo em sentido amplo é
estabelecida na definição dos objetivos institucionais, no próprio ato de criação da associação, sendo desnecessária nova
autorização ou deliberação assemblear.
As teses de repercussão geral resultadas do julgamento do RE 612.043/PR e do RE 573.232/SC tem seu alcance expressamente
restringido às ações coletivas de rito ordinário, as quais tratam de interesses meramente individuais, sem índole coletiva, pois,
nessas situações, o autor se limita a representar os titulares do direito controvertido, atuando na defesa de interesses alheios e em
nome alheio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1649087/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/10/2018.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1719820/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/04/2019.

Não confundir:

As associações precisam de autorização específica dos associados para ajuizar ação coletiva?
Quando uma associação ajuíza ação coletiva ela atua como representante processual ou como
substituta processual?

1) Ação coletiva de rito ordinário proposta pela 2) Ação civil pública (ação coletiva proposta na defesa
associação na defesa dos interesses de seus associados: de direitos difusos, coletivos ou individuais
SIM homogêneos): NÃO

A associação, quando ajuíza ação na defesa dos A associação, quando ajuíza ação na defesa de direitos
interesses de seus associados, atua como difusos, coletivos ou individuais homogêneos, atua
REPRESENTANTE PROCESSUAL e, por isso, é como SUBSTITUTA PROCESSUAL e não precisa
obrigatória a autorização individual ou assemblear dos dessa autorização.
associados.

Aplica-se o entendimento firmado pelo STF no RE O entendimento firmado no RE 573232/SC não foi
573232/SC. pensado para esses casos.

O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da (...) 1. Ação civil pública, ajuizada pelo Movimento das
República encerra representação específica, não Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais, na
alcançando previsão genérica do estatuto da associação qual sustenta a nulidade cláusulas de contratos de
a revelar a defesa dos interesses dos associados. arrendamento mercantil. (...)
As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em 3. Por se tratar do regime de substituição processual, a
ação proposta por associação, é definida pela autorização para a defesa do interesse coletivo em
representação no processo de conhecimento, presente a sentido amplo é estabelecida na definição dos objetivos
autorização expressa dos associados e a lista destes institucionais, no próprio ato de criação da associação,
juntada à inicial. sendo desnecessária nova autorização ou deliberação
assemblear. (...)
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 9. As teses de repercussão geral resultadas do
julgado em 14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746). julgamento do RE 612.043/PR e do RE 573.232/SC
tem seu alcance expressamente restringido às ações
coletivas de rito ordinário, as quais tratam de interesses
meramente individuais, sem índole coletiva, pois,
nessas situações, o autor se limita a representar os
titulares do direito controvertido, atuando na defesa de
interesses alheios e em nome alheio. (...)
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1799930/MG, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 26/08/2019.

Resumo do julgado
O art. 87 do CDC prevê:
Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas
e despesas processuais.
A isenção de custas e emolumentos judiciais prevista no art. 87 da Código de Defesa do Consumidor visa a facilitar a defesa dos
direitos dos consumidores, não sendo aplicável às ações, ainda que coletivas, propostas por sindicato em defesa dos
sindicalizados.
STJ. Corte Especial. AgInt nos EREsp 1623931/PE, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/08/2019.

Resumo do julgado
O prazo de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às ações coletivas de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.091-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/05/2019 (Info 648).
Obs: há inúmeros julgados em sentido contrário:
Inexistindo a previsão de prazo prescricional específico na Lei nº 7.347/85, aplica-se à Ação Civil Pública, por analogia, a
prescrição quinquenal instituída pelo art. 21 da Lei nº 4.717/65.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 814391/RN, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/05/2019.
STJ. 2ª Turma. REsp 1660385/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/10/2017.
STJ. 3ª Turma. REsp 1473846/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/02/2017.

Prazo prescricional para o ajuizamento de ação civil pública


O art. 21 da Lei de Ação Popular (Lei nº 4.717/65) prevê que:
Art. 21. A ação prevista nesta lei prescreve em 5 (cinco) anos.

A Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP), por sua vez, não previu um prazo prescricional para o ajuizamento da ação civil pública. Diante
disso, qual prazo deverá ser aplicado?
A posição tradicional do STJ é a de que deveria ser aplicado, por analogia, o prazo de 5 anos previsto no art. 21 da Lei de Ação
Popular:
Inexistindo a previsão de prazo prescricional específico na Lei nº 7.347/85, aplica-se à Ação Civil Pública, por analogia, a
prescrição quinquenal instituída pelo art. 21 da Lei nº 4.717/65.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 814391/RN, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/05/2019.
STJ. 2ª Turma. REsp 1660385/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/10/2017.
STJ. 3ª Turma. REsp 1473846/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/02/2017.

O tema foi, inclusive, enfrentado em embargos de divergência, tendo sido aplicado o prazo de 5 anos da LAP:
(...) esta Corte tem decidido que a Ação Civil Pública, a Ação Popular e o Código de Defesa do Consumidor compõem um
microssistema de tutela dos direitos difusos, motivo pelo qual a supressão das lacunas legais deve ser buscada, inicialmente,
dentro do próprio microssistema.
5. A ausência de previsão do prazo prescricional para a propositura da Ação Civil Pública, tanto no CDC quanto na Lei 7.347/85,
torna imperiosa a aplicação do prazo quinquenal previsto no art. 21 da Lei da Ação Popular (Lei 4.717/65). (...)
STJ. 2ª Seção. AgRg nos EREsp 995.995/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/03/2015.

Ocorre que no 1º semestre de 2019 foi proferido julgado que propôs uma mudança do entendimento acima explicado. Decidiu a
3ª Turma do STJ que:
O prazo de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às ações coletivas de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.091-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/05/2019 (Info 648).

Para a Min. Nancy Andrighi:


“ainda que a ação popular e a ação coletiva de consumo componham o microssistema de defesa de interesses coletivos em
sentido amplo, substancial a disparidade existente entre os objetos e causas de pedir de cada uma dessas ações, o que demonstra
a impossibilidade do emprego da analogia (...)
É, assim, necessária a superação (overruling) da atual orientação jurisprudencial desta Corte, pois não há razão para se limitar o
uso da ação coletiva ou desse especial procedimento coletivo de enfrentamento de interesses individuais homogêneos, coletivos
em sentido estrito e difusos, sobretudo porque o escopo desse instrumento processual é o tratamento isonômico e concentrado de
lides de massa relacionadas a questões de direito material que afetem uma coletividade de consumidores, tendo como resultado
imediato beneficiar a economia processual”.
Irei acompanhar atentamente o tema para verificar se esse entendimento da 3ª Turma irá ou não prevalecer nos demais órgãos
julgadores do STJ. Qualquer novidade, você será informada (o) no site.
Aprofundando
Existem duas hipóteses em que a pretensão veiculada na ação civil pública é considerada imprescritível:
1) Ação civil pública pedindo a reparação de danos ambientais:
É imprescritível a pretensão reparatória de danos ambientais, na esteira de reiterada jurisprudência deste Superior Tribunal de
Justiça.
STJ. 2ª Turma. REsp 1559396/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/11/2016.

2) Ação civil pública pedindo o ressarcimento ao erário pelos danos causados por ato de improbidade praticado dolosamente:
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade
Administrativa.
STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
08/08/2018 (repercussão geral) (Info 910).

As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos,
independentemente de autorização expressa dos associados

Resumo do julgado
As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos ou individuais homogêneos,
independentemente de autorização expressa dos associados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1796185/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2019.

As associações de classe atuam como representantes processuais, sendo obrigatória a autorização individual ou assemblear dos
associados - STF, RE 573.232. Esse entendimento, todavia, não se aplica na hipótese de a associação buscar em juízo a tutela de
interesses ou direitos difusos - art. 82, IV, do CDC.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1335681/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/02/2019.

Por se tratar do regime de substituição processual, a autorização para a defesa do interesse coletivo em sentido amplo é
estabelecida na definição dos objetivos institucionais, no próprio ato de criação da associação, sendo desnecessária nova
autorização ou deliberação assemblear.
As teses de repercussão geral resultadas do julgamento do RE 612.043/PR e do RE 573.232/SC tem seu alcance expressamente
restringido às ações coletivas de rito ordinário, as quais tratam de interesses meramente individuais, sem índole coletiva, pois,
nessas situações, o autor se limita a representar os titulares do direito controvertido, atuando na defesa de interesses alheios e em
nome alheio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1649087/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/10/2018.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1719820/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/04/2019.
Imagine a seguinte situação hipotética:
A Associação Nacional dos Consumidores de Crédito - Andec ajuizou ação coletiva em desfavor de Banco Gmac S.A.
postulando a condenação do réu à obrigação de não fazer, consubstanciada na abstenção de cobrança da Tarifa de Cadastro (TC).
O Banco réu alegou que a associação não poderia ter ingressado com a ação porque não teve autorização assemblear ou de seus
associados.

O argumento do Banco é aceito pela jurisprudência do STJ?


NÃO.
As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos ou individuais homogêneos,
independentemente de autorização expressa dos associados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1796185/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2019.

As associações de classe atuam como representantes processuais, sendo obrigatória a autorização individual ou
assemblear dos associados - STF, RE 573.232. Esse entendimento, todavia, não se aplica na hipótese de a associação
buscar em juízo a tutela de interesses ou direitos difusos - art. 82, IV, do CDC.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1335681/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/02/2019.
Por se tratar do regime de substituição processual, a autorização para a defesa do interesse coletivo em sentido amplo é
estabelecida na definição dos objetivos institucionais, no próprio ato de criação da associação, sendo desnecessária nova
autorização ou deliberação assemblear.
As teses de repercussão geral resultadas do julgamento do RE 612.043/PR e do RE 573.232/SC tem seu alcance
expressamente restringido às ações coletivas de rito ordinário, as quais tratam de interesses meramente individuais, sem
índole coletiva, pois, nessas situações, o autor se limita a representar os titulares do direito controvertido, atuando na
defesa de interesses alheios e em nome alheio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1649087/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/10/2018.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1719820/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/04/2019.

Não confundir. As associações precisam de autorização específica dos associados para ajuizar ação coletiva?
Depende:
1) Ação coletiva de rito ordinário proposta pela associação na defesa dos interesses de seus associados: SIM
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando previsão genérica
do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados.
As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela representação no processo
de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746).

2) Ação civil pública (ação coletiva proposta na defesa de direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos): NÃO
As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos ou individuais homogêneos,
independentemente de autorização expressa dos associados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1796185/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2019.

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que importe lesão ao erário
Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que
importe em lesão ao patrimônio público.
STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Promotor de Justiça foi informado de que determinado servidor público se aposentou mesmo sem ter completado todo o tempo
de contribuição necessário.
Além disso, no cálculo de sua aposentadoria, foram incluídas vantagens e gratificações indevidas, cujo valor superou, inclusive,
o teto constitucional.
Diante disso, ajuizou ação civil pública contra o Estado-membro e contra o referido servidor requerendo a anulação do ato de
concessão daaposentadoria.
O Ministério Público possui legitimidade para propor esta ação?
Claro.
Previsão constitucional
O Ministério Público possui legitimidade para a tutela coletiva destinada à proteção do patrimônio público. Essa legitimidade
encontra amparo em diversos dispositivos da Constituição Federal, valendo destacar os seguintes:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta
Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos;
(...)
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

Patrimônio público é interesse transindividual


A Constituição reserva ao MP ampla atribuição no campo da tutela do patrimônio público, que é um interesse de cunho
inegavelmente transindividual.
O combate em juízo à dilapidação ilegal do erário configura atividade de defesa da ordem jurídica, dos interesses sociais e do
patrimônio público, funções institucionais atribuídas ao Ministério Público pela Constituição. Entendimento contrário não
apenas afronta a textual previsão da Carta Magna, mas também fragiliza o sistema de controle da Administração Pública.

Legitimidade do MP não exclui a do ente público


Obviamente, a atuação judicial do MP não limita o ente público prejudicado,que também poderá ingressar com as ações judiciais
objetivando a proteção do patrimônio público. Isso, aliás, está expressamente ressalvado no § 1º do art. 129 da CF/88:
Art. 129 (...)
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas
hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
Substituto processual
Ao ajuizar ação coletiva para a tutela do erário, o Ministério Público não age como representante da entidade pública, e sim
como substituto processual de uma coletividade indeterminada, qual seja, a sociedade como um todo. Isso porque a sociedade é
titular do direito à boa administração do patrimônio público.
O MP é titular do direito à boa administração do patrimônio público, da mesma forma que qualquer cidadão pode ajuizar ação
popular com o mesmo objetivo (art. 5º, LXXIII, da CF/88).
Como já foi cobrado em concursos:
(Promoto de Justiça - MPE-PR - 2014) O Ministério Público não tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do
patrimônio público, pois se trata de direito patrimonial disponível da Fazenda Pública (ERRADO).
Em suma:
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de
aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.
STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

Em regra, o demandado que for sucumbente na ACP não tem o dever de pagar honorários advocatícios

Resumo do julgado
A parte que foi vencida em ação civil pública não tem o dever de pagar honorários advocatícios em favor do autor da ação.
A justificativa para isso está no princípio da simetria.
Isso porque se o autor da ACP perder a demanda, ele não irá pagar honorários advocatícios, salvo se estiver de má-fé (art. 18 da
Lei nº 7.347/85). Logo, pelo princípio da simetria, se o autor vencer a ação, também não deve ter direito de receber a verba.
Desse modo, em razão da simetria, descabe a condenação em honorários advocatícios da parte requerida em ação civil pública,
quando inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre com a parte autora.
STJ. Corte Especial. EAREsp 962.250/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/08/2018.
Resumo do julgado
O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos transindividuais de consumidores que
celebram contratos de compra e venda de imóveis com cláusulas pretensamente abusivas.
STJ. Corte Especial. EREsp 1378938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/06/2018 (Info 629).

Vale a pena relembrar:


Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

Legitimidade do Ministério Público para a ACP


O Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. No entanto, o MP somente terá representatividade adequada para propor a ACP se os direitos/interesses discutidos
na ação estiverem relacionados com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Desse modo, indaga-se: o MP possui legitimidade para ajuizar ACP na defesa de qualquer direito difuso, coletivo ou
individual homogêneo?
O entendimento majoritário está exposto a seguir:
Direitos Direitos Direitos
DIFUSOS COLETIVOS (stricto sensu) INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

SIM SIM 1) Se esses direitos


forem indisponíveis: SIM
O MP está sempre legitimado a O MP está sempre legitimado a
defender qualquer defender qualquer (ex: saúde de um menor)
direito difuso. direito coletivo.
2) Se esses direitos
forem disponíveis: DEPENDE
(o MP sempre possui (o MP sempre possui
representatividade adequada). representatividade adequada).
O MP só terá legitimidade para
ACP envolvendo direitos
individuais homogêneos
disponíveis se estes forem de
interesse social (se houver
relevância social).

Quatro conclusões importantes:


1) Se o direito for difuso ou coletivo (stricto sensu), o MP sempre terá legitimidade para propor ACP (há posições em sentido
contrário, mas é o que prevalece).
2) Se o direito individual homogêneo for indisponível (ex: saúde de um menor carente), o MP sempre terá legitimidade para
propor ACP.
3) Se o direito individual homogêneo for disponível, o MP pode agir desde que haja relevância social.
Ex1: defesa dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação.
Ex2: defesa de trabalhadores rurais na busca de seus direitos previdenciários.
4) O Ministério Público possui legitimidade para a defesa de direito individual indisponível mesmo quando a ação vise à tutela
de pessoa individualmente considerada (tutela do direito indisponível relativo a uma única pessoa).
Ex: MP ajuíza ACP para que o Estado forneça uma prótese auditiva a um menor carente portador de deficiência.
Assim, o MP sempre terá legitimidade quando os direitos envolvidos:
• revestirem-se de interesse social; ou
• caracterizarem-se como individuais indisponíveis.

Exemplos de direitos individuais homogêneos dotados de relevância social (Ministério Público pode propor ACP nesses
casos):
1) MP pode questionar edital de concurso público para diversas categorias profissionais de determinada Prefeitura, em que se
previa que a pontuação adotada privilegiaria candidatos que já integrariam o quadro da Administração Pública municipal (STF
RE 216443);
2) na defesa de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (STF AI 637853 AgR);
3) em caso de loteamentos irregulares ou clandestinos, inclusive para que haja pagamento de indenização aos adquirentes (REsp
743678);
4) o Ministério Público tem legitimidade para figurar no polo ativo de ACP destinada à defesa de direitos de natureza
previdenciária (STF AgRg no AI 516.419/PR);
5) o Ministério Público tem legitimidade para propor ACP com o objetivo de anular Termo de Acordo de Regime Especial -
TARE firmado entre o Distrito Federal e empresas beneficiárias de redução fiscal. O referido acordo, ao beneficiar uma empresa
privada e garantir-lhe o regime especial de apuração do ICMS, poderia, em tese, implicar lesão ao patrimônio público, fato que
legitima a atuação do parquet na defesa do erário e da higidez da arrecadação tributária (STF RE 576155/DF);
6) o MP tem legitimação para, por meio de ACP, pretender que o Poder Público forneça medicação de uso contínuo, de alto
custo, não disponibilizada pelo SUS, mas indispensável e comprovadamente necessária e eficiente para a sobrevivência de um
único cidadão desprovido de recursos financeiros;
7) defesa do direito dos consumidores de não serem incluídos indevidamente nos cadastros de inadimplentes (REsp 1.148.179-
MG).

Exemplos de direitos individuais homogêneos destituídos de relevância social (Ministério Público NÃO pode propor ACP
nesses casos):
1) o MP não pode ajuizar ACP para veicular pretensões que envolvam tributos (impostos, taxas etc.) (art. 1º, parágrafo único, da
LACP). Ex: o MP não pode propor ACP questionando a cobrança excessiva de uma determinada taxa, ainda que envolva um
expressivo número de contribuintes;
2) “O Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na qual busca a suposta defesa de um
pequeno grupo de pessoas - no caso, dos associados de um clube, numa óptica predominantemente individual.” (STJ REsp
1109335/SE);
3) o MP não pode buscar a defesa de condôminos de edifício de apartamentos contra o síndico, objetivando o ressarcimento de
parcelas de financiamento pagas para reformas afinal não efetivadas.

E no caso de direitos dos consumidores? O Ministério Público poderá defender em juízo direitos individuais homogêneos dos
consumidores?
SIM. O Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos ou
coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos.
Trata-se de legitimação que decorre, de forma genérica, dos arts. 127 e 129, III da CF/88 e, de modo específico, do art. 82, I do
CDC:
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
(...)
Art. 81. (...)
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
(...)
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

Vimos acima que o Ministério Público somente tem legitimidade para defender direitos individuais homogêneos caso estes
sejam indisponíveis ou tenham relevância social. E no caso dos direitos individuais homogêneos relacionados com direitos
dos consumidores?
Prevalece o entendimento de que “a proteção coletiva dos consumidores constitui não apenas interesse individual do próprio lesado,
mas interesse da sociedade como um todo. Realmente, é a própria Constituição que estabelece que a defesa dos consumidores é
princípio fundamental da atividade econômica (CF, art. 170, V), razão pela qual deve ser promovida, inclusive pelo Estado, em
forma obrigatória (CF, art. 5º, XXXII). Não se trata, obviamente, da proteção individual, pessoal, particular, deste ou daquele
consumidor lesado, mas da proteção coletiva, considerada em sua dimensão comunitária e impessoal.
Compreendida a cláusula constitucional dos interesses sociais (art. 127) nessa dimensão, não será difícil concluir que nela pode
ser inserida a legitimação do Ministério Público para a defesa de ‘direitos individuais homogêneos’ dos consumidores, o que dá
base de legitimidade ao art. 82, I da Lei nº 8.078/90 (...)” (voto do falecido Min. Teori Zavascki no REsp 417.804/PR, DJ
16/05/2005).
“A tutela efetiva de consumidores possui relevância social que emana da própria Constituição Federal (arts. 5º, XXXII, e 170,
V).” (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 02/06/2016).
Assim, “o Ministério Público ostenta legitimidade ativa para a propositura de Ação Civil Pública objetivando resguardar direitos
individuais homogêneos dos consumidores.” (STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1569566/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 07/03/2017).
Os direitos dos consumidores muitas vezes são disponíveis (ex: direitos patrimoniais). Mesmo assim, o Ministério Público terá
legitimidade para a ação civil pública em tais casos? O MP tem legitimidade para a defesa de direitos individuais
homogêneos de consumidores mesmo que estes sejam direitos disponíveis?
SIM. O Ministério Público tem legitimidade ativa para a propositura de ação civil pública destinada à defesa de direitos
individuais homogêneos de consumidores, ainda que disponíveis, pois se está diante de legitimação voltada à promoção de
valores e objetivos definidos pelo próprio Estado (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 02/06/2016).
Nesse sentido:
Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

Exemplo: contrato de compra e venda de bem imóvel


Imagine a seguinte situação hipotética:
A incorporadora “Habitação” lançou, para venda, um edifício de apartamentos.
Vários consumidores já fizeram promessas de compra e venda com a incorporadora a fim de adquirirem as unidades
habitacionais.
O Ministério Público analisou o contrato e constatou a existência de algumas cláusulas abusivas neste pacto.
Neste caso, o Ministério Público terá legitimidade para propor ação civil pública pedindo a declaração de nulidade das referidas
cláusulas.
Vale ressaltar que, nesta situação, estamos diante de direitos disponíveis. Mesmo assim, o STJ entende que há legitimidade do
Ministério Público em razão da relevância social da defesa dos consumidores. Nesse sentido:
Nesse sentido:
O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos transindividuais de
consumidores que celebram contratos de compra e venda de imóveis com cláusulas pretensamente abusivas.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.378.938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/06/2018 (Info 629).

A relação de consumo pode se dar com o Poder Público. Em outras palavras, o Estado presta serviços públicos a uma
infinidade de consumidores. Neste caso, o Ministério Público possui legitimidade para a defesa em juízo dos direitos
individuais homogêneos desses consumidores?
SIM. Com mais razão ainda. O Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas
direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos, inclusive quando decorrentes da
prestação de serviços públicos (STJ. 1ª Turma. REsp 929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
18/02/2016).
Ex: ação civil pública proposta pelo Ministério Público contra o Município e contra a empresa concessionária do serviço público
de transporte de passageiros questionando o reajuste da tarifa de ônibus, que teria sido abusivo, violando os direitos individuais
homogêneos dos consumidores.
Vamos agora relembrar o que são direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos
Gênero: os direitos ou interesses coletivos (lato sensu) são o gênero.
Eles são chamados de direitos ou interesses transindividuais, metaindividuais ou supraindividuais.

Espécies: esses direitos coletivos (em sentido amplo) são divididos em três espécies:
a) difusos;
b) coletivos (em sentido estrito);
c) individuais homogêneos.

COLETIVOS
DIFUSOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
(em sentido estrito)
Ex: direito ao meio
Ex: reajuste abusivo das mensalidades Ex: determinado lote de um remédio causou lesão a
ambiente ecologicamente
escolares. alguns consumidores.
equilibrado.
São classificados como
São classificados como direitos ACIDENTALMENTE
direitos São classificados como direitos
COLETIVOS (isso porque são direitos individuais, mas
ESSENCIALMENTE ESSENCIALMENTE COLETIVOS.
tratados como se fossem coletivos).
COLETIVOS.
São transindividuais Há uma
São transindividuais
(há uma transindividualidade ARTIFICIAL, formal ou relativ
(há uma transindividualidade real ou a (são direitos individuais que, no entanto, recebem
transindividualidade real ou
material). tratamento legal de direitos transindividuais).
material).

Têm natureza
Têm natureza INDIVISÍVEL. Têm natureza DIVISÍVEL.
INDIVISÍVEL.
Tais direitos pertencem a
todos de forma simultânea e O resultado será o mesmo para O resultado da demanda pode ser diferente para os
indistinta. aqueles que fizerem parte do grupo, diversos titulares (ex: o valor da indenização pode
categoria ou classe de pessoas. variar).
O resultado será o mesmo
para todos os titulares.

Os titulares são pessoas: Os titulares são pessoas:


• indeterminadas e Os titulares são pessoas: • determinadas; ou
• indetermináveis. • indeterminadas, • determináveis.
• mas determináveis.
Não se tem como
determinar (dizer de
maneira específica) quem Os titulares são, a princípio,
são os titulares desses indeterminados, mas é possível que
direitos. Isso porque são eles sejam identificados.
direitos que não pertencem Os titulares fazem parte de um grupo,
a apenas uma pessoa, mas categoria ou classe de pessoas.
sim à coletividade.

Caracterizam-se, portanto,
Caracterizam-se, portanto, pela indeterminabilidade RELATIVA.
pela indeterminabilidade Caracterizam-se, portanto,
ABSOLUTA. pela DETERMINABILIDADE.

Os titulares desses direitos


NÃO possuem relação
jurídica entre si. EXISTE uma relação jurídica base entre
os titulares.

Os titulares são ligados por Os titulares não são ligados entre si, mas seus
CIRCUNSTÂNCIAS DE interesses decorrem de uma ORIGEM COMUM.
Os titulares são ligados entre si ou com
FATO. a parte contrária em virtude de uma
Os titulares se encontram RELAÇÃO JURÍDICA BASE.
em uma situação de fato
comum.
Outros exemplos:
interesses ligados aos membros de um
Outros exemplos: mesmo sindicato ou partido; Outros exemplos:
patrimônio histórico; integrantes de um mesmo conselho
profissional (ex: OAB). Ex: pílula de farinha como anticoncepcional: só tem
moralidade administrativa;
direito a mulher que comprovar que tomou o remédio
publicidade enganosa O MP tem legitimidade para ACP daquele lote.
divulgada pela TV. cujo fundamento seja a ilegalidade de
reajuste de mensalidades escolares
(Súmula 643-STF).

Obs.: a definição legal dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos é fornecida pelo art. 81, parágrafo
único do CDC.
O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos transindividuais de
consumidores que celebram contratos de compra e venda de imóveis com cláusulas pretensamente abusivas.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.378.938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/06/2018 (Info 629).

A relação de consumo pode se dar com o Poder Público. Em outras palavras, o Estado presta serviços públicos a uma
infinidade de consumidores. Neste caso, o Ministério Público possui legitimidade para a defesa em juízo dos direitos
individuais homogêneos desses consumidores?
SIM. Com mais razão ainda. O Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas
direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos, inclusive quando decorrentes da
prestação de serviços públicos (STJ. 1ª Turma. REsp 929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
18/02/2016).
Ex: ação civil pública proposta pelo Ministério Público contra o Município e contra a empresa concessionária do serviço público
de transporte de passageiros questionando o reajuste da tarifa de ônibus, que teria sido abusivo, violando os direitos individuais
homogêneos dos consumidores.

Resumo do julgado
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a
cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm comofinalidades institucionais a proteção de valores
fundamentais, como a defesacoletiva dos consumidores, não se exige pertinência temática e representatividadeadequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Município de Brusque (SC) ajuizou ação civil pública contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa
bancária denominada “renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas bancárias.
O banco contestou a demanda alegando, entre outros argumentos, que o Município não tem legitimidade ad causam para ajuizar
ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a cobrança de uma tarifa bancária.
O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade?
SIM.
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando
a cobrança de tarifas bancárias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).

A legitimidade extraordinária dos entes políticos


Os entes federativos ou políticos, enquanto gestores da coisa pública e do bem comum, são, em tese, os maiores interessados na
defesa dos interesses metaindividuais, considerando que o Estado “tem por fim o bem comum de um povo situado em um
determinado território” (DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 100).
Assim, na defesa do bem comum do povo, cabe aos órgãos públicos promover a tutela dos interesses da população.
Trata-se, em verdade, de dever-poder, o que impõe aos entes políticos o dever de agir na defesa de interesses metaindividuais.
Ademais, a legitimação dos entes políticos para a defesa de interessesmetaindividuais é justificada pela qualidade de sua
estrutura, capaz de conferirmaior probabilidade de êxito na implementação da tutela coletiva.

Pertinência temática e representatividade adequada dos entes políticos


No caso de ação civil pública proposta por ente político, a pertinência temática ou representatividade adequada são presumidas.
Isso porque não há dúvidas de que os entes políticos possuem, dentre suas finalidades institucionais, a defesa coletiva dos
consumidores. Trata-se, inclusive, de um comando constitucional:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
Aliás, no que se refere especificamente à defesa de interesses individuais homogêneos dos consumidores, o Município é o ente político
que terá maior contato com as eventuais lesões cometidas contra esses interesses, pois, “por certo, será no Município que esses fatos
ensejadores da ação civil pública se farão sentir com maior intensidade [...] em face da proximidade, da imediatidade entre ele e seus
munícipes” (LEONEL, Ricardo de Barros. Manual do Processo Coletivo. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 165).

Legitimidade do Município para defesa dos consumidores


Resumo do julgado
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a
cobrança de tarifas bancárias.
Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm comofinalidades institucionais a proteção de valores
fundamentais, como a defesacoletiva dos consumidores, não se exige pertinência temática e representatividadeadequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Município de Brusque (SC) ajuizou ação civil pública contra o HSBC Bank Brasil S.A. alegando que seria ilegal uma tarifa
bancária denominada “renovação de cadastro” que estava sendo cobrada das contas bancárias.
O banco contestou a demanda alegando, entre outros argumentos, que o Município não tem legitimidade ad causam para ajuizar
ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a cobrança de uma tarifa bancária.

O que decidiu o STJ? O Município tem legitimidade?


SIM.
Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando
a cobrança de tarifas bancárias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).

A legitimidade extraordinária dos entes políticos


Os entes federativos ou políticos, enquanto gestores da coisa pública e do bem comum, são, em tese, os maiores interessados na
defesa dos interesses metaindividuais, considerando que o Estado “tem por fim o bem comum de um povo situado em um
determinado território” (DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 100).
Assim, na defesa do bem comum do povo, cabe aos órgãos públicos promover a tutela dos interesses da população.
Trata-se, em verdade, de dever-poder, o que impõe aos entes políticos o dever de agir na defesa de interesses metaindividuais.
Ademais, a legitimação dos entes políticos para a defesa de interessesmetaindividuais é justificada pela qualidade de sua
estrutura, capaz de conferirmaior probabilidade de êxito na implementação da tutela coletiva.

Pertinência temática e representatividade adequada dos entes políticos


No caso de ação civil pública proposta por ente político, a pertinência temática ou representatividade adequada são presumidas.
Isso porque não há dúvidas de que os entes políticos possuem, dentre suas finalidades institucionais, a defesa coletiva dos
consumidores. Trata-se, inclusive, de um comando constitucional:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
Aliás, no que se refere especificamente à defesa de interesses individuais homogêneos dos consumidores, o Município é o ente político
que terá maior contato com as eventuais lesões cometidas contra esses interesses, pois, “por certo, será no Município que esses fatos
ensejadores da ação civil pública se farão sentir com maior intensidade [...] em face da proximidade, da imediatidade entre ele e seus
munícipes” (LEONEL, Ricardo de Barros. Manual do Processo Coletivo. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 165).

É possível que as associações privadas façam transação em ação civil pública


Resumo do julgado
A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer transação com o réu e pedir a extinção do processo, nos termos
do art. 487, III, “b”, do CPC.
O art. 5º, § 6º da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos podem fazer acordos nas ações civis
públicas em curso, não mencionando as associações privadas.
Apesar disso, a ausência de disposição normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do
acordo. Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos diz respeito ao fato de que somente
podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe.
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892).

Existe previsão legal de que as associações autoras de ações civis públicas possam fazer transação nessas ações?
NÃO. A Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos podem fazer acordos nas ações civis públicas
em curso, não mencionando as associações privadas. Confira:
Art. 5º (...)
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências
legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Mesmo sem previsão legal as associações privadas podem transacionar em ações civis públicas
O STF afirmou que, mesmo sem previsão normativa expressa, as associações privadas também podem fazer acordos nas ações
coletivas.
Assim, a ausência de disposição normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do acordo.
Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos diz respeito ao fato de que somente podem
fazer o que a lei determina, ao passo que aos entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe.
Para o Min. Ricardo Lewandoswki, “não faria sentido prever um modelo que autoriza a justiciabilidade privada de direitos e,
simultaneamente, deixar de conferir aos entes privados as mais comezinhas faculdades processuais, tais como a de firmar
acordos.”
Resumindo:
A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer transação com o réu e pedir a extinção do processo, nos
termos do art. 487, III, “b”, do CPC.

Legitimidade do Ministério Público para defesa coletiva dos consumidores

Resumo do julgado
Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 07/02/2018, DJe 14/02/2018.

Legitimidade do Ministério Público para a ACP


O Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. No entanto, o MP somente terá representatividade adequada para propor a ACP se os direitos/interesses discutidos
na ação estiverem relacionados com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Desse modo, indaga-se: o MP possui legitimidade para ajuizar ACP na defesa de qualquer direito difuso, coletivo ou
individual homogêneo?
O entendimento majoritário está exposto a seguir:
Direitos Direitos Direitos
DIFUSOS COLETIVOS (stricto sensu) INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

SIM SIM 1) Se esses direitos


forem indisponíveis: SIM
(ex: saúde de um menor)
O MP está sempre legitimado a O MP está sempre legitimado a
defender qualquer defender qualquer
direito difuso. direito coletivo. 2) Se esses direitos
forem disponíveis: DEPENDE

(o MP sempre possui (o MP sempre possui


representatividade adequada). representatividade adequada). O MP só terá legitimidade para
ACP envolvendo direitos
individuais homogêneos
disponíveis se estes forem de
interesse social (se houver
relevância social).

Quatro conclusões importantes:


1) Se o direito for difuso ou coletivo (stricto sensu), o MP sempre terá legitimidade para propor ACP (há posições em sentido
contrário, mas é o que prevalece).
2) Se o direito individual homogêneo for indisponível (ex: saúde de um menor carente), o MP sempre terá legitimidade para
propor ACP.
3) Se o direito individual homogêneo for disponível, o MP pode agir desde que haja relevância social.
Ex1: defesa dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação.
Ex2: defesa de trabalhadores rurais na busca de seus direitos previdenciários.
4) O Ministério Público possui legitimidade para a defesa de direito individual indisponível mesmo quando a ação vise à tutela
de pessoa individualmente considerada (tutela do direito indisponível relativo a uma única pessoa).
Ex: MP ajuíza ACP para que o Estado forneça uma prótese auditiva a um menor carente portador de deficiência.
Assim, o MP sempre terá legitimidade quando os direitos envolvidos:
• revestirem-se de interesse social; ou
• caracterizarem-se como individuais indisponíveis.

Exemplos de direitos individuais homogêneos dotados de relevância social (Ministério Público pode propor ACP nesses
casos):
1) MP pode questionar edital de concurso público para diversas categorias profissionais de determinada Prefeitura, em que se
previa que a pontuação adotada privilegiaria candidatos que já integrariam o quadro da Administração Pública municipal (STF
RE 216443);
2) na defesa de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (STF AI 637853 AgR);
3) em caso de loteamentos irregulares ou clandestinos, inclusive para que haja pagamento de indenização aos adquirentes (REsp
743678);
4) o Ministério Público tem legitimidade para figurar no polo ativo de ACP destinada à defesa de direitos de natureza
previdenciária (STF AgRg no AI 516.419/PR);
5) o Ministério Público tem legitimidade para propor ACP com o objetivo de anular Termo de Acordo de Regime Especial -
TARE firmado entre o Distrito Federal e empresas beneficiárias de redução fiscal. O referido acordo, ao beneficiar uma empresa
privada e garantir-lhe o regime especial de apuração do ICMS, poderia, em tese, implicar lesão ao patrimônio público, fato que
legitima a atuação do parquet na defesa do erário e da higidez da arrecadação tributária (STF RE 576155/DF);
6) o MP tem legitimação para, por meio de ACP, pretender que o Poder Público forneça medicação de uso contínuo, de alto
custo, não disponibilizada pelo SUS, mas indispensável e comprovadamente necessária e eficiente para a sobrevivência de um
único cidadão desprovido de recursos financeiros;
7) defesa do direito dos consumidores de não serem incluídos indevidamente nos cadastros de inadimplentes (REsp 1.148.179-
MG).

Exemplos de direitos individuais homogêneos destituídos de relevância social (Ministério Público NÃO pode propor ACP
nesses casos):
1) o MP não pode ajuizar ACP para veicular pretensões que envolvam tributos (impostos, taxas etc.) (art. 1º, parágrafo único, da
LACP). Ex: o MP não pode propor ACP questionando a cobrança excessiva de uma determinada taxa, ainda que envolva um
expressivo número de contribuintes;
2) “O Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na qual busca a suposta defesa de um
pequeno grupo de pessoas - no caso, dos associados de um clube, numa óptica predominantemente individual.” (STJ REsp
1109335/SE);
3) o MP não pode buscar a defesa de condôminos de edifício de apartamentos contra o síndico, objetivando o ressarcimento de
parcelas de financiamento pagas para reformas afinal não efetivadas.

E no caso de direitos dos consumidores? O Ministério Público poderá defender em juízo direitos individuais homogêneos dos
consumidores?
SIM. O Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos ou
coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos.
Trata-se de legitimação que decorre, de forma genérica, dos arts. 127 e 129, III da CF/88 e, de modo específico, do art. 82, I do
CDC:
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
(...)
Art. 81. (...)
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
(...)
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

Vimos acima que o Ministério Público somente tem legitimidade para defender direitos individuais homogêneos caso estes
sejam indisponíveis ou tenham relevância social. E no caso dos direitos individuais homogêneos relacionados com direitos
dos consumidores?
Prevalece o entendimento de que “a proteção coletiva dos consumidores constitui não apenas interesse individual do próprio lesado,
mas interesse da sociedade como um todo. Realmente, é a própria Constituição que estabelece que a defesa dos consumidores é
princípio fundamental da atividade econômica (CF, art. 170, V), razão pela qual deve ser promovida, inclusive pelo Estado, em
forma obrigatória (CF, art. 5º, XXXII). Não se trata, obviamente, da proteção individual, pessoal, particular, deste ou daquele
consumidor lesado, mas da proteção coletiva, considerada em sua dimensão comunitária e impessoal.
Compreendida a cláusula constitucional dos interesses sociais (art. 127) nessa dimensão, não será difícil concluir que nela pode
ser inserida a legitimação do Ministério Público para a defesa de ‘direitos individuais homogêneos’ dos consumidores, o que dá
base de legitimidade ao art. 82, I da Lei nº 8.078/90 (...)” (voto do falecido Min. Teori Zavascki no REsp 417.804/PR, DJ
16/05/2005).
“A tutela efetiva de consumidores possui relevância social que emana da própria Constituição Federal (arts. 5º, XXXII, e 170,
V).” (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 02/06/2016).
Assim, “o Ministério Público ostenta legitimidade ativa para a propositura de Ação Civil Pública objetivando resguardar direitos
individuais homogêneos dos consumidores.” (STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1569566/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 07/03/2017).
Os direitos dos consumidores muitas vezes são disponíveis (ex: direitos patrimoniais). Mesmo assim, o Ministério Público terá
legitimidade para a ação civil pública em tais casos? O MP tem legitimidade para a defesa de direitos individuais
homogêneos de consumidores mesmo que estes sejam direitos disponíveis?
SIM. O Ministério Público tem legitimidade ativa para a propositura de ação civil pública destinada à defesa de direitos
individuais homogêneos de consumidores, ainda que disponíveis, pois se está diante de legitimação voltada à promoção de
valores e objetivos definidos pelo próprio Estado (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 02/06/2016).

A relação de consumo pode se dar com o Poder Público. Em outras palavras, o Estado presta serviços públicos a uma
infinidade de consumidores. Neste caso, o Ministério Público possui legitimidade para a defesa em juízo dos direitos
individuais homogêneos desses consumidores?
SIM. Com mais razão ainda. O Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para tutelar não apenas
direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também direitos individuais homogêneos, inclusive quando decorrentes da
prestação de serviços públicos (STJ. 1ª Turma. REsp 929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
18/02/2016).
Ex: ação civil pública proposta pelo Ministério Público contra o Município e contra a empresa concessionária do serviço público
de transporte de passageiros questionando o reajuste da tarifa de ônibus, que teria sido abusivo, violando os direitos individuais
homogêneos dos consumidores.

Associação de defesa do consumidor não tem legitimidade para ajuizar ACP discutindo DPVAT

Resumo do julgado
Uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de ação civil
pública com a finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT. Isso porque o seguro DPVAT não
tem natureza consumerista, faltando, portanto, pertinência temática.
STJ. 2ª Seção. REsp 1091756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/12/2017
(Info 618).
Em que consiste o DPVAT?
O DPVAT é um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a
pessoas, transportadas ou não.
Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua carga, em via
terrestre, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de
morte, os seus respectivos herdeiros.
Ex.: dois carros colidem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. No carro 1, havia
apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e
o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O
passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de DPVAT por invalidez.
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos
motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente.
O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais.

Quem custeia as indenizações pagas pelo DPVAT?


Os proprietários de veículos automotores. Trata-se de um seguro obrigatório. Assim, sempre que o proprietário do veículo paga o
IPVA, está pagando também, na mesma guia, um valor cobrado a título de DPVAT.
O STJ afirma que a natureza jurídica do DPVAT é a de um contrato legal, de cunho social.
O DPVAT é regulamentado pela Lei nº 6.194/74.

Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei?


•no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima)
•no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima)
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso a cada vítima.
Quem são os beneficiários do seguro DPVAT? Quem tem direito de receber a indenização?
•no caso de morte: metade será paga ao cônjuge do falecido, desde que eles não fossem separados judicialmente, e o restante aos
herdeiros da vítima, obedecida a ordem da vocação hereditária. Não havendo cônjuge nem herdeiros, serão beneficiários os que
provarem que a morte da vítima os privou dos meios necessários à subsistência.
•no caso de invalidez permanente: a própria vítima.
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: a própria vítima.
Isso está previsto no art. 4º, caput e § 3º da Lei nº 6.194/74 (Lei do DPVAT).

Caso a pessoa beneficiária do DPVAT não receba a indenização ou não concorde com o valor pago pela seguradora, ela
poderá buscar auxílio do Poder Judiciário?
Sim. A pessoa poderá ajuizar uma ação de cobrança contra a seguradora objetivando a indenização decorrente de DPVAT.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


Uma associação chamada “Movimento das donas de casa e consumidores de Minas Gerais” ajuizou ação civil pública contra a
“Sul América Seguros” alegando que esta seguradora, quando vai pagar as indenizações do DPVAT, não tem adotado os
critérios corretos para o cálculo dos valores, de forma que tem pagado menos do que os beneficiários teriam direito.
A seguradora alegou que a autora seria parte ilegítima para a causa. Isso porque o estatuto desta associação prevê que a sua
finalidade é a defesa dos consumidores e a relação jurídica dos beneficiários com as seguradoras do DPVAT não é de consumo.
Logo, o pedido formulado pela associação não teria relação com a sua finalidade estatutária.

A tese da seguradora foi aceita pelo STJ?


SIM.
Uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui legitimidade para o ajuizamento de
ação civil pública com a finalidade de tutelar interesses coletivos de beneficiários do seguro DPVAT.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/12/2017
(Info 618).

DPVAT não é uma relação de consumo


O seguro DPVAT não é baseado em uma relação jurídica contratual. Trata-sede um seguro obrigatório por força de lei, que tem
por objetivomitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores.
Em se tratando de obrigação imposta por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo de vontade e, principalmente,
voluntariedade entre o proprietário do veículo e as seguradoras componentes do consórcio do seguro DPVAT, o que, por si,
evidencia que não se trata de contrato.
A estipulação da indenização securitária em favor da vítima do acidente, assim como as específicas hipóteses de cabimento
(morte, invalidez permanente, total e parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares) decorrem exclusivamente de
imposição legal, e, como tal, não comportam qualquer temperamento das partes envolvidas.
Nesse contexto, não há, por parte das seguradoras integrantes do consórcio do seguro DPVAT, responsáveis por realizarem o
pagamento, qualquer ingerência nas regras relativas à indenização securitária.
Ao contrário do que ocorre no caso de seguro facultativo (esta, sim, sujeita ao CDC), a atuação das seguradoras integrantes do
consórcio do seguro DPVATnão é concorrencial nem se destina à obtenção de lucro, na medida em que a respectiva arrecadação
possui destinação legal específica.
Tampouco seria possível falar em vulnerabilidade, na acepção técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e muito
menos do proprietário do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio" do seguro DPVAT - perante as seguradoras, as
quais não possuem qualquer margem discricionária para efetivação do pagamento da indenização securitária, sempre que
presentes os requisitos estabelecidos na lei.
Em suma, não há relação de consumo entre as vítimas do acidente ou beneficiárias e as seguradoras do DPVAT, não se
aplicando as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.398-PR, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017 (Info 614).

Associação tem por finalidade a defesa do consumidor


Como não há, no caso, uma relação de consumo, não se mostra correto aceitar que uma associação que tem fins específicos de
proteção ao consumidor possa ter legitimidade para propor uma ação civil pública fazendo pedido relacionado com o tema.
O requisito da “pertinência temática” constitui um dos critérios para verificação da chamada “representatividade adequada” do
grupo lesado, traduzindo-se na necessidade de que haja uma relação de congruência entre as finalidades institucionais da
associação (expressamente enumeradas no estatuto social) e o conteúdo da pretensão.
No presente caso é muito clara a ausência de pertinência temática considerando que as finalidades institucionais da associação
(defesa do consumidor) não estão relacionadas com o seguro DPVAT (que não tem natureza consumerista).

Emenda da inicial da ACP mesmo após ter sido apresentada contestação


Resumo do julgado
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico, ainda que já tenha sido apresentada a
contestação.
STJ. 4ª Turma.REsp 1279586-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/10/2017 (Info 615).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Determinado Instituto de Proteção e Defesa dos Consumidores ajuizou ação civil pública contra o banco “XYZ” pedindo a não
incidência de juros capitalizados nos contratos bancários e a devolução, em dobro, dos valores cobrados a este título dos
consumidores nos últimos cinco anos.
O banco apresentou contestação requerendo a extinção do feito, sem resolução do mérito, pela inépcia da Inicial considerando
que o pedido formulado pelo autor era absolutamente genérico e beneficiaria pessoas indeterminadas em situações imprecisas.
O juiz deu, então, oportunidade para que o autor fizesse a emenda da petição inicial a fim de sanar o vício apontado, nos termos
do art. 321 do CPC/2015:
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e
irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou
a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
O banco não concordou e recorreu contra a decisão do magistrado. Afirmou que não seria possível determinar a emenda da
Inicial no caso em que ela já foi recebida pelo juiz e contestada pelo réu. Argumentou que a emenda à inicial (quando viável)
somente pode ser determinada até o oferecimento da contestação.

Agiu corretamente o magistrado ao determinar a emenda da inicial da ACP mesmo já tendo havido contestação apresentada?
Em uma ação civil pública, é possível que o magistrado determine a emenda da petição inicial para correção de defeitos e
irregularidades relacionados ao pedido mesmo que já tenha havido contestação?
SIM.
Em relação às ações individuais, o STJ possui julgados divergentes sobre a possibilidade ou não de emenda da petição inicial
após a apresentação da contestação. Existem julgados admitindo e outros negando.
No que tange às ações civis públicas, contudo, isso deve ser possível.
As ações civis públicassão instrumentos processuais de ordem constitucional voltados à defesa de interesses metaindividuais,
com relevância social.
Em virtude da relevância social do bem envolvido, de natureza social, para a ação civil pública deverão ser adotados princípios
distintos daqueles previstos pelo CPC para as ações individuais.
Um desses princípios que serve para distinguir o regime da ação civil pública é o princípio da efetividade.
O princípio da efetividade está intimamente ligado ao valorsocial e deve ser utilizado pelo juiz da causa para abrandar osrigores
da intelecção vinculada exclusivamente ao Código de ProcessoCivil - desconsiderando as especificidades do microssistema
regentedas ações civis -, dado seu escopo de servir à solução de litígiosde caráter individual.
A ação civil constitui instrumento de eliminação da litigiosidade de massa, capaz de dissipar infindos processos individuais,
evitando, ademais, a existência de diversidade de entendimentos sobre o mesmo caso, possuindo, ademais, expressivo papel no
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, diante de sua possibilidade de proteger um número elevado de pessoas mediante um
único processo.
Em suma:
Admite-se emenda à inicial de ação civil pública, em face da existência de pedido genérico, ainda que já tenha sido
apresentada a contestação.

Transportadora pode ser condenada, em ACP, a não trafegar com excesso de peso nas rodovias, sob pena de multa civil
(astreinte), e, além disso, ser condenada a pagar indenização por danos morais coletivos e danos materiais
Resumo do julgado
Transportadora que constantemente descumpre o Código de Trânsito e trafega com seus veículos com cargas acima do peso
permitido pode ser condenada ao pagamento de danos morais coletivos e danos materiais.
O tráfego de veículos com excesso de peso gera responsabilidade civil em razão dos danos materiais às vias públicas e do dano
moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à segurança de todos.
Neste caso, além da condenação a pagar a indenização, a transportadora também poderá ser condenada a não mais trafegar com
excesso de peso, sendo viável a aplicação de multa civil (astreinte), como medida coercitiva, mesmo que já tenham sido
imputadas as multas administrativas previstas no CTB.
STJ. 2ª Turma. REsp 1574350-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/10/2017 (Info 643).
Responsabilidade civil por danos patrimoniais e morais coletivos
O transporte com excesso de carga nos caminhões causa dano material e extrapatrimonial:
• ao patrimônio público (deterioração das rodovias federais);
• ao meio ambiente (traduzido em maior poluição do ar e gastos prematuros com novos materiais e serviços para a reconstrução
do pavimento);
• à saúde e segurança das pessoas (aumento do risco de acidentes, com feridos e mortos); e
• à ordem econômica.
Vale ressaltar que o dano moral coletivo, neste caso, é in re ipsa, ou seja, deriva do fato por si só.

Dano moral coletivo


O dano moral coletivo é o resultado da lesão à esfera extrapatrimonial de determinada comunidade.
Ocorre quando a conduta praticada agride, de modo ilegal ou intolerável, os valores normativos fundamentais da sociedade em si
considerada, a provocar repulsa e indignação na consciência coletiva.
O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo psicológico, suscetíveis de
apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e coletivos.
STJ. 2ª Turma. Resp 1.410.698/MG, Rel. Min. Humberto Martins, Dje 30/6/2015.
(...) 1. O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge uma classe específica ou não de pessoas, é
passível de comprovação pela presença de prejuízo à imagem e à moral coletiva dos
indivíduos enquanto síntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma relação jurídica-base.
2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo psicológico, suscetíveis de
apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e coletivos. (...)
STJ. 2ª Turma. REsp 1057274/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 01/12/2009.

Fato notório que tráfego de veículos com excesso de peso causa danos materiais às vias públicas
É fato notório (art. 374, I, do CPC) que o tráfego de veículos com excesso de peso provoca sérios danos materiais às vias
públicas, ocasionando definhamento da durabilidade e da vida útil da camada que reveste e dá estrutura ao pavimento e ao
acostamento, o que resulta em buracos, fissuras, lombadas e depressões, imperfeições no escoamento da água, tudo a ampliar
custos de manutenção e de recuperação, consumindo recursos públicos.
Ademais, acelera a depreciação dos veículos que utilizam a malha viária, impactando, em particular, nas condições e
desempenho do sistema de frenagem da frota do embarcador/expedidor.
Além disso, afeta as condições gerais de segurança das vias e estradas, o que aumenta o número de acidentes, inclusive fatais.
Em consequência, provoca dano moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à segurança de todos, prejuízo
esse atrelado igualmente à redução dos níveis de fluidez do tráfego e de conforto dos usuários.

Não se aplica a remessa necessária do art. 19 da LAP para as ações coletivas tutelando direitos individuais homogêneos
Resumo do julgado
Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da Lei nº 4.717/65, nas ações coletivas que
versem sobre direitos individuais homogêneos.
Ex: ação proposta pelo MP tutelando direitos individuais homogêneos de consumidores.
STJ. 3ª Turma.REsp 1374232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 612).

Noções gerais sobre o reexame necessário


O chamado “reexame necessário” ou “duplo grau de jurisdição obrigatório” é um instituto previsto no art. 496 do CPC/2015 e
em algumas leis esparsas:
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito
público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e,
se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa necessária.

Deixa eu explicar melhor:


- Se a sentença proferida pelo juiz de 1ª instância: a) for contra a Fazenda Pública; ou b) julgar procedentes os embargos do
devedor na execução fiscal (o que também é uma sentença contra a Fazenda Pública);
- Essa sentença deverá ser, obrigatoriamente, reexaminada pelo Tribunal de 2º grau (Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional
Federal);
- Mesmo que a Fazenda Pública não recorra;
- E, enquanto não for realizado o reexame necessário, não haverá trânsito em julgado.
Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é tecnicamente incorreto denominar este
instituto de “recurso ex officio”, “recurso de ofício” ou “recurso obrigatório”.

Exceções ao reexame necessário


O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que, mesmo a sentença se enquadrando nos incisos do art. 496, não haverá a
obrigatoriedade do reexame necessário.
Reexame necessário “invertido” previsto na Lei de Ação Popular
A Lei nº 4.717/65 prevê que se o juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação popular, essa sentença estará sujeita
ao reexame necessário. Veja:
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não
produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito
suspensivo.

Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame necessário. Perceba, portanto, que o art. 19
inverte a lógica da remessa necessária do CPC. Pelo CPC, se a Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame
necessário ocorre se o cidadão perde.
Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo grau de jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau
que ocorre em favor do cidadão (e não necessariamente da Fazenda Pública).

É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as ações de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA?
SIM. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa está sujeita ao
reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº
4.717/65.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).
É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as AÇÕES CIVIS PÚBLICAS?
Em regra, sim. O STJ entende que é possível aplicar, por analogia, a primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65 paras as
sentenças de improcedência de ação civil pública. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1596028/MG, Rel. Min.Og
Fernandes, julgado em 26/09/2017.

Existe, contudo, uma exceção:


Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da Lei nº 4.717/65, nas ações coletivas que
versem sobre direitos individuais homogêneos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 612).

Ex: ação proposta pelo Ministério Público pleiteando a defesa dos direitos dos consumidores contra empresa de seguros.
Se forem analisadas as razões que levaram o STJ a considerar que deveria ser aplicado o art. 19 da Lei da Ação Popular às ações
civis públicas, será possível concluir que isso ocorreu em virtude da transindividualidade dos direitos nela tutelados, de forma
que a sua relevância para a coletividade como um todo justificaria esse cuidado.
No entanto, em caso de ações coletivas que tutelam direitos individuais homogêneos, não se observa essa necessidade. Isso
porque os direitos individuais homogêneos são apenas acidentalmente coletivos, não sendo transindividuais nem atingindo a
coletividade como um todo.

MP não pode obter, em ACP, informações bancárias sobre os clientes da instituição porque estas são protegidas pelo
sigilo bancário
Resumo do julgado
O exercício da legitimação extraordinária, conferida para tutelar direitos individuais homogêneos em ação civil pública, não
pode ser estendido para abarcar a disposição de interesses personalíssimos, tais como a intimidade, a privacidade e o sigilo
bancário dos substituídos.
Configura quebra de sigilo bancário a decisão judicial que antecipa os efeitos da tutela para determinar que o banco forneça os
dados cadastrais dos correntistas que assinaram determinado tipo de contrato, a fim de instruir ação civil pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1611821-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/6/2017 (Info 607).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Segundo indícios que chegaram ao conhecimento do Ministério Público, o consumidor que procurava o Banco “XXX” para
obter um empréstimo era obrigado a também fazer um contrato de seguro de vida, o que configura venda casada, prática vedada
pelo CDC (art. 39, I).
Diante disso, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra este banco pedindo, como tutela provisória de urgência, que
a instituição financeira fornecesse os nomes e endereços dos consumidores que assinaram, nos anos de 2012 e 2013, de forma
simultânea (ou sucessiva), contrato de empréstimo bancário e contrato de seguro de vida.

O magistrado deverá deferir o pedido doMinistério Público?


NÃO.
Quebra do sigilo
Fornecer a informação de quem contratou com o banco genericamente resulta em quebra não autorizada do sigilo bancário dos
clientes que sequer participam diretamente da ação judicial.
Os dados cadastrais dos clientes são abrangidos pela proteção do sigilo bancário, nos termos do que preconiza o art. 1º, da LC
105/2001.
Muito embora não se trate de proteção absoluta, as limitações impostas ao dever legal de sigilo devem ser interpretadas de forma
restritiva e sempre com muita prudência.

Ministério Público, mesmo gozando de legitimidade extraordinária, não pode decidir sobre o sigilo do consumidor
É certo que o próprio consumidor pode afastar o sigilo, ou seja, ele mesmo poderia requerer judicialmente as informações
bancárias a seu respeito e o banco não poderia recusar.
Por outro lado, não se pode aceitar que o Ministério Público, ainda que atuando sob o pálio da legitimidade extraordinária, queira
afastar uma garantia personalíssima dos consumidores requerendo a divulgação irrestrita de dados protegidos.
Ainda que o intuito declarado pelo Parquet seja tão somente o de colher provas que demonstrem a realização de venda casada,
não se pode aceitar tamanha invasão indiscriminada à intimidade do consumidor.

Direitos individuais homogêneos


Deve-se ainda ter em mente que a pretensão veiculada na presente demanda tem por objetivo a tutela de direitos individuais
homogêneos – direitos acidentalmente coletivos – atuando o Ministério Público como mero substituto processual das vítimas da
conduta abusiva.

Desse modo, enquanto legitimado extraordinário, não lhe é dado atuar de forma dispositiva, abrindo mão de interesses
personalíssimos, em nome de quem é por ele substituído na demanda.

Para ser beneficiada pela sentença favorável da ação coletiva proposta por associação é necessário que a pessoa esteja
filiada no momento da propositura e seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador
Resumo do julgado
A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa
de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em
momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do processo de
conhecimento.
STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).

Sobre o mesmo tema, veja também: STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746).

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS


As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados?
SIM. A CF/88 autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e interesses individuais e
coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).

A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus interesses?
SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham sido expressamente autorizadas. Veja:
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;

Qual é a amplitude da locução “expressamente autorizadas”? Essa autorização pode ser genericamente prevista no estatuto
ou deverá ser uma autorização para cada ação a ser proposta?
Para o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na
defesa de direitos de seus filiados.
Assim, para cada ação a ser proposta é indispensável que os filiados forneçam uma autorização de forma expressa e específica.

Exemplo:
A Associação do Ministério Público de Santa Catarina (ACMP) ajuizou ação pedindo o pagamento de determinada verba aos
seus filiados. Acompanhando a petição inicial, a ACMP juntou declarações de diversos associados autorizando que fosse
proposta a ação.
O pedido foi julgado procedente e transitou em julgado.
Diante disso, vários Promotores de Justiça ingressaram com execuções individuais cobrando a gratificação reconhecida na
sentença.
Ocorre que o juiz somente aceitou a execução proposta pelos filiados que haviam autorizado expressamente o ajuizamento da
ação. Quanto aos associados que não assinaram a autorização, a execução não foi conhecida pelo juiz sob o argumento de que os
efeitos da sentença judicial transitada em julgado somente alcançam os associados (no caso, Promotores) que, na data da
propositura da ação de conhecimento, autorizaram expressamente que a associação ingressasse com a demanda. Em suma, para o
magistrado, somente tem direito de executar a decisão os filiados que autorizaram a propositura da ação.
A decisão do magistrado está de acordo com a jurisprudência do STF
O tema foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido firmada a seguinte tese:
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando previsão
genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados.
As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela representação no
processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746).

O art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 9.494/97 corrobora essa exigência:


Art. 2º-A. (...)
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e
fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembleia da entidade associativa que a
autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços.

Como deverá ser feita essa autorização?


A autorização poderá ser manifestada:
• por declaração individual do associado; ou
• por aprovação na assembleia geral da entidade.

Essa autorização é um traço que distingue a legitimidade das entidades associativas (art. 5º, XXI) em relação à legitimidade das
entidades sindicais (art. 8º, III):
Ação coletiva proposta por ASSOCIAÇÃO Ação coletiva proposta por ENTIDADES SINDICAIS
Art. 5º (...) Art. 8º (...)
XXI - as entidades associativas, quando expressamente III — ao sindicato cabe a defesa dos direitos e
autorizadas, têm legitimidade para representar seus interesses coletivos ou individuais da categoria,
filiados judicial ou extrajudicialmente; inclusive em questões judiciais ou administrativas;
A associação atua como representante processual (atua O sindicato atua como substituto processual (em nome
em nome dos associados). próprio defendendo direito alheio).
A associação precisa da autorização dos associados O sindicato não precisa da autorização dos membros da
para propor a ação coletiva na defesa de seus categoria (trabalhadores) para propor a ação coletiva na
interesses. defesa de seus interesses.
A associação é obrigada a apresentar a relação nominal O sindicato não precisa apresentar a relação nominal
dos associados que autorizaram a demanda juntamente dos substituídos juntamente com a petição inicial da
com a petição inicial da ação proposta. ação proposta.

A regra acima exposta apresenta alguma exceção? A associação precisará da autorização expressa para toda e qualquer
ação a ser proposta?
Existem duas exceções:
Exceção 1: mandado de segurança coletivo.
No caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de autorização específica dos filiados. Veja o
que diz a CF/88:
Art. 5º (...)
LXX — o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
(...)
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados;

Existe, inclusive, uma súmula tratando a respeito:


Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da
autorização destes.

Exceção 2: mandado de injunção coletivo.


No caso de impetração de mandado de injunção coletivo, a associação também não precisa de autorização específica dos
filiados. Veja o que diz a Lei nº 13.300/2016:
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:
(...)
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1
(um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros
ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial;

Quadro-resumo:

AS ASSOCIAÇÕES PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO ESPECÍFICA DE SEUS FILIADOS


PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÕES EM DEFESA DESTES?

Regra geral: SIM


A autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação
em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Para cada ação, é indispensável que os filiados
autorizem, de forma expressa e específica, a demanda.
O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige autorização expressa.
Trata-se de hipótese de legitimação processual (a associação defende, em nome dos filiados, direito
dos filiados que autorizaram).

EXCEÇÃO 1: MS coletivo EXCEÇÃO 2: MI coletivo


Fundamento: o inciso LXX do art. 5º da CF/88 Fundamento: o art. 12, III, da Lei nº 13.300/2016
NÃO exige autorização expressa. afirma expressamente que o mandado de injunção
coletivo pode ser promovido pela associação,
dispensada, para tanto, autorização especial.

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS ATUAIS E FUTUROS:
IMPOSSIBILIDADE
A associação dos Auditores Fiscais ajuizou ação coletiva pedindo que a União fosse condenada a pagar a gratificação "X" a
todos os Auditores filiados à associação, bem como àqueles que vierem a se associar até o momento da execução do título
judicial. Esse pedido poderá ser conhecido?
NÃO.
A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que vierem a se agregar somente após
o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/3/2016 (Info 579).

Conforme foi definido pelo STF, “as balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é
definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada
à inicial.” (STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 14/5/2014. Info 746).
Em palavras mais simples, no momento em que a associação ajuíza a demanda, ela deverá juntar aos autos autorização expressa
dos associados para a propositura dessa ação e uma lista com os nomes de todos as pessoas que estão associadas naquele
momento.
A associação não tem legitimidade ativa para defender os direitos de pessoas que, depois da propositura da ação, vierem a se
agregar à entidade.
Caso a ação seja julgada procedente, o título executivo irá beneficiar apenas os associados cujos nomes estão na lista de filiados
juntada com a petição inicial. Só essas pessoas é que poderão executar o título.
Em suma, as pessoas que se filiarem à associação em momento posterior à data do ajuizamento da ação e que, por esse motivo,
não constaram da relação de nomes anexada à inicial da demanda, não são alcançadas e beneficiadas pela eficácia da coisa
julgada.

Por que?
A enumeração dos associados até o momento imediatamente anterior ao do ajuizamento se presta à observância do princípio do
devido processo legal, inclusive sob o enfoque da razoabilidade. Por meio dela, presente a relação nominal, é que se viabiliza o
direito de defesa, o contraditório e a ampla defesa

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO SOMENTE ALCANÇA OS FILIADOS RESIDENTES NO ÂMBITO
DA JURISDIÇÃO DO ÓRGÃO JULGADOR
Imagine a seguinte situação hipotética:
A Associação dos Servidores da Justiça Federal da 4ª Região ajuizou uma ação coletiva pedindo que a União pagasse a
gratificação “X” para os integrantes da carreira.
A ação foi proposta originalmente perante a Justiça Federal de 1ª instância de Curitiba.
O juiz julgou a ação procedente determinando que a União pague a gratificação.
Suponhamos que houve o trânsito em julgado.

Essa decisão irá beneficiar todos os servidores da Justiça Federal da 4ª Região (que abrange os Estados do RS, SC e PR)?
NÃO. A sentença terá eficácia apenas para os associados que, no momento do ajuizamento da ação, tinham domicílio no âmbito
da competência territorial do órgão prolator da decisão. Isso está previsto no caput do art. 2º-A da Lei nº 9.494/97:
Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e
direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito
da competência territorial do órgão prolator.

Assim, neste exemplo, a decisão irá beneficiar apenas os servidores que, na data da propositura da ação, tinham domicílio em
Curitiba (âmbito da competência territorial do órgão prolator).

Esse art. 2º-A da Lei nº 9.494/97 é constitucional?


SIM. O STF, no julgamento do RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017, declarou a constitucionalidade
do art. 2º-A da Lei nº 9.494/97. Veja:
A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na
defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador,
que o fossem em momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à
inicial do processo de conhecimento.
STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).

DECISÃO DO STF NO RE 612043/PR É RESTRITA ÀS AÇÕES COLETIVAS DE RITO ORDINÁRIO


Se você reparar no texto acima, até agora não falei sobre ação civil pública. O que eu expliquei foi sobre ação coletiva, de rito
ordinária, proposta por associação civil na defesa dos interesses dos seus associados.
Vou falar agora sobre ação civil pública.
Eficácia subjetiva da ação civil pública
Falar em “eficácia subjetiva” significa estudarmos “para quem” a sentença proferida na ACP produz efeitos, isto é, as pessoas
que são atingidas juridicamente pelo que foi decidido.
O art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) estabelece o seguinte:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o
pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494/97)
Esse artigo foi alterado pela Lei nº 9.494/97, com o objetivo de restringir a eficácia subjetiva da coisa julgada, ou seja, ele
determinou que a coisa julgada na ACP deveria produzir efeitos apenas dentro dos limites territoriais do juízo que prolatou a
sentença.
Em outras palavras, o que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação civil pública não produz efeitos no Brasil
todo. Ela irá produzir efeitos apenas na comarca (se for Justiça Estadual) ou na seção ou subseção judiciária (se for Justiça
Federal) do juiz prolator.
A doutrina critica bastante a existência do art. 16 e afirma que ele não deve ser aplicado por ser inconstitucional, impertinente e
ineficaz.
Resumo das principais críticas ao dispositivo (DIDIER, Fredie; ZANETI, Hermes):
• Gera prejuízo à economia processual e pode ocasionar decisões contraditórias entre julgados proferidos em Municípios ou
Estados diferentes;
• Viola o princípio da igualdade por tratar de forma diversa os brasileiros (para uns irá "valer" a decisão, para outros não);
• Os direitos coletivos “lato sensu” são indivisíveis, de forma que não há sentido que a decisão que os define seja separada por
território;
• A redação do dispositivo mistura “competência” com “eficácia da decisão”, que são conceitos diferentes. O legislador
confundiu, ainda, “coisa julgada” e “eficácia da sentença”;
• O art. 93 do CDC, que se aplica também à LACP, traz regra diversa, já que prevê que, em caso de danos nacional ou regional, a
competência para a ação será do foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, o que indica que essa decisão valeria, no
mínimo, para todo o Estado/DF.

Para o STJ, o art. 16 da LACP é válido? A decisão do juiz na ação civil pública fica restrita apenas à comarca ou à seção (ou
subseção) judiciária do juiz prolator?
NÃO.
A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada ao território da competência
do órgão jurisdicional que prolatou a decisão.
STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.

Interessante também transcrever trecho do voto do brilhante Min. Luis Felipe Salomão, no REsp 1.243.887/PR (STJ. Corte
Especial, julgado em 19/10/2011):
“A bem da verdade, o art. 16 da LACP baralha conceitos heterogêneos - como coisa julgada e competência territorial - e
induz a interpretação, para os mais apressados, no sentido de que os "efeitos" ou a "eficácia" da sentença podem ser
limitados territorialmente, quando se sabe, a mais não poder, que coisa julgada - a despeito da atecnia do art. 467 do
CPC - não é "efeito" ou "eficácia" da sentença, mas qualidade que a ela se agrega de modo a torná-la "imutável e
indiscutível".
É certo também que a competência territorial limita o exercício da jurisdição e não os efeitos ou a eficácia da sentença,
os quais, como é de conhecimento comum, correlacionam-se com os "limites da lide e das questões decididas" (art. 468,
CPC) e com as que o poderiam ter sido (art. 474, CPC) - tantum judicatum, quantum disputatum vel disputari debebat.
A apontada limitação territorial dos efeitos da sentença não ocorre nem no processo singular, e também, como mais
razão, não pode ocorrer no processo coletivo, sob pena de desnaturação desse salutar mecanismo de solução plural das
lides.
A prosperar tese contrária, um contrato declarado nulo pela justiça estadual de São Paulo, por exemplo, poderia ser
considerado válido no Paraná; a sentença que determina a reintegração de posse de um imóvel que se estende a
território de mais de uma unidade federativa (art. 107, CPC) não teria eficácia em relação a parte dele; ou uma sentença
de divórcio proferida em Brasília poderia não valer para o judiciário mineiro, de modo que ali as partes pudessem ser
consideradas ainda casadas, soluções, todas elas, teratológicas.
A questão principal, portanto, é de alcance objetivo ("o que" se decidiu) e subjetivo (em relação "a quem" se decidiu),
mas não de competência territorial.”

Resumindo:
O art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) estabelece o seguinte:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se
o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar
outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494/97)
O que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação civil pública não produz efeitos no Brasil todo. Ela irá
produzir efeitos apenas na comarca (se for Justiça Estadual) ou na seção ou subseção judiciária (se for Justiça Federal)
do juiz prolator.
Para o STJ, o art. 16 da LACP é válido? A decisão do juiz na ação civil pública fica restrita apenas à comarca ou à seção
(ou subseção) judiciária do juiz prolator?
NÃO. A posição que prevalece atualmente é a seguinte:
A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada ao território da competência
do órgão jurisdicional que prolatou a decisão.
STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.

Logo depois que saiu a decisão do STF no RE 612043/PR, muita gente ficou com dúvidas e pensou que o acórdão do
Supremo seria contrário ao entendimento do STJ a respeito do art. 16 da LACP. Essa leitura é correta? A decisão do STF no
RE 612043/PR contraria o entendimento do STJ a respeito do art. 16 da LACP?
NÃO.
O entendimento do STF no RE 612043/PR só se aplica para ações coletivas de rito ordinário.
Durante os debates os Ministros afirmaram que a tese definida no RE 612043/PR não se aplica para:
• Ações Civil Públicas regidas pela Lei nº 7.347/85; e
• Ações Coletivas do CDC.
Com isso, não há incompatibilidade entre a tese do RE 612043/PR com o entendimento do STJ a respeito do art. 16 da LACP.
A dúvida foi tamanha que houve embargos de declaração e o STF teve que reafirmar isso nos embargos: a tese definida no RE
612043/PR vale unicamente para as ações coletivas de rito ordinário, não sendo aplicada para as ações civis públicas.

CONCLUSÕES
A partir de tudo que foi exposto, podemos elencar as seguintes conclusões:
1) As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados.
2) A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus interesses.
3) A autorização dada pelos associados precisa ser expressa e específica para cada ação. Assim, não é suficiente a autorização
genericamente prevista no estatuto da associação.
4) Essa autorização pode ser feita de duas formas:
a) por declaração individual do associado; ou
b) por aprovação na assembleia geral da entidade.

5) Vale ressaltar que, no caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de autorização
específica dos filiados (Súmula 629-STF).
6) Para que seja beneficiada pela sentença favorável obtida na ação coletiva proposta pela associação é necessário que a pessoa:
a) esteja filiada à associação no momento da propositura;
b) seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador;
c) tenha autorizado o ajuizamento da ação e seu nome esteja na lista anexada junto à petição inicial.
7) O art. 2-A da Lei nº 9.494/97 é constitucional.
8) Essas sete conclusões expostas valem unicamente para as ações coletivas de rito ordinário, não sendo aplicadas para as ações
civis públicas.

A eficácia da decisão proferida em ACP não fica limitada ao território do juízo prolator da decisão
Resumo do julgado
O art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) estabelece o seguinte:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o
pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494/97)
O que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação civil pública não produz efeitos no Brasil todo. Ela irá
produzir efeitos apenas na comarca (se for Justiça Estadual) ou na seção ou subseção judiciária (se for Justiça Federal) do juiz
prolator.
Para o STJ, o art. 16 da LACP é válido? A decisão do juiz na ação civil pública fica restrita apenas à comarca ou à seção (ou
subseção) judiciária do juiz prolator?
NÃO. A posição que prevalece atualmente é a seguinte:
A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada ao território da competência do
órgão jurisdicional que prolatou a decisão.
STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.

Os efeitos da sentença proferida em ação civil pública versando direitos individuais homogêneos em relação consumerista
operam-se erga omnes para além dos limites da competência territorial do órgão julgador, isto é, abrangem todo o território
nacional, beneficiando todas as vítimas e seus sucessores, já que o art. 16 da Lei nº 7.347/85 deve ser interpretado de forma
harmônica com as demais normas que regem a tutela coletiva de direitos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1594024/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018.

Falar em “eficácia subjetiva” significa estudarmos “para quem” a sentença proferida na ACP produz efeitos, isto é, as pessoas
que são atingidas juridicamente pelo que foi decidido.
O art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei n.° 7.347/85) estabelece o seguinte:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o
pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494/97)
Esse artigo foi alterado pela Lei nº 9.494/97, com o objetivo de restringir a eficácia subjetiva da coisa julgada, ou seja, ele
determinou que a coisa julgada na ACP deveria produzir efeitos apenas dentro dos limites territoriais do juízo que prolatou a
sentença.
Em outras palavras, o que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação civil pública não produz efeitos no Brasil
todo. Ela irá produzir efeitos apenas na comarca (se for Justiça Estadual) ou na seção ou subseção judiciária (se for Justiça
Federal) do juiz prolator.
A doutrina critica bastante a existência do art. 16 e afirma que ele não deve ser aplicado por ser inconstitucional, impertinente e
ineficaz.
Resumo das principais críticas ao dispositivo (DIDIER, Fredie; ZANETI, Hermes):
• Gera prejuízo à economia processual e pode ocasionar decisões contraditórias entre julgados proferidos em Municípios ou
Estados diferentes;
• Viola o princípio da igualdade por tratar de forma diversa os brasileiros (para uns irá "valer" a decisão, para outros não);
• Os direitos coletivos “lato sensu” são indivisíveis, de forma que não há sentido que a decisão que os define seja separada por
território;
• A redação do dispositivo mistura “competência” com “eficácia da decisão”, que são conceitos diferentes. O legislador
confundiu, ainda, “coisa julgada” e “eficácia da sentença”;
• O art. 93 do CDC, que se aplica também à LACP, traz regra diversa, já que prevê que, em caso de danos nacional ou regional, a
competência para a ação será do foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, o que indica que essa decisão valeria, no
mínimo, para todo o Estado/DF.

Para o STJ, o art. 16 da LACP é válido? A decisão do juiz na ação civil pública fica restrita apenas à comarca ou à seção (ou
subseção) judiciária do juiz prolator?
NÃO.
A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada ao território da competência
do órgão jurisdicional que prolatou a decisão.
STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.

Interessante também transcrever trecho do voto do brilhante Min. Luis Felipe Salomão, no REsp 1.243.887/PR (STJ. Corte
Especial, julgado em 19/10/2011):
“A bem da verdade, o art. 16 da LACP baralha conceitos heterogêneos - como coisa julgada e competência territorial - e
induz a interpretação, para os mais apressados, no sentido de que os "efeitos" ou a "eficácia" da sentença podem ser
limitados territorialmente, quando se sabe, a mais não poder, que coisa julgada - a despeito da atecnia do art. 467 do
CPC - não é "efeito" ou "eficácia" da sentença, mas qualidade que a ela se agrega de modo a torná-la "imutável e
indiscutível".
É certo também que a competência territorial limita o exercício da jurisdição e não os efeitos ou a eficácia da sentença,
os quais, como é de conhecimento comum, correlacionam-se com os "limites da lide e das questões decididas" (art. 468,
CPC) e com as que o poderiam ter sido (art. 474, CPC) - tantum judicatum, quantum disputatum vel disputari debebat.
A apontada limitação territorial dos efeitos da sentença não ocorre nem no processo singular, e também, como mais
razão, não pode ocorrer no processo coletivo, sob pena de desnaturação desse salutar mecanismo de solução plural das
lides.
A prosperar tese contrária, um contrato declarado nulo pela justiça estadual de São Paulo, por exemplo, poderia ser
considerado válido no Paraná; a sentença que determina a reintegração de posse de um imóvel que se estende a
território de mais de uma unidade federativa (art. 107, CPC) não teria eficácia em relação a parte dele; ou uma sentença
de divórcio proferida em Brasília poderia não valer para o judiciário mineiro, de modo que ali as partes pudessem ser
consideradas ainda casadas, soluções, todas elas, teratológicas.
A questão principal, portanto, é de alcance objetivo ("o que" se decidiu) e subjetivo (em relação "a quem" se decidiu),
mas não de competência territorial.”
A posição acima explicada é a mais recente e atualizada do STJ.

Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao
consumidor sobre produtos com glúten
Resumo do julgado
Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado
pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85).
Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública quando o bem
jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1600172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Quem são os legitimados para propor ação civil pública?


O rol dos legitimados para a ACP está previsto no art. 5º da Lei nº 7.347/85:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.

Requisito da pré-constituição
REGRA: como vimos acima, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo menos 1 ano.
EXCEÇÃO: este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº
7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e
julgada.

Imagine agora a seguinte situação:


Determinada associação de defesa do consumidor ajuizou ACP contra uma rede de lanchonetes requerendo que ela fosse
obrigada a informar, nas embalagens e rótulos de seus produtos, sempre que houvesse a presença de glúten na composição. Isso
com o objetivo de garantir a segurança dos portadores da doença celíaca.
O juiz extinguiu a ação sem resolução do mérito afirmando que a associação autora não era parte legítima, já que não cumpriu o
requisito do art. 5º, V, "a", da Lei nº 7.347/85 (pré-constituição há pelo menos 1 ano).
A associação interpôs recurso contra a decisão e o tema chegou até o STJ.

A decisão do juiz foi correta, segundo o STJ?


NÃO. O STJ entendeu que o juiz deveria ter dispensado o requisito temporal de 1 ano da associação, considerando que está
presente no caso o interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela relevância do bem jurídico tutelado.
É fundamental assegurar os direitos de informação e segurança ao consumidor celíaco, que se vê forçado a seguir uma dieta isenta de
glúten, sob pena de sofrer graves riscos à saúde. Desse modo, a pretensão veiculada na ACP, em última análise, tem por objetivo a
garantia de uma vida digna para esse grupo de pessoas.

Em resumo:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública
quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Uma última pergunta correlata. Suponha que determinada associação, quando propôs a ACP, não tinha ainda 1 ano de
constituição. No entanto, ela completa este tempo no curso do feito, antes que o juiz extinga o processo por ilegitimidade.
Neste caso, a falta desse requisito é suprida? O magistrado poderá continuar com o processo?
SIM. Em observância aos princípios da economia processual e efetividade da jurisdição, deve ser reconhecida a legitimidade
ativa da associação que complete 1 ano de constituição durante o curso do processo (STJ. 3ª Turma. REsp 705.469/MS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2005).

Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfego de veículos pesados no Município


Resumo do julgado
É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que Município proíba máquinas agrícolas e
veículos pesados de trafegarem em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região.
STJ. 2ª Turma. REsp 1294451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info 591).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Promotor de Justiça da comarca "X" ajuizou ação civil pública contra o Município pedindo que este seja
condenado em duas obrigações de fazer:
· impedir que máquinas agrícolas e veículos pesados trafeguem no perímetro urbano; e
· tornar transitável o anel viário da região.

Anel viário, também chamado de rodoanel, é uma estrada construída no perímetro de grandes cidades ligando importantes vias de
circulação de veículos com o objetivo de evitar que o tráfego afete as ruas menores.
De acordo com o Ministério Público, o intenso trânsito de caminhões e máquinas agrícolas no perímetro urbano tem causado
inúmeros acidentes fatais, além de problemas de saúde decorrentes de poeira e poluição sonora, entre outros.
O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito afirmando que a ACP é meio processual inadequado para veicular este tipo
de pretensão. Afirmou que o Poder Judiciário não pode ter ingerência sobre questões relacionadas com políticas públicas, uma
vez que o Poder Público Municipal tem ampla liberdade para eleger as obras prioritárias de seu governo, sob pena de ofensa à
discricionariedade do administrador e ao princípio da separação dos poderes.

Segundo a jurisprudência do STJ, a decisão do magistrado foi correta?


NÃO.
É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que Município proíba máquinas
agrícolas e veículos pesados de trafegarem em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info 591).
Poder Judiciário pode intervir quando a Administração deixa de promover políticas públicas
Os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si (art. 2º da CF/88). O Poder Executivo tem prioridade na
implementação de políticas públicas. No entanto, em termos abstratos, o ordenamento jurídico em vigor permite que o Poder
Judiciário seja chamado a intervir em situações nas quais exista uma ação ou uma omissão ilegítima do administrador público.
Assim, não é vedado ao Poder Judiciário debater o mérito administrativo. Se a Administração deixar de promover políticas
públicas, de proteger hipossuficientes, de garantir o funcionamento dos serviços públicos, haverá vício ou flagrante ilegalidade a
justificar a intervenção judicial (STJ. 2ª Turma. REsp 1176552/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/02/2011).

ACP é o meio próprio de se buscar a implementação de políticas públicas com relevante repercussão social
O STJ tem admitido o debate de políticas públicas no bojo de ações civis públicas propostas pelo MP:
(...) O Ministério Público detém legitimidade ativa para o ajuizamento de ação civil pública que objetiva a implementação de
políticas públicas ou de repercussão social, como o saneamento básico ou a prestação de serviços públicos. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 50.151/RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 03/10/2013.

No caso dos autos, a relevância social é mais que evidente. Há notícia de que o intenso trânsito dos caminhões e máquinas
pesadas no perímetro urbano tem causado acidentes fatais e problemas de saúde aos munícipes. O ordenamento do trânsito de
veículos no perímetro das cidades tem importância central nas sociedades modernas e repercute em inúmeros assuntos de
interesse público.

Lei prevê a ACP como meio para discutir ordem urbanística


O art. 1º, VI e o art. 3º da Lei nº 7.347/85 preveem que a ação civil pública é meio processual adequado para discutir temas
relacionados com a ordem urbanística e para a obtenção de provimento jurisdicional condenatório de obrigação de fazer:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados:
(...)
VI - à ordem urbanística.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Existe precedente do STJ afirmando que a ACP é ação adequada para discutir tema relacionado com a segurança no trânsito:
STJ. 1ª Turma. REsp 725257/MG, Rel. Min. José Delgado, julgado em 10/04/2007.

E quanto ao mérito? A ACP foi julgada procedente?


O mérito ainda não foi examinado. O STJ decidiu apenas que a ACP proposta deverá ser conhecida, considerando que se trata de
meio processual idôneo para veicular este tipo de pretensão.

No mérito, ainda serão discutidas inúmeras outras questões, como por exemplo: saber se o Município dispõe de recursos
suficientes para fazer a obra, se há necessidades ainda mais prementes da população, se existem formas alternativas de
solucionar o problema etc.

Extensão dos efeitos de coisa julgada coletiva a autores de ações individuais não suspensas
Resumo do julgado
Os autores de ações individuais em cujos autos não foi dada ciência do ajuizamento de ação coletiva e que não requereram a
suspensão das demandas individuais podem se beneficiar dos efeitos da coisa julgada formada na ação coletiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1593142-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 7/6/2016 (Info 585).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Os servidores públicos de determinado Estado-membro possuem direito a uma gratificação que não está sendo paga pela
Administração Pública.
Em razão disso, centenas desses servidores ingressaram com ações individuais contra o Estado-membro, pedindo a concessão da
gratificação.
Além disso, a associação dos servidores públicos deste Estado ajuizou uma ação civil pública com o mesmo pedido, ou seja, que
a gratificação seja concedida a todos os servidores integrantes da associação.

O juiz, ao receber a ação coletiva proposta pela associação, poderá determinar a suspensão das ações individuais que estejam
tramitando e que tenham o mesmo objeto?
SIM. Segundo o STJ, ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações
individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva (STJ. 2ª Seção. REsp 1110549/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em
28/10/2009).
Assim, é possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito de ação coletiva,
da questão jurídica de fundo neles discutida, ou seja, até que se decida se a gratificação é devida ou não.

Imaginemos, no entanto, que o juiz recebeu a ação coletiva, mas não determinou a suspensão das ações individuais. O que
acontece neste caso?
Em princípio, a ação coletiva e as ações individuais continuarão tramitando.

Mas não há, neste caso, litispendência?


NÃO. As ações coletivas não induzem (provocam) litispendência para as ações individuais (art. 104 do CDC).
Esse tema é muito cobrado em prova:
(Promotor MS 2015) As ações coletivas que buscam a defesa de direitos difusos e coletivos induzem, como regra, litispendência
para as ações individuais, em decorrência do princípio da segurança jurídica. (ERRADO)

Mas o resultado da ação coletiva irá beneficiar os autores das ações individuais? Suponha que a ação coletiva seja julgada
antes das ações individuais e a sentença seja procedente. Esta decisão poderá ser executada pelos autores das ações
individuais?
Depende. A lei determina o seguinte:
Os autores das ações individuais deverão ser avisados que foi proposta uma ação coletiva com o mesmo pedido.
Depois de serem avisados, os autores individuais terão que fazer uma opção no prazo de 30 dias:
1) Poderão escolher continuar com a ação individual: neste caso, não poderão ser beneficiados com eventual decisão favorável
no processo coletivo.
2) Poderão pedir a suspensão da ação individual: neste caso, os efeitos da coisa julgada produzida na ação coletiva beneficiarão
os autores das ações individuais.
Essa regra está prevista no art. 104 do CDC, que é aplicado a todos os processos coletivos mesmo que não envolvam direito do
consumidor. Assim, apesar de estar no CDC, ela é considerada como norma geral do processo coletivo. Veja o dispositivo:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do parágrafo único do artigo 81, não induzem litispendência para as
ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior
não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da
ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Quem tem o ônus de fazer essa comunicação aos autores individuais de que foi ajuizada uma ação coletiva com o mesmo
pedido?
O réu das ações. Assim, em nosso exemplo, o Estado-membro teria que peticionar em cada uma das ações individuais
informando que foi ajuizada ação coletiva tratando sobre o tema. A partir daí, o autor individual terá o prazo de até 30 dias para
requerer a suspensão do processo individual, nos termos do art. 104 do CDC. Caso não requeira a suspensão, seu processo
individual continua normalmente, mas ele não poderá se beneficiar da sentença coletiva.
E se o réu não fizer essa comunicação?
O processo individual continua a correr normalmente, mas, se for proferida uma decisão favorável no processo coletivo, o autor
individual poderá se beneficiar dela.
Desse modo, se a ação coletiva for julgada procedente e transitar em julgado, o autor individual que não foi comunicado
formalmente pelo réu de que havia sido ajuizada uma ação coletiva, poderá requerer a desistência da ação individual e pedir a
sua habilitação para promover a execução da sentença coletiva.

Em suma, o que decidiu o STJ:


Os autores de ações individuais em cujos autos não foi dada ciência do ajuizamento de ação coletiva e que não
requereram a suspensão das demandas individuais podem se beneficiar dos efeitos da coisa julgada formada na ação
coletiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.593.142-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 7/6/2016 (Info 585).
Ao disciplinar a execução de sentença coletiva, o art. 104 do CDC dispõe que os autores devem requerer a suspensão da ação
individual que veicula a mesma questão em ação coletiva, a fim de se beneficiarem da sentença que lhes é favorável no feito
coletivo. Todavia, compete à parte ré dar ciência aos interessados da existência desta ação nos autos da ação individual,
momento no qual começa a correr o prazo de 30 dias para a parte autora postular a suspensão do feito individual.
Desse modo, constitui ônus do demandado dar ciência inequívoca da propositura da ação coletiva àqueles que propuseram ações
individuais, a fim de que possam fazer a opção pela continuidade do processo individual, ou requerer a sua suspensão para se
beneficiar da sentença coletiva.

Necessidade de demonstração de motivos para a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o MPE e o MPF
Resumo do julgado
Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério Público Estadual e o Federal depende da
demonstração de alguma razão específica que justifique a presença de ambos na lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1254428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2016 (Info 585).

É possível, em tese, que dois Ministérios Públicos ingressem, em conjunto, com uma ação civil pública?
SIM. Apesar de existirem importantes vozes em sentido contrário, a Lei e a jurisprudência admitem o litisconsórcio ativo
facultativo entre Ministérios Públicos. Isso está expressamente previsto no art. 5º, § 5º, da Lei n.° 7.347/85:
§ 5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa
dos interesses e direitos de que cuida esta lei.

O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do Ministério Público da União e os Ministérios Públicos dos Estados, em tese,
é possível, sempre que as circunstâncias do caso recomendem, para a propositura de ações civis públicas que visem à
responsabilização por danos morais e patrimoniais causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico e paisagístico, à ordem econômica e urbanística, bem como a qualquer outro interesse difuso ou
coletivo, inclusive de natureza trabalhista. Essa atuação conjunta deve-se ao cunho social do Parquet e à posição que lhe foi
erigida pelo constituinte (de instituição essencial à função jurisdicional do Estado), incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
O Plenário do STF já reconheceu, em tese, a possibilidade de litisconsórcio entre o MPF e o MPE: ACO 1.020/SP, Rel. Min.
Carmen Lúcia, julgado em 08/10/2008.

Esse litisconsórcio entre os Ministérios Públicos deve ser sempre permitido?


NÃO, nem sempre. O litisconsórcio ativo facultativo entre os ramos do MPU e os MPs dos Estados, em tese, é possível, mas
desde que as circunstâncias do caso recomendem. Assim decidiu o STJ:
Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério Público Estadual e o Federal
depende da demonstração de alguma razão específica que justifique a presença de ambos na lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2016 (Info 585).

Assim, se os Ministérios Públicos decidirem ingressar com ação civil pública em litisconsórcio, é indispensável que demonstrem
alguma razão específica que justifique a presença de ambos na lide.
O instituto do litisconsórcio é informado pelos princípios da economia (obtenção do máximo de resultado com o mínimo de
esforço) e da eficiência da atividade jurisdicional. Cada litisconsorte é considerado, em face do réu, como litigante distinto e
deve promover o andamento do feito e ser intimado dos respectivos atos. Nesse contexto, a formação desnecessária do
litisconsórcio poderá, ao fim e ao cabo, comprometer os princípios informadores do instituto, implicando, por exemplo, maior
demora do processo pela necessidade de intimação pessoal de cada membro do Parquet, com prazo específico para manifestação.
Justamente por isso, o litisconsórcio somente deverá ser autorizado quando houver razão para tanto.
Caso concreto no qual o STJ recusou o litisconsórcio entre MPE e MPF
O MPE e o MPF ingressaram, em litisconsórcio, com ação civil pública contra a empresa de TV a cabo pedindo que ela fosse
proibida de cobrar taxa de instalação e mensalidade por ponto extra dos consumidores para quem ela oferece seus serviços
(Estado de Minas Gerais).
O STJ entendeu que como os direitos dos consumidores do Estado de Minas Gerais já estavam devidamente amparados pela
iniciativa do Ministério Público Estadual, não havia interesse específico do Ministério Público Federal que pudesse justificar a
sua presença na lide como litisconsorte ativo facultativo.
Em razão disso, o STJ determinou o afastamento do litisconsórcio ativo entre o MPE e o MPF, devendo permanecer no polo
ativo da ação civil pública apenas o Ministério Público do Estado de Minas Gerais.

Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados


Resumo do julgado
A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que vierem a se agregar somente após o
ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1468734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/3/2016 (Info 579).

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS


As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados?
SIM. A CF/88 autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e interesses individuais e
coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).

A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus interesses?
SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham sido expressamente autorizadas. Veja:
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;

Qual é a amplitude da locução “expressamente autorizadas”? Essa autorização pode ser genericamente prevista no estatuto
ou deverá ser uma autorização para cada ação a ser proposta?
Para o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na
defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser proposta, é indispensável que os filiados a autorizem de forma
expressa e específica.

Vejamos o seguinte exemplo (com adaptações):


A Associação do Ministério Público de Santa Catarina (ACMP) ajuizou ação pedindo o pagamento de determinada verba aos
seus filiados. Acompanhando a petição inicial, a ACMP juntou declarações de diversos associados autorizando que fosse
proposta a ação.
O pedido foi julgado procedente e transitou em julgado.
Diante disso, vários Promotores de Justiça ingressaram com execuções individuais cobrando a gratificação reconhecida na
sentença.
Ocorre que o juiz somente aceitou a execução proposta pelos filiados que haviam autorizado expressamente o ajuizamento da
ação. Quanto aos associados que não assinaram a autorização, a execução não foi conhecida pelo juiz sob o argumento de que os
efeitos da sentença judicial transitada em julgado somente alcançam os associados (no caso, Promotores) que, na data da
propositura da ação de conhecimento, autorizaram expressamente que a associação ingressasse com a demanda. Em suma, para o
magistrado, somente tem direito de executar a decisão os filiados que autorizaram a propositura da ação.

Tese dos associados


Os filiados prejudicados com a decisão recorreram alegando que o estatuto social já autoriza que a associação ingresse com
ações em favor de seus filiados, de forma que não seria necessária uma autorização específica para cada demanda a ser proposta.
Sustentaram que o art. 5º, XXI, da CF/88 não exige que se colha uma autorização individual dos filiados para cada ação ajuizada
pelas associações, sob pena de se esvaziar a atribuição de tais entidades na defesa dos seus membros.
Aduziram, ainda, que a associação atuou na qualidade de substituto processual, razão pela qual não seria necessária a
autorização, considerando que isso já consta expressamente de seu estatuto.

O STF concordou com os argumentos invocados pelos filiados?


NÃO. Segundo decidiu o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua
atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser proposta, é indispensável que os filiados
autorizem de forma expressa e específica a demanda.
Essa é a interpretação que deve ser dada ao inciso XXI do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;

O tema foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido firmada a seguinte tese:
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando previsão
genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados.
As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela representação no
processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
14/5/2014 (Info 746).

Como deverá ser feita essa autorização?


A autorização poderá ser manifestada:
· por declaração individual do associado; ou
· por aprovação na assembleia geral da entidade.

Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade, somente os associados que apresentaram, na
data da propositura da ação de conhecimento, autorizações individuais expressas, puderam executar o título judicial proferido na
ação coletiva.
Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço que distingue a legitimidade das entidades associativas (art. 5º, XXI)
em relação à legitimidade das entidades sindicais (art. 8º, III).

A regra acima exposta apresenta alguma exceção? A associação precisará da autorização expressa para toda e qualquer
ação a ser proposta?
Existem duas exceções:
Exceção 1: mandado de segurança coletivo.
No caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de autorização específica dos filiados. Veja o
que diz a CF/88:
Art. 5º (...)
LXX — o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
(...)
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados;

Existe, inclusive, uma súmula tratando a respeito:


Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da
autorização destes.
Exceção 2: mandado de injunção coletivo.
No caso de impetração de mandado de injunção coletivo, a associação também não precisa de autorização específica dos
filiados. Veja o que diz a Lei nº 13.300/2016:
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:
(...)
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1
(um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros
ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial;
Quadro-resumo:

AS ASSOCIAÇÕES PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO ESPECÍFICA DE SEUS FILIADOS


PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÕES EM DEFESA DESTES?

Regra geral: SIM


A autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação
em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Para cada ação, é indispensável que os filiados
autorizem, de forma expressa e específica, a demanda.
O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige autorização expressa.
Trata-se de hipótese de legitimação processual (a associação defende, em nome dos filiados, direito
dos filiados que autorizaram).

EXCEÇÃO 1: MS coletivo EXCEÇÃO 2: MI coletivo


Fundamento: o inciso LXX do art. 5º da CF/88 Fundamento: o art. 12, III, da Lei nº 13.300/2016
NÃO exige autorização expressa. afirma expressamente que o mandado de injunção
coletivo pode ser promovido pela associação,
dispensada, para tanto, autorização especial.

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS ATUAIS E FUTUROS:
IMPOSSIBILIDADE
A associação dos Auditores Fiscais ajuizou ação coletiva pedindo que a União fosse condenada a pagar a gratificação "X" a
todos os Auditores filiados à associação, bem como àqueles que vierem a se associar até o momento da execução do título
judicial. Esse pedido poderá ser conhecido?
NÃO.
A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que vierem a se agregar somente após
o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/3/2016 (Info 579).

Conforme foi definido pelo STF, "as balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é
definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada
à inicial." (STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 14/5/2014. Info 746).
Em palavras mais simples, no momento em que a associação ajuíza a demanda, ela deverá juntar aos autos autorização expressa
dos associados para a propositura dessa ação e uma lista com os nomes de todos as pessoas que estão associadas naquele
momento.
A associação não tem legitimidade ativa para defender os direitos de pessoas que, depois da propositura da ação, vierem a se
agregar à entidade.
Caso a ação seja julgada procedente, o título executivo irá beneficiar apenas os associados cujos nomes estão na lista de filiados
juntada com a petição inicial. Só essas pessoas é que poderão executar o título.

Compartilhamento no inquérito civil das provas colhidas em investigação criminal mesmo que acobertadas pelo sigilo
Resumo do julgado
É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para serem utilizadas, como prova emprestada, em
inquérito civil público e em outras ações decorrentes do fato investigado. Esse empréstimo é permitido mesmo que as provas
tenham sido obtidas por meio do afastamento ("quebra") judicial dos sigilos financeiro, fiscal e telefônico.
STF. 1ª Turma. Inq 3305 AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 23/2/2016
(Info 815).

Não é possível a repropositura de ação coletiva de direitos individuais homogêneos julgada improcedente, ainda que por
falta de provas
Resumo do julgado
Após o trânsito em julgado de decisão que julga improcedente ação coletiva proposta em defesa de direitos individuais
homogêneos, independentemente do motivo que tenha fundamentado a rejeição do pedido, não é possível a propositura de nova
demanda com o mesmo objeto por outro legitimado coletivo, ainda que em outro Estado da federação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1302596-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Imagine a seguinte situação hipotética:


A Associação de Defesa da Saúde ajuizou, na Justiça Estadual de São Paulo, ação civil pública contra a empresa "XXX" pedindo
que ela fosse condenada a indenizar os danos morais e materiais causados aos consumidores que adquiriam o medicamento
"YY", que faria mal ao coração, efeito colateral que teria sido omitido pela fabricante. Trata-se, portanto, de demanda
envolvendo direitos individuais homogêneos.
O pedido foi julgado improcedente em 1ª instância sob o argumento de que a autora não conseguiu provar o alegado
(insuficiência de prova). Houve apelação para o TJSP, que manteve a sentença. A associação não recorreu contra o acórdão, que
transitou em julgado.
Seis meses depois, a Associação Fluminense de Defesa do Consumidor propôs, na Justiça Estadual do Rio de Janeiro, ação civil
pública com o mesmo objeto, ou seja, pedindo a condenação da empresa por danos morais e materiais pela venda do
medicamento.
O juiz extinguiu a demanda sem resolução do mérito acolhendo a preliminar de coisa julgada, diante do fato de o Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo ter julgado ação civil pública idêntica à presente.
A associação recorreu contra a decisão do juiz afirmando que só haveria coisa julgada se a primeira ação coletiva tivesse sido
julgada procedente. Como foi julgada improcedente, não haveria coisa julgada. Para tanto, ela fundamentou seu recurso no art.
103, III, do CDC:
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada:
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do
inciso III do parágrafo único do artigo 81.
Obs: o inciso III do parágrafo único do art. 81 trata sobre os direitos individuais homogêneos.

A tese da associação está correta? É possível a repropositura da demanda ainda que a ação coletiva já tenha sido julgada
improcedente em outro Estado por falta de provas?
NÃO.
Após o trânsito em julgado de decisão que julga improcedente ação coletiva proposta em defesa de direitos individuais
homogêneos, independentemente do motivo que tenha fundamentado a rejeição do pedido, não é possível a propositura
de nova demanda com o mesmo objeto por outro legitimado coletivo, ainda que em outro Estado da federação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.302.596-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Art. 103, III, do CDC


Realmente, uma leitura precipitada do inciso III do art. 103 do CDC poderia levar à equivocada conclusão de que apenas em
caso de procedência da ação coletiva seria proibida a nova propositura de ação coletiva idêntica. Esta, contudo, não é a
interpretação dada pelo STJ.
O inciso III deve ser lido em conjunto com o § 2º, que estabelece:
§ 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no
processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

Interpretando o inciso III em conjunto com o § 2º do art. 103, o STJ chegou à seguinte conclusão:
1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada PROCEDENTE: a sentença fará coisa
julgada erga omnes e qualquer consumidor pode se habilitar na liquidação e promover a execução, provando o dano sofrido.
2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada IMPROCEDENTE (não importa o motivo):
2.a) os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo coletivo como litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão
propor ação de indenização a título individual. Ex: os consumidores do medicamento que não tiverem atendido ao chamado do
art. 94 do CDC e não tiverem participado da primeira ação coletiva poderão ajuizar ações individuais de indenização contra a
empresa.
2.b) não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro legitimado coletivo (não importa se ele participou ou
não da primeira ação; não pode nova ação coletiva).
Veja o que a doutrina diz sobre o tema:
"(...) A diferença de redação entre os incisos I e II, do art. 103 e o inciso III, do mesmo art. 103, reside em que, nas duas
primeiras hipóteses, admite-se que, se julgada improcedente por insuficiência de provas e em face de nova prova, que ocorra
repropositura da ação coletiva pela inocorrência de coisa julgada, o que não se passa com o caso do inciso III, do art. 103.
(...)
No caso de improcedência, independentemente do fundamento respectivo, portanto, é possível que os interessados (que não
tenham intervindo no processo) movam a sua ação individual, pois o fim objetivado no art. 103, inciso III e no art. 103,
parágrafo segundo, é o de beneficiar tais interessados. Neste caso, a coisa julgada só atinge os legitimados de que trata o art. 82
(e, os que foram litisconsortes) na precedente ação coletiva, mas cujo poder de convicção tenha sido, nesta sede, tido como
insuficiente.
(...)
Problema que se coloca é o de que este inciso III aludindo a que no caso de procedência haverá coisa julgada 'erga omnes',
suscita a questão consistente em se saber se, no caso de improcedência, não haveria coisa julgada, sequer para ação coletiva
idêntica; e, portanto, se seria viável a repropositura da mesma ação coletiva. Ora, o parágrafo segundo, do art. 103 do Código de
Proteção e Defesa do Consumidor, prescreve que só os interessados que não intervierem, como litisconsortes, podem mover ação
individual. Isto parece conduzir à conclusão de que é inviável a mesma ação coletiva, para a mesma finalidade, com ou sem nova
prova.
O texto do art. 103, inciso III, se linguisticamente lido, poderia suscitar dúvida. Isto porque se aí se diz que há coisa julgada 'erga
omnes', apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas..., poder-se-ia, 'a contrario sensu', concluir
que, no caso de improcedência (já que o objetivo seria 'apenas' o de beneficiar), inocorreria coisa julgada em relação à ação
coletiva. Isto conduziria à implicação - se assim fosse - de que a mesma ação coletiva poderia ser novamente movida. Como a
conclusão é dogmaticamente inaceitável e, tendo-se presente que, quando o legislador quis (e, o fez nos termos em que o quis)
excluir a ocorrência de coisa julgada, o fez claramente (incisos I e II, deste art. 103), deve-se entender que há sempre coisa
julgada.
Para se explicar então o 'erga omnes', há de se entender a expressão com o sentido de que, se procedente, o benefício se estende a
todos ou seja, todos os que são titulares de interesses ou direitos homogêneos. Mas, se improcedente, há coisa julgada, mas
tomada, agora a expressão somente com o sentido de se referir ao(s) legitimado(s) que atuaram no processo, ou que nesse
poderiam tê-lo feito também (i.e., os do art. 82)". (ARRUDA ALVIM. Código do consumidor comentado. 2ª ed. São Paulo: RT,
1995, p. 467-471)

Quadro-resumo:
SENTENÇA DIFUSOS COLETIVOS INDIVIDUAIS HOMOG

Fará coisa julgada Fará coisa julgada Fará coisa julgada


PROCEDENTE
erga omnes. ultra partes. erga omnes.

Fará coisa julgada Fará coisa julgada


Impede nova ação
erga omnes. ultra partes. coletiva.
IMPROCEDENTE COM Impede nova ação Impede nova ação O lesado pode propor ação
EXAME DAS PROVAS coletiva. coletiva. individual se não
participou da ação
O lesado pode propor ação O lesado pode propor ação
coletiva.
individual. individual.

IMPROCEDENTE POR Não fará coisa julgada


FALTA DE PROVAS Não fará coisa julgada erga omnes. Impede nova ação
coletiva.
erga omnes. Qualquer legitimado pode
propor nova ação coletiva, O lesado pode propor ação
Qualquer legitimado pode
desde que haja prova individual se não
propor nova ação coletiva,
nova. participou da ação
desde que haja prova
coletiva.
nova.
Afastamento da presunção de legitimidade de associação para propositura de ação coletiva
Resumo do julgado
É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente constituída para propositura de ação
coletiva?
SIM. Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada de forma indevida ou abusiva, o magistrado
poderá, de ofício, afastar a presunção legal de legitimação de associação regularmente constituída para propositura de ação
coletiva.
A legitimidade de uma associação para a propositura de ACP pode ser afastada pelo fato de o estatuto da associação ser
exageradamente genérico?
SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico tem respaldo na jurisprudência do STJ.
Embora a finalidade da associação, prevista no estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser, entretanto,
desarrazoada, sob pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse, o que desnaturaria a
exigência de representatividade adequada do grupo lesado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1213614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2015 (Info 572).
Imagine a seguinte situação adaptada:
Determinada associação propôs ação civil pública supostamente defendendo interesses difusos de consumidores.
O juiz, de ofício, sem ouvir a ré, indeferiu a petição inicial e extinguiu a ação sem resolução do mérito.
Segundo a decisão, existem algumas associações, como seria o caso da autora, que ingressam com diversas ações coletivas,
valendo-se da isenção das custas (art. 18 da Lei nº 7.347/85; art. 87 do CDC), buscando indenizações milionárias. Caso
consigam ter sucesso, procuram pessoas pela internet para ingressarem com execuções, recebendo honorários por esse serviço.
Essas ações foram denominadas de "pseudo ações coletivas", considerando que tais entidades possuem pouquíssimos associados
e essas associações são chamadas de "associações de gaveta".
Além disso, outro argumento invocado para negar legitimidade à autora foi o fato de que o estatuto da associação, ao tratar sobre
suas finalidades, é excessivamente genérico. Com efeito, essa associação afirma que possui por finalidade defender o patrimônio
público e social, o meio ambiente, o consumidor, a honra e a dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, a ordem
urbanística, os bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Recurso da associação
A autora recorreu da decisão alegando que a Lei nº 7.347/85 prevê, em seu art. 5º, V, apenas dois requisitos para que uma
associação possa ajuizar ação civil pública:
a) que ela esteja constituída há pelo menos 1 ano;
b) que ela inclua, entre as suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à
livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.
Logo, como a autora preenchia esses requisitos, não poderia o juiz ter negado a sua legitimidade.

Agiu corretamente o juiz? É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente constituída
para propositura de ação coletiva?
SIM.
Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada de forma indevida ou abusiva, o magistrado
poderá, de ofício, afastar a presunção legal de legitimação de associação regularmente constituída para propositura de
ação coletiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2015 (Info 572).

Presunção de legitimidade das associações


Primeiramente, é preciso fazer um registro histórico: o anteprojeto que deu origem à Lei nº 7.347/85, com inspiração no direito
norte-americano, previa que o juiz, em todo caso concreto, deveria verificar se a associação possuía representatividade adequada
(adequacy of representation). Em outras palavras, o projeto afirmava que o magistrado iria analisar, para aquela situação, se a
associação seria legitimada. Essa proposta não prevaleceu e o legislador optou por indicar apenas dois quesitos objetivos
(constituição há pelo menos 1 ano + finalidade institucional).
Assim, pode-se dizer que o legislador estabeleceu uma presunção de que as associações, desde que preenchidos esses dois
requisitos, são sempre legitimadas para propor ACP.
Essa presunção legal, contudo, é relativa (presunção juris tantum). Logo, trata-se de presunção que admite prova em contrário.
No caso analisado, havia concretos indícios (sintomas) de que a associação autora estava utilizando a ACP de forma abusiva
(indevida) e de que ela não teria legitimidade para propor a ação.

Mas o juiz poderia ter decidido isso de ofício (sem provocação)?


SIM. O art. 125, III, do CPC 1973 (art. 139, III, do CPC 2015) estabelece que é poder-dever do juiz, na direção do processo,
prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça.
Com base nisso, é plenamente possível que, excepcionalmente, de modo devidamente fundamentado, o magistrado exerça,
mesmo que de ofício, o controle de idoneidade (adequação da representatividade) para aferir/afastar a legitimação ad causam de
associação.

Veja o que diz a doutrina sobre o tema:


"(...) Por isso, a adequação da representatividade dos legitimados para a ação civil pública é presumida por lei, e não cabe, em
princípio, ao magistrado proceder ao exame deste requisito nos casos específicos.
Em algumas hipóteses, porém, a realidade tem demonstrado sintomas de que a legitimação coletiva não se presta ao fundamento
que lhe deu causa, seja em virtude de sua utilização indevida ou abusiva por alguns legitimados, seja face à inaptidão para a
persecução de determinados interesses.
(...)
À luz dessa perspectiva, a presunção de legitimidade adequada dos titulares da ação civil pública não se reveste de caráter
absoluto, podendo ser ilidida sempre que as circunstâncias do caso suscitem dúvidas sobre a idoneidade do ente coletivo para
figurar no pólo ativo da ação. Isso porque, em alguns casos, o ente legalmente previsto como titular da ação civil pública pode
carecer de legitimidade para sua propositura.
Ainda que, em tese, a legitimidade coletiva prevista na lei esteja coerente com a ordem constitucional, pode ocorrer que, aplicada
à hipótese específica, não se verifique a dita harmonia.
(...)
A justiça da tutela jurisdicional coletiva depende da atuação do órgão jurisdicional, cabendo-lhe dosar, sem exageros, a medida
exata da legitimação para agir. Se, de um lado, deve o magistrado abster-se de impor óbices meramente procedimentais aos
representantes adequados dos direitos coletivos, compete-lhe, de outra face, exercer o controle da representatividade com o fito
de impedir a iniciativa de entes desprovidos de capacidade para atuar em defesa do grupo. Do mesmo modo que não seria justo
cercear o acesso à justiça de legitimados dotados de representatividade, também não se poderia permitir que os direitos coletivos
fossem defendidos por entes que desconhecessem os reais interesses da coletividade ou que não estivessem aptos a tutelá-los de
maneira satisfatória." (DIDIER JR., Fredie; MOUTA, José Henrique; MAZZEI, Rodrigo (Coords.). Tutela jurisdicional coletiva:
2ª série. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 173-174)

Por fim, uma última questão: o argumento do juiz de que o estatuto da associação é exageradamente genérico, o que faz com
que ela seja ilegítima, é uma tese aceita pelo STJ?
SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico tem respaldo na jurisprudência do STJ. O
Tribunal já decidiu que, embora a finalidade da associação, prevista no estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser,
entretanto, desarrazoada, sob pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse, o que
desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo lesado. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp
901.936/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16/10/2008.

Termo a quo do prazo prescricional das execuções individuais de sentença coletiva


Resumo do julgado
O prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da sentença coletiva, sendo desnecessária a
providência de que trata o art. 94 da Lei nº 8.078/90 (CDC), ou seja, a publicação de editais convocando eventuais beneficiários.
STJ. 1ª Seção. REsp 1388000-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Og Fernandes, julgado em
26/8/2015 (recurso repetitivo) (Info 580).

Sentença coletiva
Sentença coletiva é aquela proferida em uma ação coletiva.
Se a sentença for condenatória, ela precisará ser executada para satisfazer o direito dos beneficiários.
Ex: uma associação de defesa do consumidor ingressa com ação coletiva contra determinada fabricante de remédios que colocou
em circulação um lote de medicamentos deteriorados. A sentença reconheceu o ato ilícito e condenou a fornecedora a indenizar
os consumidores lesados. Esta sentença precisará ser executada.
Obs: algumas vezes, antes da execução (cumprimento da sentença coletiva) será indispensável realizar a liquidação da sentença.
É o caso do exemplo dado acima (arts. 95 e 97 do CDC).

Qual é o prazo para que ocorra essa execução?


5 anos, nos termos da jurisprudência consolidada do STJ:
No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para ajuizamento da execução individual em pedido de
cumprimento de sentença proferida em Ação Civil Pública.
(STJ. 2ª Seção. REsp 1273643/PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/02/2013)

Qual é o termo inicial deste prazo?


O prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da sentença coletiva.

Necessidade ou não de comunicação aos eventuais beneficiários para que o prazo comece a correr
Surgiu uma tese de que a prescrição da execução da sentença condenatória coletiva somente deveria se iniciar após os eventuais
beneficiários serem comunicados de que houve o trânsito em julgado e que este é favorável a eles.
Assim, deveria haver uma comunicação direta aos beneficiários ou, no mínimo, a publicação de um edital avisando sobre o êxito
da ação, à semelhança do que é previsto no art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

Esta tese foi acolhida pelo STJ? Para que comece a correr o prazo prescricional da execução, é necessário que os eventuais
interessados sejam avisados por meio de edital, nos termos do art. 94 do CDC?
NÃO.
O prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da sentença coletiva, sendo
desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei nº 8.078/90 (CDC).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.388.000-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Og Fernandes, Primeira
Seção, julgado em 26/8/2015 (Info 580).

O STJ entendeu que a tese de que seria necessária nova publicação de edital após o trânsito em julgado não encontra amparo
legal.
O art. 94 do CDC trata sobre a divulgação da notícia da propositura da ação coletiva, para que eventuais interessados possam
intervir no processo ou acompanhar seu trâmite, nada estabelecendo, porém, quanto à divulgação do resultado do julgamento.
Logo, não se pode invocar este dispositivo para sustentar a tese proposta.
Diante disso, o marco inicial do prazo prescricional aplicável às execuções individuais de sentença prolatada em processo
coletivo é contado, ante a inaplicabilidade do art. 94 do CDC, a partir do trânsito em julgado da sentença coletiva.
Note-se, ainda, que o art. 96 do CDC, que previa que "transitada em julgado a sentença condenatória, será publicado edital (...)",
foi vetado pelo Presidente da República, de forma que não se pode pretender, por meio de interpretação, derrubar o veto
presidencial ou, eventualmente, corrigir erro formal porventura existente na norma.
Assim, em que pese o caráter social que se busca tutelar nas ações coletivas, não se afigura possível suprir a ausência de previsão
legal quanto à ampla divulgação midiática do teor da sentença, sem romper a harmonia entre os Poderes.

Legitimidade do MP para propor ACP objetivando a liberação de saldo de contas PIS/PASEP


Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública objetivando a liberação do saldo de contas PIS/PASEP, na
hipótese em que o titular da conta — independentemente da obtenção de aposentadoria por invalidez ou de benefício assistencial
— seja incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, bem como na hipótese
em que o próprio titular da conta ou quaisquer de seus dependentes for acometido das doenças ou afecções listadas na Portaria
Interministerial MPAS/MS 2.998/2001.
Esse pedido veiculado diz respeito a direitos individuais homogêneos que gozam de relevante interesse social. Logo, o interesse
tutelado referente à liberação do saldo do PIS/PASEP, mesmo se configurando como individual homogêneo, mostra-se de
relevante interesse à coletividade, tornando legítima a propositura de ação civil pública pelo Ministério Público, visto que se
subsume aos seus fins institucionais.
STJ. 2ª Turma. REsp 1480250-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info 568).
Resumo do julgado
É constitucional lei complementar estadual que afirme que somente o Procurador-Geral de Justiça poderá ajuizar ação civil
pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos, membros do MP ou membros da Magistratura (STF.
Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010).
O PGJ poderá, no entanto, delegar essa atribuição para Promotores de Justiça, sendo, neste caso, legítima a ACP proposta contra
tais autoridades, ainda que por Promotor de Justiça.
STF. 2ª Turma. ARE 706288 AgR/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Impossibilidade de execução individual de sentença coletiva por pessoa não filiada à associação
Resumo do julgado
A associação dos servidores públicos federais do órgão "XX" ajuizou ação coletiva pedindo que fosse reconhecida e paga
determinada gratificação devida à classe. A ação foi julgada procedente, tendo transitado em julgado. João é servidor público
federal do órgão "XX", mas não é nem nunca foi filiado à referida associação. Mesmo sem ser associado, João poderá pegar a
sentença proferida na ação coletiva e ajuizar execução individual cobrando o pagamento das verbas relacionadas com a aludida
gratificação?
NÃO. As associações, quando propõem ações coletivas, agem como REPRESENTANTES de seus associados (e não como
substitutas processuais). Diante dessa mudança de perspectiva, tem-se o seguinte cenário:
• Regra: a pessoa não filiada não detém legitimidade para executar individualmente a sentença de procedência oriunda de ação
coletiva proposta pela associação.
• Exceção: será possível executar individualmente, mesmo se não for associado, se a sentença coletiva que estiver sendo
executada for mandado de segurança coletivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1374678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/6/2015 (Info 565).
Imagine a seguinte situação hipotética:
A associação dos servidores públicos federais do órgão "XX" ajuizou ação coletiva pedindo que fosse reconhecida e paga
determinada gratificação devida à classe.
A ação foi julgada procedente, tendo transitado em julgado.
João é servidor público federal do órgão "XX", mas não é nem nunca foi filiado à referida associação.
Mesmo sem ser associado, João poderá pegar a sentença proferida na ação coletiva e ajuizar execução individual cobrando o
pagamento das verbas relacionadas com a aludida gratificação?
NÃO.
O STJ, a partir do que decidiu o STF no RE 573232/SC (Info 746), vem entendendo que as associações, quando propõem
ações coletivas, agem como REPRESENTANTES de seus associados (e não como substitutas processuais). Diante dessa
mudança de perspectiva, tem-se o seguinte cenário:
· Regra: a pessoa não filiada não detém legitimidade para executar individualmente a sentença de procedência oriunda
de ação coletiva proposta pela associação.
· Exceção: será possível executar individualmente, mesmo se não for associado, se a sentença coletiva que estiver
sendo executada for mandado de segurança coletivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/6/2015 (Info 565).

ACP proposta contra prefeito e previsão na lei estadual de que tal atribuição é privativa do PGJ
Resumo do julgado
É constitucional lei complementar estadual que afirme que somente o Procurador-Geral de Justiça poderá ajuizar ação civil
pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos, membros do MP ou membros da Magistratura (STF.
Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010).
O PGJ poderá, no entanto, delegar essa atribuição para Promotores de Justiça, sendo, neste caso, legítima a ACP proposta contra
tais autoridades, ainda que por Promotor de Justiça.
STF. 2ª Turma. ARE 706288 AgR/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).
Lei Orgânica do MP/MS
A Lei Complementar estadual n.° 72/94 (Lei Orgânica do MP/MS) prevê que somente o Procurador-Geral de Justiça poderá
ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos, membros do MP ou membros da
Magistratura.

Essa previsão é constitucional?


SIM. O STF decidiu que essa previsão é compatível com a CF/88, não havendo nenhuma inconstitucionalidade. Confira a
ementa:
(...) 1. Competência exclusiva do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul para propor a ação civil pública
contra autoridades estaduais específicas.
2. A legitimação para propositura da ação civil pública --- nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição do Brasil --- é do
Ministério Público, instituição una e indivisível.
3. O disposto no artigo 30, inciso X, da LC 72/94, estabelece quem, entre os integrantes daquela instituição, conduzirá o
inquérito civil e a ação civil pública quando a responsabilidade for decorrente de ato praticado, em razão de suas funções, por
determinadas autoridades estaduais.
4. A Lei Complementar objeto desta ação não configura usurpação da competência legislativa da União ao definir as atribuições
do Procurador-Geral. Não se trata de matéria processual. A questão é atinente às atribuições do Ministério Público local, o que,
na forma do artigo 128, § 5º, da CB/88, é da competência dos Estados-membros.
5. A Lei Complementar n. 72, do Estado de Mato Grosso do Sul, não extrapolou os limites de sua competência. Ação Direta de
Inconstitucionalidade julgada improcedente. Cassada a liminar anteriormente concedida.
STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Houve notícia de que Prefeito de uma cidade do interior do Mato Grosso do Sul estava praticando ilegalidades na aplicação das
verbas destinadas à saúde da população local.
Diante disso, o Procurador-Geral de Justiça do Estado do MS editou uma portaria delegando poderes para que o Promotor de
Justiça que atuava na comarca instaurasse inquérito civil e ajuizasse ação civil pública em relação a esses fatos.
Alguns meses depois, o Promotor de Justiça manejou ACP contra o Prefeito e este, em sua defesa, alegou que estava sendo
processado por autoridade incompetente e que a ação seria ilegal porque violaria a legitimidade prevista na LC estadual 72/94.

A tese da defesa deverá ser acolhida?


NÃO. O STF decidiu que a ação seria legal porque é permitido que o Procurador-Geral de Justiça faça delegação de atribuições
a outros membros da instituição, dentre elas a de propor ACP.
Vale ressaltar que existe regra expressa na Lei Orgânica do Ministério Público estadual a permitir essa delegação de poderes
utilizada como fundamento para a edição de portaria voltada para esse fim.

Resumindo:
É constitucional lei complementar estadual que afirme que somente o Procurador-Geral de Justiça poderá ajuizar ação
civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos, membros do MP ou membros da
Magistratura (STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010).
O PGJ poderá, no entanto, delegar essa atribuição para Promotores de Justiça, sendo, neste caso, legítima a ACP
proposta contra tais autoridades, ainda que por Promotor de Justiça.
STF. 2ª Turma. ARE 706288 AgR/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato
Resumo do julgado
O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que adiantar custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será condenado em honorários advocatícios, custas e despesas processuais,
salvo comprovada má-fé.
O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil pública movida por SINDICATO na defesa
de direitos individuais homogêneos da categoria que representa.
STJ. Corte Especial. EREsp 1322166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/3/2015 (Info 558).

Se o Ministério Público, a Defensoria Pública, uma associação ou qualquer outro legitimado for ajuizar uma ação civil
pública, antes de propô-la, esse autor precisará recolher custas processuais?
NÃO. Com o objetivo de facilitar a propositura de ações coletivas, o legislador isentou o autor da ACP de adiantar as custas
processuais afirmando ainda que não haverá condenação em honorários advocatícios, custas e despesas processuais. Isso está
previsto tanto no art. 18 da Lei n.° 7.347/85 como no art. 87 do CDC. Veja:
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas
processuais.

Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorário de advogados, custas e
despesas processuais.

E se o autor for um sindicato? Se um sindicato ajuizar ACP na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que
representa, ele poderá também se valer do art. 18 da Lei n.° 7.347/85?
SIM.
O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que adiantar custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será condenado em honorários advocatícios, custas e despesas
processuais, salvo comprovada má-fé.
O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil pública movida por SINDICATO na
defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/3/2015 (Info 558).

O STJ entende que é cabível o ajuizamento de ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos não apenas
relacionados com matérias de direito do consumidor, mas também em relação a outros direitos. Assim, deve ser reconhecida a
legitimidade do sindicato para ACP em defesa de interesses individuais homogêneos da categoria que representa. Sendo
permitido o ajuizamento de ACP, não há porque não aplicar em favor do sindicato autor o art. 18 da Lei n.° 7.347/85, com a
isenção de custas.

Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC


Resumo do julgado
O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé,
em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
• ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
• ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
• na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros tipos de ação (como a rescisória) ou
para incidentes processuais (como a impugnação ao valor da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).

Determinada associação ajuizou ação civil pública buscando a defesa de direitos dos consumidores. Antes de ajuizar a ação,
essa associação precisará recolher as custas processuais?
NÃO. Com o objetivo de facilitar a propositura de ações coletivas, o legislador isentou o autor da ACP de adiantar as custas
processuais. Isso está previsto tanto no art. 18 da Lei n.° 7.347/85 como no art. 87 do CDC. Veja:
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras
despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas
processuais.
Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorário de advogados, custas e
despesas processuais.
Imagine agora que essa ACP tenha sido julgada improcedente e tenha transitado em julgado. A associação não desiste e
resolve propor uma ação rescisória. Antes de ajuizar a rescisória, a associação precisará recolher as custas processuais?
SIM. O STJ decidiu que não é possível estender a regra de isenção prevista no art. 18 da Lei n.° 7.347/85 (LACP) e no art. 87 da
Lei 8.078/1990 (CDC) para outras ações ou incidentes processuais que não estejam previstos nos referidos artigos. Isso porque a
regra contida nos referidos dispositivos legais – que isenta o autor de ações civis públicas e de ações coletivas do adiantamento
de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas –, por ser regra de isenção tributária, deve ser
interpretada restritivamente (art. 111 do CTN).
As custas judiciais têm natureza tributária (são classificadas como taxas de serviço). Logo, aplica-se a elas a regra do art. 111, II
do CTN:
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:
II - outorga de isenção;

Assim, o STJ entendeu que as regras de isenção dos arts. 18 da LACP e 87 do CDC só se aplicam para as custas judiciais em:
· ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
· ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
· na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível aplicar, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros tipos de ação, como a rescisória, ou para
incidentes processuais (como a impugnação ao valor da causa), mesmo que tratem sobre direito do consumidor.

Retenção de honorários contratuais em execução de demanda coletiva


Resumo do julgado
Na execução de título judicial oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na condição de substituto processual, não é
possível destacar os honorários contratuais do montante da condenação sem que haja autorização expressa dos substituídos ou
procuração outorgada por eles aos advogados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1464567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O sindicato, na condição de substituto processual (defendendo em nome próprio direito alheio), ajuizou ação coletiva contra a
União.
A ação foi julgada procedente e a ré foi condenada a pagar 1 milhão de reais em favor da categoria que o sindicato representa.
A sentença transitou em julgado.
Como não houve pagamento espontâneo, o sindicato, por meio de advogado, ingressou com ação de execução de título judicial.
No pedido de execução, o referido advogado alegou que tinha um contrato assinado entre ele e o sindicato por meio do qual a
entidade sindical se obrigou a lhe pagar R$ 100 mil a título de honorários contratuais. Por conta disso, o causídico juntou o
aludido contrato e pediu que houvesse o destaque desses honorários do precatório, ou seja, que esse valor fosse descontado
daquilo que os substituídos iriam receber da União. Em palavras mais simples, o advogado pediu que a União, ao pagar o débito,
pagasse a ele R$ 100 mil por RPV e para os substituídos os R$ 900 mil restantes por meio de precatório.
O magistrado indeferiu o pedido alegando que não havia autorização expressa dos substituídos ou procuração outorgada por eles
ao advogado.
Agiu corretamente o juiz?
SIM.
Na execução de título judicial oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na condição de substituto processual,
não é possível destacar os honorários contratuais do montante da condenação sem que haja autorização expressa dos
substituídos ou procuração outorgada por eles aos advogados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

O § 4º do art. 22 da Lei n.° 8.906/94 (Estatuto da OAB) traz a seguinte regra:


§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou
precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte,
salvo se este provar que já os pagou.

Assim, nos termos do citado artigo, para que haja a retenção, é imprescindível previsão contratual.
No caso dos sindicatos, ainda que seja ampla sua legitimação extraordinária para defesa de direitos e interesses individuais e/ou
coletivos dos integrantes da categoria que representa, inclusive para liquidação e execução de créditos – nos termos do art. 8º da
CF –, a retenção sobre o montante da condenação do que lhe cabe por força de honorários contratuais só é permitida quando o
sindicato juntar aos autos, no momento oportuno, o contrato respectivo, que deve ter sido celebrado com cada um dos filiados,
ou, ainda, a autorização destes para que haja a retenção. Isso porque o contrato pactuado exclusivamente entre o sindicato e o
advogado não vincula os filiados substituídos, em face da ausência de relação jurídica contratual entre estes e o advogado.

Novo CPC:
O entendimento acima exposto continua válido com o novo CPC?
SIM, porque a decisão foi proferida com base na interpretação do Estatuto da OAB, não tendo o novo CPC alterado a regra do §
4º do art. 22 vista acima.

MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de mutuários do SFH


Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública com a finalidade de defender interesses
coletivos e individuais homogêneos dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem expressão para a coletividade e que o interesse em discussão é
socialmente relevante.
STJ. 3ª Turma. REsp 1114035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 7/10/2014 (Info 552).

ACP pleiteando nulidade de cláusula abusiva e condenação pelos danos causados


Resumo do julgado
I — Em uma mesma ação coletiva, o autor pode formular pedidos relacionados com direitos individuais homogêneos, direitos
coletivos em sentido estrito e direitos difusos. As tutelas pleiteadas em ações civis públicas não são necessariamente puras e
estanques. Não é preciso que se peça, de cada vez, uma tutela referente a direito individual homogêneo, em outra ação uma de
direitos coletivos em sentido estrito e, em outra, uma de direitos difusos, especialmente em se tratando de ação manejada pelo
Ministério Público, que detém legitimidade ampla no processo coletivo.
II — Havendo violação a direitos transindividuais, é cabível, em tese, a condenação por dano moral coletivo que se caracteriza
como uma categoria autônoma de dano e que não está relacionado necessariamente com os tradicionais atributos da pessoa
humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico).
III — No caso concreto julgado, o STJ entendeu que não cabia condenação por dano moral coletivo. Os usuários do Plano de
Saúde “ZZZ” que precisassem de próteses para cirurgias de angioplastia precisavam pagar um valor extra, considerando que
determinada cláusula excluía da cobertura o implante de próteses cardíacas. Essa cláusula é abusiva e ilegal, entretanto, ela não
gerou danos difusos ou coletivos, mas apenas individuais homogêneos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1293606-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/9/2014 (Info 547).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Os usuários do Plano de Saúde “ZZZ” que precisassem de próteses para cirurgias de angioplastia precisavam pagar o valor extra
de R$ 2.500,00 considerando que a cláusula 3.6 das do contrato padrão excluía da cobertura do plano o implante de próteses
cardíacas.
O Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública contra o plano de saúde alegando que a cobrança configurava prática
abusiva e requereu:
1. o pagamento de indenização aos consumidores pelos danos resultantes da negativa de cobertura da prótese cardíaca, cujo
montante deveria ser liquidado em procedimento próprio;
2. a condenação do réu em obrigação de fazer consistente na retirada da citada cláusula excludente;
3. a condenação do réu ao pagamento de R$ 100 mil como dano moral coletivo, valor que deveria ser revertido ao Fundo
Municipal de Direitos do Consumidor.
Repare que o primeiro requerimento diz respeito a direitos individuais homogêneos, o segundo poderia ser classificado como
integrante dos direitos coletivos em sentido estrito e o terceiro abrange direitos difusos. É possível que esses três pedidos
sejam formulados em uma mesma ação coletiva?
SIM. O STJ decidiu que, em uma mesma ação coletiva, podem ser discutidos os interesses dos consumidores que possam ter tido
tratamento de saúde embaraçado com base em determinada cláusula de contrato de plano de saúde, a ilegalidade em abstrato
dessa cláusula e a necessidade de sua alteração em consideração a futuros consumidores do plano de saúde.
As tutelas pleiteadas em ações civis públicas não são necessariamente puras e estanques. Não é preciso que se peça, de cada vez,
uma tutela referente a direito individual homogêneo, em outra ação uma de direitos coletivos em sentido estrito e, em outra, uma
de direitos difusos, notadamente em se tratando de ação manejada pelo Ministério Público, que detém legitimidade ampla no
processo coletivo. Isso porque embora determinado direito não possa pertencer, a um só tempo, a mais de uma categoria, isso
não implica dizer que, no mesmo cenário fático ou jurídico conflituoso, violações simultâneas de direitos de mais de uma espécie
não possam ocorrer.
No caso concreto, trata-se de ação civil pública de tutela híbrida. Percebe-se que há:
a) direitos individuais homogêneos referentes aos eventuais danos experimentados por aqueles contratantes que tiveram
tratamento de saúde embaraçado por força da cláusula restritiva tida por ilegal; b) direitos coletivos resultantes da ilegalidade em
abstrato da cláusula contratual em foco, a qual atinge igualmente e de forma indivisível o grupo de contratantes atuais do plano
de saúde;
c) direitos difusos, relacionados aos consumidores futuros do plano de saúde, coletividade essa formada por pessoas
indeterminadas e indetermináveis.
Havendo múltiplos fatos ou múltiplos danos, nada impede que se reconheça, ao lado do dano individual, também aquele de
natureza coletiva.

Em tese, é possível a condenação por danos morais coletivos?


SIM. Havendo violação a direitos transindividuais, é cabível, em tese, a condenação por dano moral coletivo que se caracteriza
como uma categoria autônoma de dano e que não está relacionado necessariamente com os tradicionais atributos da pessoa
humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico).
Ressalte-se que a condenação em danos morais coletivos é, em tese, possível não apenas no campo do Direito do Consumidor,
mas também no Direito Ambiental (STJ. 2ª Turma. REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013.
Info 526).

No caso concreto, era cabível a condenação do plano de saúde por danos morais coletivos?
NÃO. O STJ entendeu que não cabia condenação por dano moral coletivo porque a cláusula do contrato que excluía da cobertura
as próteses cardíacas não gerou outros prejuízos além daqueles experimentados por quem, concretamente, teve o tratamento
embaraçado ou teve de desembolsar os valores ilicitamente sonegados pelo plano. Em outras palavras, a referida cláusula
abusiva somente causou danos individuais homogêneos.
Na verdade, a cláusula contratual restritiva permanece inoperante até que algum contratante venha a pleitear o serviço por ela
excluído. Antes disso, é mera previsão contratual abstrata, incapaz de gerar qualquer efeito fora da idealização normativa
avençada.
A responsabilidade civil requer, em regra, ilegalidade da conduta (salvo exceções de responsabilização por ato lícito), dano e
nexo causal. A cláusula contratual em apreço é ilegal, entretanto, não gerou danos difusos ou coletivos, mas apenas individuais.

ACP pleiteando valores indevidamente cobrados de consumidores


Resumo do julgado
Sobre esse julgado, é importante que sejam destacadas três conclusões.
I — Em sede de ação civil pública ajuizada por associação civil de defesa do consumidor, instituição financeira pode ser
condenada a restituir os valores indevidamente cobrados a título de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de
seus serviços.
II — É possível que sentença condenatória proferida em ação civil pública em que se discuta direito individual homogêneo
contenha determinações explícitas da forma de liquidação e/ou estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade,
desde que essas medidas se voltem uniformemente para todos os interessados. Ex.: determinação de que a ré envie
correspondência aos beneficiários da decisão, publicação da sentença nos jornais etc.
III — O Tribunal não pode, de ofício, fundado na aplicabilidade de prazo prescricional maior do que o definido em primeira
instância, aumentar o alcance dos efeitos da sentença que reconheceu o direito a ressarcimento de valores cobrados
indevidamente ao longo do tempo. Ex.: o juiz reconheceu que os beneficiários da decisão poderiam receber as verbas dos
últimos 5 anos; o TJ, sem recurso da parte vencedora, ampliou esse prazo para 10 anos, afirmando que prescrição é matéria de
ordem pública e que pode ser reconhecida sem provocação. Ocorre que somente pode ser reconhecida de ofício se isso gerar a
perda da pretensão, em homenagem à economia processual. No caso concreto, contudo, o reconhecimento de ofício ampliaria o
prazo, o que não é admitido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1304953-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/8/2014 (Info 546).

Cobrança de Taxa de Emissão de Boleto ou Carnê (TEB ou TEC)


Quando o consumidor faz uma compra utilizando um financiamento bancário, em alguns casos, esse mutuário recebe um carnê
da instituição financeira com vários boletos bancários impressos para ir pagando mensalmente o empréstimo.
Até bem pouco tempo atrás, diversas instituições cobravam, além dos encargos normais do mútuo (juros e correção monetária)
um valor adicional para bancar os custos de impressão do boleto bancário. Isso é chamado de Taxa de Emissão de Boleto
Bancário (TEB) ou Taxa de Emissão de Carnê (TEC).
Os órgãos de defesa do consumidor questionavam essa cobrança alegando que ela era abusiva.
Veja o que o STJ decidiu sobre o tema em recurso especial repetitivo:
“(...) 1ª Tese: Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era válida a
pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato
gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto.
— 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para
pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária.
Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito
(TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em
ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o
consumidor e a instituição financeira. (...)
(STJ. 2ª Seção. REsp 1251331/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 28/08/2013)

Feita essa prévia explicação, imagine a seguinte situação adaptada:


Determinada associação de defesa dos consumidores propôs ação civil pública contra a instituição financeira “AY” pedindo que
ela:
a) ficasse proibida de exigir o pagamento de TEB;
b) fosse condenada a devolver os valores já cobrados dos consumidores; e
c) tomasse medidas para avisar os consumidores de que eles têm direito à restituição das quantias.

O juiz julgou procedentes os pedidos determinando que a instituição ficasse proibida de fazer novas cobranças e que devolvesse
os valores já exigidos dos consumidores nos últimos 5 anos.
Além disso, a fim de garantir uma maior publicidade da decisão, o magistrado determinou que a instituição
disponibilizasse,tanto em suas agências quanto via correspondência a ser encaminhada aos seus clientes, as informações
necessárias para que eles pudessem tomar ciência dos valores que tinham direito a receber, publicando, ainda, a sentença em dois
jornais de grande circulação.
A associação não recorreu contra a sentença. A instituição interpôs recurso de apelação e o TJ manteve a sentença quase na
íntegra, modificando, contudo, o prazo prescricional. O juiz reconheceu que o prazo prescricional para a restituição dos valores
era de 5 anos, ou seja, o banco poderia ser condenado a devolver as quantias pagas a título de TEB nos últimos 5 anos contados
do ajuizamento. O TJ, contudo, mesmo sem recurso da associação, ampliou esse prazo para 10 anos. Como argumento, o TJ
afirmou que a prescrição é matéria de ordem pública e que pode ser reconhecida de ofício (art. 219, § 5º do CPC/1973).
A questão chegou ao STJ. Vejamos o que decidiu a Corte.

É possível que, em sede de ACP, a instituição financeira seja condenada a devolver os valores cobrados a título de TEB (ou
TEC)?
SIM. Em sede de ação civil pública ajuizada por associação civil de defesa do consumidor, instituição financeira pode ser
condenada a restituir os valores indevidamente cobrados a título de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de
seus serviços.
O pedido de reconhecimento da ilegalidade da TEB caracteriza um interesse coletivo em sentido estrito. Por outro lado, o
requerimento para a restituição dos valores indevidamente cobrados a esse título evidencia um interesse individual homogêneo.
Para a Relatora, Min. Nancy Andrighi, os dois pedidos podem ser veiculados por meio de ação civil pública. Concluir de modo
contrário seria esvaziar quase que por completo a essência das ações coletivas para a tutela de direitos individuais homogêneos,
inspiradas nas class actions do direito anglo-saxão e idealizadas como instrumento de facilitação do acesso à justiça, de
economia judicial e processual, de equilíbrio das partes no processo e, sobretudo, de cumprimento e efetividade do direito
material, atentando, de uma só vez, contra dispositivos de diversas normas em que há previsão de tutela coletiva de direitos,
como as Leis 7.347/1985, 8.078/1990, 8.069/1990, 8.884/1994, 10.257/2001, 10.741/2003, entre outras.

Foi correta a decisão do juiz que determinou que a instituição adotasse medidas para dar publicidade à decisão para que,
com isso, os consumidores atingidos pudessem proceder à liquidação dos seus créditos?
SIM. É possível que sentença condenatória proferida em ação civil pública em que se discuta direito individual homogêneo
contenha determinações explícitas quanto à forma de liquidação e/ou estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade,
desde que essas medidas se voltem uniformemente para todos os interessados.
Na hipótese específica dos autos, a sentença coletiva manteve o seu caráter genérico, conforme exige o art. 95 do CDC, sendo
certo que as condenações acessórias tiveram por objetivo apenas o de conferir maior efetividade à prestação jurisdicional,
assegurando que fossedado ao julgado a maior publicidade possível, bem como garantindo a devolução de todo o valor cobrado
indevidamente pela Instituição.

Foi correta a decisão do TJ que, de ofício, ampliou o prazo prescricional reconhecido pela sentença?
NÃO. O Tribunal não pode, sem provocação, fundado na aplicabilidade de prazo prescricional maior do que o definido em
primeira instância, aumentar o alcance dos efeitos da sentença que reconheceu o direito a ressarcimento de valores cobrados
indevidamente ao longo do tempo.
É verdade que, nos termos do art. 219, § 5º, do CPC/1973, o julgador poderá, a qualquer tempo e grau de jurisdição, declarar de
ofício a prescrição, ou seja, reconhecer que determinado direito submetido ao crivo do Poder Judiciário encontra-se prescrito,
dando azo à extinção do processo com resolução do mérito, nos termos do art. 269, IV, do CPC/1973. Entretanto, essa norma
não autoriza o Tribunal a modificar, de ofício, a abrangência temporal dos efeitos da sentença.
Para que o TJ ampliasse os efeitos temporais da sentença seria indispensável que a questão tivesse sido aventada no recurso. Isso
porque o interesse público que faculta o reconhecimento da prescrição de ofício e a qualquer tempo deriva da inconveniência de
se prosseguir com processo em que haja perda do direito de ação, sob pena de se violar o princípio da economia processual. Mas
esse interesse público não está presente nas discussões em que se busque, apenas, a extensão (o aumento) do período em que a
sentença condenatória produzirá seus efeitos. Nessa hipótese, não se admitirá a intervenção de ofício do juiz, de modo que,
inexistente recurso abordando o tema, será defeso ao Tribunal manifestar-se.

Legitimidade do MP para ajuizar ACP em defesa dos beneficiários do DPVAT


Resumo do julgado
O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos individuais homogêneos dos
beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse social qualificado presente na tutela dos referidos direitos subjetivos.
Está cancelada a súmula 470 do STJ, que tinha a seguinte redação: “O Ministério Público não tem legitimidade para pleitear, em
ação civil pública, a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado.”
STJ. 2ª Seção. REsp 858056/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/05/2015 (Info 563).
STF. Plenário. RE 631111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 06 e 07/08/2014.

O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa dos direitos individuais homogêneos dos
beneficiários do seguro DPVAT, dado o interesse social qualificado presente na tutela dos referidos direitos subjetivos.
STF. Plenário. RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 06 e 07/08/2014 (repercussão geral) (Info 753).
Para o STF, o objeto (pedido) dessa demanda está relacionado com direitos individuais homogêneos. Assim, podem ser
defendidos pelos próprios titulares (segurados), em ações individuais, ou por meio de ação coletiva.
O Ministério Público possui legitimidade ativa para ajuizar essa ação coletiva (no caso, ação civil pública) porque estamos diante
de uma causa de relevante natureza social (interesse social qualificado), diante do conjunto de segurados que teriam sido lesados
pela seguradora.
Desse modo, havendo interesse social, o Ministério Público é legitimado a atuar, nos termos do art. 127 da CF/88:
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Como bem observado pelo Min. Teori Zavascki, “o seguro DPVAT não é um seguro qualquer. É seguro obrigatório por força de
lei e sua finalidade é proteger as vítimas de um recorrente e nefasto evento da nossa realidade moderna, os acidentes
automobilísticos, que tantos males, sociais e econômicos, trazem às pessoas envolvidas, à sociedade e ao Estado, especialmente
aos órgãos de seguridade social. Por isso mesmo, a própria lei impõe como obrigatório (...)”
Logo, pela natureza e finalidade desse seguro, o seu adequado funcionamento transcende os interesses individuais dos
segurados. Há, portanto, manifesto interesse social nessa controvérsia coletiva.
Em outras palavras, trata-se de direitos individuais homogêneos, cuja tutela se reveste de interesse social qualificado,
autorizando, por isso mesmo, a iniciativa do Ministério Público de, com base no art. 127 da Constituição, defendê-los em juízo
mediante ação coletiva.

Termo inicial dos juros de mora na ACP


Resumo do julgado
Os juros de mora incidem a partir da citação do devedor no processo de CONHECIMENTO da ação civil pública quando esta se
fundar em responsabilidade contratual, cujo inadimplemento já produza a mora, salvo se a mora já se configurou em momento
anterior à citação.
STJ. Corte Especial. REsp 1370899-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 21/5/2014 (recurso repetitivo) (Info 549).

Em caso de ação coletiva movida por associação somente serão beneficiados com a decisão os associados que autorizaram
a propositura de forma expressa
Resumo do julgado
A autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na defesa de
direitos de seus filiados. Para cada ação, é indispensável que os filiados autorizem de forma expressa e específica a demanda.
Teses firmadas pelo STF neste julgado:
"O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando previsão genérica
do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados."
"As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela representação no processo
de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial."
Exceção: no caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de autorização específica dos
filiados.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746).

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA POR SINDICATOS EM FAVOR DA CATEGORIA


Os sindicatos podem propor ações coletivas em favor da categoria que representam?
SIM. A CF/88 autoriza que os sindicatos façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e interesses individuais e coletivos
da categoria que representam. Veja:
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
III — ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;

Segundo a jurisprudência consolidada no STJ, o sindicato tem legitimidade para defender em juízo os direitos da categoria
mediante substituição processual, seja em ação ordinária, seja em demandas coletivas(AgRgnosEREsp488.911/RS).

O sindicato pode defender direitos difusos e individuais homogêneos da categoria?


SIM. A doutrina afirma que, quando o inciso III do art. 8º da CF/88 fala em “direitos e interesses coletivos”, está utilizando a
palavra “coletivo” em sentido amplo, de forma que os sindicatos podem defender direitos difusos, coletivos (stricto sensu) e
individuais homogêneos da categoria.

O sindicato precisa da autorização dos membros da categoria (trabalhadores) para propor a ação na defesa de seus interesses
supraindividuais? O sindicato precisa apresentar a relação nominal dos substituídos juntamente com a petição inicial da
ação proposta?
NÃO. Os sindicatos, na qualidade de substitutos processuais, têm legitimidade para a defesa dos interesses coletivos de toda a
categoria que representam, sendo dispensável a relação nominal dos filiados e suas respectivas autorizações.
Por que os sindicatos não precisam da autorização dos membros?
Porque o sindicato, quando atua na defesa dos direitos supraindividuais da categoria, age como substituto processual (legitimado
extraordinário) e não como representante processual.
O substituto processual não precisa da autorização dos substituídos porque esta foi dada pela lei (no caso do sindicato, esta
autorização foi dada pela CF/88, art. 8º, III). É a posição pacífica do STJ:
O sindicato, como substituto processual, tem legitimidade para defender judicialmente interesses coletivos de toda a categoria, e
não apenas de seus filiados, sendo dispensável a juntada da relação nominal dos filiados e de autorização expressa.
(AgRg no REsp 1195607/RJ, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 10/04/2012)
A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que as entidades sindicais poderão atuar como substitutas processuais da categoria
que representam, sendo desnecessária a autorização expressa do titular do direito subjetivo, bem como a apresentação de relação
nominal dos associados e a indicação de seus respectivos endereços.
A Lei 9.494/1997, ao fixar requisitos ao ajuizamento de demandas coletivas, não poderia se sobrepor à norma estabelecida nos
arts.5º, LXX, e 8º, III, da Constituição Federal.
(AgRg no AREsp 108.779/MG, Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 17/04/2012)

O que é legitimidade extraordinária (substituição processual)?


Ocorre quando alguém, em nome próprio, pleiteia em juízo interesse alheio (de outrem).Confere-se legitimidade a alguém para
discutir em juízo direito que não é dele. A legitimidade extraordinária somente é admitida de forma excepcional no CPC/1973.
A legitimação extraordinária somente pode ser estabelecida por meio de lei (art. 6º do CPC/1973) ou, em alguns casos, como
uma decorrência lógica do sistema.
Ao contrário do CPC/1973, na tutela coletiva, a legitimidade extraordinária é a regra geral.
Para a maioria da doutrina, substituição processual é sinônimo de legitimidade extraordinária (nesse sentido: Dinamarco).

AÇÃO COLETIVA PROPOSTA PELA ASSOCIAÇÃO EM FAVOR DE SEUS FILIADOS


As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados?
SIM. A CF/88 autoriza que as associações façam a defesa, judicial ou extrajudicial, dos direitos e interesses individuais e
coletivos de seus associados (art. 5º, XXI, da CF/88).

A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus interesses?
SIM. O inciso XXI do art. 5º da CF/88 exige que as associações tenham sido expressamente autorizadas. Veja:
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;

Qual é a amplitude da locução “expressamente autorizadas”? Essa autorização pode ser genericamente prevista no estatuto
ou deverá ser uma autorização para cada ação a ser proposta?
Para o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na
defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser proposta é indispensável que os filiados a autorizem de forma
expressa e específica.

Vejamos o seguinte exemplo (com adaptações):


A Associação do Ministério Público de Santa Catarina (ACMP) ajuizou ação pedindo o pagamento de determinada verba aos
seus filiados. Acompanhando a petição inicial, a ACMP juntou declarações de diversos associados autorizando que fosse
proposta a ação.
O pedido foi julgado procedente e transitou em julgado.
Diante disso, vários Promotores de Justiça ingressaram com execuções individuais cobrando a gratificação reconhecida na
sentença.
Ocorre que o juiz somente aceitou a execução proposta pelos filiados que haviam autorizado expressamente o ajuizamento da
ação. Quanto aosassociados que não assinaram a autorização, a execução não foi conhecida pelo juiz sob o argumento de que os
efeitos da sentença judicial transitada em julgado somente alcançam os associados (no caso, Promotores) que, na data da
propositura da ação de conhecimento, autorizaram expressamente que a associação ingressasse com a demanda. Em suma, para o
magistrado, somente tem direito de executar a decisão os filiados que autorizaram a propositura da ação.

Tese dos associados


Os filiados prejudicados com a decisão recorreram alegando que o estatuto social já autoriza que a associação ingresse com
ações em favor de seus filiados, de forma que não seria necessária uma autorização específica para cada demanda a ser proposta.
Sustentaram que o art. 5º, XXI da CF/88 não exige que se colha uma autorização individual dos filiados para cada ação ajuizada
pelas associações, sob pena de se esvaziar a atribuição de tais entidades na defesa dos seus membros.
Aduziram, ainda, que a associação atuou na qualidade de substituto processual, razão pela qual não seria necessária a
autorização, considerando que isso já consta expressamente de seu estatuto.
O STF concordou com os argumentos invocados pelos filiados?
NÃO. Segundo decidiu o STF, a autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua
atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Assim, para cada ação a ser proposta, é indispensável que os filiados
autorizem de forma expressa e específica a demanda.
Para a maioria dos Ministros, essa é a interpretação que deve ser dada ao inciso XXI do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...)
XXI — as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;

Como deverá ser feita essa autorização?


A autorização poderá ser manifestada:
· por declaração individual do associado; ou
· por aprovação na assembleia geral da entidade.

Logo, no caso concreto, como não foi aprovada na assembleia geral da entidade, somente os associados que apresentaram, na
data da propositura da ação de conhecimento, autorizações individuais expressas, puderam executar o título judicial proferido na
ação coletiva.
Conforme deixou claro o STF, essa autorização é um traço que distingue a legitimidade das entidades associativas (art. 5º, XXI)
em relação à legitimidade das entidades sindicais (art. 8º, III).

A regra acima exposta apresenta alguma exceção? A associação precisará da autorização expressa para toda e qualquer
ação a ser proposta?
Existem duas exceções:
Exceção 1: mandado de segurança coletivo.
No caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de autorização específica dos filiados. Veja o
que diz a CF/88:
Art. 5º (...)
LXX — o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
(...)
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados;

Existe, inclusive, uma súmula tratando a respeito:


Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da
autorização destes.

Exceção 2: mandado de injunção coletivo.


No caso de impetração de mandado de injunção coletivo, a associação também não precisa de autorização específica dos
filiados. Veja o que diz a Lei nº 13.300/2016:
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:
(...)
III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1
(um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros
ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial;

Ação coletiva proposta por sindicato e desnecessidade de descrição das situações individuais
Resumo do julgado
Na hipótese em que sindicato atue como substituto processual em ação coletiva para a defesa de direitos individuais
homogêneos, não é necessário que a causa de pedir, na primeira fase cognitiva, contemple descrição pormenorizada das
situações individuais de todos os substituídos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1395875-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/2/2014 (Info 538).
Resumo do julgado
Em ação civil pública, a falta de publicação do edital destinado a possibilitar a intervenção de interessados como litisconsortes
(art. 94 do CDC) não impede, por si só, a produção de efeitos erga omnes de sentença de procedência relativa a direitos
individuais homogêneos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1377400-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 18/2/2014 (Info 536).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública pedindo que o Estado-membro fornecesse fraldas geriátricas para João,
que sofria de um problema de saúde. No pedido, o MP também requereu que o Poder Público fornecesse as fraldas para todas as
demais pessoas que se encontrassem na mesma situação.
Trata-se de uma demanda proposta pelo Ministério Público para tutelar direitos individuais homogêneos.

Sentença
Na sentença, o juiz condenou o Estado-membro a fornecer as fraldas para João, mas não atribuiu efeitos erga omnes à decisão,
ou seja, não determinou ao Poder Público, de forma genérica, a obrigação de fornecer as fraldas para toda e qualquer pessoa que
estivesse em situação de necessidade.
O Ministério Público apresentou embargos de declaração, mas o juiz manteve a sentença afirmando que somente poderia atribuir
eficácia erga omnes em uma ação de direitos individuais homogêneos se o Parquet tivesse requerido, durante a tramitação, a
providência prevista no art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como
litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

O argumento invocado pelo juiz está correto?


NÃO. Segundo decidiu o STJ, em ação civil pública, a falta de publicação do edital destinado a possibilitar a intervenção de
interessados como litisconsortes (art. 94 do CDC) não impede, por si só, a produção de efeitos erga omnes de sentença de
procedência relativa a direitos individuais homogêneos.
A sentença proferida em ação civil pública versando sobre direitos individuais homogêneos faz coisa julgada erga omnes,
beneficiando todas as pessoas que se enquadrem na situação, conforme prevê o art. 103, III, do CDC:
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada:
III — erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do
inciso III do parágrafo único do artigo 81.

Esse dispositivo aplica-se a todas as espécies de ações civis públicas e não apenas para aquelas que versem sobre direitos do
consumidor. Isso porque o art. 21 da Lei nº 7.347/85 determina a aplicação das regras processuais do CDC às ações civis
públicas.
Vale ressaltar, ainda, que o STJ decidiu que “os efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas
aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade
dos interesses metaindividuais postos em juízo.” (REsp 1243887/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em
19/10/2011) (vide polêmica no item 17.9 acima).
A ausência de publicação do edital de que trata o art. 94 do CDC não pode ser considerada como nulidade?
NÃO. A ausência de publicação do edital previsto no art. 94 do CDC constitui vício sanável, que não gera nulidade apta a
induzir a extinção da ação civil pública. Ora, o referido dispositivo existe para proteger o consumidor, ampliando o número de
pessoas que poderão ter conhecimento da ação e, assim, se habilitarem. Não é possível que a ausência desse chamamento
prejudique o próprio consumidor, para quem a regra foi criada.

ACP proposta pelo MP para impedir hospitais de exigirem caução


Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública cujos pedidos consistam em impedir que determinados
hospitais continuem a exigir caução para atendimento médico-hospitalar emergencial e a cobrar, ou admitir que se cobre, dos
pacientes conveniados a planos de saúde, valor adicional por atendimentos realizados por seu corpo médico fora do horário
comercial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1324712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/9/2013 (Info 532).

Suspensão dos processos individuais enquanto se aguarda o julgamento da ação coletiva


Resumo do julgado
É possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito de ação coletiva, da
questão jurídica de fundo neles discutida.
STJ. 1ª Seção. REsp 1353801-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/8/2013 (recurso repetitivo) (Info 527).

Imagine a seguinte situação adaptada:


A Lei nº 11.738/2008 determinou que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adequassem, até o dia 31/12/2009,
os salários dos seus professores ao piso salarial nacional previsto no art. 206, VIII da CF/88.
Determinado Estado deixou de atender a essa obrigação.
Em razão disso, vários professores ingressaram com ações individuais contra esse Estado, pedindo a implementação do piso
salarial.
O Ministério Público, por sua vez, ajuizou uma ação civil pública com o mesmo objeto, em favor de todos os profissionais do
magistério vinculados àquele Estado-membro.

O juiz, ao receber a ação coletiva proposta pelo MP, poderá determinar a suspensão das ações individuais que estejam
tramitando e que tenham o mesmo objeto?
SIM. Segundo o STJ, “ajuizada ação coletiva atinente à macrolide geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações
individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva” (Min. Sidnei Beneti).
Assim, é possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito de ação coletiva,
da questão jurídica de fundo neles discutida relativa à obrigação de estado federado de implementar, nos termos da Lei
nº11.738/2008, piso salarial nacional para os profissionais do magistério público da educação básica do respectivo ente.
Esse entendimento do STJ foi construído no REsp 1.110.549-RS, proferido sob a sistemática de recurso repetitivo:
(...) Ajuizada ação coletiva atinente à macrolide geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no
aguardo do julgamento da ação coletiva.
Entendimento que não nega vigência aos arts. 51, IV e § 1º, 103 e 104 do Código de Defesa do Consumidor; 122 e 166 do
Código Civil; e 2º e 6º do Código de Processo Civil, com os quais se harmoniza, atualizando-lhes a interpretação extraída da
potencialidade desses dispositivos legais ante a diretriz legal resultante do disposto no art. 543-C do Código de Processo Civil,
com a redação dada pela Lei dos Recursos Repetitivos (Lei n. 11.672, de 8.5.2008). (...)
(REsp 1110549/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Segunda Seção, julgado em 28/10/2009)

Deve-se considerar, ademais, que as ações coletivas implicam redução de atos processuais, configurando-se, assim, um meio de
concretização dos princípios da celeridade e economia processual. Reafirma-se, portanto, que a coletivização da demanda, seja
no polo ativo, seja no polo passivo, é um dos meios mais eficazes para o acesso à justiça, porquanto, além de reduzir os custos,
consubstancia-se em instrumento para a concentração de litigantes em um polo, evitando-se, assim, os problemas decorrentes de
inúmeras causas semelhantes.
Legitimidade do MP para ACP em benefício de uma só pessoa em questões de saúde
Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia elétrica com a finalidade de evitar a
interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e que
dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto consumo de energia.
Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a proteção do direito à saúde de pessoa
hipossuficiente, porquanto se trata de direito fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1162946-MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em 4/6/2013 (Info 523).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Por conta de uma grave doença pulmonar, João, hipossuficiente, precisa ficar o dia inteiro ligado a um aparelho concentrador
elétrico de oxigênio domiciliar, equipamento indispensável à sua subsistência, o qual, contudo, proporciona um consumo
exorbitante de energia elétrica.
Em razão de não mais conseguir pagar a conta de energia elétrica, os familiares de João procuraram o Ministério Público em
busca de ajuda.

Como Promotor de Justiça, sob o ponto de vista processual, você poderia propor alguma medida judicial em favor de João?
SIM. O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia elétrica com a finalidade de
evitar a interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente de recursos financeiros diagnosticada com enfermidade grave e
que dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto consumo de energia.
Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a proteção do direito à saúde de pessoa
hipossuficiente, porquanto se trata de direito fundamental e indisponível, cuja relevância interessa à sociedade.

MP tem legitimidade para ajuizar ACP relacionada com concurso público


Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de garantir o acesso a critérios de correção
de provas de concurso público.
STJ. 2ª Turma. REsp 1362269-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/5/2013 (Info 528).

O concurso público é o principal instrumento de garantia do sistema de meritocracia na organização estatal, um dos pilares
dorsais do Estado Social de Direito brasileiro, condensado e concretizado na CF. Suas duas qualidades essenciais – ser concurso,
o que implica genuína competição, sem cartas marcadas, e ser público, no duplo sentido de certame transparente e de controle
amplo de sua integridade – fazem com que deva ser reconhecida a legitimidade ad causam do Ministério Público para atuar.

MP pode assumir a titularidade da ACP em caso de vício na representação da associação autora


Resumo do julgado
Na ação civil pública, reconhecido o vício na representação processual da associação autora, deve-se, antes de proceder à
extinção do processo, conferir oportunidade ao Ministério Público para que assuma a titularidade ativa da demanda.
STJ. 2ª Turma. REsp 1372593-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/5/2013 (Info 524).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Determinada associação ajuizou ação civil pública em defesa do meio ambiente.
O réu apresentou contestação e, dentre outros argumentos, alegou que havia um vício na representação processual, considerando
que quem assinou a procuração ao advogado não tinha poderes para tanto (não foi o diretor-presidente, conforme determinava o
estatuto).
O juiz conferiu, então, prazo para a autora regularizar a representação processual, mas esta quedou-se inerte. Diante disso, o
magistrado extinguiu o processo sem resolução do mérito.

A decisão do juiz foi correta?


NÃO. O STJ decidiu que, na ação civil pública, reconhecido o vício na representação processual da associação autora, o juiz,
antes de extinguir o processo, deve conferir oportunidade ao Ministério Público para que assuma a titularidade ativa da demanda.
O STJ entende que, nesse caso, deve-se aplicar o raciocínio previsto no art. 5º, § 3º da Lei nº 7.347/85:
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado
assumirá a titularidade ativa.

Inquérito civil para apurar evolução patrimonial de vereadores


Resumo do julgado
É possível a instauração e o prosseguimento de inquérito civil com a finalidade de apurar possível incompatibilidade entre a
evolução patrimonial de vereadores e seus respectivos rendimentos, ainda que o referido procedimento tenha se originado a
partir de denúncia anônima, na hipótese em que realizadas administrativamente as investigações necessárias para a formação de
juízo de valor sobre a veracidade da notícia.
Ressalte-se que o art. 13 da Lei de Improbidade obriga os agentes públicos a disponibilizarem periodicamente informações sobre
seus bens e evolução patrimonial. Vale destacar que os agentes políticos sujeitam-se a uma diminuição na esfera de privacidade
e intimidade, de modo que se mostra ilegítima a pretensão de não revelar fatos relacionados à evolução patrimonial.
STJ. 2ª Turma. RMS 38010-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 02/05/2013 (Info 522).
Imagine a seguinte situação adaptada:
O Ministério Público, por meio de sua página na internet, recebeu uma “denúncia anônima” relatando que determinados
vereadores tiveram uma evolução patrimonial incompatível com seus rendimentos.
O Promotor de Justiça determinou a instauração de inquérito civil baseado apenas nessa “denúncia anônima” e requisitou dos
investigados inúmeras informações, dentre elas fontes de rendaque possuem, além da remuneração recebida do Município.

O que é um inquérito civil?


O inquérito civil é um procedimento administrativo, investigativo, de natureza inquisitorial, instaurado pelo membro do
Ministério Público com a finalidade de apurar fatos que podem ser objeto de uma ação civil pública.

Características:
• procedimento administrativo;
• investigativo;
• inquisitorial (para a maioria, não existe contraditório e ampla defesa);
• unilateral;
• não obrigatório (facultativo);
• público;
• exclusivo do Ministério Público (só ele pode instaurar).

Regulamentação
• Art. 129, III, da CF/88;
• Art. 8º da Lei nº 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública);
• Art. 6º da Lei nº 7.853/89 (pessoas com deficiência);
• Art. 201, V, da Lei nº 8.069/90 (ECA);
• Art. 6º, VII, da LC nº75/93 (Lei do MPU);
• Art. 25, IV, da Lei nº 8.625/93 (Lei orgânica do MP);
• Art. 74, I, da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso);
• Resolução nº 23/2007-CNMP.

Fases: são três as fases do inquérito civil: instauração,instrução e conclusão.


Instauração
O inquérito civil poderá ser instaurado:
I – de ofício;
II – em face de requerimento ou representação formulada por qualquer pessoa ou comunicação de outro órgão do Ministério
Público, ou qualquer autoridade;
(Obs: o requerimento ou representação pode ser formulada inclusive verbalmente, situação em que o MP reduzirá a termo as
declarações. A falta de formalidade, por si só, não implica indeferimento do pedido de instauração de inquérito civil.)
III – por designação do Procurador-Geral de Justiça, do Conselho Superior do Ministério Público, Câmaras de Coordenação e
Revisão e demais órgãos superiores da Instituição, nos casos cabíveis.
Forma: a instauração do inquérito civil se dá por meio de portaria.

Denúncia anônima é válida para a instauração de IC?


SIM. A jurisprudência do STJ admite a atuação investigatória do Ministério Público, no âmbito administrativo, em caso de
denúncia anônima.
É certo que a CF/88 veda o anonimato (art. 5°, IV). No entanto, essa previsão deve ser harmonizada, com base no princípio da
concordância prática, como dever constitucional imposto ao Ministério Público de promover o Inquérito Civil e a Ação Civil
Pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III).
Nos termos do art. 22 da Lei nº8.429/1992, o Ministério Público pode,mesmo de ofício, requisitar a instauração de inquérito
policial ou procedimento administrativo para apurar qualquer ilícito previsto no aludido diploma legal. Se pode de ofício, nada
impede que o faça mediante uma denúncia anônima.
Assim, ainda que a notícia da suposta discrepância entre a evolução patrimonial de agentes políticos e seus rendimentos tenha
decorrido de denúncia anônima, não se pode impedir que o membro do Parquet tome medidas proporcionais e razoáveis, como
no caso dos autos, para investigar a veracidade do juízo apresentado por cidadão que não se tenha identificado.
Vale ressaltar que o § 3º do art. 2º da Resolução nº 23/2007-CNMP autoriza a instauração de inquérito civil mesmo em caso de
manifestação anônima, desde que obedecidos os mesmos requisitos para as representações em geral, isto é, desde que existam,
por meios legalmente permitidos, informações sobre o fato e seu autor.
Confira dois precedentes recentes nesse sentido:
(...) O STJ reconhece a possibilidade de investigar a veracidade de denúncia anônima em Inquérito Civil ou Processo
Administrativo (...)
(RMS 38.010/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 02/05/2013)
(...) 2. A Lei n. 8.625/1993, lei orgânica do Ministério Público, e a Resolução n. 23/2007 do Conselho Nacional do Ministério
Público autorizam a atuação investigatória do parquet, no âmbito administrativo, em caso de denúncia anônima. (...)
(RMS 37.166/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/04/2013)

Os investigados poderiam alegar o direito à intimidade para se recusarem a prestar informações sobre sua evolução
patrimonial?
NÃO. O art. 13 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92) obriga os agentes públicos a disponibilizarem
periodicamente informações sobre seus bens e evolução patrimonial. Segundo já decidiu o STJ, os agentes políticos sujeitam-se
a uma diminuição na esfera de privacidade e intimidade, de modo que se mostra ilegítima a pretensão de não revelar fatos
relacionados à evolução patrimonial (RMS 38.010/RJ).

Qual é o instrumento jurídico cabível por meio do qual os investigados podem questionar a instauração de um inquérito civil
abusivo?
Algumas leis orgânicas de Ministérios Públicos estaduais preveem a existência de um recurso administrativo contra a
instauração.
Os investigados poderão também impetrar mandado de segurança.

É cabível a impetração de habeas corpus nesse caso?


NÃO. O habeas corpus não é meio hábil para questionar-se aspectos ligados quer ao inquérito civil público, quer à ação civil
pública, porquanto, nesses procedimentos, não se faz em jogo, sequer na via indireta, a liberdade de ir e vir.
(HC 90378, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 13/10/2009)

ACP proposta pelo MP e honorários periciais


Resumo do julgado
Nas ações civis públicas, o Ministério Público tem o dever de antecipar os honorários devidos a perito? NÃO. Não é possível se
exigir do Ministério Público o adiantamento de honorários periciais em ações civis públicas.
O art. 18 da Lei nº 7.347/85 explica que na ação civil pública não haverá qualquer adiantamento de despesas. Trata-se de
regramento próprio, que impede que o autor da ação civil pública arque com os ônus periciais e sucumbenciais, ficando afastada,
portanto, as regras específicas do CPC.
Mas o perito irá trabalhar de graça? NÃO. A referida isenção conferida ao Ministério Público em relação ao adiantamento dos
honorários periciais não pode obrigar que o perito exerça seu ofício gratuitamente. Da mesma forma, não se pode transferir ao
réu o encargo de financiar ações contra ele movidas.
Dessa forma, a solução é aplicar, por analogia, a Súmula 232 do STJ: "A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita
à exigência do depósito prévio dos honorários do perito".
Assim, nas perícias requeridas pelo Ministério Público nas ações civis públicas, cabe à Fazenda Pública à qual se acha vinculado
o Parquet arcar com o adiantamento dos honorários periciais.
Ex: em uma ACP proposta pelo MPE-BA, se o Parquet requerer uma perícia, quem irá adiantar os honorários do perito será o
Estado da Bahia.
STJ. 1ª Seção. REsp 1253844/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/03/2013 (recurso repetitivo)
STJ. 2ª Turma. AgInt-RMS 59.276/SP. Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/03/2019.
STJ. 1ª Turma. AgInt-RMS 59.235/SP. Relª Minª Regina Helena Costa, julgado em 25/03/2019.
STJ. 1ª Turma. AgInt-RMS 61.877/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2019.

ATENÇÃO
No fim de 2018, houve uma decisão monocrática do Min. Ricardo Lewandowiski em sentido contrário:
O art. 91 do CPC/2015 dispõe que “as perícias requeridas pela Fazenda Pública, pelo Ministério Público ou pela Defensoria
Pública poderão ser realizadas por entidade pública ou, havendo previsão orçamentária, ter os valores adiantados por aquele que
requerer a prova”.
O dispositivo foi redigido para vigorar também no processo coletivo, provocando uma releitura do art. 18 da Lei da Ação Civil
Pública para conferir maior responsabilidade ao Parquet no ingresso das ações coletivas.
O NCPC instituiu regime legal específico e observou que o Ministério Público ostenta capacidade orçamentária própria.
STF. Decisão monocrática. ACO 1560, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/12/2018.

Vamos aguardar para ver se o STF irá acolher esse entendimento.

Continência no caso de ações coletivas propostas por entidades distintas


Resumo do julgado
No caso em que duas ações coletivas tenham sido propostas perante juízos de competência territorial distinta contra o mesmo réu
e com a mesma causa de pedir e, além disso, o objeto de uma, por ser mais amplo, abranja o da outra, competirá ao juízo da ação
de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas demandas, ainda que ambas tenham sido propostas por entidades
associativas distintas.
STJ. 4ª Turma. REsp 1318917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013 (Info 520).

Imagine a seguinte situação:


Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia.
Diante disso, foram propostas duas ações de indenização:
· a primeira delas, pela Colônia de Pescadores de São Francisco do Conde/BA, na vara da comarca de São Francisco do
Conde/BA, pedindo indenização para os pescadores deste município;
· a segunda, ajuizada pela Federação dos Pescadores e Aquicultores da Bahia, na Vara Cível de Salvador/BA, pleiteando
indenização para os pescadores de diversos municípios, dentre eles os de São Francisco do Conde/BA.

Existe continência ou conexão neste caso?


A conexão está prevista no art. 103 do CPC/1973 (art. 55 do CPC/2015):
Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a causa de pedir.
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
A continência, por seu turno, está descrita no art. 104 do CPC/1973 (art. 56 do CPC/2015):
Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o
objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o
pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.
Toda continência é também uma conexão. Isso porque em toda continência a causa de pedir é igual e isso já é conexão. Mas,
tecnicamente, houve mera conexão ou efetivamente ocorreu continência?
No caso concreto, ficou reconhecida a existência de CONTINÊNCIA.

Requisitos da continência:
Os requisitos da continência são os seguintes:
· duas ou mais ações;
· partes iguais nas ações;
· causas de pedir iguais nas ações;
· o pedido de uma ação abrange o da outra.

O polo ativo da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo e abrange não apenas os pescadores de São Francisco do
Conde/BA, mas também de outros municípios.
O aspecto subjetivo da litispendência nas ações coletivas deve ser visto sob a ótica dos beneficiários atingidos pelos efeitos da
decisão, e não pelo simples exame das partes que figuram no polo ativo da demanda. Assim, considera-se que há partes iguais
porque os moradores de São Francisco do Conde/BA serão atingidos pelo resultado das duas demandas. Não se consideram
como partes, para fins de continência, a Colônia e a Federação de pescadores.
O objeto (pedido) da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo que o da primeira, pois abrange indenização não apenas
para os pescadores de São Francisco do Conde/BA, como também de outros municípios.

Quem irá julgar a causa?


Competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas demandas. Logo, a competência será
da Vara de Salvador.

Execução provisória em ação coletiva


Resumo do julgado
No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra constante do art. 475-O, § 2º, do CPC 1973
(art. 521 do CPC 2015), deve o magistrado considerar a situação individual de cada um dos beneficiários.
STJ. 4ª Turma. REsp 1318917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013 (Info 520).

Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia.


Diante disso, a Federação dos Pescadores da Bahia ajuizou ação coletiva pleiteando, dentre outros pedidos, liminarmente, o
pagamento a pescadores de uma quantia de 500 reais a título de "salário", diante dos prejuízos decorrentes da impossibilidade de
exercício da atividade pesqueira.
A antecipação de tutela foi deferida (tutela provisória de urgência), com a determinação do pagamento da pensão mensal de 500
reais para cada substituído.

É cabível execução provisória em processo coletivo?


SIM. É possível execução provisória em processo coletivo, que deverá obedecer as regras previstas no CPC.

Os pescadores poderão sacar este dinheiro depositado pela Petrobrás por força da decisão que concedeu a tutela antecipada
(atual tutela provisória de urgência)?
SIM. No entanto, como se trata de uma forma de execução provisória (irão se beneficiar da decisão antes do trânsito em julgado)
deverão observar as regras da execução provisória.

Prazo prescricional para ajuizamento da execução individual de sentença proferida em ACP


Resumo do julgado
Prazo prescricional para ajuizamento da execução individual de sentença proferida em ACP
No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para ajuizamento da execução individual em pedido de
cumprimento de sentença proferida em Ação Civil Pública.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.273.643-PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/2/2013 (recurso repetitivo) (Info 515).
ATENÇÃO. CUIDADO COM O SEGUINTE JULGADO DO STJ:
O prazo de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às ações coletivas de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.091-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/05/2019 (Info 648).
A Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP) não previu um prazo prescricional para o ajuizamento da ação civil pública. Diante disso, qual
prazo deverá ser aplicado segundo o STJ?

Regra geral:
O prazo para o ajuizamento da ação civil pública é de 5 anos, aplicando-se, por analogia, o prazo da ação popular
(art.21daLeinº4.717/65), considerando que as duas ações fazem parte do mesmo microssistema de tutela dos direitos difusos
(REsp1070896/SC).

Exceções:
a) a ACP para exigir o ressarcimento ao erário fundada na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade
Administrativa é imprescritível (art. 37, § 5º, CF/88).
b) a ACP em caso de danos ambientais também é imprescritível (Resp 1120117/AC).

Execução individual de sentença proferida em ação coletiva:


O prazo também é de 5 anos, contados do trânsito em julgado da sentença coletiva. Isso porque a execução prescreve no mesmo
prazo de prescrição da ação (Súmula 150-STF).
Neste julgado do STJ, reiterou-se o entendimento acima explicado. No caso concreto, contudo, havia uma peculiaridade: na fase
de conhecimento, o juiz, com base no CC-1916, reconheceu que o prazo para ajuizamento da ação era vintenário (20 anos). Em
razão desta decisão, qual será o prazo da execução individual desta sentença coletiva?
Continua sendo de 5 anos. O prazo prescricional para o ajuizamento da execução individual em cumprimento de sentença
proferida em ACP é de 5 anos, mesmo na hipótese em que, na ação de conhecimento, já transitada em julgado, tenha sido
reconhecida a prescrição vintenária. Em outras palavras, não importa que o juiz tenha adotado um outro prazo prescricional para
a ação de conhecimento. Isso não irá obrigar que o prazo da ação de execução seja alterado, devendo ser adotado o prazo
consagrado pela jurisprudência.

ATENÇÃO. CUIDADO COM O SEGUINTE JULGADO DO STJ:


O prazo de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às ações coletivas de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.091-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/05/2019 (Info 648).

ACP para questionar informações em cadastro de inadimplentes


Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP com o objetivo de impedir que as empresas incluam no cadastro de
inadimplentes os consumidores em débito que estejam discutindo judicialmente a dívida.
Trata-se da defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores, havendo interesse social (relevância social) no caso.
STJ. 3ª Turma. REsp 1148179-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013 (Info 516).

O Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública contra a Câmara de Dirigentes Lojistas (associação de lojistas) de
determinado município pedindo que a associação fosse condenada a:
• abster-se de incluir no cadastro de inadimplentes os consumidores em débito que estivessem discutindo judicialmente a dívida;
• pagar pelos danos materiais e morais causados aos consumidores incluídos indevidamente nos referidos cadastros.

A grande questão jurídica discutida no presente caso foi a seguinte:


O Ministério Público tinha legitimidade para propor esta ACP?
SIM, considerando que se tratava da defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores, havendo interesse social
(relevância social) no caso.
ACP proposta pelo MP para fornecimento de alimentos sem glúten
Resumo do julgado
O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que o Poder Público forneça cesta de
alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca, como medida de proteção e defesa da saúde.
O direito à vida e à saúde caracterizam-se como direitos individuais indisponíveis.
O MP possui legitimidade para propor ACP na defesa de direitos individuais indisponíveis.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 91114-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/2/2013 (Info 517)
O Ministério Público é parte legítima para propor ação civil pública com o objetivo de que o Poder Público forneça cesta de
alimentos sem glúten a portadores de doença celíaca, como medida de proteção e defesa da saúde. Doença celíaca, em palavras
simples, é a intolerância ao glúten, proteína que está presente em uma grande quantidade de alimentos, como o trigo, a aveia, o
centeio etc.
O fornecimento desta cesta de alimentos tem por finalidade resguardar o direito à vida e à saúde dessas pessoas, interesses que se
caracterizam como direitos individuais indisponíveis. Segundo a jurisprudência, o MP possui legitimidade até mesmo para
propor ACP na defesa de uma única pessoa, desde que se trate de direito indisponível (ex: fornecimento de medicamento ou
tratamento de saúde). Nesse sentido: STJ REsp 830.904-MG; STF RE 407.902/RS.

Competência absoluta do local do dano


Resumo do julgado
A competência para processar e julgar ação civil pública é absoluta e se dá em função do local onde ocorreu o dano.
STJ. 1ª Seção. AgRg nos EDcl no CC 113788-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 14/11/2012.

Qual é o foro competente para julgar a ação civil pública? De quem será a competência territorial para julgar a ACP?
A competência territorial para julgar a ACP é determinada pela conjugação do art. 2º da Lei n.° 7.347/85 com o art. 93 do CDC:
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional
para processar e julgar a causa.

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a Justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras
do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Dano local Dano regional ou nacional


A competência será do lugar onde ocorreu ou deva A competência será da Capital do Estado ou no
ocorrer o dano. Distrito Federal.

Segundo o STJ, a razão de se utilizar o local do dano como critério definidor da competência nas ações coletivas é proporcionar
maior celeridade no processamento, na instrução e, por conseguinte, no julgamento do feito, dado que é muito mais fácil apurar
o dano e suas provas no juízo em que os fatos ocorreram (AgRg no CC 116815 / DF).
A doutrina majoritária afirma que essa competência é “territorial funcional”, sendo, portanto, de natureza ABSOLUTA.
Normalmente, a competência territorial é relativa, mas neste caso ela será absoluta.

Legitimidade ativa do Ministério Público


Resumo do julgado
O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública sobre direitos individuais homogêneos quando presente
o interesse social.
STF. 2ª Turma. RE 216443/MG, rel. orig. Min. Menezes Direito, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 28/8/2012
(Info 677).

O Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. No entanto, o MP somente terá representatividade adequada para propor a ACP se os direitos/interesses discutidos
na ação estiverem relacionados com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF.
FONTE: BUSCADO DIZER O DIREITO

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