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Lei dos Crimes Hediondos

(Lei 8.072/1990)

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Crimes hediondos: sistemas de definição

Há, basicamente, 3 sistemas para se classificar uma infração penal como crime hediondo:

a) Sistema legal: neste sistema, cabe ao legislador a opção política de predeterminar quais crimes serão considerados
hediondos, por meio de um rol taxativo. Pouco importa o caráter repugnante, abjeto, nocivo, desprezível, asqueroso
que compeliu o agente à sua prática. Será hediondo se constar do rol taxativo do dispositivo legal.
Crítica: este sistema ignora a gravidade do caso concreto.

b) Sistema judicial: confere-se ao magistrado a atribuição de analisar e identificar o caráter hediondo de uma infração
penal, tendo em conta as peculiaridades do caso concreto.

Crítica: este sistema confere ampla liberdade ao magistrado, o que gera insegurança jurídica.
c) Sistema misto: neste sistema, em vez de haver um rol taxativo, o legislador traz um conceito amplo de crime hediondo,
cabendo ao magistrado fazer o enquadramento à luz das peculiaridades do caso concreto.
Crítica: reúne o que os outros dois sistemas têm de ruim.

SE LIGA! CLÁUSULA SALVATÓRIA à neste último sistema, Alberto Zacharias Toron propõe a criação da chamada “cláusula
salvatória”, permitindo que o magistrado afaste a natureza hedionda de um crime, embora esteja prevista no rol taxativo
previsto na lei penal. Por óbvio, o contrário não é possível, ou seja, não se pode atribuir o caráter hediondo a uma infração que
não conste no rol, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade. Adotando0se a “cláusula salvatória”, o juiz poderia afastar,
pelas peculiaridades do caso concreto, a aplicação do caráter hediondo, por exemplo, do crime descrito no art.273 do Código
Penal.

ATENÇÃO! O BRASIL ADOTOU O SISTEMA LEGAL!

CF, Art.5º, XLIII - A LEI considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como CRIMES HEDIONDOS, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

O art.5º, inc.XLIII, da CF impõe PATAR MÍNIMO ao legislador (MANDADO CONSTITUCIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO).


Sobre o mandado constitucional de criminalização: as Constituições modernas não se limitam a especificar restrições
ao poder do Estado e passam, também, a conter preocupações com a defesa ativa do indivíduo e da sociedade em geral. A
própria Constituição impõe a criminalização visando à proteção de bem e valores constitucionais, pois do Estado espera-se
mais do que uma atividade defensiva; requer-se que torne eficaz a Constituição, dando vida aos valores que ela contemplou.
Assim, a Lei 8.072/90 definiu os crimes hediondos, anunciando as consequências penais e processuais, obedecendo o
mandado constitucional de criminalização.

LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990.

Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º,


inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras
providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

ATENÇÃO! O art.1º da Lei 8.072/90 foi bastante alterado pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), inclusive todo o seu
parágrafo único!

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, TODOS tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, CONSUMADOS ou TENTADOS: à ROL TAXATIVO DOS CRIMES HEDIONDOS

I - HOMICÍDIO (art. 121 à HOMICÍDIO SIMPLES), quando praticado em atividade típica de GRUPO DE EXTERMÍNIO, ainda que
cometido por UM SÓ AGENTE, e HOMICÍDIO QUALIFICADO (art. 121, §2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);

à “Homicídio praticado em atividade típica de GRUPO DE EXTERMÍNIO”:


• Única hipótese em que, em tese, o homicídio é punido na sua forma simples (art.121, caput) e considerado como crime
hediondo. Na prática, todavia, esta hipótese revela-se inviável. Afinal, é praticamente impossível se conceber um crime
de homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de extermínio na qual não esteja presente uma das

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qualificadoras subjetivas ou objetivas relacionadas nos incisos I a VII do §2º do art.121 do CP. Nesse caso, por força do
princípio da especialidade, deverá prevalecer a figura do homicídio qualificado.

• À época em que a Lei 8.930/94 entrou em vigor (07/09/94), o fato de o delito ser praticado em atividade típica de grupo
de extermínio não foi inserido no CP como elementar do crime de homicídio. Afinal, ainda que o crime fosse praticado
em atividade típica de grupo de extermínio, isso não acarretaria a atipicidade absoluta nem tampouco relativa da
conduta. Também não fora introduzido como circunstância do crime de homicídio, uma vez que, à época, não tinha o
condão de modificar a pena do crime de homicídio. Daí porque grande parte da doutrina se referia a esse crime como
homicídio condicionado, pois o reconhecimento de sua natureza hedionda dependia da verificação de um requisito (ou
condição): que o ilícito tivesse sido praticado em ação típica de grupo de extermínio.

• A Lei 12.720/12 criou o crime de “constituição de milícia privada” (art.288-A, CP), que pune a ação conduta de constituir,
organizar, integrar, manter ou custear ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR, MILÍCIA PARTICULAR, GRUPO ou ESQUADRÃO,
com o fim de cometer quaisquer dos crimes previstos no CP. O legislador se valeu de fórmula vaga e imprecisa na
definição dos elementos do tipo.

• A Lei 12.720/12 também criou uma causa de aumento de pena (art.121, §6º, CP), para quando o crime de homicídio for
praticado por MILÍCIA PRIVADA, sob o pretexto de serviço de segurança, ou por GRUPO DE EXTERMÍNIO. Deste fato,
surge a importância de se distinguir os crimes de homicídio praticados por grupo de extermínio sob a égide da Lei
8.930/94 e os fatos delituosos cometidos a partir da vigência da Lei 12.720/12.

• Evidentemente, a Lei 12.720/12 configura novatio legis in pejus, daí por que esta causa de aumento de pena e o novel
crime do art.288-A só poderão incidir em relação aos fatos delituosos praticados por milícias privadas ou grupos de
extermínio a partir de 28 de setembro de 2012.

• Para Renato Brasileiro, evidenciada a estabilidade e permanência do grupo de extermínio, o agente deverá responder
pelo crime de homicídio (simples ou qualificado), com a aplicação da majorante do §6º do art.121 do CP (que continua
sendo considerado hediondo com fundamento no art.1º, I, 1ª parte, da Lei 8.072/90), em concurso material com o novel
delito do art.288-A, todos do CP, o que, ao ver do doutrinador, não caracteriza bis in idem, na medida em que se está
diante de crimes autônomos, que tutelam bens jurídicos distintos, quais sejam, a vida e a paz pública, respectivamente.

à Homicídio qualificado:
• Todas as qualificadoras (incs.I ao VIII), com a devida atualização pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime- PAC), são
consideradas crimes hediondos.
• ATENÇÃO! É dominante o entendimento no sentido da possibilidade de reconhecimento da figura do HOMICÍDIO
QUALIFICADO-PRIVILEGIADO, combinando-se os §§1º e 2º do art.121 do CP, desde que a QUALIFICADORA tenha
natureza OBJETIVA (incisos III e IV). O homicídio qualificado-privilegiado NÃO é considerado hediondo!

Continuando...

I-A – LESÃO CORPORAL DOLOSA de natureza GRAVÍSSIMA (art. 129, §2o) e LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE (art. 129, §
3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142* e 144** da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional*** e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição (NEXO FUNCIONAL); à LESÃO
CORPORAL GRAVÍSSIMA FUNCIONAL e LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE FUNCIONAL

* Art.142 da CF à Forças Armadas = Marinha, Exército e Aeronáutica;


** Art.144 da CF à polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos
de bombeiros.
*** Integrantes do sistema prisional à exemplos: diretor de penitenciária, agentes penitenciários, guardas, etc.

Continuando...

II - ROUBO:
a) circunstanciado pela RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA (art. 157, §2º, inciso V); à ACRESCENTADO PELO PAC

• Obs: a restrição da liberdade da vítima deve se dar por, no mínimo, 20 minutos; e o objetivo de tal restrição deve ser
assegurar a execução do crime ou como reação à ação policial.

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b) circunstanciado pelo EMPREGO DE ARMA DE FOGO (art. 157, §2º-A, inciso I à CAUSA DE AUMENTO DE PENA EM 2/3) ou pelo
EMPREGO DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO ou RESTRITO (art. 157, §2º-B à CAUSA DE AUMENTO DE PENA EM DOBRO);
à ACRESCENTADO PELO PAC

c) qualificado pelo resultado LESÃO CORPORAL GRAVE* (ACRESCENTADO PELO PAC) ou MORTE** (art. 157, §3º);

• * “Lesão corporal grave”, para Renato Brasileiro e Rogério Sanches, deve ser interpretada em sentido amplo e deve
abarcar também a lesão corporal gravíssima.

• ** “Latrocínio” continua sendo considerado crime hediondo. O latrocínio é crime qualificado pelo resultado. Isso significa
dizer que o resultado morte pode ser atribuído ao agente tanto a título de dolo (direto ou eventual) quanto à título de
culpa. Ademais, o crime de latrocínio somente restará caracterizado quando o resultado morte decorrer de violência
empregada durante a execução do crime de roubo (fator temporal) e em razão dele (relação causal). A violência deve ser
usada para subtrair a coisa alheia móvel, para garantir a detenção da res furtiva ou até mesmo para assegurar a
impunidade pela subtração, e dela deve resultar a morte.

III – EXTORSÃO qualificada pela RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA* (ACRESCENTADO PELO PAC), ocorrência de LESÃO
CORPORAL** (ACRESCENTADO PELO PAC) ou MORTE (art. 158, §3º);

• * É o chamado sequestro relâmpago.


• ** Perceba que o legislador apenas falou “lesão corporal”, sem especificar se seria grave ou gravíssima, por exemplo.
Portanto, qualquer tipo de lesão praticada no contexto da extorsão torna o crime hediondo.

IV - EXTORSÃO mediante SEQUESTRO e na FORMA QUALIFICADA (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o);

• O delito de extorsão mediante sequestrado é etiquetado como hediondo independentemente da modalidade (caput e
§§1º, 2º e 3º).

V - ESTUPRO (art. 213, caput e §§1o e 2o);

• O estupro – quer na sua modalidade simples (caput) ou qualificada (quando resultar lesão corporal GRAVE; se a vítima
tiver mais de 14 anos e menos de 18 anos; ou se resultar morte) – é considerado crime hediondo.

DE OLHO NA JURIS! Estupro e atentado violento ao pudor são hediondos ainda que praticados na forma simples
Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que cometidos antes da edição da Lei nº 12.015/2009, são
considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples. Em outras palavras, seja antes ou depois da Lei nº
12.015/2009, toda e qualquer forma de estupro (ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo
irrelevante que a prática de qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte. STJ. 3ª Seção.
REsp 1110.520-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012 (Info 505). STF. 1ª Turma. HC 100612/SP, rel.
orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 16/8/2016 (Info 835).

VI – ESTUPRO DE VULNERÁVEL (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);

• O estupro de vulnerável – quer na sua modalidade simples (caput à estupro praticado contra menor de 14 anos;
§1º à estupro praticado contra pessoa com enfermidade ou doença mental, ou contra quem, independentemente da
causa, não puder oferecer resistência) ou qualificada (quando resultar lesão corporal GRAVE ou morte) – será sempre
considerado crime hediondo.

VII - EPIDEMIA com RESULTADO MORTE (art. 267, §1o).

• Só quando a pessoa causa epidemia e deste fato resulta MORTE é que o crime será hediondo!
• CUIDADO! Somente a propagação de doença humana é que configura este crime, já que em se tratando de
enfermidade que atinja plantas ou animais, o crime será o do art.61 da Lei 9.605/98.
• ATENÇÃO! “Causar epidemia” não é considerado crime hediondo (princípio da legalidade e vedação à analogia in
malam partem).

VII-A – (VETADO)

VII-B - FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO ou ALTERAÇÃO de produto destinado a FINS TERAPÊUTICOS ou


MEDICINAIS (art. 273, caput e §1o, §1o-A e §1o-B*, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).
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• * Apenas a modalidade culposa de falsificação de remédios não é considerada hedionda.

• A inserção dessa figura delituosa como crime hediondo não passou imune às críticas. Isso porque a figura hedionda em
análise abrange não apenas a falsificação de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, mas também de
cosméticos e saneantes (CP, art.273, §1º-A). A verdade é que, sob o ponto de vista ofensividade à saúde pública (bem
jurídico tutelado pelo crime do art.273 do CP), não se pode querer equiparar produtos destinados a fins terapêuticos ou
medicinais a meros cosméticos. Para Renato Brasileiro, o art.273, §1º-A, do CP deve ser interpretado restritivamente
para que se possa considerar típica apenas a falsificação de cosméticos e saneantes que efetivamente sejam dotados
de potencialidade lesiva contra a saúde pública (e não qualquer cosmético).

• Não por outro motivo, concluiu a Corte Especial do STJ ser inconstitucional o preceito secundário do art.273, §1º-B, V,
do CP (reclusão, de 10 a 15 anos, e multa), devendo-se considerar, no cálculo da reprimenda, a pena prevista no caput
do art.33 da Lei de Drogas.

VIII – FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO ou de OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL de CRIANÇA ou ADOLESCENTE ou de


VULNERÁVEL (art. 218-B, caput, e §§1º e 2º).

IX - FURTO qualificado pelo EMPREGO DE EXPLOSIVO ou de ARTEFATO ANÁLOGO que cause PERIGO COMUM (art. 155, §4º-A).
à ACRESCENTADO PELO PAC

• Não resta dúvida de que o legislador incluiu esta figura à Lei dos Crimes Hediondos na esperança de combater mais
eficientemente os ataques as agências bancárias. Andou bem o legislador neste sentido. O que chama a atenção, no
entanto, é o fato de passar a integrar o rol de crimes hediondos o furto que se utiliza de explosivos, mas não se
incluir na Lei dos Crimes Hediondos o roubo quando há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego
de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (artigo 157, § º-A, inciso II). Afinal de contas, não
parece restar qualquer dúvida no sentido de que o roubo seja figura mais grave do que o furto, assim como não restam
dúvidas de que, por vezes, os ataques as agências bancárias são promovidos com a tomada de reféns, sejam clientes ou
funcionários, e por isso, também, deveria ter havido esta preocupação por parte do legislador.

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:


I - o crime de GENOCÍDIO, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956;

• São considerados crimes hediondos os 3 tipos de condutas delituosas previstos na Lei 2.889/1956.

• Ao se referir expressamente aos arts.1º, 2º e 3 da Lei 2.889/1956, a Lei 8.072/90 rotula como hediondo não apenas o
crime de genocídio propriamente dito, previsto no art.1º, mas também os delitos de associação para fins de genocídio
(art.2º) e de incitação ao genocídio (art.3º).

• Distinção entre o crime de genocídio e o homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio:

Genocídio Atividade típica de grupo de extermínio


(Lei 2.889/1956) (art.121, §6º, CP)
O agente quer destruir o grupo no todo ou em parte O objetivo do agente não é destruir grupo, mas apenas alguns
dos seus integrantes
Tem como sujeito passivo grupo nacional, étnico, racial ou Impessoalidade da conduta
religioso
Pode ser praticado não apenas através da morte dos membros É obrigatoriamente cometido mediante a morte de alguém.
do grupo, mas também por outros meios (estupro, sequestro,
etc)

II - o crime de POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003; à ACRESCENTADO PELO PAC

III - o crime de COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS DE FOGO, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; à
ACRESCENTADO PELO PAC

IV - o crime de TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMAS DE FOGO, ACESSÓRIO ou MUNIÇÃO, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003; à ACRESCENTADO PELO PAC

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V - o crime de ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado. à ACRESCENTADO
PELO PAC
Há algum crime hediondo fora do Código Penal? Sim, todos aqueles listados no parágrafo único do art.1º da Lei 8.072/90
(genocídio + crimes previstos no Estatuto do Desarmamento).

Crimes equiparados a hediondos

CF, Art.5º, XLIII - a lei considerará crimes INAFIANÇÁVEIS e INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA a prática da TORTURA, o
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTE E DROGAS AFINS, o TERRORISMO e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

TORTURA (Lei 9.455/1997)

Crimes equiparados
a hediondos TRÁFICO DE DROGAS (Lei 11.343/2006)

TERRORISMO (Lei 13.260/2016)

Vedação à concessão de anistia, graça e indulto

CF, Art.5º, XLIII - a lei considerará crimes INAFIANÇÁVEIS e INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA a prática da TORTURA, o
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTE E DROGAS AFINS, o TERRORISMO e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Lei 8.072/90, Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo
são insuscetíveis de:
I - ANISTIA, GRAÇA e INDULTO;
II - fiança.

Constituição Federal à Crimes hediondos + equiparados à Insuscetíveis de GRAÇA ou ANISTIA


Lei dos Crimes Hediondos à Crimes hediondos + equiparados à Insuscetíveis de ANISTIA, GRAÇA e INDULTO*
Lei de Tortura (Lei 9.455/97) à Crime de tortura Insuscetível de GRAÇA ou ANISTIA (repete a CF)*
Obs: Tanto a CF quanto a Lei 8.072/90 dizem que os crimes hediondos e equiparados são INAFIANÇÁVEIS.
FICA LIGADO! Na medida em que a comutação da pena (diminuição da pena) é tida como espécie de indulto (indulto
parcial), também se releva inadmissível sua aplicação a crimes hediondos e equiparados.

* PERGUNTA DE PROVA: A vedação do indulto é constitucional?


1ª Corrente: a ampliação é inconstitucional, pois as vedações previstas no art.5º, XLIII, da CF são máximas. Para esta corrente
doutrinária, a concessão do indulto seria, ainda, matéria de análise do Presidente da República, não podendo o legislador limitá-
lo.
2ª Corrente (majoritária e adotada pelo STF): a ampliação do rol constitucional feito pelo legislador ordinário na Lei 8.072/90 é
constitucional. Esta corrente defende que o indulto não deixa de ser uma espécie de graça (a qual é vedada expressamente pelo
constituinte).

GRAÇA INDULTO
É individual É coletivo
Depende de provocação Não depende de provocação
Chamado de “indulto individual” Chamado de “indulto coletivo”

* Como se percebe, ao contrário da Lei de Crimes Hediondos, que veda expressamente a concessão da anistia, graça ou indulto,
a Lei 9.455/97 proíbe apenas a graça e a anistia. Em face da omissão da proibição do indulto, parte da doutrina sustenta que,
por se tratar de norma especial e posterior, o art.2º, inc.I, terceira figura, da Lei 8.072/90, teria sido tacitamente revogado pela
Lei 9.455/97. Logo, condenados pela prática de crimes hediondos, tráfico de drogas e terrorismo também fariam jus ao indulto.
A despeito desse entendimento doutrinário, sob o argumento de que a proibição do indulto decorre diretamente da CF,
que, ao vedar a graça em seu art.5º, XLIII, também estaria por vedar implicitamente o indulto, há precedentes do STF no

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sentido de que é vedada a concessão de indulto aos condenados pela prática do crime de tortura, ou qualquer outro crime
hediondo e equiparado.

E o indulto humanitário? Lembrando: chama-se “indulto humanitário” aquele concedido por razões de grave doença
física ou em virtude de debilitado estado de saúde. Prevalece o entendimento de que o indulto humanitário NÃO está proibido,
em razão do princípio da dignidade humana.

Liberdade provisória

A liberdade provisória funciona como medida cautelar (e de contracautela, quando substitutiva da prisão em flagrante)
que permite ao investigado (ou acusado) permanecer em liberdade durante o curso da persecução penal, desde que cumpra
determinadas condições. O direito à liberdade provisória tem fundamento constitucional no art.5º, inc.LXVI, segundo o qual
ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. Como consectário
lógico da regra de tratamento que deriva do princípio da presunção de inocência, cuida-se de verdadeiro direito subjetivo do
cidadão preso frente ao Estado, quando ausentes razões de cautela, e não de um poder discricionário atribuído ao juiz, que não
pode impor uma prisão cautelar sem a necessária motivação judicial.

A liberdade provisória é cabível nos crimes hediondos e equiparados?

Liberdade provisória nos crimes hediondos e equiparados


ANTES da Lei 11.464/07 DEPOIS da Lei 11.464/07*
Vedava: fiança + liberdade provisória Veda apenas a fiança
Súmula 697-STF: A proibição de liberdade provisória nos E a liberdade provisória agora é cabível?
processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da 1ª Corrente: a liberdade provisória está proibida
prisão processual por excesso de prazo. implicitamente na vedação da fiança.
2ª Corrente (prevalece e adotada pelo STF): fiança e
liberdade provisória não se confundem. A lei não veda a
liberdade provisória. Portanto, é plenamente cabível.

A Súmula 698 do STF está superada. Atualmente, é permitida a liberdade provisória para crimes hediondos e
equiparados. O STF entende que a CF/88 não permite a prisão ex lege (ou seja, apenas por força de lei), o que contraria o
princípio da presunção de não culpabilidade. Logo, é inconstitucional qualquer lei que vede, de forma abstrata e genérica, a
liberdade provisória para determinados delitos.
Em regra, a liberdade provisória pode ser concedida com ou sem fiança. No caso dos crimes hediondos e equiparados,
como há vedação a concessão da fiança, a liberdade provisória só pode ser concedida sem fiança (o que não impede de ser
concedida cumulada com outra medida cautelar diversa da prisão, salvo a fiança, claro).
* Diante da nova redação dada à Lei dos Crimes Hediondos pela Lei 11.464/07, dispositivos como os do art.7º da revogada
Lei 9.034/95, art.3º, caput, da Lei 9.613/98 – hoje revogado pela Lei 12.683/12 -, e art.44 da Lei 11.343/06, foram derrogados no
tocante à vedação à concessão da liberdade provisória sem fiança.
Em julgamento realizado em 10 de maio de 2012, o Plenário do Supremo declarou, incidenter tantum, a
inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”, constante do caput do art.44 da Lei 11.343/06. Perceba-se que a
decisão do Supremo não garantiu a liberdade provisória ao acusado. Na verdade, limitou-se a devolver os autos ao juiz de
primeiro grau competente para, afastada a vedação legal, examinar a presença dos requisitos descritos nos arts.312 e 313 do
CPP.

Regime de cumprimento de pena e substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos

Lei 8.072/90, Lei 8.072/90, Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de:
§1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida INTEGRALMENTE em REGIME FECHADO. à ANTIGA REDAÇÃO*
§1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida INICIALMENTE em REGIME FECHADO. à NOVA REDAÇÃO DADA Lei
11.464/07**

* Apesar de grande parte da doutrina sustentar que a fixação do regime integralmente fechado para o cumprimento de
pena pela prática de crimes hediondos e equiparados era inconstitucional, por violar o princípio da individualização executória
da pena, prevaleceu durante anos perante os Tribunais o entendimento de que o art.2º, §1º, da Lei 8.072/90, em sua redação
original, era plenamente compatível com a CF.

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Com o advento da Lei 9.455/97 (Lei de Tortura), que passou a prever que, pelo menos em regra, o condenado por crime
de tortura deve iniciar o cumprimento da pena em regime fechado (art.21º, §7º), a doutrina também passou a sustentar a tese
de revogação tácita da redação original do art.2º, §1º, da Lei 8.072/90. Esse entendimento, todavia, não foi aceito pelos
Tribunais. A propósito, eis o teor da Súmula 698 do STF: Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de
progressão no regime de execução da pena aplica ao crime de tortura.
Em julgamento histórico ocorrido em 23 de junho de 2006, o STF acabou por declarar a inconstitucionalidade da
redação original do art.2º, §1º, da Lei 8.072/90. Apesar de se tratar de declaração de inconstitucionalidade em controle difuso, o
STF conferiu eficácia erga omnes à decisão proferida no HC 82.959/SP.
A prova mais cabal de que a decisão proferida pelo Supremo não está limitada ao processo objeto de exame no HC
82.959/SP, permitindo que outros magistrados passem a admitir a progressão de regimes é a edição da súmula vinculante 26.

SV nº 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução
observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado
preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
realização de exame criminológico.

** A Lei 11.464/07 trouxe nova regra, afirmando que a pena por crime hediondo ou equiparado será cumprida em regime
inicialmente fechado, independentemente do quantum da pena e de quaisquer outras circunstâncias.
A Lei 11.464/07 também deu nova redação ao art.2º, §2º, estabelecendo outros percentuais para possibilitar a progressão
de regime (percentuais estes mais gravosos do que para os demais crimes “comuns”). ATENÇÃO! O art.2º, §2º, com redação
dada pela Lei 11.464/07 foi revogado pelo Pacote Anticrime, o qual passou a dispor, no art.112 da Lei de Execução Penal, sobre
a progressão de regime dos crimes hediondos.
Mas lembre-se que a possibilidade de regime inicial fechado e de progressão de regime se deu no julgamento do HC
82.858/SP, ao qual foi dada eficácia erga omnes, e não em razão da Lei 11.464/07. Por isso, aos crimes praticados antes do
surgimento da Lei 11.464/04, a progressão de regime se dava com base nos percentuais “normais” estabelecidos na LEP (1/6).
Nesse sentido é a Súmula 471 do STJ.

Súmula 471-STJ: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº 11.464/2007
sujeitam-se ao disposto no artigo 112 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional.

• Para os crimes hediondos ou equiparados praticados antes da Lei nº 11.464/2007, exige-se o cumprimento de um 1/6 da pena
para a progressão de regime.

• Obs: a Lei nº 13.964/2019 alterou o art. 112 da LEP e, consequentemente, os requisitos objetivos para a concessão da
progressão. Vale ressaltar, contudo, que essa alteração não alcança os fatos praticados anteriores porque foi uma mudança mais
gravosa.

Possibilidade de progressão de regime nos crimes hediondos e equiparados


Redação original Lei HC 82.959/SP Lei 11.464/07 HC 111.840 (STF)
8.072/90
Regime integral fechado No controle difuso de Estabelece o regime inicial Em controle difuso de
(proibida a progressão da constitucionalidade, o STF obrigatoriamente fechado constitucionalidade, o STF
pena) declarou a declara inconstitucional o
inconstitucionalidade do regime inicial
Vigência da Súmula 698 STF regime integral fechado. obrigatoriamente fechado.
(só o crime de tortura admite
progressão de regime) Ficou superada a Súmula 698
STF

Quantum para progressão de regime nos crimes hediondos e equiparados


Antes da Lei 11.464/07 Depois da Lei 11.464/07 Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019)
1/6 da pena 2/5 à agente primário LEP, Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em
3/5 à agente reincidente forma progressiva com a transferência para regime menos
(reincidência genérica, ou rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver
seja, em qualquer tipo de cumprido ao menos:
crime) V - 40% da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for PRIMÁRIO;
VI - 50% da pena, se o apenado for:

@dicas.exconcurseira 8
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com
RESULTADO MORTE, se for PRIMÁRIO, VEDADO o livramento
condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA estruturada para a prática de crime
hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia
privada;
VII - 60% da pena, se o apenado for REINCIDENTE na prática de
crime hediondo ou equiparado;
VIII - 70% da pena, se o apenado for REINCIDENTE em crime
hediondo ou equiparado com RESULTADO MORTE, VEDADO o
livramento condicional.
ATENÇÃO! É vedado ao condenado passar diretamente do regime fechado para o aberto – o que denomina progressão per
saltum.
Súmula 491-STJ: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.

Em recente julgado, o Plenário do Supremo também declarou, incidentalmente, a INCONSTITUCIONALIDADE do §1º do


art.2º da Lei 8.072/90, na parte em que contida a obrigatoriedade de fixação de regime fechado para início de cumprimento
da reprimenda aos condenados pela prática de crimes hediondos e equiparados. Para o STF, se a Constituição quisesse a
fixação do regime inicial fechado com base no crime em abstrato, teria incluído a restrição no tópico inscrito no art.5º, inc.XLIII,
da CF, o que não ocorreu, já que referido preceito afasta somente a fiança, a graça e a anistia, para, no incido XLVI, assegurar, de
forma abrangente, a individualização da pena. Destarte, pelo menos em tese, deve ser admitido o início de cumprimento da
reprimenda em regime diverso do fechado a condenados que preencham os requisitos previstos no art.33, §2º, b; e §3º, do CP.
Assim como no caso da vedação legal à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em condenação
pelo delito de tráfico (já declarada inconstitucional pelo STF!*), entendeu-se que a definição de regime deveria sempre ser
analisada independentemente da natureza da infração, até mesmo porque, na dicção da Suprema Corte, “a opinião do julgados
sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o
permitido segundo a pena aplicada” (Súmula 718 STF).
É evidente que essa interpretação também deve ser aplicada aos crimes equiparados a hediondo, a exemplo da tortura.
Logo, a despeito do disposto no art.1º, §7º, da Lei 9.455/97, também não é obrigatório que o condenado por crime de tortura
inicie o cumprimento de pena no regime prisional fechado.
* Diante desse entendimento, não há como negar a possibilidade, pelo menos em tese, de substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos em relação aos crimes hediondos. Afinal, se o tráfico de drogas, que é crime equiparado a
hediondo por força da própria CF, admite essa possibilidade, não há como estendê-la às demais infrações do mesmo gênero. De
mais a mais, removida a vedação legal à progressão de regime aos condenados pela prática de crime hediondo em virtude do
julgamento do HC 82.959/SP, também resta ultrapassada a argumentação que era utilizada para vedar a substituição da
reprimenda corporal por restritivas de direito. Logo, desde que preenchidos os requisitos do art.44 do CP, é plenamente
possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.

DE OLHO NA JURIS! O regime inicial de pena nos crimes hediondos não precisa ser obrigatoriamente o fechado
A hediondez ou a gravidade abstrata do delito não obriga, por si só, o regime prisional mais gravoso, pois o juízo, em atenção
aos princípios constitucionais da individualização da pena e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais, deve
motivar o regime imposto observando a singularidade do caso concreto. Assim, é inconstitucional a fixação de regime inicial
fechado com base unicamente na hediondez do delito. STF. 1ª Turma. ARE 935967 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
15/03/2016. STF. 2ª Turma. HC 133617, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/05/2016. É inconstitucional a fixação ex lege,
com base no art. 2º, §1º, da Lei 8.072/1990, do regime inicial fechado, devendo o julgador, quando da condenação, ater-se aos
parâmetros previstos no artigo 33 do Código Penal. STF. Plenário. ARE 1052700 RG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
02/11/2017.

Regime inicial de pena no caso do crime de tortura


O Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840/ES, declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do §1º, do art. 2º, da Lei nº
8.072/90, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 11.464/2007, afastando, dessa forma, a obrigatoriedade do regime
inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equiparados, incluído aqui o crime de tortura. Dessa forma, não é
obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. STJ. 5ª Turma.
HC 383090/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 21/03/2017. STJ. 6ª Turma. RHC 76642/RN, Rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, julgado em 11/10/2016.
Obs: existe um julgado da 1ª Turma do STF afirmando que o regime inicial no caso de tortura deveria ser obrigatoriamente o
fechado: HC 123316/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/6/2015. Penso que se trata de uma posição minoritária e isolada

@dicas.exconcurseira 9
do Min. Marco Aurélio. Os demais Ministros acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade do que de tese
jurídica. Isso porque os demais Ministros entendiam que, no caso concreto, nem caberia habeas corpus, considerando que já
havia trânsito em julgado. No entanto, eles não aderiram expressamente à tese do Relator. Não há fundamento que justifique o
§1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90 (que obriga o regime inicial fechado para crimes hediondos) ter sido declarado
inconstitucional e o §7º do art. 1º da Lei nº 9.455/97 (que prevê regra semelhante para um crime equiparado a hediondo) não
o ser. Em provas de concurso, deve-se ter atenção para a redação do enunciado.

Suspensão condicional da pena (sursis)

A partir do momento em que os Tribunais Superiores reconheceram a inconstitucionalidade do regime integral fechado
para o cumprimento da pena pela prática de crimes hediondos (STF, HC 82.959/SP), passando a admitir, em tese, a substituição
da pena privativa de liberdade por restritivas de direito (STF, HC 97.256/RS), houve inevitável mudança de orientação
jurisprudencial em relação à concessão do sursis, cuja aplicação vem sendo admitida inclusive em relação a crimes hediondos,
desde que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos do art.77 do CP.

ATENÇÃO! Especificamente em relação ao crime de tráfico de drogas, em razão da vedação constante no art.44 da Lei
11.343/06, os Tribunais vêm considerando legítima a proibição da concessão da suspensão condicional da pena aos crimes dos
arts.33, caput e §1º, e 34 a 37 da referida Lei – o que, para Renato Brasileiro, causa bastante estranheza, porquanto se confere
tratamento desigual a crimes que são equiparados por força da própria CF.

Recolhimento à prisão para apelar

Lei 8.072/90, Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
insuscetíveis de:
§3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.

De maneira bem semelhante ao revogado art.594 do CPP, o art.2º, §3º, da Lei dos Crimes Hediondos, autoriza o juiz a
impor o recolhimento do acusado à prisão como condição de admissibilidade recursal.
Apesar de posição contrária da doutrina a respeito desta regra, esta era considerada válida pelos Tribunais Superiores,
como se depreende da súmula nº 9 do STJ: A exigência da prisão provisória para apelar não ofende a garantia constitucional da
presunção de inocência.
Ocorre que, em julgamento histórico (STF, HC 88.420/PR, em 2007), o STF alterou seu entendimento acerca do assunto,
pondo um fim à vinculação do conhecimento do recurso ao recolhimento do acusado à prisão. Consolidando este
entendimento, a 3ª Seção do STJ aprovou em 23 de abril de 2008 o enunciado da súmula nº 347, segundo a qual o conhecimento
de recurso de apelação do réu independe de prisão.
A Lei 11.719/08, que alterou o procedimento comum do CPP, revogou, de modo expresso, o art.594 do CPP, além de
revogar tacitamente o art.393, I, constando agora expressamente do art.387, §1º, que o juiz, ao proferir sentença condenatória,
decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida
cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.

Sentença condenatória e situação prisional do acusado


Acusado em liberdade por ocasião da sentença condenatória Deve recorrer em liberdade, salvo se surgirem fundamentos
recorrível à para decretação da prisão preventiva.
Acusado preso por ocasião da sentença condenatória Deve recorrer preso, salvo se desaparecerem os
recorrível à fundamentos da prisão preventiva.

Prisão temporária em crimes hediondos e equiparados

Lei 8.072/90, Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
insuscetíveis de:
§4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo
(HEDIONDOS E EQUIPARADOS), terá o PRAZO DE 30 DIAS, PRORROGÁVEL POR IGUAL PERÍODO em caso de extrema e
comprovada necessidade.

Assim, em se tratando de crimes hediondos e equiparados, mesmo que o delito não conste do art.1º, inc.III, da Lei
7.960/89 (lei da prisão temporária), a prisão poderá ser decretada.

@dicas.exconcurseira 10
PRAZO DA PRISÃO TEMPORÁRIA
REGRA GERAL CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS
5 DIAS, prorrogáveis por MAIS 5 30 DIAS, prorrogáveis por MAIS 30

Presídios federais de segurança máxima

Lei 8.072/90, Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas
impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou
incolumidade pública. à PRESÍDIOS FEDERAIS A SEREM IMPLEMENTADOS PELA UNIÃO

CONDENADOS ESTABELECIMENTO PRISIONAL COMPETÊNCIA PARA EXECUÇÃO


Justiça Federal Estadual Estadual

Súmula 192 STJ: Compete ao Juízo das


Execuções Penais do Estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela
Justiça Federal, Militar ou Eleitoral,
quando recolhidos a estabelecimentos
sujeitos à administração estadual.

Justiça Estadual Federal Juízo das Execuções Penais da União


(federal)

Aumento da pena de multa à previsto no art.4º da Lei 8.072/90, mas cuja redação foi vetada pelo Presidente da República

Livramento condicional

Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso: à O ART.83 DO CP TRATA DOS REQUISITOS PARA O
LIVRAMENTO CONDICIONAL

"Art. 83. ..............................................................


........................................................................
V - cumprido mais de 2/3 da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for REINCIDENTE ESPECÍFICO em crimes dessa natureza."

Depois, a Lei 13.344/2016 alterou a redação deste inciso V para acrescentar o crime de “tráfico de pessoas”, que não é
considerado crime hediondo ou equiparado a hediondo. Vejamos a nova redação:

CP, Art.83, V - cumpridos mais de 2/3 da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, TRÁFICO DE PESSOAS e terrorismo, se o apenado não for REINCIDENTE ESPECÍFICO em crimes
dessa natureza.

O livramento condicional consiste na fase final da execução da pena no sistema progressivo, através da qual há uma
antecipação da liberdade do condenado - desde que cumpridos determinados requisitos de ordem objetiva e subjetiva - com o
objetivo de reduzir os malefícios da prisão e facilitar sua inserção social.
O requisito temporal (tempo de cumprimento de pena à mais de 2/3 da pena) para os condenados a crimes hediondos e
equiparados + tráfico de pessoas é superior aos condenados por outros crimes. Vejamos uma pequena diferença dos requisitos:

Não reincidente em crime doloso Reincidente em crime doloso Crime hediondo ou equiparado
+ tráfico de pessoas
Cumprimento de mais de 1/3 da pena Cumprimento de mais da metade da Cumprimento de mais de 2/3 da pena,
+ bons antecedentes pena desde que não seja reincidente
específico

@dicas.exconcurseira 11
Além disso, o condenado por crime hediondo/equiparado ou por tráfico de pessoas não pode ser reincidente específico.
Mas o que significa “reincidente específico”?
1ª Corrente: é o reincidente em crime previsto no mesmo tipo penal. Ex: condenado pelo crime do art.213 do CP; e, depois,
volta a ser condenado pelo mesmo crime do art.213 do CP.

2ª Corrente: é o reincidente em crimes que violam o mesmo bem jurídico, ainda que previstos em tipos distintos. Ex: condenado
por latrocínio (crime contra o patrimônio); depois, condenado por extorsão qualificada pela morte (outro crime contra o
patrimônio).

3ª Corrente (prevalece; adotada pelo STF): é o reincidente em crimes hediondos ou equiparados ou por tráfico de pessoas,
não importando o tipo ou o bem jurídico protegido.

Em relação à concessão do livramento condicional, especial atenção deve ser dispensada ao art.44, parágrafo único, da
Lei 11.343/06, que dispõe que, nos crimes previstos nos arts.33, caput e §1º, e 34 a 37 da referida Lei, dar-se-á o livramento
condicional após o cumprimento de 2/3 da pena, vedada sua concessão ao REINCIDENTE ESPECÍFICO.
Esta reincidência específica, para Renato Brasileiro, por se tratar a Lei de Drogas de lei especial e posterior que passou a
regulamentar inteiramente a matéria de que tratava a Lei dos Crimes Hediondos, refere-se exclusivamente aos crimes de
tráfico de drogas ressalvados pelo art.44, caput. Por isso, se o acusado for reincidente, porém em crimes de outra natureza,
ainda que hediondos, subsiste a possibilidade de concessão do livramento condicional.

Alteração das penas de certos crimes da parte especial do Código Penal

Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e 270;
caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 157. .............................................................


§3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 5 a 15 anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão
é de 20 a 30 anos, sem prejuízo da multa. à Roubo qualificado pela lesão grave ou pela morte
........................................................................

Art. 159. ............................................................... à Extorsão mediante sequestro em todas as suas modalidades


Pena - reclusão, de 8 a 15 anos.
§1º .................................................................
Pena - reclusão, de 12 a 20 anos.
§2º .................................................................
Pena - reclusão, de 16 a 24 anos.
§3º .................................................................
Pena - reclusão, de 24 a 30 anos.
........................................................................

Art. 213. ...............................................................


Pena - reclusão, de 6 a 10 anos. à Estupro simples e qualificado pelo resultado lesão grave ou morte

Art. 214. ...............................................................


Pena - reclusão, de seis a dez anos.
........................................................................ à Revogado atentado violento ao pudor, simples e qualificado pelo resultado
lesão grave ou morte

Art. 223. ............................................................... à Artigo revogado pela Lei 12.015/2009


Pena - reclusão, de 8 a 12 anos.
Parágrafo único. ........................................................
Pena - reclusão, de 12 a 25 anos.
........................................................................
Art. 267. ...............................................................
Pena - reclusão, de 10 a 15 anos. à Epidemia
........................................................................

Art. 270. ...............................................................


Pena - reclusão, de 19 a 15 anos. à Envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal

@dicas.exconcurseira 12
Colaboração premiada no crime de extorsão mediante sequestro

Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo:

"Art. 159. ..............................................................


........................................................................
§4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando*, o co-autor que DENUNCIÁ-LO à autoridade, FACILITANDO A LIBERTAÇÃO
DO SEQUESTRADO, terá sua PENA REDUZIDA de 1 a 2/3."

* Para a incidência desta redução, não é necessário que o delito tenha sido praticado por associação criminosa. Para
tanto, basta que o crime tenha sido cometido em concurso.
Para o STJ, a delação premiada prevista no art.159, §4º, do CP é de incidência obrigatória quando os autos demonstram
que as informações prestadas pelas testemunhas da coroa (ou crownwitness) foram eficazes, possibilitando ou facilitando a
libertação da vítima.
Por fim, para Renato Brasileiro, o disposto no art.159, §4º, do CP foi tacitamente revogado pela Lei 9.807/1999, que
também tratou da delação premiada em seu art.13, prevendo, todavia, vantagens mais benéficas que uma simples diminuição
de pena – perdão judicial e consequente extinção da punibilidade.

Associação criminosa para fins de praticar crimes hediondos e equiparados

Art. 8º Será de 3 a 6 anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal (ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA), quando se tratar
de CRIMES HEDIONDOS, prática da TORTURA, TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES e DROGAS AFINS ou TERRORISMO.
Parágrafo único. O participante e o associado que DENUNCIAR* à autoridade o bando ou quadrilha, POSSIBILITANDO SEU
DESMANTELAMENTO, terá a PENA REDUZIDA DE 1 A 2/3.

Art.288 do CP Art.8º da Lei 8.072/90


Associação para o fim de cometer crimes Associação para o fim de praticar crimes hediondos ou
equiparados
ATENÇÃO! Associar-se com o objetivo de praticar crimes
previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 da Lei de Drogas
configura o crime do art.35 da Lei de Drogas
Pena: 1 a 3 anos. Pena: 3 a 6 anos.

* VOCÊ SABIA? A primeira lei que cuidou expressamente da colaboração premiada no Brasil foi a Lei dos Crimes Hediondos!

Causa de aumento de pena de metade

Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213,
caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único,
todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de 30 anos de reclusão, estando a vítima em
qualquer das hipóteses referidas no art. 224* também do Código Penal.

* Antes de ser revogado pela Lei 12.015/2009, o art.224 do CP cuidava das hipóteses de violência presumida: vítima não maior
de 14 anos, alienada ou débil mental ou que não pudesse, por qualquer outra causa, oferecer resistência.

DE OLHO NA JURIS! A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei 8.072/90 foi tacitamente revogada
O entendimento do STJ e do STF é no sentido de que a causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi
revogada tacitamente pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era mencionado pelo
referido art. 9º. STF. Primeira Turma. HC 111246/AC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/12/2012 (Info 692).

Com a revogação do art. 224 do CP pela Lei 12.015/2009, há de ser redimensionada a pena aplicada ao condenado, subtraindo-
lhe o acréscimo sofrido em razão do aumento da pena previsto no art. 9º da Lei nº 8.072/90, que foi tacitamente revogado
A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi tacitamente revogada pela Lei nº 12.015/2009,
considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era mencionado pelo referido art. 9º. Se um indivíduo foi condenado,
antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de estupro contra menor de 14 anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º
da Lei de Crimes Hediondos, esta majorante deverá ser retirada de sua condenação por força da novatio legis in mellius (art. 2º,
parágrafo único, do CP). Diante da revogação do art. 224 do CP pela Lei nº 12.015/2009, ainda que o fato delituoso seja anterior
a esta alteração, é o caso de se decotar da pena do condenado o acréscimo baseado no art. 9º da Lei nº 8.072/90. STF. Plenário.
HC 100181/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/8/2019 (Info 947).

@dicas.exconcurseira 13
Contagem em dobro dos prazos procedimentais

Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976 (ANTIGA LEI DE DROGAS), passa a vigorar acrescido de parágrafo
único, com a seguinte redação:
"Art. 35. ................................................................
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão CONTADOS EM DOBRO quando se tratar dos crimes previstos
nos arts. 12, 13 e 14."

Com a revogação da Lei 6.368/1976, o prazo procedimental para os crimes de tráfico de drogas passou a ser
regulamentado pela Lei 11.343/2006.

Prioridade de tramitação dos processos que apuram a prática de crimes hediondos (e equiparados)

CPP, Art. 394-A. Os processos que apurem a prática de crime hediondo terão prioridade de tramitação em todas as
instâncias. (Incluído pela Lei nº 13.285, de 2016).

Trata-se de mais uma norma programática, fruto de um Direito Penal simbólico, que pretende dar ao cidadão uma falsa
impressão de que a tramitação prioritária de processos referentes a crimes hediondos poderá resolver o problema da
criminalidade do país.
Para Renato Brasileiro, apesar de o art.394-A do CPP referir-se apenas aos processos que apurem a prática de crime
hediondo, é perfeitamente possível, a título de analogia, a aplicação de seus dizeres a processos atinentes aos crimes
equiparados a hediondos – tráfico de drogas, terrorismo e tortura. Afinal, como se trata de norma genuinamente processual,
não há qualquer óbice ao emprego da analogia, nos termos do art.3º do CPP.

@dicas.exconcurseira 14

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