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Prof.

João Pedro Marra Nogueira


Processo Civil III
EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL PARA PAGAMENTO DE QUANTIA

Competência na execução fundada em título extrajudicial

A competência para a execução fundada em título extrajudicial é regulada no art. 781


do CPC. Já a competência para o cumprimento de sentença está regulada no art. 516 do
CPC.
Nos termos do art. 781 do CPC, a execução fundada em título extrajudicial poderá
processada no foro de domicílio do executado, no foro de eleição constante do título
ou, ainda, no foro da situação dos bens a ela sujeitos. Essa é a regra geral que consta do
seu inciso.
Os demais incisos referem-se a situações particulares, a serem destacadas em seguida.
Na verdade, o referido art. 781 trata da competência territorial.

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Competência interna para execução

A execução fundada em título extrajudicial deve, geralmente, ser intentada perante


um juízo de primeira instância. Na grande maioria dos casos, a execução deve ser
proposta na Justiça Estadual ou na Justiça Federal.

A competência será da Justiça Federal nos casos previstos no art. 109 da Constituição
Federal, devendo ali ser processada a execução quando esta tiver como exequente ou
executada a União, ou alguma autarquia ou empresa pública federal.

A competência da Justiça Estadual é residual: quando não for competência de


qualquer outra, deverá a execução ser intentada perante um dos órgãos da Justiça
Estadual.

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A competência para a execução pode ser originária do Supremo Tribunal Federal. A
execução fiscal deve ser, via de regra, intentada perante um juízo de primeira instância.
Há, porém, casos em que ela deve ser proposta, originariamente, perante o STF,
quando a União a propõe contra Estado estrangeiro ou organismo internacional (CF,
art. 102, 1, e). É discutível se cabe ou não uma execução fiscal contra Estado
estrangeiro ou organismo internacional, mercê da imunidade de jurisdição.
Independentemente de ser cabível ou não, se a União ou um Estado-membro intentar
execução fiscal contra Estado estrangeiro ou organismo internacional, deverá fazê-lo
perante o STF.

É da Justiça Eleitoral a competência para processar execução fiscal que objetiva a


cobrança de multa eleitoral.

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É possível haver execução fundada em título extrajudicial na Justiça do Trabalho. Nos
termos do parágrafo único do art. 625-E da CLT, "O termo de conciliação é título
executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas
expressamente ressalvadas''. Cabe, ademais, execução na Justiça do Trabalho do
compromisso de ajustamento de conduta celebrado perante o Ministério Público do
Trabalho (CLT, art. 876), que é título executivo extrajudicial (Lei nº 7.34 7 /1985, art. 5º,
§ 5º). Há, ainda, quem defenda, com razão, que o rol dos títulos executivos
extrajudiciais se aplica aos litígios trabalhistas, o que permite, por exemplo, a execução
de um cheque ou de uma nota promissória vinculados ao pagamento de verbas
trabalhistas.

A competência da Justiça Federal ou Estadual ou de qualquer outra é absoluta e


inderrogável, somente podendo ser ampliada ou reduzida por emenda constitucional.
Desse modo, sendo incompetente o juízo para processar a execução, tal
incompetência haverá de ser reconhecida de ofício, podendo ser alegada a qualquer
momento tanto pelo exequente como pelo executado.

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Definida a competência funcional, há de se estabelecer a competência
territorial. O art. 781 do CPC estabelece as regras da competência territorial
para as execuções fundadas em título extrajudicial.

Competência territorial

A competência é, geralmente, do juízo do foro do domicílio do executado.


Sendo territorial, tal competência pode ser derrogada por vontade das partes.
A execução fundada em título extrajudicial deve, em primeiro lugar, ser
proposta no foro de eleição; não havendo foro de eleição, deve ser proposta
no foro do domicílio do executado ou, alternativamente, no foro da situação
dos bens a ela sujeitos.
Há, como se vê, flexibilização da competência para evitar, sempre que
possível, a execução por carta prevista no § 2º do art. 845 do CPC.

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Quanto ao domicílio do executado, o art. 781 do CPC incorporou regras tradicionais de
competência. Logo, tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado
no foro de qualquer deles. Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a
execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio
do exequente. Havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução
será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente.

Se o título se originou de um fato ou da prática de um ato, a exemplo de um termo de


ajustamento de conduta ou de uma confissão de dívida, o exequente poderá optar
entre ajuizar a execução no lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato,
mesmo que nele não mais resida o executado. Tome-se, ainda, como exemplo o "da
execução do crédito documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel,
bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio ( art.
784, VIII), em que o locador pretende haver o pagamento das referidas parcelas em
face do executado, que pode não mais residir no local onde está situado o imóvel que
fora objeto da locação"

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O art. 781 do CPC incorporou as regras de competência para a execução
fundada em título extrajudicial. É preciso, porém, compatibilizá-las com as
regras especiais relativas a alguns títulos executivos.

Por exemplo o cheque, o art. 22, 1, da Lei n. 7.357 /1985 também estabelece
o local do pagamento como o competente para a execução, sendo, na omissão
dele, no foro do local onde o cheque foi emitido. É comum coincidir o local
onde se situa a agência bancária com o do domicílio do emitente. Nesse caso,
a regra de competência pelo local do pagamento cumula-se com a do foro do
domicílio do executado.

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Essas regras precisam ser combinadas com aquelas previstas no art. 781 do
CPC. O local do pagamento, indicado no título executivo, não é uma cláusula
de eleição de foro, pois sua indicação não decorre da vontade das partes, mas
de uma exigência' legal12• É ele que indica o foro competente.

Não havendo, será o foro do domicílio do executado ou, então, o da situação


dos bens sujeitos à execução. Seja como for, qualquer uma dessas hipóteses
constitui caso de competência relativa, podendo ser prorrogada. Quer isto
dizer que, intentada a execução em foro diverso, haverá incompetência, que
poderá ser prorrogada em virtude da inércia do executado: não alegada a
incompetência, o juízo, que era incompetente, tornar-se-á competente.

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Competência para execução fiscal

A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua


residência ou no do lugar onde for encontrado (CPC, art. 46, § 5º).

Pluralidade de executados com domicílios diferentes

É possível haver litisconsórcio passivo na execução, valendo dizer que a


execução pode ser intentada, a um só tempo, contra mais de um executado.
Se todos os executados mantiverem domicílio no mesmo foro, não há
problema; aplica-se a regra geral: a execução será intentada no foro de eleição
ou no foro do domicílio dos executados ou, ainda, no foro da situação dos
bens a ela sujeitos.

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Caso, todavia, cada executado mantenha um domicílio diferente, não podem
exigir ser demandados cada um em seu domicílio. A execução fundada em
título extrajudicial deve ser intentada no foro de eleição, ainda que haja
pluralidade de executados com domicílios diferentes.

Não havendo eleição de foro, poderá o exequente optar por intentar a


execução no foro do domicílio de qualquer um dos executados, valendo-se da
regra contida no art. 781, IV, do CPC.

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EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA FUNDADA EM TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL

O procedimento comum da execução por quantia certa fundada em título


executivo extrajudicial está regulamentado nos arts. 824-909 e 921-925 do
CPC. Além dele, existem os procedimentos especiais, regulamentados nos
arts. 910 (execução contra a Fazenda Pública) e 911-913 (execução de
alimentos).

Há, também, procedimentos executivos especiais previstos na legislação


extravagante, como o da execução fiscal.

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Esse procedimento comum, tal como ocorre com o procedimento executivo
calcado em título judicial, apresenta duas fases bem definidas: (I) a primeira,
denominada de fase inicial ou fase de cumprimento voluntário, por meio da
qual se defere ao devedor um determinado prazo para que cumpra,
espontaneamente, o dever que lhe foi imposto; (II) a segunda, denominada de
fase de execução forçada, em que se praticam atos tendentes à satisfação
compulsória do direito de prestação do credor.

A fase inicial, como já dissemos em outras oportunidades, é preliminar à


segunda fase, no sentido de que esta somente ocorrerá se não houver o
adimplemento espontâneo durante a primeira fase.

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Atos iniciais da execução por quantia fundada em título extrajudicial

Fase inicial do procedimento executivo


Demanda executiva e controle judicial

Conforme já se viu no capítulo relativo à formação do procedimento


executivo, a demanda executiva, nos casos em que a execução se opera por
processo autônomo, há de ser materializada num instrumento escrito,
denominado de petição inicial.

Apresentada a petição inicial, o magistrado fará o respectivo controle de


admissibilidade (art. 801, CPC).

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Considerando que o objetivo da execução é a cobrança de quantia, deve o
exequente instruir a sua petição inicial, dentre outras coisas, com o
demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação (art.
798, 1, "b", CPC). Esse demonstrativo deve conter (art. 798, par. ún., CPC): (i) o
índice de correção monetária adotado; (ii) a taxa de juros aplicada; (iii) os
termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa
de juros utilizados; (iv) a periodicidade da capitalização dos juros, se for o
caso; (v) a especificação de desconto obrigatório realizado.

Aplica-se aqui o regramento do incidente de apuração do valor do crédito


previsto no art. 524, §§ 1º a Sº, do CPC (art. 771, par. ún., CPC), sobre o qual
falamos no capítulo do cumprimento de sentença que impõe obrigação de
pagar quantia.

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Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites
do título, o juiz poderá, ex officio, exercer controle prévio sobre esse
montante, valendo-se de contabilista do juízo (art. 524, § 2º, CPC) - trata-se de
controle anterior à citação do executado. Havendo discordância por parte do
exequente quanto ao valor alcançado pelo juízo ou por seu contabilista, "a
execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a
importância que o juiz entender adequada" (art.524, § 1 º, CPC).

Além disso, se a elaboração do demonstrativo depender de dados ou


documentos que estão em poder do executado ou de terceiro, esses dados e
documentos serão requisitados (art. 524, §§ 3º e 4º, CPC), podendo o juiz fixar
medidas de apoio para o cumprimento da ordem (art. 139, IV, e art. 536, § 1º,
CPC) ou, em determinados casos, ante a recusa injustificada de exibição do
executado, presumir como corretos os cálculos apresentados pelo exequente
(art. 524, § 5º, CPC).

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Admitida a petição inicial, o juiz deve fixar, de plano, os honorários
advocatícios de dez por cento sobre o valor do crédito exigido (art. 827, CPC) e
deve determinar a citação do executado para, no prazo de três dias, pagar a
dívida que lhe é cobrada.

A averbação da execução no registro de bens do devedor (art. 828, CPC)

Admitida a execução, o exequente poderá obter certidão, independentemente


de decisão judicial, com identificação das partes e do valor da causa, para fins
de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a
penhora, arresto ou indisponibilidade (art. 828, CPC) - por exemplo, o registro
de ações de sociedades anônimas ou o registro de embarcação na Capitania
dos Portos.

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Prazo para cumprimento voluntário

O termo inicial da contagem dos três dias para cumprimento voluntário da


obrigação é o recebimento da citação (art. 231, § 3º, CPC), uma vez que se
trata de prazo para a prática de ato material, mas ele flui apenas em dias úteis
(art. 219, CPC), por ser prazo processual.

O CPC-2015, diferentemente do CPC-1973, não proíbe a citação postal em


execução (o art. 24 7 do CPC-2015 não reproduz a ressalva do art. 222, "d", do
CPC-1973). Com isso, nada impede que a citação na execução seja postal -
como, aliás, já se permitia na execução fiscal (art. 8º, 1, Lei n. 6.830/1980).

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Havendo litisconsórcio passivo, o prazo é contado individualmente, a partir da
citação de cada litisconsorte (art. 231, §§ 2º e 3º, CPC). Como se trata de
prazo para cumprimento, e não para manifestação, ele não se conta em dobro
mesmo quando há litisconsortes acompanhados por distintos procuradores
(art. 229, CPC).

Posturas do executado após a citação

Uma vez citado, se o executado efetuar o pagamento integral da dívida no


prazo de três dias, a verba honorária fixada pelo magistrado será reduzida pela
metade (art. 827, § 1º, CPC).

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Trata-se de dispositivo que visa a induzir o devedor ao cumprimento
voluntário da prestação. A diferença é que, no particular, em vez de buscar
esse adimplemento voluntário pela imposição de uma ameaça, como ocorre
com a previsão da multa legal a que alude o art. 523, § 1 º, do CPC, o
legislador optou por valer-se de um incentivo. É um exemplo do que se
convencionou chamar de sanção premiai, assim entendida a técnica por meio
da qual se busca induzir o cumprimento voluntário de uma prestação
mediante o incentivo.

O pagamento integral da dívida no prazo fixado enseja a extinção da execução


por satisfação da dívida (art. 924, II, CPC).

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O executado pode, contudo, adotar outras posturas:

(i) não pagar nos três dias e apresentar embargos à execução, no prazo de
quinze dias, contados da data da juntada aos autos do comprovante de citação
ou de um dos momentos descritos nos incisos do art. 231 do CPC (art. 915,
CPC)-trataremos do assunto em item específico;

(ii) requerer, no prazo de quinze dias para apresentação de embargos, o


benefício de que trata o art. 916 do CPC – também trataremos do assunto em
item específico;

(iii) não pagar nem apresentar embargos ou qualquer defesa, caso em que
terá início a segunda fase da execução, com penhora e subsequentes atos de
expropriação.

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