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CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas, 2018.
Competência
Há, no sistema processual civil brasileiro, dois diferentes regimes de regulamentação da competência em sede
executiva: o primeiro diz respeito às execuções fundadas em títulos executivos judiciais (“cumprimento de sentença”);
o segundo incide nas execuções fundadas em títulos executivos extrajudiciais (“processo de execução”).
Inicia-se, então, o exame da matéria pela competência para o cumprimento da sentença.
Quando o processo de conhecimento for de competência originária de tribunal (como se dá, por exemplo,
quando proposta “ação rescisória”), será competente (por aplicação do critério funcional de fixação da competência
interna) para a execução o próprio tribunal (art. 516, I). Esta é regra aplicável a todos os tribunais, inclusive aos
Tribunais Superiores e ao Supremo Tribunal Federal, nos casos de sua competência originária. Pois nessas
hipóteses será preciso verificar, no Regimento Interno do Tribunal, a quem compete atuar como juiz da execução.
Assim, por exemplo, no Supremo Tribunal Federal, a competência executiva é sempre do relator do processo de
conhecimento (arts. 21, II, e 341 do RISTF). Já no Superior Tribunal de Justiça, a competência executiva é do
Presidente da Corte quando é sua a decisão exequenda, e também quando tal decisão for do Plenário ou da Corte
Especial (art. 301, I e II, do RISTJ); do Presidente do órgão fracionário (Seção ou Turma), quanto às suas decisões
monocráticas ou às decisões dos órgãos que presidem (art. 302, I e II, do RISTJ); ou do relator, quanto às suas
decisões acautelatórias ou de instrução e direção do processo (art. 302, III, do RISTJ).
Nos casos em que o processo de conhecimento (rectius, fase cognitiva do processo sincrético) tiver tramitado
originariamente perante juízo de primeira instância, será do mesmo órgão jurisdicional a competência funcional para
a execução (art. 516, II). Poderá, porém, o exequente promover uma cisão de competência funcional, optando por
promover a execução no foro do atual domicílio do executado, no foro onde se encontrem bens sujeitos à execução,
ou no foro onde deva ser cumprida a obrigação de fazer ou não fazer. Para manifestar essa opção, deverá o
exequente requerer ao juízo original do processo a remessa dos autos ao foro onde a execução tramitará (art. 516,
parágrafo único).
Por fim, nos casos de execução de sentença penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença
estrangeira homologada pelo STJ, a competência será fixada pelas regras gerais de determinação da competência
interna (art. 516, III, e arts. 42 a 66). Vale aqui recordar que, no caso específico de execução de sentença estrangeira
homologada, a competência é da Justiça Federal (art. 109, X, da Constituição da República).
Nestes três últimos casos (sentença penal condenatória, sentença arbitral e sentença estrangeira homologada),
também poderá o exequente optar por promover execução, além dos foros que seriam competentes por força das
regras gerais acima referidas, no foro do domicílio atual do executado, no do lugar onde se encontrem os bens
sujeitos à execução ou no do lugar onde deve ser cumprida a obrigação de fazer ou não fazer (art. 516, parágrafo
único), sendo todos esses foros concorrentemente competentes com aqueles que já seriam competentes por força
das disposições gerais sobre competência interna.
Não se pode, aqui, deixar de fazer uma observação: há, no texto do art. 516, III, uma referência à competência
para execução fundada em acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Trata-se, porém, de disposição ineficaz, já que
o dispositivo legal que atribuía aos acórdãos do Tribunal Marítimo eficácia de titulo executivo judicial (art. 515, X) foi
vetado, não integrando o Código de Processo Civil.
Já no que diz respeito à competência para a execução fundada em título extrajudicial, o regime é distinto. A
regra geral é a da fixação da competência pelos critérios gerais de determinação da competência interna (art.
781, caput), o que remete para os arts. 42 a 66 o trato da matéria. Sempre se observará, todavia, o seguinte: a
execução poderá ser proposta no foro do domicílio do executado, de eleição constante do título ou, ainda, do lugar
onde situados os bens a ela sujeitos (art. 781, I); tendo mais de um domicílio o executado, poderá a execução
instaurar-se em qualquer deles (art. 781, II); sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução
poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro do domicílio do exequente (art. 781, III); havendo mais
de um executado, com domicílios diferentes, a execução poderá ser proposta em qualquer desses foros, por opção
do exequente (art. 781, IV); a execução poderá sempre ser proposta no foro onde se praticou ou ato ou em que
ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não resida o executado (art. 781, V).
Título Executivo
Chama-se título executivo ao ato jurídico dotado de eficácia executiva. Trata-se, pois, de um ato jurídico com
aptidão para permitir a incidência da responsabilidade patrimonial (conceito de que se tratará com mais vagar
adiante, mas que agora precisa ser ao menos apresentado para que se possa compreender a definição de título
executivo).
Consiste a responsabilidade patrimonial (em uma definição que tão somente se propõe a uma primeira
apresentação do fenômeno) na possibilidade de sujeição de um patrimônio para viabilizar a realização de um crédito.
Assim, o título executivo é o ato jurídico capaz de legitimar a prática dos atos de agressão a serem praticados sobre
os bens que integram um dado patrimônio, de forma a tornar viável sua utilização na satisfação de um crédito.
A exigência de que exista um título executivo para que possa desenvolver-se a execução é um mecanismo de
proteção do demandado. Não existisse esta exigência e qualquer pessoa que se dissesse credora de outra poderia
demandar a execução forçada. Exigindo a lei, porém, que exista título executivo para que isto ocorra, protege-se o
devedor, que só poderá ter seu patrimônio agredido se o demandante apresentar um título executivo. Afinal, nunca é
o
demais recordar que ninguém será privado de seus bens sem o devido processo (art. 5 , LIV, da Constituição da
República), e só há devido processo executivo (ou seja, só há agressão patrimonial legítima) se o demandante tiver
um título executivo que a sustente.
A função do título executivo, em razão disso que acaba de ser dito, vincula-se a uma das “condições da ação”, o
interesse de agir. Aquele que, não dispondo de título executivo, demanda a execução forçada é “carecedor de ação”
por se ter valido de via processual inadequada para fazer valer em juízo sua pretensão. De outro lado, aquele que
tem título executivo extrajudicial pode abrir mão da eficácia executiva de seu título e optar pelo processo de
conhecimento (inclusive pelo procedimento monitório: FPPC, enunciado 446), a fim de obter título executivo judicial
(art. 785). Será, porém, adequada a utilização da via processual executiva por aquele que se apresente em juízo
como detentor de um título executivo (judicial ou extrajudicial).
O título executivo é, pois, o ato jurídico que faz da execução a via processual adequada para que se postule
tutela jurisdicional, assegurando o legítimo interesse de agir in executivis. Perceba-se que o título executivo é o ato
jurídico, e não o documento que o representa. Assim, por exemplo, a afirmação legal de que a sentença civil é título
executivo (art. 515, I) deve ser entendida no sentido de que o ato do juiz que impõe o cumprimento de um dever que
exige posterior execução forçada é título executivo, não sendo título o documento que lhe dá suporte. Deste modo,
se houver um acidente que destrua os autos (impressos ou eletrônicos) e, em razão disso, se impuser a restauração
de autos (arts. 712 a 718), formar-se-á um novo suporte, mas será o mesmo o ato (a sentença), que servirá de título
executivo, não tendo sido constituído um novo título.
Do mesmo modo, a afirmação legal de que o cheque é título executivo (art. 784, I) não pode levar o intérprete a
considerar que o título executivo é cada uma das folhas de um talão de cheques. Na verdade, o título executivo é
a ordem de pagamento à vista emitida sob a forma de cheque. E o mesmo raciocínio se aplica a todos os demais
títulos dotados de eficácia executiva.
Dividem-se os títulos executivos em dois grandes grupos. De um lado, os títulos executivos judiciais; do outro,
os títulos executivos extrajudiciais. São títulos judiciais aqueles que são formados através de um processo (isto é, de
um procedimento em contraditório), e extrajudiciais, os demais títulos executivos. A distinção é relevante por vários
fatores, já tendo sido um deles examinado: é que a execução dos títulos judiciais se submete ao regime daquilo que
ficou conhecido, na linguagem processual brasileira, como cumprimento da sentença, enquanto a execução dos
títulos extrajudiciais se faz através do que se convencionou chamar de processo de execução. A regulamentação do
cumprimento da sentença, como já se viu, consta do Livro I da Parte Especial do CPC, só se aplicando o regramento
do processo de execução em caráter subsidiário; a regulamentação do processo de execução está no Livro II da
Parte Especial do CPC, sendo-lhe aplicáveis, subsidiariamente, as disposições acerca do cumprimento de sentença.
Há outra diferença, porém: o meio de defesa do executado no cumprimento de sentença é a impugnação; no
processo de execução são os embargos do executado. Na impugnação há limitações cognitivas intensas, o que não
acontece nos embargos do executado.
Vale registrar, por fim, que nada impede a criação de título executivo extrajudicial por negócio processual (art.
190). Assim, por exemplo, admite-se que haja uma confissão de dívida por instrumento particular assinado pelo
devedor, mas sem qualquer testemunha (o que a lei exige como requisito do título executivo extrajudicial previsto no
art. 784, III), a que se atribua eficácia de título executivo por convenção das partes.